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Contextos Clínicos, 6(1):2-14, janeiro-junho 2013

© 2013 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2013.61.01

Suicídio na adolescência:
fatores de risco, depressão e gênero

Suicide in adolescence: Risk factors, depression and gender

Luiza de Lima Braga, Débora Dalbosco Dell’Aglio


Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala 115, 90035-003, Porto Alegre, RS, Brasil.
luiza.lima.braga@gmail.com, dalbosco@cpovo.net

Resumo. Este artigo discute fatores de risco ao suicídio na adolescência,


bem como características epidemiológicas de jovens que tentam ou come-
tem suicídio, a partir de uma perspectiva desenvolvimental. Por meio de
uma revisão não sistemática de literatura, a partir de estudos nacionais e
internacionais sobre o tema, foi possível identificar alguns fatores de risco
que têm sido associados ao comportamento suicida, tais como transtornos
psicológicos, uso de álcool e/ou drogas, exposição à violência, conflitos fami-
liares, história de suicídio na família e experiências estressoras. Com relação
às diferenças de gênero, observou-se que as tentativas de suicídio são mais
frequentes em meninas, porém, o suicídio consumado é maior em meninos,
pois eles utilizam-se de meios mais agressivos em suas tentativas. Dentre
os principais fatores de risco, destaca-se a depressão como tendo um papel
fundamental no desenvolvimento de pensamentos e comportamentos de
morte. Conhecer os principais fatores de risco associados ao suicídio e as
diferentes formas de manifestação dos sinais a ele associados pode ser um
passo importante para o planejamento de programas de prevenção.

Palavras-chave: suicídio, adolescência, fatores de risco, depressão.

Abstract. This paper discusses adolescent suicide risk factors as well as epi-
demiologic characteristics of adolescents who attempt or commit suicide
from a developmental perspective. Through a non-systematic review of lit-
erature from national and international studies about the subject, some risk
factors to adolescent suicide behavior were identified such as mental illness-
es, alcohol/drug use, exposure to violence, family conflicts, family history
of suicide and stressful experiences. Furthermore, gender differences were
observed: suicide attempts are more common among girls, but suicide rates
are higher among boys because they use more aggressive means in their
attempts. Among the major risk factors, depression stands out as having a
key role in the development of thoughts and behaviors of death. Knowing
suicide behavior dynamics can be a relevant step for planning prevention
program.

Key words: suicide, adolescent, risk factors, depression.


Luiza de Lima Braga, Débora Dalbosco Dell’Aglio

Introdução tido, a adolescência tem sido considerada um


período vulnerável ao comportamento suicida
De acordo com a Organização Mundial (Barros et al., 2006).
da Saúde (World Health Organization - WHO, Nos Estados Unidos, em 2006, 1771 crian-
2010), o suicídio constitui-se, atualmente, em ças e adolescentes de 10 a 19 anos de idade co-
um problema de saúde pública mundial, pois meteram suicídio, o que tornou esta a terceira
está, em muitos países, entre as três principais causa de morte nesse grupo etário (Schwartz
causas de morte entre indivíduos de 15 a 44 et al., 2010). Na Europa, o suicídio é a segun-
anos e é a segunda principal causa de morte da causa mais comum de morte entre adoles-
entre indivíduos de 10 a 24 anos. A cada ano, centes e adultos na faixa dos 15 aos 35 anos
aproximadamente um milhão de pessoas mor- (WHO, 2010). No Brasil, na década de 90, en-
rem devido ao suicídio, o que representa uma tre 26% a 30% do total de suicídios consuma-
morte a cada 40 segundos. O índice mundial de dos foram cometidos por jovens entre 15 e 24
suicídio é estimado em torno de 16 a cada 100 anos (Cassorla, 1991). Além disso, o número
mil habitantes, variando de acordo com o sexo, total de suicídios entre os anos de 1998 e 2008
a idade e o país. Nos últimos 45 anos, as taxas passou de 6.985 para 9.328, representando um
de suicídio aumentaram cerca de 60% em todo aumento de 33,5%. Esse aumento foi superior
o mundo. No ano 2000, cerca de um milhão de ao do número de homícidios e acidentes de
pessoas em todo o mundo cometeram suicídio transportes no país, que, no mesmo período,
(WHO, 2010). No Brasil, no ano de 2005, foram cresceram 19,5% e 26,5%, respectivamente
registrados oficialmente 8550 suicídios, o que (Waiselfisz, 2011).
representa uma morte a cada hora diariamen- De acordo com diferentes autores, essas es-
te (Ministério da Saúde, 2009). Apesar desses tatísticas não são confiáveis e podem vir a ser
dados alarmantes, o Brasil é considerado um subestimadas, não correspondendo à realida-
país com baixo índice de suicídio, pois a taxa de, já que o número que consta nas estatísticas
oficial de mortalidade devido a esse proble- oficiais provém das causas de morte registra-
ma é estimada em 4,1 por 100 mil habitantes das nos atestados de óbitos, sendo que, em
para a população com um todo, sendo 6,6 para muitos casos, a família e a própria sociedade
homens e 1,8 para mulheres. Segundo o Mi- pressionam para que a causa da morte seja
nistério da Saúde (2009), o suicídio é respon- falsificada (Araújo et al., 2010; Cassorla, 1991;
sável por 24 mortes diárias no Brasil e três mil Dutra, 2002). A Organização Mundial da Saú-
no mundo todo, além de 60 mil tentativas. O de estima que as tentativas de suicídio sejam
Rio Grande do Sul é o estado que apresenta os cerca de vinte vezes mais frequentes do que o
maiores índices de suicídio do país, com oito a suicídio consumado e também que, para cada
dez mortes por cem mil habitantes – taxa duas tentativa de suicídio registrada oficialmente,
vezes superior à média nacional (Ministério da existem pelo menos quatro tentativas não re-
Saúde, 2009). Pesquisadores sugerem que a et- gistradas (WHO, 2010). Os autores explicam
nia, a cultura e questões relacionadas ao clima que as falhas estatísticas podem ocorrer por
podem ser responsáveis por esta situação (Me- vários motivos e, principalmente, devido às
neghel et al., 2004). dificuldades de conceituação, como, por exem-
A literatura demonstra que as estatísticas plo, identificar com precisão se um acidente de
de suicídio se distribuem de maneira desigual trânsito foi fatalidade ou tentativa de suicídio.
nos diferentes países, entre os sexos e entre os Entretanto, mesmo que haja evidências de que
grupos etários. As taxas mais altas são obser- a causa de morte de um indivíduo foi devido
vadas em idosos do sexo masculino – no Bra- ao suicídio, esta geralmente é registrada como
sil, as taxas de suicídio nessa população são o acidente, pois, muitas vezes, não apenas a fa-
dobro daquelas observadas na população ge- mília do paciente nega a realidade como tam-
ral (Minayo e Cavalcante, 2010). Apesar disso, bém os próprios profissionais dos serviços de
o suicídio vem aumentando entre a popula- saúde, que comumente registram o suicídio
ção jovem nas últimas décadas, sendo que os de maneira vaga, como por exemplo: “aciden-
jovens representam, atualmente, o grupo de te por ingestão excessiva de medicamento”
maior risco (WHO, 2010). Em alguns países (Dutra, 2002). Além disso, Avanci et al. (2005)
como Canadá, Sri Lanka, Áustria, Finlândia consideram que entre as famílias de classe mé-
e Suíça, o suicídio em adolescentes e adultos dia e alta há uma grande omissão dos casos de
jovens está se configurando em um padrão tentativa de suicídio e até mesmo de suicídio
epidêmico (Meneghel et al., 2004). Nesse sen- consumado. É possível supor que jovens de

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classe média e alta busquem ajuda em consul- mente a depressão, bem como daquelas que
tórios ou clínicas particulares em vez de hos- abusam de substâncias, o aperfeiçoamento do
pitais e/ou postos de saúde, o que dificultaria acesso aos serviços sociais e de saúde são es-
a notificação de casos de suicídio em adoles- tratégias efetivas para a prevenção.
centes desses níveis socioeconômicos (Avanci Nesse sentido, considerando que o suicídio
et al., 2005). Fatos dessa natureza demonstram é reconhecidamente um problema de saúde
a dificuldade das pessoas, de maneira geral, pública mundial (WHO, 2010) e que a ado-
em lidar com um assunto tão complexo quanto lescência tem sido considerada um período
o suicídio. Isso pode ser explicado, em parte, vulnerável a este comportamento (Barros et
devido ao suicídio ser um tema permeado por al., 2006; Kokkevi et al., 2010; Puentes-Rosas et
mitos, tabus e preconceitos de diversas nature- al., 2004), o presente artigo investigou, a par-
zas, principalmente as que se referem à moral tir da literatura nacional e internacional sobre
e à religião (Dutra, 2002). o tema, aspectos relacionados ao suicídio na
Durkheim (1982 [1897]), sociólogo francês adolescência, buscando identificar fatores de
e autor do mais conhecido trabalho sociológi- risco e características epidemiológicas de jo-
co sobre o suicídio, compreendeu o fenômeno vens que tentam ou cometem o suicídio, com
como social e culpou a ‘fragilidade moral’ da foco na questões de gênero e depressão.
então sociedade contemporânea como a raiz
de todos os males sociais, incluindo o suicídio. Suicídio na adolescência
A morte voluntária é definida pela psiquiatria
como um fenômeno individual, enquanto que O suicídio refere-se ao desejo consciente de
as ciências sociais o descrevem como um com- morrer e à noção clara do que o ato executado
portamento coletivo (Meneghel et al., 2004). pode gerar (Araújo et al., 2010). O comporta-
Apesar de algumas divergências, é consenso mento suicida pode ser dividido em três cate-
que este é um fenômeno multideterminado, gorias: ideação suicida (pensamentos, ideias,
que está presente em todas as faixas etárias, planejamento e desejo de se matar), tentativa
culturais e sociais e constitui-se em um tema de suicídio e suicídio consumado. A ideação
de grande complexidade, o que dificulta que suicida é um importante preditor de risco
os pesquisadores estabeleçam uma relação para o suicídio, sendo considerada o primei-
causal entre o ato (suicídio consumado) e um ro “passo” para sua efetivação (Werlang et al.,
motivo causador (Dutra, 2002). Além disso, 2005). Assim, a decisão de cometer suicídio
diferentes pessoas podem ter motivações dis- não ocorre de maneira rápida, sendo que com
tintas e finalidades diversas para o ato suicida frequência o indivíduo que comete o suicídio
(Baptista, 2004). Considerando que muitos in- manifestou anteriormente alguma advertência
divíduos em risco de suicídio não são identifi- ou sinal com relação à ideia de atentar contra
cados ou, muitas vezes, a identificação ocorre a própria vida. Da mesma forma, a literatura
tardiamente, esforços têm sido feitos com o in- aponta que existe uma grande probabilidade
tuito de identificar e manejar fatores de risco a de, após uma primeira tentativa de suicídio,
esse comportamento (Borges e Werlang, 2006). outras virem a surgir, até que uma possa ser
A análise dos estudos mais recentes amplia fatal (Borges et al., 2008; Dutra, 2002; Espino-
o entendimento acerca dos fatores que predis- za-Gomez et al., 2010). Portanto, a trajetória
põem ao comportamento suicida, indicando estabelecida entre a ideação suicida, tentativas
que, para que se possa atuar de maneira pre- e concretização da morte pode oferecer um
ventiva diante dos comportamentos suicidas, é tempo propício para a intervenção (Krüger e
preciso estar ciente e alerta para os diversos fa- Werlang, 2010).
tores de risco e de proteção (Borges et al., 2008). No continente americano, pesquisas têm
É importante considerar os aspectos geográfi- indicado que os habitantes de zonas urbanas
cos e culturais que muitas vezes relacionam-se e os jovens de 15 a 24 anos são os grupos po-
com as tentativas de suicídio, com o intuito de pulacionais de maior risco de suicídio (Toro et
desenvolver explicações multifacetadas sobre al., 2009). Países como Finlândia e Canadá têm
as principais causas do fenômeno em questão sido identificados como possuidores de altas
(Baptista, 2004). De acordo com a Organização taxas de suicídio adolescente. Na Argentina,
Mundial da Saúde (WHO, 2010), a restrição ao as taxas de suicídio entre adolescentes de 10 a
acesso aos meios de cometer suicídio, a identi- 14 anos e de 15 a 19 anos são, respectivamente,
ficação e o tratamento precoce de pessoas que de 2,52 e 5,90 a cada cem mil habitantes. Já na
sofrem de transtornos psicológicos, especial- Colômbia, no ano de 2006, foram registradas

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taxas de 12 por cem mil homens de 18 a 24 anos Baptista, 2004; Freitas e Botega, 2002; Kokke-
e 4 por cem mil em mulheres de 15 a 17 anos vi et al., 2010) de que a presença de sintomas
(Toro et al., 2009). No México, uma investiga- depressivos - como sentimentos de tristeza,
ção buscou descrever as mortalidades por sui- desesperança, humor depressão, falta de moti-
cídio no período de 1990 a 2001. Foi verificado vação, diminuição do interesse ou prazer, per-
que, no ano de 2001, foram registrados 3784 da ou ganho significativo de peso, problemas
suicídios, sendo 3110 homens e 674 mulheres. de sono, capacidade diminuída de pensar ou
O maior aumento no número de casos de sui- concentrar-se, dentre outros - é um importante
cídio por grupo etário foi observado nas ado- fator de risco para o suicídio e de que a ado-
lescentes do sexo feminino de 11 a 19 anos (de lescência é considerada um período propício
0,8 por cem mil habitantes em 1990 para 2,27 tanto para a ideação quanto para as tentativas
em 2001). Nesse grupo, o suicídio constitui-se de suicídio, principalmente quando associada
na segunda causa de morte, somente inferior à à depressão (Araújo et al., 2010).
mortalidade por acidentes de trânsito. No gru- Dutra (2002) considera que a solidão é um
po dos homens, o maior aumento observado sentimento muito comum em adolescentes
também foi em adolescentes entre 11 a 19 anos que tentam o suicídio. Tais jovens relatam
(de 2,6 por cem mil habitantes em 1990 para sentir falta de ter amigos e reclamam não ter
4,5 em 2001). Os pesquisadores concluíram ninguém para dividir experiências e triste-
que houve um aumento acelerado de casos de zas, apresentando maior probabilidade de
suicídio, principalmente em homens e mulhe- desenvolver problemas emocionais, compor-
res jovens (Puentes-Rosas et al., 2004). tamentais e afetivos. Prieto e Tavares (2005)
Arnautovska e Grad (2010) investigaram constataram que a falta de convivência com
as atitudes de 423 adolescentes Eslovênios de os pares durante a infância ou a adolescência
18 anos de idade com relação ao suicídio. Foi pode constituir-se como fator de risco ao sui-
verificado que os adolescentes que relataram a cídio, pois as trocas afetivas com pares, nesta
experiência de qualquer tipo de comportamen- fase do desenvolvimento, reduzem o impacto
to suicida tiveram significativamente mais ati- das experiências adversas. Nesse sentido, Ri-
tudes permissivas com relação ao suicídio do vers e Noret (2010) investigaram as implica-
que aqueles sem tais experiências. A permissi- ções da exposição ao bullying nos pensamen-
vidade com relação ao suicídio se relacionou tos suicidas de cerca de 2000 adolescentes
positivamente com a ideação suicida, tentati- ingleses que desempenhavam diferentes pa-
vas de suicídio e com a maioria dos fatores de péis sociais no bullying (agressores, vítimas
risco ao suicídio. As atitudes permissivas dos ou testemunhas). Os resultados indicaram
adolescentes com relação ao suicídio diferiram que a maioria dos adolescentes do estudo já
por tipo de família e por gênero, sendo que havia se envolvido em episódios de bullying
adolescentes com pais divorciados tiveram as na escola seja como agressores, vítimas, tes-
atitudes mais permissivas com relação ao sui- temunhas ou uma combinação destes três pa-
cídio e aqueles com uma experiência de morte péis sociais. Entretanto, aqueles adolescentes
na família tiveram as atitudes mais negativas. com múltiplos papéis sociais estiveram signi-
Por fim, foi verificado que as meninas tiveram ficativamente mais propensos a pensamentos
atitudes mais permissivas com relação ao sui- suicidas. Poucos estudos investigaram espe-
cídio do que os meninos. cificamente a influência dos amigos nas ten-
Baggio et al. (2009) investigaram a preva- tativas de suicídio, mas muitos estudos têm
lência de planejamento suicida e fatores as- demonstrado que as relações interpessoais
sociados em adolescentes escolares da região entre pares influenciam significativamente o
metropolitana de Porto Alegre. Foi encontrada desenvolvimento social de crianças e adoles-
uma prevalência de 6,3% de planejamento sui- centes, incluindo o desenvolvimento de habi-
cida entre esses adolescentes, com taxas maio- lidades sociais, afetivas e cognitivas (Daudt
res de planejamento entre as meninas. Com et al., 2007). Entende-se que as experiências
relação aos fatores associados ao planejamen- vividas no grupo de pares podem ser mui-
to, os adolescentes que relataram sentimentos to significativas e influenciar as característi-
de solidão e tristeza apresentaram prevalên- cas individuais dos adolescentes, incluindo
cia mais alta de planejamento suicida do que comportamentos, temperamentos, cognições
adolescentes sem esses sentimentos. Os pes- e habilidades para resolução de problemas,
quisadores reforçam, assim, a ideia já susten- além de influenciar na sua autoestima e ame-
tada por outros autores (Bahls e Bahls, 2002; nizar o impacto de eventos estressores, cons-

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Suicídio na adolescência: fatores de risco, depressão e gênero

tituindo-se em importante fonte de apoio Fatores de risco


emocional e social. Assim, compreende-se ao suicídio na adolescência
que a convivência com os pares - especial-
mente na fase da adolescência, em que os re- De acordo com a Organização Mundial da
lacionamentos interpessoais fora do âmbito Saúde (WHO, 2010), a vulnerabilidade associa-
familiar têm fundamental importância para da à doença mental, à depressão, a desordens
o jovem em desenvolvimento – pode servir relacionadas ao álcool (alcoolismo), ao abuso,
como importante fator de proteção ao suicí- à violência, a perdas, à história de tentativa de
dio na adolescência. suicídio, bem como à “bagagem” cultural e
Os elevados números de suicídio na ado- social representam os maiores fatores de risco
lescência apontados pelos estudos podem ser ao suicídio. É importante considerar que esses
explicados, em parte, pela dificuldade de mui- aspectos, isoladamente, não são preditores do
tos jovens de enfrentar as exigências sociais e suicídio, mas as consequências deles deriva-
psicológicas impostas pelo período da adoles- das podem aumentar a vulnerabilidade dos
cência. Nessa etapa, o jovem pode experien- indivíduos ao comportamento suicida. Especi-
ciar grandes mudanças, adquirir novas habili- ficamente com relação ao suicídio adolescente,
dades e enfrentar diversos desafios (Steinberg, alguns estudos destacam os seguintes fatores
2000), que podem impulsionar muitos jovens a que podem constituir-se como risco: isolamen-
desenvolverem pensamentos e comportamen- to social, abandono, exposição à violência in-
tos suicidas. A literatura aponta que, no perí- trafamiliar, história de abuso físico ou sexual,
odo da adolescência, ocasionalmente podem transtornos de humor e personalidade, doença
aparecer pensamentos de morte devido à difi- mental, impulsividade, estresse, uso de álcool
culdade dos jovens em lidar com as demandas e outras drogas, presença de eventos estresso-
sociais, contextuais e situacionais impostas res ao longo da vida, suporte social deficitário,
pela fase do ciclo vital em que se encontram sentimentos de solidão, desespero e incapaci-
(Werlang et al., 2005). As ideias de morte tam- dade, suicídio de um membro da família, po-
bém podem surgir como uma estratégia dos breza, decepção amorosa, homossexualismo,
jovens para lidar com problemas existenciais, bullying, locus de controle externo, oposição
como a compreensão do sentido da vida e da familiar a relacionamentos sexuais, condições
morte (Borges et al., 2008). Além disso, as ten- de saúde desfavoráveis, baixa autoestima,
tativas de suicídio e o suicídio consumado au- rendimento escolar deficiente, dificuldade de
mentam com o passar dos anos, especialmente aprendizagem, dentre outros (Avanci et al.,
após a puberdade (Bahls e Bahls, 2002). 2005; Baptista, 2004; Borges e Werlang, 2006;
Os estudos de diferentes países indicaram Cassorla, 1991; Dutra, 2002; Espinoza-Gomez
que as motivações para o suicídio (ex.: história et al., 2010; Kokkevi et al., 2010; Meneghel et al.,
de suicídio na família, presença de transtor- 2004; Prieto e Tavares, 2005; Toro et al., 2009;
nos mentais, exposição à violência, abuso de Werlang et al., 2005).
álcool e drogas, bullying, conflitos na família, Alguns estudos têm relacionado o suicídio
etc.) tendem a ser constantes em adolescentes a diversos transtornos psiquiátricos, sejam
de diferentes culturas. Entretanto, com relação transtornos de eixo I (transtornos clínicos) ou
aos meios de cometer o suicídio, foi possível de eixo II (transtornos de personalidade), po-
verificar diferenças entre países nos quais rém, os transtornos de eixo I estão fortemente
o uso de armas de fogo é permitido e países relacionados com o aumento da probabilidade
onde tal uso é proibido. A maioria dos estudos de tentativas de suicídio. Dentre esses, desta-
norte-americanos descreve a presença de arma ca-se a depressão, que possui uma relação bem
de fogo no ambiente doméstico como um dos estabelecida com a ideação suicida tanto na in-
principais fatores de risco para o suicídio de fância e na adolescência como na vida adulta
adolescentes que apresentavam ideação sui- (Baptista, 2004). Prieto e Tavares (2005), em
cida, sendo que a maior parte dos jovens que revisão de literatura, verificaram que os estu-
cometem suicídio, nos Estados Unidos, o faz dos sobre fatores de risco ao comportamento
por meio de arma de fogo (Schwartz et al., suicida têm demonstrado uma correlação des-
2010). Em contrapartida, os estudos nacionais se comportamento com a presença de alguma
(Abasse et al., 2009; Baptista, 2004; Dutra, 2002) desordem psiquiátrica como transtorno de
apontaram que a ingestão excessiva de medi- humor, transtorno relacionado ao uso de subs-
camentos é a principal forma utilizada pelos tâncias, esquizofrenia e transtorno da persona-
adolescentes para tentar o suicídio. lidade. A comorbidade mostrou-se frequente,

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o que indica, segundo os pesquisadores, um tamento de pessoas que cometeram suicídio


sofrimento psíquico acentuado. sobre? o comportamento de pessoas com saú-
Freitas e Botega (2002) investigaram a pre- de mental vulnerável, o que pode impulsionar
valência de depressão, ansiedade e ideação o comportamento de imitação (Mercy et al.,
suicida em 120 adolescentes grávidas atendi- 2001). Os pesquisadores explicam que os casos
das em um serviço público de pré-natal, no de suicídio estampados em jornais, televisão
Brasil. Os resultados indicaram que 19 ado- ou internet podem “contagiar” outras pessoas
lescentes estavam com ideação suicida. Den- que estão procurando uma solução para seus
tre essas adolescentes, 16 já haviam tentado problemas, principalmente adolescentes ou
suicídio anteriormente. Além disso, a ideação jovens com problemas psiquiátricos ou men-
suicida esteve associada à depressão, a estar tais (Daber e Baptista, 2004). A situação será
solteira e sem namorado e também ao baixo agravada se o adolescente tiver presenciado a
apoio social percebido. Os autores apontaram história de suicídio de um familiar ou conhe-
que a gravidez na adolescência também pode cido, pois esse se torna um comportamento
ser considerada um fator de risco para o sui- apreendido como forma de resolução de con-
cídio na adolescência, tendo em vista suas re- flitos, aumentando, assim, os casos de suicídio
percussões. através das gerações.
Outros fatores têm sido considerados como Kinyanda et al. (2011) investigaram fatores
riscos ao comportamento suicida. Dentre eles, associados à história de comportamento suici-
a vulnerabilidade gerada pelas situações de da em adolescentes de diferentes zonas rurais
pobreza é uma situação social que pode pre- na Uganda e identificaram que as diferenças
dispor ao suicídio, uma vez que o desemprego, geográficas na incidência do comportamento
o estresse econômico e a instabilidade familiar podem ser explicadas pelas diferenças de pri-
aumentam os patamares de ansiedade dos in- vação social e doenças psiquiátricas, já que o
divíduos (Meneghel et al., 2004). Além disso, acesso ao tratamento dessas doenças se torna
pessoas com histórico de suicídio na família mais difícil nas regiões rurais. Baptista (2004)
possuem maior vulnerabilidade para repe- também afirma que indivíduos que vivem em
tir o comportamento, verificando-se, assim, a áreas rurais são mais propensos a tentarem
transgeracionalidade do comportamento sui- suicídio quando comparados a indivíduos de
cida (Araújo et al., 2010). Em adolescentes, as zonas urbanas, o que provavelmente ocorre
tentativas prévias de suicídio e a perda recente porque em áreas urbanas o acesso a serviços
de uma pessoa amada aumentam considera- de saúde mental e suporte social é maior. Da
velmente a probabilidade de suicídio (Toro et mesma forma, o isolamento social pode ser
al., 2009). No estudo de Bella et al. (2010), as considerado um fator de risco ao suicídio.
tentativas prévias de suicídio foram identifi- Tem sido verificado que o uso de substân-
cadas como o fator de risco mais importante cias tanto lícitas quanto ilícitas está intimamen-
para predizer novos comportamentos suicidas te associado com pensamentos autodestruti-
em adolescentes. vos e tentativas de suicídio em adolescentes
A relação entre suicídio e conhecer uma (Esposito-Smythers e Spirito, 2004) e essa re-
pessoa que já tentou o suicídio é descrita pela lação estaria associada com a frequência e a
literatura como um comportamento de imita- intensidade do uso de drogas, pois o impacto
ção ou contágio (Mercy et al., 2001). O com- dessas substâncias no organismo pode modi-
portamento de imitação pode ocorrer tanto ficar as funções orgânicas, como também os
por conhecer alguém que cometeu o suicídio estados de consciência e os processos de pen-
como também pela veiculação de notícias de samento. Esposito-Smythers e Spirito (2004)
pessoas famosas que cometeram o ato suicida exploraram a relação entre o uso de substân-
(Werlang et al., 2005). Nesse sentido, o impacto cias e o comportamento suicida em adolescen-
que as notícias de suicídio veiculadas pela mí- tes, demonstrando que o uso de substâncias
dia exercem sobre algumas pessoas tem sido aumenta o risco de comportamentos suicidas,
apontado por alguns estudos como um impor- sendo que os adolescentes suicidas apresenta-
tante fator de risco ao suicídio (Daber e Bap- vam elevadas taxas de uso de álcool e drogas
tista, 2004), principalmente em adolescentes e ilícitas. Foi constatado que os efeitos do uso de
adultos jovens. Muitas pesquisas têm compro- álcool podem servir como um fator de risco ao
vado a existência desse fenômeno, denomina- comportamento suicida devido ao aumento de
do suicide contagion (contágio suicida), que se problemas psicológicos, agressão, distorções
refere à influência da divulgação do compor- cognitivas e pela diminuição da capacidade de

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Suicídio na adolescência: fatores de risco, depressão e gênero

resolução de problemas que o uso desta subs- frequência da exposição à violência em adoles-
tância provoca. centes com 15 anos ou menos, enquanto que,
Prieto e Tavares (2005), em revisão de li- para os adolescentes mais velhos, a exposição
teratura sobre fatores de risco ao suicídio, à violência associou-se com outras variáveis,
verificaram a presença de várias experiências como o desenvolvimento de comportamentos
adversas ou estressoras durante o desenvol- violentos ou antissociais.
vimento de indivíduos que tentam o suicí- Kokkevi et al. (2010) examinaram fatores
dio, dentre elas: situações de violência física, psicossociais relacionados às tentativas de
sexual, negligência e rejeição na infância e na suicídio em adolescentes de 14 a 18 anos na
adolescência. Também foi constatada a presen- Grécia. Os resultados mostraram que alguns
ça de mudanças frequentes nas condições de aspectos constituíram-se como fatores psicos-
vida destes indivíduos, como, por exemplo, o sociais de risco estatisticamente significativos
divórcio dos pais e a perda de pessoas signifi- para as tentativas de suicídio dos adolescentes:
cativas. Além disso, os pesquisadores identifi- gênero feminino, hábito de fumar diariamen-
caram alguns indicadores clínicos que atuam te, uso ilegal de drogas, consumo frequente de
como preditores de suicídio, dentre eles: a his- álcool, insatisfação com o relacionamento esta-
tória pregressa de tentativas de suicídio, grau belecido com os pais, baixa autoestima e altos
de intenção suicida, tipo de método escolhido indicadores de depressão e comportamentos
e acessibilidade a este, a presença de arma de antissociais. Foi possível verificar a influência
fogo no ambiente familiar, ausência de supor- do gênero, do uso de drogas ilícitas e da baixa
te social, depressão e histórico familiar de sui- autoestima sobre as tentativas de suicídio. Os
cídio. Por fim, os pesquisadores encontraram adolescentes que não estavam vivendo com
evidências de que o suicídio ocorre, em geral, ambos os pais também apresentaram maior
pouco tempo depois da decisão de tirar a pró- risco. Os autores concluíram que o principal
pria vida, o que demonstra o elevado nível de fator protetivo contra as tentativas de suicí-
impulsividade dos indivíduos que consumam dio foi a satisfação com o relacionamento com
o ato (Prieto e Tavares, 2005). os pais e altos níveis de autoestima. Assim, é
Espinoza-Gomez et al. (2010) investigaram possível verificar que, ainda que o conceito de
a associação entre conduta suicida e violência família tenha se pluralizado nas últimas déca-
física, verbal e sexual no âmbito doméstico em das (Schenker e Minayo, 2003) e que as confi-
5.484 adolescentes universitários mexicanos. gurações familiares atualmente sejam muitas
Os resultados mostraram que 15,8% dos ado- (famílias nucleares, monoparentais, reconsti-
lescentes que participaram do estudo referi- tuídas, etc.), a importância dessa instituição
ram ideação suicida e 7,3% referiram tentativa para o desenvolvimento adequado de seus
de suicídio, com uma frequência mais elevada membros tem persistido (Krüger e Werlang,
entre as meninas. Da mesma forma, elas refe- 2010) e o vínculo emocional entre os membros
riram exposições à violência física, verbal e se- de uma família (seja ela nuclear ou não) conti-
xual significativamente maiores do que os me- nua tendo a função de proteção inclusive para
ninos. O estudo verificou uma forte associação o comportamento suicida. Embora a maioria
entre violência doméstica em todas as suas for- dos estudos atuais sobre famílias defendam a
mas de manifestação e conduta suicida. Dessa ideia de que a configuração da família não é
forma, compreende-se que a exposição à vio- o que determina o desenvolvimento adequa-
lência doméstica, além de desencadear diver- do de seus membros e sim a sua dinâmica e a
sos sintomas físicos, psicológicos e sociais (Sá qualidade do vínculo familiar, vários estudos
et al., 2009), pode contribuir também de forma mostraram que adolescentes oriundos de famí-
significativa para o desenvolvimento de con- lias nucleares apresentaram menor incidência
duta suicida na adolescência, constituindo-se de tentativa de suicídio do que adolescentes
em importante fator de risco. No estudo de oriundos de famílias de pais divorciados ou
Dieserud et al. (2010), que investigou fatores de famílias nas quais um membro importante
associados à tentativa de suicídio em adoles- já havia falecido (Arnautovska e Grad, 2010;
centes de 13 a 19 anos, foi observado que, tan- Ficher e Vansan, 2008; Werlang et al., 2005).
to para os meninos como para as meninas, os Também foi verificado que o adequado supor-
conflitos relacionais na família foram os prin- te social e familiar ao indivíduo que pensa em
cipais motivos que desencadearam tentativas se matar é de vital importância na prevenção
de suicídio. Para Benda e Corwyn (2002), o sui- dos pensamentos e do comportamento suici-
cídio esteve positivamente relacionado com a da. Compreende-se, dessa forma, que o supor-

Contextos Clínicos, vol. 6, n. 1, janeiro-junho 2013 8


Luiza de Lima Braga, Débora Dalbosco Dell’Aglio

te familiar durante a adolescência pode servir te e à finitude da vida. Nessas culturas, é práti-
como amortecedor para os eventos estressores ca de muitos pais afastar os filhos de questões
de vida, constituindo-se em importante fator relacionadas à morte, disfarçando o óbito de
de proteção ao suicídio. animais de estimação para crianças e evitando
Um estudo nacional investigou, dentre levá-las a cerimoniais de óbitos. Essas atitu-
outros aspectos, os motivos que originaram des dos pais para com seus filhos aumentam
tentativas de suicídio em 12 adolescentes aten- a dificuldade dos mesmos de conversar sobre
didos em um hospital de emergência na cida- o assunto. Os pesquisadores entendem que a
de de Fortaleza, Ceará (Vieira et al., 2009). A proximidade com assuntos tabus melhoraria
principal razão apontada pelos jovens como a clareza da criança sobre o assunto e a com-
causa do suicídio foi o “amor não correspon- preensão sobre esse tema tão controvertido
dido”, seja esse amor no sentido de namoro (Baptista et al., 2004).
como também no sentido dos relacionamentos
familiares com pais pautados pela fragilidade Características epidemiológicas:
dos vínculos afetivos. Assim, as pesquisadoras diferenças de gênero e depressão
destacam a importância da família enquan-
to estabelecedora das primeiras relações de Os estudos que investigam as característi-
afeto e de rede social. O sofrimento psíquico cas epidemiológicas das pessoas que tentam
foi apontado como um fator de forte influ- ou cometem suicídio têm destacado a impor-
ência para que o adolescente buscasse a ten- tância da associação desse ato com as variáveis
tativa de suicídio como um meio para resol- gênero e depressão. Quanto ao gênero, Dutra
ver seus problemas e conflitos. Nesse estudo, (2002) aponta que, em diferentes culturas, as
nível socioeconômico e nível de escolaridade características de pessoas que cometem suicí-
baixos constituíram-se como fatores que in- dio são semelhantes, dentre as quais podem
fluenciaram nas tentativas de suicídio. Outro ser destacadas: indivíduos do sexo masculino,
aspecto investigado foi com relação às reações adultos e solteiros, verificando-se que poucos
das pessoas frente à tentativa de suicídio do países diferem-se desse padrão, dentre eles
adolescente. De acordo com as pesquisado- Índia e China, onde as ocorrências de morte
ras, quando um adolescente obtém insucesso voluntária predominam no sexo feminino. Em
na tentativa de suicídio, na maioria das vezes, contrapartida, as tentativas de suicídio são epi-
depara-se com a indignação, o estranhamento demiologicamente diferentes do suicídio con-
e a incompreensão não apenas por parte dos sumado não apenas no Brasil, mas também em
amigos e familiares, como também por parte muitos outros países, sendo que, de maneira
dos serviços de emergência que, muitas vezes, geral, as mulheres cometem maior número
não promovem um ambiente de escuta e aco- de tentativas (Abasse et al., 2009; Kinyanda
lhimento a esses jovens (Vieira et al., 2009). et al., 2011; Toro et al., 2009). O maior número
Para Dutra (2002), devido a tabus e pre- de tentativas entre adolescentes do sexo femi-
conceitos, muitos dos profissionais da área da nino pode estar relacionado ao maior índice
saúde podem sentir-se despreparados para de depressão desse grupo, já que a literatura
lidar com tentativas de suicídio, não apenas aponta que a depressão desempenha um im-
devido à falta de treinamento técnico, mas portante papel no comportamento suicida
também pelo fato de a tentativa de suicídio, (Bahls e Bahls, 2002). As mulheres que tentam
provavelmente, acionar sentimentos, crenças e o suicídio comumente são jovens e solteiras e
valores pessoais que os deixem receosos e con- as tentativas geralmente ocorrem por meio da
fusos, sem saber como agir junto ao jovem que ingestão excessiva de medicamentos ou vene-
tentou o suicídio. Nesse sentido, é importante, nos (Baptista, 2004; Dutra, 2002).
além de instrumentalizar teoricamente esses De acordo com Meneghel et al. (2004), al-
profissionais para a intervenção nesses casos, guns fatores protetores têm sido relacionados
fornecer-lhes também espaços de discussão à menor ocorrência do suicídio consumado
sobre esse assunto tabu, a fim de aumentar entre as mulheres, destacando-se a baixa pre-
a clareza sobre o tema, o que talvez diminui- valência de alcoolismo, religiosidade e/ou es-
ria receios ou crenças errôneas que giram em piritualidade e atitudes flexíveis em relação às
torno dessas questões. Baptista et al. (2004) aptidões sociais e ao desempenho de papéis
sustentam que a questão se torna ainda mais durante a vida. Soma-se a isso o fato de as mu-
difícil de lidar devido à cultura, em países oci- lheres, em geral, identificarem precocemente
dentais, de evitar assuntos relacionados à mor- sinais de risco para depressão ou outras doen-

Contextos Clínicos, vol. 6, n. 1, janeiro-junho 2013 9


Suicídio na adolescência: fatores de risco, depressão e gênero

ças mentais, estarem mais propensas a buscar todos violentos”, a literatura demonstra que
ajuda em momentos de crise e terem uma rede os meninos utilizam-se de meios mais agres-
de apoio social e afetivo mais ampla do que os sivos para tentar o suicídio, o que explica, na
homens. Por outro lado, os papéis atribuídos à cultura ocidental, uma maior mortalidade do
masculinidade envolvem aspectos que podem sexo masculino por suicídio (Marín-Leon e
predispor os homens a comportamentos sui- Barros, 2003). Assim, estratégias como enfor-
cidas. Tais aspectos podem incluir a competi- camento, pular de locais altos, uso de arma de
tividade, a impulsividade e o maior acesso a fogo ou armas brancas, dentre outros, são mais
tecnologias letais e armas de fogo. Além disso, facilmente verificados em meninos do que em
os homens são mais sensíveis a aspectos rela- meninas. Aspectos culturais e sociais devem
cionados ao trabalho, ao desemprego e ao em- ser considerados nessas diferenças de gênero,
pobrecimento (Meneghel et al., 2004). pois meninos e meninas são socializados de
No estudo de Werlang et al. (2005), foram maneira diferente e a sociedade é mais permis-
investigados fatores de risco associados à ide- siva com meninos do que com meninas para o
ação suicida em adolescentes portoalegrenses uso de comportamentos mais agressivos. Das
com idades entre 15 e 19 anos, bem como fato- meninas, é socialmente esperado que sejam
res protetores. Os resultados revelaram que a mais delicadas, contidas e menos agressivas
maioria dos adolescentes com ideação suicida que os meninos. Assim, é possível pensar que
eram mulheres. Esse dado corrobora com a li- a diferença na forma com que meninos e meni-
teratura sobre suicídio, que indica que as mu- nas são educados e socializados influencia na
lheres estão, de maneira geral, mais propensas escolha de métodos suicidas mais agressivos
à ideação suicida e os homens ao suicídio con- (e por consequência mais efetivos) por parte
sumado (Abasse et al., 2009). Também foi veri- dos adolescentes do sexo masculino.
ficado que dos 18 adolescentes da amostra que Ficher e Vansan (2008) investigaram aspec-
já haviam perdido um dos pais, 11 apresenta- tos epidemiológicos de adolescentes e jovens
ram ideação suicida. Além disso, as variáveis com idades entre 10 e 24 anos atendidos em um
depressão e conhecer uma pessoa que já ten- setor de urgência de um hospital psiquiátrico
tou ou cometeu o suicídio foram as variáveis na cidade de Ribeirão Preto (SP) após tentativa
que mais se relacionaram com a ideação suici- de suicídio e abuso de substâncias psicoativas
da. As autoras concluíram, assim, que adoles- durante o período de 1988 a? 2004. No perío-
centes que possuíam indicadores de depressão do investigado, foram atendidos 1377 casos de
e que tinham um amigo que tentou o suicídio tentativas de suicídio de adolescentes na faixa
podem desenvolver ideação suicida mais fa- etária investigada, sendo 75 do sexo feminino
cilmente do que outros adolescentes (Werlang e 25 do sexo masculino, o que estabelece uma
et al., 2005). relação aproximada de três para um. Os resul-
O estudo de Avanci et al. (2005) investigou tados apontaram uma correlação positiva en-
o perfil epidemiológico de adolescentes de tre o número de casos atendidos por tentativa
10 a 19 anos, admitidos em uma unidade de de suicídio e o número de casos atendidos de-
emergência da cidade de Ribeirão Preto (SP) vido ao abuso de substâncias psicoativas para
devido à tentativa de suicídio durante o ano ambos os sexos. A distribuição das tentativas
de 2002. A maioria dos 72 adolescentes atendi- de suicídio por idade apontou uma proporção
dos pertencia ao sexo feminino, possuía idades mais elevada de casos (43,5%) em adolescentes
entre 15 e 19 anos, era solteira e proveniente de com idades entre 15 e 19 anos. O estudo veri-
bairros onde predominava um nível socioeco- ficou ainda que a maioria dos meninos aten-
nômico baixo. Foram observadas diferenças didos por tentativa de suicídio encontrava-se
com relação ao gênero, sendo que as tentativas na faixa etária de 20 a 24 anos; já as meninas
em adolescentes do sexo feminino ocorreram, encontravam-se na faixa etária dos 15 aos 19
na maioria dos casos, por meio do uso de me- anos. Foram estabelecidos diagnósticos psi-
dicamentos (psicotrópicos e neurolépticos), quiátricos para 692 casos de adolescentes com
seguido de substâncias químicas e métodos tentativa de suicídio. Por fim, o estudo verifi-
violentos. Em contrapartida, os métodos vio- cou que as histórias clínicas dos adolescentes
lentos foram os mais utilizados pelos adoles- mostraram que a maioria era proveniente de
centes do sexo masculino, seguidos de medi- famílias de pais separados e a tentativa havia
camentos e substâncias químicas. Embora o ocorrido com mais frequência após discussão
referido estudo não tenha descrito quais foram com pessoas significativas do núcleo familiar.
as estratégias que se configuraram como “mé- Além disso, o método mais utilizado pelos

Contextos Clínicos, vol. 6, n. 1, janeiro-junho 2013 10


Luiza de Lima Braga, Débora Dalbosco Dell’Aglio

adolescentes do sexo masculino e do feminino Adolescentes com transtorno depressivo


foi o envenenamento (93,9%). maior apresentam, em geral, humor irritável
Em estudo com adolescentes entre 10 e 19 e instável, com frequentes episódios de explo-
anos, no estado de Minas Gerais, no período são e de raiva. Podem, ainda, apresentar perda
entre 1980 e 2003, foram verificadas taxas mais de energia, apatia, desinteresse, retardo psi-
altas de internações decorrentes de tentativa comotor, perturbações do sono, alterações de
de suicídio entre adolescentes do sexo femini- apetite, isolamento, dificuldade de concentra-
no, numa proporção de três para um (Abasse et ção, sentimentos de desesperança, uso e abu-
al., 2009). Além disso, foi possível observar que so de drogas e, em casos extremos, ideação e
o meio mais utilizado pelos adolescentes de comportamento suicida (Bahls e Bahls, 2002).
ambos os sexos para as tentativas de suicídio Borges e Werlang (2006) investigaram a pre-
foi a autointoxicação, sendo que as meninas sença de ideação suicida em adolescentes com
optaram por esse método cerca de três vezes idades entre 15 e 19 anos de uma população
mais. Porém, para a efetivação do ato suicida, não clínica da cidade de Porto Alegre, buscan-
o principal meio utilizado pelos jovens foi o do identificar o nível de associação entre ide-
enforcamento, seguido de arma de fogo pelos ação suicida e depressão/desesperança. Dos
meninos e pela autointoxicação pelas meninas. 526 adolescentes da amostra, 36% apresenta-
Adicionalmente, os resultados mostraram que ram ideação suicida, sendo que, desses, 36%
os adolescentes do sexo masculino entre 15 e demostraram sintomas de depressão e 28,6%
19 anos apresentaram maior risco de morte ao demonstraram sintomas de desesperança. Dos
longo dos anos, com uma taxa de mortalidade adolescentes com ideação suicida, a maioria
média cerca de duas vezes maior que as ado- tinha em torno de 15 anos. Além disso, as pes-
lescentes. quisadoras verificaram que as variáveis que
A maioria dos estudos sobre suicídio men- mais estiveram associadas à ideação suicida
ciona a depressão como um dos principais foram: sexo feminino, tentativa de suicídio de
fatores de risco ao suicídio em todas as fai- um amigo, depressão e desesperança. Assim,
xas etárias. Assim, o estudo sobre depressão considera-se necessária a avaliação de adoles-
na adolescência torna-se relevante principal- centes e o tratamento de sintomas depressivos
mente ao se considerar que esse transtorno identificados, que podem se constituir numa
desempenha um importante papel diante dos importante ferramenta de prevenção ao de-
atos suicidas (Baggio et al., 2009; Bahls e Bahls, senvolvimento de pensamentos e comporta-
2002; Baptista, 2004; Werlang et al., 2005), sen- mentos suicidas.
do um dos fatores que mais têm se relaciona-
do com o suicídio na adolescência (Toro et al., Considerações finais
2009). Entre um terço a dois terços dos suicí-
dios em jovens ocorre em adolescentes clini- Este artigo teve como objetivo discutir as-
camente deprimidos (Bahls e Bahls, 2002). O pectos relacionados ao suicídio na adolescên-
reconhecimento de que crianças e adolescen- cia, fatores de risco e características epidemio-
tes podem sofrer de depressão é datado da dé- lógicas de adolescentes que tentam suicídio,
cada de 70 (Barros et al., 2006). Posteriormen- destacando a questão de gênero e a depressão.
te, a depressão na adolescência passou a ser Os resultados apontaram como principais fa-
considerada comum, podendo manifestar-se tores de risco ao suicídio na adolescência: a
por longos períodos de tempo, além de afetar presença de eventos estressores ao longo da
múltiplas funções e causar diversos prejuízos vida, a exposição a diferentes tipos de violên-
psicossociais. Estudos epidemiológicos sobre cia, uso de drogas lícitas e/ou ilícitas, proble-
depressão sugerem, ainda, um claro predomí- mas familiares, histórico de suicídio na famí-
nio desse transtorno em adolescentes do sexo lia, questões sociais relacionadas à pobreza e
feminino (Bahls e Bahls, 2002), sugerindo que à influência da mídia, questões geográficas e
pode ser um dos motivos pelos quais as me- depressão. Com relação ao gênero, os resul-
ninas tentam mais o suicídio do que os meni- tados demonstraram que, embora as meninas
nos. Bella et al. (2010) também investigaram a tentem mais o suicídio, os meninos o cometem
frequência de transtornos mentais em crianças mais, pois utilizam-se de meios mais agressi-
e adolescentes de 8 a 17 anos que tentaram sui- vos em suas tentativas, que, com mais frequ-
cídio, sendo que a depressão foi a patologia ência, levam ao êxito.
mais associada ao suicídio, seguida do trans- Os sintomas de depressão, como tristeza, de-
torno de conduta. sesperança, falta de motivação e interesse pela

Contextos Clínicos, vol. 6, n. 1, janeiro-junho 2013 11


Suicídio na adolescência: fatores de risco, depressão e gênero

vida fazem com que este transtorno seja um cetada, buscando uma maior compreensão de
dos principais fatores de risco ao suicídio. Nes- sua dinâmica e que possibilitem a proposição
se sentido, destaca-se a necessidade de que os de estratégias de prevenção e intervenção jun-
profissionais da área da saúde sejam capacita- to a essa população. As equipes de profissio-
dos para a identificação e o manejo de sintomas nais que trabalham com adolescentes, seja no
depressivos, além de conhecer a dinâmica do âmbito da escola ou de serviços de saúde, pre-
suicídio e as características de gênero envolvi- cisam estar capacitadas para o trabalho com
das nesse comportamento. Salienta-se também essa faixa etária. A questão do suicídio na ado-
a importância do aprimoramento e do avanço lescência deve ser combatida, evitando-se que
nos estudos sobre os medicamentos antidepres- mais jovens recorram à morte voluntária como
sivos específicos para essa faixa etária, já que a forma de enfrentamento de dificuldades en-
maior disponibilidade desses medicamentos contradas ao longo de seu desenvolvimento.
em serviços de saúde poderia auxiliar na redu-
ção dos casos de suicídio em adolescentes. Referências
Os resultados encontrados reforçam a
ideia, já apresentada em outros estudos, de ABASSE, M.L.F.; COIMBRA, R.; SILVA, T.C.; SOU-
que o suicídio na adolescência é um fenômeno ZA, E.R. 2009. Análise epidemiológica da mor-
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res de ordem biológica, psicológica, sociode-
va, 14(1):407-416.
mográfica e cultural interagem entre si. Nesse http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000200010
sentido, a prevenção deste grave problema de ARAÚJO, L.C.; VIEIRA, K.; COUTINHO, M. 2010.
saúde pública não é uma tarefa fácil. Ideação suicida na adolescência: um enfoque
Embora a identificação dos fatores de risco psicossociológico no contexto do ensino médio.
ao suicídio seja importante para a prevenção, Psico-USF, 15(1):47-57.
os profissionais da saúde devem estar atentos http://dx.doi.org/10.1590/S1413-82712010000100006
ARNAUTOVSKA, U.; GRAD, O. 2010. Attitudes to-
para saber interpretá-los e manejá-los de for- ward suicide in the adolescent population. Cri-
ma adequada. O simples reconhecimento dos sis, 31(1):22-29.
fatores de risco não é suficiente para evitar o http://dx.doi.org/10.1027/0227-5910/a000009
suicídio, principalmente ao se considerar que AVANCI, R.C.; PEDRÃO, L.J.; COSTA JÚNIOR,
muitos adolescentes expostos a diferentes ti- M.L. 2005. Perfil do adolescente que tenta sui-
pos de fatores de risco não desenvolvem pen- cídio admitido em uma unidade de emergência.
samentos de morte. Além disso, a ausência dos Revista Brasileira de Enfermagem, 58(5):535-539.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672005000500007
reconhecidos fatores de risco ao suicídio não BAGGIO, A.; PALAZZO, L.; AERTS, D.R.G.C. 2009.
impede que um adolescente possa vir a tentar Planejamento suicida entre adolescentes escola-
ou a cometer o suicídio. res: Prevalência e fatores associados. Caderno de
Embora neste estudo tenha se destacado a Saúde Pública, 25(1):142-150.
importância da identificação de fatores de ris- http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2009000100015
co, é preciso considerar também que o conhe- BAHLS, S.; BAHLS, F.R.C. 2002. Depressão na ado-
lescência: Características clínicas. Interação em
cimento a respeito dos fatores de proteção ao
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fatores de risco. Dessa forma, torna-se neces- neiro, Guanabara Koogan, p. 3-22.
sário o fortalecimento das redes de apoio dos BAPTISTA, M.N.; BORGES, A.; BIAGI, T.A.T. 2004.
adolescentes, envolvendo principalmente a fa- Pesquisas de suicídio no Brasil. In: M.N. BAP-
TISTA (Ed.), Suicídio e depressão – atualizações.
mília, grupos de pares e escola, promovendo
Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, p. 23-32.
relações mais satisfatórias e maior bem-estar, BARROS, A.P.R.; COUTINHO, M.P.L.; ARAÚJO,
tendo em vista que os relacionamentos pesso- L.F.; CASTANHA, A.R. 2006. As representa-
ais e a percepção de apoio ocupam um impor- ções sociais da depressão em adolescentes no
tante papel nessa etapa do ciclo vital. contexto do ensino médio. Estudos de Psicologia,
Considerando que o suicídio na adolescên- 23(1):19-28.
cia é um problema que diz respeito não apenas http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2006000100003
BELLA, M.E.; FERNÁNDEZ, R.; WILLINGTON,
à família das vítimas, mas também aos profis- J.M. 2010. Intento de suicidio en niños y adoles-
sionais de saúde e à comunidade como um centes: Depressión y transtorno de conducta di-
todo, são necessários novos estudos que inves- social como patologías más frecuentes. Archivos
tiguem este fenômeno de uma forma multifa- Argentinos de Pediatria, 108(2):124-129.

Contextos Clínicos, vol. 6, n. 1, janeiro-junho 2013 12


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