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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN

FACULDADE DE DIREITO – FAD


DEPARTAMENTO DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

SANT CLAIR PEREIRA DE LIMA

DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DAS AUDIÊNCIAS DE


CUSTÓDIA: A EFETIVAÇÃO DE UM JUÍZO DE GARANTIAS NA DINÂMICA DA
PERSECUÇÃO PENAL BRASILEIRA

MOSSORÓ
2017
2

SANT CLAIR PEREIRA DE LIMA

DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DAS AUDIÊNCIAS DE


CUSTÓDIA: A EFETIVAÇÃO DE UM JUÍZO DE GARANTIAS NA DINÂMICA DA
PERSECUÇÃO PENAL BRASILEIRA

Pré-projeto apresentado à Universidade Estadual


do Rio Grande do Norte – UERN – como
requisito obrigatório para conclusão da Disciplina
de Trabalho de Curso I.

Orientador: Fernando Antônio da Silva Alves

MOSSORÓ
2017
3

SUMÁRIO

1- IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO.....................................................................................4
2- TEMA....................................................................................................................................6
3- DELIMITAÇÃO DO TEMA...............................................................................................7
4- PROBLEMA.........................................................................................................................8
5- HIPÓTESES........................................................................................................................10
6- OBJETIVOS........................................................................................................................11
7- JUSTIFICATIVA................................................................................................................12
8- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..........................................................................................14
9- METODOLOGIA...............................................................................................................19
10- PROPOSTAS DE SUMÁRIO..........................................................................................21
11- CRONOGRAMA..............................................................................................................22
12- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................24
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1- IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

- Título: Desafios e perspectivas para implementação das audiências de custódia: a efetivação


de um juízo de garantias na dinâmica da persecução penal brasileira.
- Autora: Sant Clair Pereira de Lima
- Orientador: Fernando Antônio da Silva Alves
- Duração: 04 meses
Início: julho de 2017
Término: novembro de 2017
5

2- TEMA

Audiências de Custódia, Processo Penal e Direito Internacional dos Direitos Humanos.


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3- DELIMITAÇÃO DO TEMA

Desafios e perspectivas para implementação das audiências de custódia: a efetivação de


um juízo de garantias na dinâmica da persecução penal brasileira.
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4- PROBLEMA

Em que pese as audiências de custódia haverem ingressado no ordenamento jurídico


desde 1992, quando o Pacto de San Jose da Costa Rica foi ratificado pelo Brasil, apenas
recentemente levantou-se grande debate na doutrina sobre esse instituto em razão do Projeto
Audiência de Custódia, lançado no ano de 2015 numa parceria entre o Conselho Nacional de
Justiça, o Ministério da Justiça e Tribunal de Justiça de São Paulo.

De antemão, cumpre esclarecer que a audiência de custódia é instituto originário do


Direito Internacional dos Direitos Humanos, tendo previsão no já mencionado Pacto de San
Jose da Costa Rica, como também no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, ambos
ratificados pelo Brasil. O que se vislumbra com as audiências de custódia é a apresentação,
sem demora, da pessoa presa ao juiz, consoante tipificado no art. 7.5 do Pacto San Jose da
Costa Rica, verbis:

Art. 7. 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença
de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem
direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem
prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias
que assegurem o seu comparecimento em juízo.

Dessa forma, busca-se a proteção dos direitos humanos em sede processual penal, com
vistas à garantia da incolumidade física da pessoa detida ou retida, visto que a autoridade
judiciária poderá aferir acerca de eventuais abusos praticados no âmbito policial, além do
controle de legalidade sobre as prisões, havendo clara humanização do procedimento, o que
resulta, em última análise, na promoção da dignidade da pessoa humana.

Tormentosa questão surge quanto à constitucionalidade das audiências de custódia, visto


que a Constituição Federal, em seu art. 5º, LXII, estabelece somente a comunicação da prisão
à autoridade judiciária, não tratando sobre a apresentação do preso. Ademais, com a Emenda
Constitucional 45/2004, a qual estabeleceu que os tratados internacionais de direitos humanos
que ingressem no Brasil com aprovação pelo congresso pelo mesmo rito das emendas
constitucionais terão status de emenda constitucional. Dessarte, surge outra questão
amplamente debatida pela doutrina e jurisprudência: E quanto aos tratados que ingressaram
no ordenamento jurídico brasileiro antes da EC 45/2004? Se equivaleriam às Emendas
Constitucionais? A posição do Supremo Tribunal Federal a esse respeito é de que os tratados
internacionais que ingressaram antes da EC 45/2004 e, portanto, não foram aprovados pelo
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rito especial estabelecido no §1º, art. 5º, CF/88 terão caráter infraconstitucional, mas
supralegal, do que resulta acalorada discussão acerca da constitucionalidade da implantação
das audiências de custódia na dinâmica promovida pelo Projeto Audiência de Custódia.

Hoje, as audiências de custódia carecem de lei federal que as regulamente. O Projeto


de Lei 554/2011, que trata das audiências de custódia foi aprovado pelo Senado Federal em
dezembro de 2016 e seguiu para análise pela Câmara dos Deputados. Enquanto não há lei que
regulamente o procedimento, as audiências de custódia seguem o rito previsto na resolução
213 do CNJ, bem como em resoluções e portarias dos tribunais de justiça, sendo
imprescindível que lei federal passe a regulamentar a matéria a fim de dirimir as questões
controversas que têm surgido na prática de sua operacionalização.

Outrossim, cumpre observar que as audiências de custódia não buscam aferir o mérito
do fato delituoso, cabendo à autoridade judiciária decidir sobre a legalidade da prisão,
conceder liberdade provisória, bem como autorizar a aplicação, quando cabível, de medidas
cautelares diversas da prisão- sendo o juiz competente para a audiência de custódia diverso do
juízo natural ao qual compete o julgamento do processo, implementando-se, por conseguinte,
verdadeiro juízo de garantias na sistemática da persecução penal brasileira.

Ademais, o novo instituto traz alguns requisitos que quebram com o modelo
tradicional inquisitório da fase pré-processual, posto que a presença de defensor, conforme
prevê a Resolução 213/2015 CNJ harmoniza-se com o princípio do contraditório numa etapa
da persecução penal de viés inquisitivo, no qual impera a ausência do contraditório. Nessa
seara de grande pertinência, porquanto trata de garantia de direitos fundamentais no contexto
da pretensão punitiva do Estado, buscando-se, com o processo penal, a efetivação da justiça
por meio dos ditames e princípios de cunho fundamentalmente garantista, conforme se
depreende da Constituição Federal, convém questionar: quais os desafios e perspectivas para
implementação das audiências de custódia na persecução criminal brasileira?
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5- HIPÓTESES

 As audiências de custódia objetivam estabelecer um juízo de legalidade da prisão


processual a partir da apresentação do preso ao juiz no prazo de 24 horas;

 As audiências de custódia constituem-se em marco humanizador do processo penal,


possibilitando que seja realizado um juízo de garantias na fase pré-processual da
persecução penal;

 As audiências de custódia se mostram como meio eficaz para controle de excessos da


famigerada prisão cautelar.
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6- OBJETIVOS

GERAIS

 Investigar acerca dos principais desafios e perspectivas para a realização das


audiências de custódia, sob a ótica da humanização, bem como da efetivação de um juízo de
garantias no âmbito do processo penal brasileiro.

ESPECÍFICOS

 Aferir acerca da viabilidade de apresentação da pessoa presa no prazo de 24 horas à


autoridade judicial;
 Investigar se, por meio da implementação das audiências de custódia, tem-se,
verdadeiramente a humanização do processo penal e a efetivação de um juízo de
garantias;

 Investigar acerca da eficácia das audiências de custódia no que se refere ao controle de


excessos quando da aplicação da prisão cautelar.
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7- JUSTIFICATIVA

Prima facie, cumpre salientar que a prisão é medida de exceção, visto que cerceia
diretamente um dos direitos fundamentais mais caros inerentes à pessoa humana, qual seja, a
liberdade. Por essa razão, a prisão pena incide de modo mais gravoso quanto mais caro o bem
jurídico lesado a que se pretende tutelar. Nesse sentido, a despeito das prisões cautelares, tem-
se não o caráter punitivo da prisão, mas processual, visando atender a situações bem
específicas previstas em lei. Em que pese o caráter excepcionalíssimo da prisão cautelar, o
que se tem observado é a banalização dessa medida, o que contribui para o crítico estado de
superlotação das unidades prisionais do Brasil.

A situação do sistema carcerário brasileiro é conhecidamente calamitosa. Há, nesse


contexto, uma evidente crise de desrespeito aos direitos humanos. Superlotação, tortura e até
morte das pessoas custodiadas pelo Estado são temáticas que estão constantemente sendo
noticiadas pela imprensa nacional. A situação chegou ao ponto de o Supremo Tribunal Federal
haver reconhecido o estado de coisa inconstitucional do sistema carcerário brasileiro no
julgamento da ADPF 347, a qual pugnava por providências para a crise prisional,
descortinando, nesse cenário, a lamentável crise institucional enfrentada pelo Brasil. Assim, o
STF determinou, dentre outras medidas a serem tomadas frente a questão prisional do país, a
apresentação do preso perante a autoridade judiciária no prazo de até 24 horas a partir do
momento da prisão.

Ora, o estado de coisa inconstitucional se dá quando da violação sistemática dos direitos


fundamentais. A superlotação carcerária brasileira é alarmante e, dentro dessa população,
assustadoramente, 42% de seu contingente são de presos provisórios. Assim, a audiência de
custódia objetiva se valer como um instrumento hábil a conter possíveis excessos quanto ao
uso da prisão cautelar, constituindo-se em garantia salutar dentro do estado democrático de
direito, estando em harmonia com o princípio do contraditório, o que se mostra como um
avanço à tradicional fase inquisitorial da persecução penal, firmando-se como um paradigma
humanizador do processo penal brasileiro.

No Brasil ainda impera a cultura da vingança, onde as garantias conferidas no contexto da


persecução penal são interpretadas, de modo leigo, como impunidade. Diante da conjuntura
atual do sistema prisional brasileiro, é inegável a relevância do estudo acerca da efetivação de
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um juízo de garantias em sede de processo penal, ao qual incumba promover as audiências de


custódia, mormente quando dentro de um contexto de sistemático desrespeito aos direitos
fundamentais, como ocorre no âmbito do sistema carcerário brasileiro.

No que diz respeito à importância desse estudo, ressalte-se o papel da academia enquanto
espaço que propõe debates críticos sobre a nossa realidade, colaborando para que se possa
sempre aprimorar a conjuntura das instituições que dão expressão ao Estado Democrático de
Direito- nisso reside o mérito desta pesquisa.
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8- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A Convenção Americana de Direitos Humanos, também chamada de Pacto de San José da


Costa Rica, entrou em vigor em 1978 e é, atualmente, o documento de maior relevância no
sistema interamericano de direitos humanos, tendo sido ratificada pelo Brasil apenas em
19921. É nesse documento normativo que a audiência de custódia ou audiência de
apresentação têm previsão, mais especificamente em seu art. 7.5 o qual estabelece o direito
que tem toda pessoa detida ou retida de ser conduzida, imediatamente, à presença de um juiz
ou outra autoridade autorizada pela lei para exercer funções judiciais.

Em que pese a previsão das audiências de custódia no Pacto de San José da Costa
Rica, e a ratificação do Estado brasileiro a esse documento desde 1992, apenas recentemente
o judiciário brasileiro vem buscando meios para implementação desse direito. A respeito dos
direitos previstos no Pacto de San José da Costa Rica e o papel dos Estados signatários frente
a eles, disserta PIOVESAN (2010):
“Em face desse catálogo de direitos constantes da Convenção Americana, cabe ao
Estado-parte a obrigação de respeitar e assegurar o livre e pleno exercício desses
direitos e liberdades, sem qualquer discriminação. Cabe ainda ao Estado-parte adotar
todas as medidas legislativas e de outra natureza que sejam necessárias para conferir
efetividade aos direitos e liberdades enunciados. Como atenta Thomas Buergenthal:
‘os Estados-partes na Convenção Americana têm a obrigação não apenas de respeitar
esses direitos garantidos na Convenção, mas também de assegurar o seu livre e
pleno exercício; Um governo tem, consequentemente, obrigações positivas e
negativas relativamente à Convenção Americana. De um lado, há a obrigação de não
violar direitos individuais; por exemplo, há o dever de não torturar um indivíduo ou
de não privá-lo de um julgamento justo. Mas a obrigação do Estado vai além desse
dever negativo e pode requerer a adoção de medidas afirmativas necessárias e
razoáveis, em determinadas circunstâncias, para assegurar o pleno exercício dos
direitos garantidos ela Convenção Americana. […] Os Estados têm,
consequentemente, deveres positivos e negativos, ou seja, eles têm a obrigação de
não violar os direitos garantidos pela Convenção e têm o dever de adotar as medidas
necessárias e razoáveis para assegurar o pleno exercício desses direitos.’”.
(PIOVESAN, 2010, pág. 257-258)

1
PIOVESAN (2010) em citação de Thomas Buergenthal que “a Convenção Americana de Direitos Humanos foi
adotada em 1969 em uma Conferência Intergovernamental celebrada pela Organização dos Estados Americanos
(OEA). O encontro ocorreu em San José da Costa Rica, o que explica o porquê da Convenção Americana ser
também conhecida como ‘Pacto de San José da Costa Rica’. A convenção entrou em vigor em julho de 1978,
quando o 11º instrumento de ratificação foi depositado”. Nesse contexto, o Estado brasileiro foi um dos que mais
tardaram a aderir à Convenção.
14

Como visto, o Brasil ratificou a Convenção Americana no ano 1992, tendo sua
promulgação ocorrido em novembro do mesmo ano, por intermédio do Decreto nº 678. Não
obstante os vinte e cinco anos transcorridos desde a incorporação desse diploma ao
ordenamento jurídico interno, o que se tem observado na prática é a constante relutância para
sua aplicação, devendo-se ainda atentar no que pertine à recepção da Convenção Americana
de Direitos Humanos que o Supremo Tribunal Federal (STF) conferiu a ela status supralegal
quando da interpretação do art. 5º, §3º da Constituição Federal de 1988, o qual estabelece que
os tratados e convenções internacionais sobre os direitos humanos que forem aprovados pelo
mesmo rito das emendas constitucionais serão a elas equivalentes. A intervenção da suprema
corte brasileira para interpretação do dispositivo mencionado foi necessária em razão de a
Convenção Americana ter ingressado no ordenamento jurídico antes de 2004, quando a EC
45/04 trouxe a redação do atual art. 5º, §3º, CF/88. A esse respeito, Gilmar Mendes (2016, p.
1207):

Por fim, cabe ressaltar o encerramento do julgamento do Recurso Extraordinário n.


466.343 / SP, Rel. Min. Cezar Peluso, em 3-12- 2008. Nesse julgado, o STF definiu
a tese da supralegalidade dos tratados internacionais sobre direitos humanos que
sejam internalizados pelo direito pátrio.

Acerca da audiência de custódia, Caio Paiva ensina que esse instituto “consiste,
basicamente, no direito de todo cidadão preso ser conduzido, sem demora, à presença de um
juiz para que, nesta ocasião, (i) se faça cessar eventuais atos de maus tratos ou de tortura e,
também, (ii) para que se promova um espaço democrático de discussão acerca da legalidade e
da necessidade da prisão”2.

Caio Paiva e Aury Lopes Júnior em artigo sobre a temática observam que:

A mudança cultural é necessária para atender às exigências dos arts. 7.5 e 8.1 da
Convenção Americana de Direitos Humanos, mas também para atender, por via
reflexa, a garantia do direito de ser julgado em um prazo razoável (art. 5.º, LXXVIII
da CF), a garantia da defesa pessoal e técnica (art. 5.º, LV da CF) e também do
próprio contraditório recentemente inserido no âmbito das medidas cautelares
pessoais pelo art. 282, § 3.º, do CPP. Em relação a essa última garantia –
contraditório – é de extrema utilidade no momento em que o juiz, tendo contato
direto com o detido, poderá decidir qual a medida cautelar diversa mais adequada
(art. 319) para atender a necessidade processual.

A implementação da audiência de custódia promoverá, antes de tudo, um ajustamento


do processo penal brasileiro aos Tratados Internacionais de Direitos Humanos, encampando a
missão de reduzir o encarceramento massivo que se testemunha no Brasil, sobretudo quando

2
Sobre a finalidade da audiência de custódia, Carlos Weis observa que o instituto “aumenta o poder e a
responsabilidade dos juízes, promotores e defensores de exigir que os demais elos do sistema de justiça
criminal passem a trabalhar em padrões de legalidade e eficiência
15

da aplicação da prisão cautelar, visto que por meio das audiências de custódia se promoverá a
apresentação pessoal do preso ao juiz, a fim de que se certifique sobre a legalidade da prisão,
bem como a incolumidade física do preso em face de eventuais maus tratos, além de se
verificar acerca de outras irregularidades.

Nesse sentido, Renato Brasileiro:

“A realização desta audiência de custódia também visa à diminuição da


superpopulação carcerária. Afinal, em contraposição à simples leitura de um auto de
prisão em flagrante, o contato mais próximo com o preso proporcionado pela
realização da audiência de custódia permite elevar o nível de cientificidade da
autoridade judiciária, que terá melhores condições para fazer a triagem daqueles
flagranteados que efetivamente devem ser mantidos presos.” (BRASILEIRO, 2017,
pág. 923)

Com o fim de regulamentar as audiências de custódia, está em tramitação o Projeto de


Lei do Senado Federal nº 554/2011. Muito embora esse projeto ainda não tenha sido aprovado
pelo Congresso Nacional, as audiências de custódia estão sendo implementadas no país por
meio de resoluções e provimentos no âmbito dos Tribunais de Justiça dos Estados e dos
Tribunais Regionais Federais. A iniciativa pra implantação da audiência de custódia no país se
deu numa parceria entre o Conselho Nacional de Justiça, o Tribunal de Justiça de São Paulo e
o Ministério de Justiça, com o lançamento do Projeto Audiência de Custódia, o qual mostrou-
se oportuno diante da situação dramática do sistema carcerário brasileiro- onde há
comprovado grave e sistemático desrespeito aos direitos humanos das pessoas custodiadas.

A implantação da audiência de custódia por meio de resoluções e provimentos tem


sido alvo de duras críticas em razão da carência de legislação interna que regulamente o
instituto3. A esse respeito, pondera PAIVA:

Outro argumento recorrente para não se viabilizar, na prática, o direito à audiência


de custódia é o de que tal expediente requer uma alteração/inovação legislativa, não
sendo franqueado ao Poder Judiciário substituir o legislador para a implementação
daquele direito no Brasil. Este argumento, no entanto, é claramente equivocado, seja
porque as normas de Tratados de Direitos Humanos são de eficácia plena e imediata,
seja porque, igualmente, leciona Mazzuoli, “Não somente por disposições
3
BRASILEIRO (2017) esclarece que “para o Supremo Tribunal federal, a regulamentação das audiências de
custódia por meio de Resoluções e Provimentos dos Tribunais de Justiça (ou dos Tribunais Regionais Federais)
não importa violação aos princípios da legalidade e da reserva de lei federal em matéria processual penal (CF,
art. 5°, II, e art. 22, I, respectivamente). Por isso, o Plenário do STF julgou improcedente pedido formulado em
Ação direta ajuizada pela Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (ADEPOL) em face do Provimento
Conjunto n° 03/2015 do TJ/SP. Para o Supremo, não teria havido, por parte dos referidos provimentos, nenhuma
extrapolação daquilo que já constaria da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 7.5), dotada de
status normativo supralegal, e do próprio CPP, numa interpretação teleológica de seus dispositivos, como, por
exemplo, o art. 656, que dispõe que, recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar necessário, e estiver
preso o paciente, poderá determinar que este lhe seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar.”
16

legislativas podem os direitos previstos na Convenção Americana restar protegidos,


senão também por medidas ‘de outra natureza’. Tal significa que o propósito da
Convenção é a proteção da pessoa, não importando se por lei ou por outra medida
estatal qualquer (v.g., um ato do Poder Executivo ou do Judiciário etc.). Os Estados
têm o dever de tomar todas as medidas necessárias a fim de evitar que um direito
não seja eficazmente protegido”

Ademais, cumpre dizer que a audiência de custódia será realizada na presença de


defensor bem como do representante do Ministério Público, possibilitando que o contato
físico entre o detido e o juiz se faça desde logo e não somente quando da audiência de
instrução e julgamento, no interrogatório do réu, o que pode demorar meses para acontecer,
valendo-se, desta forma, enquanto paradigma humanizador do processo penal brasileiro- além
de garantir o contraditório nessa fase da persecução. Sendo importante ressaltar acerca da
figura do juiz de garantias4 que deverá atuar na audiência de custódia, estando impedido de
atuar no processo, voltando sua atuação para a proteção dos direitos fundamentais do cidadão
na fase pré-processual.

Intensas são as discussões acerca da implementação das audiências de custódia na


sistemática da persecução penal brasileira, havendo certamente um longo caminho a ser
percorrido até que se consiga estabelecer um padrão a ser seguido pelos tribunais em todo o
território nacional. Muito se questiona acerca da viabilidade da apresentação do preso no
prazo de 24 horas estabelecido na Resolução nº 213/2015 do CNJ, prazo que também foi
adotado no Projeto de Lei nº 554/2011 do Senado Federal, bem como a disponibilidade de
pessoal (especialmente de magistrados) para levar a cabo a realização das audiências de
custódia- a resposta dessas questões é o que se busca nessa pesquisa, enfrentando os pontos da
matéria que se revelam enquanto desafios a serem superados dentro da estrutura institucional
do judiciário brasileiro, bem como questões de caráter cultural- como o pensamento punitivo
que impera na nossa sociedade; além das perspectivas, expectativas advindas a partir da
implementação das audiências de custódia.

4
“(…) recentíssima decisão do Tribunal de Goiás é no sentido de transformar a competência do 2º Juiz da 7ª
Vara Criminal de Goiânia para que ele atue exclusivamente com as audiências de custódia e em questões
pré-processuais. A medida, bem se vê, aproxima o juízo da figura do “juiz de garantias”, novidade muito
bem-vinda ao nosso ordenamento juridico- e já prevista no Projeto do Novo Código de Processo Penal (…).”
Eugênio Pacelli, Curso de Processo Penal, 2017, Pág. 258.
17

9- METODOLOGIA

A partir da premissa de que a ciência busca o conhecimento e de que para alcançá-lo é


necessário trilhar um caminho denominado método científico, pode-se inferir que “método
científico é um conjunto de procedimentos adotados com o propósito de atingir o
conhecimento” (FREITAS & PRODANOV, 2016). Assim, há hoje uma diversidade de
métodos que devem ser analisados e escolhidos pelo pesquisador, devendo este estar atento a
melhor adequação possível entre o objetivo a ser alcançado e o método mais eficaz para este
fim.
No que diz respeito ao método de abordagem, os quais oferecem ao pesquisador as
bases lógicas da investigação, esta pesquisa utilizará o método dialético. Lakatos & Marcones
esclarecem que para a dialética “todos os aspectos da realidade (da natureza ou da sociedade)
prendem-se por laços necessários e recíprocos. Essa lei leva à necessidade de avaliar uma
situação, um acontecimento, uma tarefa, uma coisa, do ponto de vista das condições que os
determinam e, assim, os explicam”.

Para Traviños, citado por Mezzaroba, a pesquisa dialética deverá observar as seguintes
etapas:
“a) de início o pesquisador deve observar e delimitar o objeto, a fim de identificá-lo
nas suas qualidades, estabelecendo a diferenciação dos demais objetos;
b) em seguida o pesquisador deve analisar o objeto em sua dimensão, através da
observação de todas as partes que o compõe. O objeto é analisado em todos os
aspectos: sociais, históricos, econômicos, políticos. A partir daí são elaborados
conceitos, juízos, raciocínios, sobre o objeto. São elaborados e aplicados diferentes
procedimentos para buscar informações sobre o objeto (observações, entrevistas,
questionários). A partir desses dados parte-se para a determinação de suas
características quantitativas;
c ) por fim, deve-se partir para a análise concreta dos aspectos essenciais do objeto:
forma, conteúdo, fundamento, realidade, constituição, história, evolução.”

Em face das lições supramencionadas, busca-se, nesta pesquisa, dialogar acerca da


inserção das audiências de custódia no âmbito do processo penal brasileiro, enquanto direito
que proporcionará, essencialmente, robustez à proteção da dignidade da pessoa humana
dentro do nosso ordenamento jurídico, levando-se em consideração o contexto sociocultural,
político e econômico da nossa sociedade.

No que diz respeito ao procedimento, esta pesquisa se utilizará, primordialmente, do


método comparativo, avaliando-se a implementação das audiências de custódia no
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ordenamento jurídico pátrio sob a perspectiva do direito internacional dos direitos humanos,
visto que o instituto objeto dessa pesquisa tem origem em tratados internacionais, além de
aferir acerca da realidade apresentada pelo direito comparado.
Ademais, esta é uma pesquisa explicativa, sendo traço característico desse tipo de
investigação o fato de que “aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o
porquê das coisas.” (GIL, 2010, p. 28). Assim, será feita análise qualitativa do objeto em
questão, posto que o estudo das informações colhidas será feito de modo a privilegiar os
contextos (MEZZAROBA, 2009).

Finalmente, quanto à técnica, que corresponde ao conjunto de preceitos ou processos


de que se serve uma ciência no que se refere à parte prática, às técnicas utilizadas para
obtenção dos resultados almejados, nesta pesquisa se utilizará da documentação indireta, a
qual corresponde à pesquisa documental e bibliográfica (LAKATOS & MARCONI, 2003).
19

10- PROPOSTA DE SUMÁRIO

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................
2. ORIGEM DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ........................................…

2.1 DA INSTITUIÇÃO DA PENA DE PRISÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA


…..……..……..……..……..……..………..…….…………………...……………...

2.2 DA PRISÃO PROCESSUAL – PRINCÍPIOS, FINALIDADES E


MODALIDADES………………….………..……..……..……………………..…..

3. DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E O


PROCESSO PENAL BRASILEIRO ..…..…….…..…….…….…………………..

4. CONSIDERAÇÕES ACERCA DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO..

5. DAS AUDIÊNCIAS DE CUSTÓDIA….................................................................…


5.1. CONCEITO E PREVISÃO NORMATIVA….............................................................
5.2. DO PROCEDIMENTO …………….......................................................................…
5.3.DIFICULDADES A SEREM ENFRENTADAS QUANTO À ESTRUTURA DO
JUDICIÁRIO ..…..…………….…………………...…..…..…..…..…..…………….
5.4.CULTURA PUNITIVA DA POLÍTICA PENAL BRASILEIRA E RECEPÇÃO DAS
AUDIÊNCIAS DE CUSTÓDIA..…..…..…..…..…..…..…..…..…..…..……………..
5.5.AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E JUÍZO DE GARANTIAS........................................
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................

REFERÊNCIAS
20

11- CRONOGRAMA

SEMESTRE 2017.2
Atividades Novembro Dezembro Fevereiro Março Abril Maio
Pesquisa
X
Bibliográfica
Fichamento e Coleta
X X X
de dados
Versão Inicial X X X
Revisão X X

Versão Final X

Entrega do TCC X

Defesa X
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12- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 01.08.2017

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana


sobre direitos Humanos. Disponível em: <http://www.cidh.org/Basicos?
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FREITAS, E.C; PRODANOV, C.C. Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho


Acadêmico. 2ª ed – Rio Grande do Sul: Universidade FEEVALE, 2013.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. 5.


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LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único/ 5ª ed. rev. ampl.e
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MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia Servilha. Manual de Metodologia da


Pesquisa no Direito. 5ª ed. Saraiva, 2009.

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PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional, 10ª ed.,


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