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A CULTURA DO PALCO

O TEMPO

Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) – Provocada por dissidências religiosas,


resultadas da Reforma Protestante. Foi agravada pela Contrarreforma. As rivalidades
políticas espalharam-na por quase toda a Europa ocidental e central.
Consequentemente:

 Provocou lutas e perseguições;


 Abalou a fé das populações;
 Desestabilizou as sociedades e as economias;
 Interferiu na governação política dos envolvidos.

Antigo Regime – período histórico europeu; começou com o fim do


Renascimento e acabou com as Revoluções Liberais – séc. XVII e XVIII. É
caracterizado por:

 Politicamente – absolutismo régio na maior parte dos países. Contudo,


coexistiu com outros regimes – parlamentarismo na Inglaterra,
repúblicas e oligarquias na Itália, repúblicas burguesas, marítimas e
comerciais nos Países Baixos, agora independentes de Espanha.

Parlamentarismo – admite a monarquia hereditária, mas deposita a chefia dos


poderes legislativo e executivo numa assembleia – constituída por representantes
legítimos, eleitos pela nação.

O Estado absolutista, omnipresente parte da conceção de que o poder real era


de origem divina (escolha de Deus), e que é através dos reis que Deus exerce o seu
domínio – ideologia de Jacques Bégnine Bossuet. Estes eram regimes de poder
autocrático – havia apenas um detentor de poder, o rei – que praticava controlo
interno e agressão externa, impondo estabilidade.

 Economicamente – crises de subsistência e mortalidade (séc. XVII) –


geraram depressão e estagnação, sobretudo na economia
predominante, a rural.
Economicamente – comércio colonial – ajudou a manter a atividade
mercantil em crescimento; mantido sob controlo estatal por parte dos
monarcas absolutos.
Economicamente – mercantilismo – desenvolvido por Jean-Baptiste
Colbert, ministro do Rei – queria transformar França num estado
mercantil e industrial, e por Oliver Cromwell na Inglaterra – a
prosperidade dos países dependia da acumulação de ouro e prata,
conseguida pela manutenção de uma balança comercial positiva.
 Socialmente – sociedade de ordens/estados (baseada no nascimento) –
clero/1º estado, nobreza/2º estado, 3º estado (povo + burguesia) –
igualavam-se na obediência ao rei.

Nem o desenvolvimento do capitalismo, da economia monetária e da


burguesia conseguiram provocar mudanças no sistema legal.

A instabilidade económica gerada pelas crises e pela grande carga fiscal


resultaram em motins e levantamentos populares – reprimidos pelo estado.

 Culturalmente – ambivalência entre a liberdade e a proibição, o


racionalismo e o asceticismo.
Culturalmente – Contra Reforma (reforma católica) – em resposta à
resposta protestante, e através de três vertentes:
- Reforma – Concílio de Trento – reforma dos valores,
dogmas, etc. da fé católica;
- Persuasão – Arte Barroca;
- Repressão – Índex, Inquisição.

Tudo isto, em conjunto com o absolutismo, limitou a criação. Os únicos


desenvolvimentos foram no campo intelectual e da ciência, sob controlo direto do
poder.

Este século, começado com a Guerra dos Trinta Anos e terminado com a
morte de Luís XIV ficou conhecido como O Grande Século, e foi o apogeu do Antigo
Regime.
O ESPAÇO

A vida social, cultural e política deixou de se centrar em homens ricos e


poderosos e as suas cortes privadas. Com a ascensão do absolutismo, a governação, a
administração e os negócios passaram a centrar-se apenas nos monarcas – em defesa
do seu poder social e único, não admitiam outros núcleos de influência e
sociabilidade nos seus territórios.

Para controlarem melhor os “grandes” e poderosos chamavam-nos para junto


de si – sob o pretexto de precisarem de conselho e atribuições de cargos e benefícios,
de que dependia a manutenção dos seus altos padrões de vida – levou ao aumento das
cortes régias – família, alta nobreza e alto clero, embaixadores estrangeiros,
diplomatas, homens de armas, etc. – chegaram a ter milhares de pessoas.

Estas cortes tornaram-se nos únicos centros de poder e convivialidade dos


reinos – eram as cortes-Estado – continham rei, a única fonte de poder e das
decisões. Muitos dos cortesãos viviam nos palácios reais – viviam submetidos ao rei –
dependiam dele, tentavam evidenciar-se e agradar-lhe para receber favores.

Para os controlar, o rei atribuía tarefas e ocupava-os com rituais e


cerimoniais, que preenchiam o seu tempo. As cortes ficaram repletas de eventos,
usados para entreter a nobreza ociosa, frívola e libertina.

Muitos monarcas mandaram construir novos palácios, que simbolizassem e


espelhassem o seu poder e glória – forma de albergar as cortes e desenvolver o novo
estilo de vida. O palácio que se tornou modelo foi o de Versalhes – mandado
construir por Luís XIV, na floresta de Versalhes.

Foi feito por encomendada, e foi o cenário físico da glória do Rei, assim como
a expressão do seu pensamento político centralizado e centralizador, que dominou a
Europa do séc. XVII. Construído no espírito barroco – a sua regularidade e harmonia
simétrica são classicistas. Tudo tem como referência o rei – ornamentos e decorações
com metáforas e símbolos, como o Sol.

Aí, criou uma vida em corte que o imortalizou – geria o quotidiano de


milhares de cortesãos, e começou a impor regras sob as relações sociais – criou um
código de etiqueta que regia os seus comportamentos, e fazia cerimónias e rituais em
que era o centro das atenções – orientou a corte a obedecer-lhe e fazer-lhe culto.
Não olhava a despesas – o seu luxo e excentricidade foram um modelo para as
restantes cortes régias.
O LOCAL

Os três palcos (de poder) desta época eram:

 As cortes
 As igrejas
 As academias

As sociedades tinham uma hierarquia rigorosa – cada estrato possuía estatutos


próprios e específicos. As leis de cada ordem – foros – definiam os deveres e
privilégios (relação com o poder), o que deviam vestir e os comportamentos a adotar
na relação com os outros, dependendo do seu estatuto.

Foi, assim, uma sociedade de comportamentos estereotipados – atuava-se por


normas fixas (pré estipuladas) – não valorizavam sinceridade nem espontaneidade,
mas o formalismo exterior – era mais importante parecer que ser.

Nas cortes havia um severo código de etiqueta – levado ao exagero. A vida


social era como uma encenação – cada um tinha atuava de acordo com o seu “papel”,
estabelecido de acordo com a sua posição e cargo. O quotidiano decorria como num
palco – os cortesãos os atores e o rei o protagonista – construía uma imagem pública
de glória e grandeza, admiração, temor e respeito.

Este gosto pela representação foi vivido à letra – popularizou-se o hábito pelos
teatros e óperas – muitas vezes os cortesãos eram os atores e o rei o protagonista.

Nas igrejas era feito outro espetáculo – oferecido aos fiéis participantes na
missa. O clero – rígido e formal – empenhava-se em concretizar os princípios da
Contrarreforma e captar os fiéis sensorial e afetivamente, que provavam a fidelidade
à Fé de Roma ao participar em festas e cerimoniais religiosos. Obedeciam a rituais
próprios – orações, gestos e comportamentos para cada momento.

A imagem plástica, visual, auditiva e até olfativa, foi usada para tornar essas
encenações mais atrativas – tornavam-se verdadeiros espetáculos religiosos – o seu
clímax era o sermão, declamado no púlpito. O sacerdote celebrante e o seu séquito
cumpriam os seus papéis no ritual – atores que representavam no palco grandioso das
igrejas – continha música de órgãos e coros de meninos.
As igrejas eram nascidas dos princípios do Conselho – eram o cenário
adequado para todos esses atos, devido à sua decoração exuberante – estatuária e
relevos, pinturas e talha, móveis, etc., - recorria à variedade material, à policromia e
à luz – apoteose barroca, arte total, arte-espetáculo.

As academias, o palco menos exuberante – mas não menos esplendoroso –


eram sociedades de escritores, artistas e cientistas – criação, aprofundamento e
difusão das áreas de saber.

O desenvolvimento cultural fez aumentar os números e institucionalizarem-


se. Os seus participantes necessitavam de apoios – procuravam mecenas entre os
homens ricos – faziam apresentações dos seus saberes perante cortesãos, que os
tratavam como mágicos – espetáculo da inteligência e do saber.

No séc. XVII os reis trataram da sua proteção (e até fundação),


regulamentaram-nas e a quais subsidiavam – conseguiram controlar a criação
intelectual e artística, e o apoio destes sábios no seu governo.
Os nobres lutavam entre si por prestígio, pela posição na hierarquia da corte. Os
escândalos, intrigas e disputas eram infindáveis. Todos dependiam uns dos outros e
todos dependiam do rei. Quem detinha um cargo elevado podia perdê-lo no dia
seguinte.

Hierarquia – divisão em patamares; os que estão abaixo têm que obedecer aos
patamares superiores, aos que possuem mais poder

O rei convidava os cortesãos para frequentes festas e passeios privados – meio de


distingui-los e mantê-los ansiosos por lhe agradar, assim como evitar que tivessem
tempo para conspirar contra si. Observava todos ao seu redor, notava em todos e na
sua falta. Era uma vergonha para os mais distintos não viver na corte.

Elites cortesãs do séc. XVII – estavam rendidas ao poder real, limitadas pela
censura política e religiosa, e reduzidas nos privilégios.  Refugiam-se num
quotidiano fútil e festivo. Todos os atos estavam ritualizados, transformando-se em
autênticos espetáculos. Cada um era, ao mesmo tempo, ator e espetador.

Sociedade engalanada e artificial, que gostava de entretenimentos, destacando


o teatro, a ópera e o ballet. Viveram esse gosto: transformando o quotidiano num
teatro – gestos e comportamentos estudados; observando espetáculos de eleição.

A cultura refletiu essa mentalidade/estilo de vida – foi artificial, rebuscada e


complexa, e cénica.

Palcos (de poder):

 Cortes
 Igrejas
 Academias

Sociedade laica – não tem como base a religião

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