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O CRIADOR

Todos ou quase todos os povos africanos acreditam no Ser Supremo, criador de


todas as coisas. Um deus supremo é referido num dicionário da língua banta datado de
1650, bem como na descrição da África Ocidental publicada por Bosman em 1705.
Os nomes dados ao Ser Supremo, como é natural, variam muito, devido à
diversidade de línguas em toda a África. Nomes há, contudo, que são comuns em vastas
áreas. Nas regiões ocidentais, o nome Mulungu é o mais ouvido, tendo sido adotado em
cerca de trinta traduções da Bíblia. Na África Central, o nome Leza foi adotado por
diversas etnias, e no ocidente dos trópicos até ao Congo encontram-se variações do
nome Niambé.
Os povos da África Ocidental têm ainda muitos outros nomes para designar o Ser
Supremo: Ngeno, Mavu, Amma, Olurun ou Chuquo.
Deus é o criador, e os mitos que se lhe referem tentam explicar as origens do mundo
e da espécie humana. É um ser transcendente, que vive no céu, e para quem as pessoas
naturalmente levantam a cabeça, reconhecendo a sua grandeza.
Não existem muitos templos dedicados ao Deus Criador. Isso é explicado pelos
africanos idosos e experientes: Deus é demasiado grande para ser contido numa simples
casa. O rei Salomão, em sua grande sabedoria já sabia disso: "Mas, de fato, habitaria
Deus com os homens na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem
conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei." (Bíblia - 2 Cronicas 6.18).
O Deus Supremo é considerado como uma divindade pessoal, em geral
benevolente, que se preocupa com as pessoas e não as espanta nem atemoriza. Mais
ainda, é muitas vezes um poder residente, que sustenta e anima todas as coisas. Deus
sabe tudo, vê tudo, e pode fazer o que quiser. Representa a justiça, recompensando os
bons e punindo os maus.
Como criador, é responsável pelo aparecimento de todas as coisas e pelos costumes
dos povos. Na sua qualidade de moldador, deu forma a todas as coisas, tal qual fazem as
mulheres ao confeccionarem potes de barro. Colocou os objetos lado a lado, construiu
tudo o que existe, como faz o homem que constrói a casa.
Como o Ser Supremo vive no céu, preocupa-se com a chuva, sem a qual os homens
não podem viver. Quando a chuva começa a cair, a agradável frescura que daí resulta é
descrita como "Foi Deus que amaciou o dia".
O arco-íris é freqüentemente referido como o "arco de Deus", que na ocasião atua
como um caçador.
Alguns dos nomes dados a Deus nos rituais, provérbios e mitos africanos revelam o
que o homem pensa sobre seu caráter e atributos. Primeiro que tudo, ele é o Criador, o
escultor, o Doador do Sopro e da Alma, o Deus do Destino. O seu trabalho na natureza
reconhece-se em títulos como Doador da Chuva e do Sol, O que Traz as Estações, O que
Troveja, O Arco do Céu, O Acendedor de Fogos. A grandiosidade divina é indicada por
nomes como: O Mais Antigo, O Iluminado, O que faz Curvar até os Reis, O que Dá e faz
Apodrecer, O que Existe por Si, O que se Encontra em Todo Lado.
A providência divina também lhe confere nomes: Pai das Crianças, Grande Mãe, O
maior dos Amigos, O Gentil, Deus da Misericórdia e do Conforto, A Providência que tudo
Vigia como o Sol, Aquele em quem os Homens se Apóiam para Nunca Cair. Por fim, são-
lhe dados nomes misteriosos e enigmáticos: O GRande Oceano Cujo Penteado é o
Horizonte, O Grande Lago Contemporâneo de Todas as Coisas, O que Está para Além de
Todos os Agradecimentos, O Inexplicável, O Furioso, A Grande Aranha.

(Texto adaptado do livro África, de Geoffrey Parrinder)

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