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Manipulação Premiada
Fernando Castelo Branco
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Os detalhes e meandros da delação premiada firmada pelos dirigentes da JBS vão sendo
descortinados aos poucos, e as informações noticiadas pela imprensa não param de
surpreender.
A partir de então foi também regulada por vários diplomas esparsos, com maior ou menor
amplitude: lei 8.137/90 (Crimes Contra a Ordem Tributária), lei 9.613/98 (Lavagem de
Dinheiro), lei 9.807/99 (Proteção a Vítimas, Testemunhas e ao Réu Colaborador), lei
11.343/06 (Drogas), dentre outros.
Presente nos sistemas jurídicos de diversos países, como França, Estados Unidos, Reino
Unido e, Espanha, a colaboração premiada foi uniformizada globalmente pelos tratados
internacionais da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado (Convenção de
Palermo) e da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de Mérida).
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Desde que se iniciaram as operações nominadas pela Polícia Federal, nos idos de 2002,
com a Operação Arca de Noé, as investigações policiais estavam basicamente alicerçadas
em dois pilares fundamentais: a interceptação telefônica e a busca e apreensão.
Com o advento, em 2014, da Operação Lava Jato, e já sob a égide da Lei de Organização
Criminosa, o espectro investigativo ampliou-se com destaque a novo binômio: prisão
preventiva – ou a mal disfarçada ameaça de sua iminente decretação – e colaboração
premiada, rigorosamente nessa ordem.
Prova da preponderância desse novo método investigativo está nas palavras do Procurador
da República Manoel Pastana, ao assegurar que “além de se prestar a preservar as provas,
o elemento autorizativo da prisão preventiva tem importante função de convencer os
infratores a colaborar com o desvendamento de ilícitos penais”2.
Ou seja, sob essa ótica, a prisão provisória, prevista como último recurso de cautelaridade
processual, converte-se em “extorsão de confissões e delações”, como anotou, com
precisão, o advogado Alberto Zacharias Toron.3
Pelo que se pode depurar da matéria jornalística, o método aplicado pelos investigadores foi
o de criar oficialmente uma “ação controlada”, com a participação do colaborador, em busca
de novas evidências da alegada prática criminosa.
O estratagema, porém, não pode ser confundido com a ação controlada prevista em lei.
Esta, igualmente descrita como “meio de obtenção de prova”, constitui-se em retardar a
intervenção policial, mantendo as atividades criminosas sob estrita observação. Quer dizer, o
órgão policial, como mero espectador, deve manter postura passiva, de observação e
acompanhamento, sem qualquer interferência nos atos praticados pelos investigados
monitorados.
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Se houve, conforme noticiado pela Folha, a concordância dos colaboradores “em participar
oficialmente de ações controladas”, com o intuito de “gravar interlocutores em conversas ou
cenas comprometedoras que são usadas depois pelos investigadores como provas de
crimes”, obviamente estamos diante de outra modalidade de flagrante: o flagrante preparado.
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1. C2, Ilustrada
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4. Tales Castelo Branco, Da prisão em flagrante, Saraiva, 2001, 5.ª ed., p. 218
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