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Um estudo recente da ONU estima que os soldados são responsáveis por cerca de
um terço de todos os estupros e crimes de violência sexual cometidos nas províncias
orientais do país. A disciplina no exército nacional é fraca, os soldados raramente são
pagos, e muitos recebem ordens de seus superiores para “viver da terra”: um convite
para os abusos. Tanto soldados como militantes agem impunemente. O problema é
agravado pela falta de infra-estrutura legal e uma indiferença em relação à situação
das mulheres.
Uma média de 1.100 novos incidentes de estupro são relatados a cada mês, mas um
estudo descobriu que o número de mulheres congolesas estupradas todos os dias é
maior que este.
dominada por rebeldes, K.S., de 33 anos, não consegue olhar para o filho recém-
nascido. O bebê faz parte de uma geração perdida no rastro dos conflitos na
Isso significa que 1.095 congolesas foram estupradas por dia - 45 por hora. Num país
acesso às regiões mais remotas, é difícil obter números confiáveis. Nos vilarejos do
leste, porém, ainda mais difícil é encontrar mulheres que não tenham uma história de
Uma delas, de 30 anos, tentou oferecer tudo o que tinha - 1.000 francos congoleses
(US$ 1) - a rebeldes do M23 quando eles a encontraram na mata, após ela ver seu
marido ser morto com um tiro em um ataque contra o vilarejo de Kabizo, na região de
Rutshuro, mas eles não queriam seu dinheiro. A chacina de homens e os estupros de
dominada por rebeldes, K.S., de 33 anos, não consegue olhar para o filho recém-
nascido. O bebê faz parte de uma geração perdida no rastro dos conflitos na
Isso significa que 1.095 congolesas foram estupradas por dia - 45 por hora. Num país
acesso às regiões mais remotas, é difícil obter números confiáveis. Nos vilarejos do
leste, porém, ainda mais difícil é encontrar mulheres que não tenham uma história de
Uma delas, de 30 anos, tentou oferecer tudo o que tinha - 1.000 francos congoleses
(US$ 1) - a rebeldes do M23 quando eles a encontraram na mata, após ela ver seu
marido ser morto com um tiro em um ataque contra o vilarejo de Kabizo, na região de
Rutshuro, mas eles não queriam seu dinheiro. A chacina de homens e os estupros de
K.S. estava a caminho de Kitchanga, no território disputado por rebeldes tutsis, hutus e
hundes, quando um grupo cruzou o seu caminho. Ela foi forçada a seguir com eles e a
testemunhar o ataque contra seu próprio vilarejo, quando mataram os homens com
facões - seu marido, entre eles. Na base dos rebeldes, foi amarrada com cordas entre
duas árvores e estuprada durante três semanas, até conseguir fugir com a ajuda de
uma das mulheres do campo - os grupos rebeldes mantêm mulheres para funções
A riqueza dos detalhes que as mulheres dão e a quantidade que chega aos hospitais
estupros não deixam dúvidas de que essa não é uma tragédia fabricada.
2012, segundo relatório do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos. Destas,
Esses são somente os casos que puderam ser registrados. "É muito difícil para as
mulheres admitir que foram estupradas, porque elas têm vergonha e podem ser
excluídas", diz Maman Agathe Farini, que cuida de grávidas de risco. Como as
precárias, elas passam os últimos três meses na casa, com 76 leitos, em um anexo do
outros. No último deles, em dezembro, viu rebeldes em uma área perto do hospital.
ataque como esse não querem mais ver um homem. Se engravidam (dos
estupradores), não querem ver a criança, não querem alimentá-la. Muitas tentam
abortar em casa. Tomam chá de ervas, usam galhos, porque, no Congo, isso é ilegal."
Entre 9% e 10% das mortes de mulheres no Congo é causada por abortos ilegais, a
"É nesse ambiente de trauma que estão crescendo as crianças do Congo e isso é
psiquiatra Audrey Magis, da ONG Médicos sem Fronteiras, especialista em stress pós-
traumático, com experiência em países como Síria, Líbia, Egito e territórios palestinos.
"Nós fizemos campanha para que as mulheres procurassem atendimento médico após
um estupro para evitar a aids. Então, hoje, elas nos procuram, mas chegam com
questões práticas, como quanto tempo devem deixar de fazer sexo com o marido,
porque não querem contar a eles que foram estupradas. A violência que sofreram, em
si, parece ter menos impacto. São tantas mulheres violentadas que se tornou rotina."
Os efeitos do trauma só são conhecidos mais tarde, na forma de uma doença que já
problema emocional que se manifesta em sintomas físicos como dores e até paralisia,
cegueira e surdez.
K.S. tem pesadelos constantes, em que sonha ainda estar em posse dos rebeldes.
Idade das vítimas vai de 5 a 80 anos; violência é praticada por todas as partes
envolvidas na guerra
Générose, 20, foi raptada numa estrada do leste da República Democrática do Congo
quando ia comprar seu vestido de noiva. Um soldado a arrastou até uma cabana de
plástico no meio de uma floresta, onde outros três o esperavam. Por 17 dias, ela foi
estuprada diariamente pelos quatro homens. Eventualmente, comia um mingau feito
com a farinha que eles roubavam. Dormia num canto onde depois descobriu ser o
mesmo local em que era mantida, antes dela, outra mulher. Não tomava banho nem
trocava de roupa. Quando falava, apanhava. "Finalmente, eles se cansaram e me
mandaram embora", disse.
O depoimento faz parte de um relatório lançado pela organização de defesa dos
direitos humanos Human Rights Watch (HRW) em junho do ano passado, após três
semanas de entrevistas e pesquisas no país. Desde então, a situação na República
Democrática do Congo, embora tenha ganhado evidência e gerado discussões, não
mudou em nada.
"O estupro sistemático tem sido usado como arma de guerra para ferir as mulheres e,
mais do que isso, para humilhar os homens que lutam do outro lado e destruir as
comunidades, tornando muito mais difícil para elas se refazerem após o conflito", disse
à Folha Noeleen Heyzer, diretora-executiva do Unifem, o fundo da ONU para as
mulheres.
O Congo não é o primeiro lugar atingido pelo problema e, na avaliação do Unifem, não
será o último -antes do conflito em Ruanda, no início dos anos 90, a violência sexual
contra a mulher em zonas de conflito nem sequer era considerada crime de guerra.
Mas é lá que a situação se tornou mais gritante nos últimos anos, com ampla
participação de todas as forças envolvidas no conflito que eclodiu no país em 1996 -
forças do governo, combatentes rebeldes, soldados de Ruanda e grupos armados do
Burundi.
Com a economia local destruída pela guerra civil, as mulheres -muitas delas tornadas
chefes de família com a morte dos homens em combate- são obrigadas a manter seu
trabalho na lavoura e nas florestas, onde produzem carvão vegetal, expondo-se ao
risco. Raptadas, são mantidas como escravas para préstimos sexuais e domésticos
por períodos que às vezes superam um ano -em parte desses grupos, a prática da
violência é motivo de admiração, compensada com poder.
Muitas que buscam proteção nas cidades acabam sofrendo violência sexual por parte
de soldados do governo e mesmo funcionários públicos. Enquanto o objetivo dos
insurgentes é aterrorizar as comunidades para que estas se submetam à sua
autoridade, muitos funcionários do governo usam a fragilidade da lei local para
acobertar seus crimes sexuais.
Futuro em risco
Ainda que sejam as maiores vítimas, as mulheres não são as únicas a sofrer as
consequências dos estupros sistemáticos. "Elas são a última barreira para as crianças.
Além desses estupros as destruírem, seus filhos ainda são sequestrados para se
tornar soldados ou escravos sexuais", diz Heyzer.
As idades das vítimas variam de cinco a 80 anos. Muitas são atacadas com a família.
Os homens, quando não são mortos, fogem.
As consequências têm sido devastadoras, com a proliferação da Aids e a gravidez de
meninas e mulheres que não terão condições de criar seus filhos.
Embora tenha aumentado o número de grupos que prestam assistência às vítimas de
estupros no país, muitas nunca se recuperam dos efeitos físicos, psicológicos e
sociais. Nem a polícia nem o sistema judiciário tratam os casos a sério, e a
impunidade prevalece.
A situação dá algum sinal de mudança no escopo do debate.
"Aos poucos o silêncio está sendo rompido, e quem está fazendo isso são as
mulheres. Elas estão rompendo esse ciclo de vergonha e trazendo o assunto para um
debate aberto, tirando-o da seara individual e passando à pública, para que se busque
soluções legais", diz Heyzer, em um tom esperançoso. "Mas, se não houver paz, será
difícil deter o processo da violência."
Regime de Leopoldo II
Em seu artigo, Kabengele recorda que o regime de Leopodo II dividiu as terras em três
categorias: indígenas, vacantes e concedidas a terceiros, pessoas físicas ou jurídicas.
Ao decretar como propriedade do Estado as terras ditas vacantes, o rei impedia
os colonos de se instalarem nessas terras sem pagar uma taxa, além de obrigar os
nativos a fornecer determinadas quantias da colheita da borracha e da exploração do
marfim.
De acordo com Kabengele, a primeira atividade rentável para o rei era
o portage (transportador de carga), seguida das corveias para produzir comida e,
finalmente, das colheitas de borracha e exploração do marfim.
“O portage foi um verdadeiro inferno. As populações submetidas brutalmente a um
ritmo de trabalho de uma intensidade inabitual reagiam pela lentidão na execução das
tarefas cuja finalidade não compreendiam e cuja motivação não dispunham.
As corveias forneciam a comida a todos os europeus que sulcavam os rios com seus
soldados, transportadores e outros auxiliares constrangidos a viver uma vida
ambulante, sem poder ocupar-se com a agricultura, a caça e a pesca.” – exemplificou
o professor congolês, graduado em Antropologia Cultural pela Université Officielle Du
Congo à Lubumbashi
A partir de 1891-92, o Estado começou a colher borracha usando a mão de obra local.
Para obter a quantidade desejada, os agentes belgas utilizavam diferentes
ferramentas de repressão. Sequestros, chicotadas, fuzilamento, mutilações e abusos
de todos os tipos eram castigos frequentes quando não era alcançada a quantia da
colheita determinada. O número de membros mutilados servia como troféu para os
mais cruéis dos agentes.
A Segunda Guerra Mundial revelou para o mundo as piores ações realizas em conflitos
entre exércitos de países rivais. Como dito, anteriormente havia também atitudes
exageradas, mas foi tal conflito que reuniu países do mundo inteiro o primeiro a
apresentar para o mundo as situações de guerra com maior profundidade. O grupo dos
países do Eixo, que reunia as ditaduras fascistas como Alemanha, Itália e Japão, foi o
grande promotor de violação dos direitos humanos. O líder alemão Adolf Hitler
promoveu uma série de ações que desrespeitaram assustadoramente os direitos
humanos. Ele foi o responsável pelo genocídio de judeus promovido nos campos de
concentração, do qual resultaram aproximadamente 6 milhões de mortes. O seu exército
nazista se encarregou ainda de matar civis e prisioneiros. Tais condutas chocaram o
mundo, após a guerra.
A Convenção de Genebra, que foi criada em 1864, inseriu os Crimes de Guerra nas
leis internacionais após a Segunda Guerra Mundial. Sua legislação é quem define
Crimes de Guerra como ataques voluntários contra civis, prisioneiros e feridos, em
tempos de guerra. Mas sua contínua modificação acrescentou genocídios e crimes
contra a humanidade na lista dos Crimes de Guerra. De acordo com o grupo de leis, um
indivíduo pode ser condenado pelas ações tomadas por um país ou por integrantes de
seu exército.