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ESTRUTURA LISMO

E PÓS-ESTRUTURALISMO NA PERSPECTIVA
DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
Temis tocles Cezar

INTRO I>UÇ;i.O

'"Otle cruci al di ffcrcnce belcwecn Stn.:clm'<l!ism and post-structuraJism


ill\Oh'C.S lhe qucslion of históry:·
( HENNINGTON. G./YOUKG. R.)'

A variedade de esforços teóricos que procuram definir e/ ou apro-


priar-se dos termos estruturalismo e pós-estruturalismo parece não te r
limites. Da Jingüística à ps icanálise, passando pela filosofia, antropolo-
gia e história, chegando às artes em geral) as relações entre os doi s con-
ceitos adquirem contornos específicos de acordo com a lógica interna de
cada campo de saber.' Neste sentido, a história tem sido uma interlocutora
privilegiada tanto do estrumral ismo quanto do pós-estrutural ismo, po-
rém não necessariamente de modo positi vo. Ambos os cód igos teóricos
colocaram os historiadores em uma posição desconfort<ível: o primeiro
remete o estatuto cognoscente do conbecimemo h istórico para um plano
discreto ; o segundo reinscreve a historicidade em suas análises promo-
vendo um a redefi nição na pró pria noção de história. .
Aos his toriadores cabia, portanto, algum tipo de resposta. A abor-
dagem estrut uralista, mais definida e rigorosa, corresponderam momen-
tos de aproxi mações, absorções c mesmo rupturas . Já o pós-estruturalis-
mo convive com diferentes formas de apreensão conceituai: ora é v isto
como n.ma etapa subsequente ao esgota mento estrutural ista, ora como um
corpo teórico autônomo e paralelo ( neo-est rut umlismo), ou ainda como
a negação do estrutural ismo {anti-estruturalismo); c finalmente como um
si nóni mo ou representação dn pós·J11odernidade.
O propósito do presente artigo é o de mapear introdmoriamente

lê.mistocles Ceznl' é pro!cssor do D<:panamenlO de flislória da Universidade P'edcr~l


do Rio G rande do Sul

Anos 90. Porto A legre: u.4~ dezembi'O 1995 129


estas q uestões, recons ti tuindo o s a rgumen tos estruturalista c pós.estru-
turalistn na perspectiva da tcorüt da história. Para contemplar a amplitu -
de do tema em um espaço reduzido optou -se por di,·idir o texto em duas
partes breves: na primeira procura-se analisar os elemen tos cen trais do
prog rama e s trutura lista c a forte crítica à histó ria nos tm l><llhos de Claud e
L.év i-S trauss. além da incorporação do estruturalismo pelo marxismo
conduzid~ por Louis /\lthusser; na segunda. o objetivo é o de expor os
enfoques acer~t do pós-c)tru tu rali~mo a p artir do trabalho de Michel
Fo ucau lt; e por fim, nas cons iderações fina is se rá co ns iderado concistt-
me ntc a crítica marxista ao estru turalismo c pós-estruturalismo, c tam-
bém uma rápida incursão no debate sobre o pós-cstruturali>mo como uma
variante pós-modema.

A E.\IERGÊ:-;C JA 0 0 ESTRln'URALIS~JO :
A OTSSOI ,UÇ;\0 DA :-<OÇÃO OE lfiST ()RIA

1\ publicaç!to em 1916 do Curw de Lillgiiúlica Geral de r:erdinand


de Saus.'illrc marca definitivamente a codificação da lingüí~tica modema.
Ap.)s uma reccp<;<'io inicial frustanteosefeitosdoCur.wdcsdobrnnun·se com
intensidade e ultrapassa ra m os limi tes dos estudos li ngüí)ticos a tingindo
outr.c; di~ciplinas. 1\nlropologht, semiótica e psicanálise. ciências centmis
da abordagem c~trutural, cncomrnm no saussuri<me vs recursos teórico:.
indispenS~\·cis e fundadores p~ra seus re~pectivos desenvolvimentos. '
Das inú mcrus contribu ições de Saussu rc absorvidas pe las Ciênci-
as Sociais a que mais afetou o conceito de história foi a oposição entre
sincronia e diacronia. E-sta• categorias relacionam-se à outra dicotomia
estabelecid a pelo li ngüísta e ntre língua c fala, send o que a primeira tor-
na-se o obje to de estud o priv ilegiado de suas pesquisas. Para se compre-
ender a língua seria neces~ário situáala em mn sistema e obsc"·á-ta de
acordo com sua evolução no espaço (sincron ia) c não no tempo (diacrõ-
n ica), redu?. indo, portanto, a d ime nsão de s ua histo ricid3dC.
f)c fato, ao final dos anos cinqUenta percebe-se que m Jirst sig/11, tlte
stmctttrtlftMnusc o[Saussure:< distinctiOJt bctlleen tire sprchronic and tire
diaclurmic appear:s to al/o-.v for 1/te e!Jàcemem o[ lristory aflloJ:eLha '
O momento histórico desta recepçfoo teórica coincide comum cres-
c en te dcsengajamcnto político dos intelectuais (sobretudo francc)CS) e
por uma cürrclata desconfiança cm relação à noção de progresso histó-
rico. Segundo Fntnçois Furct houve·· um questiona men to da história''
mediante um o l/wr quase e.\pacial, dortn·am e cético sol>n• as lições e o

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sentido da história. ·(... )esta maítre.>se que foi durmrte lal!to tempo ti·
râuica, wues de se tomar infiel.>
Claude Lévi-Srr.wss represenrou como nenhum outro este papel de
crítico da noção de história, embora nunca rcnh" proposto seu desap:~rc­
crmcnto.• Em 1-fi~tória e Dialéllca Lé\'i-Srrauss, em cunfl ito aberto <.'Qm
Sal'lrc, sistematiza noravclmenle o que ar é e n tão vi nhn sendo lratad<) por
ele c<.>m m enor veemênci a.'
Inicialmente l .évi-Strau ss situa a importância do conhecimento hi.,tó-
rico: "o etnólogo respeita a história, ma~ não lhe dá um valor privilegiado.
Ele" concebe como uma pesquisa oomplementar à sua".' Pode-se supor que
a recíproca seja ,·erdadci r3 para os historiadores: o esl\1do sincrõnicoao abrir
o leque das socíedadc.r no esp:tço seria complemetltur ao d iacrónico. l:lr111'e-
truHO, ~cgnndo Lév i-.Str:luSs, não há um consenso nesta relação de simetria
c sim uma deliberada negação por parte dos fi lósofos da hisrória da equiva-
lénca:o resultam e cntn: a:. pesquisas hbtóricas e etno<.;r.\!icas:

Dir-se-ia que. 11 ~cus olhos, u dimensão temporal ~;oza de um pn:~­


tfgio especial, como se a diacm11ia criasse um tit"J de imelegihili·
dtsde, nilo apenas superior CIO que rrrc a sincJ'OIIia. nras, .sobn:rudo
de ordc?Jn ma i., e.,Jx:cifica/lu.:utt~ lwmana.•;

Para Lévi-Strau ....~ a preferenci:o pela diacronia cm derrimento da


sincronia ocorre cm funçãn de c:.ta, ao expnr a diversidade imcma de uma
esrru turn cm uma perspectiva espacia l, ser percebida como um sis tema
dcscomínuo, enqu anto aque la cria a image m de um !luxo cont ínuo ten-
do por base a suces~ão te mporal.
O moti,·o da crença no desenvolvimento histórico linear é fruro de
uma :.ingular rransfcrência que os indivíduos fazem de seu devir peswal
para um nível macr'O e colcth·o. an:\h)go ao que os marxistas design:un
como o processo hisrôrico.
;\análise de l.évi-Straus.~ avanç n c m considcra~-õcs acerca da cons-
tituição dos fa tos h istóricos c do modo através do qual eles obrêm signi-
ficaçiio ao longo de uma cadeia ininterrupta. Oc acordo com o autor as-
sim como se experinu:rola transportar a existência individual para um
p lano mais amplo c julga-se aí apreender a história, também em termos
teóricos c m etodológicos os historiadores desloc.qm suas preocupações
contemporâ neas com a finalidade de cercar um derermi nado objeto his-
tórico <tnc é escolhido, cortado, rcC<>rlado e imerprctado a part ir de pro-
cedimentos scletivos: o que acaba por inviabilizar uma pesquisa rigoro-
sa . Ou seja. como afirma um comcmador dn estruturalismo:

l31
i~lo iníciosimpütizamos com os motivo.<; conscientes dos a to res his-
tóricos, e depois percebemos que nossa própria escolha e class((i-
cação do passado é, basicamemc, uma p rojcção da nossa própria
s ituaçâo atual. Longe de assegurar mais objetividade atral.'és da
distância, a história atrela nosso conhecimento ao círculo restrito
da nossa vida e tetnpo.10

A forma pch1q ual a histórü1define-se como um:' disciplin;l cientí-


fica não é menos passível de reavaliação. Com a meta de garantir a uni-
d ade c og ni tiv a de seu obje!o -a realidade contínua - , d iz Lévi-Strauss,
o conhecime nto hi~tórico util iza-se de u m código: a cronologia; nâo Irá
história sem dntas."
No entan to, a codificaç;'io cronológica pressupõe u m cálculo cuj a
ra c ionalidade só é possíve l, segu ndo Lév i-S t rau~s, por meio de uma
operaçãoj i·audu/enta. Jsto porque uma d ata não é recorrente a outra; cada
uma obtém significados p róprins a pan irdas relac;ões queseefct ucm e ntre
o pré e o pós-evento. Desta forma, a co ntinu id ade h istórica é d escartada
não apenas como ilusória m as també m como contraditória, pois cad<~
classe de datas expõe um si.wema de referência autônoma, ind ica do res
precisos ela nawrcla do conhecimento histórico: de uma ~ó vez de~con­
tínuo e classi ficafório.L2
As conclusões particulares da crítica de Lévi-S traussconduzem em
prim eiro lugar à noção de que os fatos h istóricos restringe m-se t• repre -
se ntações de consensos c o nceituais dos historiado res tendo por base
códigos cronológicos que destituem os eventos factu<Lis de uma efetiva
relação com o passado . Em segundo lugar o conhecitnento de um a h is-
tória u nificada, cuja noção process ual é incomp atível c om a ev id e nte
de scontinu idade h istórica, torna-se impossíve l."
Enfim, as funções a tribu ídas aos histo riadores limita m -se a inven-
tariar a integralidade d os elementos de uma estrutura q ualquer, hum ana
e não-humana, pela simples razão que à história não corresponde nenhum
tem;~ específico: não está ligada ao homem nem é sinónimo de hu ma ni-
dade; é tão somente um m étodo sem objeto preciso. O espaço pa ra se
pensar tnn<~ história sem sujeitos históricos, onde indivíduos v ivem di-
ferentes posicionalidades no interio r de uma estrumra a rb itraria•nenle
co nstituíd a estava definitivameente aberto.
Louis AJ~h(lsscr c quem promove a aproximação cnlrc o estruturalis-
mo e o m arxismo. Em tem1os historiográficos o marxismo não era propl'ia -
mcnte a teoria da históri;~ dominanlc no meio ac adênúco da Franca •
onde os
anna!istes braudelianos ma ntinham sob controle a pesquisa histórica.

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Esta condição, cuja innuência ultrapassa as fronteiras francesas,
orie ntou a recepção da análise estrutural entre os marx istas q ue p rocura-
vam allcrnativas para rea1ivar seus pressupostos teóricos desgastados pela
versão de Stalin dos tex tos de Marx.
A renovação do marxismo itúciada com o althusserimúsmo propunha
que o materialismo histórico se revestis.-;e de inflexíveis procedimentos cien-
tíficos a fim de inibir as coações ideológicas provenientes de uma práxis
cquivocadn (sralinismo). A fónnula cncontracL~ por Althusser para cfctivar
esta proposta foi apropriar-se da noção desenvolvida por Gaston Bad\elatd
de cmte epistemológico, estabelecendo uma n tptura entre a ideologia e a
ciêt\cia. Com efeito, seria possível romper com o marxismo sem sair dele;
rejeita-se o marxismo vulgar emecaniú~taque havia impregnado a história
de interpretações prodtrl.idas a partir de axiomas vagos c imprecisos, tais
como a primazia necessária do fator econó mico sobredeterminando as de-
m~is instfinci~lS org~niz.1.dorus do mundo social. 2.;
O tema do corte também deve incidi r e m uma nova leitura dos tnt-
balhos de Marx, nos quais, segundo Altbusser, fica claro a cesura entre
um jovem M arx e um Marx da maturidade: o pri meiro mais ideológico,
o segu ndo mais científico. 15
1\ releitura altbusscriana implica, por outro lado, em um afastamento
de roda e qualquer tendência historicista - de acordo com o aná tema
presentista proferido contra os historiadores por Lévi-Strauss - suplan-
tada por uma an:\Jise c mincntememc teórica e descontextua lizad<J com a
qual p rocura evi tar a associação entre a ciência hi stórica e o mundo vi-
vido e a d ecorrência lógica desta relação: o ernpirirismo.'"
Um dos exemplos apresentados por Althusser de uma leitura equi-
vocada q ue os historiadores fazem de Ma rx c que ao mesmo tempo re-
força a ati rude inovadora de sua perspectiva teórica é a seguinte :

apareutemeneteO Capital comporta capÍiulos de história concreta...


P odemos ser temados a ver nele a teoria marxista da história, ex-
pressa em t:Onceitos empfricos que seria m produzidos e expostos sob
os nossos olhos. Ora se estes capftulos fascinaram os hisJOriadores
até este po mo, é precisamente por n<io serem capítulos de história
coucreta Jnarxista, mas p or se asseJnellw rem às descrições crono-
lógicas empíricas que tamo abundam 1w história ideológica vulgar.
)\lftlrx ncio no-los apresenla com o capítulos de uma hisiória 11Utrxis-
ta, mas como simples ilustrações de conceitos teóricos."

A história, portanto, está longe de ser negada pelo marxismo -estru-

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turalista, mas so fre um sério deslocamento: como saber teóriC<l desvinctJia -
do de evidências e mpíricas não há m;tisconeJaçócs processua is unificadas
sob uma tem po ra lidade unitária, mas temporalidad es múllipl~•s c uj<l
consequência imediata é a elisfto de uma história g eral e o aparecime nto
de uma o utra história, o u decstruturas e.\pecificas de hisroricidade." Pan•
congrega r est;lS unidades diferenciais do saber h istórico

o marxismo estabelece o princípio do reconhecimento do dado da


estmtura complexa de todo objcto con creto (...) (pois) nâo lemos
e ssência o rigiJuJria, JntlS um sempre-j á-<lado, por !IIC./1:'> a lém que o
c vnlrecimento remonte eJn seu passudv. 1Vâo te mos 11wis uma uni-
dade simples, porém umaunidcul" complexa esmaurada. " 19

A negação das variantes bistoricistase a maximização teórica tan1bém


são produtos de um;• outra operaçlío de subversão'' q ue Allhusscr submete u
os textos de Marx . Segundo a e xegese alibusscrimw, c de acordo com o
paradigma estruturalist~,, ~1arx wr:ia sido mn dos primeiros a de slocar o
homem da posição deobjeto essencial da cxplic~•ç;ío histó•i ca; há e m Marx
um anti-hmmuúsmo teórico, q ne tem por corolário o reconltecimemo e o
conlrec:inut11tO do próprio ltwtuulisnro: como ideo!o<,sia.31 '
Neste modelo ciem~{ico dois conceitos centrais da análise marxi~­
ta da h istória têm destinos opostos: enquanto o conc.:cito de modo de p ro-
dução m a nté m sua validade com o o bjcto teórico cm função de seu ele-
vado grau de generalização, a lto níve l de abstração e por caracterizar-se
como uma estrutu ra concomita ntemente dctcrminad<! e determinante, o
conceito de sujeito histórico é di luído no espaço da es tm tura.
As abordagens de J.é vi-Strauss e Al!husser susci taram nos !listo-
riadores posturas d iferenciadas . Quan to a Lévi-Strauss não houve uma
resposta dc.fíujti,·a e/ou imed iata ao Pe11samemo Selvagem. De fa to, no
período anterio r, em 1958, l:'ermmd Braudel j á havia feito a lg umas con-
testHçôes as críticas ~' história que L évi-S trauss v inha de!!-cnvoJvcndo
desde "1949.
A réplica bmudeli ~•na, entretanto, de certo mo do condescend ente
com Lévi-Strauss, é estratégica: não néga a análise estrutura), mas inverte
a s ua dinámica ao inseri-la tt<llonga duraçflo, d imensão temporal cons-
truída pelo historiador através da qu al as estrutura s são c ond ic ionadas e
adqu irem sentido, histórico."
De modo geral, nüo há cm 13raudel, nem na maiorpartedosa mwlisles,
uma argumentação epistemológfca tnais consistente sobre o estrutunllis-
mo; e xlu ído o imperalivo di• oclusão d a his tória os demais conceitos sã o

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passíveis de urna recepção favorável. A tercetra geração dos Annalc:.
beneficiar-se-á desta uusência de rompimento.
As impl icaçõc~ da interpretação d e i\Jthussc r seguem um o utro
percurso. Na perspecti va d<t tcorü• da histó ria certa mente uma das mais
d uras c ríticas a Allhusscr partiu do historiado r inglês Edward Thom pson.
Para este a o brn althusscriana não passa de um teorismo a-histórico idett-
lista, en tre ou tros fatores. por se afastar das evidências empíric>tS, e tapa
inerente d a p rodução do conhecimento e da prática man<ista: "o estrutu-
ralismo de i\Jthus.~cr é um estrutuntlismo de cxtase. desviando-se do
método histórico do próprio Marx.''~
Não é possível reproduzir neste ttrtigo a detalhada polêmica de
Thompson com Allhusser, mas este embate teóriro parece ter comribu-
íd o, na v isão de Perry Anderson, no nú nimo para se pe nsar que

reoria agora é hi~·16ria, com uma seriedade e rigor nunca havidos


JIO passado; assim como história t! igualmeme teoria, com tod(tS
as sua exi~ê11Cil1s. de uma forma q ue antcriormenlt! s enzpre se e\ ·i--
tara.~3

Allbu~cr teria tido ainda o mérito de 1>rotclar uma crise no mar-


xismo francês, mesmo que ao custo de um sistema complexo, teorica-
mente hermético, com pretensôes totaliz.antc.~ e despreocupado <:om a
relllidade empíric(t. A partir de 1970, após uma série de c rílicas e auto-
críticas o ahhusscriunismo promoveu u ma a proximação de seu maneis-
mo com u m marx ismo menos teo ré tico no reconhece r, parn satisfação de
muitos marx istas. que <~S mass as fazem a histó ria, mas não o s homens c
as mulheres, para espanto do s mesmos." O redeslo camento tardio de
i\J!husser não fo i suficien te po rtanto, para evitar que o tna rxismo-estn t-
turalista perde~ na década de setenta adeptos c o vigor de outrora, e
rumasse para um procesw autofágico.'-'

A Ei\IF.RGÍ~NÇIA DO pÓS·ESTR UT t.: RALISi\JO:


O RE'fORKO A IIISTORJA

O termo pós-estru tura lismo é mais polê mico c menos dese nvolvi-
do do q ue o cstnllul·a lismo. Apontar a q ues1ão da h istória como u ma d as
possibilidades de se marcar d ifere nças conccituHiS é u rna hipótese <JUC
vem sendo descn,olvida.'•
Alguns resultados, neste sentido, já foram computados. O prefixo
pós, por exemplo, não é anteposto a expre,..~ão pós-estruturalista apenas

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para delimitar cronologicamente uma etapa posterio r ao estruturalismo.
O pós parece antes designar uma tendência que ainda congrega um con·
junto de variáveis e instrumentos da análise estrutural do que verdadei-
ramente um movimento reativo ou de renovação paradigmática.
N:1 realidade, por um lado quando se fala em pós-estruturalismo
pensa-se de imed iato em Michel Foucault c Jacques Dcrrida, eventual-
mente cm um s uposto segundo Roland Barthes, entre outros menos ex-
pressivos. Em comum, tan to Derrida quanto Foucault historicizam seus
objetos de pesquisa; entretanto, não da mesma forma.
Por outro lado, é preciso considerar que if posr-srructuralism
reintroduces /riswry into structuralism (01; more uccuratel)\ slrows that
effects ofhistory h ave been reduce) it also poses ques1ions 10 rire concept
oi lristory as sucil. 17
i\ recusa CJn obliterar a dimensão hi st6rica e a transiç5o d<Jgera-
ção braudeliana para uma outra geração, mais receptiva às novas tendên-
cias entre as quais as de Foucault c Dcrrkla7 confirmaria cm nteados da
déc:•da de setenta não somen te um retorno à histo ricid ade, mas umn
notória recopCW<,iâO dos pres tígio da disciplina.
Michel Foucault nunca assumiu-se plenamente como um estrutu-
ralista e não parece ter aceito melho r o rótulo de pós-estw turalista. O tà to
de não transigir em relação a conceitos desta natureza não impediu que
seus comentadores, apologistas ou detratores, o situassem o ra nos limi-
tes do estrutura lismo, ora no centro do pós-estruturalismo.
As razões para uma tal ambiguidade podem ser encontradas nos
próprios trabalhos d<: Foucault. No Ih•roAs Pcdavras e as Coisas, de 1966,
considerado seu trabalho mais próximo ao estruturalismo, bá um elogio
aberto à análise eslrutural: O estruturalisnro não é um tnétodo novo; é {l
consciêucia desperta e inquiew do sa})er modema."
No entanto, esta post ura não pode ser percebida como um indica-
dor do nível de aderência de Poucault ao programa estruturalista. A frá·
gil ortodoxia foucaldiana a ordenações cognitivas, políticas ou acadêmi -
cas revela-se na irônica resposta de Foucault a um virtual interlocutor
em um dos seus textos mais importantes: l'ários, como eu sem dúvida,
escrevem para niio ter nwis tun rosto. 1Vlío Jne pergunte que111 sou e não
me diga para permanecer o mesmo. ~•
Seria demasiado estender-se no inventário das diferenças de como
e porque Foucault é estruturalista ou pós-estruturalista. Mas uma SÚllC·
se de referenciais mínimos é elucida!iva. Foucault mantém-se atrelado a
certas premissas comuns ao es trutu ralismo, tais como a ausência do su-
jeito, a destituição do homem como objeto central das ciências humanas

136 Anos 90
c a descontinuidade histórjça; e inversamente àquele paradigma para
l"oucault a .i nscrição da historicidade cm suas pesquisas é uma premissa
inconteste, além de não mostrar-se convencido das po>-sibilidodes for -
mais apresentadas por um sisfellUl como a linguagem.3J
De modo geral verifica-se que Foucaulr procurou afastar-se gradual-
mente do cstruwralismo desviando-se de temas e investigações cujos
resttltados conduzem a invariantes universais, e que na falta de uma rne-
lhor defini~r-ão vem sendo chamado principalmente pelos norte-america-
nos de pó..~-estru turalismo.
O projeto foucaldiano em relação it história fundamentou-se teori-
camente cm 1969, quando da publicação da Arqueologia do Saber. Nes-
te ensa io, ao comenta r os novos problemas existentes no campo rnetodo·
lógico do saber histórico Foucault desarticula a dicotomia entre história
e estl'utu ra:

A estes problemaspode-se atribuir ( I siglo do estmruralismo. Sob várias


colld ições, entretatuo,, eles estilo louge de cobri!; sozinhos, o canrpo
meiodológicn da história (...) sctllio em cerw número de casos rclati.-
vamellfe limilados, eles mio jóram importados da lingüíslica nu da
etnologia, mas nasceram no campo da própria lristól'io. (...)enfim, não
autorizam, de modo algum, que se fale de uma e.wruturalização da
história, ou~ ao menos> de uma tenftltil·a para superar um conflito ou
wm1 oposição emre estrlllura e devir (...) . A oposição estruw ra-de\'ir
não é pertinemc nem para a definição do campo histórico nem, sem
dúvidCl, pam a definição de um método estrutural."

É preciso deixar claro que nos trabal los anteriores de Foucault a


perspectiva histórica sempre esteve presente, ainda que longe dos pro-
cedi mentos tradicionais dos historiadores e próxima à abordagem estru-
tural. Ta nto na História da Loucura {1961) como no Nascimento da
Clínica (1963) Poucault interpretou a bistórür de um modo mu ito parti -
cu lar: no nível do discurso. Em muitos casos historiadores profission:ús
acusaram essas bistóri~s de deficientes pois à esfera discursiva não
corresponderiam determ inações infra-estru turais, além de não haver li-
mitações à épocas ou às discipli.nas científicas: o discurso é analisado
como uma prática em um fluxo descomínuo .
Estruturalistas como R Barthes viram na História du l,oucura uma
história estruturalista em termos de projeto c an:Hiscn Críticos como F
Dosse acred ilam que " avec 'Nclissa11ce de Ú1 C/inique', 1111. Foucault est
au p lus prês du s mtcluralisme. li délais.w les pmtiques socioles auprofit

Anos90 137
de l'étude des n!gles du discours."" Uma histori adora lúcida como Pa·
tricia O ' Brien sen tencia:

Nemmarxisw, nem ligada à escola dosAnnales, neste âltimoqullrto


de século a obra de Foucault 1em s ido aliemadameme louvada e
awcada pelos hi.Horiadores · c, em ambos os casos, quase sempre
1na l co mpreendida, o corpo d<J texto ele Fouct1ult rartunetr.t.e foi
apreendido com aquilo que de fmo é: 11111 modelo alternativo pctnt
a escrita da história da C!Útllra, um modelo que i11C01poru uma
crítica fi.m damencal da análise marxisw e dos Annales, bem como
âa p rópria his tória social."'

Talvez o mais importante é o fato de estes dois livros de Foucaull


terem, de algum mO<.Io, influcuciado ou justiricado uma abertura do cam·
po historiográfico em direção às margens da sociedade; suas temáticas
t idas como desviantes, outrora inibidas pelos modelos tradiciona.is da
história. emergem agora com força expl icativa,
Poucault também reconsidera conceitos que antes eram inadntiss í-
veis cm uma investigação histórica. É o caso, por exemplo, da noção de
descontinuidade, que segundo Lévi-Strauss constituía ao lado do caro-
ter taxinômico os fundamentos do conhecimento histórico. No projeto
foucau ldiano a descontinuidade deixa de ser pensada como um obs tá<."l•-
lo à pesquisa- "o estigma da dispersão temporal"- e torna-se um elemento
CC!\Lral no discurso do histmi ador.
S eria ilusório enlretanto, hnaginar que este deslocamento teria
ocorrido pacificamente. Ao contrário, hou"e problemas que se resumem
na {·crítica do docu mento,.,.~ outra dilneosão c...xmcci tual do ~1mpo históri -
co rcavoliado por Foucault. Mas que se evi temi ncompreensões: não
existem dúvidas acerca da importância dos documentos para a constitui-
ção do s aber histórico. Através del es cristalizavam-se o passado: " o do-
cumento semp re era tratado como a l inguagem de uma voz agora redu-
zida ao silêncio; seu rastro era frágil mas, por sorte decifrável".'-' Porém
Foucault identif ica uma " mutação ''neste comportamento:

odocuJnefltOJpois, não é mai~ para a hisró ria, essa matéria inerte atra-
vés da qual ela tenta reconsíiíuir o q;<e os homens fizeram ou disse·
rauz, o que é pas:utdo e o que dei.\-a apenas rasrtos: ela pTVCuraJ 110
próprio tecido docutucnta~. uniclt1des, conjunto!>~ séries, rela~:ões..M·

Por meio <lc um jogo de palavras Fouc~ult sinte tiza a crítica: e n·

138 Anos90
q uanto a história trad iciona l memorizava os monumentos do passado
transformando-os cm documento, hoje a !Jjstôria é que transforma "os
documentos em monumentos" voltando-se para a sua descrição intrín ·
seca." A revisão da forma de intervir-se nas fontes documentais impli·
ca, por o utro Jado, uma alteração no es tatuto do próprio historiador: ain ·
da um h istori ado!~ mas com mãos arq ueológicas.
Estar-se-ia nes te plano, segundo Ha bermas, diante de uma despe-
dida da hermenêutica, posto que:

L'éffont llemténeutiqtte 1-ise l 'appropriaricm du sens, ii f!aire dans


choque document une voix réduite au ::;ilenc.:e qu ' if doit ran uuu:r à lc1
vie. C eue idée du documentporteur de sens doi I é tre remise e n ques-
iion au même titre que I 'emreprise iJUerprétatiw (...) L'archéologue
(. ..)fera cn sorte que les documems p arlants n>deviellne/lt des mo·
numents muets, des objets devam être lil>érés de leur co11texte afin à
Ül por tée d 'u11c dcscrptÍOII de f)pe SITilCillra/istc.~<

A crítica de Habcnnas é compartilhada por outros estudiosos,<!""


vêem no projeto de Foucault uma empresa dest inada a desconstruir nas
ciências hun1Mtas c particulanncnlc na hislória suas marcas de d entifi-
cidade. Ne.ste sentido, de acordo com Alla n Megi ll nos trabalhos fou-
c auJdlanos cncontrarwse·ia arli<..:ulados.ob uJn a aparente nova metodolog ia
científica uma verdadeira tentativa de d emolir tudo o que até agora se
credi tou ao nome da clência:w
i': a realidade Foucault procurou verificar <t constituição histórica
das ciências huma nas através da análise da form ação de seus conceitos,
o bje tos teóricos e métodos <:orrespoodentes, com a intenção final de sabe r
como e porque elas tornaram -se ciências. E Foucault faz esta d escrição
desv iand o-se completamente do modelo evolucionis ta das ciências .
Mantendo-se fiél i•s concepções de descontinuidade, !t ncgaçiio da idéh•
de progresso na história das ciências, às diferentes posicional idades que
o suj ei lo ocupcl cn1 umt• formação tHscursiva, u;jo é de se admirar, por..
tanto, q ue Foucault tenha sido percebido como um iconocl asta teórico,
ou um <lflarq uista epistemológico.
Este ponto de vista, contudo, náo parece correto. Na his tória dos
d iscursos sobre a loucura, sobre a disciplinarização do soda!, sobre a
sexual idade, e ainda para reconstituir as formas como o poder e o saber
relacionam-se, Foucault perseguiu resolutamentecr iiérios d(! r igor;'" mas
sob uma noção de h istória heterodoxa (afinada à crít ica no documctmo)
na qual é preciso

Anos 90 139
établirles séries diverses, emrecroisées, divergentes souvent mais 11011
aucononres, qui permettent de cin:onscril-e le licu de l't!~.c·éneJneru, les
marges de son aléa, les conditions de son apparition. Les 11otionsfon-
damelltales (. ..) som celles de l'évé11emem et de la série, a"-cc /e jcu
eles no1i01~~ qui leur sont liécs; regularité, aléa, discominuité, dépeJt-
dance, trcmsformation; c'est par Wl rel ensenú>le que cefle analyse des
discours à laquelle j e songe s'articule 11011 point certes sur la tlufma-
tique traditionelle que les plrilosophes d'hier prennent encore pour
l'hL~toire vivante mais sur !e travai/ effecti;f des histotiem•'

AJéro disto, para a dinâmica que movi menta este jogo os conceitos
de causas o riginárias ou n)OnOC<HISas deixam de ter sentido:Foucault nos
deu tun jogo scnrcausas. E u1n unillerso de rup turas e partSas, mas, mesn1o
assim, um universo. Ele não foi ne11Jzum atwrquista pós-estmturalisw.
Seu j ogo tem regras c um ob}elo.""
O conjunto de questões decorrentes das noções desenvolvid as por
Foucau lt acerca da história o levaram a uma renovação do seu projeto
por interméd io da introdução do conceito de genealogia. Alguns auto-
res afirmam q ue entre a Arqueologia do Saber c sua aula inaugural no
"College de France" teria ocorrido uma espécie de corte onde a análise
arqueológica seria substituída pela genealógica.•' É desnecessário entrar
nesta <.-eleuma no momento. O importame é que Foucault havia encon-
trado cm l"ietzsche um suporte teórico - a genealogia - que de modo geral
não acusa uma n•ptura com seus tnobalbos precedentes.
O método genealógico, tal como o arqueológico evita as reco rrências
e as evoluções e tem por objetivo descrever e isolar as diferenças:

(. ..) a genealogia e.xige, portanto, a mimícia do sabet; um grc:mcle nú-


mero de materwis acumulados, exige paciência. Ela deve construir
seus monumemos ciclópicos não a golpes de grandes erros benfaze-
jos mas de pe.q uenas verdades inaparentes es tabelecidas pO( um
método severo. T:m suma, uma cerca obst iJwção na erudição. Age-
nealogia não se opõe à história como a visão altiva e profunda do
filósofo ao olhar de loupeira do cientista, ela se opõe, ao comrário,
ao desdobramento mew-histórico das significações ideais e das in-
definidtiS leleologit~s. Ela se opõe à pesquisa da origem:•·•

O recurso genealógico tem por objetivo instmmentalizar a varia·


ção temática experimentada por FoucauiLcm su:os pesquisas a part ir da
década de setenta, período no qual se volta para a análise de como e

140 Anos 90
porquê o s aber e o poder vinculam-se e através de que dispos itivos for-
mam suas estratégias de atuaçiio. O exercido do binômio poder-saber
efetiva-se historicameme segu ndo Foucault sobre

O corpo: superfície de inscrição dos acomecimentos (enquamo que


a linguagem os marca e as idéias os dissob·cm), lugar de di~-soci­
ação do Eu (que s upõe a quimera de uma unidade subswncitd),
volume em perpétua pulverização. A. genealogia, como análise da
p rOFcniência, está portanto no ponto de articuluçüo do corpo com
a história. Ela deve mo.Hrar o cotpo imeirameme marcado de ltis-
rória e a história arruimmdo o corpo."'

Vigiar e Punir será um belo exemplo de como se reconstitui uma


história que incide sobre o corpo. Neste livro Foucault recorda que estu-
dar a história do corpo não é uma novidade para os historiadores. Sua aná-
lise não parte portanto de um ponto zero, apenas insere a historicidade do
corporal no nível das relações de poder cujo saber não retrata suas regras
de fu ncionamento, mas conslilllem uma tecnologia polí!ica do corpo,
" difusa e rarameme formulada em discu rsos contínuos e sis tem:i t icos".~•
Imbricados, poder e saber não dependem de um suje ito do conhecimento
que s eria livre ou não dia nte do poder. Segundo Foueauli o sujeito que
conhece é efeito de sua própria relaç.'ío e mudança histórica:

(.. .) resrmrindo, não é a arividade do s ujeito de conhecimento que


produziria um sabe1; rítil ou arredio ao poder, mas o poder-saber,
os pmce.<t.,.·sos e as lutas que o acravessam e que o constituem, qtt<1
dererlllinan! as fonnas e os campos possíveis do conhecilnento .47

A genealogia acrescenta à noção de história um esclarecimento


ceórico: o modelo histórico não deve ser buscado na Hngua ou nos sig ...
nos (duas ciências fundamentais do programa es truturalista) mas em seu
caráter belicoso; ou seja, a histoticidade é antes re lação de poder do que
relação de sentido. Para Foucault a história não 1em se ntido, o que 11<io
quer dizer que sej" absurda ou illcoercntc. Ao contrário, é imeiigível e
deve p oder ser analisada em seus menores detalhes, mas segundo a
inteligibilidade das ltttas, das estratégias, das fálicas!'
Muito se tem comentado sobre estes caminhos inaugun1dos por
Foucaull. bntre os historiadores a recep~ão de seus trabalhos, como em
LOdos os domínios, <:aractcriza-sc pela polêmica. P~1 ra Paul Vcy nc,
Foucault apenas lembrou aos historiadores que :

Ano~90 141
(...) vocês podem conlinuar a explicar alris lúria como sempre o fi-
zeram: sontente, atençdo: se obsen·arent com exatidão, despojan-
do os esboços, verificarão que cxislcm mais coisas que de•·em ser
explicadas do q ue ·vocêspensav(J)n; existem contornos bizarros q ue
não eram percebidos. 49

Outros, menos devotados que Veyne, dizem que se Fo ucault faz his-
tória nito é uma boa história, é passional, genéri ca, sem método, fo ra os
descuidos cronolúgicos. A estes historiadores Foucaull respondia com iro-
nia: f.lão sou um historiador profissional - IIW."i ninguénz é perfeito .~~'
Foucaull, filósofo por formaçito, revi\'e - em uma analogia fo rçada -um a
espécie modernizada do dilema do Proudton no século X [X, que de acor-
do com Marx passav<1 por bom filósofo e mau economista na França, en-
quanto na Alemanha passa por mau fi lósofo c bom cconomist<L Foucault
seria entre os historiadores antes apenas um filósofo e não um historiador.
e ao que tudo indica. para os filósofos scri<l mais um historiador do q ue
um filósofo.
Ta l como Marx fez em relação a Proudhon, só que em sentido inver-
so, é preciso protestar contra este duplo erro. Foucault tomou-se para os
his!oriadores sell(io um modelo, pelo menos uma mâ consciência/ ' par-
que rompeu com os !.imites (Lem{tlicos mas também epistemológicos) a que
estava submetida a disciplina histól'ica e parece difícil hoje ignorar sua
conlribuiçiio.lncondicionalmente aceito ou totalmente rejeitado, talvez os
historiadores não tenham atingido o idea l metodológico que o próprio
Foucaull reivindicava para s i: quanto a mim, os tJutores que gosro) t~u os
urilizo.52 Lê-lo c ntilizft-lo mais do que cit;:l-lo, eis a questão.

C O /\SIDERAÇÓES Fl!\AIS

!\a introduç.ão desle trabalho afirmot•-~c q ue o~ historiadores de-


veriam responder, de algum modo, aos argumentos estrut uralista c pós-
estruturalista. Ko entanto, é forçoso reconhecer q ue os histori.ado res têm
um hábito estranho: cst fto acostumados a receberem ataques, mas tam-
bém a ignorá-los; postura hermét ica que se em certos momentos consti-
tui-se em sábia virtude, cm outros revela o rtodoxia ou insu ficiente refle-
xão teórica.
As duas úllirnas ca.ractcrís1icas ptucc.:cn1 Jnarçctr atualmente as re-
lações entre a história, o estruturalismo e o pós-estruturalismo. De falo a
especi(icidadc dcs1c rclacionamcnlo n>lO foi explorado de forma propor-

142 Anos 90
cional às suas variaçócs tcm<itiC<ls em implicações relalivas à produção
do conhecimento histórico.
Neste sentido, muitos historiadores na m~ior parte das vezes de
extração marxista. atribuem ao I>Ó~·~truturalismo os signos do irracio-
nalismo, da condição pós moderna ou de mero epifcnõmeno dos modis-
mos intelectuais com os qu<ÚS. segundo eles, os franceses nos brindari-
tun de vez em quando.
ent re tanto. ho uve criticas ao estruturalismo e 110 pós-estruturalis-
mo CJUC ultrapassaram o rúvcl ncintu:.umemc prcconccituoso ou antiacadê-
mico. Em primeiro lugar, a répl ic.1 de Pcrry Anderson ao estrutu ralismo
e ao pós-estruturalismo continua sendo Ulllll referência obrig atória e
apropriado dos historiadores assumidamcnte marxistas, embora mereça
reparo~. Em segundo lugar é preciso vcriricar a validade da inserção de
1-oucault ou do pós-estruturalismo como rcpresentame da pós-modcrni·
dadc c ad,·crsário da razão. Ambas as que~tõcs ~crão apenas expostas
com a intenção de contr..1star com as duas panes descnvol"idas até aqui.

I • Paris é hoje a capital da reação mtelcctual européia, de modo


muito semc/ha111e ao que Londres era há 30 anos." Assim Pcrry Ander-
son clil~ifica a orientação cm voga no f'ntnça onde o estruturalismo c o
pós-estrutural ismo impuseram-se ao marxismo, que havia desfrutado de
unw ascendência culwral no imcdüHo pós-guel"f:t.
l!stn situaçf•o é definida pe lo historiador inglês através d e uma
mclfifora bélica: teria havido urna guerra lcórica, e o marxismo, sobrctu 8

do latino, forn derro tado. Mas a ritó rw do estruturalismo e pós-estrutu-


ru lismo !cria ocorrido em um C<~mpo do batalha não estran ho ao marxis-
mo. Por exemp lo, as relações entre estrutura c sujeito na história são
recorrentes a Marx e ao materialismo histódco.
A guerra teria ainda causas históricas. Segundo Perry Anderson, a
discu~s3o no interior da corrente marxista n:io havia assumido uma
conotação política ou hisroriogrMica. mas filosófica por três motivos
principai~: 1) devido a orientação do stalinista do l'CF; 2) devido ao
amplo domínio dos 1\nnales na rrança: 3) devido a innuência da fenome-
nologia e do existencialismo.
Por outro lado, o marxismo althusseriano que deveria ter forneci-
do alguma resposta ao estrutumlismu capiltulou diante do inimigo. Mas
n Ahhu:.scr Pcrr,· Al1derson reserva adjctiv'1' a menos: ti nm·idade « u
i11genuidade ertun por si só inegáveis.$'
Afi nal, cm que consistiu a v itó ria da Crente ampla estruturalista e
pós-cstrutma l i~ta? Pcrry Andcrson dema rca três temas ou asserções q ue

Anos 90 143
para ele congregam tanto o estrutura lismo q u anto o pós-estruturalis mo
em um campo comum, onde ocorreu a batalha e houve a de rrota p ara um
exérc it.o cujos argu me ntos nfto parecian1 muiLO convinccnLes.
1) 11. c xorbitação da linguagem. De acordo com Perry Anderson, as
re lações em re a língua e fala constituem uma bússola aberta para mapear
as diversas posições da estrutura c do sujeito t\0 mu ndo exterior à lingua-
gem po r três razões : a) as es truturas ling(iís ticas tem um coefid c ntc m uilo
baixo de mudan ça histórica q uando comparadas as dem ais estrutums so-
ciais; b) a língua é congenitamellle inventiva: o sujeito é livre para falar,
enqu anto as o utras práticas são c oagidas por re gularidades c a leis d e es-
cassez na tural, sendo que os efeitos da fala na história são quase nu los; c)
o sujeito da fala é axiologicamente ind ividual, e nquanto os s ujeitos re le -
vantes nas outras estrutt1ras sociais são <.:Olclivo:): cxércilo, nação~ classes,
grupos. e tc. D es te modo, so mente a ação de stes sujeitos é que alteram e
modificam as estruturas. Ou sej a, não há como le gitimamente tra nspor os
modelos lingiiísticos para o processo h istó rico-'S
2) A te nuaç.'ioda verdade. A dicotomia queSauss ure opera no interior
do signo entre significante (imagem acústica) e signific ado (conceito) teria
nas v ersões estrutural e pós-estrutural sofrido um deslocamento que g radu-
almente foi gerando uma megalomcmia dosignificante. Isto é, cmre as pal<t-
vras c as coisas haveriam múltiplas correspondê ncias: o real do ravante per-
de seu referente concreto. l'erry Anderson vê nesta assimetria a impossibi-
lidade de se dislingt1ir em uma pesquisa o que é ve rdadeiro c mo q ue é falso,
premissa."> funda me mais "de qualquer conhec imento racional"."
3) A causalização d a h istória. Efeito da ada ptação do p aradigma
ling iiístico às ciêndas humanas ~~ idéi a d e causas determ ináve is se en -
fraq uece em detrimento dos jogos da d ifere nça, sentido. significado. A
caus alidade deixa de ser pensada como nexo ncccss~rio para se construir
a in teligibilidade do processo hisrórico ."
A conclusão de Perry Anderson é de que as armas do e s truturalis-
mo c pós· cstruturalisrno eram mais virtuais do que reais, e que fica ram
devendo respostas para a s questões pelas qua is tanto se criticou o m<Jr-
x ismo . Na verdade "ocorreu pouco CJúrentamento d ireto e autêntico e ntre
os dois antagon istas", havendo de fato ';unta adaptação passiva ~lS n10 ..
da s e d isposições predominantes nn época.".5 '
S eria impossíve l no s limites deste a rtigo e s tabelecer uma tréplica
a Perry Anderson e espe ra -se q ue a leitura do s pontos an te rio res a renham
induzido avan! la leure. Conrudo, fica claro que l'erry A nde rso n man-
tém-se atrelado a uma concep~'âo segundo a qua l criticar o marxismo é
afrontá-lo. ainda que por ingenuidade ou infidelidad e.

144 Anos 90
II - I-Iabermas em 1980 pmfere uma palestra intilulada Modemida-
de- w11 projeto incompleto na qual identifica três tipos de conservadores:
J) os velhos conservadores (pré-modernos) q ue pretendem uma volta a
um período <lntcrior à mod ernid ade; 2) neoconservadores (pós-modernos)
que rejeitam os conteúdos subversivos da modernidade mas apóiam suas
estruturas sociais, inclusive a aplicação da ciêncüo c da técnica para es ti-
mu lar o crescimento econõmico; 3) jovens co nservado res (antimodemos)
<1uc se opõem à razão instrumental associada a modcrnidade atravésde um
princípio transcendente <."'mo a vontade de poder, o Ser o u a força dio nisíaca
do poético, onde encontram-se ButaiUe, Derrid a e Foucault."'
Em 1985, Haberrmas redefi ne a posição de Foucau lt a partir de sua
teoria definida agora: c 0 1n0 une rlléorie fXJSt -modenre.u.1 Para o f ilósofo
alemfto a pós-modernidade divic;le-sc agora em pós-mode rnidade neocon-
servadora e pós-modernidade a narquista: a primei<a rejcit~ ~modernidade
cultural e apóia a modernidade social; a segunda realiza uma d upla rc-
jciçáo c é nesta <IIIC é enquad rado l'oucauJL
A noção de modernidade para Ha bermas ta mbém divid e-se cm dois
blocos: a modernidade c ultural que se caracteriza pela d essac ralização
das v isões d e m undo tradicionais e sua su bs tituição po< esferas axioló-
gicas diferenciadas, reg id as pela ratito c sujeitas à ação consciente do
homem; a modernidade social caracte riza-se pelos complexos institucio-
nais (Estado e economia) c co rresponde ao processo de btuocrat ização
d a sociedade.
O ponto ce ntral d a divisão da modern idade e pós-modernidad e é
port<t nto a modernidade c ultural admitida pela primeira e negada pe Ja
segunda. T amhém '' aceitação e rejeição su bdiv idem-se cada qual e m
a preensões conservadoras ou críticas. Consequentemente aqueles q ue
aceitam a modernidade cultural e a social ao mesmo tempo são conser-
vadores ; enquanto aqueles que aceitam apenas a modernidade cultural
e nvocam a razão iluminista para denunciar a perversidade da moderni-
d ade social são os críticos, onde se si tu;oria o próprio Habe rmas. Já aqueles
q ue rejeitam a modernidade cu ltural em nome de valores pré-capitalis-
tas c defendem a modernidade social são pós -modernos conservadores;
por outro lado, os q ue rejeitam a modernid ade cultural justificando o a to
pelo fato de a razão iluminista ser um s imples agente da dorninaçiio, e
nega m a modernidade social por ser o locus da re pressão políti ca econô-
mica são os pós-modernos c ríticos, e aí esta ria Foucault-
i\'(as quais são os argu me ntos p:lr;.• H verten1e pós-estruLuralista
centrada em Foucault se r considerada pós-moderna? Parece inquestionável
que Foucault é \ l lll crítico mas isto não bastaria para classificá-lo como pós-

Anos YO 1'15
modemo. Rouanct enumera quatro contra-argumemos :
1) Foucauh não contes ta o iluminismo mas sua filantropia. Se para
ser moderno é preciso acreditar na bondade dos reformadores iluministas
é necessário " cassat· as credenciais de Marx", que denuncia a parciali-
dade da ema ncipação conduzida pelo idcãrio iluminist a em favor da
domin<lÇãO de classe bmguesa;
2) Foucaul! não pretendeu destruir a ciência, e sim mostrar os con-
d icionamentos pré-científicos de cada campo de saber (as contlgu rac;:ões
de podet) e sua utili zação extra-científicos, o que csi<Í na melhor tradi-
ção da filosofia não-positivista. Propõe à historiografia tradicio nal uma
arqueogenealogia que atenda a princípios de cientificidade pelo menos
tão exigentes quanto os aplicados a ciências tradiciomlis;
3) T<l l corno Marx desconfia do progresso burguês, Foucault des-
contla da própria noção de progresso. Segundo Rouanel, acreditar na idéia
de progresso fonn ulada teoricamente pelo iluminismo é ser infiel com a
prÓpria modernidade no que ela tem de mais profundo: a capacidade de
aprender com a experiência. Nérn disso, a crença cm uma bistória con-
tínua condu7. a expectativas finalistas e futuras através das quais a luta
presente é amortecidt>.
4) Foucault por fi m, para Rouanet, não foi um niilista, porque lu-
tou pela reforma penal, contra os regimes autoritários c as instituições
repressoras. Foucault se auto-insere na tradição de Kant à escola de Frank-
furt, passando por Nietzsche e Max Weber. Te ria s ido e nfim um pe nsa-
dor moderno pela sua visão crítica da sociedade, mas como não situa
cl aramente sua obra dentro da modernidade produz interpretaçi'les plau-
síveis como a de Harbcrmas . Desta forma, para Rouanet o Foucault pós-
Jnoderno se evaporo6 1
Em sentido semelhante mas de modo m;tis geral Andreas Huyssen
afirma que

O pós-estrutura il:•m1o é p rinclj)(drnente um discurso do c? sobre o nlO-


demismo e que, se queremos localizar o pós-moderno no pós -esmuu-
ralisnu>teremos q ue buscá~lo na mane ira como várias formas do pós-
estruturalismo tem apontado para novas problemáticas no modernis -
mo e têm reinscriw este últim o nas fomwções discu rsivas da nossa
própria época(...) o pós-estruturalismo pode ser emendido, num grau
s ignificativo, como uma teoria do modernismo (. ..)se é verdad e que a
pôs -modemidade é con dição histórica rínica e difereme du moderni-
dade, impressiona constawr as pmjimdas raíres que o discur.w críti-
co do pós-csmmmlfismo fin ca na tmdição modema."

14ú Anos90
Em termos históricos, entretanto, a qtte!;tào da p6s-modcnúdadc
conlioua sendo mais comumente associada ao pós-estruturalismo e ao
retorno das teorias narr;.ujvus ;,tos domínios d0:s csLUdos ltislóricos. De
acordo com T- Hutcheon : (.._j i! is narrative rlutl mosr clearly m ·erlaps
willt 1he concems of posimodem fiction a11d th.eOJy"
Esta j(i é uma questão correlata, mas que surpreendentemente vem
sendo mais discutida entre os historiadores do q ue foi a própria análise
das relações do saber histórico, o cslnllurillismo c o pós-estruturalismo:
de cena forma. os códigos teóricos queape11aspossibilitaram um repensar
na historiogntfia conten1porânea.

NOTAS E RE FEilli'<ClAS

I. BENNIGTON. G ./YO UI'\G, R.·' lntruduetion: posing thc q ucst ion", in ,\ T-


Tt\IDGE, D./ BEI'\1'\I NG.mN . G.!YOUNG, R. (ed) Pmt-smtcwralism and
tlw questicm o flds tor}'. Camhridgc Universi ty Pre."-s~ 1987, p- J .
"') A poli ~scm i a do ':oc:1huln c~tn1 tural h:m o-é destacada por v ários autores. Para
R. Ooudon: ··parm i lcs oonccpts clés. dcs scicnccs humai nes. lc com.· cpt de
Stru CturC CSl sauS dou tê UJI dCS plus ohSCurs:·-;\ quoi .sert /anmion t/e uS!YU C-
Utre'!-• J::xsai ::.ur lu :úgnijic ation ( / (! /(t 1wtüm de scntcw re dcms le.'i sciences
lwma ines . Paris. G;:lllim~l rd, 19(-,8 p. 13 . Snbrc o descn\·oJvimento elo con-
cciro ve r DOSSE. f.. l 1iSJóri(l do Estrituralis mo I : o campu do.\·(r:no. 1945/
! 966. S I': Ensaio, 1993. pp 15-17. L'ma nota para lela: p<>r mot i,·o de e.<pa-
ço do is aulo rcs impo rtantes não sáo ana l i sados neste ar tigo. RARTHES. R.
c MAIRE'L O.
3. Sobre es tas considerações ver: i\;\ RS LEFF- A. From Lccke to Saussure:
Essays 011 riJe swdy af language and in te!/ectual history . "-'linncapoli!-i M iu n-
soia lJniversity Prcss. 1982. Este 1ex10 é c itado no mesmo sentido in :-1ER-
Ql JIOR , J . G.De Praga a Paris: uma crftiCi~ do essruturalbimo e do pensn-
meuiO pós-estruturalista. lU.: Nova Fronteira, 1991, pp. 23-24 . Pa ra con-
firmar os desdobramentos Uo l ivro de Saus.surc ver DOSSE, F. op. c ii . vol t,
pp. 65-scg.
4 . BEKKI NGT0:-.1. G./YOUNG, R. op. cit. p. L Ver também DOSSE. F. op. cit.
pp. 69-7 . O u 1ros concei,os desenvol vidos por S:.lussurc s5o import:mtes. cnttc
e les a <!efinição do sig_noli ngüistico çúmo rcsultad<> co m h inado da pres en-
ça de um s ignificado (conceito) c de um sign itlca nte ( imagem ncús1ica) PI'O-
duzidos por um laço de união arbiuário intemo à est ru tura da pr·6pria lin-
g ua 1 afastanUn as.<~õim ~l refcrê n ci ll externa . Ver SAUSSURE, F. Curso de
Lingüí.<lica Cera!. SJ>: Cultrix. l 9S8, pp. S(H:i I.
5 . FlJRET F. ;,Os iorc lectuais franceses c o estruturalismo..,. in -A oficina dtt
hisu>ria. Lisboa: Grad i va~ s/d. p. 46.
6. Ver f'URE'I~ F. op. d t. p. 49 .

Anos 90 147
7. De LÉVJ-STRAUSS, C, ver "História c Dia lética", in -0 Pet~samemoSelm­
gem. S P: Nacional, 19i6. ·'Ra~a e his tória" (1952) e "O campo da antropo -
logia" in - Amropologia estrutum/11. R .I.: Tempo Brasiliense, 19i8. "His -
tó ria c etnologia" ( 1949) in - ltntropc!ogia Esrmtuml. lU. : 'lc rnpo Drasili -
cnse, 196 7.
8 . LÉVI-S TRAUSS. " História c Dialética, op. cit. p. 292.
9. I dem. O livro de Sanre que Lé vi.Strauss refere-se c cril ica é ((Crilique de la
Raison Dia1ctiquc: Vol. l Tbéorie desenscmblcs pratique.~". Paris: Gallimard,
1960.
10. MERQU !O R , J. G. o p. c it. p. '1'1 I. E. Carr, cm ao·tigo publicado em 1961,
ofercc<: ~ sem considerar em nemhum rnomcnto a crítica cstruturalis1a, uma
análise que se tornou clássica sobre as relações entre o histori ado r~ fontes c
fatos . VerG\ RRt E. H. •fo histori ador e seus fatos" ioQueéhi.o;tól'ia ? RJ:
Paz c Terra, 1978, pp. 't1 -29.
1J . LÊVI-STRAUSS, C. '·Histcíria c Dia lCiica" op. cit. p 294 .
12. Idem. p. 296.
13. MERQt;JO R. op. cit. p. 113.
14. ;\ noção de "Corte epistemológico=' foi influenciaria por Ga.o;ton Bachclard.
Ver BACHEI.ARD. O. Epistemologia. RJ: Zahar, 1983, p. 16. Segundo E.
T hompson "a cesura epistemológica": com Ahhusscr: é uma cesura com o
autoconhççinwnto <lisçiplinado e um sa lto na au to-gcra~ão dt) conhecimen-
to, de acordu com seus proccdünentos rcório.Js. isto é, um salto para fora do
conhecimento c para dentro da teologia" A :\1iséria da Te01·in. RJ: Zahi.l r~
1981, p. 43. Sobre a importância c crítica de Altlousscr, ver I'URET, 1'. op.
d t. p. 55 c V 1LAR 1 P. ~'1-IisEória marxista, hist6ria cm construção.. i n LE
G OFF, JJNO RA, P. (org).llislóri(t.' no vos p rol>lemas. R.l: F. Alves, 1988,
p. 152. Sobre o marxismo vulgao·, ver I !OBSI3AWM, E. '' r\ contribuição de
Karl !'"larx pa.ra a histografia··. in BLACKB URK, R. (org) ltleologia na crl-
tica social: ensaios criticos sobre a teoria social. lU : Paz. c 'l(::rra, 1982, pp.
248-249.
15. Al:I'H USSER, L. A favor de Marx ( pour Marx) . RJ: Zahar, 1979, p. 24. O
marco desta " irada seria o livro "A Ideologia A lemã" de 184S, nãn publi-
cado d urante a ' 'ida de Marx.
16. Ver ,\ LTH l;SS ER. LJ BALI BAR, E. Para leer e/ capital. México: Siglo XXI,
1978, pp. 116-130.
17. ALTHVSSER, L. Sobre o rrabafho teórico. l.isho a: Presença. 1988, pp. 40-
4 1.
18. Ver DOSS ER, P. op. c it. vol I, p. 340.
19. A LTHUSSER, L. op. cit. ('19 79 ) p. 174.
20. Idem, pp. 202-203. Segundo P. Anderson t>ara Althusser" ns trabalhos de
Luckác~ Korch. Oramsci. Sar1re, Goldmann; Dellil Vo1 pe e ('..oltetti eram
suscetíveis de serem classificados como variantes do lris tnricismo: ideoJo..
g i<~ na qual a sociedade se lransfonna nu ma totalidaclcexpressiva circular. a
hislória nun1 fluxo homogênco Oc tempo lincart a filosofia numa auto-cons-

148 Aoos90
ciência do processo histórico, a luta de classes> num c()mhatc de s ujeitos
coletin)S, o capital ismo num universo csscncialmcnl.'é definido pela aliena·
ção: o comunismo num estado de verdadeiro humanismo para lá da aliena-
ção"'. Cnnsideraç6es sobre o marxismo ocidental. Porto: A frontamen1o. S/
d . PP· 92-93 .
21. O conceito de estrutura hraudel iano cncon1ra-se cm ·• História e Ciência
Sociais: a lo nga duração'' in BRAUDE L, F. Escritos sobre " hislóáa. S I' :
Perspectiva, ·1978, p. 49. 13rauclcl afirma que tentou "mostrar, não o nso di-
zer demonstra(, que toda a nova pesquisa de Claude l .évi-Strauss só é coro-
ada de êxilo quando seus modelos navegam nas águas da longa duraliào."-
" Hi stória e S cx:iologhl"', in BRAUDEL, F. o p. cil. p. 107. i>a.a F. Dossc Brau-
del .r tem o mérito de 1cr-sc rcapropriado da noção de estrutura c de lhe 1cr
dado a dimeos5o temporal: ( BRAUDEL, F essa.-. esjruwras históricas sâo
desr endth·eis lle certa maneira Jlh!/Zsuníveis: Srt<t duração J a m edida (
BRAt.;D EL, f. Cirili.tation matérielle, J::couomie el capiwnwre. A . Col in,
1979, T2. p . 4 10).'' DOS SE, F. i\ história em m iga/lws: dos Annnlcs à Nm>a
H istória. S P: Ensaio, 1992, p. 146. Já para K. Pomian " l'ernand Braudel
montreque J•histoirc loin dcs'cnferrner dane I 'étude des événcmcnls, cst non
sculcrnem capabJe de dégagcr tcs srtucwres, mais que c•e.o;;.t à cede tâchc
qu 'c li c duil s 'inléresser en premier Iieu."- " L' histoirc dcs struclurcs" i n LE
GOFF, J. (dir) /.-<~ Nouvelle Hisloire. Pa ris: Complcxc, ·1988, p . !09.
22. T H0\1PSON, E. P. op. ci t. p. 13. l'crry Andcrson avaliou a crílica d e T homp-
son a Allhusscr em seu livro Argumeuts within eng lish marxism. London:
N LB a nd Verso, l9SO.
23. A NDERSON, P. A crise: da crise do marxismo. S P: Brasiliense, 1984, p. 31.
24. Ver A LTJI USSER, L /..enin and phi!osophy . Lo ndon: Newle ft Books, 1971.
pp. 22-22. Ver também ;\ NDF.RSON, P. op. cit. 1984, p. 45.
r.
25. Ver DOSS E, Hislória do Eslmt!lra/ismo 2: o canto do cisne, de 1967 a
'!ossos dias. S I' : Ensaio, 1993, pp. 209-218.
26. E o caso de Bcn nington c Young; •· Thc question of thc rcl:.ltions bctween
sr luctu raH.s.tn, post-structuralism and histOf)' is (herefore an cxtrcmcly com-
plcx onc~ and the purpose of 1his volume is to bcgin to siwate and untanglc
itsc<>mplcxities by engaging with it in a numbcr o f intcrrelated wnys: ( ... )."
o p. cir. p. 02.
27. Idem. O grande ausenlc deste tó pico é Jacques Derrida porque s ua apreen-
são pelos historiadore-S ainda é recente c pouco desenvolvid:t. Sohrc Ocrri-
tla ver OOSS E, f . op. cit., vol 2 . i\1TRJDGE, D., DENNIKGTON, G. and
YOUNG, R., op. cit. E do próprio Derrida ver Gralllltlologia. SP : Perspec-
tiva, 1973. DERRIOA, J. A escriwra c a dijàençfl. S P: Pcrspccliva, 1971 .
28. fOUCAULT, M .As p alavm s e <IS coisas. SI' : :-·Janins Fontes, 1981, p. 282.
29. FOUCAULT, M./lrqueo!ogia do S <1ber. RJ: J'Q,·ense, I 987, J). 20. S egundo
A llan 1'-·1egili " Foucault does not so much have a position as a number of
succcssivc positions." in ~ The reception of Foucauh by Historians." Jour·
na/ nf lhe history of i<let•s. 48 ( !987): p. 255.

Anos90 149
30. Trecho de uma entrevista de FouC(Iult citada em 1\lERQL:IOR. J. G. M ichel
Foucau/(, ou o niilismo de cátedra. RJ: L'ova f-ronteira, 1985~ p . III . HaydCil
\Vhitc dcsconsid cm esta observação do p ró prio Foucault c o situa como o fi-
lóso fo princi pa l do mo \·imento estruturalista fr:ltlcê..o; por part i Ihar •· wilh Lé v i-
Strauss and Lacan a.n intereS1 i.n tbedcep structures of human co nsciousncss a
oonviclion tha1 srudy of sueh decp s1 ructures nl usl bcgin wilh an analysis of
languagc! and a conccplion of l anguagc \..,. hich has i1s origins in lhe w ork of
thc rccogoizcd falhcr of structural linguis.lics. Fcn.Jinand de Sauss urc." - F<m. .
caul! dccodcd : note.~ from undcrground'·. in WH ITE, H. Tropics ofdiscourse.
Baltimore nnd L<.mdon: TheJohns Hopkins Uni,·ersity Press. 1990, p. 230.
3 1. FO L!CAULT, M. o p. ci1. 1987, p. 13. Ko mes mo sem ido Paul Vc ync diz <juC
'· a oposiÇ{lO diacro ni a-sincroni a, gêncse-cstrutt•ra, é um fal so prob lem a" - ··
Fouca ult revol ucio na a hist6ria ~' in VEY N E~ P. Como se escren! a história.
B rasília : EUnB. 1982, p. 173.
32. Ver BARTHES, R . Essais cr i fiques. Paris: Edit ions du Seu ii, 1971. p. 17 1.
r.
33. DOSSE, ' ·I>ouca uh face 1t l'histoirc". ln li.waces{ femps. 30!l9S5, p. 12.
34 . O ' B RIEK, P. " História da Cultura de Michel F'o ucault". ln HUNT, L. (org).
i\ JU'JVa história cu!turtd. S P: Martins Fon1e-s, 1995, pp. 33-3·L
3 5. T'O UCAIJLT. M. op. cit, 1987. p. 0 7.
36. Idem.
37. Sobre •·os doct• mcntos transformado~ c m rnonumcnlos"'. Ver Idem. p. OS.
Sobre o co nce ito d e ·'arq uivo '' ver idem p p . .14R-1 5 I .
38 . HAB ERMAS, J. " Les sdenses humaines dérnas q uécs par la critique de ta
raison: Fo ue-au ll'' in- /..(! di.scmll's philosoplliqLte de la modet·nitt!. Pa ris :
Gallimard, 1988, p. 296.
39. MEGJLL. A, " Foucault, s truclura li sm and thc cnd of history" in.Joumal o}'
Mm/em 1/is tmy. no 5 1i09 - 1979, p . 4S7.
40. Fo ucautt d iria que jamais apresento u ··a :trquco logia co mo uma ciêocin ( ... )
mas, em q uase lOd~lS as suas dimensões e c-m quase todas as suas arcscas, a
empresa relaciona-se a ciências~ a anál ises de tipo cicntífi.co ou a teu rias que
respondem a critérios de rigo r: · op. c il., 1 987~ p. 234.
4 1. FOUCAU L:r. M . l.'o rd re d u di.<co11rs. Paris : Gallimard. 1971, pp. 58-59.
42. O'BRIEK, P. op. cit.. 1995, p. 58 .
43. Ver DR EYFUS. 1-l!RABINOW, P. Michd Fo<~w11lt: /Jeyond stmCt11ralism
tmd hermeneutic~·. Chicago; 1'hc Univcrsily o r Chicago Prcss ~ 1983, tam~
bém OOSSE, r.op, c it. 1993, vo l, 2. MEROUIOR, J. G. op. cit., 1985. Suhrc
a ge nealogia ver FoucauH, ·1971, pp. 62 .. 72.
44. FO UCAULT, M '·Nietzsche, a genealogia e a história· in - Micr·o{isicn do
Poder. RJ : Graal. 1984, pp. 15-16. Obs: os grifos s õo citações e xll'a ídos de
Niw:sc heem J-1. D. 1·1 § 3. Ver também O 'BR IE N, P. op. cit. 1995. p. 49 ,
Segundo t JabCi ma.s: ··L'historiu~~raphic généalogi4uc fait lahle r..1sc non seu-
lc men1de l' autonomlc tlcsdiscours cn autorégulation. mais encorc cle la .su ite
epoquale ct dirigêe dc.s formes globales du savoi r' ' . ··Aporics d ' une théorie
du pou,·oir'' in- op. cit. p, 318.

150 Anos 90
45. Jdem. p. 22. ·· 111c gcnealogist is a dirtgtlO,Siician wbo concenfratcs on thc
re lationsofpowcr, knowlcdge and thebody in modero society". DREYFUS.
J-liRABI~OW, P. op. cit. p. 105.
46. FOL:CAULT. 1\,1 , Vigiar e punir. PctJ6polis: VO?~. 1984. p. 28. Para 1l.Urc) fus
e P. Rabioow <'lgum a~ análises conlidas cm Visiar e Punir como a i<lói:l etc
organizaçtio espacial ~o anal<>gias quase pcrfeila.s das definições através \.lOS
quajs os pensadores cstruturalista.•ç francc:-.es cnconlrarnm princípios univer-
sais: ..as. wcsnwearlicr. Fouca.ult wrote "TI\Cordcroflhings··as an :.rchenlogy
os srtucwrolism. \\'c are rcadiog "Discipline antl punish" broadl} as a genea-
loJ,')' of structuroliSI discoursc and associatcd prn<:ticcs". op. cit.. p. 155. Já I"''''
Habermas "dans la généalogie de Fouc<~uh, l cpou>'Ciir est d'abord synonymc
d'une purc tonetion structuralis1e". op.cil., pp. 302-303.
47. Idem. p. 30.
48. FOUCAULT. :0.1. Verdade c poder, op. c it. p. 05.
49. VEY NE, 1'. op. cit. 1982. p. 160.
50. MEGIIL, A . op. cit.. p. 117, citado também cm O'BRIEN, op. c it .. 1\195, p.
37. Outros crít icos no trabalho de FOUCAUL:l~ cm sentido mais geral en-
contram-se cm SA H.UP, ~1.A n imnwluctnry guide to post-Slructurtdism muJ
JWSI modemi.<m. Athcns. Ocorgia: U. Georg ia Press.I9S9, pp. 88-95.
51. GRISET, Á. "Poucaull. um projeto histórico" in I.F. GOFF. J. cl ali i. A r\O\ a
hi•tória. Lis.bon: Fd. 70. 1986, p. 59.
52. FOUCAUt.:l: M. -Sobre a prisão" (cnlrcvrMa) in • op. cil., 198-1, p. 14).
53. ANDERSO!':. P. up. cit .. p. 38.
54. Idem, pag. 43. O autor ha" ia defendido n contrihuic;ão de Alhusscr cm op.
cil. 19SO.
55. Idem. pp. 47-52.
56. Idem. pp. 52·55.
57. Idem. 1' 1'· 55 -59.
5!!. Idem. pp. 65-M.
59. HABER~lAS. J. "Modcrnity ·ao incomplctc project" inAmi-esthetic.>·l:.s·
sttys on p()::.l~mOtlt!rn culuue. Port10wserd: 8ny Pres..", 1983.
60. HABERMAS. J. op. cit. p. 338. 19S8. A análise que seseguee<tá largamcn·
te base:rda cm ROUAKET. S . P. " Foucaull c a modernidade~ in . ,1$ ra:()cs
do ilumi11i.wro. SP: Cia das Letras, !987. pp. 217-22S.
61. ROUA~ET. S. P. op. dt. p. 223. Mark Posterconsidcra que ~Fcucault is thc
only poststructuralist who activcly souglu lo a.$..~iatc hi.s ' "'ork w ith th:n of
the Frankfurt School." Critica i tlteory mui PQjiStructuralism. lthaca: Cor-
neli University Prc;,. 1989.
62. HUYSSF.N. A. ' ·Mapeando o pós-moderno" in- HOLLANDA, H. B. (org.)
Pás-modemis mo "política. RJ : Rocco. I '191, p. 60.
63. HUTCHEON. L. " ll iSioricizing lhe postrnodcm: TI1e problemal izi ng ufhb-
tory'' in ·A fXJi!IÍ<:i o[posullodemism: history, theor}, fiction. USA: Rou·
tledge. 1987. I'· 96. A bibliografia sobre a quc;tão já é bem signitlcativa c
polêmica. e seria dcm:c.iado lislá-las neste c>paço.

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