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OPINIÃO DO PACIENTE.
RESUMO: O estudo tem por objetivo investigar a desistência em psicoterapia breve, tanto em aspectos do
processo quanto na opinião de pacientes. O elevado índice de ocorrência e a escassez de estudos relativos ao
tema justificam sua realização junto aos prontuários da Clínica Psicológica da Universidade Presbiteriana
Mackenzie. A pesquisa documental verificou 21 prontuários de pacientes entre 13 e 68 anos que
interromperam o processo após a quinta sessão (9,77% do total de atendimentos) em 1997. Traçado o perfil
caracterológico, este se mostrou compatível com o da amostra total. Também foram verificados a queixa, o
foco e o motivo da interrupção. Os sujeitos foram contactados por telefone para saber sua opinião quanto à
terapia, os ganhos obtidos e a razão para desistência. Os motivos alegados para interrupção da terapia são
semelhantes tanto no prontuário quanto por telefone. Os sujeitos referem melhora do quadro apresentado e
não desejam retornar à clínica. Conclui pela necessidade de investigar mais detidamente outras variáveis
relevantes.
Palavras-chave: psicoterapia breve, desistência, processo terapêutico, clínica-escola.
ABSTRACT: The drop out in brief psychotherapy was investigated both in aspects of the process and the
patient’s opinion. The great number of occurrence and a few paper about the issue were the reasons of the
study on the files of the psychological clinic of the Universidade Presbiteriana Mackenzie. A documental
research checked the 1997 files and verified 21 13 up to 68 year old patients that had interrupted the therapy
after the fifth session (9,77% of the total). This sample profile had been similar to the total sample. The
complain, the focus and the reason of interruption had been also verified. The subjects were called by fone in
order to know their opinion about the therapy, the gains, and the reason to drop out. Both in the files and by
phone the declared reasons to drop the therapy out were similar. Improve of the symptons as well as no
intention in returnig treatment were refered by the patients. More detailed investigations are needed in order
to identify other relevant variables.
Keywords: brief psychotherapy, drop out, therapeutic process, school clinic.
MÉTODO
Utilizou-se um levantamento realizado com prontuários de atendimentos em psicoterapia
breve de adulto ocorridos no ano de 1997 na Clínica Psicológica da Universidade
Mackenzie (Cayres, Santos, Cardoso & Enéas, 1999). A partir deste levantamento foram
identificados os prontuários dos atendimentos interrompidos depois das 5 sessões,
perfazendo um total de 21 prontuários que serviram à presente pesquisa documental. Para o
perfil da amostra foram anotadas as variáveis sexo, escolaridade, estado civil e faixa etária.
Anotou-se também a queixa trazida pelo paciente, o foco que foi proposto para a terapia e o
motivo da interrupção.
Em uma segunda fase foi feita uma pesquisa por telefone na qual foi perguntado a cada
sujeito o que ele achou da terapia, se viu algum beneficio e o que ocorreu para que a terapia
não chegasse ao término. Em seguida às perguntas foi oferecido ao paciente a possibilidade
de retorno ao processo terapêutico.
Os dados foram tabulados em função das variáveis levantadas, procurando identificar
aspectos relevantes no perfil da amostra, como as características mais freqüentes, bem
como verificar a possibilidade de uma queixa predominante e discrepâncias de sua relação
com o foco. Estes seriam, hipoteticamente, aspectos sugestivos de desistência.
Procedeu-se a uma análise qualitativa para comparar os motivos da desistência constantes
doprontuário com aqueles referidos pelos mesmos sujeitos quando do contato telefônico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi verificado através de um levantamento anterior (Cayres, Santos, Cardoso &
Enéas,1999) que ocorreram 79 desistências em uma amostra de 215 pacientes, portanto
desistiram do tratamento 36,79% do total de pacientes.
A partir desse total foram selecionados os casos que tiveram pelo menos 5 sessões
realizadas, prefazendo um total de 21 casos, o que representou 9,77% da amostra total.
Foram selecionados os casos que tiveram pelo menos 5 sessões realizadas para que pudesse
ser avaliado o contato do paciente com o terapeuta pois alguns casos o paciente desiste
antes mesmo de ir para a primeira entrevista com o terapeuta. Com relação ao perfil
caracterológico da amostra, observou-se predomínio de pacientes do sexo feminino (16;
76,1%) com idade entre 13 e 22 anos (8; 38%), solteiros (13; 61,9%) e com escolaridade
entre segundo grau completo e superior completo (9; 42,7%).
Este perfil assemelha-se ao da amostra original, fazendo supor não haver qualquer
característica distintiva dos sujeitos desistentes. Contudo, é interessante notar que todos os
sujeitos da faixa etária de 53 a 57 anos desistiram da terapia. Além disso, observou-se um
índice elevado de pacientes viúvos. Evidentemente, dado o tamanho da amostra, as
freqüências observadas em cada uma destas categorias é bastante baixa, exigindo que novas
investigações sejam feitas considerando estas variáveis em amostras maiores.
A análise dos motivos das desistências constantes nos prontuários revelou que a
incompatibilidade de horários entre paciente e terapeuta foi o fator mais referido para
interromper a terapia. Outra possibilidade refere-se a uma regra de funcionamento desta
clínica-escola que consiste em considerar desistência quando o paciente falta mais de duas
vezes. Este critério permite que o indivíduo não explicite a razão de sua desistência, o que é
combinado desde o início que será considerado desinteresse pela terapia.
O contato telefônico não pode ser realizado com todos os sujeitos em virtude de mudanças
ocorridas no sistema telefônico do país. Dos 21 sujeitos atendidos, apenas 4 puderam ser
contactados. Desses 4 sujeitos, apenas 1 pensou na possibilidade de voltar para o
atendimento e o restante, apesar de não manifestar interesse em nova terapia, não se
mostrou insatisfeito com o processo realizado.
Pesquisas internacionais revelam diferentes índices de desistência. Pang, Lum, Ungvari e
Wong (1996) tiveram 50% de desistência com pacientes psiquiátricos em Hong Kong que
haviam sido reconvocados para o tratamento. Em uma tentativa subsequente, 21,7%
aceitaram uma entrevista por telefone sendo que, destes, 41% referiu remissão de sintomas.
Este aspecto é sugestivo de uma possibilidade pouco explorada que é a remissão
espontânea ou aquela conseqüente à passagem do tempo.
Tehrani, Krussel, Borgil, Munk e Jorgnesen (1996) tiveram 26% de abandono também com
pacientes psiquiátricos na Dinamarca. Os motivos alegados foram insatisfação com o
tratamento e não necessitar do mesmo.
Morlino, Martucci, Mursella e Bolzan (1995) observaram 63% de um único
comparecimento dos pacientes e 80% de interrupções após 3 meses.
Alguns estudos recorreram a contratos telefônicos para obter informações mais detalhadas
sobre os motivos das desistências (Pang, Lum, Ungvari e Wong, 1996; Morlino, Martucci,
Mursella e Bolzan 1995). Este recurso não se mostrou útil com esta amostra pois, como
mencionado, as mudanças no sistema telefônico impediram que a maior parte dos contatos
fosse feita. Talvez fosse útil recorrer ao envio de correspondência para obtenção dos dados,
embora este não seja um meio de comunicação usual para boa parte da população.
Com relação ao ocorrido em âmbito nacional, pesquisa realizada com população da mesma
clínica-escola revelou diferentes índices de desistência em diversos momentos do
atendimento: 45,05% antes da triagem, 56,59% no inicio do atendimento e 14,84% no
decorrer da terapia (Oliveira, 1999).
Considerando os aspectos referidos, parece que 9,77% de desistências ocorridas após a 5ª
sessão representa um índice aceitável. Em função do perfil desta amostra ser o mesmo da
amostra maior, não parece haver indicação de tendência ao abandono de qualquer das
variáveis estudadas. Além disso, os motivos alegados nos prontuários não corresponderam
aos relatos por telefone. Embora haja discrepância quanto ao tamanho das duas amostras, é
possível supor, por terem ocorrido em momentos diferentes e alegados a pessoas distintas,
que realmente haveria desacordo entre as informações. Evidentemente, estas suposições
necessitam de outras pesquisas, com amostra maior e consideração de outras variáveis, para
serem verificadas.
De toda forma, por estes primeiros achados, é possível supor que os atendimentos de
psicoterapia breve realizados na Clínica Psicológica da Universidade Presbiteriana
Mackenzie têm se mostrado satisfatórios para a população a qual tem se destinado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: