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Família Narcisista:

Entenda O Impacto E Cure-se


Arte: @sol_cult

"Direitos autorais Taryana Rocha ,2021. Www.taryanarocha.com.br”


Entenda o que é uma família narcisista e como superar seu impacto 3
Onde conseguir informações e apoio 5
Grupo gratuito no Facebook Entre No Seu Poder 5
Playlist de vídeos sobre narcisismo 5
Tratamento psicológico gratuito ou por preços simbólicos 5
Inscreva-se na minha lista de email para receber mais conteúdo assim 5
Apoio especializado em grupo para superar o abuso narcisista 6
Terapia ou consultas avulsas comigo 6
O que é narcisismo? 7
O espectro do narcisismo 9
0-3 9
4-6 10
7 10
8-9 11
10 12
A origem do TPN (Transtorno de Personalidade Narcisista) 13
Porque narcisistas são infantis? Podem melhorar com terapia? 15
Por que narcisistas têm filhos? 16
Como é uma família narcisista? 17
A existência da criança bode expiatório e da criança dourada. 17
Obediência total é esperada/ aprovação é totalmente condicional 18
Você tem que escolher um lado 18
Seus membros costumam sofrer de transtorno de estresse pós-traumático complexo
(TEPT-C) 18
Pisar em ovos 19
Comparação e competição 19
Inversão de papéis 20
Quais são as consequências de crescer numa família narcisista? 20
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático Complexo (TEPT-C) 21
Um sistema nervoso alterado (hiperatividade/ hipoatividade) 21
Zero esperança de que a situação possa melhorar (Desamparo aprendido) 21
Baixa autoestima 22
Tendência a se culpar pelo abuso sofrido 22
Tendência a dissociar e perder o foco do mundo externo 22
Desrealização 22
Despersonalização 23
Amnésia dissociativa 23
Devaneio excessivo 23
Ideação suicida 23
Auto-isolamento 24

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Comportamento destrutivo ou arriscado 24
Experiências onde revivem o trauma 24
Tentativas de evitar qualquer coisa relacionada ao trauma 24
Maior chance de desenvolver um transtorno de personalidade 25
Como se curar dessas consequências e sequelas 25
Seu CVC (Currículo Personalizado de Cura) 29
Como lidar com a culpa de reduzir ou cortar contato 33
Como criar independência emocional e distância psicológica 36
Como se acolher/se maternar 38
Como sair do cativeiro 40
Não sei como lidar com minha família. Quais são as opções? 42

Histórias de superação de filhas de narcisistas - Kenia 43

Glossário de termos narcisistas 44


Abuso Emocional 44
Abuso Narcisista 45
Agressividade Passiva 47
Assobio de cachorro/Dog Whistling 48
Bode Expiatório 48
Campanha Difamatória 50
Cativeiro 50
Chantagem Emocional 51
Ciclo de abuso 52
Codependência 52
Contato Reduzido 54
Contato Zero 54
Controle Mental 56
Criança Dourada 57
Criança Incapaz/Inadequada 58
Criança Invisível 59
Depreciação 60
Desamparo aprendido 60
Descarte 60
Devaneio Excessivo/ Maladaptive Daydreaming/MDD 61
Dissonância cognitiva 62
Distância Psicológica 63
Dog Whistling 64
Espelhamento 64
Facilitador 65
Idealização 66
Injúria Narcísica/ Lesão Narcisista 67

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Fúria narcísica 67
Future Faking 68
Gaslighting 68
Hoovering 70
Invalidação 71
Inversão de papéis 72
Iscagem 72
Lesão Narcisista 73
Love Bombing/ bombardeio de amor 73
Macaco Voador 74
Maladaptive Daydreaming 75
Manipulação 75
MN 75
Narcisista Cerebral 75
Narcisista Comunal 76
Narcisista Grandioso/ Aberto 76
Narcisista Oculto/Vulnerável 76
Narcisista Somático 77
NP 77
Pedra Cinza 77
Projeção 78
PN 80
Reforço Intermitente 80
Stonewalling 81
Suprimento Narcisista 81
Transtorno De Estresse Pós-Traumático Complexo (TEPT-C) 82
Tratamento de Silêncio 83
Trauma-Bonding/ Trauma-bond 83
Triangulação 84

Histórias de superação de filhas de narcisistas - Débora 86

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Entenda o que é uma família narcisista e como
superar seu impacto

Querida leitora ou querido leitor,

Esse livrinho foi preparado com muito amor, muita energia boa e também muita pesquisa. Eu
espero de coração que ele consiga transformar um assunto tão complexo e doloroso em algo
mais simples de navegar e leve de tolerar.

Informação liberta! A auto-educação salvou minha vida inúmeras vezes, tenho certeza que
pode fazer o mesmo por você.

Algumas coisinhas antes de começar:

● Esse livro é dividido em duas partes, uma que explica o que é uma família narcisista e
como superar seu impacto, e outra que é um glossário de termos narcisistas. Sempre
que encontrar uma palavra cujo significado você desconhece, verifique se está no
glossário. Se achar que esqueci de incluir algo essencial, mande um email para minha
equipe por aqui info@taryanarocha.com.br ou neste whatsapp +55 21 99877-7032.
● A maior parte das pessoas que me seguem são mulheres. No entanto, uns 13% são
homens e eu quero incluir todos nessa conversa. Por isso você perceberá que às vezes
eu escrevo como se a pessoa lendo fosse mulher, e em outros momentos como se
fosse homem.
● No meio do livro e antes do glossário tem 2 histórias de superação de filhas de
narcisistas que também foram clientes minhas. É uma honra, um prazer e uma bênção
tão grande fazer parte desses processos de libertação, eu espero que as histórias da
Débora e da Kênia inspire você também!

Eu desejo a você uma leitura gostosa e que você se dê permissão de ser cada vez mais você.

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Onde conseguir informações e apoio

Grupo gratuito no Facebook Entre No Seu Poder

Para que você não fique sem apoio, sugiro que entre no grupo fechado do Facebook Entre No
Seu Poder, pois lá você consegue apoio de milhares de filhas e filhos de narcisistas a qualquer
hora do dia que podem ajudar com seu caso específico:

https://www.facebook.com/groups/1894929164108105/

Playlist de vídeos sobre narcisismo

Também tem minha playlist de vídeos no Youtube aqui:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLBJnhlSaQn3s1Fq3uJLlDgw9VhC1spEUl

Tratamento psicológico gratuito ou por preços simbólicos

Você pode encontrar isso em Clínicas-Escola de Psicologia em São Paulo. Se você estiver em
outro lugar, pesquise escolas de psicologia na sua área que oferecem esse serviço:

http://www.sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/arquivos_comunicacao/Clinicas-Escolas%2
0novo%20(e-mail)%20E-mail.pdf

Inscreva-se na minha lista de email para receber mais conteúdo assim

Se quiser ir se trabalhando com mais conteúdo meu, tenho uma lista de email onde você
recebe algumas lições exclusivas, é só se inscrever aqui:

https://taryanarocha.com.br/inscreva-se/

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Apoio especializado em grupo para superar o abuso narcisista

Se você se identificar com o meu trabalho e quiser focar na sua reprogramação inteiramente
online, individualmente ou em grupo, eu ministro um programa para filhas e filhos de narcisistas
cujo objetivo é começar a realmente transformar essa sensação de impotência e falta de amor.

Isso é possível usando técnicas para identificar o seu Eu Real momento a momento. Com
algumas ferramentas simples que podem ser usadas sempre, você cliente consegue achar seu
poder interior na prática e consegue tomar os passos difíceis que pareciam impossíveis ao
enfrentar o narcisismo.

Ao fortalecer seu Eu Real, você se sente mais capaz de ser você mesma, com cada vez menos
ecos dos traumas.

Esse ensinamento é passado no Workshop Entre No Seu Poder. É um processo pago e dura 9
semanas intensas! O Workshop conta com vários bônus e tem mais informações aqui:

https://taryanarocha.com.br/workshop-entre-no-seu-poder/

Terapia ou consultas avulsas comigo

Em alguns momentos do ano eu abro minha agenda para fazer consultas avulsas sobre
assuntos pontuais relacionados ao narcisismo. Às vezes também posso ter vaga para paciente
de psicanálise regular. Para indagar sobre estas possibilidades e marcar sessão, você pode
entrar em contato através deste email (info@taryanarocha.com ) ou este Whatsapp: +55 21
99877-7032.

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O que é narcisismo?

Na fala popular, o narcisismo tem a ver com vaidade e o foco na aparência.

É verdade que alguns narcisistas usam sua aparência para conseguir atenção a qualquer
custo. No entanto, esse é apenas um perfil de narcisismo, o narcisista somático.

Independente do estilo individual do narcisista, aqui estamos falando de algo específico: o


transtorno de personalidade narcisista, ou TPN.

Um transtorno de personalidade é um padrão de pensamento e comportamento


desadaptativos, bem rígidos e repetitivos.

Isso quer dizer que este indivíduo teria algumas características extremamente marcantes que
também causam mal para ele e para quem se relaciona com ele.

Existem vários transtornos de personalidade, e cada um é marcado por um princípio


organizador. Aquilo que é a motivação principal de quem tem aquele transtorno.

Por exemplo:

Para o psicopata, seu motivo por trás de tudo é controle e domínio absoluto. Ele segue
unicamente as próprias regras e dane-se o mundo. Esse princípio organizador se apresenta em
todas as suas escolhas, seus pensamentos e seus comportamentos. Tudo que ele faz é para
ganhos pessoais sem levar em consideração as consequências dos seus atos.

Já para quem tem transtorno borderline, seu princípio organizador de personalidade é o medo
do abandono.

Grande parte de sua energia é dedicada a tentativas de evitar ser abandonado ou para evitar
que fique sozinho.

Finalmente, no caso de quem tem transtorno de personalidade narcisista, seu princípio


organizador é conseguir suprimento narcisista para manter um senso de identidade e regular
suas emoções.

Por incrível que pareça, tudo que o narcisista faz e pensa tem o objetivo de conseguir esse
suprimento narcisista. Quanto mais grave seu transtorno, mas obcecado ele é por essa busca,
sem qualquer interesse nas pessoas reais que estão oferecendo o suprimento. Elas são
apenas fornecedoras e não têm qualquer outra utilidade.

Suprimento narcisista é qualquer coisa que permite que o narcisista se sinta o centro das
atenções, superior ou sempre "certo".

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● Quando ele engrossa a voz e seus olhos demonstram medo, seu medo é o suprimento
narcisista.
● Quando sua mãe diz que você vai sentir muita culpa se não fizer o que ela quer hoje,
sua culpa é o suprimento narcisista dela e permite que ela controle você.
● Quando sua amiga vive reclamando sobre diversas doenças que aparecem nela, e
parece só falar disso, sua dó e compaixão são o suprimento narcisista dela.
● Monopolizar uma conversa com um monólogo interminável.
● Vestir as roupas mais chamativas para causar ciúmes e medo de abandono no marido.
● Fazer draminha quando os outros estão felizes e não estão incluindo o narcisista na
brincadeira.
● Difamar filhos para toda a família quando desobedecem.

Todos esses comportamentos são tentativas de conseguir algum tipo de suprimento narcisista!

Seu medo, sua culpa, sua vergonha, sua desistência, sua frustração, seu fracasso, seu tempo,
sua energia, a infelicidade dos outros, poder, status, dinheiro, aplausos, atenção, dó,
compaixão, cuidados, mimos, inclusão social forçada, bajulação…todas essas coisas são
suprimento narcisista.Narcisistas são, portanto, pessoas obcecadas em conseguir essas
coisas.

Existem várias literaturas que descrevem esse transtorno. Se utilizarmos o livro DSM-5, da
Associação Americana de Psiquiatria, vemos que para diagnosticar o TPN, os pacientes devem
ter um padrão persistente de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia.

Esse padrão se caracteriza por ≥ 5 dos seguintes:

● Uma sensação exagerada e infundada da sua própria importância e talentos


(grandiosidade).
● Preocupação com fantasias de realizações ilimitadas, influência, poder, inteligência,
beleza ou amor perfeito.
● Convicção de que eles são especiais e únicos e devem associar-se apenas com
pessoas do mais alto calibre.
● Necessidade de ser incondicionalmente admirado ou de ser o centro das atenções.
● Uma sensação de merecimento no sentido de que as regras não se aplicam a eles. São
especiais e merecem, naturalmente, mais mimos do que os outros.
● Exploração dos outros para alcançar objetivos próprios.
● Falta de empatia.
● Inveja dos outros e convicção de que os outros os invejam.
● Arrogância, soberba.

Além disso, os sintomas devem ter se manifestado no início da idade adulta ou antes.

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É importante entender que qualquer pessoa pode ter o transtorno de personalidade narcisista.
Homens, mulheres, líderes religiosos, celebridades, mães, pais, filhos, chefes, ricos, pobres,
amigas...realmente qualquer pessoa! Algumas dessas pessoas se tornam pais, porém já
tinham o transtorno antes deste evento.

O espectro do narcisismo

Todos nós temos traços narcisistas. O problema não é ter um ou outro traço, é quando sua
personalidade inteira é tomada por esses comportamentos e você é incapaz de modificá-los,
mesmo quando isso causa sofrimento para si e para os outros.

Outro fato interessante é que existe narcisismo saudável. Em muitos casos, o indivíduo
apresenta uma falta desse tipo de narcisismo, o que também não é legal.

Uma terceira questão é que o narcisismo acontece num espectro. Algumas pessoas são mais
narcisistas e outras menos. Uma mesma pessoa pode subir e descer sua pontuação nesse
espectro em resposta a certos eventos.

Por exemplo, uma mulher que tem TPN perde sua fonte de suprimento narcisista principal: seu
marido que acaba de falecer. Nos meses ou anos que seguem, seu narcisismo pode escalar
até mesmo atingir níveis sociopatas.

Na mesma medida, quem tem fortes traços narcisistas, mas não o transtorno de personalidade,
pode se trabalhar e descer no espectro do narcisismo.

Exige tempo, muito esforço e disponibilidade em mudar comportamentos. Eu já vi acontecer e a


pessoa realmente aprende a se relacionar mais respeitosamente. Ela continua sendo
autocentrada, mas passa a assumir responsabilidade por si e demonstrar mais empatia.

Isso já não parece acontecer quando a pessoa já tem o transtorno de personalidade. Não
existe, neste momento, nenhuma terapia reconhecida que realmente faça os sintomas do TPN
entrarem em remissão ou descerem no espectro do narcisismo. Uma vez que a pessoa chega
no ponto crítico do espectro onde já tem um transtorno de personalidade: distancie-se! Esses
padrões provavelmente não vão melhorar.

E qual é esse ponto que define o início de um transtorno de personalidade? Se usarmos o


trabalho do Craig Malkin, podemos imaginar uma régua que pontua desde 0 a 10.

0-3

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Pessoas cujo narcisismo pontua entre 0 e 3, carecem de narcisismo saudável. Elas não
conhecem seus próprios valores, vontades, necessidades ou sonhos.

Elas não acreditam em si, em nada que pensam ou fazem. Têm baixíssima autoestima e não
se sentem merecedoras das coisas que acreditam que qualquer outro ser humano mereceria.
Estes indivíduos não pedem ajuda e não aceitam atenção, nem mesmo quando faz sentido
receberem um pouco a mais, como no funeral do próprio filho, ou no dia de aniversário.

4-6

Já pessoas que pontuam entre 4 e 6 no espectro demonstram o tal do narcisismo saudável.


Essas pessoas validam seus próprios estados internos. Se estão tristes, com raiva ou mal de
qualquer jeito, se acolhem. Se estão cansadas, cuidam de si e de sua saúde e qualidade de
vida. Se estão sobrecarregadas, pedem ajuda.

São indivíduos que acreditam na sua sabedoria interna e aceitam que cada pessoa é única.
Por isso, se permitem ser exatamente como são.

Por acharem que têm valor, elas acreditam nos seus próprios sonhos e ideias. Elas apostam
em si, mesmo que outras pessoas não apostem. Ao mesmo tempo, sabem se cercar de uma
rede de apoio composta por pessoas que realmente as amam.

Estes indivíduos conseguem experimentar fracassos e erros sem desmoronar. Eles não levam
essas coisas para o lado pessoal e se perdoam rapidamente, afinal, não acham que um erro
significa que perderam todo valor! Simplesmente faz parte do processo.

Narcisistas saudáveis não precisam fingir falsa modéstia, podem falar muito bem daquilo que,
de fato, fazem bem. Simultaneamente, se empolgam com o sucesso dos outros e sabem
quando estão passando dos limites ao se gabarem do seu.

Não são pessoas arrogantes, e sim confiantes. Não são pessoas hostis e controladoras, e sim
líderes que inspiram os outros a darem o melhor de si.

Até podem buscar os holofotes ou os palcos. Se o fazem, geralmente é com ética e um foco
específico em contribuir para a humanidade de algum jeito positivo.

Quando chegamos na pontuação 7 no espectro do narcisismo já estamos lidando com um perfil


tóxico. No entanto, o 7 ainda pode se trabalhar e descer para um 6.

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Pessoas que pontuam 7 são autocentradas a ponto de faltar empatia com outras pessoas de
forma semi-regular. No entanto, diferente de quem tem o TPN, elas têm a capacidade de
insight e conseguem perceber seu comportamento e também modificá-lo.

São sensíveis a crítica e não gostam de perceber seus erros. Podem não ter maturidade,
inicialmente, de receber uma crítica. Ainda assim, é possível perceber que elas processam
essa informação a sós e vão mudando, aos poucos, suas atitudes.

Quem pontua no 7 pode ter problema em regular suas emoções, particularmente sua raiva.
Para elas, a energia é intensa demais para ser domada. Por isso, não se importam em punir os
outros com essa raiva.

Quem lida com esse perfil se vê tendo que pisar em ovos para não enfrentar surtos de fúria
narcísica.

Com o tempo e trabalho, o narcisista 7 aprende a regular sua raiva e comunicar melhor suas
necessidades. Ele ou ela consegue assumir responsabilidade pelas suas respostas emocionais
e pelos seus comportamentos com os outros. Claro, isso só é possível se a pessoa optar por
fazer esse trabalho de transformação.

8-9

Quem pontua entre 8 e 9 no espectro do narcisismo se encaixa no transtorno de personalidade


narcisista.

Essas pessoas falham, sistematicamente, em reconhecer o direito a uma existência individual


que cada pessoa tem. Isso acontece porque pessoas com TPN não se relacionam com
pessoas reais, e sim com suas fantasias internas.

O processo ocorre assim: ao conhecer alguém novo, o narcisista tira uma foto mental dessa
pessoa e a partir desse momento não se relaciona mais com a pessoa física, e sim
exclusivamente com a imagem interna.

Lembra que narcisistas sentem um vazio interno gigante? Lembra que, também sentem uma
profunda sensação de serem inadequados? Foi por isso que brotou a necessidade de se
acharem especiais, superiores, merecedores de obediência e dos recursos alheios. Para
manter essa auto-imagem, eles precisam que você seja aquilo que eles definem.

Por exemplo:

Quando narcisistas começam um relacionamento amoroso eles passam pela fase inicial
chamada idealização.

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E nesse período ocorre o bombardeio de amor e eles derramam abundantes quantidades de
atenção e afeto nas suas futuras vítimas.

Eles já não estão se relacionando com as pessoas físicas em si, e sim com sua imagem interna
dela.

Como narcisistas precisam se enxergar como perfeitos, precisam que a pessoa com quem se
relacionam seja perfeita também. Afinal, se eles são tão superiores, não dariam seu tempo
para qualquer um.

Eles entram num estado de semi-psicose onde barram, por um momento, qualquer percepção
de defeitos do novo parceiro amoroso. Esse novo parceiro precisa ser incrível só para fazer
eles parecerem incríveis.

A fantasia começa a ruir quando a pessoa real não segue o roteiro, do qual ela nem tem
ciência. Quando ela age como um ser humano com defeitos e vontades próprias, a bolha de
fantasia do narcisista estoura e os abusos se escalam.

Você, filha ou filho, também existe apenas como uma função do ego do narcisista. Conforme o
estado interno deles manda, a sua função vai mudando para dar uma regulada nesse caos.

Dentro da família narcisista os papéis que o narcisista precisa que os filhos assumam são o de
bode expiatório e criança dourada. Para entender melhor essa dinâmica, pesquise essas
expressões na parte do glossário, junto com "criança inadequada" e "criança invisível".

Lá você entenderá como cada criança serve para fazer o narcisista se sentir bem sobre si
mesmo, e como nenhuma delas tem o direito de existir tal qual é.

10

O narcisista que pontua no 10 já atinge o nível de um psicopata.

Para entender melhor, o psicopata se sente o deus do universo. Ele cria as regras que vai
seguir e não quer se submeter a nada nem ninguém. Ele vê o mundo como uma selva perigosa
dividida em dois tipos de pessoas: caçador e presa.

Se a realidade é assim, ele assume alegremente a posição de caçador e culpa as presas por
serem fracas, burras e inferiores. Elas merecem o sofrimento que passam e tudo o que ele faz
é justificado.

Imagine um perfil assim, ativamente predatório, que ainda tem uma necessidade compulsiva de
chamar atenção e angariar aplausos. Pense num líder de uma seita ou mesmo um líder
religioso tradicional, por exemplo. Este indivíduo ativamente busca posições de poder e

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influência e ainda usa a aparência de bonzinho para conseguir bajulação pública e encobrir
seus atos.

Este perfil se sente tão absurdamente superior e no direito de fazer o que quiser que se
alimenta ativamente das vulnerabilidades de quem estiver no seu caminho, e ainda exige
aplausos.

É o jogador de futebol que estupra rotineiramente porque sabe que não será punido...e adora
estar na mídia e nos comentários alheios.

Ou o CEO que passou a perna em várias pessoas e busca sempre uma posição de maior
status, custe o que custar.

A origem do TPN (Transtorno de Personalidade Narcisista)

O transtorno de personalidade narcisista costuma ser gerado mais por fatores ambientais do
que genéticos. É claro que a genética sempre executa um papel no temperamento humano. No
entanto, percebemos que o narcisismo patológico é, em grande parte, aprendido e repassado
de geração em geração.

Especificamente, deficiências na maturidade e no senso de eu da mãe ou do pai fazem com


que a criança não receba os cuidados emocionais que precisa.

Existem diferentes caminhos até o narcisismo, mas todos têm uma coisa em comum: a rejeição
do Eu Real da criança.

No caso dos narcisistas ocultos, eles costumam ter sofrido abusos psicológicos, físicos e, às
vezes, sexuais. Essas crianças recebiam críticas constantes, nada do que elas faziam tinha
valor. Sua mera existência era tratada como uma ofensa.

Elas ouviram que nunca seriam pessoas dignas e que eram culpados pela infelicidade dos
outros. Foram xingadas e humilhadas repetidas vezes e não tiveram o direito de ser quem são.

Se sentindo injustiçadas, invisíveis e cheias de dor: acabam se identificando completamente


com a posição de vítima que tem direito de se vingar do mundo. O mundo, nesse caso, é
qualquer pessoa, mesmo que não tenha feito mal diretamente ao narcisista oculto. Não existe
discriminação, toda a existência é culpaso pela dor do narcisista!

É importantíssimo observar que, como disse Paulo Freire:

"O sonho do oprimido é ser o opressor. "

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O narcisista oculto é um perfeito exemplo disso. Tendo sido vítima, se apodera do direito
absoluto de vitimizar quem quiser.

Já em outros casos de narcisismo a criança recebe demasiada bajulação e não tem que
assumir responsabilidades por nada. Ela é posta num pedestal de forma tão surreal que, no
fundo, ela sabe que ela não está sendo amada por quem realmente é.

Dizem para ela que nasceu mais inteligente, bonita ou especial do que outras crianças. Ela
recebe mensagens constantes sobre como não terá que passar por certas coisas que seus
pais tiveram que passar. É tratada como a realeza e não recebe limites.

Uma hora ela passa acreditar que realmente nasceu, inerentemente, superior. Se todo seu
sistema familiar reflete isso, como não acreditar?Então ela passa a esperar esse tipo de
bajulação mesmo fora de casa na sua fase adulta sem ter que fazer esforço para consegui-lo.

Esse narcisista parte do pressuposto que sua superioridade natural é o suficiente para garantir
aplausos e tratamento especial e honestamente se choca quando não recebe isso.

Existe, no entanto, uma lacuna entre quem os pais disseram que o narcisista era, e o que suas
conquistas reais, de fato, mostram. O narcisista percebe essa lacuna mas usa sua
grandiosidade e distorção da realidade para evitar realmente contemplá-la.

Em outros casos ainda, a criança não recebe carinho ou calor humano. Simultaneamente, sua
criação é extremamente rígida e as expectativas são altíssimas.

Nessas famílias a criança deve refletir perfeitamente os desejos dos pais. Ela serve para
realizar os sonhos que os eles não realizaram. Assim, ela é instrumentalizada e e não tem
permissão de seguir o próprio caminho.

Aos poucos, ela abre mão de si mesma para assumir o papel que lhe fornecerá aprovação
parental. Na fase adulta, se confunde com aquilo que faz e não sabe ser autêntica, sempre
usando uma máscara de sucesso para conseguir suprimento narcisista.

Em todos esses casos o Eu Real da criança nunca foi validado. Ela fica esperando perceber
que é amada pelos pais para, então, se dar permissão de se amar. Se não existe essa
percepção de ser amada e especial para seus pais, a criança não consegue aceitar a própria
essência.

Quando uma criança é rejeitada, negligenciada, instrumentalizada para satisfazer os desejos


dos pais, ou bajulada sem limites...ela nunca conhece a real pessoinha que ela é. Tendo que
rejeitar a si mesma, ela preenche o vazio se achando superior e sempre "certa".

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No caso de narcisistas, se torna necessário mentir para si e para os outros constantemente
para manter uma ilusão de superioridade. Por isso, a fantasia, a projeção e a racionalização
fazem parte dos mecanismos de defesa preferidos do narcisista.

Porque narcisistas são infantis? Podem melhorar com terapia?

Qualquer pessoa que convive com um narcisista percebe como suas respostas emocionais são
infantis.

Narcisistas fazem birra, gritam para chamar atenção, xingam, batem, se fazem de coitadinhos e
outras atitudes que crianças pequenas costumam ter quando querem comunicar uma
necessidade.

A idade emocional de narcisistas diverge da sua idade cronológica. Mesmo que envelheçam,
eles não amadurecem. É perturbador observar como alguns podem, inclusive, se tornar cada
vez mais infantis com a idade.

A razão é que os narcisistas empacaram num estágio de desenvolvimento psicológico muito


primitivo, provavelmente devido a trauma. Da mesma forma que se um corpo não recebe
nutrientes ele pode ficar subdesenvolvido, se a psique não recebe nutriente emocional e
psicológico ela também pode ficar subdesenvolvida.

Quando uma criança cresce com cuidadores "suficientemente bons " (Winnicott, 1971) ela
recebe validação e calor humano. Suas emoções não são minimizadas ou ridicularizadas. São
ouvidas e levadas em consideração.

Elas conseguem atravessar estágios cada vez mais evoluídos de desenvolvimento psicológico.
O que possibilita a passagem para outro estágio é a satisfação das necessidades da criança no
estágio atual. Se essas necessidades não são satisfeitas, elas ficam armazenadas no
inconsciente do indivíduo em forma de trauma.

É como se aquele momento do trauma fosse internalizado num pequeno filme mental que o
inconsciente repete diante de qualquer gatilho futuro. Esse pequeno filme captura o estado
psicológico da criança que sofreu o trauma. O jeito dela de enxergar o mundo, de sentir e reagir
fica gravado de acordo com a idade da criança.

O ser humano não consegue amadurecer até essa criança interna receber o que precisava ter
recebido na infância. Essa é a base da terapia: é possível, hoje, criar condições de satisfazer
as necessidades emocionais da criança ferida que existe dentro de todos nós. Dessa vez, um
terapeuta treinado e não uma mãe ou um pai narcisista receberia a dor da criança interna com
amor e acolhimento.

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15
Na relação terapêutica uma segunda chance é dada a essa criança de forma que ela possa,
finalmente, crescer e passar de estágio de desenvolvimento. Isso, junto com treinar e assumir
novas responsabilidades, resulta em atitudes mais adultas.

Narcisistas sofreram uma frustração no desenvolvimento normal e ficaram presos na psicologia


infantil. O problema é que eles se acham únicos e especiais demais para serem ajudados por
um mero terapeuta. No caso do narcisista grandioso, ele não vê problema nenhum com seu
comportamento e realmente acha que é melhor que os outros.

Em todo caso, eles não têm qualquer motivação de mudar comportamentos que, claramente,
funcionam muito bem para extrair suprimento narcisista e manter tudo como está. Estes perfis
não costumam buscar terapia, e quando o fazem, geralmente é por pressão de terceiros.

Neste momento não existe nenhuma terapia validada para o manejo exitoso do TPN. A questão
não é unicamente o método, e sim o fato que narcisistas são excepcionalmente resistentes à
mudança e o próprio transtorno impossibilita a capacidade de confessar que eles têm algum
problema.

Por que narcisistas têm filhos?

Como narcisistas têm empatia limitada e um padrão de explorar os outros para ganhos
pessoais, isso se estende para seus filhos também. Na prática, significa que eles têm filhos
para atingir objetivos pessoais, não pela experiência de conhecer a pessoa que o filho é em si.

Os objetivos são vários, entre eles:

● Conseguir fugir de uma família tóxica através de uma gravidez e um casamento.


● Criar um laço ou uma dependência com o pai ou a mãe da criança para forçar um
relacionamento, mesmo que este não queira.
● Moldar um pequeno ser humano para suas necessidades emocionais e financeiras a
curto e longo prazo.
● Treinar esta pessoa a ser e fazer tudo que a mãe ou pai narcisista deseja. Assim, eles
receberam atenção, amor e obediência ilimitados, como sentem que merecem.

É por isso também que pais narcisistas chantageiam emocionalmente mencionando o que
fizeram para criar seus filhos. Eles enxergam isso como um investimento que gera uma dívida.
Por isso, acham que seus filhos têm obrigação, sim, de ser e fazer o que eles mandam.

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Como é uma família narcisista?

Em famílias onde há um cuidador principal que tenha o TPN, ou mesmos fortes traços
narcisistas, existem alguns padrões. É interessante observar que estes padrões se repetem
mesmo que seja em países diferentes ou entre famílias de classes diferentes. A seguir, alguns
padrões comuns onde há pelo menos uma mãe ou um pai narcisista.

A existência da criança bode expiatório e da criança dourada.

Nessas famílias há um filho preferido e um que serve de saco de pancada coletivo. O filho
preferido é a criança dourada, que é escolhida para refletir perfeitamente os desejos dos pais
narcisistas. É como se ela fosse o mascote treinando deles.

Ela existe porque o ego narcisista necessita de comprovação externa de que ele é o máximo. A
função da criança dourada é abdicar da sua personalidade real para se tornar o que fizer seus
pais narcisistas se sentirem bem consigo mesmos. Para conhecer mais detalhes sobre a
criança dourada, visite o glossário.

Além disso, o ego narcisista também precisa de um saco de pancada. Esse saco de pancada é
um recipiente de toda a projeção da sombra do narcisista.Quem preenche este papel é o bode
expiatório. Ele permite que todos o culpem por questões que não têm nada a ver com ele.
Assim, ninguém que realmente cometer um erro precisa assumir isso e toda a família finge que
o problema é sempre o bode expiatório. Para conhecer maiores detalhes sobre o bode
expiatório, visite o glossário.

Fora essas duas funções, existem também a criança invisível e a criança inadequada. No
entanto, não são papéis obrigatórios na composição familiar narcisista. Para conhecer esses
papéis mais profundamente, visite o glossário. Aqui deixarei um breve resumo:

A criança invisível não tem nenhuma função específica para o ego narcisista. Já existe o bode
para culpar e detestar, e a criança dourada para pôr num pedestal. A criança invisível acaba
sendo exatamente isso, invisível. Ela não é mencionada, ela é excluída e às vezes os amigos
da mãe ou do pai narcisista nem sabem que este filho existe!

Já no caso da criança inadequada, o destino dela é outro. O narcisista vê nela a oportunidade


de criar uma dependência duradoura, perfeita para o fornecimento de suprimento narcisista.
Para isso, esta criança é tratada como sendo extremamente frágil, com vários tipos de déficits,
incapaz de amadurecer normalmente.

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Ela é a doentinha, a "lerdinha", que não consegue fazer nada e precisa que mamãe e papai
façam por ela. Ela é treinada a acreditar que nunca se tornará uma pessoa adulta normal em
autônoma.

Para finalizar, em famílias onde há um filho único, ele mesmo deverá preencher todos os
papéis.

Obediência total é esperada/ aprovação é totalmente condicional

Toda família tem histórias a respeito de si mesma. Da mesma forma que a criança dourada e o
bode expiatório fazem parte da narrativa da família narcisista, existem padrões que são
definidos pelo sistema familiar e que deverão ser obedecidos. Esses padrões familiares podem
ser vários, por exemplo:

● Todo mundo tem que ir para igreja.


● Todos têm que cuidar emocionalmente da mãe solitária e amarga.
● Todos têm que agradar o pai narcisista psicopata.
● Todos têm que ser amargos e frustrados na vida.

Não existe tolerância para qualquer tentativa de desviar dos padrões estabelecidos. Os
membros da família que tentarem fazer isso serão difamados, punidos ou descartados.

Você tem que escolher um lado

Narcisistas mentem e jogam as pessoas umas contra as outras para se sentirem vivos e no
controle. Assim, para conseguir a aprovação e o amor da pessoa narcisista você precisa ser
inimigo dos seus inimigos também. Mesmo que isso signifique se distanciar de quem você ama,
mas o narcisista não aprova.

Seus membros costumam sofrer de transtorno de estresse pós-traumático


complexo (TEPT-C)

O TEPT-C é uma resposta psicológica e fisiológica a experiências traumáticas repetitivas e


prolongadas, sem esperança de salvação. Este transtorno será explicado a fundo mais adiante,
ou você pode visitar o glossário agora

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Pisar em ovos

Uma experiência muito comum de quem vem de família narcisista é a sensação de pisar em
ovos. Dá a impressão que, a qualquer momento, algo caótico vai acontecer. Muitas vezes, é
difícil para as crianças entenderem quais são as regras a serem seguidas. O que elas têm que
fazer para evitar esse caos? Isso cria um clima emocional de insegurança. O lar familiar não
representa, na prática, um porto seguro.

Quando se pensa em reuniões familiares, em vez de sentir empolgação e segurança, a pessoa


já fica tensa e às vezes nem consegue entender direito o porquê. Na fase adulta, percebemos
que muitos filhos de narcisistas não sabem estar tranquilos, não sabem ter relacionamentos
saudáveis, pois precisam da constante ameaça de perigo. Alguns não sabem trabalhar sem se
cobrar coisas desumanas. Precisam ser workaholic para sentir o estresse rotineiro. Parece que
buscam caos e drama para voltar ao padrão familiar.

Comparação e competição

Ninguém pode ser simplesmente quem se é na família narcisista. A pessoa tem que se sentir
superior ou inferior em comparação a alguém:

"Porque você não pode ser como seu irmão?"

"O filho do vizinho fez assim e não assado..."

"Eu na sua idade já conseguia fazer não sei o quê..."

"Sou mais velha! Mereço mais disso ou daquilo!"

Quando a gente se sente bem na nossa essência, a ação é de dentro para fora. Nossas
motivações e propósitos borbulham do coração, do interior. Isso dá uma força tão grande!
Quando você age a partir de um saber interno, parece que todo o universo oferece apoio.

No entanto, isso só é possível se você tem permissão de entrar em contato com sua própria
essência e expressá-la, e lembre-se, o narcisista não quer que isso aconteça. O abuso
narcisista visa, especificamente, apagar o senso de eu e a autonomia do outro.

Não conseguindo acessar a sua própria essência, narcisistas só conseguem mensurar valor a
partir de padrões externos e comparações. Quando a gente se treina a olhar para dentro,
percebe que lá existe um oásis de força, amor, paciência, beleza e nutrição para a alma.

Quem faz questão de se comparar com algo externo, sempre vai achar alguém melhor ou
superior. Por isso, simplesmente não é seguro derivar um senso de identidade ou autoestima a

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partir de comparações. Quanto mais uma pessoa tenta ser feliz vestindo a máscara que os
outros querem, menos ela simplesmente pergunta para o seu coração:

"O que me faz feliz, de fato?"

Agora, barrar esse olhar para fora e se treinar a, sistematicamente, se acalmar, se centrar e
perguntar para o seu interior:

"Me mostre o caminho para minha real essência e felicidade."

Isso, sim, gera confiança, paz interior, e senso de Eu.

Inversão de papéis

Em famílias saudáveis existe uma consciência de que as crianças são particularmente


vulneráveis e precisam que suas necessidades sejam cuidadas por adultos. A família cria um
ambiente nutritivo para o desenvolvimento daquele pequeno ser totalmente dependente.

Já na família narcisista, é a mãe ou o pai narcisista que exige atenção e as necessidades das
crianças ficam em segundo lugar. Isso acontece de diferentes formas:

● Através do incesto emocional, onde os pais narcisistas usam seus filhos de "esposa ou
esposo postiço". A criança tem que ouvir histórias com conteúdo maduro, ser uma
pequena psicóloga e lidar com questões que ela não tem nem estrutura de entender ou
remediar.
● Através de cobranças desmedidas para a idade da criança. Por exemplo, existe uma
diferença entre uma criança mais velha ajudar com o irmão mais novo e ter que criar,
quase sozinha, este irmão quando os pais têm condições de estar presentes mas
escolhem não fazê-lo.
● Através da priorização dos caprichos narcisistas em detrimento da saúde da família.
● Etc.

Entenda, não estou dizendo que não possa fazer sentido para uma criança ajudar os irmãos
mais novos, acolher a mãe ou se mudar, é claro que pode. Estou falando de casos onde isso
acontece sistematicamente e sem levar em consideração até onde impacta nas crianças.

Quais são as consequências de crescer numa família narcisista?

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O Transtorno de Estresse Pós-Traumático Complexo (TEPT-C)

O TEPT-C é uma resposta a trauma prolongado, onde a vítima não tinha nenhuma esperança
de escapar.

Exemplos de pessoas propensas a desenvolverem esse transtorno são:

● Crianças em ambientes familiares disfuncionais.


● Prisioneiros de guerra.
● Escravos sexuais.
● Crianças que sofrem pedofilia a longo prazo.
● Pessoas criadas em ambientes de extrema instabilidade política e social crônica.
● Pessoas em locais onde há condições climáticas extremas e impiedosas por longos
períodos de tempo.

A seguir, uma breve descrição dos sintomas do TEPT-C.

Um sistema nervoso alterado (hiperatividade/ hipoatividade)

A pessoa ou sente demais e tem dificuldade em regular suas emoções, ou não sente nada ou é
apática. Para algumas pessoas, suas respostas emocionais são enormes, demora para voltar
ao normal, e o seu padrão pessoal de normalidade já é um desvio do padrão geral.

Umas dissociam imediatamente diante de qualquer emoção difícil e entram no mundo de


devaneio, mesmo não querendo. Podem ficar nesse mundo horas.

Outras não têm acesso às suas emoções, não conseguem chorar, sentir raiva ou mesmo muito
prazer. Por dentro parece que não tem movimentação.

Zero esperança de que a situação possa melhorar (Desamparo aprendido)

De tanta frustração contínua, a pessoa se convenceu de que sua situação nunca mudará.

Se ela sente depressão, acha que não tem como melhorar. Se ela tem ansiedade social, não
vê qualquer possibilidade de que, um dia, possa se sentir confortável nessa área de sua vida.
Se ela é dependente emocional ou financeira, não acredita que se tornará independente. A
pessoa que tem TEPT-C tem dificuldade em enxergar um futuro diferente do presente.

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Baixa autoestima

Diferente de quem tem apenas transtorno de estresse pós-traumático simples, a versão


complexa afeta a visão de si e do mundo que o indivíduo tem

Por exemplo, uma pessoa que é sequestrada pode ter o gatilho de sempre achar que isso pode
acontecer novamente. Ela pode reviver o momento através de flashbacks e respostas
emocionais intensas. No entanto, ela não passa acreditar que ela não tem valor enquanto
pessoa. Ela não passa a se enxergar como inadequada e inútil. Ela não é preenchida de
vergonha e da sensação de ter nascido torta.

Ela simplesmente tem medo e ansiedade elevada. Sua autoestima permanece intacta. Já no
caso do TEPT-C, o indivíduo se acha sem valor e não merecedor.

Tendência a se culpar pelo abuso sofrido

O TEPT-C cria uma resposta bizarra de sobrevivência chamada trauma bonding ou trauma
bond. Sabe aquela história de síndrome de Estocolmo, onde as reféns se apaixonam por seus
sequestradores? Pois é, quando a pessoa está em estado constante de perigo e não sabe
quanto vem o próximo golpe, ela acaba se apegando demasiado a qualquer migalha de amor.

Abusadores usam uma tática chamada reforço intermitente. Eles intercalam longos períodos de
abuso ou negligência com umas migalhinhas aqui e ali de momentos bons. Isso confunde a
vítima, que supervaloriza aquela migalha e esquece que aquilo não é nem o mínimo que um
ser humano precisa.

Ela passa a enxergar o abusador como uma pessoa benéfica, e se culpa por ter duvidado da
qualidade da relação. Ela puxa para si toda a responsabilidade daquilo que dá errado na
dinâmica e sente que, de certa forma, deve ter merecido aquele tratamento mesmo.

Tendência a dissociar e perder o foco do mundo externo

Dissociação é uma tentativa do cérebro de diminuir a percepção de dor. A mente pensa: "se eu
conseguir desconectar a mente do corpo, essa pessoa não precisa sentir tanto. "

Alguns tipos de dissociação são:

Desrealização

A sensação de que o mundo externo não é real, não existe ou está distorcido.

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Despersonalização

A sensação de que a pessoa está desconectada de si mesma, que não tem eu, como se fosse
um fantasma. Ela não vê a vida a partir dos seus olhos e sim a partir dos olhos de uma terceira
pessoa, como se estivesse assistindo um filme.

Amnésia dissociativa

A incapacidade de lembrar informações importantes sobre si mesmo, que normalmente uma


pessoa lembraria.

Vai além de esquecer onde colocou as chaves ou não lembrar detalhes de um evento. Na
amnésia dissociativa a pessoa esquece informações pessoais como seu próprio nome ou
endereço, ou então tem lacunas onde não lembra nada de períodos inteiros da sua vida.

Essa condição pode durar alguns minutos ou toda uma vida. Precisa ser grave o suficiente para
prejudicar o indivíduo na sua vida cotidiana para ser diagnosticado.

Devaneio excessivo

A tendência a ter um mundo de fantasia que distrai tanto que a pessoa não só deixa de fazer
coisas importantes, como se refugia nele quando deveria estar prestando atenção na realidade.

É mais do que se perder em devaneios, sonhar acordado. É uma resposta defensiva pelo fato
de que é ativado por desafios externos ou internos, bem como outras coisas como música.

Por exemplo:

Maria, uma cozinheira, consegue um emprego novo.

Como muitas pessoas que têm devaneio excessivo, ela também tem ansiedade social. Maria
tenta focar nos processos da cozinha mas ela acaba cometendo um erro e sente uma vergonha
tão absurda que não consegue sair do devaneio todo o resto do dia.

Isso impacta a vida real dela de forma concreta porque ela passa a errar todos os pedidos dos
clientes depois desse momento.

Ideação suicida

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O indivíduo acredita que nenhuma mudança no seu estado é possível. Por isso, não acha
razão para continuar vivendo.

Auto-isolamento

A pessoa passa a ter tanta dificuldade em socializar que prefere se exilar da sociedade. Aqui
estão alguns possíveis caminhos que podem levar a isso:

● Ela tem ansiedade social ou transtorno de personalidade esquiva e se sente muito


envergonhada para socializar.
● Ela não confia em ninguém, acha muito esforço fazer contato humano e mesmo que
uma vida sem relações não satisfaça, não vê saída se não se isolar.

Comportamento destrutivo ou arriscado

Alguns exemplos de comportamentos autodestrutivos são:

● Automutilação, se machucar fisicamente para tentar aliviar dor emocional.


● Se colocar em situações de perigo, não refletir e buscar estímulos impulsivamente e
acabar se machucando.
● Abuso de drogas ou álcool.
● Sexo desenfreado usado para evitar dor emocional ou solidão.

Experiências onde revivem o trauma

Alguns exemplos de reviver o trauma são:

● Pesadelos.
● Flashbacks, seja da memória do evento ou das sensações e desconfortos físicos.
● Pensamentos intrusivos e repetitivos.
○ Aqui pode haver o desencadeamento do devaneio excessivo com cenas
repetitivas envolvendo temas do trauma.
● Interpretar situações inofensivas como sendo perigosas, pois elas lembram o trauma
original, e reagir a elas como tal.

Tentativas de evitar qualquer coisa relacionada ao trauma

O indivíduo faz esforços para não ter que lidar com qualquer coisa que possa relembrar o
evento traumático. Ele evita falar do assunto, passear por aquele local, se distrai com trabalho

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excessivo ou hobbies. Algumas pessoas evitam sentir qualquer coisa e se tornam amortecidas
por dentro.

O que podemos falar do impacto da experiência repetitiva de trauma a longo prazo é que ela
facilita o desenvolvimento de todos os transtornos de humor, como depressão, ansiedade e
bipolaridade.

Maior chance de desenvolver um transtorno de personalidade

Existem estudiosos que acreditam que os transtornos de personalidade nada mais são do que
diferentes variantes de uma coisa só: resposta a trauma prolongado na infância.

A partir desse ponto de vista, tudo é TEPT-C, porém com traços disso ou aquilo. Um
diagnóstico poderia ser algo tipo: TEPT-C com traços esquivos e esquizóides.

Nesse caso, estaríamos lidando com um indivíduo que, além de apresentar os sintomas do
TEPT-C, também tem uma estrutura de personalidade consistentemente esquiva e esquizóide.

Eu compactuo deste ponto de vista porque, além de ser mais fácil entender os transtornos de
personalidade, também permite uma maior flexibilidade no diagnóstico.

Nessa lógica, dá para ver que quem vem de família narcisista naturalmente tem grandes
chances de também desenvolver um transtorno de personalidade, ou pelo menos traços fortes.

Como se curar dessas consequências e sequelas

O estudo da psicologia é tão vasto e tem tantas abordagens de cura diferentes, algumas
convencionais outras alternativas, outras ainda uma mistureba...seria arrogante sintetizar isso
num método para ajudar filhos de narcisistas a se curar? O assunto não é enorme demais?

Eu não pretendo fingir que eu sei de todas as coisas e que eu saberia resolver seus problemas.
O que ofereço aqui é um resumo de um longo processo pessoal e profissional que me levou a
acreditar que existe um mecanismo específico que leva à superação do abuso narcisista.

O mecanismo é simples de entender. Se a consequência do abuso narcisista é que a vítima


abre mão do seu Eu Real em prol do vínculo com o narcisista, então toda atitude alinhada com
o Eu Real (mesmo correndo o risco de perder o vínculo) é a solução. Em outras palavras:
quanto mais você entrar em contato com e expressar sua real natureza, mais você supera o
abuso narcisista.

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Para fazer isso, existem vários caminhos. Terapia ajuda, meditação, escrever suas emoções
num diário até ir fazendo sentido delas, yoga, dança ou outro exercício físico, auto-massagem,
técnicas de respiração, etc., todas essas coisas são exemplos de ferramentas que permitem
que você comece a tomar as rédeas dos seus estados emocionais.

O momento de usar essas ferramentas é, convenientemente, sempre que necessário. Aqui


está um exemplo de como usar o contato com seu Eu Real para resolver um desafio.

Imagine que você tem uma parceria de trabalho com uma pessoa com quem não se dá bem, e
está chegando num ponto de não tolerar mais, pode sentir uma certa angústia. Ao perceber
esta emoção pesada, você lembra que precisa se centrar antes de qualquer coisa. Você
escolhe uma ferramenta para se acalmar.

Digamos que você escolheu colocar uma música relaxante, fechar os olhos e simplesmente
respirar uns minutinhos. Depois de conseguir se centrar, você simplesmente pergunta para o
seu interior:

"O que o meu Eu Real faria nessa situação com minha parceira de trabalho?"

Espere, pacientemente, o seu saber interno se comunicar com você. Pode ser através de uma
intuição, uma frase, uma imagem na cabeça, uma sensação, etc. De algum jeito você vai
entender se deve tomar esse caminho ou aquele.

Digamos que no seu caso, decidiu finalizar o projeto atual, uma vez que já está no meio, porém
não vai fazer mais projetos com esta pessoa. Agora que você usou uma técnica prática que
deixou seu corpo bem calminho e conseguiu perguntar para o seu Eu Real o caminho a tomar,
o que resta é a coragem e a ação.

Esse é o último passo: executar a mensagem que recebeu do seu interior. Essa execução pode
levar desde minutos, como mandar uma mensagem de texto para alguém, até anos, como criar
um filho.

Dependendo da ação a executar que foi revelada pelo seu Eu Real, pode ser que você tenha
que passar por várias etapas antes de chegar no destino final. Mesmo nesses casos, ou
especialmente nesses casos, sua sabedoria interna sabe quais eventos, oportunidades e
escolhas desembocam no seu destino escolhido. Sua sabedoria interna, seu Eu Real sabe de
tudo isso mesmo que você não saiba.

Aqui está outro exemplo:

Digamos que você acabou de descobrir que seu marido é um narcisista sociopata . Digamos
também que você é dependente financeiramente dele e ainda está em depressão e não tem
forças de fazer nada.

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Se perguntar para sua mente consciente qual é o caminho, talvez ela não veja nada. Mas se
perguntar para o seu Eu Real, "mostre-me o próximo passo" ele e a vida vão oferecer meios,
direção e recursos para o primeiro passo da sua jornada de libertação. Sua sabedoria também
sabe qual é o próximo passo, e o passo depois desse, e o próximo e assim por diante... até
chegar aonde você quer.

Fez sentido? Para recapitular, eu gostaria de resumir, brevemente, o que vimos até aqui.

O abuso narcisista afasta a vítima do seu Eu Real, que é sua essência. Qualquer atitude que
seja uma expressão autêntica do Uu Real terá um efeito curativo. Para acessar o Eu Real, é
preciso conseguir regular as emoções e se centrar. Depois, é só perguntar para o seu interior
"o que meu Eu Real faria" (ou algo nesse sentido) e esperar uma resposta. Para finalizar,
também é necessário a coragem e a ação de executar a mensagem revelada pelo Eu Real,
nem que esta execução demore anos.

É importante entender que todo ser humano tem faculdades que desconhece como, por
exemplo, a capacidade de se guiar momento a momento. É tão difícil acreditar nisso porque
recebemos mensagens consistentes de que devemos ser e fazer o que os outros querem.

Ouse testar a ideia de que a melhor voz de todas para você ouvir é a sua, mas não quando
você está sentindo caos emocional: a voz que surge na sua paz interior.

Uma vez recebida a mensagem sobre o que fazer na sua situação, a sua psique fica esperando
você agir. Quanto mais tempo você tiver certeza do que fazer sem tomar passos, mais a sua
angústia vai crescer.

Essa dor não é uma punição, ela tem uma função importantíssima. A dor vem das suas
emoções e do seu corpo. Uma inteligência realmente muito complexa e vasta administra essas
duas coisas (seu inconsciente). Quando essa inteligência faz uma emoção dolorosa como a
angústia brotar, a função disso é chamar a sua atenção.

A dor é um alerta para uma situação que exige atenção e talvez remédio. A dor sinaliza que
algo ou alguma situação está fazendo mal e que você precisa modificar isso pela sua própria
segurança e felicidade.

Enquanto você não agir, não fique surpresa se o desconforto emocional, a ansiedade, angústia,
desesperança ou depressão aumentarem. Sua psique está gritando: "Você precisa seguir seu
Eu Real! Você precisa seguir seu Eu Real! Você precisa seguir seu Eu Real"

Às vezes, sua sabedoria interna não quer ação e sim aceitação. Talvez você esteja forçando a
barra numa situação irremediável. Talvez esteja na hora de aceitar que você é impotente para
mudar algo. Nesses casos, não existe ação a tomar e sim uma espécie de rendição. O
reconhecimento de que não há nada para se fazer ali, que você pode deixar de teimar e brigar
com a vida, que você está pronta para desapegar de um resultado que você esperava.

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Independente da solução ser ação ou aceitação, tudo o que falei aqui pode ser resumido na
oração da serenidade:

"Que Deus me dê serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para
mudar as que posso e sabedoria para distinguir entre elas."

Seja ação ou aceitação, a dor emocional aponta para a necessidade de tomar um desses dois
caminhos. Enquanto não tomar: haverá dor.

Por outro lado, seguir seu Eu Real costuma ser difícil para caramba. Ele não está nem aí se o
que ele pede é politicamente correto, se a família vai gostar, se você vai perder amigos e
parentes...ele quer sua realização pessoal a qualquer custo.

Ele usa suas respostas emocionais para guiá-la, passo-a-passo, momento a momento. Por isso
é tão importante estar atenta no seu dia a dia e não perdida no mundo da lua, em devaneios ou
pensando compulsivamente. A pessoa que não presta atenção nas suas respostas fisiológicas
e emocionais, não consegue acessar as mensagens do seu interior.

A esposa infeliz que passa o dia em devaneio excessivo não consegue perceber como seu
casamento é intolerável, porque no mundo de fantasia dela as coisas são legais. Assim, ela
acaba ficando na relação por mais tempo do que seria saudável.

O workaholic que se distrai com trabalho não tem tempo de perceber a própria dor. É melhor
não parar e encarar o vazio interior.

Ao desenvolver o hábito responder à dor se acalmando e ouvindo a mensagem do Eu Real,


você tem dois ganhos práticos:

1. Você aprende a administrar suas emoções.


2. Você toma atitudes, que podem ser ações ou aceitação, para transformar situações
tóxicas na sua vida em circunstâncias capazes de fazê-la feliz.

Você também ganha relacionamentos melhores, um trabalho mais alinhado com seus valores,
uma casa mais pacífica, mas confiança, menos ansiedade e uma série de outras
preciosidades.

Quanto mais você age ou aceita, conforme seu Eu Real vai orientando, mais você percebe que
as consequências disso são incríveis. Você vai se convencendo de que é a melhor pessoa para
se guiar e sua vida vai se transformando em algo que é realmente delicioso.Tudo isso cria uma
existência bem melhor que aquela que viveu junto à família narcisista.

De repente, não está nem aí para sua família ou os vizinhos, não usa sua energia para pensar
nisso e sim para investir nos seus cursos, hobbies, estudos, relacionamentos, ócio e projetos.

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Você se dá permissão de errar, testar coisas, se divertir, criar projetos, encerrar ciclos
desnecessários, ser espontânea, enfim: fazer o que sua essência manda.

Entenda, não é que os problemas deixam de existir. Isso não é uma expectativa realista, os
problemas sempre existirão. E já que é assim, podemos focar em melhorar nossa capacidade
de resposta à eles. De fato, é isso que muda: nossa resiliência, paciência, capacidade de
auto-acolhimento, de assumir responsabilidade pela vida e felicidade e de se dar outra chance.
Somos nós que mudamos e nos tornamos maiores do que os problemas.

O que permite ser maior do que os problemas é saber que você tem uma inteligência
incrivelmente precisa com a qual contar nos momentos de perrengue.

Quando você saca que você tem essa força interna, e que funciona mesmo, tanto faz os
problemas que virão.

Eu asseguro que essa força é incrível. Mas é você que tem que usar a própria vida como um
laboratório para ver se é verdade. É bom se permitir testar várias coisas, se perdoando a cada
erro e se permitindo brincar para descobrir como se fazer feliz.

Seu CVC (Currículo Personalizado de Cura)

Eu tenho uma notícia para você que é, ao mesmo tempo, maravilhosa e irônica. Você tem mais
um aliado na sua jornada de cura além do seu Eu Real, e eu chamo ele do seu CVC ou seu
currículo personalizado de cura.

O seu currículo personalizado de cura são os desafios que brotam no seu caminho e exigem
que você amadureça. É por isso que falei que este aliado é um pouco irônico. Basicamente
estou dizendo que suas frustrações são, na verdade, um mapa para sua realização pessoal.

Para fazer pazes com essas "chatices" e usufruir do poder do CVC, é preciso aprender uma
habilidade específica: conseguir transformar obstáculo em desafio interessante. Uma forma
extremamente simples e poderosa de fazer isso é simplesmente olhar o desafio diante de si e
se perguntar:

"Tem alguma razão que essa situação apareceu para mim. Qual é a lição ou a habilidade que
eu tenho que aprender para transformar esse problema num aprendizado?"

Essa pergunta é poderosa porque ela nos força a sair da posição de "não acredito que a vida
está me sacaneando de novo!" e nos permite entrar na posição de "já saquei que essa situação
veio me mostrar algo que ainda tenho que aprender."

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A primeira posição não oferece nenhuma possibilidade de achar uma solução. Enquanto a
gente só se chateia com um desafio, não consegue ver a lição escondida nele, e isso é muito
sério! Pois todo desafio traz justamente a lição mais importante para sua jornada, nesse
momento específico.

Pare para pensar: se você sempre se vê diante do mesmo problema, é porque não aprendeu a
tal da lição escondida. Quando realmente se dedicar ao treino na nova lição ou habilidade,
aquilo deixa de ser um problema porque você já sabe lidar com ele. A gente pode entender,
intelectualmente, que todos os desafios são projetados de forma a forçar você a expandir.

Mesmo assim, o que acaba acontecendo é que na hora do desafio a gente não enxerga ele
como uma oportunidade de crescimento, e sim como um pé no saco. Enquanto a gente tem
essa atitude, também não consegue focar em achar uma solução. A partir dessa posição, não
se tem poder pessoal. Afinal, se você é a vítima da vida, então se sente sem capacidade de
superar o desafio.

É delicado o que vou dizer agora, porque parece pouco empático com a dor das pessoas. No
entanto, ao meu ver é a coisa mais empática possível. Apesar de ser difícil o que vou dizer, é a
única coisa que leva para uma possível salvação.

Enquanto nos sentimos vítimas de uma situação, mesmo que tenhamos sido vitimizados
mesmo, não nos enxergamos como os agentes protagonistas da nossa história.
Consequentemente, não achamos saídas.

Por exemplo, enquanto eu achava que jamais poderia ser livre pois tinha medo das respostas
da minha mãe, eu sempre ia me achar a vítima da história. A partir do momento que comecei a
me perguntar "como posso achar um fiapinho de poder pessoal nessa história terrível?" Aí esse
fiapinho de possibilidade começou a se revelar para mim.

Percebi que eu estava escolhendo deixar o medo da minha mãe ditar meus comportamentos.
Eu poderia decidir seguir meu caminho, custe o que custasse, independente das atitudes dela.
É claro que isso causava um medo danado! No entanto, enquanto eu não tomasse essa
decisão, eu nunca seria realmente livre. Às vezes, nosso estado de vítima vem da recusa a
tomar alguma decisão que é dolorosa para caramba, mas que a única que leva para a
libertação.

Outro exemplo:

Quando comecei a trabalhar com filhas e filhos de narcisistas eu não tinha nada além dos
meus estudos informais e minha experiência pessoal. Não era psicanalista e nem coach, era
administradora. É claro que eu senti que isso seria um bloqueio para eu conseguir ser uma
profissional respeitada e competente na área. No entanto, se eu tivesse aceitado essas
limitações, chegando à conclusão que eu estaria eternamente limitada por causa delas, eu não
teria a empresa e o trabalho que eu tenho hoje.

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Uma forma de transformar obstáculo em desafio interessante é achar no seu desafio algo que
possa ser um tesouro escondido.

No meu caso, tudo bem que eu não tinha as formações necessárias na época, tudo bem que
eu estava num país onde existe a santificação da mãe...mas e se o fato de eu ser filha de
narcisista e ter tido essa experiência direta fosse algo positivo e não uma limitação?

Eu decidi corajosamente transformar este bloqueio em algo lindo. Eu me dei permissão de


relatar as experiências pessoais que eu tive na minha jornada de superação, e a resposta das
pessoas foi um estrondoso "obrigada!"

"Obrigada Taryana, por ter tido a coragem, obrigada por compartilhar seus ensinamentos! Me
sinto mais livre porque você se libertou!"

Mais um exemplo:

Se você sempre atrai pessoas narcisistas e abusivas, você pode chegar à conclusão que a vida
está fornecendo essas experiências para que você possa aprender a habilidade de colocar
limites e falar não.

Se você só fica repetindo:

"Puxa, eu sí atraio abusadores! A vida me detesta!"

Você vai se sentir eternamente uma vítima desprotegida que não sabe o que fazer com os
abusadores.

Se, por outro lado, você entender que cada pessoa abusiva que aparece na sua vida é uma
oportunidade para você treinar a habilidade de falar não, então você passa até agradecer os
abusadores pela oportunidade de treinamento! Pode parecer besta, mas não é. Nossos
maiores desafios são, de fato, nossas maiores lições.

Outro exemplo:

Se você está numa péssima situação financeira, pode dizer:

"A culpa é da minha família que nunca me ensinou a administrar dinheiro!"

Se pensar assim, só vai sentir raiva da família inteira e ainda continuar na situação financeira
péssima.

Se, em vez disso, você se perguntar:

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"Qual é a lição que eu tenho que aprender através deste desafio financeiro repetitivo?"

Você pode chegar à conclusão que, na verdade, foi você que nunca fez pesquisa. Você nunca
se prestou a ver um vídeo ou ler um livro sobre administração financeira. Nunca adiou a
gratificação imediata para guardar dinheiro. Em vez disso, gastou em besteira para receber
validação externa ou preencher um vazio interno, ou porque era sem noção mesmo (quem
nunca).

Ao encarar a sua parcela de responsabilidade, você também encontra um caminho para uma
solução. Enquanto a gente não assume responsabilidade por um problema, não é possível se
sentir no poder de resolvê-lo.

Entenda, ninguém está falando que sua raiva não é válida e que você, de fato, não passou
maus bocados com a família, com outros relacionamentos e em várias situações. A questão
não é se você foi ou não foi vitimizado.

Se você está lendo esse PDF, imagino que você veio de uma família tóxica e, nesse caso, foi
vítima sim. Você foi vítima porque toda criança é vítima de toxicidade de adultos, nenhuma
criança é culpada pela dinâmica doentia da família. Mesmo assim, a realidade é estruturada de
tal forma que, não interessa quem criou o seu problema na infância, na fase adulta, apenas
você pode consertá-lo.

Por mais que isso cause raiva, por mais que você se sinta injustiçado, por mais que você ache
que a vida deveria funcionar de outro jeito...não funciona assim. Você pode gritar e se
espernear o quanto quiser. A verdade continua sendo essa: não interessa quem causou os
seus problemas no passado, enquanto adulto, unicamente você é capaz de resolvê-los.

Mais um exemplo para ficar mais claro:

Imagine que toda vez que você tem contato com a família, fica mal emocionalmente e sua
autoestima vai para o saco. Você está cansado de achar que as coisas vão ser diferentes, mas
nunca são.

Porque você se sente muito inadequado para gerar uma rede de apoio de amigos, acaba
ficando com medo de abrir mão das poucas pessoas que já existem na sua vida, nesse caso,
sua família tóxica.

Você fica com raiva de si por voltar ao ambiente familiar, vez após vez, só para se machucar de
novo. No fundo, sabe que a dinâmica nunca vai mudar e que enquanto não achar pessoas
mais nutritivas para se relacionar, vai sempre ter dependência emocional com os seus pais.

Você pode até se sentir a vítima do mundo, pode falar:

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"Poxa, eu não tenho habilidade social porque meus pais são narcisistas e fui sabotado! Por isso
não consigo amigos e acabo me prendendo emocionalmente a uma família tóxica!"

Isso pode até ser verdade mas não resolve seu problema.

"Poxa Tary, mas quem causou minha dependência química foi minha mãe narcisista."

"Tary, mas eu estou frustrado, deprimido na vida por causa do meu pai sociopata."

"Mas eu sou dependente financeira porque minha família não me ajudou, sendo que ajudaram
a criança dourada!"

Eu não estou falando que eu sei qual seria a solução para você em cada um desses casos.
Essa não é minha tarefa, achar uma solução é tarefa sua. Eu também não estou falando que
essa dor não é válida, entenda, eu jamais falaria isso! Todas as suas dores são válidas sim! O
que estou falando é que existe uma saída, apesar de ser difícil e parecer injusta: você tem que
consertar o que os outros ajudaram a estragar.

Como eu já me identifiquei com o papel de injustiçada, como eu já apontei o dedo para os


outros, dizendo que a minha situação péssima era culpa deles, como eu já precisei "estar certa"
e fazer os outros "estarem errados"... eu sei como é difícil assumir 100% de responsabilidade
por si.

Por isso, diante de desafios, foque em achar onde você tem poder de mudar a situação.
Quando vier o próximo obstáculo, em vez de só se queixar, pergunte se:

"Qual é a lição ou habilidade que eu tenho que aprender com esse desafio?"

Resista à tentação de ficar com tanta raiva do mundo que você não treina a lição ou habilidade
que o desafio trouxe. A sua raiva dos outros não vai resolver sua questão. A sua ação
consistente a longo prazo para aprender a lição do desafio é o que vai.

Por esse ponto de vista, não existem problemas e sim lições a serem aprendidas no seu
currículo personalizado de cura. Eu sei que essa parte foi um pouco extensa, mas eu queria
dar inúmeros exemplos para ficar mais fácil achar essa vontade interna louca de ser
protagonista na sua vida.

Como lidar com a culpa de reduzir ou cortar contato

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Quando eu descobri o narcisismo eu lembro que eu sentia culpa só de pesquisar o tema. Eu
tinha medo que minha mãe pudesse, de alguma forma, estar observando e julgando. Na
verdade, eu sentia terror.

Hoje sei que mesmo que eu não tivesse uma mãe narcisista, mesmo que eu viesse de uma
família mais funcional, talvez eu ainda sentisse culpa. Tal é o poder da nossa cultura que
prioriza a união familiar em vez da saúde mental dos indivíduos que compõem essa família.

Existe uma ideia totalmente errônea que se os membros de uma família ficarem juntos, isso
será melhor para todos. Isso nunca é verdade numa família disfuncional. Esse tipo de família
funciona como uma seita onde há um líder e uma ideologia distorcida que todos têm que
acreditar ou fingir que acreditam.

Permanecer em um ambiente desses impede que os membros consigam pensar por conta
própria, uma vez que estão inseridos numa fantasia coletiva que visa a manutenção daquele
mesmo sistema.

Qualquer pessoa que fez contato zero ou reduziu o contato com a família tóxica consegue
explicar como essa distância já facilita um pouco essa capacidade de identificar a própria voz
interna. Ainda assim, só a distância física não cura ninguém, mas ela facilita uma conexão com
o seu Eu Real, uma vez que perto da família isso não é tão fácil.

A dinâmica na família narcisista é que a gente faz de tudo para ganhar aprovação e fazer parte,
e nada funciona satisfatoriamente. Ou então, a gente tenta fazer nossos pais felizes, e eles se
recusam a mudar qualquer comportamento. Aí percebemos que não temos esse poder de fazer
ninguém feliz, fora nós mesmos. Tudo isso adoece! Viver uma vida longe do seu Eu Real,
tentando ser bem-vista pela sua família adoece também.

Tudo isso gera a culpa tóxica. Na família narcisista a culpa é usada como ferramenta para
manter todo mundo em linha. Por isso é totalmente esperado que você sinta culpa ao pensar
em se distanciar dos seus pais, ou mesmo ao pesquisar o narcisismo.

Eu estou aqui para dizer que essa culpa passa conforme você vai identificando e respeitando
suas próprias necessidades. Quanto mais você consegue se tornar feliz e saudável na sua
nova vida mais longe da sua família, mas a culpa desaparece.

Vou contar uma pequena história para exemplificar. Quando eu cortei contato com minha mãe
eu senti muita dissonância cognitiva. Basicamente, parecia que existiam várias Taryanas dentro
de mim, cada uma com um ponto de vista, e todas estavam em conflito.

Algumas dessas Taryanas gritavam desesperadamente para eu sossegar e deixar tudo do jeito
que estava. Elas falavam coisas do tipo:

"Estou exagerando."

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"Talvez nem seja tão ruim assim, eu acho que dá para levar."
"Devo estar distorcendo as coisas "
"Sou uma péssima filha! Que tipo de pessoa corta contato com a mãe?"

Por outro lado, tinha uma Taryana com quem eu estava me relacionando há pouco tempo. Ela
falava comigo através de um saber interno. Ela simplesmente repetia:

"Distância! Distância!"

Quando eu ouvia a voz dessa Taryana eu sentia paz, mesmo sentido culpa junto. A realidade é
complexa, a gente pode sentir um monte de coisa ao mesmo tempo. Complexo ou não, um
saber interno me falava que aquele era o caminho correto para mim.

Esse mesmo saber também foi me falando para explorar algumas vontades e curiosidades
minhas. Decidi testar se este saber interno era uma boa pessoa para me guiar. Fui obedecendo
suas instruções, e percebi que a voz da culpa começou a me visitar cada vez menos, até que
parou totalmente.

Aparentemente, se eu apenas identificasse e respeitasse minha real vontade, por mais


socialmente incorreta que fosse, menos a culpa se fazia presente. Percebi que, ao honrar e
obedecer minha própria voz, fui criando consequências bem melhores daquelas que eu gerava
quando tinha contato com minha mãe.

É isso que eu quero que você saiba, se você não apenas cortar contato com sua mãe, mas
fizer isso especificamente para aprender a ouvir e viver a sua voz, não tem como dar errado,
não tem como fracassar, você nunca vai se arrepender de decidir respeitar a sua própria
essência.

Os primeiros meses que cortamos ou reduzimos contato são os mais difíceis de dissonância
cognitiva. A gritaria interna de culpa e terror pode ser intensa. Mas agora você já sabe o
caminho: acalme-se, entre em contato com a voz do seu Eu Real, e obedeça o que ela pedir.
Eu sei que soa difícil, mas lembre-se que é possível e que várias pessoas já fizeram isso antes
de você com sucesso.

Falando da sua voz interna, ela pode pedir algo como distância ou algo como um novo corte de
cabelo. Ela pode querer que você faça uma aula de dança ou que você reduza sua carga
horária de trabalho. Ela pode querer que você largue um curso que está fazendo ou comece
um outro. Escute-a diante de cada desafio e vá testando o que acontece quando você a
obedece.

Se for que nem foi para mim e para meus clientes, você vai ver que literalmente não tem como
dar errado quando você escuta o seu coração. Entenda que eu não estou falando que o
processo é fácil e sem dor. Ele não é. Existem sim uns momentos de guerra, conflito, e dor

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profunda. Mas a recompensa costuma ser bem maior do que a gente consegue sequer
imaginar.

Por isso, sempre vale a pena começar a ouvir a sua própria voz, pois além de não ser possível
se arrepender, a colheita depois costuma surpreender. E é assim que você lida com a sua
culpa, respeitando o seu Eu Real desafio a desafio. Com o tempo, ela vai embora.

Como criar independência emocional e distância psicológica

O que nos aprisiona a pessoas e grupos disfuncionais é nossa dependência emocional ou


financeira. Estar vivo é um processo de entrar no mundo em total e absoluta dependência e,
aos poucos, se individuar. É compreensível que aconteçam obstáculos neste percurso,
mantendo o indivíduo preso em algum estágio dessa aventura.

Quando se trata de dependência emocional, é legal se perguntar o que você costuma fazer
para ser amada. Muita da nossa dependência vem do medo de perder a aprovação de alguém.
O problema é que deixamos de descobrir e criar nosso verdadeiro Eu em prol de alguma
máscara que vestimos porque, assim, ganhamos a tal da aprovação.

É claro que no caso de pais narcisistas a situação é mais triste ainda. Não só vestimos as
máscaras por aprovação e abrimos mão da nossa real essência, como nunca ganhamos essa
aprovação!

Se ela nunca vem, tem dois caminhos. O primeiro é continuar vestindo a máscara e manter os
padrões. Podem existir muitos caminhos à felicidade, mas acredito que nenhum deles envolve
deixar de satisfazer as próprias necessidades emocionais e existenciais. Esse caminho, ao
meu ver, só pode levar a um adoecimento psíquico. Não dá para desver o narcisismo e voltar a
aceitar tudo como era.

O outro caminho é passar por um luto daquele relacionamento...porque ele vai morrer se
depender de você esconder seu verdadeiro Eu. Se você estiver lidando com pessoas que têm
o TPN, não existe a chance do seu Eu Real conseguir existir nessa relação a não ser que você
coloque limites com tanta frequência que a exaustão vai tirar a graça da relação.

A partir do momento que você tiver um jeito independente de pensar ou agir, a relação vai
sofrer. Quando isso acontece, a gente vai administrando o desespero, medo de ficar sozinha e
culpa internos e nos acostumamos com a ideia de que faz sentido perder aquela relação.

Para fazer sentido mesmo, é bom se convencer que a vida depois de tudo isso será melhor. O
importante é conseguir responder para si:

"Porque faz sentido deixar essa relação morrer?"

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Em algum momento, considere ir criando uma lista de respostas a essa pergunta. Adicione o
que brotar na sua mente e inclua todas as coisas incríveis que você vai aprender ao construir
uma vida bem melhor. Aqui estão alguns exemplos de coisas que você poderia colocar na lista:

Faz sentido deixar relações narcisistas morrerem, mesmo que seja com minha mãe/meu pai
porque…

● No fundo, eu não desejo contato com eles. Me faz mal.


● Eu estou adoecendo psicologicamente/fisicamente.
● Eu literalmente não tolero mais, já penso em suicídio/ tenho síndrome do pânico.
● Eu já tentei de tudo para fazer essa pessoa feliz, nada funciona. Comprovei que não é
culpa ou responsabilidade minha.
● Eu nunca vou ganhar a aprovação que quero, para quê continuar assim?
● Eu quero ter pessoas saudáveis e que me amem e aceitem de verdade. Estou disposta
a aprender a escolher e me relacionar com essas pessoas.
● Quero viver sonhos e aventuras.
● Desejo liberdade.
● Queria saber quem eu sou. Não me conheço.
● Preciso descobrir meus valores. Quando souber, saberei o tipo de vida que quero criar.
● Quero criar uma vida alinhada com meus valores.
● Gostaria de saber o que é um relacionamento amoroso saudável.
● Quero condições e espaço para me curar de uns traumas sexuais. Quando me
estruturar, posso fazer terapia.
● Quero me ouvir para descobrir meus dons.

Essa lista ajudará a esclarecer o resultado final de todo esse esforço de criar distância
psicológica.

Outra pergunta que é ótimo responder é essa:

"Se eu me permitisse ser e agir da forma que desejo, eu perderia o amor de quem?"

Essa pergunta pode ser reveladora! Através dela você descobre em quais relações está se
podando e a qual ponto. É impressionante as coisas que fazemos pelo amor dos outros. Eu
mesma sempre me surpreendo quando descubro alguma limitação artificial minha, criada pelo
meu medo de perder a aprovação de alguém.

Na tentativa de ganhar essa aprovação, a gente pode:

● Se casar com a pessoa errada.


● Seguir a carreira errada.
● Virar uma casca de pessoa que anima o público mas se sente vazia por dentro.

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● Escolher e ficar em relações abusivas.
● Nunca conhecer quem a gente é, de verdade.
● Desenvolver transtornos psicológicos por se privar da própria essência.
● Se colocar em situações de risco.

As perguntas que fiz até aqui serviram para ajudá-la a se conectar com os desejos do seu Eu
Real, mas isso também é um processo momento a momento. O que quero dizer é que
conhecer seu Eu Real, que é sinônimo de criar distância psicológica dos pais, se dá a cada
instante.

Não é como se, hoje, você fosse apenas "quebrada" e você precisasse de anos de terapia para
superar sua condição e se conhecer. Nada disso! Na verdade, seu Eu Real está aqui no agora.
Ele só está no agora. Ele é o que conversa com você a partir do seu interior quando você
executa aquele hábito de pausar, que já mencionamos anteriormente neste livreto.

Não ache que seu Eu Real é algo longe e inacessível. Quanto mais você se acostuma a pausar
ao longo do dia e se perguntar:

"O que meu Eu Real quer nessa situação?"

Mais a distância psicológica é criada. Lembre-se, saber o que seu Eu Real quer é uma coisa,
executar seu desejo é outra. Diante de cada situação, seu Eu Real provavelmente vai pedir
uma ação ou uma aceitação. Descubra e obedeça a mensagem recebida do seu interior.

"Mais fácil dizer do que fazer, Tary!"

Concordo. Ainda mais quando ser você mesma significa que você pode perder algumas das
pessoas mais importantes da sua vida. Nesse caso, o objetivo é o treino! Pense que vai se
tornando cada vez mais fácil quanto mais você simplesmente obedecer seu Eu Real. Não
precisa se punir por ter essa dificuldade. É só encarar aquilo como treino, você espera um grau
de dificuldade e tudo bem.

Como se acolher/se maternar

Uma das maiores habilidades que você terá que aprender, se quiser se curar de suas sequelas
emocionais, é aprender a se acolher nos piores momentos.

Filhos de narcisistas costumam ter um crítico interno implacável. Ou seja, não se permitem dias
ruins ou momentos de vulnerabilidade. Em vez de serem pacientes com sigo mesmos, eles se
punem e se cobram. O crítico interno despreza as respostas de vulnerabilidade que temos, aí
aquela emoção nunca consegue ser processada.

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Por exemplo, se você manda uma mensagem para uma paquera e não recebe uma resposta,
pode ser que você se sinta rejeitada. Esse sentimento de rejeição é a primeira resposta que
você tem e já é difícil. Ele fica mais difícil ainda com uma segunda resposta que segue essa
primeira!

Geralmente o que acontece com filhos de narcisistas é que, primeiro eles sentem a
vulnerabilidade sob a forma de uma emoção dolorosa como a rejeição. Depois o crítico interno
deles julga o fato de terem sentido tal "fraqueza". O crítico interno tem desprezo por qualquer
sinal de imperfeição. Ele diz que você deveria ser mais madura, forte, independente,
inteligente, bonita, magra, rica, etc. Aliás, ele sempre tem algo a dizer.

Por causa do crítico interno, em vez de lidar só com a rejeição, você tem que lidar com duas
respostas internas simultaneamente! A rejeição e o crítico que não para de encher o saco e
fazer você se sentir inferior por ter se sentido um pouquinho para baixo.

Quando a gente fala de se acolher, ou se maternar, estamos falando de permitir que a primeira
resposta emocional de vulnerabilidade aconteça. No entanto, em vez de responder com a voz
do crítico interno, esta segunda voz precisa ter uma energia acolhedora, amorosa, paciente e
maternal.

Essa resposta interna amorosa perante sua própria imperfeição é o que cura autoestima baixa.
Vou exemplificar. Antigamente, eu ficava criticando tudo o que eu criava. Nunca era bom o
suficiente ou estava pronto para ser exposto para o mundo.

Nessa situação, eu sentia medo como uma primeira resposta de vulnerabilidade, e como
resposta secundária, meu crítico interno falava que eu não tinha nada de útil para dar para o
mundo. É impossível tomar passos e concluir qualquer projeto se colocando para baixo
internamente desse jeito o tempo todo. Ainda mais quando você já sente medo!

O que passei a fazer foi simplesmente barrar essas mensagens de que eu não era boa o
suficiente, e pausar até achar dentro de mim uma energia 100% incondicionalmente amorosa.

A partir desse momento, quando eu criava algo e tinha vergonha de postar, em vez de ouvir
aquela mensagem podre do meu crítico interno, eu passei a me falar coisas assim:

"Eu estou tão orgulhosa de você! Você está sentindo esse medo todo porque você está se
movimentando e indo atrás dos seus sonhos! Isso é corajoso! Outra coisa, não julgue sua
criação, só coloque ela no mundo. Você não sabe o impacto que o seu trabalho pode ter! A sua
função é só fazer o trabalho bem feito! Vá em frente Tary!"

Lendo esse último parágrafo, você não concorda que é muito mais fácil se motivar e ter
autoestima se falando esse tipo de coisa? Compare com as mensagens do crítico interno!

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Resumindo, se a colher é barrar a resposta secundária, que é a do seu crítico interno, para
permitir que uma energia amorosa seja a que responde a sua resposta principal. Esta resposta
principal é alguma emoção de vulnerabilidade, como medo, vergonha, culpa, desespero,
desesperança, frustração, solidão e desamparo.

Mais um exemplo:

Quando você sentir culpa por desagradar alguém, em vez de se criticar, dizendo "que burra que
você é!" responda a essa culpa com uma mensagem encorajadora, como "ah, tudo bem! Você
não precisa agradar todo mundo!" Conforme suas respostas secundárias se tornam amorosas
e não julgadoras, você cura as respostas primárias de vulnerabilidade, a culpa, vergonha,
medo, desamparo, rejeição, etc.

Como sair do cativeiro

Para mim, o processo de saída do cativeiro se resume nisso: estabeleça metas e tenha essa
meta de sair de casa em mente todos os dias.

É difícil conseguir enxergar algo como possível se parece que está muito longe. O sonho de
sair do cativeiro tem que ficar pertinho do coração para ir se nutrindo com o seu foco e seu
pensamento.

Não tem problema se você está muito longe de conseguir fazer isso. O importante é decidir que
esse é o único destino final que você aceita, nem que tenha que caminhar num ritmo de lesma.
Exclua da mente a possibilidade de morar eternamente com seus pais!

Uma vez estabelecida essa meta, faça 1% ao dia e perdoe-se pelo resto. 1% pode parecer
pouca coisa, mas para filhos de narcisistas que costumam ter transtornos de humor e de
personalidade (que dificultam a automotivação e o foco), isso é vida! Aina mais quando você
está deprimida na cama, com ideação suicida ou síndrome do pânico, acredite no poder
cumulativo do minúsculo 1%.

Honre seus passos de tartaruga! Eu decidi com 16 anos de idade que precisava sair de casa.
Eu disse para mim mesma que me estruturaria para conseguir sair e nunca mais voltar. Me
prometi que não pediria nenhuma ajuda dos meus pais para conseguir fazer um desligamento
verdadeiro sem dívidas. Eu não sabia nada sobre narcisismo, mas algo dentro de mim falava
que eu tinha que me tornar independente.

Foram 5 anos até eu conseguir um emprego que me pagasse o suficiente para eu sair e não
voltar. Eu já estava trabalhando há cinco anos, mas ainda não tinha renda o suficiente para
sobreviver sozinha.

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Finalmente, aos 21 descobri a aviação. Me tornar comissária de bordo me deu a oportunidade
de me estruturar e de me mudar para São Paulo, longe da minha família. Nesses cinco anos eu
não perdi o foco do meu objetivo: sair com estrutura o suficiente para nunca ter que voltar.

Além dessa dica de manter sempre o objetivo de sair do cativeiro em mente, tenho duas outras
sugestões. A primeira é planejar um passo-a-passo para conseguir sair, realmente analisar os
passos a serem tomados para você conseguir fazer isso. Mesmo que você não faça ideia de
como isso poderia acontecer, pesquise como outras pessoas fizeram e bole um plano para
você.

Pergunte para pessoas no grupo gratuito do Facebook Entre No Seu Poder como elas
conseguiram sair do cativeiro. Extraia dessas histórias os passos principais. Estruture esses
passos numa lista de ações a serem tomadas até sua saída. Pode ser uma lista de poucos
passos como:
● Arranjar um emprego
● Achar três amigas para compartilhar uma casa.
● Fazer pesquisas sobre móveis enquanto trabalha e economiza dinheiro para pagar um
caução quando for alugar uma casa.
● Efetivamente fechar um contrato de aluguel com essas amigas.
● Se mudar de casa.

Um plano superficial assim já basta para você saber no que focar em cada momento. Também
é o suficiente para aquilo parecer real e concreto, não longe e impossível.

A outra dica que dou é para você namorar o seu sonho de sair do cativeiro. Quando digo
"namorar", estou propondo que você se exponha a esta experiência em doses homeopáticas e
regulares.

Por exemplo, você pode começar a pesquisar casas na internet, mesmo que esteja
desempregada. Isso vai informar quanto está a média de aluguel, a realidade do mercado,
quais bairros são interessantes...e tudo isso ajuda no seu planejamento.

Se uma amiga sua está saindo de casa, você pode acompanhar o processo dela de visitar
algumas casas para ver como pode ser real para você também. Se fazer essa transição é
possível para ela, é para você também.

Você pode se inscrever em algum site de imobiliária, onde você recebe diariamente anúncios
de imóveis para alugar. Mesmo que ainda não tenha dinheiro, receber esses e-mails já mantém
a ideia fresca na sua mente.

Para finalizar a, saiba que é possível! Sair de casa é um desafio comum para a maioria das
pessoas, mas mesmo assim elas conseguem. Você também vai conseguir se focar nisso!

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Não sei como lidar com minha família. Quais são as opções?

Espero que você já tenha entendido que os comportamentos de pessoas com TPN fazem tão
mal que não é possível ter saúde mental perto de um narcisista. Pode ter certeza que quem
permanece anos em relacionamentos com narcisistas provavelmente têm algum transtorno de
personalidade, ou de humor, ou é codependente.

No início, um narcisista engana qualquer um. Mas a longo prazo, pessoas com boa autoestima
e que sabem o que é amor sentem repulsa por ele e arranjam formas de se afastar. Inclusive, é
bom falar que o objetivo de criar distância psicológica com narcisistas é ter tanta autoestima
que você deixa de tolerar os abusos.

Muita gente acha que o objetivo de se fortalecer é o contrário: não se afetar pela toxicidade e
continuar na relação do mesmo jeito, sem nenhum ajuste. Isso não funciona. Existe uma
"compatibilidade" com narcisistas que vai desaparecendo conforme você se cura e aprende
amor-próprio. Você precisará, pela sua saúde, se afastar.

Quanto a esse afastamento, basicamente, existem 3 tipos: pedra cinza, contato reduzido e
contato zero. Cada uma dessas opções é explicada em detalhes no glossário.

Resumindo aqui, o método da pedra cinza é um afastamento psicológico. O contato reduzido é


psicológico e físico em certo grau. O contato zero é cortar absolutamente qualquer contato com
a pessoa narcisista.

Essa solução pode ser temporária ou permanente. Especialistas em narcisismo recomendam o


contato zero, mas eu sei que às vezes isso não é tão simples e que existem outras amarras
com personalidades narcisistas. No final, sempre quem decide o que é certo para você, é você!

Para não ser repetitiva aqui, favor consultar o glossário para entender as 3 opções de
afastamento.

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42
Não foi um processo exatamente difícil ou
doloroso pra mim: foi uma condução, um
auXílio na minha própria caminhada.

Ao longo do programa, percebi mudanças em


mim: passei de muito curiosa a respeito do
narcisismo para muito curiosa a respeito dos
abusos cometidos e suas sequelas. Percebi
que meu foco mudou de “preciso entender
por que minha mãe é narcisista” para
“preciso entender o que aconteceu comigo”.
A partir disso, alguma coisa se transformou.
A raiva que eu estava sentido (dos meus pais,
familiares e de diversas pessoas) diminuiu e
deu lugar a uma aceitação do que vivi. Eu
sentia uma raiva enorme de tudo há anos!
Me sinto muito aliviada hoje, sem ter que
carregar esse fardo. Hoje já consegui romper
com alguns ciclos tóXicos, nas minhas
relações mais íntimas, na família, no
trabalho. Aos poucos, tenho conseguido
confiar mais em mim mesma, faço
diariamente o exercício de olhar para meu
interior e prestar atenção ao que estou

Kenia sentindo no corpo. Esse foi um dos maiores


aprendizados do WENSP para mim e uso isso
como uma bússola que me guia.
Histórias de superação Tenho estado muito focada no meu processo.
de filhas de narcisistas Entre altos e baixos, mas sempre focada, me
observando, me acolhendo e me colocando
Entendi o WENSP como uma oportunidade em primeiro lugar na minha própria vida.
de organizar a bagunça interna que acabou Agora, busco informações sobre traumas e
ficando em mim, quando compreendi e sobre como tratá-los. Entendi que tenho
aceitei que tenho um histórico familiar muitos traumas e que é possível curar isso,
muito abusivo e disfuncional, com uma mãe ainda que o caminho seja longo e exija que
narcisista grandiosa e um pai facilitador do eu me dedique a ele mais do que me dediquei
narcisismo materno, omisso e negligente. a qualquer outra coisa até hoje.
A cada módulo, era como se gavetas se
abrissem em mim e muito conteúdo O WENSP me ajudou a compreender que
inconsciente foi vindo à tona. esse é o caminho e que é o MEU caminho.

43
“Direitos Autorais Taryana Rocha, 2021"
Glossário de termos narcisistas

Abuso Emocional

O abuso emocional é um conjunto de atitudes que visam humilhar e depreciar o outro. De


acordo com a Associação Americana de Psicologia, este tipo de abuso causa tantas sequelas,
ou até mais, quanto o abuso físico ou sexual. Ele pode levar a vítima a desenvolver transtornos
de humor ou de personalidade ou mesmo ideação suicida.

O agressor adota uma posição de onipotente e onisciente. Ele sabe de tudo e só a opinião dele
é válida. Ele questiona e critica as preferências da vítima, fazendo a mesma duvidar de si, e se
achar incapaz. Ela se vê bombardeada de mensagens sobre ela mesma que são péssimas.
Assim, ela vai se identificando com essas mensagens e se enxergando de forma distorcida e
doesempoderada.

Algumas atitudes que compreendem abuso emocional são:

● Críticas constantes.
● Humilhar, ofender ou depreciar a vítima.
● Chantagem emocional (usar medo, culpa, vergonha, favores não solicitados para exigir
obediência).
● Sarcasmo. depreciativo.
● Insistir que você é culpada(o) por tudo.
● Gaslighting.
● Invalidação e minimização das suas necessidades.
● Tomar decisões importantes que afetam você sem primeiro primeiro consultar pra levar
em consideração suas vontades.
● Criar um clima de terror onde todos têm que pisar em ovos, por medo das suas
respostas (gritaria, bater em objetos para assustar).
● Tratamento se silêncio.
● Stone-walling.
● Isolar a vítima. (fazê-la acreditar que o mundo é perigoso, afastá-la de familiares e
amigos).
● Controlar seu dinheiro, suas roupas, seu tempo, suas decisões, seus recursos, seus
relacionamentos, etc.
● Exigir tempo, atenção, energia e recursos dos outros de forma exorbitante e sem
oferecer muito em troca de forma recíproca .
● Iscagem

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Abuso Narcisista

O abuso narcisista é abuso emocional, mas tem um objetivo específico: dizimar o senso de Eu
e a autonomia pessoal da vítima.

Isso significa que narcisistas aumentam sua agressão quando percebem que a vítima está,
finalmente, conseguindo ter seus próprios pensamentos e tomar suas próprias decisões. É
justamente esse surgimento de uma individualidade, com direito à sua própria essência, que
incomoda o narcisista.

Veja bem, muitas coisas podem ser abusivas! No entanto, narcisistas abusam especificamente
para destruir a individualidade de outrem. Vamos comparar com outros perfis psicológicos, para
que fique mais claro que nem toda ação abusiva tem essa mesma motivação.

Por exemplo:

Uma pessoa borderline tem dificuldade em regular suas emoções e sua raiva. Por essa razão,
pode acabar explodindo de vez em quando, o que pode ser tóxico para quem está por perto.
Por mais que essa irritabilidade seja chata, ela não tem o objetivo específico de dizimar a
personalidade dos outros, forçando-os a serem apenas o que a pessoa borderline quer que ele
seja.

Essa raiva é apenas um reflexo da dificuldade de regular as emoções! Borderlines sentem


demais e não sabem administrar isso, mas não querem, especificamente, fazer os outros se
sentirem inferiores.

Outro exemplo:

Uma mãe depressiva negligencia seus filhos. Eles acabam se sentindo invisíveis e indignos de
amor. Mesmo que o impacto da sua depressão tenha sido prejudicial para os filhos, a mãe
depressiva não tinha o objetivo de fazer os filhos se sentirem inadequados simplesmente por
serem quem eles são.

A negligência que ocorreu não foi uma indireta, do tipo:

"Sejam quem mamãe quer ou eu abandono vocês!"

Na verdade, a mãe depressiva só não tinha energia o suficiente para cuidar de si, quanto mais
dos filhos.

Último exemplo:

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Um pai solteiro se sente exaurido depois de 3 semanas sem conseguir achar uma babá para
ajudar com as crianças enquanto ele trabalha em casa. Depois de várias noites sem dormir e
trabalhando intensamente, ele acaba berrando com os filhos e dá uma palmada em um.

Por mais que este pai não acredite em punição corporal, e que sinta culpa pelo que fez,
simplesmente atingiu um pico de exaustão emocional e física onde não conseguiu mais se
controlar. O intuito não foi destruir o senso de eu dos filhos, foi só resultado do estrese extremo.

Já no caso do abuso narcisista, a história é outra. Veja os exemplos abaixo para entender
melhor.

Exemplo:

Uma mãe narcisista, que parece presa na adolescência, sente profunda inveja da sua filha
jovem. Ela usa as roupas da filha (mesmo que a filha não goste disso) e se intromete nas
amizades dela também. Já em três casos esta mãe flertou com as paqueras da filha, e chegou
a transar com um.

Percebemos que tudo o que a filha tenta ser ou criar para si, a mãe narcisista quer "roubar".
Nesse caso, o objetivo das atitudes da mãe é tirar a liberdade da filha de ser quem é e ter suas
próprias experiências únicas.

Exemplo 2:

Cecília quer ser escritora. Ela se sente conectada com algo maior quando escreve. Esta
sensação não tem preço e ela decide investir na carreira de escritora. Enquanto não ganha
dinheiro com isso, aceita um emprego qualquer só para pagar as contas.

Sua mãe narcisista desejava ser advogada quando era jovem, mas este sonho não se realizou.
De acordo com ela, os filhos atrapalharam. Ela insiste que a filha siga o caminho de estudar
direito. A qualquer oportunidade, ridiculariza o que a filha escreve e sua decisão de ser
escritora. Ela diz:

"Isso não é trabalho de verdade. Quer meu apoio? Só se estudar Direito!"

Percebemos que nesse caso a mãe não se interessa pela individualidade da filha. Ela a
enxerga como uma extensão de si mesma e acha que ela só serve para realizar seus próprios
sonhos frustrados. Aqui estamos lidando com um caso de abuso narcisista onde a filha não tem
permissão de ser quem ela é.

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Agressividade Passiva

Agressividade passiva acontece quando alguém não se sente seguro o suficiente para abordar
outra pessoa sobre um conflito, então prefere atacar por meios indiretos de demonstrar
insatisfação.

Exemplo 1

Você expressa para sua mãe narcisista que deseja se mudar de casa. No fundo, ela não quer
que você vá. Não se sentindo à vontade para falar isso diretamente, ela promete que vai
ajudá-la com o caução da nova casa. Quando chega o dia de assinar contrato, ela
simplesmente some e depois diz "Ah, esqueci, não posso ficar pensando nas suas
responsabilidades o tempo todo."

Essa mãe, na verdade, queria mostrar que não concordava com a ideia de mudança da filha.
Em vez de falar diretamente, ela decidiu sabotar a filha dizendo que "esqueceu" do dia de
ajudar com o caução.

Exemplo 2

Seu pai narcisista não concorda que você decidiu estudar psicologia e não medicina. Na frente
de familiares, ele comenta o quanto o filho do vizinho é um filho bom e grato por honrar seus
pais estudando algo sério como direito. No fundo você sabe que essa foi uma indireta para
você. Ele quer deixar claro, mesmo que indiretamente, que não gostou da sua opção de
estudo.

Esse exemplo, além de demonstrar a agressão passiva, também exemplifica o dog-whistling


(definição a seguir).

Exemplo 3

Sua mãe narcisista não tem vida social e se sente frustrada na área amorosa. Você começa a
namorar um homem que realmente a respeita e a trata bem. Sua mãe narcisista sente inveja e
a difama para toda a comunidade, falando que você é uma puta que só se envolve com homem
lixo.

Se quiser aprender mais sobre o comportamento passivo agressivo, clique aqui:

https://youtu.be/yWkz2Gt9h0o

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Assobio de cachorro/Dog Whistling

Assobio de cachorro, ou "dog-whistling", é um ataque ou uma ofensa indireta que aparenta ser
inocente, mas que a vítima sabe que é para ela. É uma agressão passiva, mas tem o detalhe
de acontecer na frente de outras pessoas e aparentar ser apenas um comentário qualquer.

Exemplo 1

Uma família está reunida, assistindo um filme onde há uma cena de um acidente de carro. A
criança dourada, que sofreu um acidente recentemente, faz uma expressão de dor. A mãe
narcisista a abraça e diz:

"Minha filha, quando a gente sofre trauma de verdade, é natural sentir dor!"

Ela faz isso depois de passar a semana inteira falando para a filha bode expiatório que se ela
foi espancada pelo marido, é porque mereceu.

A filha bode expiatório entendeu a indireta: o trauma da criança dourada é sério, o dela, é
invenção e mi mi mi.

Exemplo 2:

Um filho de pai narcisista monta uma empresa, mas está tendo dificuldades de atrair clientes
no início. No churrasco de família, seu pai comenta com uma terceira pessoa, que também está
empreendendo (e se dando bem):

"Parabéns pelo seu novo negócio! Quando o produto é bom, tem cliente mesmo no início!"

Para todos alí, parece só um elogio sobre o negócio do outro, mas o filho do pai narcisista sabe
que isso foi uma indireta para ele. Em outras palavras: o produto dele não era realmente bom,
por isso não tinha cliente.

Bode Expiatório

Nas famílias onde há uma mãe ou um pai narcisista costumamos observar que existem papéis
pré-definidos para os filhos. Esses papéis são o do bode expiatório e o da criança dourada.

É interessante perceber que esses papéis existem mesmo que estejamos falando de famílias
em culturas bem diferentes da nossa.

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Ou seja, a família pode ser do Japão, da França, da África do Sul ou do Brasil. Independente
do caso, percebemos a existência da criança dourada e do bode. Isso acontece devido à
maneira que a psique narcisista funciona.

Devido à sua imaturidade, narcisistas não conseguem compreender que todas as pessoas têm
características positivas e negativas simultaneamente. Num dado momento, ou alguém é
incrível, ou é lixo. Narcisistas não conseguem entender que todo mundo tem qualidade e
defeito e não é 100% uma coisa ou outra.

Lembra que narcisistas são profundamente inseguros? Isso faz com que eles não consigam
assumir seus defeitos. É como se eles não tivessem estrutura para enxergar a própria
vergonha. Essa vergonha é tão potente e avassaladora que eles fazem qualquer coisa para
não senti-la.

Especificamente, quando narcisistas sentem a tal vergonha (talvez porque erraram, por
exemplo), procuram desesperadamente alguém para quem possam "dar" essa vergonha. Em
outras palavras, narcisistas procuram pessoas para fazê-las sentirem as coisas difíceis que
eles não sabem sentir.

Se o narcisista sente vergonha, ele procura alguém para humilhar.

Se ele sente medo, bota logo esse medo em outra pessoa (berrando, dando ultimato,
ofendendo, fazendo tratamento de silêncio).

Se ele se sente abandonado, pode descartar você.

Não sabendo como entender ou regular suas emoções, narcisistas precisam, obrigatoriamente,
de um bode expiatório para servir de saco de pancada e repassar todas suas emoções
pesadas e difíceis de sentir.

Nunca vi estudos ou pesquisas sobre como é feita a escolha do bode expiatório. No entanto, fiz
uma enquete informal no grupo Entre No Seu Poder, que conta com milhares de membros, e
descobrimos que o bode expiatório parece ter uma das seguintes características:

1. É a criança mais velha.


2. É a única menina entre os filhos.
3. Ela lembra à pessoa narcisista de alguém que ela detesta (um ex marido, o pai
alcoólatra, uma parte de si que ela desdenha).
4. Ela lembra à narcisista algum plano frustrado. (Ex: A mãe narcisista só engravidou
porque achou que ia casar com um cara rico, mas foi abandonada na gravidez. Ela
ainda deseja reatar a relação com ele 40 anos depois.)
5. Ela é questionadora e menos manipulável.

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O bode expiatório serve para o narcisista ter alguém para culpar toda vez que algo dá errado
na família. Ele sempre foi tratado como um exilado e por isso, sempre sentiu nitidamente que
nunca teve família.

Nada que o bode faz agrada. Tudo é criticado, tudo é inadequado, o bode não serve para nada.
O desafio para quem preencheu este papel é entender na fase adulta que essa identidade de
fracassado é uma ilusão.

O bode expiatório, como qualquer filho de Deus (ou da natureza, como preferir) tem uma
chama dentro de si que anseia por brilhar e aquecer o mundo com sua luz. O bode é tão capaz,
tão genial, tão necessário quanto qualquer outra pessoa.

Ele é tão necessário dentro da família, mesmo de forma bizarramente tóxica, que se ele
morrer...a pessoa narcisista vai ter que colocar outro membro da família no seu lugar. O ego
narcisista precisa absolutamente do seu saco de pancada. Só assim ele regula seu mundo
interno. Mesmo que haja um revezamento entre os filhos que preenchem esse papel, a mãe ou
o pai narcisista precisa que alguém o preencha.

Campanha Difamatória

Campanha difamatória é quando o narcisista espalha mentiras e fofocas a seu respeito para
manchar sua reputação. Isso pode acontecer como resposta a uma tentativa sua de se
distanciar da pessoa narcisista, ou depois que você desobedece de alguma forma, como, por
exemplo, estabelecendo uns limites saudáveis.

Isso é interpretado como um afronto, uma desobediência imperdoável. Em contra-ataque, a


pessoa narcisista entra em contato com várias pessoas da sua vida para difamar você.

Cativeiro

Cativeiro é o nome dado ao lar onde há uma mãe ou um pai narcisista. Este é um espaço onde
o narcisista reina. Ele domina a família psicologicamente criando um clima pesado onde todos
têm que pisar em ovos.

Enquanto a filha ou o filho de narcisista permanece no cativeiro, será constantemente atingido


por abusos psicológicos, emocionais, e às vezes mesmo físicos ou sexuais. A pessoa narcisista
pode encher a cabeça dos filhos com ideias de que eles não sobreviveriam no mundo afora,
pois não são bons o suficiente. Isso pode ser uma tentativa de isolar esses filhos socialmente.
Assim, a voz da mãe ou do pai narcisista é a que domina dentro da psique dos filhos.

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Pode existir uma pressão gigantesca para que os filhos não se distanciem da influência da
pessoa narcisista. Isso costuma resultar numa espécie de terrorismo psicológico, que ativa
todos os gatinhos dos filhos, mantendo-os num estado de paralisia: incapazes de se tornarem
adultos autônomos emocional e financeiramente.

Sair de casa, ou do "cativeiro", é frequentemente, um dos maiores atos de coragem (e também


um dos que mais dá medo) que um filho ou uma filha de narcisista terá que encarar.

Chantagem Emocional

Chantagem emocional é quando alguém tenta forçar outra pessoa a sucumbir aos seus
desejos usando a culpa, senso de obrigatoriedade e medo.

Exemplo 1

João quer viajar para a praia com a esposa sozinho. Sua mãe narcisista, que não aceita a
esposa de João, liga para ele e começa a reclamar:

"Que tristeza! Meus filhos não me querem por perto mesmo! Eu sou apenas uma velha inútil!
Eu espero que vocês curtam bastante a praia, eu vou ficar aqui sozinha com meu cachorro."

João se sente culpado por não convidar a mãe, e acaba incluindo ela no passeio só para não
sentir mais culpa.

Exemplo 2

Cecília deseja estudar teatro. Sua mãe narcisista acha que teatro é coisa de maconheiro
vagabundo. Ela fala:

"Depois de tudo o que eu passei para criar você, agora você quer me humilhar e punir
estudando essa coisa de gente inútil!"

Cecília sabe que sua mãe, de fato, comeu o pão que o diabo amassou para criá-la.

Ela sente que não tem escolha e tem que "honrar pai e mãe" desistindo dos seus sonhos e
escolhendo aquilo que sua mãe diz que é obrigação dela.

Exemplo 3

A mãe de Tiago acabou de perder o marido. Tiago quer ser empático, mas não aguenta mais
ouvir sua mãe falar de suicídio. Já fazem dois anos e Tiago ainda não se sente à vontade para

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ter uma vida social porque toda vez que diz que vai sair com os amigos, a mãe diz que não dá
conta da solidão e vai acabar se matando.

Exausto e perdido, Tiago não vê opção senão abrir mão de todos seus amigos para que sua
mãe não se mate.

Ciclo de abuso

Ao observar relações amorosas com narcisistas, percebe-se que existe um ciclo de abuso que
transita entre a fase da idealização, depreciação, e possível descarte.

A fase da idealização serve para criar um vínculo emocional com a vítima através da euforia
intensa da fase de lua de mel.

Quando esse período passa, começa a fase da desvalorização. O narcisista começa a criticar e
os gostos do parceiro, de forma sutil. Aos poucos, ele vai invalidando os sentimentos do outro
com frases do tipo: "você é muito sensível . "

Ele vai isolando a vítima de todos que se preocupam com ela. Ela acaba deixando sua família e
seus amigos de lado.

Quando o narcisista ultrapassa limites. Eles se fazem de vítimas e explicam que sofreram
abusos na infância ou tiveram vidas difíceis, por isso são cruéis.

Se as coisas não melhoram, o narcisista joga umas migalhas de amor aqui e ali só para manter
a vítima confusa e presa. Ao mesmo tempo, começa o fim da relação.

Ele faz isso escalando o nível de abuso emocional até que a vítima fique exaurida e abandone
o narcisista, ou até que o narcisista ache outra pessoa para recomeçar a fase de idealização.

No fim, o narcisista pode acabar descartando seu parceiro.

Para filhos de narcisistas, o descarte nem sempre existe. No entanto, percebemos que estes
pais usam o método de jogar migalhas de amor para confundir os filhos. Esse método se
chama reforço intermitente.

Codependência

Codependência é uma resposta a trauma que faz um indivíduo acreditar que tem que sempre
dar mais do que recebe numa relação. Pessoas codependentes geralmente foram criadas por

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pais narcisistas. Na infância, se viram diante de uma personalidade que exige atenção e
energia constantemente, mas que não é capaz de retribuir.

Codependentes são, frequentemente, crianças empatas e sensíveis que se adaptam ao perfil


narcisista dos pais fazendo o que eles querem: doando, doando, doando, de si sem nunca falar
não.

Essas crianças provavelmente perceberam que se se tornassem os cuidadores dos seus pais,
recebiam um pouco de aprovação. É normal que todos nós testemos diferentes personalidades
ao longo da vida para ver o que encaixa melhor. Essas crianças acabam percebendo que
recebem um pouco de "amor" quando são cuidadores empáticos que se sacrificam pelos
outros.

O problema é que a gente se vicia naquela personalidade que consegue um pouco de


aprovação. Essa aprovação também é um suprimento narcisista.

Lembra que o suprimento narcisista pode ser qualquer coisa que faz uma pessoa se sentir bem
consigo mesma como, por exemplo: o medo dos outros, aplausos, bajulação, ser tratada como
uma criancinha que merece cuidados especiais, dó, etc. Todos nós buscamos suprimento
narcisista, não só quem tem TPN. No caso de codependentes, o suprimento narcisista
preferido é a validação de que eles são pessoas boazinhas que sempre ajudam os outros.

O problema de falar sim o tempo inteiro é que o codependente acaba assumindo


responsabilidades que não são suas e se sentindo exaurido e com ressentimento dos outros.

Quanto mais codependente for a pessoa, mais ela atrai e ativamente escolhe perfis narcisistas
patológicos. A necessidade dela de ser validada como alguém que sempre se sacrifica se
encaixa perfeitamente com a necessidade do narcisista receber mais do que dá.

Codependentes costumam se relacionar com pessoas narcisistas, borderline, sociopatas e


dependentes químicos. Elas sentem até tesão sexual por estes perfis e não conseguem sentir
o mesmo tesão com pessoas que são respeitosas e recíprocas.

Codependentes costumam:

● Ter dificuldade em entender o que sentem, precisam, desejam e preferem.


● Não conseguir falar não, mesmo quando sentem ódio de si e dos outros por essa
limitação.
● Gostar de ser vistos como pessoas que se sacrificam, estão apegados a esse senso de
identidade. Por isso têm dificuldade de sair desse papel, pois acham que não serão
amados se expressarem suas reais necessidades.
● Valorizar mais a aprovação dos outros do que a si mesmo.
● Ter baixa autoestima e não confiar em si.

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Contato Reduzido

O contato reduzido é uma opção para lidar com personalidades narcisistas. Nesse caso, não se
corta completamente a comunicação, mas esta é reduzida ao mínimo necessário. O que define
a frequência de contato é a resposta emocional que cada pessoa tem ao se imaginar com a
pessoa narcisista. Isso é sempre individual e varia de pessoa em pessoa. Tem gente que só
aguenta ver a família uma vez por ano. Para outras pessoas, o contato pode ser maior ou
menor. Para ficar mais claro, considere o exemplo abaixo.

Exemplo:

Jéssica decidiu fazer contato reduzido com o pai narcisista. Ela sabe que deverá respeitar sua
resposta emocional e fisiológica para determinar o nível de contato que seria adequado para o
caso específico dela. Então, ela se imagina conversando com ele no telefone uma vez por
semana. Só de pensar, já fica toda tensa e cheia de pânico.

Isso significa que o corpo dela está confirmando que esse contato é mais do que ele aguenta!
Sendo assim, Jéssica imagina que pode conversar com o pai apenas por texto. Ela sabe, no
entanto, que ele adora mandar áudios de cinco minutos. Ao imaginar ter que ouvir esses
áudios, Jéssica se preenche de angústia. Mais uma vez, isso é o corpo dela confirmando que
esse contato é demais.

Jéssica decide, então, testar imaginar se dar permissão de não ouvir áudios, responder apenas
textos, e em até 24 horas. Ao pensar nisso, o corpo dela encontra uma certa paz. Isso parece
um nível de contato que ela tolera emocionalmente, porque sente uma resposta emocional e
fisiológica que ela tolera.

Ou seja: o contato reduzido é sempre determinado pelas suas respostas fisiológicas e


emocionais. Se você não respeitar estas respostas, estará se ferindo e indo contra a sua
sabedoria interna sobre o que é saudável para você. Ter contato apena o quanto faz sentido
para sua saúde mental é o segredo do contato reduzido.

Contato Zero

O contato zero é uma solução para a saúde mental de muitos filhos de manipuladores
emocionais. O que determina o momento do contato zero é, simplesmente, o fato de que você
não aguenta mais.

Pode parecer chocante aprender que você tem o direito de cortar qualquer pessoa da sua vida,
mas você tem, sim, esse direito! Acho que a melhor forma de decidir isso é só seguir a

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sabedoria do seu corpo. Quando digo o seu corpo, estou falando do seu inconsciente. O seu
corpo e seus processos emocionais são regidos por essa parte muito mais vasta da sua mente.

Nossa mente consciente e racional se confunde quando se trata de escolher caminhos que
realmente possam nos fazer felizes. A parte de você que sabe exatamente como sua essência
funciona e o que ela precisa para ser feliz, é a parte que se comunica com você a partir de
emoções, respostas fisiológicas, sensações, intuições, saber interno, etc.

Quando esse saber interno grita repetidas vezes "afaste-se", é porque a parte mais inteligente
de você está falando que chegou a hora de se afastar. Essa parte mais inteligente é seu
inconsciente, o responsável por gerar suas respostas emocionais. Esse é o seu Eu Real que vê
sua vida de um ponto de vista privilegiado. Desse ponto de vista, ele enxerga os caminhos
exatos para a sua realização máxima.

O contato zero se faz necessário quando o seu saber interno clama por isso. Para algumas
pessoas, ele é uma solução temporária enquanto elas se fortalecem emocionalmente longe das
agressões psicológicas constantes. Para outras, é uma solução permanente. Cada caso é um
caso e se dar permissão de fazer o que faz sentido para você é a forma de se fortalecer diante
do narcisismo na sua família.

Se este for o seu caso, pode ajudar:

1. Pensar no perfil dos seus pais e criar uma lista de possíveis respostas que eles podem
ter quando você cortar contato. Isso ajudará a saber exatamente com que terá que lidar
e como fará isso.

Por exemplo, pode ser que você saiba que seu pai vai fazer as seguintes coisas quando
você cortar contato:
● Campanha de difamação.
● Ameaçar tirar seus filhos de você.
● Escrever longos e-mails cheios de ofensas.
● Dar o apartamento que seria sua herança para sua irmã.
● Ameaçar cometer suicídio
● Mandar áudios ofensivos e ligar sem parar.
● Aparecer no portão do seu prédio e causar uma cena.

2. Decida de antemão como lidará com cada uma dessas situações. Se você não sabe
como, converse com outros filhos de narcisistas, assista vídeos, faça pesquisas ou
converse com seu Eu Real! Faça uma leitura de tarô, ore, medite, analise seus
sonhos...enfim, prepare-se e fortaleça-se.
3. Entenda que contato zero significa contato zero. Você precisa resistir absolutamente
tanto à vontade de responder quanto à vontade de sequer prestar atenção nas
possíveis tentativas de contato dos seus pais e também dos macacos voadores.

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Eu fiquei um ano e meio sem ler absolutamente nada que minha mãe me mandava. Fiz
isso porque tinha gatilhos de pânico só de ver as mensagens. Eu me dei permissão de
fazer o que meu corpo mandava.

Proteja-se, não banque a fortona ou o fortão! Prepare-se para ser vulnerável e crie um
espaço seguro para isso.

4. Também é importante preencher sua vida de mensagens e pessoas que validam sua
decisão. Existe o grupo Entre No Seu Poder no Facebook, lá tem vários filhos de
narcisistas que estão passando por processos parecidos com os seus.

Se você não gosta desses grupos, considere criar uma rotina de sempre assistir vídeos
sobre famílias narcisistas para se lembrar constantemente que você não tem culpa e
tem direito de se afastar.

Faça Taryflix! Assista minha playlist de vídeos para filhas e filhos de narcisistas. Faça
mantras, faça terapia com alguém que entende o narcisismo...valide-se, valide-se,
valide-se.

Controle Mental

Controle mental é um processo sutil e lento, através do qual uma pessoa obtém controle das
decisões de outra pessoa, sem que esta outra pessoa perceba que não está tomando as
próprias decisões.

É difícil perceber porque, além de sutil, a relação geralmente é entre pessoas que deveriam, na
teoria, ser amigos. Uma mãe e um filho, um pastor e um irmão da igreja, um chefe e seu
subordinado, um homem e sua mulher... em todos esses casos a vítima acha que a outra
pessoa a deseja o bem.

Pessoas com características anti-sociais/sociopatas e narcisistas, em particular, usam o


controle mental. Elas se apresentam como amigos, conhecem seu mundo interno e suas
vulnerabilidades. Exercem influência sobre você de forma que, aos poucos, você acha que está
tomando as próprias decisões, mas está seguindo o que eles querem.

A influência funciona porque, além de sutil e da pessoa ser "amiga", ela vai preenchendo a
vítima de dúvidas sobre si. Isso a torna mais dependente ainda da aprovação do manipulador.

Também existe uma quantidade enorme de negação envolvida. É doloroso e dificílimo


reconhecer que alguém de confiança estava, na verdade, manipulando você. Pode ser
humilhante e desesperador reconhecer que você não percebeu antes.

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Tudo isso junto com abuso emocional e pressão psicológica faz a vítima permanecer sob esse
domínio psicológico.

Criança Dourada

A criança dourada é um papel que existe dentro da família narcisista. Uma das crianças
costuma ser escolhida para executar este papel, necessário para o funcionamento do ego
narcisista.

Da mesma forma que existe o bode expiatório, cuja função é ser culpado por todos os
problemas da família, a criança dourada também executa uma função.Para ser escolhido para
preencher este papel, é preciso se esvaziar da própria personalidade e procurar, unicamente,
agradar à pessoa narcisista.

Crianças douradas são, normalmente, as crianças mais manipuláveis. A forma que elas
encontram de sobreviver dentro daquela família é fazendo a mãe ou o pai narcisista se sentir
bem a respeito de si mesmo. Enquanto a criança dourada estiver aplaudindo, acolhendo, e
imitando os desejos dos pais, terá menos punições do que o bode expiatório.

A criança dourada aprende esse comportamento e adota personalidade do mascote da pessoa


narcisista. É sendo o que o outro aplaude que ela recebe um pouquinho de (ou muita) atenção
e cuidado. Muitas vezes, ela se perde absolutamente nessa personalidade e passa a vida
tentando garantir aplausos e validações externas.

A criança dourada, junto com a criança inadequada, são as que têm menos chances de se
desprender da dinâmica familiar. A dourada só existe enquanto extensão da mãe ou do pai e
sabe muito bem que vai perder o cargo e virar bode o dia que quiser ter uma personalidade
própria. Ela viu a vida inteira o que acontecia com os bodes expiatórios da família.

Às vezes a dourada é uma criança cheia de empatia, hipersensível e, assim, se torna a


psicóloga e líder de torcida da mãe. Às vezes, ela é altamente manipulável e, não conseguindo
construir seu próprio senso de Eu, precisa adotar o que seus pais dizem para sentir que existe.
Ela acaba seguindo a carreira que eles querem, casando com quem eles querem, sendo que
eles querem que ela seja.

Em outros casos, a criança dourada percebe que o narcisista, sociopata ou narcopata da casa
consegue tudo o que quer. Entre ser dominada, como o resto da família, e ser a dominadora, a
criança dourada sabe o que escolher. Nesses casos, percebemos a mesma falta de empatia,
mentira patológica, manipulação, chantagem emocional, vitimização e culpabilização dos
outros, que a mãe e o pai narcisista possuem. A criança dourada pode, então, também se
tornar narcísica, ou mesmo, sociopata.

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É importante entender que qualquer uma das crianças em qualquer um dos papéis pode se
tornar narcisista e/ou sociopata! É uma mentira que a criança dourada é sempre abusiva e que
os bodes expiatórios são sempre empatas.

Preenchidos pela sensação de rejeição e de serem inadequados, alguns bodes se apoiam na


mesma manipulação e necessidade de domínio que viram os pais usarem. Assim, estes
também se tornam abusadores.

Voltando para a criança dourada, o grande desafio dela é conseguir se dar permissão de ser
quem se é, sabendo que vai perder aprovação externa por isso. Ela precisa priorizar o real
amor-próprio, que só é possível na inteira aceitação de si, e abrir mão de aplausos vazios e de
sua máscara de agradar.

Criança Incapaz/Inadequada

A criança incapaz ou inadequada é tratada como uma doentinha, uma pobrezinha toda errada
que nunca vai conseguir ser uma adulta normal. Desde pequena, sua família a trata como se
ela fosse mais "lerda" do que todo mundo.

Muitas vezes, criam situações onde ela é proibida de aprender a fazer coisas por conta própria.
Depois, ficam falando publicamente sobre como ela não aprendeu essas mesmas coisas! Pode
ser extremamente constrangedor e paralisante para esta criança receber mensagens
ininterruptas de como é incapaz, e de como nunca será capaz das coisas mais básicas.

Frequentemente, existe uma mãe ou pai nessa história que gosta de ser validado por ser um
cuidador. Às vezes, este cuidador se apresenta como um santo martirizado que faz tudo pelo
filho "problemático". Isso, é claro, é um suprimento narcisista! É como se a mãe ou o pai
narcisista falasse:

"Quero esse filho todo para mim. Vou fazer por onde ele nunca consiga me largar."

Em outras famílias a criança inadequada é tratada com irritação, como um bode expiatório. Se
por um lado, esta criança é privada de tomar suas próprias decisões, por outro, isso cria uma
oportunidade para os outros membros terem sobre quem reclamar.

Enquanto adulta, quem preenche este papel ainda se sente como uma criança inadequada.
Muitas vezes, tem que aceitar intromissões constantes de seus pais, que se recusam a permitir
que a criança se torne um adulto autônomo.

Em outros casos, a criança incapaz é tida como propensa a adoecer, como se fosse uma
"doentinha" sem jeito. Mesmo que não tenha nada de errado com ela, ela é tratada como
alguém que precisa de um foco excessivo e constante na parte da saúde.

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Ela pode acabar internalizando essas mensagens e, de fato, passar a adoecer com frequência.
Inconscientemente, ela pode estar apenas preenchendo seu papel na família ao continuar na
posição de criancinha necessitada de cuidados. Afinal, seus esforços de amadurecer são
reprimidos pela família.

Essa é uma mensagem indireta que significa:

"Fique no seu lugar de lerdinha e incapaz! Não mexa na dinâmica senão você não será
reconhecida aqui."

A dinâmica é: a família cria impedimentos para o desenvolvimento normal dessa criança, ela
não consegue amadurecer por essa privação, depois a família usa a imaturidade dela como
prova de que ela nasceu incapaz. Fica difícil saber se houve mesmo alguma incapacidade, ou
se foi tudo resultado de tanta lavagem cerebral que a pessoa começa a se identificar com essa
função. Para pertencer, a criança incapaz precisa se identificar com este papel.

Na fase adulta, o desafio é internalizar que ela tem o mesmo potencial que qualquer outra
pessoa no mundo. Ela precisa encarnar a adulta que está pronta para amadurecer dentro dela.
Assim, enxergará que não existe absolutamente nada que a impeça de viver uma vida plena,
amadurecida. Aliás, viver o que quiser!

Ao apostar em si e na sua autonomia, ela provará para si mesma que é perfeitamente capaz de
lidar com o mundo e a vida.

Criança Invisível

A criança invisível é tratada como se ela não existisse. A mãe ou o pai narcisista já estão tão
ocupados com a criança dourada e o bode expiatório, que não sobra energia para a criança
invisível. Ela não é mencionada, lembrada, ouvida ou enxergada. Ela não recebe nenhum foco!

Personalidades narcisistas não estão aptas a lidarem bem com as demandas rigorosas de criar
um filho. Nesse caos todo, alguém pode ficar para trás. Sem adultos disponíveis para fazer um
bom espelhamento da sua essência, a criança invisível fica com um vazio onde deveria existir
seu senso de identidade.

Nos relacionamentos ela pode sentir um medo de abandono, de ser esquecida e deixada de
lado. Algumas delas tentam chamar atenção negativamente com comportamentos impulsivos,
mas percebem que ninguém está percebendo. Isso pode até ser uma bênção disfarçada, pois
se ninguém está prestando atenção, é mais fácil desapegar da família e ir embora.

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Depreciação

Ver desvalorização.

Desamparo aprendido

Dizem que, antigamente, os circos treinavam os elefantes assim: pegava-se o animal ainda
bebê e amarrava-o num poste. O bebê, cheio de vida, lutava e lutava para se libertar. Com toda
a garra do mundo: lutava até aprender que NADA faria diferença, que liberdade não
aconteceria. Assim, esse bebê desistia.

Os anos passavam, e o bebê ia se tornando um elefantão poderoso. No entanto, já era tarde


demais, pois ele já havia desenvolvido o desamparo aprendido, a crença de que nada do que
ele fizer poderá influenciar nos resultados. Uma espécie de desesperança que faz a pessoa
nem tentar.

Mesmo o elefante sendo muitas vezes mais forte que o poste ao qual estava amarrado: os
esforços frustrados de infância o ensinou que ele não tinha poder. Você é que nem esse
elefante: grande, transbordando poder e potencial, mas de repente ainda se enxerga como o
bebê impotente, e ainda acha que nenhum esforço trará mudanças.

Isso é o desamparo aprendido e é, inclusive, um sintoma do TEPT-C. Ele convence as pessoas


de que são absolutamente incapazes daquilo que elas querem.

Descarte

O princípio organizador da personalidade narcisista é a busca de suprimento narcisista. Isso


significa que essa é a motivação principal por trás de tudo o que fazem e que narcisistas não
têm qualquer utilidade para pessoas que não queiram oferecer esse suprimento.

Narcisistas são tão completamente incapazes de criar reciprocidade em relacionamentos, que


se você pedir equilíbrio eles podem descartar você e ir buscar outra pessoa que não queira
reciprocidade. Se eles perceberem que não controlam mais uma pessoa, que não conseguem
mais extrair o mesmo suprimento narcisista, então a sua utilidade acabou.

É nesse momento que ocorre o descarte. Para alguns filhos, é doloroso perceber que
realmente não tinham qualquer valor para os pais enquanto indivíduos. Para outras, como a
autora desse livro, é libertador.

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O descarte é quando o narcisista "joga fora" quem se recusa a participar de relações tóxicas e
desiguais.

Devaneio Excessivo/ Maladaptive Daydreaming/MDD

O devaneio excessivo, ou maladaptive daydreaming (MDD), é um mecanismo de defesa


psicológico que visa tornar uma realidade difícil um pouco mais tolerável. Basicamente, o
devaneio excessivo é a tendência a substituir experiências reais, como namoro, amizade,
carreiras e conquistas, por fantasias que consomem grande parte do dia.

Todo mundo sonha acordado ou tem fantasias. No entanto, no caso do maladaptive


daydreaming, o indivíduo passa mais de 56% do seu dia em devaneio. Esses devaneios são
tão intensos e distraem tanto, que o indivíduo se transporta imediatamente para eles e chega a
falar em voz alta e se movimentar como se estivesse realmente na fantasia.

Existem gatilhos que ativam essa fuga para o devaneio. Um gatilho comum é a música. Outros
gatilhos podem ser a ansiedade social, solidão, pânico, vergonha, ou qualquer emoção
desconfortável que faça a pessoa preferir se interiorizar.

Os devaneios têm caráter viciante. Muitas vezes, existe uma pressa em terminar atividades da
vida real para se entregar a longos períodos de devaneio. Frequentemente, o devaneio vem no
meio das atividades diárias e distraem completamente o indivíduo, que muitas vezes nem
percebe que está em devaneio até muito tempo depois.

Sintomas que costumam acontecer junto com o MDD são:


● Ansiedade
● Depressão
● Transtorno obsessivo compulsivo
● TDAH
● Dificuldade em dormir
● Movimentos repetitivos ou falas durante o devaneio
● Enredos complexos com personagens diversos (em alguns casos).

O devaneio excessivo é diferente da psicose porque quem o experimenta consegue diferenciar


entre a realidade e o devaneio. No caso da psicose, as imagens e falas mentais se confundem
com a realidade. Às vezes, no entanto, é possível ter um devaneio tão intenso que a pessoa
lembra dele depois e esquece se aconteceu de verdade ou não.

O devaneio excessivo não é um transtorno que aparece no dsm-5, apesar de existirem


inúmeras pessoas que relatam sofrer disso de forma que prejudica seriamente a vida real. Ele
não é considerado um transtorno "oficial" e diagnosticável e, por isso, a maioria dos
profissionais de saúde mental o desconhecem.

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Dissonância cognitiva

Dissonância cognitiva acontece quando uma pessoa sente angústia ao perceber um conflito
entre versões contraditórias da realidade. Essa pessoa tem uma certa visão de mundo que não
consegue se sustentar mais porque novas informações são incompatíveis com essa visão,
causando confusão e ansiedade. Essas novas informações esbarram contra seus valores, suas
crenças ou seus comportamentos antigos.

Isso acontece muito com filhos de narcisistas porque eles têm que negar a realidade e fingirem
que o que a família fala é real, mesmo que seja apenas distorção e mentira.

A dissonância cognitiva pode ser entendida como duas partes da sua mente que pensam de
forma diferente e se chocam por isso.

Exemplo 1:

"Minha mãe diz que me ama, mas toda vez que a vejo tenho pânico."

Aqui a dissonância, ou conflito interno, é causada pelo fato de que se sente pânico na presença
da mãe, mesmo que uma parte da mente fique falando "eu devo estar imaginando coisas, ela
deve me amar, é minha mãe!"

Exemplo 2:

"Meu pai narcisista diz que se divorciou da minha mãe porque é louca, e toda a família tem que
concordar com isso"

(Mas eu lembro que ele batia tanto nela que ela pediu divórcio).

Imagina um pai repetir para seu filho que a mãe é louca enquanto finge total saúde mental,
mesmo quase matando sua esposa na porrada durante anos. Para não contrariar o pai, o filho
tem que "concordar" que a mãe é louca enquanto internamente fica pensando:

"Ué...mas o divórcio não foi pela violência doméstica?"

Exemplo 3:

"Falei para minha mãe que meu padrasto tocava em mim de um jeito que eu não gostava.
Ela me chamou de 'vagabunda oferecida'. Eu senti muita vergonha e imaginei que foi minha
culpa. Nunca mais comentei sobre esse assunto"

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(Porém, fiquei confusa...eu tinha 8 anos e era virgem, como eu poderia ser uma vagabunda?)

Aqui a dissonância se dá porque a criança não consegue entender o que fez de errado, mas
pelo comentário da mãe, é obrigada a chegar à conclusão que ela está errada.

Resumindo, dissonância cognitiva na família narcisista é quando os parentes falam uma coisa,
mas sua experiência direta e visceral daquilo é outra. Resultado: confusão interna e a
impressão de que algo não "encaixa" (mas tudo bem, bora fingir que encaixa!)

É sua mãe falar que ama todos os filhos de forma igual, mas você percebe nitidamente que seu
irmão é a criança dourada.

É seu pai dizer que nunca traiu sua mãe, sendo que ele levava você para seus encontros com
mulheres desconhecidas quando você era criança e você esperava no carro.

Essa dissonância é, frequentemente, resultado de gaslighting.

Distância Psicológica

Distância psicológica é a capacidade de diferenciar entre seus pensamentos, necessidades,


emoções e desejos e os das outras pessoas.

Um indivíduo que tem distância psicológica com relação aos seus pais sabe o que ela
realmente quer. Ela está em contato com sua essência e não se confunde com opiniões
externas, mesmo as dos seus pais.

Quem tem distância psicológica conseguiu preferir sua liberdade à aprovação que receberia da
família. Não é possível abraçar a própria essência se o medo de perder aprovação reinar. Isso
é porque adotamos a visão da nossa família para pertencer. Abrimos mão da nossa essência
para ter aprovação em um lugar social.

Quem tem distância psicológica sabe se abastecer de amor e por isso não precisa de
aprovação fajuta onde ela terá que perder o seu Eu. Essas pessoas sabem identificar o que
querem e se dão permissão de investir nisso.

Quem não tem essa distância acaba cedendo aos desejos da mãe ou do pai sem saber colocar
limites necessários.

É importante ressaltar que é possível estar em contato zero com os pais e ainda ser
influenciado por eles intensamente! A distância psicológica é um processo interno de se dar

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permissão de ser quem se é. Você que precisa se dar essa permissão. Se você não se der,
continuará presa aos valores dos seus pais mesmo que não tenha contato com eles.

Dog Whistling
Ver assobio de cachorro.

Espelhamento

Cada pessoa tem uma imagem de como os outros são. A Fulana é chata, o André é gente fina,
a Paola é confiante, etc. Quando o espelhamento é saudável, a imagem transmitida é parecida
com a verdadeira pessoa, de fato.

Por exemplo, quando uma mãe (ou um pai) faz um bom espelhamento de uma criança, ela
consegue enxergar suas qualidades e também oferecer crítica junto com compaixão.
A criança absorve essa imagem e se identifica com ela. Ela também consegue se enxergar
como alguém com valor e qualidades e olha suas imperfeições com compaixão.

No entanto, quando o espelhamento é distorcido, a imagem transmitida não é fiel à pessoa


verdadeira, e isso confunde essa pessoa. Ela fica descrente de si, pois a imagem que recebe
de fora não é o que ela sente por dentro. Ela se pergunta:

"Quem sou eu, de fato?"

Narcisistas são mestres em fazer espelhamentos distorcidos, é assim que eles convencem os
outros de que são pessoas indignas. Eles descrevem sua personalidade capitalizando em cima
dos seus defeitos, para que você fique inseguro. Quando você não acredita em si, acaba
deixando os outros tomarem as rédeas da sua vida. Isso favorece o narcisista, que deseja
controle. No espelhamento tóxico e distorcido, o narcisista convence você de que você é
inerentemente defeituoso. Isso vai gerando insegurança e dependência emocional na opinião
do narcisista.

No entanto, narcisistas também distorcem o espelhamento para o lado da idealização. Por


exemplo, no início de relacionamentos muitos narcisistas idealizam seus parceiros. Eles
prestam muita atenção em tudo que esta pessoa gosta e agem como gêmeos que têm
interesse pelas mesmas coisas.

A sensação é de ter encontrado uma alma gêmea! Como é possível alguém enxergar tanto os
aspectos da sua personalidade e ainda ter as mesmas preferências?

64
Essa sensação intensa cria um vínculo entre você e o narcisista, pois ele percebe que você
está sob o domínio dele. A partir desse momento a qualidade da relação muda. Ou você deixa
de receber atenção ou a atenção se torna negativa, e aí começa o espelhamento distorcido
para o lado da depreciação.

Agora os seus pontos fracos estão em constante evidência, seus gatilhos constantemente
ativados e suas imperfeições sob constante observação. Esse espelhamento tóxico deixa você
sem fé na sua natureza e essência. Você vai perdendo um senso de Eu e se sentindo cada vez
mais sem personalidade e fragmentado.

A solução é desistir de relações onde o espelhamento é distorcido e escolher outras onde ele é
saudável. Sua capacidade de se enxergar corretamente depende, em parte, das pessoas com
quem você se relaciona terem uma imagem correta de quem você é.

Por isso devemos escolher com muito zelo com quem passamos nosso tempo!

Facilitador

Uma pessoa "facilitadora" é alguém que empodera comportamentos abusivos ou tóxicos de


outra pessoa por não conseguir (ou não querer) apontar seus erros.

Exemplo 1:

"Meu pai facilitador nunca me defendeu na frente da minha mãe, mas quando ela estava longe
ele dizia 'sua mãe é louca!' Eu me sentia traída porque ele não tinha coragem de falar isso na
frente dela."

Exemplo 2:

"Minha mãe facilitadora nunca colocou limite no meu pai quando bebia. Só falava para a gente
'ficar quietinho para não chatear papai', mesmo que ele batesse na gente de graça.

Exemplo 3:

"Meu marido facilitador não consegue dizer não para a mãe dele. Ela acaba com nossa relação
e joga meus filhos contra mim, mas ele só diz: 'é minha mãe, o que posso fazer?'"

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Idealização

Mentes infantis e primitivas veem o mundo em preto e branco. Quanto mais amadurecida a
mente, mais é possível entender que existem tons de cinza, ou mesmo que algo pode ser preto
e branco simultaneamente. Uma coisa não exclui a outra.

Narcisistas têm uma mente infantil. Para eles, ou tudo é ótimo ou tudo é terrível. Eles estão
sempre certos e os outros estão sempre errados. Não existe meio termo, tipo: "às vezes eu
estou certo, às vezes errado, e as outras pessoas também."

Ou então:

"Essa situação está ruim, mas outras partes da minha vida continuam muito bem."

Narcisistas também veem pessoas dessa forma polarizada. Isso significa que eles passam por
fases de idealização (onde o outro é incrível) e desvalorização (onde o outro é visto como uma
pessoa 100% horrível).

No início de um relacionamento amoroso com um narcisista eles idealizam seus parceiros. Eles
imaginam que acharam sua alma gêmea, uma pessoa absolutamente perfeita e sem defeitos.
Na verdade, o que acontece é que o narcisista cria uma imagem na cabeça dele de uma
pessoa que faria ele parecer muito importante.

Nessa fantasia interna, esta pessoa com quem ele se apaixona é muito inteligente, ou muito
bonita, ou muito artística, etc. O narcisista se convence de que essa pessoa é incrivelmente
perfeita, e que isso só pode significar que eles também são perfeitos. Afinal, eles devem ser
incríveis por terem atraído alguém assim.

Narcisistas confundem essa fantasia interna com a realidade e se chocam quando os seus
reais parceiros divergem da imagem internalizada. Para um casal saudável, quando chega o
final da fase de lua de mel, a euforia inicial passa, mas as duas pessoas aprendem formas
práticas de interagirem e conviverem.

Para narcisistas, isso não acontece. Eles não aceitam o fim da euforia, e interpretam isso como
um defeito na história perfeita que criaram na mente. Eles oscilam da idealização do parceiro
para a desvalorização. Nessa fase, eles punem o parceiro por seus defeitos. Eles os humilham
e os submetem a tudo o que tipo de abuso emocional, pelo simples fato de não serem quem o
narcisista acha que devem ser: aquele ser idealizado e perfeito.

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Injúria Narcísica/ Lesão Narcisista
Narcisistas não têm um senso de Eu bem desenvolvido. Por baixo da arrogância e aparência
de sempre ter razão, narcisistas se sentem degradados, humilhados, vazios e sem valor por
dentro.

Sem regulação emocional, eles oscilam entre uma auto-imagem grandiosa e a depressão em
pouquíssimo tempo. Um gatilho para essa oscilação pode ser qualquer coisa que desafia a
imagem de perfeição que o narcisista tenta manter de si.

Por exemplo:

● Receber crítica.
● Ter que assumir responsabilidade por algo.
● Perder suprimento narcisista.
● Perder controle sobre alguém ou sobre uma situação.
● Pagar mico, passar vergonha em público.
● Não receber a atenção ou os favores que acreditam merecer.

No momento que qualquer uma dessas coisas acontece, a frágil autoestima do narcisista
desmorona. Não sendo capaz de olhar seus defeitos ou sua vergonha, o narcisista se sente
imediatamente atacado.

Num momento vingativo, a injuria narcisista vira a fúria narcisista. Ou seja: o indivíduo escolhe
alguém para atacar ou humilhar sem piedade no intuito de fazer essa pessoa sentir a
enormidade da humilhação e desconforto que ele mesmo sente.

No período da fúria narcísica (que pode durar minutos, horas ou mesmo dias) é surpreendente
observar o nível da hostilidade do abuso emocional que ocorre. Esse abuso também pode
acontecer na forma do tratamento de silêncio ou da retirada de atenção e afeto.

O narcisista age de forma tão infantil e chocante, e ele sente tanta vergonha que, muitas vezes,
cria uma história totalmente mentirosa a respeito do que aconteceu naquele dia. Nessa história
fictícia, ele frequentemente culpa quem ele acha que foi responsável por ativar sua injúria e
fúria narcísicas.

Fúria narcísica

Ver injúria narcisista.

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Future Faking

Future faking acontece quando uma pessoa planeja abertamente um futuro junto com outra
pessoa, sem ter uma real intenção de permanecer na sua vida ou fazer essas coisas.

Quando narcisistas iniciam um relacionamento amoroso, eles podem tratar o outro muito bem,
o que é bastante sedutor. Eles acabam criando futuros incríveis com essa pessoa. Podem falar
sobre aquela viagem que querem fazer juntos, ou aquele restaurante onde querem levar você.

Eles criam esse futuro incrível na intenção de apressar a formação de vínculo com a vítima.
Uma vez estabelecido este vínculo, o tratamento sedutor muda e a vítima passa a sofrer abuso
ou negligência.

Mãe e pais narcisistas também fazem isso quando mencionam sua herança (sendo que
pretendem repassar a maioria dos bens para o seu irmão antes de morrerem).

Ou quando pedem favores hoje, com a promessa de retribuir de algum jeito no futuro (e é claro,
não têm a mínima intenção de devolver o favor).

Ou quando dizem que vão oferecer alguma ajuda, e quando chega a hora, mudam de ideia.

A promessa de algo no futuro convence a vítima a fazer o que o narcisista quer hoje.

Gaslighting

Gaslighting é uma forma de abuso psicológico que visa fazer a vítima achar que está
enlouquecendo ou que não pode confiar em si. Como resultado, o abusador vai ganhando
influência e controle sobre a mente da vítima. O abusador nega ou distorce sistematicamente a
realidade para conseguir o que quer. Isso acontece de forma tão repetitiva que a vítima começa
a se perguntar "gente, será que estou ficando louca?"

Exemplos:

Minimizar:

"Você é sensível demais! Não sabe aceitar piada!"


"Que exagerada!"

O narcisista diz isso depois de ofender e perturbar você repetidas vezes. Ele age como se
você fosse "sensível demais" em vez de assumir que estava sendo abusivo, mesmo.

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Distorcer os fatos para conseguir o que quer:

Mãe- Não sei porque você namora o Daniel, o Luiz é muito mais homem, tem muita
mais garra.
Filha- Mãe, mas o Luiz bateu em mim!
Mãe- Você também é insuportável, tem que dar graças a Deus que foi só um tapinha. O
Luiz tem muito mais dinheiro do que o Daniel. Vai querer um pobretão para quê?

A filha começa a achar que apanhou do Luiz porque é "insuportável" e começa a duvidar do
seu valor. Afinal, uma mãe não desejaria mal a uma filha, certo? Ela começa a pensar:

"Minha mãe deve ter razão...eu devo ter provocado o Luiz".

Abusar e falar que é por amor:

"Você não consegue administrar suas finanças, sempre foi desligado demais. Coloca seu
salário na minha conta que mamãe administra para você."

A mãe repete que o filho é "desligado demais", sendo que ele é perfeitamente atento, para não
confiar em si e entregar seu dinheiro para ela.

Dizer que sua percepção é errada ou que você é louco:

"Não seja paranoico!"


"Você precisa de tratamento psiquiátrico! É louca!"
"Tem certeza que foi isso? Acho que não, em..."
"Você distorce tudo."

Dizendo que você é intrinsecamente defeituoso ou que o mundo é perigoso, com o intuito de
isolar você dele:

"Ninguém nunca vai suportar ter você como esposa."


"Toda mulher vai te abandonar, são todas mentirosas fora eu, sua mãe."
"Ninguém fora da sua família vai estar do seu lado nos piores momentos!" ( Sendo que sua
família raramente ou nunca esteve do seu lado).

Culpar a vítima:

"Olha o que você me fez fazer!" (Diz o pai narcisista quando quebra uma mesa de vidro na sua
fúria)

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"Que pé no saco, você sempre me tira do sério!" (Diz a mãe narcisista quando você pergunta
quando ela pode começar a pagar aquela dívida que já era para estar quitada)

Dizer que a vítima tem uma dívida eterna:

"Você me deve! Você destruiu minha vida!"


"Você vai me desobedecer? Depois de tudo que fiz por você? Poderia ter abortado!"

Mentir mesmo ou fingir esquecimento:

"Isso nunca aconteceu!" (Quando a filha aborda o pai narcisista sobre suas inúmeras traições.)

Descrever sua personalidade de forma errônea:

"Maria nunca gostou de gente, desde pequena preferia ficar comigo." (Sendo que foi a mãe
narcisista que isolava a filha socialmente.)
"Você sempre me rejeitou!" (Sendo que era a mãe que negligenciava o filho desde bebê.)
"Você é lerdo demais para ser médico" (Sendo que o filho não apresenta nenhum déficit
cognitivo.)

Gaslighting através de generalizações e estereótipos:

"Meu filho fuma maconha, é um vagabundo!" (Sendo que o filho até fuma maconha, mas
também é um advogado de sucesso.)

"Desde que minha filha começou a gostar de mulher, parou de ir na igreja. Isso prova que
esses gays são do demônio!" (Sendo que a filha sempre gostou de mulher e parou de ir na
igreja com a mãe por causa de constantes ataques sobre sua sexualidade.)

Resumindo: gaslighting é uma forma de distorção repetitiva e sutil da realidade que faz a vítima
se questionar o tempo todo. Em resposta a essa confusão e sentimento de culpa, ela também
pode:

● Pedir desculpas constantemente para o abusador e se culpar pelo abuso.


● Defender o comportamento do abusador.
● Se perguntar constantemente "será que estou viajando na maionese?"
● Se sentir incompetente, culpado e incapaz de confiar em si.
● Perder a esperança e começar a se isolar por se achar tão inadequada.

Hoovering

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Quando você consegue se distanciar emocional ou fisicamente do narcisista, ele pode não
gostar de perder o suprimento narcisista. Ele pode se servir de uma série de táticas para
forçá-lo a voltar para a relação tóxica.

Alguns exemplos são:

● Campanha difamatória. Não é confortável ver mentiras a seu respeito sendo espalhadas
por aí. A raiva que isso causa ou o desejo de consertar sua reputação faz algumas
pessoas voltarem a ter contato com o narcisista.
● Enviar macacos voadores para convencê-la a entrar em contato com o narcisista.
● Enviar presentes ou fazer favores não-solicitados.
● Aparecer na porta da sua casa ou no seu trabalho com algum drama para você resolver.
● Enviar uma mensagem no celular "sem querer".
● Ameaçar cometer suicídio.
● Dar um ultimato qualquer.
● Usar doença, real ou de mentira, para fazer você sentir que é obrigatório entrar em
contato ou obedecer.
● Chantagem emocional.
● Ameaças de vários tipos.
● Enviar longas mensagens ou áudios cheios de ofensas e vitimização.

Todas essas coisas são tentativas de ativar os gatilhos da vítima para que ela desista da sua
liberdade e volte para sofrer mais um ciclo de abuso na relação narcisista.

Invalidação

Invalidação é quando os sentimentos, pensamentos e preferências de alguém são rejeitados,


ignorados, ou criticados. Isso acontece quando uma pessoa nega que a experiência interna e
subjetiva de outra pessoa é válida.

Validação, ao contrário, significa reconhecer que o outro ter uma experiência diferente da sua é
normal e ok. Você aceita e que o outro tem direito de sentir o que sente, independente de você
concordar.

Formas de invalidação são:

● Ditar quais são suas preferências em vez de deixar que você escolha.
● Fazer uma pessoa sentir vergonha por ser quem ela é por natureza.
● Falar que alguém é "muito sensível" com tom de raiva, falso cuidado ou indiferença.
● Se meter na vida dos outros, mesmo não convidado e contra a vontade alheia.
● Não reconhecer suas conquistas, esforços ou méritos.

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● Ficar com raiva, ignorar ou ofender toda vez que o outro tenta ter uma conversa sobre
algo sério que precisa de resolução.
● Negar o que uma pessoa sente. ("Você não precisa de tempo sozinha, precisa de
mamãe perto de você nesse momento!")
● Minimizar a importância e seriedade da sua experiência. ("Você é toda traumatizada
com esse assunto, credo!")
● Invalidação não-verbal como: virar os olhos, suspirar com impaciência, se mover
ansiosa e impacientemente, desconectar mentalmente quando o outro começa a falar,
prestar atenção no celular em vez de na conversa.

Inversão de papéis

Narcisistas são, essencialmente, crianças traumatizadas presas no corpo de adultos. Enquanto


crianças, também passaram por traumas e todas as necessidades que não foram satisfeitas na
infância viraram padrões repetitivos e desadaptativos.

Não sabendo satisfazer essas necessidades sozinhos na fase adulta, narcisistas se cercam de
pessoas para cuidar deles. Por isso, quando têm filhos, ocorre, frequentemente, uma inversão
de papéis. O filho assume a posição de adulto, que cuida da necessidade dos pais, enquanto
os pais ficam na posição de criança. Os filhos têm que ouvir desabafos sobre assuntos
delicados que eles não têm maturidade de entender. São usados pelos pais para resolver
problemas de adultos.

Muitas vezes, os filhos bancam os pais financeiramente, mesmo que estes não tenham
nenhum impedimento para trabalhar. Estes filhos servem de psicólogos e cuidam das emoções
pesadasdos pais numa invasão da mente inocente da criança que se chama "incesto
emocional".

Iscagem

Iscagem é uma tática de abuso emocional que consiste em provocar a vítima até que ela se
defenda, e depois dizer que a vítima que é abusiva, descontrolada ou doente.

Exemplo 1:

Uma mulher narcisista aponta uma faca para uma pessoa que tenta se proteger, empurrando-a.
A narcisista, então, grita: "socorro, ela quer me atacar!"

Exemplo 2:

Um filho de mãe narcisista pede para ela parar de falar mal da nora. Ignorando o pedido do
filho, a mãe continua chamando a nora de gorda e criticando sua comida. O filho pede mais

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uma vez para ela mudar de assunto, educadamente. A mãe só aumenta os ataques e diz que
ele é um besta, que macho de verdade colocaria ordem naquela casa. O filho pede licença e se
levanta da mesa.

"Mãe, preciso ficar sozinho um pouco, tá legal? Depois a gente conversa."

Ele vai para o banheiro e joga água no rosto para se acalmar. De tanto nervoso, ele acaba
esquecendo de trancar a porta e a mãe entra, só para continuar falando mal da nora, como se
ele não tivesse pedido para ela parar.

"Porra mãe! Falei que preciso ficar sozinho!"

A mãe, assustada, grita:

"Monstro! Olha como me trata! Você é louco! Precisa de tratamento!"

Lesão Narcisista
Ver injúria narcisista.

Love Bombing/ bombardeio de amor

O bombardeio de amor, ou "love bombing", é uma tentativa de influenciar uma pessoa por meio
de demonstrações intensas e frequentes de atenção e afeto. Narcisistas bombardeiam pessoas
com favores, atenção, elogios e experiências gostosas com o intuito de gerar confiança e
lealdade.

Parceiros amorosos narcisistas podem fazer isso no início da relação, numa fase chamada
idealização. Nessa fase, o narcisista enxerga a vítima como incrível, a melhor pessoa possível.
Ele cria uma fantasia de um ser supremo e se apaixona por essa fantasia interna. Nessa
paixão louca, gasta todo seu tempo livre seduzindo, bajulando e ouvindo "empaticamente" a
vítima.

Assim que o vínculo é estabelecido e a vítima está entregue emocionalmente, a qualidade da


atenção que recebe muda. Ou ela vira negativa e a vítima sofre abuso emocional e talvez físico
ou sexual, ou vira indiferente e o narcisista se afasta emocionalmente da relação, deixando o
outro sem afeto, atenção, sexo ou toque.

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No caso de pais narcisistas, eles têm períodos de oferecer "chuvas de amor" (ou apenas
migalhas mesmo) para prender os filhos emocionalmente. Como o sonho de qualquer criança é
ser amada pelos pais, filhos de narcisistas aceitam esses curtos períodos de doçura porque
parecem um sonho realizado: finalmente receber a aprovação e ternura que desejam.

Independente do contexto, o bombardeio de amor narcisista vem com segundas intenções e


dívidas geradas sem a vítima saber que estão sendo geradas. Narcisistas podem ser
generosos, mas apenas se isso servir para manipular e controlar o outro.

Macaco Voador

Macaco voador é uma terceira pessoa que o narcisista usa para influenciar você. É uma irmã,
um primo, seu pai ou uma vizinha que acha que o narcisista está certo e que você que está
errado.

De forma geral o narcisista fofoca pelas costas faz a cabeça das pessoas para que elas
convençam você a fazer o que o narcisista quer. Isso geralmente acontece quando você
começa a demonstrar sinais de autonomia ou, no ponto de vista do narcisista, "desobediência".

Talvez você começou a colocar limites, talvez você se distanciou. Independente, nesse
momento a "tropa" pode ser enviada para pressionar você a voltar ao domínio do narcisista.

Existem 2 tipos de macacos voadores:

1) Pessoas tão abusivas quanto o narcisista que também querem abusar de você.
2) Pessoas tão inocentes e ignorantes sobre o narcisismo quanto você, provavelmente, já
foi. Estas pessoas genuinamente não sacaram ainda que o narcisista é tóxico.

Exemplo 1:

"Minha irmã veio implorar para eu mandar uma mensagem para nossa mãe no dia das mães.
Coitada, ela é a criança dourada e não consegue entender que a família é tóxica ainda."

Exemplo 2:

"Minha tia (tão narcisista quanto minha mãe) diz que minha mãe está se ferrando lá na
empresa de família desde que saí e que a culpa é minha. Ela diz que eu devo parar de ser
ingrata e voltar a trabalhar lá, mesmo que os funcionários sofram bullying e não sejam pagos
em dia."

Exemplo 3:

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"Maria, uma irmã da igreja, veio falar comigo sobre como minha mãe anda triste desde que me
mudei da cidade e que eu deveria visitá-la mas. Detalhe: ela não sabe que foi minha mãe que
cortou contato comigo quando eu disse que não ia mais obedecê-la cegamente enquanto ela
me desrespeita."

Maladaptive Daydreaming
Ver Devaneio Excessivo.

Manipulação

Manipulação é uma forma de persuasão ou influência que convence outras pessoas a fazerem
o que o manipulador quer, percebendo ou não que é isso que está acontecendo. É mais fácil se
tornar vítima de um manipulador predatório quando sua auto estima está baixa e você já não
leva sua sabedoria interna a sério.

Aqui estão algumas formas de manipular:

● Mentir ou contar histórias de forma incompleta ou distorcida, para levar os outros


acreditarem apenas naquilo que o manipulador quer.
● Oscilações intensas de humor. Quem lida com pessoas com este perfil acaba tendo
medo das respostas emocionais do outro, então pisa em ovos o tempo todo. É muito
mais fácil manipular alguém que já tem medo.
● Bombardeio de amor e ciclos de idealização e desvalorização.
● Se fazer de vítima quando tiver que assumir erros e mudar comportamentos.
● Mudanças repentinas dos pré-requisitos para ganhar a aprovação do manipulador. Num
dia é necessário agir de forma X, já no outro dia o manipulador quer que você aja de
forma Y. Nunca dá para saber como agradar o manipulador, já que o que ele espera dos
outros muda o tempo todo.
● Ultimatos, ameaças.
● Hostilidade e agressão, e outras formas de domínio (ver abuso emocional e controle
psicológico).

MN
Mãe narcisista

Narcisista Cerebral

O narcisista cerebral usa o seu intelecto para humilhar, dominar e criar uma imagem de
superioridade. De acordo com ele, todas as pessoas são idiotas e inferiores. Narcisistas assim

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se encontram em abundância no mundo acadêmico. Também se encontram entre os
pseudo-acadêmicos, narcisistas que fingem ser mais eruditos do que, de fato, são.

Narcisista Comunal

O suprimento narcisista do narcisista comunal é o aplauso por caridade ou bondade.


Narcisistas desse tipo gostam de aparecer na mídia fazendo doações, resgatando animais de
rua, ajudando refugiados ou executando outros atos de bondade.

São padres, líderes de seitas, terapeutas e coaches, filantropos, celebridades, etc. No entanto,
assim que as câmeras desaparecem, eles podem demonstrar desdém pelas mesmas pessoas
que estavam ajudando.

Pessoas assim causam grande confusão, afinal, realmente acabam ajudando a comunidade
com suas doações e esforços. Isso é apenas uma fachada externa. Quem experimenta a outra
face do narcisista comunal recebe toda a sua sombra.

Em quatro paredes, os íntimos e familiares do narcisista communal sofrem abusos psicológicos


e de outros tipos, inclusive ameaça de morte e violência sexual.

Narcisista Grandioso/ Aberto

O narcisista grandioso é o perfil clássico do DSM-5. Ele é competitivo e visa estar no topo,
sempre em primeiro lugar. Costuma ser um bully que ridiculariza seus oponentes e procura
humilhá-los.

Ele domina conversas, precisa ser o centro das atenções e intimida com sua presença. Esse
perfil acha que é especial e acima da média, e que apenas pessoas igualmente especiais
podem entendê-lo.

Narcisistas grandiosos são dominantes e têm altíssima confiança. Agressivos e sem remorso,
eles exploram as pessoas para seu benefício.

Narcisista Oculto/Vulnerável

Diferente do narcisista grandioso, o narcisista vulnerável ou oculto tem baixa autoestima. Ele
também é agressivo, mas não tem coragem de demonstrar isso publicamente. Por isso que é o
tipo de pessoa que abusa do poder que tem quando está hierarquicamente superior a alguém,

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como dentro de uma família ou uma empresa. Eles preferem fazer isso escondido, diferente do
narcisista grandioso bully, pois assim é mais fácil ser agressivo sem sofrer punição.

Ao contrário dos grandiosos, os ocultos têm ansiedade social. No fundo, eles invejam os
narcisistas grandiosos, pois se sentem como uma versão fracassada deles. Uma versão que
sonhava em ser grande, mas acabou frustrada e culpando o mundo.

O que chama atenção deste perfil é a grande identificação com o papel de vítima. O narcisista
oculto age como se ele fosse a maior descoberta da humanidade, mas que o mundo não levou
a sério por ser cheio de idiotas inferiores.

Eles acham que todo mundo deve algo a eles, embora não consigam desenvolver seus
projetos, pulando de ideia e ideia sem concluir. Muitos experimentam grande ansiedade e
mesmo depressão internamente. Sentem inveja crônica, o que os faz gozar de felicidade
quando os outros têm problemas e estão infelizes. Para eles, é tão mais fácil se sentir bem
quando os outros estão sofrendo.

Narcisista Somático

O narcisista somático usa a beleza do seu corpo para seduzir e impor sua grandiosidade. Ele
passa grande parte do seu tempo focando na sua aparência ou sexualidade, baseia toda sua
autoestima no seu corpo e é arrogante com sua "perfeição". No fundo, é hipersensível a
qualquer crítica relacionada à sua aparência ou sua sexualidade. Sem um senso de Eu, o
narcisista somático precisa de constante validação sobre o quanto é atraente ou sensual.

NP

No mundo dos filhos de narcisistas da internet, "NP" significa diferentes coisas. Abaixo estão
algumas opções:

● Narcissistic personality= "personalidade narcisista" em inglês.


● Narcisista perverso
● Narcisista patológico
● Narcissistic Parents= Pais narcisistas

Pedra Cinza

A motivação principal dos narcisistas é conseguir suprimento narcisista. Eles querem atenção,
obediência e aplausos e amam se alimentar de drama, como ficar feliz quando os outros estão

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mal, procurar encrenca quando existe muita paz, etc. Para o narcisista é muito simples: ou
você oferece suprimento narcisista ou não serve.

O narcisista não consegue ter interesse no indivíduo único que você é. Não consegue ter
paciência de prestar atenção em coisas que não tem a ver com ele ou ela. Não tem maturidade
de contemplar qualquer realidade que não seja a deles. Por isso, se você deixar de oferecer
suprimento narcisista, eles perdem interesse na relação.

O método da pedra cinza é uma tentativa de ativamente criar um desapego emocional com
relação ao narcisista e motivá-lo a perder interesse em você. Você faz isso deixando de
responder às suas cutucadas, indiretas e manipulações.

Em vez de deixar o narcisista ativar seus gatilhos, aja como uma pedra imóvel. Faça da sua
presença a coisa mais desinteressante para o narcisista possível. Para realizar isso, é
necessário observar quais são seus gatilhos e vulnerabilidades, porque o narcisista os conhece
muito bem. Ele os usa para provocar e manipular você.

Por exemplo, se sua mãe narcisista a chama de gorda e você sempre demonstra que fica
magoada, deixe de reagir dessa forma. Simplesmente continue fritando o seu ovo, ou olhe para
ela de forma neutra e dê um meio sorriso, depois volte a ler seu livro em silêncio.

Se seu pai narcisista manda longos monólogos de mensagens, vá deixando de responder ou


comente apenas com emojis de vez em quando. Se sua mãe inventa uma mentira a seu
respeito e espera sua autodefesa, ignore e foque em qualquer outra coisa mais produtiva.

É preciso ter bastante autoconhecimento e ir aprendendo a regular as respostas emocionais


para conseguir executar o método da pedra cinza. Faça uma lista de todos os seus gatilhos,
prepare-se para o desafio de diminuir sua reatividade diante de cada um deles. Só assim você
conseguirá desvincular-se psicologicamente do narcisista e ficar que nem uma pedra diante de
suas provocações.

Vá deixando a relação com o narcisista morrer de fome, privando-a do suprimento narcisista de


energia, reatividade e atenção que você costumava fornecer. Num primeiro momento, ainda
mais com narcisistas que você conhece há muito tempo, eles podem não gostar. Eles podem
tentar punir você por mudar a dinâmica e deixar de cumprir seu papel. Podem escalar o nível
das cutucadas como punição para restabelecer o domínio.

Mesmo assim: foque em aprender a conhecer e regular suas respostas de acordo com seus
interesses de paz de espírito.

Projeção

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A personalidade narcisista, particularmente a oculta, sente mais insegurança e mais dúvidas
sobre si do quê personalidades saudáveis. Para compensar por esse desconforto interno, se
convencem de que os outros são imbecis e que eles mesmos são especiais e superiores.

Essa grandiosidade os impede de conseguir confessar suas dúvidas, erros, vulnerabilidades e


imperfeições. Não tendo estrutura psicológica para lidar com nenhuma dessas coisas,
narcisistas procuram se desfazer delas.

Para conseguir isso, utilizam um mecanismo de defesa psicológico chamado projeção.


Projeção acontece quando uma pessoa "joga para fora" ou "enxerga fora de si" algo que é, na
verdade, dela.

Por exemplo, um sociopata que eu conhecia vivia dizendo:

"Detesto pessoas egoístas!"

Sendo que ele literalmente só pensava nele e ativamente fazia mal às pessoas. Ele acusava as
outras pessoas de serem egoístas, não conseguindo identificar essa característica nele
mesmo.

Ser acusado de algo através da projeção narcisista pode ser uma experiência bizarra. Se
alguma personalidade narcisista na sua vida fez uma acusação sem sentido, talvez você tenha
pensado:

"Da onde essa pessoa tirou isso?"

Você pode ter sido vítima de uma projeção narcisista. Pode ser que eles estavam falando de si
mesmos. Algum narcisista já o chamou de manipulador, mentiroso, narcisista, desregulado ou
invejoso? Algum narcisista já disse que você sentia raiva ou culpa por algo quando você não
sentia nem um pouco?

Exemplo 1:

Uma mãe narcisista acusa seu filho de ter se virado contra ela e a rejeitado desde a infância.

Ela insiste que ele que sempre a desdenhou, sendo que ela o rejeitava. Afinal, o bebê era
resultado de um casamento falido e toda vez que a mãe olhava para o filho, lembrava disso.

Exemplo 2:

Um narcisista oculto se sente injustiçado na empresa onde trabalha. Ele demonstra isso
através de agressão passiva e atrasa projetos, esquece das coisas...enfim, encontra formas
indiretas de atingir a empresa.

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Quando finalmente demitido, ele fala:

"Meu chefe tava querendo me sabotar fazia tempo!"

Não conseguindo se reconhecer como um sabotador, ele acusa o chefe de fazer isso.

PN
Pai narcisista.

Reforço Intermitente

O reforço intermitente é um tipo de condicionamento psicológico que resulta em vício. Ele se


chama reforço intermitente porque existe uma recompensa, uma pequena migalha, que é
oferecida de vez em quando mas não de forma regular.

Por exemplo, imagine que seu pai narcisista é abertamente abusivo 90% do tempo. No entanto,
10% das vezes, você aprende algo muito importante com ele ou dá risadas. Os 90% de maus
tratos fazem você querer distância. Só que quando você está quase chegando nessa
conclusão, vem os 10% e você pensa:

"Até que não é tão ruim assim."

É como se uma migalha de alimento fosse jogada em sua direção um pouco antes de você
morrer de fome. Como a privação vinha acontecendo faz tempo, aquela migalha passa a
assumir uma importância desproporcional. Ela parece um verdadeiro banquete! Pode ser que a
pessoa faminta até olhe para o abusador com um olhar de profundo amor e gratidão nesse
momento.

Essa intensidade na resposta emocional faz com que a vítima busque mais e mais migalhas. É
como se ela ficasse viciada em tentar receber um pouco mais de alimento.

Personalidades abusivas usam reforço intermitente o tempo inteiro. Elas oferecem favores,
momentos de paz, elogios e boas experiências como elementos legais que confundem a
percepção da realidade da vítima. Esta passa a se perguntar se não estaria distorcendo as
coisas e sendo injusta. Assim, ela volta para mais um ciclo de abuso.

É preciso fazer uma análise honesta sobre as chances dessas migalhas virarem uma
verdadeira refeição. É preciso parar de pensar como um viciado louco por uma validação,
aprovação, inclusão e começar a se perguntar se está realmente valendo a pena. Coloque na
balança, junte as coisas boas e ruins, está pendendo para que lado?

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Você tem qualquer razão realista para acreditar que este padrão vá mudar? Se não, ajuste sua
expectativa e seus comportamentos para sair do ciclo do vício, da fome e da migalha.

Stonewalling

Stonewalling é um mecanismo de defesa usado por pessoas que querem evitar assumir
responsabilidade por algo e se sentem sobrecarregadas emocionalmente quando cobradas.
Como consequência, essas pessoas adotam táticas para evitar realmente resolver qualquer
questão.

Se na sua família sempre se mudava de assunto perante assuntos difíceis, se nada nunca era
abordado, processado e resolvido: pode ser que alguém estava fazendo muito stonewalling.

Nem todo mundo que faz stonewalling tem a intenção de ser abusivo, mas personalidades
tóxicas como o narcisista patológico (entre outros) usam stonewalling sistematicamente para
simplesmente não lidar com nada.

Dar respostas vagas, dar respostas complexas e confusas que não explicam nada, sempre
estar ocupado demais para falar, responder uma pergunta com outra pergunta, evitar contato
visual: todas essas são formas de stonewalling que permitem que pessoas tóxicas nunca
tenham que mudar suas atitudes.

Com pessoas que não têm um alto grau de narcisismo, um bom antídoto para o stonewalling
alheio é aprender técnicas de comunicação não violenta para abordar assuntos difíceis. No
entanto, quando se trata de narcisistas, stonewalling é uma forma sistemática de nunca
resolver nada. Nesses casos, cabe se perguntar o quanto você ainda está dependendo de
respostas de terceiros para resolver desafios na sua vida.

Por mais que seja injusto: com narcisistas quem tem que resolver o problema é,
frequentemente, alguém que nem esteve envolvido nele! Se o problema está na sua vida e
você estava esperando ajuda de algum narcisista, é melhor se perguntar como pode dar uns
passos sem essa ajuda.

Suprimento Narcisista

Para lidar com o vazio interno devastador, narcisistas criam um falso eu. Esse falso eu é como
um Deus que é melhor que todo mundo e está sempre certo. Para manter o falso eu vivo (já
que ele não existe de verdade) narcisistas necessitam de muito suprimento narcisista.

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Suprimento narcisista é qualquer coisa que permite que narcisistas se sintam superiores. Isso
ajuda a manter o falso eu da grandiosidade, uma compensação pelo vazio interior. Pode ser
algo positivo ou negativo, alguns exemplos são: suas lágrimas, atenção, seu medo, aplausos,
aprovação, favores, bajulação, dinheiro, sua frustração, seu fracasso, etc.

Transtorno De Estresse Pós-Traumático Complexo (TEPT-C)

O TEPT-C é um transtorno psicológico que pode se apresentar como consequência de


experiências interpessoais traumáticas prolongadas e repetidas, num contexto onde o
indivíduo tem pouca ou nenhuma chance de fuga. Por isso ele é comum entre
prisioneiros de guerra, escravos sexuais ou de trabalho, pessoas campos de
concentração e crianças, já que crianças não têm razão para achar que terão
escapatória dos pais.

O Transtorno De Estresse Pós-Traumático simples é uma resposta a um ou poucos


eventos traumáticos isolados. Ele apresenta os seguintes sintomas:

● Flashbacks e pesadelos (a memória do evento invade a mente de maneira


repetida e incontrolável).
● Grandes esforços para evitar qualquer coisa que relembre do evento.
● Efeitos negativos sobre o pensamento e o humor.
● O sistema nervoso fica em estado de alerta, dificuldade de concentração, as
respostas emocionais são extremas e difíceis de regular ou...
● Respostas emocionais anestesiadas, parece que não se sente as emoções
como antes.

Já o TEPT-Complexo apresenta os sintomas acima e mais alguns outros. Lembre que


no caso do transtorno complexo, o trauma se repetiu por anos e por isso os seguintes
sintomas também podem existir:

● Auto-imagem negativa, baixa auto-estima, a sensação de ser inadequado, de


não ter valor ou de ser culpado pelo abuso que sofreu.
● Dificuldade em se relacionar por evitar relacionamentos ou recriar
relacionamentos abusivos.
● Visão distorcida do abusador, seja idolatrando o mesmo ou o considerando
todo-poderoso e invencível.
● Dissociação- dissociação é "desconectar a mente do corpo" para não sentir
tanta dor. Isso pode causar grandes amnésias, despersonalização ( a sensação

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de ter um "eu roubado" ou de não estar realmente viva) e desrealização ( a
sensação de que o mundo não é real).
● Perda de sentido na vida- a pessoa perde fé, sente desesperança, não vê
sentido em nada e não sabe como criar sentido para conseguir se conectar com
a vida.

É comum adultos que sofreram abuso ou negligência enquanto crianças apresentarem o


TEPT-C.

Tratamento de Silêncio

O tratamento de silêncio é uma tática de manipulação psicológica e acontece quando o


abusador desaprova de alguma atitude sua e reage deixando absolutamente de interagir ou
conversar com você.

Ele ignora suas perguntas, comentários ou qualquer tentativa de iniciar um papo. Ser privado
de afeto e atenção do nada causa grande confusão emocional, por isso o tratamento de
silêncio funciona. A vítima fica totalmente insegura e se sente obrigada a sucumbir ao que o
narcisista quiser só para voltar a receber sua atenção.

É uma espécie de tortura psicológica por que causa medo de que você perderá o amor da
outra pessoa se não fizer o que ela quer. O tratamento de silêncio pode durar alguns minutos,
horas, dias ou mesmo semanas. Também é uma forma de agressão passiva que demonstra
insatisfação e desprezo através de comunicação não verbal. O ponto é fazer a vítima se sentir
invisível ou inválida.

Exemplos de tratamento de silêncio:

● Fingir que não se ouviu o que o outro disse.


● Evitar estar no mesmo ambiente físico que alguém, como se tivessem uma doença
contagiosa.
● Ativamente ignorar qualquer comunicação verbal.
● Convencer outras pessoas a excluírem alguém de atividades em grupo.
● Expressões faciais e corporais de raiva sem uma tentativa de dialogar sobre isso.

Trauma-Bonding/ Trauma-bond

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Trauma-bonding se refere a relacionamentos que ocorrem na presença de perigo, vergonha ou
exploração. É uma resposta psicológica ao abuso onde a vítima desenvolve sentimentos de
amor, pena e lealdade com o abusador (como no caso da síndrome de Estocolmo).

Quando a vítima se vê isolada de outras pessoas mais saudáveis, sua fonte principal de apoio
pode se tornar o abusador. Porque ela precisa sobreviver emocionalmente, quanto mais a
vítima está machucada, mais ela tem a tendência a buscar conforto junto a esse abusador. Isso
envolve, frequentemente, uma desigualdade de poder entre as partes, por exemplo:

● Entre pais e filhos.


● Entre o líder de uma seita e seus seguidores.
● Entre um criminoso e seu refém.
● Entre um pedófilo e sua vítima criança.
● Entre um marido alcoólatra e violento e sua esposa codependente.

Relações desse tipo são marcadas por períodos que alternam entre abuso ou negligência e
pitadas de interações prazerosas.

Esse padrão de abusar, abusar, abusar e depois jogar uma migalha de amor se chama reforço
intermitente, e resulta numa dependência emocional com relação ao abusador, dono das
migalhas.

Triangulação

Triangulação é uma tentativa de resolver um conflito que ocorreu entre duas pessoas
envolvendo uma terceira pessoa.

Exemplo 1:

Seu pai narcisista quer usar seu CPF para fazer um empréstimo. Você disse não, pois não
confia no pai. Inconformado, seu pai vira para sua irmã, Maria e puxa ela para a conversa:

"Maria, você não acha que esse empréstimo é a melhor coisa para a família?"

Ele acha que se a Maria também pressionar, você pode acabar cedendo e deixando ele usar
seu CPF.

Exemplo 2:

Uma esposa narcisista sente inveja da promoção recente do seu marido no trabalho. A atenção
que ele anda recebendo incomoda e muito! Durante o jantar ela pega o celular e mostra uma
foto do seu ex-namorado, sem camisa e todo sarado.

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"Amor, você acredita que o meu ex fica me mandando foto assim? Cara, ele não consegue ficar
sem mim!"

Dessa forma, a parceira narcisista usa o ex para aliviar a inveja que sente do atual marido,
fazendo ele ficar inseguro e com medo de ser trocado.

Exemplo 3:

Uma mãe narcisista passa por um divórcio complicado. Ela está furiosa que foi largada pelo ex,
que logo iniciou uma nova relação com outra mulher. Indignada, ela enche a cabeça dos filhos
com mentiras sobre o pai, afastando-os dele com fofocas.

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Débora
Histórias de superação
de filhas de narcisistas
Quando descobri sobre o Narcisismo Materno
eu estava em uma espiral descendente, ou seja,
me considerava no fundo do poço.
Completava-se 3 anos do contato zero com a
minha mãe que, eu iniciei por ela ter
arquitetado um plano com o intuito de me
dominar. O plano acabou saindo pela culatra
devido eu, na dor lancinante, ter me recusado a
conviver com alguém que só queria o meu mal.
Nesses 3 anos longe dela, tentei lidar com a
culpa, a tristeza e a saudade que ainda sentia. A
necessidade de ter uma família amorosa doía
muito em meu peito. Sem ter recursos Os primeiros 6 meses não foram fáceis devido o
adequados para isso, só fui me encaminhando meu Eu machucado não querer fazer esforço
para o fundo do poço. Eu tentei tudo que para se curar. Eu procrastinei e resisti a alguns
estava ao meu alcance, mas a dor só fazia treinamentos mais profundos. Entretanto,
aumentar. Em uma última atitude para sentia que a dor era um pouco menor. A
sobreviver, lancei ao universo um pedido de proposta do primeiro Treinamento de que "Não
ajuda “que ele explicasse o que estava há certo nem errado, apenas intenção e
acontecendo comigo e mostrasse a porta de consequência”, latejava na minha mente como
saída”. Então encontrei no Youtube o canal da uma verdade tão verdadeira que eu bebi dessa
Taryana Rocha e me aprofundando em tantas taça por muito tempo.
informações, senti uma mão estendida Nos 6 meses seguintes eu já sentia que tinha
convidando-me a sair da escuridão. forças para me arriscar um pouco mais e tentar
Na época, ela estava lançando o projeto da fazer os próXimos treinamentos. Então, dei
Sociedade do Eu Real com o intuito de passos mais largos. Cada coisa que me era
proporcionar recursos base de apresentada remexia muito com o meu interno
autoconhecimento e ressignificação das feridas e aos poucos o meu Eu Real ia me cutucando e
e sequelas adquiridas pelo Narcisismo me guiando até uma experiência totalmente
Materno. nova.

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O meu maior dilema na época era o trabalho.
Sofria muito por falta de recursos
emocionais. Não sabia lidar com as minhas
próprias emoções e principalmente com os
comportamentos mais duros dos outros.
Muitas vezes eu caia no choro na empresa e Durante o acompanhamento eu descobri a
era vista como uma pessoa sensível demais. Comunicação Não Violenta e procurei me
Sofria de tal forma que criei uma rejeição tão certificar no assunto. Cada dia mais tenho me
grande pelo trabalho a ponto de sentir o sentido bem comigo mesma. Tenho
sangue puXar os meus braços para longe do aprendido a amar o processo e todas as
computador. Essas sensações me colocavam revelações que ele traz sobre mim. Não me
em uma situação descontrolada. acho mais uma pessoa esquisita em tudo que
Em uma sessão individual com a Tary, expus fala e faz. O primeiro dia que tirei uma foto e
o meu incomodo. Na conversa surgiu a me vi linda e feminina foi um marco na
ressignificação “mesmo que eu não gostasse minha vida. Percebi então, naquele momento
do trabalho que eu dependia, era possível que a minha beleza nunca foi externa e sim
ressignificar tudo o que estava sentindo”. Eu interna. Quando a minha luz saiu de dentro
pensei que “comigo não funcionaria, pois o para me iluminar, a beleza apareceu. Eu me
incomodo já estava em um nível físico, seria senti plena e inteira e tudo isso estava
impossível retroceder”. Mesmo assim, resolvi estampado em uma única foto.
comprar a proposta. A partir de então passei a vivenciar
Não foi rápido nem fácil, mas a longo prazo, a visceralmente uma conexão comigo mesma
dor de trabalhar foi diminuindo até chegar que nunca tinha sentido antes. Lembro-me
no estágio atual em que tenho consciência de da primeira vez que senti PAZ. Eu não
que não gosto do que faço, mas ressignifico o consegui identificar esse sentimento logo de
meu olhar trazendo diante de mim o cara e me causou estranhamento. Tentando
propósito de estar aqui e o que quero explicar o que era para uma amiga eu percebi
conquistar com tudo isso. Não há mais dor, que era PAZ. Foi mágico poder vivenciar
apenas certeza de que essa fase um dia vai sentimentos que nunca tinha experienciado.
passar. Não estou estagnada, apenas escolho Após um ano mais ou menos do início na
viver essa fase pelo meu propósito. SER, passei a receber muitos feedbacks de
Muitos foram os ganhos obtidos na SER. O amigos dizendo que eu parecia outra pessoa.
mais tangível foi ter encontrado o meu Aparentava estar mais feliz - eu era uma
propósito de vida. pessoa que tinha a expressão muito triste - e
todos falavam de um brilho que aparecia
sempre que eu sorria. Meu marido disse que
eu parecia estar mais confiante, que fazia as
coisas e não falava mais que estava com
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medo.
Quando parei para prestar atenção, percebi expor em Lives.Tive a chance de
que eu encarava mudanças em qualquer área compartilhar a cena com pessoas magnificas
da minha vida com mais confiança e não que me recebiam sem julgamentos. Eu me
pensava tanto no futuro, mas procurava permiti acreditar na bondade e fluidez da
estratégias no presente para lidar com o vida e me iluminar por ela.
presente. Isso levou minha carga de estresse Meu objetivo atual é continuar
no chão. Hoje, quando me sinto estressada experienciando a vida para gerar mais
logo consigo assimilar por estar preocupada confiança em desenvolver o meu negócio.
com o futuro e reinício a mente para que Quero deixar de ser empregada para ser
foque no que é possível fazer agora. Essa empresária.
simples troca de mentalidade tem mudado Estou começando uma carreira como
minha relação com a vida de uma forma Educadora Parental e Consultora em
incomensurável. Comunicação Consciente. Através do meu
Identifiquei e ressignifiquei muitas crenças trabalho eu quero proporcionar as pessoas
limitantes. A primeira logo no início foi a de um conhecimento base para quebra de
que “eu tinha nascido para sofrer e que Deus paradigmas baseado no Rompimento do
não me amava”. Entendendo que não há Pensamento Binário, na
certo e errado, mas sim intenção e Autoresponsabilidade (autocuidado) e na
consequência eu consegui abandonar a Responsabilidade Afetiva, utilizando para
sensação de que eu estava amaldiçoada e tanto os preceitos da Comunicação Não
criar a crença de que a “Vida me apoia e ela Violenta e o resgate da Biografia Humana.
tem tudo de bom para me dar”. Muito ainda tenho que desvendar de mim
mesma. O tempo que vai levar não importa, a
Outra crença muito importante foi a de que conexão comigo mesma é sempre o meu foco.
“mudanças são sempre sofridas e muito Não há arco-íris que possa definir o resgate
complicadas”. A minha vida toda me vi do meu SER.
rejeitando a mínima mudança, pois sempre Sou grata a Tary por ter coragem dia após dia
tinha a sensação de caos. Quando entendi de ser ela mesma e doar luz as pessoas ao seu
que a mudança é algo bom e que estamos redor e grata a vida pelos caminhos que me
sempre evoluindo comecei a trabalhar para guiaram até aqui. Adversidades sempre
gerar as mudanças que eu quero viver, afinal existirão, mas hoje sei, que estou criando
de contas “se algo vai mudar que seja para o recursos emocionais para passar por elas.
que eu quero”. Então me arrisco mais, a fim
de me levar a mudanças escolhidas que Quem quiser acompanhar esse meu
alcançam os meus objetivos. urante a SER eu desabrochar dia a dia pode me seguir no
fiz muitas mudanças a fim de experienciar o Instagram @debora_carrafa e no facebook
que eu era capaz de fazer. E a grande através da página “Educação Parental com
experiência foi usar o meu Instagram como CNV”.
meio profissional e me

88
ga
Obrigada por se educar e se desenvolver! Isso ajuda não só você como o
mundo como um todo. Cada alívio seu é um alívio coletivo. Cada
habilidade aprendida, cada insight, cada lição é um tesouro para quem
interage com você, e com essas pessoas, e as pessoas com quem elas
interagem, e assim por diante.

Eu desejo a você o prazer de viver a partir da sua própria essência e de


acordo com valores que fazem sentido para você. Se você se der esse prazer
vai conseguir se defender e se afastar de gente e situações tóxicas com
muito mais facilidade.

Que você acredite no poder cumulativo do 1%, que se perdoe pelo resto,
que se acolha nos piores momentos e se torne sua melhor amiga!

Arte: @sol_cult

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