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DELEGADO DE POLÍCIA (PROJETO PROVA DISCURSIVA)

Profs. Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça

- AULAS 03 e 04 -

11) Considere as duas situações hipotéticas seguintes:

I - Luan, sem animus necandi, mas também sem se importar com o que sua conduta ocasionaria, entrou
em um bar atirando a esmo, de modo que atingiu uma pessoa, que veio a óbito.

I – Davi, atirador de facas de um circo há 20 anos, nunca tendo errado uma só mira, durante um espetácu-
lo, por uma fatalidade, atinge uma das facas no peito de Ruth, sua assistente de palco, vindo a mesma a
falecer.

Tipifique, de forma fundamentada, ambas as condutas.

PADRÃO DE RESPOSTA

I - Luan está agindo em dolo eventual, sem se preocupar com as consequências que sua conduta pode
acarretar. Em que pese ele não desejar previamente nenhum resultado delituoso – até porque seria dolo direto - ,
ele não se importa com os reflexos de suas ações. Existe uma assunção exacerbada de risco por parte do agente
delituoso. Nessa hipótese, Luan responde pelo crime de homicídio doloso consumado, com tipificação Art. 121,
caput, do Código Penal.

II - Davi agiu com culpa consciente. O indivíduo percebe a situação de risco, antevê que sua conduta pode
gerar um resultado delituoso, mas acredita sinceramente que é capaz de evitar tal resultado. Como consequência
responderá por homicídio culposo, nos termos do art. 121, §3º, Código Penal Brasileiro.

12) Maria e José, ambos com 19 anos de idade, estão juntos a cerca de 11 (onze) meses. Maria, logo após
dar à luz ao rebento, estando em estado puerperal, tem a vontade de matar seu filho, externando esse de-
sejo a José, que a apoia, mesmo tendo ciência de seu estado. Diante disso, José vai até o berçário da ma-
ternidade, busca seu filho e o entrega à Maria, que pega uma almofada e o sufoca, vindo o rebento a óbito.
Diante das informações apresentadas, pergunta-se:

A) É possível tipificar a conduta de Maria?

B) É possível tipificar a conduta de José?

PADRÃO DE RESPOSTA

A) Maria incorreu no delito de infanticídio, disciplinado ao teor do art. 123 do CP.


O infanticídio é considerado crime bi próprio, visto o texto normativo exigir características específicas em
relação ao sujeito ativo e sujeito passivo material. Nesse caso, temos como sujeito ativo a mulher em es-
tado puerperal, que mata o seu rebento durante o parto ou logo após este.

B) José, sabedor do estado puerperal de Maria e de sua real intenção de ceifar a vida de seu reben-
to, concorda e participa ativamente para que o resultado morte da criança ocorra. Consequentemente José tam-
bém responde pelo delito de infanticídio, também nos termos do art. 123 do CP, agindo em coautoria com Maria.
O art. 30 do Código Penal versa sobre a incomunicabilidade das circunstâncias pessoais salvo quando estas são
elementares do tipo. Em outras palavras, quando as características pessoais de um dos autores compõe a defini-

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ção normativa do crime, estas serão transferidas aos demais agentes agindo em concurso de pessoas. Em que
pese o estado puerperal ser característica pessoal, só atingindo mulheres que estão em trabalho de parto ou que
deram à luz recentemente, também compõe elementar do tipo. Logo, José se contamina de tal situação, passando
a responder pelo mesmo crime de sua companheira.

13) Considere a seguinte situação hipotética. Alfa, aproveitando que seu vizinho de longa data, Gama, en-
contrava-se dormindo, com o intuito e escopo de poupá-lo de intenso sofrimento e acentuada agonia de-
correntes de doença de desate letal, ceifou a sua vida. Tomando exclusivamente as informações indica-
das, tipifique, em sendo possível, a conduta de Alfa.

PADRÃO DE RESPOSTA

Em que pese o objetivo de Alfa ter sido atenuar o sofrimento do amigo, a situação apresentada deve ser
caracterizada como eutanásia que, por sua vez, é considerada crime de homicídio no Brasil. No entanto, é razoá-
vel que se reconheça a modalidade privilegiada do tipo (Art. 121, §1º, CP), visto que Alfa cometeu o crime impeli-
do por motivo de relevante valor moral.

Devemos atentar ainda para o fato que também deve ser caracterizado como crime de homicídio qualifi-
cado, já que a vitima foi morta durante o sono, fazendo incidir a qualificadora do inciso IV, do § 2º do Art. 121, CP.

Nesta situação, por termos um homicídio subjetivamente privilegiado e objetivamente qualificado. Desta-
que-se o posicionamento do STF no sentido que tal situação não pode ser caracterizada como crime hediondo.

14) Felipe, maior de 18 anos e capaz, adentrou na Agência Franqueada dos Correios, portando o que apa-
rentava ser uma pistola .380. Ato contínuo, apontou o referido objeto para Daniel e Lucas, caixas do esta-
belecimento e ordenou que os mesmos deitassem no chão, no que foi prontamente atendido. Logo em
seguida, Felipe subtraiu boa parte do numerário que conseguiu encontrar e evadiu-se do local da subtra-
ção. Todavia, no momento da prática dos referidos atos, Bruna, Delegada de Polícia Civil, que estacionava
seu veículo particular na frente da Agência Franqueada, com o intuito de realizar pagamento de algumas
contas pessoais, percebeu a movimentação e vislumbrou Felipe evadindo-se do local, oportunidade em
que empreendeu perseguição, capturando-o a pouco mais de 150 metros da Agência. No momento da cap-
tura, Bruna constatou que Felipe trazia consigo uma arma de brinquedo, simulacro muito parecido com
uma pistola verdadeira .380 e perfeitamente ca-paz de iludir o homem médio, mas absolutamente inapta a
efetuar disparos. Trazia também o valor de R$ 9.600,00 fruto da subtração delituosa procedida. Tomando
por base exclusivamente os fatos narrados, responda, de forma fundamentada:

A) Qual(ais) a(s) possível(eis) tipificação(ões) da(s) conduta(s) praticada(s) por Felipe?

B) Em caso de lavratura de Auto de Prisão em Flagrante Delito, seria possível o estabelecimento de fiança
em favor de Felipe?

C) Qual o órgão jurisdicional competente para apreciar uma eventual ação penal em desfavor de Felipe?

PADRÃO DE RESPOSTA

A - Crime de roubo, tipificado no Art. 157, caput do Código Penal. Filipe empregou grave ameaça contra
os 2 funcionários e subtraiu o dinheiro. Trata-se de roubo simples, já que empregou apenas um simulacro, não
sendo possível a incidência da causa de aumento de pena prevista no §2º do Art. 157, conforme posicionamento
consolidado do STJ e STF.

B – Em ocorrendo lavratura do Auto de Prisão em Flagrante Delito, será perfeitamente possível o arbitra-
mento de fiança, visto o delito em questão não constar no rol de vedações dos art. 323 e 324 do Código de Pro-

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cesso Penal. No entanto, deve o arbitramento desta ser deferido pelo Juiz, já que a pena máxima abstratamente
prevista ao crime é superior a 04 anos, impossibilitando, assim, o arbitramento por parte do Delegado, conforme
previsão no art. 322, parágrafo único, do Código de Processo Penal.

C – É entendimento pacificado na doutrina e nos Tribunais Superiores que crimes cometidos em detrimen-
to de Agências Franqueadas da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos suscitam competência à Justiça Es-
tadual, por não ofender bens, serviços nem interesses da União, já que o bem efetivamente prejudicado é o da
Agência Franqueada, não havendo que se falar em deslocamento da Competência para a Justiça Federal.

15) Tomando por fundamento o posicionamento doutrinário e jurisprudencial majoritário, disserte, de for-
ma penalmente fundamentada, indicando a diferenciação entre tentativa de latrocínio de roubo qualificado
pelo resultado lesão corporal grave.

PADRÃO DE RESPOSTA

O elemento de diferenciação padrão há de ser a observação do meio de manifestação de violência no


contexto da subtração da coisa móvel alheia. Caso o meio de emprego da violência seja capaz, por si só, de gerar
o resultado morte da vítima e esta não ocorrer por circunstâncias alheias a vontade do agente delituoso, temos o
crime de tentativa de latrocínio, nos termos do art. 157, § 3º, parte final em combinação com art. 14, II, ambos do
Código Penal.

Todavia, em sendo o meio de manifestação da violência inidôneo por si só para gerar o resultado morte da
vítima, mas tendo gerado um resultado caracterizador de lesão corporal grave, resultados estes disciplinados nos
termos do art. 129, § 1º e/ou § 2° do Código Penal, deveremos reconhecer o crime de roubo qualificado pelo resul-
tado lesão grave, nos termos do art. 157, § 3º, parte inicial.

16) Tomando por fundamento o posicionamento doutrinário e jurisprudencial majoritário, disserte, de for-
ma penalmente fundamentada, indicando a possibilidade ou não de relativização da vulnerabilidade etária
em sede de crime de estupro de vulnerável.

PADRÃO DE RESPOSTA

O posicionamento amplamente consolidado pelos tribunais superiores, bem como pela doutrina é no sen-
tido de que a vulnerabilidade etária deve ser aferida como sendo de natureza absoluta para fins de caracterização
do estupro de vulnerável, nos termos do caput do art. 217 – A do Código Penal. Consequentemente, não importa
a voluntariedade, discernimento, experiência previa ou outros elementos em relação ao consenso ou dissenso por
parte do menor em relação à conjunção carnal ou outro ato libidinoso.

Destaque-se a necessidade de demonstração, para fins de caracterização do delito em apreço, que o


agente delituoso tinha conhecimento da idade da vítima ou no mínimo lhe era razoável presumir. Caso contrário,
não será possível imputação deste delito, em decorrência de eventual manifestação do instituto do erro de proibi-
ção. Ademais, tal necessidade busca evitar o fenômeno da imputação penal objetiva, não admissível, em regra, no
nosso ordenamento penal.

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