Você está na página 1de 21

guia de

DIVIDENDOS
Como viver de
renda com ações

E mais: a lista das


campeãs em proventos
dos últimos 5 anos
GUIA DE DIVIDENDOS

SUMÁRIO
3 O que são dividendos?

4 Como é feito o pagamento de dividendos?

5 Como escolher ações de empresas que são boas


pagadoras de dividendos?

6 Mas qual seria um patamar “bom” de dividendos para uma ação?

8 Qualquer investidor pode ter uma carteira


de ações com foco em dividendos?

9 Como montar uma carteira de dividendos?

10 As empresas são obrigadas a pagar dividendos?

11 Existem muitas variações no dividendo mínimo


obrigatório das empresas?

12 Existem outras formas de investir na Bolsa


com objetivo de receber dividendos?

14 Quais são os custos de investir com foco em dividendos?

16 Quanto é preciso investir para viver de dividendos?

18 Quais são as melhores pagadoras de dividendos do mercado?

19 Riscos de uma estratégia focada em dividendos

2
GUIA DE DIVIDENDOS

O que são dividendos?

Os dividendos representam uma parcela do lucro líquido de uma


companhia que é distribuída aos acionistas.

Os investidores têm direito a essa remuneração de acordo com o


tipo e o total de ações detidas, de forma proporcional. Existem no
mercado papéis ordinários (com direito a voto) e preferenciais (não
votantes, mas com prioridade no recebimento de proventos).

Todos os detalhes relativos ao pagamento desse benefício –


como a justificativa, valor, data etc – passam por assembleia
geral de acionistas, que analisa a proposta feita pela adminis-
tração da companhia.

A segunda forma mais comum de remunerar o acionista é por


meio de juros sobre capital próprio (JCP) – que diferem dos divi-
dendos, basicamente, em razão do tratamento fiscal. Enquanto
os dividendos são isentos de Imposto de Renda (IR), os JCPs
estão sujeitos a recolhimento de 15% de IR na fonte.

Outros tipos de proventos são as bonificações e os direitos de


subscrição. No primeiro caso, uma parcela do lucro é conver-
tida em novas ações e entregue aos investidores, de acordo
com a proporção detida e demais condições estabelecidas pela
empresa. Já os direitos de subscrição representam vantagens
(como preferência de compra e desconto no preço) em uma
nova emissão de ações que a companhia venha a realizar.

3
GUIA DE DIVIDENDOS

Como é feito o pagamento


de dividendos?

A periodicidade na distribuição de dividendos varia de uma em-


presa para a outra. Existem pagamentos anuais, a cada seis me-
ses, a cada trimestre ou até mensalmente – como no caso de
alguns bancos, por exemplo.

As remunerações em dinheiro ou na forma de novas ações são cre-


ditadas automaticamente na conta que o investidor possui em uma
corretora – condição obrigatória para negociar valores mobiliários.

Um aspecto importante, no entanto, são as datas que envolvem


esse direito. O ponto de partida é o dia em que ocorre o anún-
cio dos proventos ao mercado por parte da empresa, após as
devidas aprovações. Tal comunicado traz os detalhes do que foi
deliberado e, além da data prevista para o pagamento, informa
o dia a partir do qual as ações passarão a ser negociadas sem
direito aos proventos em questão – identificada como “data ex”.

Na prática, só receberão os dividendos


declarados quem for acionista antes
desse período limite. Exemplo: se
a data ex for o dia 10, só re-
cebe os proventos quem ti-
ver comprado o papel em
questão até o dia 9.

4
GUIA DE DIVIDENDOS

Como escolher ações de


empresas que são boas
pagadoras de dividendos?

Para auxiliar na seleção de papéis que se destacam na distribui-


ção de proventos, existem três parâmetros principais:

• Dividendo por ação: representa o valor proporcional do


lucro distribuído ao investidor. É obtido a partir da divisão
do volume anunciado de proventos pelo total de ações da
empresa. Ex: Um pagamento de R$ 200 milhões que seja
equivalente a R$ 0,10 por ação. A interpretação é de que
quanto maior, melhor.

• Dividend yield: o termo em inglês é o mais usado pelos


especialistas para medir o retorno de uma ação via divi-
dendos. Tal indicador representa quanto do rendimento
daquele papel, em determinado período, pode ser atri-
buído à distribuição de lucros. Para calculá-lo, é preciso
dividir o valor dos proventos pagos por ação pelo preço
negociado em Bolsa, e depois multiplicar por 100.

O resultado é expresso em percentual e permite a compa-


ração com papéis de outras empresas, além de servir de
parâmetro em relação a outros referenciais de mercado,
como a taxa básica de juros (Selic), por exemplo.

• Payout: representa a fatia do lucro líquido da empresa


que é destinada à distribuição de proventos. Ex: um pa-
gamento de R$ 300 milhões aos acionistas frente a um
lucro de R$ 500 milhões significa que o payout foi de 60%.
Quanto maior a parcela de lucro que a companhia se pro-
põe a destinar aos acionistas, maior será o volume poten-
cial de recebimento de dividendos.

5
GUIA DE DIVIDENDOS

Para ilustrar tais indicadores, eis um caso prático:

A transmissora de energia elétrica Taesa pagou


um total de R$ 1,6 bilhão em proventos relativos
ao balanço financeiro de 2020, montante equiva-
lente a 71% do lucro líquido do período (payout).

A distribuição aos acionistas correspondeu a R$


4,50 por unit (cesta de ações da companhia), repre-
sentando um dividend yield de 12,4% no encerra-
mento de 2021, quando o papel valia cerca de R$ 36.

Em 2021, a Taesa distribuiu um total de R$ 1,8 bi-


lhão em dividendos e juros sobre capital próprio.
O valor representou o equivalente a R$ 5,20 por
unit e um payout de 80,9%.

Mas qual seria um patamar “bom”


de dividendos para uma ação?

Não existe consenso nem um número mágico utilizado pelos es-


pecialistas para apontar um patamar ótimo de dividend yield –
cuja lógica simples é de que quanto maior, melhor.

Como se trata de um retorno estimado, o conceito de alto ou


baixo vai depender, na maioria das vezes, das condições de
mercado, ou seja, da competitividade frente a outros referen-
ciais – como a própria Selic, por exemplo.

Nesse ponto, a variação do juro básico do País dá uma ideia da


volatilidade que o investidor pode enfrentar nessa simples ava-

6
GUIA DE DIVIDENDOS

liação: em janeiro de 2021, a taxa estava na mínima histórica (de


2% ao ano) e encerrou dezembro em 9,25% ao ano. Em maio de
2022, chegou a 12,75% ao ano.

Por esse exemplo, uma ação com yield projetado de 4% repre-


sentaria, na fotografia do início de 2021, o dobro do retorno da
Selic. No fim do mesmo ano, no entanto, o mesmo papel indica-
ria um retorno em proventos equivalente a menos da metade da
taxa básica anual.

Feita essa ressalva, um bom caminho para o investidor é moni-


torar as ações de dividendos selecionadas por analistas e com-
parar os yields das carteiras recomendadas.

Em junho de 2022, por exemplo, a lista de papéis mais citados


por dez corretoras para uma estratégia focada em dividendos
trouxe cinco companhias cujos yields em 12 meses variavam de
cerca de 4% a 38%.

O InfoMoney divulga todo início de mês um compilado dessas


recomendações, apresentando pelo menos cinco papéis em
destaque. Para conferir, acesse aqui.

7
GUIA DE DIVIDENDOS

Qualquer investidor pode


ter uma carteira de ações
com foco em dividendos?

Atualmente, investir em ações é algo bastante acessível, pois


muitas corretoras reduziram ou até mesmo zeraram suas taxas
de negociação, destacam especialistas. Além disso, existe uma
ampla variedade de papéis disponíveis no mercado, a preços que
podem atender aos diferentes valores disponíveis para aplicação.

Em relação aos dividendos, os especialistas não apontam uma


parcela ideal do patrimônio a ser alocado nessa estratégia, pois
isso varia conforme o objetivo do investimento e a tolerância ao
risco do mercado acionário. Existe um consenso, porém, de que
uma carteira com esse perfil tende a ser mais defensiva.

“Dessa maneira, é indicada para investidores mais conserva-


dores”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP. “Um portfólio
focado em dividendos normalmente apresenta risco menor em
momentos de estresse do mercado. Só é
preciso considerar também que, em
períodos muito positivos para
a Bolsa de maneira geral,
talvez não traga retor-
nos tão elevados”.

8
GUIA DE DIVIDENDOS

Como montar uma


carteira de dividendos?

O primeiro passo é estabelecer o objetivo e o prazo do inves-


timento, recomendam especialistas, lembrando que, conceitu-
almente, aplicações em renda variável são mais indicadas para
quem busca retorno em horizontes mais distantes.

“A partir dessa premissa, o investidor deve procurar empresas


maduras, com elevada previsibilidade de fluxo de caixa, contra-
tos longos e com bom histórico de pagamento de dividendos”,
afirma João Daronco, analista da Suno Research.

Nesse trabalho, ele sugere que o foco seja em companhias mais


conhecidas pelo investidor, das quais entenda o modelo de ne-
gócio. Outra dica é não reunir na carteira mais ativos do que seja
possível monitorar de perto. “Creio que um bom número gira em
torno de 15 empresas”, diz Daronco.

Segundo ele, é preciso estar atento também ao balanceamen-


to do portfólio, não sendo indicado uma companhia represen-
tar mais do que 20% do total investido em ações de dividendos.
“Além disso, eu tomaria cuidado com uma concentração setorial
superior a 30%”.

Jennie, da XP, reforça a importância da diversificação. “Como


para qualquer outro tipo de carteira, essa acaba sendo a melhor
estratégia. Reunir diferentes tipos de empresas e que atuem em
setores distintos”, afirma.

Partindo para a seleção de companhias propriamente dita, a


especialista afirma que o dividend yield é o primeiro fator a
ser considerado, pois permite comparar diferentes ações, de
qualquer segmento.

9
GUIA DE DIVIDENDOS

Nesse quesito, ela destaca que o histórico é importante, mas não


deve ser o único critério de avaliação, evocando a máxima de que
rendimento passado não é garantia de retorno futuro. A análise
dos últimos anos, no entanto, é bastante útil para indicar se a
companhia costuma distribuir proventos regularmente, com que
periodicidade e em que proporção do lucro (payout).

A partir desse filtro, o investidor deve direcionar as atenções ao


futuro, buscando se informar a respeito das perspectivas para a
companhia, que mensagens têm sido dadas sobre a estratégia
de atuação, qual o nível de transparência com o mercado, como
tem se comportado o ambiente de negócios do grupo etc.

Quando enfim o investidor já estiver com sua carteira de divi-


dendos montada, é comum surgir a dúvida de quando se deve
trocar um ou mais papéis. A resposta para essa pergunta, afirma
a estrategista da XP, é a mesma para qualquer investimento: é
preciso estar atento e acompanhar o cenário.

“Em condições normais, porém, os portfólios de dividendos ten-


dem a sofrer poucas alterações”, ressalta Jennie, lembrando que
as mudanças costumam ser guiadas por oportunidades pontuais,
como se viu no início de 2022 em relação às empresas de com-
modities, por exemplo.

As empresas são obrigadas


a pagar dividendos?

A distribuição de dividendos só acontece quando a empresa re-


gistra lucro.

No Brasil, de acordo com a Lei das Sociedades por Ações (nº


6.404/76), as companhias abertas são obrigadas a pagar divi-
dendos ao fim de cada exercício social, seguindo um percentual
mínimo definido em seu estatuto.

10
GUIA DE DIVIDENDOS

Nesse ponto, embora muitas empresas adotem o piso de 25% so-


bre o lucro líquido, essa não é uma regra – um equívoco bastante
comum no mercado. Na verdade, a fatia mínima a ser destinada
aos investidores pode ser livremente escolhida pelos administra-
dores e estabelecida no estatuto das empresas.

Caso o estatuto seja omisso, a norma determina o pagamento de


50% do lucro líquido anual ajustado. A assembleia geral de acio-
nistas pode alterar o estatuto para incluir um percentual mínimo,
mas neste caso ele não pode ser inferior a 25%.

Existem muitas variações


no dividendo mínimo
obrigatório das empresas?

Sim. Como as companhias têm liberdade para definir esse pata-


mar em seus estatutos, existem situações bem diferentes.

Em alguns casos, a opção dos administradores é por estabe-


lecer uma política de remuneração bastante conservadora. A
da Méliuz, por exemplo, assegura aos investidores o direito ao
recebimento de um dividendo obrigatório anual não inferior a
0,001% do lucro líquido do exercício.

A empresa atua no ramo de tecnologia, com oferta de servi-


ços financeiros, que incluem a operação de cupons de des-
conto e cashback (dinheiro de volta após uma compra ou pa-
gamento de serviço).

Outras companhias podem optar por uma remuneração bem


maior, como a siderúrgica Gerdau, que prevê uma fatia mínima
de 30% do lucro líquido, ou a Taesa, já citada anteriormente,
cujo pagamento parte de 50% do resultado obtido.

11
GUIA DE DIVIDENDOS

Em qualquer dos casos, é possível que o percentual sofra ajustes,


para mais ou para menos, em razão da constituição de reservas,
reversão desses valores, distribuições complementares etc.

Tal dispersão – que pode ser ainda maior, dependendo do setor


de atuação, posicionamento estratégico e grau de maturidade
da empresa – mostra o quanto é importante o investidor se in-
teirar do assunto, e confrontar os resultados encontrados com
seus propósitos.

Ampliando ainda mais a discussão, existem no exterior empresas


que têm por política simplesmente não distribuir os lucros, so-
bretudo no setor de tecnologia. Um caso bastante conhecido é o
da Alphabet Inc., dona do Google, que nunca pagou dividendos
a seus acionistas – apenas uma bonificação em ações, em 2014.
Outro exemplo é o da Berkshire Hathaway, liderada pelo lendário
investidor Warren Buffett, que não distribui dividendos. Buffett
costuma dizer que há formas melhor de gastar o dinheiro, rein-
vestindo os valores.

Existem outras formas de


investir na Bolsa com objetivo
de receber dividendos?

Quem busca dividendos encontra no mercado outras quatro al-


ternativas para investir: fundos de ações especializados, ETFs
(fundos de índice com cotas negociadas na B3), fundos imobili-
ários e BDRs (recibos de ativos negociados no exterior).

Os fundos de ações e os ETFs oferecem ao investidor, além de


uma gestão profissional dos ativos, a vantagem de diversificar
a aplicação, pois um único produto reunirá uma cesta de ações
de dividendos.

No caso dos ETFs, até março de 2022, existiam no país dois


produtos que replicam indicadores de dividendos: o ETF It Now
IDIV (DIVO11), que reproduz o índice de dividendos da B3 (IDIV);

12
GUIA DE DIVIDENDOS

e o BB ETF S&P Dividendos Brasil (BBSD11), calculado pela S&P


Dow Jones Índices.

Em ambos os casos, porém, é preciso ficar atento à metodologia


de escolha dos papéis que fazem parte dos índices de referên-
cia. O IDIV, por exemplo, prevê a seleção de empresas do bloco
das 33% melhores posicionadas em termos de dividend yields
em uma janela de 36 meses. Com isso, o portfólio teórico que
passou a valer em janeiro de 2022 não contemplou as ações da
Vale e da Petrobras – duas das principais apostas do mercado
em termos de dividendos para o ano.

Portanto, ao escolher um índice de dividendos como parâmetro,


o investidor deve ter consciência de que nomes badalados do
momento podem acabar ficando de fora de sua carteira, por
não atenderem aos critérios de elegibilidade do indicador em
determinado período.

Ponto de atenção: Tanto os fundos de ações quanto os ETFs


de dividendos não distribuem aos cotistas os proventos re-
cebidos regularmente. Esses recursos são reinvestidos nos
próprios produtos, para rentabilizar o patrimônio. Tais inves-
timentos são indicados, portanto, para que gosta de dividen-
dos, mas tem um horizonte de médio e longo prazo.

Dentro da estratégia de dividendos, se o objetivo for obter


uma renda periódica, os especialistas apontam os fundos
imobiliários como alternativa. Tais produtos possuem cotas
negociadas na Bolsa e a distribuição de proventos segue
a mesma lógica das ações, com pagamentos proporcionais
ao total de papéis detidos pelo investidor.

No caso dos BDRs, o detentor desses papéis também terá


direito aos dividendos periódicos distribuídos pela empre-
sa estrangeira.

13
GUIA DE DIVIDENDOS

Quais são os custos de investir


com foco em dividendos?

Para comprar e vender ações diretamente na B3, o investidor


precisa ter conta em uma corretora de valores. A partir daí, exis-
tem basicamente três custos envolvidos: as taxas de corretagem
e custódia (pagas à corretora pela intermediação e guarda dos
ativos) e os chamados emolumentos (cobrados pela B3 pela ne-
gociação e liquidação dos papéis).

No caso da tributação, os dividendos recebidos pelo investidor


pessoa física são isentos de Imposto de Renda (IR), o que tam-
bém vale para os rendimentos creditados pelos fundos imobiliá-
rios. Os juros sobre capital próprio pagos pelas companhias, no
entanto, sofrem uma mordida de 15% da Receita Federal assim
que são depositados na conta do acionista.

Em relação aos fundos de ações, o IR é descontado apenas se


houver resgate dos recursos, sob uma alíquota também de 15%.
O mesmo vale para a grande maioria dos ETFs, com exceção dos
ETFs de fundos imobiliários, em que a cobrança é de 20%.

Existem, porém, outros custos a serem considerados. Todos os


fundos de investimento possuem taxa de administração (em ge-
ral, bem menor nos ETFs), expressa como um percentual do pa-
trimônio líquido e descontada dos cotistas.

Alguns fundos podem ainda cobrar pela performance obtida em


determinado período, situação que se aplica apenas se estiver
previsto no regulamento e o desempenho do portfólio ficar acima
do indicador que baliza seu rendimento.

No caso dos BDRs, a questão é bem mais complexa em termos


de tributação e custos. O detentor desses papéis também terá
direito aos dividendos periódicos distribuídos pela empresa es-
trangeira, mas haverá cobrança de imposto de acordo com as
normas do país em que os ativos estiverem lastreados.

14
GUIA DE DIVIDENDOS

Jennie Li e Vinicius Araujo, da XP, demonstram o peso desse cus-


to com um exemplo. Imagine um investidor brasileiro que adquire
um BDR da Apple (AAPL34). Ao pagar dividendos, esse valor será
tributado de acordo com a lei americana, ou seja, 30% irá para o
governo dos Estados Unidos.

Além disso, existe uma taxa média de 3% a 5% sobre o paga-


mento, que fica retida na instituição financeira responsável por
originar esses recibos.

Por fim, o aplicador terá ainda que prestar contas à Receita Fe-
deral, que possui uma tabela de desconto caso o ganho com di-
videndos dos BDRs supere determinado valor ao mês. A alíquota
parte de 7,5% e pode chegar a 27,50%.

E como ficam os dividendos


diante da Reforma Tributária?

Os proventos recebidos pelos investidores são um dos te-


mas centrais da reforma tributária, atualmente em tramitação
no Congresso Nacional. O Projeto de Lei (PL) 2.337/2021, já
aprovado pela Câmara, prevê que os dividendos passem a
ser taxados em 15% e que as distribuições de proventos via
juros sobre capital próprio sejam extintas.

Para entrar em vigor, no entanto, o texto ainda precisa passar


pelo Senado e ser sancionado pela Presidência de República.

15
GUIA DE DIVIDENDOS

Quanto é preciso investir


para viver de dividendos?

A pedido do InfoMoney, a Economatica elaborou uma lista das


melhores pagadoras de dividendos dos últimos anos e fez um
cálculo do quanto seria preciso investir nessas ações para obter
o equivalente a uma renda mensal de R$ 1 mil, R$ 2 mil e R$ 3
mil, nos próximos 12 meses.

Os primeiros critérios adotados pela plataforma de informações


financeiras para o estudo foram a consistência e a relevância nas
distribuições. Por conta disso, foram selecionadas empresas que,
nos últimos cinco anos (2017-2021), distribuíram dividendos e ju-
ros sobre capital próprio em todos os períodos e cuja mediana do
dividend yield ficou igual ou superior a 5% ao ano.

Outro filtro foi a liquidez, para identificar papéis que o investi-


dor possa comprar e vender com maior facilidade. Nesse que-
sito, foram considerados os ativos que, nesse mesmo intervalo,
apresentaram um volume médio negociado na B3 de pelo me-
nos R$ 5 milhões por dia. Lembrando que as empresas distri-
buem dividendos com periodicidades distintas – e não necessa-
riamente mensal. O cálculo, portanto, é um exercício hipotético
de equivalência a uma renda com proventos por mês.

Com esses parâmetros, o topo da lista é ocupado pela Unipar,


que atua no setor químico e petroquímico, cuja mediana de retor-
no com proventos foi de 17,1% ao ano. Para obter uma renda men-
sal de R$ 1 mil com papéis da empresa, o investimento necessário
é de R$ 70,2 mil. Para R$ 2 mil mensais, o aporte sobe para R$
140,4 mil e, para R$ 3 mil, fica em pouco mais de R$ 210,5 mil.

Logo a seguir vem a Taesa, com yield de 10,3% pela mediana de


cinco anos. Neste caso, para rendas mensais de R$ 1 mil, R$ 2
mil e R$ 3 mil, seriam necessários desembolsos aproximados de
R$ 116,5 mil, R$ 233 mil e R$ 349,6 mil, respectivamente.

O cálculo da Economatica já considera a mediana do dividend


yield de cada ação nos últimos cinco anos, com o objetivo de
evitar que os investidores baseiem seu planejamento em distri-

16
GUIA DE DIVIDENDOS

buições muito elevadas, que fujam do padrão mais usual adota-


do pela empresa. Para evitar surpresas, é possível adotar proje-
ções mais conservadoras, com dividend yields menores.

Confira a seguir a tabela* completa com as 28 ações que fazem


parte do levantamento:

Faixas de renda mensal

Mediana do Dividend Yield


Empresa Classe Código em 5 anos (2017-2021) R$ 1.000 R$ 2.000 R$ 3.000

1 Unipar PNB UNIP6 17,1 R$ 70.190 R$ 140.380 R$ 210.570


2 Taesa UNT TAEE11 10,3 R$ 116.524 R$ 233.047 R$ 349.571
3 Inds Romi ON ROMI3 9,6 R$ 124.478 R$ 248.956 R$ 373.434
4 Copel ON CPLE3 9,2 R$ 129.747 R$ 259.495 R$ 389.242
5 Copel PNB CPLE6 9,1 R$ 131.639 R$ 263.277 R$ 394.916
6 Tran Paulist PN TRPL4 8,7 R$ 137.396 R$ 274.792 R$ 412.188
7 Telef Brasil ON VIVT3 7,6 R$ 157.913 R$ 315.826 R$ 473.739
8 Enauta Part ON ENAT3 7,1 R$ 168.024 R$ 336.048 R$ 504.072
9 Banrisul PNB BRSR6 6,9 R$ 173.159 R$ 346.317 R$ 519.476
10 Ferbasa PN FESA4 6,6 R$ 181.940 R$ 363.879 R$ 545.819
11 Bradespar PN BRAP4 6,6 R$ 182.779 R$ 365.559 R$ 548.338
12 Abc Brasil PN ABCB4 6,5 R$ 184.720 R$ 369.440 R$ 554.160
13 Qualicorp ON QUAL3 6,3 R$ 190.924 R$ 381.848 R$ 572.773
14 Cyrela Realt ON CYRE3 6,1 R$ 196.043 R$ 392.085 R$ 588.128
15 AES Brasil ON AESB3 6,1 R$ 196.142 R$ 392.285 R$ 588.427
16 Brasilagro ON AGRO3 6,0 R$ 201.564 R$ 403.129 R$ 604.693
17 Itausa ON ITSA3 5,9 R$ 202.923 R$ 405.846 R$ 608.769
18 Sanepar PN SAPR4 5,9 R$ 204.865 R$ 409.730 R$ 614.595
19 MRV ON MRVE3 5,8 R$ 205.218 R$ 410.436 R$ 615.654
20 BBSeguridade ON BBSE3 5,8 R$ 207.175 R$ 414.351 R$ 621.526
21 Copasa ON CSMG3 5,8 R$ 208.315 R$ 416.630 R$ 624.946
22 Itausa PN ITSA4 5,7 R$ 209.241 R$ 418.481 R$ 627.722
23 Tegma ON TGMA3 5,7 R$ 210.096 R$ 420.191 R$ 630.287
24 Santander BR UNT SANB11 5,6 R$ 212.716 R$ 425.431 R$ 638.147
25 Porto Seguro ON PSSA3 5,6 R$ 214.823 R$ 429.647 R$ 644.470
26 Wiz S.A. ON WIZS3 5,3 R$ 227.993 R$ 455.987 R$ 683.980
27 Cemig PN CMIG4 5,2 R$ 229.372 R$ 458.744 R$ 688.116
28 ItauUnibanco ON ITUB3 5,0 R$ 240.056 R$ 480.112 R$ 720.168

Fonte: Economatica.

*Os valores indicados consideram aplicações em fevereiro de 2022 e retornos (de R$ 1 mil, R$ 2 mil e R$ 3 mil por mês) nos
próximos 12 meses, caso a companhia não mude a política de distribuição de dividendos. Considera também que a empresa
tenha um lucro em 2021 superior ou igual ao da mediana dos últimos cinco anos e o provisionamento de proventos a distribuir
seja igual ou superior ao valor do ano em que se tem a mediana do dividend yield dos cinco anos. O estudo não leva em conta
os descontos de Imposto de Renda sobre os juros sobre capital próprio.

17
GUIA DE DIVIDENDOS

É possível também calcular o retorno com dividendos de deter-


minado papel, ou de uma carteira de ações montada pelo inves-
tidor, por meio de uma ferramenta lançada pelo InfoMoney, em
parceria com Jennie Li, da XP.

Trata-se de uma planilha gratuita que reúne o histórico de divi-


dend yields das ações negociadas na B3 que tenham distribuído
proventos pelo menos uma vez entre 2016 e 2020. O arquivo
traz ainda projeções de consenso de analistas para os retornos
esperados para 2022.

Quais são as melhores pagadoras


de dividendos do mercado?

De modo geral, as companhias com histórico de boa distribuição


de dividendos possuem forte geração de caixa; alta previsibili-
dade de resultados; baixo endividamento; pouca necessidade
de novos investimentos (negócios maduros); e ocupam posição
consolidada em seus mercados de atuação.

Em termos setoriais, os destaques costumam reunir represen-


tantes de energia elétrica, bancos, seguros, telecomunicações
e saneamento básico.

Esse é um mapeamento básico quando se trata de proventos,


mas o investidor deve sempre ficar atento, pois condições ex-
cepcionais envolvendo uma empresa ou um segmento de negó-
cio podem influenciar o nível de pagamento aos acionistas.

Isso vale para o bem e para o mal. Considerando os setores que


normalmente se destacam na distribuição de dividendos, perce-
be-se que eles podem concentrar empresas estatais – que envol-
vem riscos específicos, como interferência do governo ou mudan-
ças de regras abruptas. Quando isso acontece, o investidor sofre.

Uma espiada no que aconteceu em 2021 – um ano de recorde

18
GUIA DE DIVIDENDOS

na partilha de lucros – ilustra bem essa realidade. A lista das dez


ações com os maiores dividend yields no período trouxe Me-
talúrgica Gerdau (GOAU4), Unipar (UNIP6), Vale (VALE3), Por-
tobello (PTBL3), Copel (CPLE6), JBS (JBSS3), Gerdau (GGBR4),
Isa Cteep (TRPL4), Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3). Nessa
ordem, com indicadores que variaram de 20,60% a 11,06%.

Nota-se que, além de tradicionais pagadoras, como as elétri-


cas, a relação inclui a Vale, beneficiada pela disparada no preço
do minério de ferro, e três frigoríficos, que lucraram forte com
as exportações para a China e a alta do dólar no período.

Para 2022, a XP Investimentos trouxe um estudo feito pela Eco-


nomatica sobre as empresas com maior potencial de distribui-
ção de proventos, considerando como linha de corte uma proje-
ção de dividend yield superior a 9,25% no intervalo.

O primeiro lugar ficou com as ações ordinárias da holding Bra-


despar (BRAP3), com yield estimado em 44,53%, ante resultado
de 19,14% obtido em 2021. Entre as cinco companhias melhor
colocadas na pesquisa figuram ainda a Metalúrgica Gerdau, Pe-
trobras, Vale e Copel, cujos retornos calculados para os papéis
(em alguns casos, tanto ordinários quanto preferenciais) fica-
ram entre 20,39% e 17,10%.

Riscos de uma estratégia


focada em dividendos
Daronco, da Suno, acredita que o principal perigo é escolher
uma ação olhando apenas o dividend yield, ou seja, ignorando
o restante da análise sobre a companhia. De acordo com ele, é
preciso sempre avaliar os seguintes pontos: esses dividendos
são recorrentes? são sustentáveis? até quando a empresa con-
seguirá pagá-los?

“Vejo muitas pessoas comprando empresas com yields inflados


por conta de resultados não-recorrentes [que não têm relação
direta com o negócio da companhia e, por isso, tendem a não se

19
GUIA DE DIVIDENDOS

repetir]”, diz o especialista. Segundo ele, é preciso estar atento


pois, quando esses grupos retornarem à distribuição normal de
proventos, o nível de remuneração pode cair consideravelmente.

“O pilar dessa estratégia [de dividendos] é o stock picking, a


escolha das melhores ideias”, afirma Daronco.

Ele também faz um alerta para possibilidade de ocorrerem ce-


nários extraordinários, como o próprio surgimento do novo co-
ronavírus. Por conta da pandemia de Covid-19, os bancos não
puderam distribuir dividendos além do mínimo obrigatório em
2020, por exemplo.

Isso ocorreu por determinação do Conselho Monetário Nacional


(CMN), para fortalecer o sistema financeiro durante a crise. “Vejo
isso, no entanto, como algo mais pontual”, pondera o especialista.

Vale lembrar ainda que, excepcionalmente, a empresa pode de-


cidir não pagar dividendos em determinado exercício, por en-
tender que isso seria incompatível com sua situação financeira.
É uma possibilidade prevista em lei.

Para tanto, a administração precisa discutir o assunto em as-


sembleia de acionistas e, se a companhia possuir um conselho
fiscal, este deverá se manifestar sobre o tema.

Caso a proposta seja aprovada, os lucros não distribuídos de-


vem ser registrados como reserva especial e, se não forem de-
pois absorvidos por prejuízos, deverão ser pagos como dividen-
do assim que a situação financeira da companhia permitir.

20
GUIA DE DIVIDENDOS

O e-book “Guia de dividendos” foi


produzido pela equipe do InfoMoney,
com texto de Márcio Anaya, roteiro
e edição de Mariana Segala e
diagramação de Leo Albertino.
Dados coletados em março de 2022.

guia de
DIVIDENDOS
Como viver de
renda com ações

21

Você também pode gostar