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Arrume seu quarto – Uma lição para a vida.

Você quer fazer do mundo um lugar melhor? Comece melhorando a si


mesmo. O autor best-seller e psicólogo clínico Jordan Peterson explica
como pequenas melhoras diárias pode levá-lo a uma vida melhor e, por
fim, a um mundo mais harmonioso.

Todos nós já passamos por momentos na vida onde temos vontade de


culpar Deus e o mundo pelos problemas que nos são apresentados,
não há como negar que o caos está constantemente presente nas
nossas vidas, injustiças, tragédias, doenças, etc. O caos é o lugar que
você acaba quando as coisas desmoronam.

Alguém religioso pode erguer as mãos em desespero perante a injustiça


e cegueira aparentes de Deus. O próprio Cristo se sentiu abandonado
perante a cruz, como conta a história. Alguém mais agnóstico ou ateu
pode culpar o destino ou meditar amargamente sobre a brutalidade do
acaso. Outro pode revirar a si mesmo, procurando pelas falhas de
caráter subjacentes ao seu sofrimento e deterioração. São todas
variações sobre um tema. O nome do alvo muda, mas a psicologia
subjacente permanece constante. Por quê? Por que há tanto sofrimento
e crueldade?

Bem, talvez isso seja mesmo obra de Deus — ou a culpa de um destino


cego e sem sentido, se você estiver inclinado a pensar assim. E parece
que há todas as razões para isso. Mas o que acontece se você pensar
assim? Os assassinos em massa acreditam que o sofrimento
relacionado com a existência justifica o julgamento e a vingança, Eric
Harris, um dos atiradores responsáveis pelo massacre de Columbine,
escreveu o seguinte: [citar fonte]

“Antes morrer do que trair meus próprios pensamentos. Antes de partir


deste lugar indigno, matarei todos aqueles que julgar inadequados para
qualquer coisa, especialmente para a vida. Se você me atormentou no
passado, você vai morrer se eu o vir. Talvez você consiga atormentar os
outros e eles se esqueçam disso futuramente, eu não. Não me esqueço
das pessoas que me fizeram mal.”
Analisando o discurso do assassino, percebemos uma atitude muito
parecida com a que nós temos no dia a dia, quem nunca pensou “queria
eu ter a coragem de me vingar de todos que algum dia me fizeram mal”

Pensando bem, Eric tinha todos os motivos para pensar assim não é
mesmo? Sofria bullying na escola, rejeição familiar, o garoto sofreu
injustiças do começo ao fim de sua vida, ele descrevia sua vida como “a
mais miserável da história dos tempos”

Porém, vamos analisar outros casos de pessoas que sofreram injustiças


na vida e lidaram com isso de outra forma.

Alexander Soljenítsin tinha todos os motivos para questionar a estrutura


da existência quando foi aprisionado em um campo de trabalho
soviético em meados do terrível século XX. Ele havia servido como
soldado nas linhas de frente russas, despreparadas para a invasão
nazista. Ele foi preso, surrado e lançado na prisão pelo próprio povo.
Depois, foi atingido pelo câncer. Ele poderia ter se tornado ressentido e
amargurado. Sua vida foi tornada miserável tanto por Stalin quanto por
Hitler, dois dos piores tiranos da história. Ele viveu em condições
brutais. Vastos períodos preciosos do seu tempo foram roubados dele e
desperdiçados. Ele testemunhou o sofrimento e a morte degradante e
sem sentido de amigos e conhecidos. Então, contraiu uma doença
extremamente séria. Soljenítsin tinha todos os motivos para amaldiçoar
Deus.
No entanto, o grande escritor não permitiu que sua mente se voltasse à
vingança e à destruição. Em vez disso, ele abriu os olhos. Durante suas
muitas provações, Soljenítsin encontrou pessoas que se comportavam
de maneira nobre sob circunstâncias horríveis. Ele analisava
profundamente o comportamento delas. Então, fazia a si mesmo a mais
difícil das perguntas: havia ele contribuído pessoalmente para a
catástrofe de sua vida? Se sim, como?
Ele se lembrou do apoio inquestionável que deu ao Partido Comunista
quando era mais jovem. Reconsiderou sua vida inteira. Ele tinha tempo
de sobra nos campos. Como ele havia fracassado no passado?
Quantas vezes havia agido contra a própria consciência, engajando-se
em ações que ele sabia serem erradas? Quantas vezes havia traído a si
mesmo e mentido? Havia alguma forma pela qual os pecados do seu
passado pudessem ser retificados e expiados no inferno lamacento do
gulag soviético?
A decisão de um homem em mudar sua vida, em vez de amaldiçoar o
destino o fez abrir os olhos e escrever um dos livros que vieram a abalar
toda a estrutura da tirania comunista, O Arquipélago Gulag.

Soljenítsin não foi o único a encarar a vida dessa forma, há na vida de


Viktor Frankl, criador da logoterapia e considerado um dos melhores
psiquiatras do mundo, um episódio famoso, em que ele não sabia se ia
estudar nos Estados Unidos, que era o que ele queria fazer, ou se
ficava na Alemanha com os pais, que já estavam muito velhinhos.
Aconteceu, então, de ele encontrar uma pedra que havia caído de uma
sinagoga, onde estava gravado o mandamento “honrar pai e mãe”, e ele
entendeu aquilo como uma mensagem de Deus para que ele ficasse
com os pais. Tendo ficado com os pais, foram ele, pais, todo mundo
para o campo de concentração.

Poderia parecer que dentro do projeto de vida dele isso foi uma
desgraça, uma ruptura, um elemento fortemente opositivo que apareceu
para destruir todos os seus sonhos, mas na verdade o que aconteceu
foi exatamente o contrário, porque toda a substância da investigação
médica a que Viktor Frankl se dedicaria pelo resto da vida foi dada pela
experiência que ele teve no campo de concentração. E a pergunta que
ele fez, e que orientou a sua investigação, o seu estudo, repetia de
algum modo a mesma experiência que ele estava vivendo: “Por que
algumas pessoas resistem tão bem à experiência do campo de
concentração e saem de lá até fortalecidas, enquanto outras desabam,
são totalmente destruídas?” Ou, em outras palavras “Se a situação é a
mesma para todos nós, por que uns reagem de uma maneira e outros
reagem de outra?”

Isto era exatamente o problema que ele estava tentando resolver, ou


seja, como é que ele perseveraria na sua vocação em uma situação que
parecia não só hostil, mas absolutamente antagônica. Como é que
alguém vai poder se realizar, fazer uma carreira médica dentro de um
campo de concentração; na verdade, porém, o que parecia ser mais
oposto e mais hostil acabou não só ajudando como dando inspiração a
ele.
Isso mostra que se você estiver firmemente disposto a ser quem você
quer ser, e se você não ficar contando sempre com circunstâncias
favoráveis, mas aceitar de bom coração as circunstâncias desfavoráveis
e tentar sempre integrá-las e negociar com elas, você acaba
absorvendo todos esses elementos.

Nietzsche escreveu essas palavras. [citar fonte] Ele quis dizer o


seguinte: as pessoas que experimentam o mal podem certamente
desejar perpetuá-lo, dando o troco adiante. Mas também é possível
aprender o bem ao experimentar o mal. Um garoto que sofreu bullying
pode imitar aqueles que o atormentaram. Porém, ele também pode
aprender com o próprio abuso que é errado intimidar as pessoas por aí,
tornando suas vidas miseráveis. Alguém que foi atormentado por sua
mãe pode aprender com sua experiência terrível o quanto é importante
ser um bom pai. Muitos, talvez a maioria dos adultos que abusam de
crianças, foram eles mesmos abusados quando crianças. No entanto, a
maioria das pessoas que foram abusadas quando crianças não abusa
dos próprios filhos. Esse é um fato bem estabelecido que pode ser
demonstrado de forma simples e aritmética da seguinte forma: se um
pai abusasse de três filhos e cada um desses filhos tivesse três filhos, e
assim por diante, então haveria três abusadores na primeira geração,
nove na segunda, 27 na terceira, 81 na quarta — e assim por diante,
exponencialmente. Após 20 gerações, mais de 10 bilhões teriam sofrido
abuso na infância: mais pessoas do que atualmente habitam o planeta.
Mas, na verdade, o abuso desaparece ao longo das gerações. As
pessoas limitam sua disseminação. Isso é um testemunho à genuína
dominância do bem sobre o mal no coração humano.

No livro do norte-americano T. S. Eliot, de nome “The Cocktail Party”


[Traduzido para “O Coquetel” em português] um de seus personagens
não está passando por um bom momento. Ele conversa com um
psiquiatra sobre sua profunda infelicidade. Diz ter a esperança de que
todo seu sofrimento seja sua própria culpa. O psiquiatra fica surpreso.
Ele o pergunta por quê. Ele responde que havia pensado longa e
profundamente sobre isso e havia chegado à seguinte conclusão: se
fosse culpa dele, ele poderia fazer algo a respeito. No entanto, se fosse
culpa de Deus — se a própria realidade fosse falha, estabelecida para
garantir sua miséria —, ele estaria perdido. Não haveria como mudar a
estrutura da própria realidade. Porém, talvez ela conseguisse mudar a
própria vida.

Essa é a lição de Jordan Peterson para seus alunos, arrume sua vida,
antes de querer arrumar o mundo, considere todas as circunstâncias
apresentadas neste texto, elas são realmente tão antagônicas quanto
as apresentadas aqui? Pense o seguinte: Você aproveitou totalmente as
oportunidades que lhe foram oferecidas? Está se esforçando em sua
carreira, ou mesmo em seu emprego, ou está deixando que a amargura
e o ressentimento o detenham e arrastem para baixo? Você fez as
pazes com seu irmão? Está tratando seu cônjuge e seus filhos com
dignidade e respeito? Tem hábitos que destroem sua saúde e bem-
estar? Você realmente assume suas responsabilidades? Disse o que
precisava dizer a seus amigos e familiares? Há coisas que você poderia
fazer, que sabe que poderia fazer, que deixariam as coisas ao seu redor
melhores?
Você arrumou sua vida?

Se a resposta for não, tente isso: comece a parar de fazer o que você
sabe que é errado, comece a parar de dizer coisas que você sabe que
são mentiras, comece a tomar responsabilidade pelos seus atos e pela
situação atual da sua vida.

Não sabe por onde começar, tente isso: Arrume seu quarto, arrume sua
casa, leve seu cachorro para passear, comece tomando
responsabilidades simples e tome controle da sua vida.

Não culpe Deus, o capitalismo, a esquerda radical ou a iniquidade de


seus inimigos. Não reorganize o estado até que você tenha ordenado
sua própria experiência. Tenha um pouco de humildade. Se você não
pode levar paz para sua casa, como ousa tentar governar uma cidade?
Como ousa julgar quem deve sofrer ou viver nesse mundo, como Eric
Harris?
Deixe que sua própria alma o guie. Veja o que acontece ao longo dos
dias e semanas. Quando estiver no trabalho, vai começar a dizer o que
realmente pensa. Vai começar a dizer à sua esposa, ou ao seu marido,
ou aos seus filhos, ou aos seus pais, o que você realmente quer e
precisa. Quando souber que deixou algo inacabado, vai agir de modo a
corrigir a omissão. Sua cabeça começará a ficar mais organizada
quando parar de enchê-la com mentiras. Sua experiência melhorará ao
parar de distorcê-la com ações inautênticas. Então, você começará a
descobrir coisas novas e mais sutis que está fazendo errado. Pare de
fazê-las também.

A maneira correta de consertar o mundo não é consertando o mundo.


Não há nem motivo para presumir que você tenha condições para essa
tarefa, mas você pode consertar a si mesmo. Você não estará fazendo
mal a ninguém com isso. E nessa situação específica, pelo menos, você
estará contribuindo para tornar o mundo um lugar melhor.

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