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Girardi, R., Recena, F. A. P., Brackmann, J., Souza de Souza, P. M.

, Proposta para a restituição das funções de


estanqueidade e estabilidade estrutural em revestimento de rocha aplicado em fachada externa.

PROPOSTA PARA A RESTITUIÇÃO DAS FUNÇÕES DE ESTANQUEIDADE E


ESTABILIDADE ESTRUTURAL EM REVESTIMENTO DE ROCHA APLICADO EM
FACHADA EXTERNA

R. Girardi F. A. P. Recena
Pesquisador/ Engenheiro Civil Pesquisador/ Engenheiro Civil
CIENTEC CIENTEC
Porto Alegre; Brasil Porto Alegre; Brasil
ricardo-girardi@cientec.rs.gov.br recena@cientec.rs.gov.br

J. Brackmann P. M. S. de Souza
Estagiaria/ Engenharia Civil Assistente de Pesquisa
CIENTEC CIENTEC
Porto Alegre; Brasil Porto Alegre; Brasil
julia-brackmann@cientec.rs.gov.br paulo-matheus@cientec.rs.gov.br

RESUMO

Falhas construtivas são sempre determinantes de alguma manifestação patológica verificada em edificações. Com
origem na etapa de concepção, de projeto, de execução ou em todas simultaneamente podem, ainda, ser agravadas pela
falta de manutenção ou por intervenções mal executadas, incluindo o emprego de materiais inadequados. O presente
trabalho documenta a falta de estanqueidade no envelope de uma edificação revestida em placas de rocha com
deficiência de aplicação e de vedação e suas consequências, apresentando as soluções sugeridas para a restituição da
função do revestimento quanto à estanqueidade e estabilidade estrutural. Foram desenvolvidas técnicas para o
preenchimento de falhas do substrato das placas de rocha, para a verificação da eficiência do sistema complementar de
fixação e para a correta aplicação de mastique nas juntas das placas. O objetivo principal do presente trabalho é o de
alertar para a vulnerabilidade de uma técnica de aplicação desse tipo de revestimento pétreo, muito empregado no
passado na cidade de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, e sugerir um procedimento de
recuperação que possa ser aplicado em edificação com revestimento similar, tendo em vista a perspectiva de haver
prédios revestidos com a mesma tipologia de revestimento em outras cidades e que possam estar apresentando danos
similares.

1. INTRODUÇÃO

As fachadas são os elementos que projetam o perfil principal de uma edificação. Não determinantes somente à estética,
como também ao bem estar de quem transita pelo edificio, é de suma importância a correta execução das mesmas para
garantir sua integridade funcional.
O revestimento pétreo já vem sendo utilizado desde a antiguidade e também em larga escala em todo o Brasil. De
acordo com a Associação Brasileira de Rochas Ornamentais (ABI) mais de 60 milhões de metros quadrados foram
utilizados em todo o país e ainda é necessário acrescentar o equivalente a 18 milhõs de metros quadrados relativos a
aplicações estruturais. Na cidade de Porto Alegre essa particularidade de revestimento foi largamene utilizada no
passado, e junto dela surgiram manifestações patológicas ao longo dos anos.
Neste contexto é importante ressaltar que as manifestações patológicas derivam não só da execução do revestimento, ou
do uso de materiais de qualidade inferior, mas tambem da fase de especificação de projeto. Uma das maiores
adversidades encontradas nos revestimentos externo é a infiltração, geralmente causada por fissuras, na camada de
revestimento ou rejuntamentos. A perda da estanqueidade no envelope de uma edificação independe da idade, mas sim
da vulnerabilidade das técnicas de aplicação do revestimento. Nos procedimentos de reparos mais antigos as instruções
eram genéricas e nem sempre levavam à eficácia do trabalho.
A partir dessa problemática, o presente trabalho propõe uma técnica para o reparo da estanqueidade relacionada ao
revestimento pétreo de fachada, principalmente na execução de juntas e preenchimento de bolsões de ar passíveis de
existência na interface argamassa de emboço com o revestimento pétreo.
2. REVESTIMENTO PÉTREO

Alinhando efeito estético e durabilidade com relação a outros, o revestimento pétreo tem sido muito utilizado na
construção civil, tanto para prédios comerciais quanto residenciais. Segundo Branco [1], a rocha em si representa um
material nobre, sendo sua utilização em fachadas, por exemplo, adotada por demonstrar um aspecto de solidez e agregar
valor econômico ao empreendimento. Além disso, muitas rochas, como as graníticas, são utilizadas em elementos
externos por resistirem bem a ataques químicos, desgastes abrasivos e intempéries oriundas de agentes atmosféricos
(CHIODO e RODRIGUES [2]).
Comercialmente, granito e mármore são os tipos mais empregados, sendo o granito mais indicado para ambientes
externos. As caracterizações tecnológicas dos materiais pétreos destinados a revestimento são: a análise petrográfica, a
determinação de índices físicos (massas específica, porosidade e absorção de água, aparentes), a determinação do
coeficiente de dilatação linear, a determinação do valor da compressão uniaxial, ensaios de flexão em três pontos
(módulo de ruptura), a avaliação do índice da resistência ao impacto duro, o percentual de desgaste abrasivo, a
determinação do coeficiente de enfraquecimento a partir do gelo/degelo conjugado a resistência à compressão, ensaios
de flexão em quatro pontos, a avaliação da propagação de ondas ultrassônicas, o grau de alterabilidade, e a
determinação do módulo de elasticidade (FRASCÁ [3]). Silva [4] lembra que a seleção da pedra a ser utilizada no
revestimento de fachadas é de extrema importância, visto que pedras diferentes, utilizadas em solicitações iguais,
tendem a apresentar comportamento distinto.
Quanto ao revestimento de fachadas, é comum encontrar dois tipos de execução com rochas ornamentais: assentamento
com uso de argamassa colante e insertes metálicos, este segundo podendo ser classificado também como aerado.
Independente do tipo de colocação, a deformação é absorvida pelos componentes utilizados.

2.1 Sistema Aderente

É simplesmente a aderência das placas de rochas ao substrato (base), este podendo ser em alvenaria, concreto ou mesmo
emboço de argamassa. Chiodo e Rodrigues [2] recomendam que o emboço esteja curado no mínimo 14 dias, o mesmo
valendo para blocos de concreto e/ou concreto celular, quanto ao seu assentamento e as superfícies de concreto devem
ter idade superior a 28 dias.
De acordo com Silva [4], existe dentro deste sistema dois tipos de fixação: selagem e colagem. A selagem consiste no
assentamento das placas com o uso de argamassa de cal hidráulica ou cimento branco, e na colagem se utiliza resina do
tipo epoxi, apenas, para a combinação com argamassa de cimento ou cimento cola. Ainda, ressalta que a utilização
desse sistema está sujeito a diversas anomalias, tais como descolamento, descoloração e eflorescências. A figura 1
apresenta o sistema aderente citado por Branco [1].

Figura 1: Componentes do sistema aderente (BRANCO [1])

A NBR 13707 [5] cita que, para revestimentos pétreos exteriores realizados com argamassa, entre 3m e 15m, devem
possuir grampos fixados em telas e, acima de 15m, fixação por dispositivos metálicos (chumbadores).

2.2 Patologias em Sistemas Aderentes


Conforme Maranhão e Barros [6], problemas relacionados à má aderência entre placa e argamassa, ou entre argamassa e
substrato, deterioração da argamassa de assentamento ou rejuntamento, a decomposição dos produtos
“impermeabilizantes”, procedimentos de limpeza e alterações na própria rocha são as principais causas de patologias.
Branco [1] também ressalta que as patologias em revestimentos pétreos são provenientes da ação de diversas variáveis,
muito das quais inexequíveis de se reproduzir em laboratório.
Frascá [3] afirma que há a questão da deterioração da rocha em si, devido às intempéries sofridas pela superfície do
material exposto, além do fator estético (perda de brilho e alteração cromática) e a danificação da rocha (escamação,
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estanqueidade e estabilidade estrutural em revestimento de rocha aplicado em fachada externa.

manchamentos, etc). Ainda, além dos fatores já citados, o próprio clima existente no Brasil (com intensas variações) e a
poluição possuem papel dentre os responsáveis pela degradação de placas rochosas.
Ademais, dentre os fatores ambientais que provocam a degradação do sistema, a água é sem dúvida a maior responsável
pelo surgimento de anomalias. A água da chuva carrega diversos compostos que são impetuosos para a pedra natural,
além de poder atingir a estrutura interior da edificação (SILVA [4]).
Para tanto, pela grande quantidade de elementos que contribuem para o surgimento de patologias, é indispensável que,
além de um projeto qualificado, a execução seja de boa técnica de mão de obra. Segundo Maranhão e Barros [6] a
aquisição de material de boa qualidade e com a especificação correta para a finalidade, reduzirá as chances de
aparecimento de patologias durante a etapa de execução.

3. METODOLOGIA

A metodologia a ser apresentada no escopo do presente trabalho trata-se da apresentação de uma técnica para
restabelecer as funções de estanqueidade do sistema de revestimento externo de uma edificação concebida na cidade de
Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul, no Brasil.
Tomou-se por base a existência de manifestações patológicas verificadas na face interna da edificação, denotando a
falência do sistema adotado na vedação das juntas das placas de rocha de toda edificação utilizadas para fins estéticos.
O sistema de revestimento estudado é composto de placas de rochas de pequenas dimensões assentadas sobre argamassa
de assentamento, determinando uma extensão linear de juntas significativas.
A observação do estado do material empregado no fechamento das juntas, em locais onde foi possível o acesso direto,
permitiu concluir, em praticamente toda a extensão das juntas, haver o descolamento do material polimérico existente
da borda da placa de rocha, permitindo a passagem de água.
As fotografias 2 e 3 registram o tipo de patologia que pode ser relacionado mais diretamente com a falta de
estanqueidade do envelope da edificação. Os danos característicos da citada infiltração são representados
preferencialmente pelo aparecimento de alterações na coloração da pintura, empolamento e ruptura da película de tinta,
com desagregação da argamassa de revestimento com pulverulência.

Figura 2: Alteração da coloração na parede Figura 3: Argamassa com pulverulência e ruptura da camada de pintura

Nas fotografias 4 e 5 estão apresentadas diferente situações em que o mastique empregado para impermeabilização das
juntas apresenta descontinuidade na interface com a placa de rocha, permitindo a percolação de água do meio externo
para o interno. As imagens apresentadas a seguir foram coletadas em pontos próximos aos referenciados nas fotografias
2 e 3.

Figura 4: Junta descolada da placa de rocha Figura 5: Junta danificada


As placas de rocha apresentavam-se fixadas ao substrato por meio de parafusos, que não apresentavam
impermeabilização, permitindo a infiltração de água, como pode ser observado na fotografia 6, já a fotografia 7 registra
a existência de placas quebradas, o que também permite a infiltração de água. No caso apresentado é possível perceber a
tentativa de vedação da falha através da presença de resíduos do material aplicado.

Figura 6: Falha na vedação do parafuso Figura 7: Placa danificada

As manifestações patológicas e as falhas do sistema construtivo aqui apresentadas são de forma repetitivas em diversos
pontos da edificação de todas as fachadas. Com base nestas constatações partiu-se para a elaboração de um
procedimento técnico para restabelecer as funções de estanqueidade do sistema de revestimento. Os itens a seguir
apresentarão a linhagem aplicada na técnica desenvolvida.

4. TÉCNICA PROPOSTA

A técnica a ser apresentada nos itens a seguir, foi desenvolvida com base em painel teste numa região da fachada sul da
presente edificação, sendo realizado numa região ao nível do solo.

4.1 Prospecção

A prospecção trata-se de uma investigação que consiste na observação da resposta sonora ao estímulo aplicado por meio
de um martelo de madeira. Havendo a percecpção de som cavo como resposta é possível pressupor haver
descontinuidade entre a placa de rocha e o substrato.
Isto torna-se necessário para a demarcação de áreas onde há descontinuidade no assentamento da placa de rocha junto a
argamassa de assentamento, que por sua vez formam bolsões de ar, locais de acúmulos de água ou de servidão para o
estabelecimento de um fluxo hidráulico para o meio interno, sendo assim tal verificação por percussão é necessário para
a intervenção descrita no item 4.2.

4.2 Tratamento das juntas e estabilização das placas

A primeira etapa do trabalho consistiu em conceber uma metodologia que permitisse solidarizar as placas de rocha ao
substrato pelo preenchimento dos espaços vazios passíveis de acumular parte da água infiltrada, com base no
apresentado no item 4.1.
No Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) do Departamento de Materiais de Construção Civil –
(DEMACC) da Fundação de Ciência e Tecnologia (CIENTEC) foi desenvolvido um ensaio de simulação para permitir
avaliar a possibilidade de aplicação de espuma expansiva de poliuretano, de maneira a preencher as lacunas existentes e
permitir a partir do corte em profundidades adequadas, que a espuma depositada nas juntas das placas pudesse exercer a
função de um limitador de profundidade para garantia de que o mastique aplicado mantivesse a relação de 2:1 ou 3:1,
respectivamente de largura e profundidade.
O procedimento concebido não apresentou os resultados esperados diante da dificuldade de remover o excesso de
espuma, em função da característica do material de não permitir o corte com a facilidade imaginada. O difícil controle
da expansão da espuma permite seu extravazamento pela junta, o que ocasiona o depósito sobre as bordas das placas, de
difícil remoção. A dificuldade de execução da técnica concebida e a necessidade de uma eficiente limpeza das bordas
das placas posteriormente ao recorte da espuma, para garantir a aderência do mastique, permite caracterizar a técnica
como de difícil execução e fator de aumento da probabilidade de falha durante a execução.
A imagem da região do revestimento da fachada sul, tomada como amostra para aplicação experimental da citada
técnica, está apresentada na fotografia 8.
Girardi, R., Recena, F. A. P., Brackmann, J., Souza de Souza, P. M., Proposta para a restituição das funções de
estanqueidade e estabilidade estrutural em revestimento de rocha aplicado em fachada externa.

Figura 8: Espuma expansiva

Diante das evidências colhidas durante a experiência citada anteriormente foi desenvolvida uma nova metodologia
como a seguir se discrimina, considerando o emprego de limitador de profundidade e restringindo o uso da espuma
expansiva apenas nos locais nos quais o som cavo obtido como resposta à percurssão indicasse falta de aderência da
placa de rocha ao substrato com a possível existência de bolsões de ar. Deverá ser removido todo o material existente e
empregado no passado para o tratamento das juntas de todas as fachadas do prédio.
O mastique e o limitador de profundidade são facilmente retirados manualmente com o auxílio de estiletes e chaves de
fenda de diferentes tamanhos. Durante a limpeza das juntas foi possível verificar que em muitos locais, mas
principalmente nas juntas de desenvolvimento vertical, a abertura apresentava-se inferior a 5mm. O tratamento de juntas
de pequenas aberturas apresenta um elevado grau de dificuldade e grande probabilidade de haver falha, diante da
impossibilidade de manter a adequada relação entre largura e espessura do mastique.
Assim, considerando a necessidade de estender o procedimento de limpeza das juntas com a remoção dos resíduos do
tratamento original aderido às bordas da placa de rocha ou a remoção de material contaminante depositado ao longo do
tempo, foi empregada uma serra circular diamantada própria para o corte em rochas de natureza granítica, com dupla
finalidade, para que a abertura das juntas em nenhum local fosse inferior a 5mm.
As fotografias 9 e 10 registram o emprego da serra diamantada com a finalidade de limpeza em uma junta de abertura
superior a 5mm.

Figura 9: Serra diamantada Figura 10: Junta após o corte

Após a limpeza das juntas deve ser procedida a inspeção por percussão como indicado no item 4.1, para identificação de
locais que, por apresentarem som cavo como resposta sonora ao estimulo aplicado, possam indicar a presença de
espaços vazios.
Diante da existência de regiões em que é possível verificar descontinuidade entre a placa de rocha e o substrato, e
considerando a necessidade de eliminar os espaços vazios que podem armazenar água, diante de uma falha localizada na
junta, foi feita a opção pela aplicação localizada da espuma expansiva, tomando cuidado para não permitir o
extravazamento para fora do plano da parede.
Em situações nas quais houver extravazamento da espuma, ou contato desta com a borda da placa onde deverá haver a
interação com o mastique de vedação, deve ser procedida uma eficiente limpeza da borda das placas, para garantir a
ancoragem do mastique.
Posteriormente à aplicação da espuma expansiva novo teste de percursão deverá ser realizado no local para observar, a
partir da redução da intensidade do som cavo, a eficácia do processo. Em alguns locais, para a injeção de espuma
expansiva é necessário romper a argamassa de assentamento, no interior das juntas, para garantir a penetração da
espuma no espaço vazio.
Concluído o processo de limpeza e abertura das juntas deverá ser feita a verificação de que em nenhum local a junta
apresente menos do que 5mm de largura. Durante a realização dos testes foi empregado um paquímetro, mas por maior
praticidade, durante o desenvolvimento dos trabalhos propriamente ditos pode-se empregar um gabarito do tipo “passa
não passa”.
Em seguida à preparação das juntas deverá ser aplicada a espuma expansiva, como registrada pela fotografia 11. Antes
da aplicação da espuma expansiva deverá ser colocada fita crepe nas bordas das juntas para evitar sua aderência à
superfície das placas de rocha. Esse mesmo isolamento deverá ser mantido até a colocação do mastique, podendo,
então, ser retirado.

Figura 11: Aplicação da espuma expansiva

Com a aplicação da espuma expansiva em locais pontuais que se faz necessário, visto a presença de som cavo, caso haja
o extravasamento desta para fora deverá se proceder a limpeza das bordas da placa e o recorte do excesso da espuma.
Em seguida ao posicionamento do limitador de profundidade procede-se à aplicação de um primer para selantes junto à
borda interna da placa de rocha. As fotografias 12 e 13 ilustram o delimitador de profundidade e a aplicação do primer
para selante nas bordas internas das placas.

Figura 12: Delimitador de profundidade da junta Figura 13: Aplicação de priemer para selantes

Após a secagem do primer é realizada a aplicação do selante, sendo que o acabamento é realizado pela compressão
contra o limitador de profundidade devendo ser empregado qualquer material cuja constituição impeça a aderência do
mastique não curado. As fotografias 14 e 15 ilustram a aplicação do selante e o acabamento das juntas.

Figura 14: Aplicação do selante Figura 15: Junta acabada


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estanqueidade e estabilidade estrutural em revestimento de rocha aplicado em fachada externa.

4.3 Impermeabilização junto aos parafusos

A observação da imagem registrada na fotografia 6 permite visualizar não haver vedação no orifício realizado para a
colocação do parafuso de fixação das placas de rocha, sendo que o diâmetro do furo deve ser maior do que o do
parafuso para permitir a movimentação relativa entre a placa de rocha e o parafuso para que durante as movimentações
diferenciais de origem térmica não sejam criadas restrições a esse movimento com o surgimento de tensões de tração na
placa responsáveis por sua ruptura.
Ainda nesse tipo de fixação é sempre recomendável o uso de uma arruela cujo diâmetro externo exceda o diâmetro da
perfuração para auxiliar na vedação a partir da interposição de um mastique entre esta e a placa de rocha.
Considerando não ter sido empregada a citada arruela é possível a impermeabilização do orifício com o uso do mesmo
mastique a ser utilizado na selagem das juntas. Para tanto, a porca de todos os parafusos deverá ser removida para que
seja possível aplicar o mastique. Preferencialmente a recolocação da porca deverá ser procedida após a cura do
mastique. A sequência de fotografias 16, 17 e 18 apresenta o trabalho a ser desenvolvido na técnica proposta.

Figura 16: Remoção do parafuso Figura 17: Colocação do selante

Figura 18: Colocação da arruela com o parafuso

5. CONSIDERAÇÕES GERAIS

A observação geral do revestimento do prédio permite concluir haver irregularidades de mesma tipologia nas fachadas
da edificação. O sistema de tratamento das juntas apresenta comportamento ineficaz pelo baixo desempenho do
mastique, com perda de elasticidade e, em decorrência desprendimento da borda da placa de rocha. A esse fato deve ser
acrescido, como elemento de contribuição à falência do sistema, a geometria do cordão de mastique que, em muitos
locais observados, apresentava espessura superior a largura, contrariando a técnica recomendada e comprometendo seu
funcionamento.
Em locais definidos para o desenvolvimento dos testes a remoção do mastique permitia observar grande quantidade de
umidade no interior da junta.
Também, se for feita a opção de introduzir uma arruela entre a porca dos parafusos existentes e as placas de rochas, esta
deverá ser consituída rigorosamente do mesmo material com o qual foram fabricados os parafusos, para impedir a
instalação e processos de corrosão pela formação de pilhas galvânicas formadas a partir da diferente eletronegatividade
dos dois materiais. Na impossibilidade de garantir que a arruela seja constituída pelo mesmo material do parafuso
deverá ser feita a opção por arruelas confeccionadas com material polimérico desde que comprovadamente resistente ao
intemperismo, mais especificamente à radiação ultravioleta.
Independentemente da solução adotada e da rotina estabelecida, o trabalho sobre as placas de rocha deverá iniciar do
topo do prédio de maneira a garantir o desenvolvimento de cima para baixo para impedir a entrada de água e sua
retenção em regiões já impermeabilizadas.

6. CONCLUSÕES

Como fechamento e conclusão do trabalho, é apresentado um roteiro que, em associação do restante do texto
apresentado, tem por finalidade facilitar o entendimento das diferentes etapas sugeridas para consecução do objetivo
proposto. Considerando a experiência aqui adquirida no presente estudo de caso, fica o respaldo de um roteiro que
poderá ser utilizado em outros trabalhos similares, mas que deverão ser desenvolvidos e avaliados de acordo com a
necessidade e característica da obra a ser empregado.
As etapas a serem seguidas dão-se pela:
a) Remoção do material existente no tratamento das juntas (mastique e limitador de profundidade do tipo tarucel);
b) Limpeza da junta por meio de corte com serra diamantada e/ou abertura da junta para que em nenhum local
seja inferior a 5mm;
c) Prospecção por percussão das placas de rocha para identificação das regiões que apresentarem som cavo como
resposta sonora;
d) Identificação das falhas na argamassa de assentamento por onde seja possível injetar a espuma expansiva e/ou
rompimento da argamassa de assentamento nessas regiões para criar condições de a espuma efetivamente
expandir por trás da placa de rocha;
e) Aplicação de fita crepe ou similar nas bordas juntas;
f) Aplicação de espuma expansiva;
g) Limpeza das bordas das placas para garantir a aderência do mastique, com o emprego de pincéis e panos
embebidos em álcool para a remoção completa do pó aderido, principalmente nas bordas onde haverá contato
com o mastique;
h) Colocação do limitador de profundidade do tipo tarucel com auxilio do gabarito, de maneira a garantir a
relação 2:1 ou 3:1 entre largura e profundidade, respectivamente;
i) Aplicação de primer nas bordas das placas;
j) Aplicação do mastique de base poliuretano;
k) Acabamento do mastique pela sua compressão contra o limitador de profundidade com o uso de ferramenta
não aderente ou batata inglesa;
l) Retirada da fita crepe.

7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

[1] BRANCO, L. A. M. N. Revestimentos pétreos: estudo de desempenho frente às técni9cas e condições de


assentamento. Minas Gerais. Instituto de Geociências da UFMG, 2010 (Tese de Doutorado).
[2] CHIODI, C. F., RODRIGUES, E. P. Guia de aplicação de rochas em revestimentos. São Paulo, ABIROCHAS,
2009.
[3] FRASCÁ, M. H. B. O. Caracterização tecnológica de rochas ornamentais e de revestimento: Estudo por meio
de ensaios e análises e das patologias associadas ao uso. III Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste,
FIEC, 2002.
[4] SILVA, A. F. F. Previsão da vida útil de revestimentos de pedra natural de paredes. Lisboa, Portugal. Instituto
Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, 2009 (Dissertação de Mestrado).
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Rio de Janeiro. NBR 13707: Projeto de
revestimento de paredes e estruturas com placas de rocha. Rio de Janeiro, 1996.
[6] MARANHÃO, F. L., BARROS, M. M. S. B. Causas de patologias e recomendações para a produção de
revestimentos aderentes com placas de rocha. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP. Departamento de
Engenharia de Construção Civil, São Paulo, 2006.

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