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Junho 2014
Este trabalho faz parte da disciplina de Leitura do Texto Literário, ministrada
pelas professoras dras. Fernanda Coutinho e Eulália Leurquin. Trata-se de uma panorâmica
do ensino de Literatura no Ensino Fundamental das escolas públicas municipais em
Fortaleza, mas também retrata impressões pessoais experiências vividas como professor de
escola pública. Assim, nosso trabalho será dividido em quatro etapas: primeiro,
destacaremos os nossos alunos, do ponto de vista da família, da relação desta com a escola
e com a Literatura, e a importância da Literatura para a família e para o aluno. Em seguida,
trataremos da escola propriamente: seu papel ideal na Literatura, sua função real, a situação
escolar em torno da Literatura. A terceira parte considera os textos legais que regem e
(des)norteiam o Ensino de Literatura em níveis nacional e local. Por fim, o professor será o
elemento a ser analisado, a partir de sua formação.
Por fim, ressalte-se que os pais de nossos alunos aferem a escola como o único
espaço destinado à promoção da educação. Para muitos deles, o seio familiar não é espaço
para se educar, numa perspectiva redutora da educação a aprender para se tornar
economicamente ativo. Ignoram, portanto, o próprio valor da educação e impõe à escola um
papel maior do que o que realmente deveria ter. E isso pode ser tanto uma solução quanto
um problema.
Esta escola que está aí, que serve a uma classe social mais baixa, faz as duas
coisas. E, nesse caso, sobra para a Literatura um papel secundário, porque o que interessa
é que nossos alunos consigam se sair bem nas provas internas e externas, que sejam
apenas números cujo resultado sejam benéficos apenas ao governo.
Nas escolas da Prefeitura de Fortaleza, por exemplo, havia, até 2012 um projeto
muito interessante e que deu resultados importantes, do qual fiz parte: o SIMBE, Sistema
Municipal de Biblioteca Escolar. Os professores eram selecionados através de um projeto
que deveriam apresentar, justificando seu plano de trabalho para a biblioteca da escola à
qual ele se candidatava. Havia encontros mensais em que nos eram oferecidas oficinas
sobre contação de histórias, sobre quadrinhos, sobre o uso do dicionário, por exemplo, de
modo que a nós eram fornecidas ferramentas para trabalharmos a leitura do livro literário e
paradidático.
Porém, com o fim do projeto, as bibliotecas foram fechadas, e não há mais quem
fique nesse ambiente para que o aluno faça o empréstimo de livros, o que é um crime. E as
escolas não se preocupam com isso, porque não é importante para Secretaria Municipal de
Educação. Isso mesmo, não é importante! Então qual o incentivo que o professor e o aluno
pode encontrar para ler?
Há, porém, outro problema quanto ao ensino de Literatura: o texto muitas vezes
serve apenas para que o professor ensine comportamentos e atitudes, e não o que mais
interessa ao texto literário, ou seja, sua particularidade linguística e seu poder imaginativo,
fruitiva. É o que se percebe do trecho abaixo:
Meu ponto de vista é o de que o texto literário, como está nos PCNs, é tratado
apenas como “uma forma específica de conhecimento”, e não como uma ferramenta para
que se obtenha uma leitura prazerosa. Assim, nós, professores de Literatura no Ensino
Fundamental, carecemos de diretrizes mais sólidas sobre como deve ser tratada a Literatura
pela escola. Por outro lado, isso acaba criando em nossos alunos a ideia de que todo texto
trazido pela escola serve apenas para que aprendam algum conteúdo. O que precisa
realmente ser valorizado é a mediação a ser utilizada, afinal o texto literário tem uma função
lúdica, fruitiva e descompromissada com notas e roteiros.
Mas ocorre ainda, a meu ver, que a questão dos gêneros textuais, trazida pelos
PCNs, tomou conta da escola. Os gêneros textuais tornaram-se tão importantes para o
ensino de Língua Portuguesa que muitos professores acabam por incluir o texto literário
como gênero de texto. Infelizmente, a realidade nas escolas é essa mesma.
Em nível local, o descaso é ainda pior: até o ano de 2013, havia duas aulas de
Literatura nas escolas municipais de Fortaleza para os alunos do sexto ao nono ano. A partir
de 2014, a Secretaria de Educação do Município estabeleceu que deveria haver apenas
uma aula semanal de Literatura. O pior é que essa única aula semanal deveria ser dividida
com a aula de Artes. Como poderemos dar aula de Literatura juntamente com Artes? Muitas
vezes, tento dar aula de Literatura, e os alunos reclamam porque querem aula de Artes.
Fica, então, insuportável a situação do professor: sem diretrizes, sem apoio da direção
escolar e sem orientação lógica e coerente por parte da SME.
É de lamentar que a escola tenha permitido que o papel da Literatura seja tão
minimizado com atualmente. Para mim, a Literatura consiste em uma das únicas
ferramentas capazes de elevar o ser humano intelectualmente, porque ela é completa. Não
há sociedade que tenha conseguido patamar intelectual sem que tenha passado por uma
mentalidade de leitora de textos literários de modo abrangente.
Contudo, ressalte-se que a escola não é a única culpada por essa lástima. O
próprio professor merece parte da culpa, na medida de sua responsabilidade. Qual a
formação que nós, professores, temos quanto à Literatura? não sabemos o papel dela para
a escola nem a importância para o aluno, então como poderíamos “ensinar” Literatura?
Por fim, resta ao professor a tarefa de modificar todo esse cenário. O problema é
que, neste momento, ele está sozinho, é um viajante solitário e esperançoso, mas está só.
Nas escolas municipais não há perspectivas de melhoras quanto ao ensino de Literatura; ao
contrário, a tendência é de piora do quadro que aí está. Por mais que me esforce em sala de
aula, o resultado será sempre incompleto, porque, para a formação do leitor de literatura
acontecer de modo eficaz, é preciso a participação da família, da escola, dos órgãos de
educação, do próprio aluno, e isso não ocorre no ensino público municipal. Infelizmente.