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Diz Taunay (História do Brasil): "Em face de tais boatos, revoltaram-se, às primeiras
horas da noite de 14, dois regimentos sediados em São Cristóvão, cujo comando
Deodoro assumiu na madrugada de 15, embora estivesse bastante doente." Ouro Preto,
que se encontrava refugiado no Ministério da Guerra sob a proteção do ajudante general
do Exército Floriano Peixoto, foi deposto. Floriano não reagiu contra o golpe militar
liderado por Deodoro da Fonseca, cujo ideólogo principal foi Benjamin Constant: estava
proclamada a República.
Diz Taunay (História do Brasil): "Em face de tais boatos, revoltaramse, às primeiras
horas da noite de 14, dois regimentos sediados em São Cristóvão, cujo comando
Deodoro assumiu na madrugada Do dia 15, embora estivesse bastante doente."
Floriano não reagiu contra o golpe militar liderado por Deodoro da Fonseca, cujo
ideólogo principal foi Benjamin Constant: estava proclamada a República.
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Ano: 1889
"A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois pode-se
considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático com todas
as consequências da Liberdade.
Foi o exército quem operou esta magna transformação; assim como a de 7 de abril de 31
ele firmou a Monarquia constitucional acabando com o despotismo do Primeiro
Imperador, hoje proclamou, no meio da maior tranqüilidade e com solenidade realmente
imponente, que queria outra forma de governo.
Assim desaparece a única Monarquia que existia na América e, fazendo votos para que
o novo regime encaminhe a nossa pátria a seus grandes destinos, esperamos que os
vencedores saberão legitimar a posse do poder com o selo da moderação, benignidade e
justiça, impedindo qualquer violência contra os vencidos e mostrando que a força bem
se concilia com a moderação. Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva a Liberdade!"
Gazeta da Tarde, 15 de novembro de 1889.
"Despertou ontem esta capital no meio de acontecimentos tão graves e tão imprevistos
que as primeiras horas do dia foram de geral surpresa. Rompeu com o dia um
movimento militar que, iniciado por alguns corpos do exército, generalizou-se
rapidamente pela pronta adesão de toda a tropa de mar e terra existente na cidade.
"O dia de ontem foi de surpresas para a pacífica população industrial desta cidade. Um
mimistério forte deposto sem combate, uma revolução militar triunfante, os corpos
constitucionais arredados sem discussão alguma e o regime de governo atacado com
êxito inesperado, são fatos que pareciam inexplicáveis se não se conhecesse a índole
especial desta cidade, sempre disposta a aceitar os fatos consumados. (...)
A revolução de ontem é filha unicamente das energias e espírito de classe dos militares,
e foram os oficiais superiores que, passando-se para a causa democrática, a tornaram
vencedora no momento.
Mesmo por não andar envolvida em nossas intrigas civis, mesmo pelas suas ilesas
virtudes cívicas, é que a classe militar poderá evitar-nos os inconvenientes de uma
surpresa que não tem ainda a sanção do voto nacional." Diário do Commércio, 16 de
novembro de 1889.
Era imponente o aspecto que apresentavam as forças de terra e mar, firmadas no Campo
da Aclamação, desde o amanhecer, em frente ao quartel do 1o, onde conservava-se
prisioneiro do povo e dos militares o gabinete decaído. Em constante evolução, ao
mando do general Deodoro da Fonseca, viam-se o 1o e 9o regimentos de cavalaria, 2o
regimento de artilharia de campanha, 1o, 7o e 10o batalhões de infantaria, corpos de
imperiais marinheiros e navais, corpos de alunos das escolas militares da praia
Vermelha e Superior de Guerra, corpo de bombeiros e corpos de polícia da corte e
província do Rio. Ali permanecendo durante horas, senhora da praça, a força levantava
sucessivos vivas à liberdade, ao exército e armada, à República Brasileira!
Durante todo o dia e até alta hora da noite o povo percorreu as ruas do centro da cidade,
formando diversos grupos precedidos de bandas de música. Expansiva em seu
entusiasmo, a população erguia vivas e saudações à imprensa livre, aos bravos do
exército e armada, ao general Deodoro, a Quintino Bocayuva e à República Brasileira.
(...)" Correio do Povo, 16 de novembro de 1889.
"A monarquia é um dos muitos males necessários a que estão sujeitos os povos de hoje,
entregues à influência anarquista do militarismo e sujeitos às depredações dos poderes
doirados! No Brasil, o caso apresentou-se como um fenômeno de medo, espécie de
terror coroado, que espantou de Portugal o rei João VI e o atirou, atônito, entre a
exuberância grandiosa de nosso clima e o incitarmento revolucionário de nosso sangue.
Um rei é sempre o frio para um povo. (...)
Comecemos de pensar. Esta República que veio assim, no meio do delírio popular,
cercada pela bonança esperançosa da paz; esta República no século XIX que surgiu com
a precisão dos fenômenos elétricos, sem desorganizar a vida da família, a vida co
comércio e a vida da indústria; esta República americana que trouxe o símbolo da paz,
que fez-se entre o pasmo e o temor dos monarquistas e a admiração dos sensatos - esta
República é um compromisso de honra e um compromisso de sangue. (...)" República
Brazileira, 21 de novembro de 1889.
"A população desta cidade foi hoje, ao acordar, sobressaltada pela notícia de graves
acontecimentos que se estavam passando no quartel general do exército, em ordem a
despertar as mais sérias inquietações. Era assustador o aspecto que oferecia a praça da
Aclamação, na parte em que se acha situado o referido exército e circumvizinhanças.
O quartel estava fechado e guardado por uma força do corpo militar de polícia, de
baioneta calada, pronta ao primeiro ataque, corpo de bombeiros, 1o batalhão de
infantaria e batalhão naval, municiado e dispondo de uma metralhadora. Deviam
embarcar hoje dois batalhões, e como boatos alarmantes se haviam propalado sobre a
provável recusa daqueles corpos do exército, o ministério providenciara para que se
fizesse o embarque sem novidade. O Sr. Ministro da Guerra conservou-se até adiantadas
horas da noite na sua repartição.
Não se faz política na Vida Fluminense, não, senhores, não se faz. (...) Entretanto, para
não espantar o leitor, diremos desde já que a nossa política será mais o apanhado da
pelótica dos pelotiqueiros baratos que para maior glória desta terra estão a governá-la,
do que preleções ligeiras sobre os rasgos da Razão Pura ou circular do ilustre sr. barão
do Paraná. Acresce ainda que a política e a preocupação constante deste pacientíssimo
povo, que toma café dez vezes ao dia, não vacilando em gastar sucessivamente muitos
três vitens, isto é, três vezes mais do que aquela célebre moeda que célebre também
tornou o honrado sr. presidente do conselho. (...)
"A população fluminense despertou hoje com a notícia de que se havia o exército
recusado a cumprir ordens do governo por julgá-las ilegais e ofensivas ao seu brio. Dois
batalhões que haviam recebido ordem de seguir para pontos afastados do Império,
decidiram não obedecer esta ordem.
A Noite de Ontem:
Hoje:
7 horas - Sobe a rua do Ouvidor uma força de fuzileiros navais. Os soldados estão em pé
de guerra. Os oficiais trazem revólver.
8 horas - É quse impossível chegar ao Campo de Santana. uma força do 10o está no
largo da Lapa para impedir a passagem provável de estudantes da Escola Militar. Das
janelas do palacete Itamaraty parte uma descarga sobre o povo.
9 horas - À porta de uma taverna, na esquina da rua são Lourenço está sentado, com um
ferimento na fronte, o sr. barão do Ladário, ministro da marinha. O ferido está com um
gramete ao lado. (...) Estão fechadas todas as estações de polícia.
9 1/2 - (...) O quartel está fechado. Dentro está o batalhão que não quer, segundo consta,
seguir para onde foi removido. O ministério continua reunido.
10 horas e meia - Os alunos da Escola Militar sem ordem, nem todos fardados, mas
armados, tendo à frente uma corneta do 22o seguem para o Campo de Santana, dando
vivas à Nação brasileira e ao exército. O ministério que estava preso e guardado pelo
exército, rende-se. O general Deodoro entra no quartel em triúnfo, abraçado, entre
aclamações entusiasmáticas. O exército dá vivas à República. É o grito que se ouve em
todo o Campo de Santana. (...)
AS MANCHETES
A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Não houve um só tiro que podesse revelar que se tratava de um golpe e não de um
desfile. Se disparos ecoassem (de fato, houve dois, mas ninguém os escutou), talvez
aqueles 600 soldados percebessem que não estavam ali para participar de uma manobra,
mas para derrubar um regime. Na verdade, vários militares ali presentes sabiam que
estavam participando de uma quartelada. Mesmo os que pensavam assim achavam que
quem estava caindo era o primeiro-ministro de Ouro Preto. Jamais o imperador D.
Pedro II - muito menos a monarquia que ele representava.
A cena foi bem estranha. Montado no seu belo cavalo, o marechal Deodoro da
Fonseca desfilou longa lista de queixas, pessoais e corporativas, contra o governo - o
governo do ministro Ouro Preto, não o do imperador. O imperador - isso ele fez questão
de deixar claro - era seu “amigo: Devo-lhe favores”. Ma so Exército fora mal-tratado.
Por isso, derrubava-se o ministério. Difícil imaginar que Deodoro estivesse dando um
golpe, anda mais golpe republicano - ele era monarquista. Ao seu lado estava o tenente-
coronel Benjamin Constant, militar que odiava andar fardado, não gostava de armas e
tiros e, até cinco anos antes, também falava mal da república. Ambos, Deodoro e
Constat, contavam agora com o apoio de republicanos civis. Mas não havia sinal de
“paisanos” por perto - esses apenas tinham incentivado a aventura golpista dos dois
militares (por coincidênca ou não, dois militares ressentidos).
O fato é que naquela mesma hor ao ministro Ouro Preto foi preso e o gabinete
derrubado. Mas ninguém teve coragem de falar em república. Só à noite, quando
golpistas civis e militares se reuniram, foi que proclamaram - em silêncio e
provisoriamente - uma república federativa. “Provosoriamente” porque se aguardaria “o
pronunciameto definitivo da Nação, livremente expressado pelo sufrágio popular”. E o
povo a todas essas? Bem, o povo assistiu a tudo “bestializado, atônito, surpreso, sem
conhecer o que significava”, disse Aristides Lobo. Embora Lobo fosse republicano
convicto e membro do primeiro ministério, seu depoimento tem sido contestado por
certos historiadores (que citam as revoltas populares ocorridas na época). De qualquer
forma, o segundo reinado, que começara com um golpe branco, terminava agora com
um golpe esmaecido. A monarquia, no Brasil, não caiu com um estrondo, mas com um
suspiro. E o plebiscito para “referendar” a república foi convocado em 1993 - com 104
anos de atraso. O império já havia terminado.
O FIM DO IMPÉRIO
Oficialmente, a festa era para recepcionar os oficiais do cruzeiro chileno Cochrane,
que estavam no Brasil havia duas semanas. Na verdade, o baile - o primeiro (e, mesmo
se, por ventura, antes tivesse havido outro, o mais pomposo) jamais promovido pela
família imperial brasileira - fora organizado para celebrar as bodas de prata da princesa
Isabel e do conde D´Eu. Era 9 de novembro de 1889 e tudo foi preparado para tornar a
festa inesquecível: milhares de velas iluminavam o palácio da ilha Fiscal, no Rio,
ornamentado com balões e lanternas venezianas. Três mil disputadíssimos convites
foram enviados para o “melhor da sociedade” imperial. Cascatas de camarão,
champanhe e vinho jorraram aos borbotões. A festança se prolongou até o raiar do dia.
Por uma dessas ironias que parecem constituir a história, no instante em que a
monarquia, insuflada, fazia ecoar seu canto de cisne numa ilha de fantasia, não longe
dali o tenente-coronel e professor Benjamin Constant presidia uma reunião do Clube
Militar. Lá, criticou o governo imperial e sua “hostilidade” contra os militares. Ao final,
fez um pedido: “Mais do que nunca preciso que me sejam dados plenos poderes para
tirar a classe militar de um estado de coisas incomparável com a honra e a dignidade.
Comprometo-me, sob palavra, se não encontrar dentro de oito dias uma solução honrosa
para o Exército e a Pátria, resignar aos empregos públicos e quebrar minha espada”.
Constant não precisou de oito dias. Uma semana após a festança e a reunião
conspiratória, ele encontraria a solução honrosa - na forma de um golpe militar.
As ironias históricas que cercam o baile da ilha Fiscal são muitas. Pedro II passou a
noite retraído. Era do seu feitio, mas, todos sabiam, o monarca estava doente. Quem o
substituiria se ele viesse a “faltar”? Embora os chilenos fossem convidados de honra, os
reais homenageados eram Isabel e o conde D´Eu. Ninguém - e talvez nem eles próprios
- achavam que tinham chances de subir ao trono. Além de “estrangeiro”, D´Eu era um
tipo estranho, vítima de acusações grosseiras - diziam que era homossexual. Fora ainda
num encontro com os tais oficiais chilenos, na Escola Militar, dias antes, que Constant
tivera seu primeiro espasmo público a favor do republicanismo, ao final do qual,
afrontando as autoridades presentes, seus alunos gritavam: “Viva a república... do
Chile”. Mais: ao sair da reunião conspiratória do dia 9, Constant teve de ir até o cais
Pharoux, por exigência de sua família, que queria ver a ilha iluminada. Tentou ir até lá
no barco dos convidados, “sem desembarcar”. Mas não o deixaram ver o império
bailando. Duas semanas depois, Constant e a família eram os convidados de honra da
festa que o governo republicano deu para se despedir dos chilenos.
Muitos fatores ajudaram na queda do império, mas pode se dizer que a monarquia
quase caiu por si - como fruta mais do que madura.
UM FIM MELANCÓLICO
Uma semana depois do baile da ilha Fiscal, D. Pedro II foi comunicado por um major
que devia deixar o país. Antes de estender-lhe o papel, o militar gaguejou: “Vossa
Excelência”, disse; “Vossa Alteza”, corrigiu; “Vossa Majestade...”, rendeu-se. Algumas
horas mais tarde, em nota oficial, D. Pedro comunicava que, “cedendo ao império das
circunstâncias”, deixava, com a família, o país ao qual dera “constantes testemunhos de
entranhado amor e dedicação durante quase meio século”. No dia 17 de novembro, a
família imperial seguiu para o exílio na Europa.
A QUESTÃO RELIGIOSA
O quê: A chamada Questão Religiosa poderia ter se resumido ao Conflito entre Igreja
Católia e maçonaria. Como ambas as partes radicalizaram suas posições, a querela
quase acabou se tornando um confronto entre o próprio imperador e o Papa Pio IX. Na
luta entre “o trono e o altar”, o primeiro saiu abalado - e logo cairia. O segundo “se
manteve em pé”.
Por quê: A “questão religiosa” só se deu porque a “união entre o trono e o altar”,
prevista na Constituição de 1824, era fonte potencial de conflito. O país herdara de
Portugal o regime do padroado: o governo indicava os principais sacerdotes e os padres
eram pagos pelo Estado. Mas bulas papais só teriam aplicação no Brasil com o
beneplácito do imperador. Em 1848, Pio IX assumiu o Vaticano criticando as
“liberdades modernas” e reafirmando a preponderância da Igreja. Em 1870, o Vaticano
aprovou o dogma da infalibilidade papal.
Como a questão terminou: Os bispos de Olinda e do Pará foram presos por ordem de
D. Pedro II e condenados a 4 anos de prisão com trabalhos forçados, em 1874. A pena
foi comutada para prisão simples. O papa Pio IX, que a princípio desaprovara o
procedimento dos bispos, injuriou-se e o problema tornou-se internacional. Foi
resolvido com um arranjo: os bispos foram anistiados e o gabinete de Rio Branco caiu,
sendo substituído pelo gabinete chefiado pelo duque de Caxias.
Conseqüências: O conflito desgastou o governo imperial aos olhos do povo. Mas não
parece ter tido maior influência na queda do regime, já que o povo teve pouco a ver com
o golpe e a Igreja tinha pouca influência entre militares e republicanos.
A QUESTÃO MILITAR
O quê: A “questão militar” foi uma série de eventos que colocou em confronto direto
ofociais do Exército e políticos conservadores e monarquistas. O estopim foi o fato de
os militares estarem proibidos por lei de discutir assuntos políticos na imprensa. O
verdadeiro motivo foi o crescente ressentimento dos militares - que tinham “se arriscado
pelo país na Guerra do Paraguai” - com o “pavoroso egoísmo, fundamentalmente
impatriótico, da classe política, no momento em que o sangue brasilero corria em
regatos”.
O tenente-coronel Antônio de Senna Madureira (1836 a 1889) não era um radical, mas
se revelou em três confrontos que precipitaram a questão militar. Em 1883, ele se
manifestou contra a lei de contribuição obrigatória ao montepio dos militares,
apresentada no Senado pelo visconde de Paranaguá, e foi punido. Em 1884, quando
comandava a Escola de Tiro de Campo Grande, ele organizou uma recepção festiva ao
jangadeiro Francisco do Nascimento, que se recusou a transportar escravos em
Fortaleza. Foi punido e transferido para e Escola Preparatória de Rio Pardo (RS). No
sul, contestou a decisão do então ministro da Guerra, Franco de Sá, e deflagrou a
polêmica.
O REPUBLICANISMO
Embora o papel de golpistas tenha sido confiado aos militares e as fricções com a
Igreja tenham ajudado a abalar a imagem pública do império - sem falar de todo o
desgaste político decorrente da tortuosa luta pela abolição -, o fato é que, sem a base
social fornecida por um largo setor da burguesia cafeeira de São Paulo, politicamente
organizada em torno do Partido Republicano Paulista (PRP), o movimento de novembro
de 1889 jamais se concretizaria.
BOCAIÚVA
BENJAMIN CONSTANT
Em março de 1867, do campo de batalha no Paraguai, Banjamin Constant enviou uma
carta para sua mulher. "Espero que toda esta porcaria acabe o mais depressa possível",
dizia. "Nada mais tenho em vista, mesmo porque não posso, e não devo ser militar com
a numerosa família que tenho, e pelos nenhuns recursos que dá essa desgraçada classe
em nosso país". O desabafo não poderia ser mais claro: Benjamin Constant não apenas
não gostava de armas e batalhas como se julgava mal pago.
Benjamin Constant Botelho de Magalhães entrara para a carreira militar pela mais
pura necessidade. Nascido em Niterói (RJ) em fins de 1836, era filho de um tenente da
Marinha lusa. Seu pai morreu de tifo em 1849 e a mãe tinha problemas mentais. Aos 12
anos, Benjamin tentou o suicídio. O único emprego que lhe ofereceram antes do quartel
foi o de servente de pedreiro. Na caserna, Benjamin descobriria suas paixões: a
matemática e o positivismo de Augusto Comte. Em 1872, entrou para o magistério da
Escola Militar da Praia Vermelha e, quatro anos depois, foi um dos fundadores da
Sociedade Positivista do Brasil. Mas numa doutrina marcada pela mais absoluta
ortodoxia, Benjamin logo teve problemas e rompeu com o grupo que ajudara a formar -
embora continuasse até o fim de seus dias um fiel e devotado discípulo de Augusto
Comte.
O POSITIVISMO
A presença da tropa em várias das agitações populares após a Independência fez com
que - temerosos que um grande exército fizesse surgir "pequenos Napoleões", como já
acontecera no México e na Argentina - os liberais da regência, liderados por Feijó,
reduziram os efetivos do Exército e criaram a Guarda Nacional.
A partir de então, o quadro de oficiais do Exército perdeu suas características de grupo
de elite - ao contrário do que se deu na Marinha. A maior parte dos jovens oficiais vinha
de famílias tradicionais do interior do Nordeste (agora em declínio) ou eram filhos de
fazendeiros - também relativamente decadentes - do Rio Grande do Sul. Foi essa a
oficialidade mandada à Guerra contra o Paraguai.
"Em minha vida, só tive um protetor: Solano López. Devo a ele, que provocou a
Guerra do Paraguai, a minha carreira", desabafava Deodoro, em agosto de 1889. Ele
tinha razão: foi depois da guerra contra López que o Exército adquiriu uma identidade
institucional, um orgulho "classista" até então desconhecido. Depois de lutar no Chaco,
estava pronto para o lodaçal político.
"A história escrita pelos protagonistas do golpe de 89, deixou inscrita na história
política do país a visão de que um grupo ´esclarecido´ de militares pode ´salvar´ a
Nação, em seu nome", avaliou o historiador Celso Castro.
O MARECHAL DEODORO
Militar por vocação, destino, herança e necessidade, Manuel Deodoro da Fonseca foi
oficial de carreira que ascendeu na tropa brasileira graças à bravura em combate, à
determinação e ao comportamento irrepreensível. Participou da repressão à Praieira, do
cerco a Montevidéu e de uma dezena de batalhas na Guerra do Paraguai. Sua ascensão
foi tal que, em 1883, além de comandante das Armas do RS, ele virou presidente
provisório da província. Foi então que se envolveu na Questão Militar: “Aliou-se a Júlio
de Castilhos e desafiou a monarquia. Ainda assim, em tese, a questão militar acabou
bem para todos - menos para Deodoro, que, apesar de continuar comandante das Armas
de uma província, percebeu que, na verdade, fora “desterrado” para Mato Grosso. Mas
foi em agosto de 1889 que o império, sem o perceber claramente, fez de Deodoro um
inimigo. Primeiro, o coronel Cunha Matos, o mesmo da Questão Militar, foi feito
presidente de Mato Grosso - seria um coronel mandando num marechal. Depois, Gaspar
Oliveira Martins - que Deodoro odiava - virou presidente do RS. Embora amigo de
Castilhos, Assis Brasil, Ramiro Barcelos e dos outros republicanos gaúchos, Deodoro
não era um deles. Tanto que, logo que chegou ao Rio, em 13 de setembro de 1889, após
deixar Mato Grosso sem maiores explicações ao governo, Deodoro escreveu numa carta
a um sobrinho: “República no Brasil é coisa impossível porque será uma verdadeira
desgraça. Os brasileiros estão e estarão muito mal-educados para republicanos. O único
sustentáculo do nosso Brasil é a monarquia; se mal com ela, pior sem ela”. Faltavam 63
dias para o marechal dar o golpe republicano.
Deodoro estava doente; passou quase todo o mês de outubro de cama. Apesar de
amargurado com o governo, gostava do imperador e relutou antes de conspirar. Parece
ter sido quase um bode expiatório às avessas, um “inocente útil”, atraído à rebelião por
Benjamin Constant - para fazer a ponte entre a velha guarda e a “mocidade militar”.
Talvez isso explique os seus vacilos em frente às tropas, no Campo de Santana, quando
derrubou o ministro Ouro Preto, mas não ousou proclamar a república. A república de
fato só foi proclamada à noite, na casa de Deodoro, com ele na cama. Alguém espalhou
o boato de que D. Pedro escolhera Gaspar Silveira Martins para o lugar de Ouro Preto.
As hesitações de Deodoro acabaram. Chamou Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva,
Aristides Lobo e falou: “Digam ao povo que a República está feita”.
As Origens da República.
0 governo Deodoro marcado pelo nepotismo acabou com sua renúncia e sua
substituição pelo vice-presidente Floriano Peixoto cuja principal tarefa foi sufocar as
revoltas nos Estados reforçando o poder presidencial. A pacificação do país e a falta de
articulação impediram a continuação dos militares no poder. 0 Partido republicano
Paulista indica o sucessor de Floriano Peixoto, o paulista Prudente de Morais.
Os Republicanos
No Rio de Janeiro, em 1870, a insatisfação de setores da elite com o regime monárquico
levou ao aparecimento do Manifesto Republicano assinado por advogados, médicos,
professores, engenheiros e funcionários públicos. Em 1873, na cidade de Itu surgiu o
Partido Republicano Paulista formado por profissionais liberais e cafeicultores
interessados na descentralização administrativa. Em Minas o movimento republicano
teve em Juiz de Fora o seu centro irradiador. O Partido Republicano Mineiro somente se
organizou em 4 de junho de 1888, sob a liderança de João Pinheiro.
O fim do escravismo, com o qual a Monarquia conviveu por muito tempo, representou
um abalo na sua sustentação política. Os grupos escravocratas contrariados afastaram
-se do trono e tomaram -se indiferentes a sua sorte. Os monarquistas mais lúcidos como
Visconde de Ouro Preto tentavam em junho de 1889 neutralizar o movimento
republicano propondo um conjunto de reformas como: extensão do direito de voto aos
alfabetizados, autonomia provincial e municipal, liberdade de reunião, de culto e de
ensino, nomeação do Presidente Provincial através de lista tríplice, casamento civil
obrigatório, redução dos direitos de exportação, incentivo à imigração, leis de terras que
facilitassem sua aquisição, redução dos fretes, etc.
O movimento republicano só foi possível com a ação dos militares, mas como afirma
Emília Viotti, ele foi o resultado da soma de três forças: uma parcela do exército,
fazendeiros do Oeste Paulista e representantes das classes medias. Urbanas.
Esse ideal, que teve como fonte os princípios da Revolução Francesa, foi se
fortalecendo aos poucos entre as Forças Armadas e sua implantação deixou
de ser um mero sonho para se tornar uma possibilidade real, tendo em vista
o desgaste da Monarquia.
A atual bandeira do
Brasil foi instituída no dia
19 de novembro de
1889, quatro dias depois
de proclamada a
República.
Ninguém pode afirmar com certeza que o Marechal Deodoro quisesse de fato
proclamar a República. Ele era amigo de D. Pedro II e tinha boas relações
com a família imperial.
Entretanto, sua ação já havia avançado de uma tal maneira que não seria
possível voltar atrás. Muitos militares saudavam a República das janelas dos
quartéis, aguardando a conclusão do movimento.
Depoimentos
15 de Novembro é uma das datas, que se a nossa Pátria não for destruída,
( pelas idéias errôneas ditadas hoje em dia pelos economistas e moldadas
pelos psicólogos, isto é, pelos Homo-economicus e pelos Homo-personalis,
respectivamente, que sem duvida, nos levarão necessariamente à Animalis-
homo), teremos absoluta certeza, que será sempre lembrada, para que
possamos prestar o nosso Culto de Veneração à Pátria Brasileira , através
dos seus Grandes Filhos ou melhor dos seus Grandes Vultos Nacionais. Pois
cada vez mais os mortos necessariamente comandam os Vivos, da espécie
Homo-sapiens.
Por isso, é elementar o dever cívico, venerar os heróis e lembrar seus feitos,
admirar os Mártires e honrar seus sacrifícios .
Benjamin Constant !
Tantos anos são decorridos, desde aquela noite, de que despedistes da
amada esposa, atendendo ao chamado do Brasil, que te reclamava,
ensinando com esse exemplo edificante que, mais do que a Família, nós nos
devemos devotar à Pátria.
Lá está Olínda, que na sua condição de Metrópole, que das alturas, olhava o
Continente e Gritava :
Viva a República!
As etapas que se interpõem são elos de amor que formam a corrente que se
estenderá até o futuro. Mas hoje este futuro está sendo orientado, para um
outro futuro, não aquele que nos desejamos e sim aquele que os outros
desejam, este é o grande perigo.
Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina são partículas
vivas deste ideal que não morre. O sangue dos patriotas alimentará a chama
que se reacenderá, o mais rápido, ainda neste século, para a honra da
Federação Política das Republicas Sociocráticas Brasileiras.
"A influência positivista , não se fez sentir se não aos dois primeiros meses.
isto é, até o Senhor Demetrio Ribeiro sair do Ministério. Esta retirada
anunciou que o influxo preponderante havia sido definitivamente
conquistado por individualidades nefastas , que não tardaram em desnaturar
o novo regime e em extinguir todo o afã regenerador". Miguel Lemos
Para resolver tão difícil problema, é preciso que todos juntos queiram este
Estado, para que se institua uma unidade total da sociedade civil. Assim,
sobre as diferentes vontades particulares de todos é necessário uma causa
que as una, para constituir a vontade geral, e essa causa unitária não pode
ser nenhuma das vontades particulares. Não é possível contar com a
consciência moral do legislador, e crer que ele , depois de ter reunido em
um povo a multidão não civilizada, vai deixar ao cargo dela, o cuidado de
uma constituição jurídica conforme a vontade comum."
" a fraqueza da monarquia entre nós não proveio da lei de 13 de maio e sim
de nossos antecedentes históricos...... lamentamos que a mesma convicção
não exista da parte do chefe do Estado, visto como muitos males seriam
poupados à nossa Pátria e a Humanidade , se ele nos isentasse do
republicanismo democrático. Mas qualquer que seja a sua conduta esse
republicanismo será varrido da cena política para dar lugar a ditadura
republicana , e isso, em futuro tão mais próximo, quanto mais cedo igual
transformação operar-se na França. É urgente trabalhar para que o
republicanismo democrático, torne-se superado, pois ele tem assumido de a
muito as proporções de calamidade publica, de modo que ou acabamos com
a democracia, ou ela adormecerá em nós as forças patrióticas e morais no
tóxico do seu caos.
É devido ao espirito republicano que de fato existe latente, na evolução
brasileira, que o Brasil só tem um problema à resolver. Problema de âmbito
Nacional Federal que, quando resolvido arrastará com ele, todos os outros
problemas que só existem, como apêndices sugadores dele próprio, isto é, a
centralização. No entanto todos Estados da Federação deverão propagar o
mesmo Sistema Educacional, ditado pelo Governo Federal, para criarmos
nos brasileiros o espirito homogêneo Patriótico, com base em uma Moral
Positiva e numa Intelectualidade Cientifica, afim de evitarmos o que existe
hoje, pois neste momento, as idéias de vender a Pátria, por meio da
corrupção, em vez de defende-la, para o bem estar dos seus patriotas, de
forma Moral Positiva.
" É somente com uma doutrina cientifica que se é capaz de traçar, o plano
destinado a dirigir a conduta em qualquer caso. Mas Graças a este privilégio,
das teorias monárquicas, é também evidente a sociologia Positiva, não teria
ainda seu verdadeiro caráter, se ela fosse incapaz de sistematizar a
transformação pela qual está passando a Sociedade . Uma tal lacuna
impossibilitaria aplicá-la a investigação do Passado , visto como toda a
explicação da Historia está em mostrar como cada fase social resulta da
anterior, isto é, importa prever , mediante uma fase, a que se lhe há de
seguir. Só o fato de já achar-se realizada, então a segunda fase permite
confirmar desde logo , ajustes da previsão , como em qualquer outro caso
cientifico. Tendo interpretado o passado, Augusto Comte demonstrou,
simultaneamente a aptidão do Positivismo para descrever o Futuro mais
remoto, para sistematizar o Presente, ou melhor o Futuro mais próximo."
Ultimas Concepções, 482 .
Por menos esclarecidos que fossem esses "republicanos" por mais vagos que
fossem os princípios que os animavam , não era possível, em face dos
antecedentes históricos, que pretendessem a formação de uma Republica
unitária e não de uma Federação Política das Republicas Brasileiras. Embora
sem nenhuma ligação direta, este partido sucedera imediatamente a uma
Sociedade positivista fundada por Benjamin Constant em 1868, que teve
vida muito efêmera.
Ora uma Lei Natural, não se faz não se cria; Ela existe na Natureza
Humana , como existe na Natureza Exterior. Ela é a relação constante que
determina a similitude ou a sucessão dos fenômenos o que é preciso
conhece-las e segui-las; não inventá-las. Mesmo porque , assim como o
homem tem o espirito de subordinação às Leis Naturais, tem o espirito de
insubordinação às que lhe são impostas extemporaneamente. Ele sente
tanto orgulho em obedecer às Leis Naturais , como revolta a obedecer as
leis do Homem. A submissão é a base do aperfeiçoamento, por isso mesmo
encontramos, ao longo da historia, o homem se revoltando sempre contra
aqueles que , impondo-lhe modalidades egoístas de vida , impedem o
império da Lei, à qual ele é naturalmente submisso.
Sendo assim, não há motivo racional para repelir as ditaduras, desde que
sejam liberais e progressistas.
Mas o espirito democrático é mais forte que o Sociocrático, o que não quer
dizer com isto que deva prevalecer ; também em nosso cérebro o egoísmo é
mais forte e poderoso que o Altruísmo, e nem por isso deve prevalecer, mas
podemos amenizá-lo com uma Educação Positiva, quando da formação do
caráter.
Não há duvida que o próximo século, mais do que este, seguirá os rumos
sociológicos; a sua missão será de rigorosamente traçar as diretrizes sociais
e morais consoantes as normas cientificas. Nesta altura , O Império dos
USA., Britânico, bem como o Império Romano serão uma recordação.
Onde houvesse uma tropa e tivesse um comandante, a sua palavra era uma
ordem: VIVA A REPUBLICA ! E todos respondiam erguendo também o braço;
Viva a Republica Coronel !
Apressava cada vez mais o passo, pois do seu passo dependia o advento da
Republica Sociocrática, e antes que se deitasse a lua e o sol viesse trair-lhe
o generoso intento, consegui chegar ao Campo de Santana.
"Não Marechal, ela não será o fim do mal: será o inicio do Bem. O inicio do
regime de paz e da vida de fraternidade, que deixaremos para os nossos
filhos. Não é o fim que procuramos, Marechal, mas o inicio de grande
estrada. Daremos o primeiro passo sobre o limiar republicano, e quanto
mais firme o demos, mais segura a será a caminhada. O caminho a
percorrer é árduo. Todos que o tentaram pereceram. os que nos
anteciparam na gloriosa audácia subiram ao cadafalso. Mas seus gritos
chegam até nós; e seus sangues derramados nos trouxe a mensagem dos
mortos imortais. Juntemos, Marechal, o sangue de nossas veias e o grito de
nossos corações aos dos mártires Republicanos. Olha o passado e veja o
oceano de lagrimas , no qual nós navegamos até hoje . Se não nos couber
realizar o Bem, que o preparemos , ao menos . Do nosso sacrifício
dependerá o advento desse inicio, cujos os frutos legaremos aos nossos
filhos, ou aos nossos netos , ou aos nossos pósteros. Cumpre-nos, Marechal
poupar-lhes os dilaceramentos desta anarquia, espiritual e temporal, que
desgraçadamente se eterniza. Partamos Marechal é tarde. A pátria não pode
esperar. Viva a Republica Marechal!
Por outro lado, sabíamos, como disse Miguel Lemos: " por esta forma o
impulso demasiado vago emanado do Dr. Benjamin Constant era precisado e
completado pelo nosso ensino, apesar das graves divergências que
separavam a nossa ortodoxia da adesão incompleta do egrégio professor. Ao
passo que ele afirmava perante os seus alunos o advento de um novo ideal
que ele os apresentava essa poderosa criação do engenho humano como
depositária do segredo do porvir, nós mostrávamos a estes mesmo moços
em que consistia esse ideal e quais os meios por que poderíamos
encaminharmo-nos desde já para este futuro longínquo". "Reiterando as
velhas formulas revolucionárias e democráticas , esses moços militares
queriam a republica Sociocrática, como o ponto de partida da reorganização
social, sem sobrenatural, nem reis, pelos princípios estabelecidos por
Augusto Comte . Tais tendências e tais aspirações dominavam sobretudo ,
os alunos de nossas escolas militares".
Desta forma a Pátria é a partícula social que tem uma consciência própria e
característica formada de dois elementos que lhe preparam a vida: a Família
e a Sociedade Civil .
O Patriotismo não será mais o calor que anima os puros corações na pira do
altruísmo; não é a centelha que faz surgir Lavalleja e escrever com sangue
seu lema: Liberdade ou Morte; não é a centelha que comandou Davi
Canabarro, que deu de herói a Garibaldi e heroina a Ana de Jesus; não é a
centelha que formou Bento Gonçalves que criou Vasconcelos Jardim, Onofre
Pires e Corte Real, não é centelha que deu vigor ao Ideal de Frei Caneca,
Padre Mororó, Ratcliff, Natividae Saldanha, Padre Miguelino e Henrique
Rebelo que no cadafalso gritava para a história: Viva a Pátria; não é a
centelha que levou o amor aos mocambos, vida aos quilombos e liberdade a
Palmares.
Ontem eram os negros nus que agachados dormiam nas senzalas até que
um senhor de chicote à mão os viesse despertar para a labuta infernal, hoje
são as próprias pátrias brasileiras que na miséria mendicantes algemadas,
assistem com sua tristeza endêmica, o embriagues dos capatazes dançando
no solar faustoso.
Porem o que mais espanta e choca nisso tudo, Coronel ,é que os vilões que
nos traem são os mesmos que todo ano, no teu dia, vão para as tribunas
democráticas, disfarçar a vileza pessoal na pureza do teu nome.