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1 – Qual ação?

Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 153, ajuizada


em outubro de 2008, contestando o § 1º do artigo 1º da Lei n. 6.683/79 (Lei da
Anistia), tendo como ponto central a tese de que os crimes cometidos por
agentes estatais não poderiam ser considerados como anistiados, não sendo
enquadrados como “conexos”, nos termos da Lei de Anistia.

Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido


entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes
políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos
políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de
fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo
e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos
com fundamento em Atos Institucionais e Complementares

§ 1º - Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de


qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por
motivação política.

O julgamento de improcedência, por sete votos a dois, foi em abril de


2010.

2 – Quem ingressou com a respectiva Ação?

Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

3 – O legitimado possui capacidade postulatória?

Sim, nos termos do art. 2º, inciso I, da Lei nº 9.882/99 c/c o art. 103, inciso
VII, da Constituição Federal.

4 – O legitimado demonstrou pertinência temática?

Desnecessário, haja vista a legitimação “universal” do Conselho Federal


da OAB para as ações de controle concentrado de constitucionalidade.

5 – Quem é o polo passivo da demanda?

A Presidência da República e o Congresso Nacional.

6 – Existiu pedido cautelar?

Não.

7 – Qual a decisão do pedido cautelar?


Não houve pedido cautelar.

8 – Como o AGU manifestou-se?

Pela improcedência do pedido, alegando que a pretensão contida na


ADPF seria de mudança de interpretação de texto normativo (quanto ao caráter
amplo e irrestrito da anistia), sendo que essa limitação significaria modificar a
própria hipótese de incidência do preceito, contrariando a intenção do
legislador em 1.979.

Afirma, ainda, que a CF 88 só foi promulgada dez anos depois da lei de


anistia, sendo que esta última produziu todos os seus efeitos, consolidando a
situação jurídica dos que se viram envolvidos com o regime militar, de um lado
ou de outro.

Por fim, entende que a alteração pretendida esbarra nos princípios da


segurança jurídica, da irretroatividade da lei penal e aponta o fato de a ação ter
sido ajuizada trinta anos após a lei de anistia e vinte anos após a edição da
constituição.

9 - Como o PGR manifestou-se?

Pela improcedência do pedido. Alega que, a partir do exame histórico,


deve-se notar que a anistia tem índole objetiva, não visando beneficiar pessoas
específicas, mas dirigindo-se aos crimes praticados. Afirmou, também, que a
anistia resultou de um longo debate entre diversos setores da sociedade civil,
sendo fator importante para viabilizar a transição do regime militar para o
regime democrático.

10 – O relator solicitou a manifestação do amicus curiae?

Solicitou apenas manifestação às casas do Congresso Nacional. Houve,


todavia, ingresso de quatro entidades na qualidade de amicus curiae, quais
sejam: Associação Juízes para a Democracia – AJD; Centro pela Justiça e o
Direito Internacional – CEJIL; Associação Brasileira de Anistiados Políticos –
ABAP; e a Associação Democrática e Nacionalista de Militares – ADNAM.

De se notar o pedido da OAB por audiência pública, o qual foi indeferido.

11 – Foi aplicada a modulação dos efeitos na Ação?

Não, pois houve improcedência do pedido.

12 – Foi proferida sentença? Quais os argumentos?

Sim, julgando improcedente o pedido, em ação relatada pelo Ministro


Eros Grau. Os argumentos do acórdão foram os seguintes:
a) os “crimes conexos” mencionados na Lei de Anistia devem ser
considerados no contexto de sua edição, sendo figura sui generis destinada a
estender a anistia criminal de natureza política aos agentes do Estado (bem
como aos opositores do regime que praticaram crimes), não se confundindo
com a conexão criminal do direito penal vigente;

b) a anistia foi bilateral, ampla e geral;

c) A lei de anistia se configura como lei-medida, mostrado-se imediata e


concreta e consubstanciado um ato administrativo especial. Não é, portanto, lei
dotada de generalidade e abstração cuja interpretação deva se adaptar à
realidade posterior e a seus conflitos. O que deve ser ponderado é a realidade
do país no momento de sua edição, sendo uma decisão política tomada
naquele momento e diante de situações políticas específicas;

d) A lei de anistia é anterior à Convenção da ONU contra a tortura, à Lei


nº 9.455/97 (crimes de tortura) e à CF88. O preceito do art. 5º, XLIII (a lei
considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática
da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem) não alcança, por
impossibilidade lógica, anistias anteriores e já consumadas. A CF não afeta
leis-medida que a tenham precedido.

e) O STF e o Poder Judiciário não está autorizado a alterar texto


normativo, podendo, a partir do que já está disposto, produzir novas normas.
Não pode, contudo, reescrever leis de anistia;

f) Eventual revisão de lei de anistia deve ser feita pelo Legislativo, não
pelo Judiciário;

g) A anistia foi reafirmada pela EC 26/85, que convocou Assembléia


Nacional Constituinte, estando, pois, integrada na nova ordem constitucional.

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