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15 DE NOVEMBRO - PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

República é o sistema de governo em que um ou vários indivíduos


eleitos pelo povo exercem o poder supremo por tempo determinado.

Fonte: Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.

- Data: 15 de novembro de 1889


- Líder do evento: Marechal Deodoro da Fonseca.
- Base Social:
» cafeicultores
» militares
» setores da classe média urbana
- Projetos republicanos:
» República Positivista:
- Base: Exército
- "Progresso a qualquer custo, mas dentro da ordem"
- centralização do poder nas mãos do Executivo.
» República Liberal:
- Base: cafeicultores - Partido Republicano Paulista
- "Administrar o que é nosso"
- Federação com grande autonomia para os Estados.
- Divisão dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
» República Jacobina:
- Referência: Revolução Francesa
- Base: população urbana, classe média e intelectuais.
- Medidas de alcance popular.

A participação de militares como Benjamin Constant, Deodoro da Fonseca, Solon


Ribeiro e outros (a participação de Floriano Peixoto é discutível) levou Ouro Preto a
ameaçar o Exército com a restauração da Guarda Nacional e a remoção de alguns
militares.

Deodoro da Fonseca aceita a chefia do movimento em 15 de novembro, quando se


reuniram em sua casa Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Rui Barbosa, Francisco
Glicério (líderes republicanos civis) e os militares Benjamin Constant e Solon Ribeiro.

No dia 14 de novembro, com o objetivo de agitar os meios militares, o major Solon


espalhou o boato de que o Visconde de Ouro Preto havia decretado a prisão de Deodoro
da Fonseca e de Benjamin Constant.

Diz Taunay (História do Brasil): "Em face de tais boatos, revoltaram-se, às primeiras
horas da noite de 14, dois regimentos sediados em São Cristóvão, cujo comando
Deodoro assumiu na madrugada de 15, embora estivesse bastante doente." Ouro Preto,
que se encontrava refugiado no Ministério da Guerra sob a proteção do ajudante general
do Exército Floriano Peixoto, foi deposto. Floriano não reagiu contra o golpe militar
liderado por Deodoro da Fonseca, cujo ideólogo principal foi Benjamin Constant: estava
proclamada a República.

Na tarde do dia 1 5 de novembro, reuniram-se na Câmara do Rio de Janeiro alguns


republicanos civis, entre eles José do Patrocínio e Lopes Trovão; e assim foi redigida a
Ata da Proclamação.

O 15 de Novembro A participação de militares como Benjamin Constant, Deodoro da


Fonseca, Solon Ribeiro e outros (a participação de Floriano Peixoto é discutível) levou
Ouro Preto a ameaçar o Exército com a restauração da Guarda Nacional e a remoção de
alguns militares.

Deodoro da Fonseca aceita a chefia do movimento em 15 de novembro, quando se


reuniram em sua casa Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Rui Barbosa, Francisco
Glicério (líderes republicanos civis) e os militares Benjamin Constant e Solon Ribeiro.

No dia 14 de novembro, com o objetivo de agitar os meios militares, o major Solon


espalhou o boato de que o Visconde de Ouro Preto havia decretado a prisão de Deodoro
da Fonseca e de Benjamin Constant.

Diz Taunay (História do Brasil): "Em face de tais boatos, revoltaramse, às primeiras
horas da noite de 14, dois regimentos sediados em São Cristóvão, cujo comando
Deodoro assumiu na madrugada Do dia 15, embora estivesse bastante doente."

Ouro Preto, que se encontrava refugiado no Ministério da Guerra sob a proteção do


ajudante general do Exército Floriano Peixoto, foi deposto.

Floriano não reagiu contra o golpe militar liderado por Deodoro da Fonseca, cujo
ideólogo principal foi Benjamin Constant: estava proclamada a República.

Na tarde do dia 15 de novembro, reuniram-se na Câmara do Rio de Janeiro alguns


republicanos civis, entre eles José do Patrocínio e Lopes Trovão; e assim foi redigida a
Ata da Proclamação.

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Ano: 1889

"A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois pode-se
considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático com todas
as consequências da Liberdade.

Foi o exército quem operou esta magna transformação; assim como a de 7 de abril de 31
ele firmou a Monarquia constitucional acabando com o despotismo do Primeiro
Imperador, hoje proclamou, no meio da maior tranqüilidade e com solenidade realmente
imponente, que queria outra forma de governo.
Assim desaparece a única Monarquia que existia na América e, fazendo votos para que
o novo regime encaminhe a nossa pátria a seus grandes destinos, esperamos que os
vencedores saberão legitimar a posse do poder com o selo da moderação, benignidade e
justiça, impedindo qualquer violência contra os vencidos e mostrando que a força bem
se concilia com a moderação. Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva a Liberdade!"
Gazeta da Tarde, 15 de novembro de 1889.

"Despertou ontem esta capital no meio de acontecimentos tão graves e tão imprevistos
que as primeiras horas do dia foram de geral surpresa. Rompeu com o dia um
movimento militar que, iniciado por alguns corpos do exército, generalizou-se
rapidamente pela pronta adesão de toda a tropa de mar e terra existente na cidade.

A conseqüência imediata desses fatos foi a retirada do ministério de 7 de junho,


presidido pelo Sr. Visconde do Ouro Preto, que teve de ceder à intimação feita pelo Sr.
Marechal Deodoro da Fonseca que assumiu a direção do movimento militar. À exceção
do lastimoso caso do Sr. Barão do Ladário, que não querendo obedecer a uma ordem de
prisão que lhe fora intimada, resistiu armado e acabou ferido, nenhum ato de violência
contra a propriedade ou a segurança individual se deu até o momento em que
escrevemos estas linhas. (...)" - Jornal do Commércio, 16 de novembro de 1889.

"O dia de ontem foi de surpresas para a pacífica população industrial desta cidade. Um
mimistério forte deposto sem combate, uma revolução militar triunfante, os corpos
constitucionais arredados sem discussão alguma e o regime de governo atacado com
êxito inesperado, são fatos que pareciam inexplicáveis se não se conhecesse a índole
especial desta cidade, sempre disposta a aceitar os fatos consumados. (...)

A revolução de ontem é filha unicamente das energias e espírito de classe dos militares,
e foram os oficiais superiores que, passando-se para a causa democrática, a tornaram
vencedora no momento.

Os elementos civis foram nulos ou improficuos e só apareceram depois de realizado o


movimento, e segundo é de esperar, para ocupar as posições oficiais. É portanto, a
classe militar que deve se considerar como único poder existente de fato e do qual
depende o êxito ou insucesso da revolução.

Mesmo por não andar envolvida em nossas intrigas civis, mesmo pelas suas ilesas
virtudes cívicas, é que a classe militar poderá evitar-nos os inconvenientes de uma
surpresa que não tem ainda a sanção do voto nacional." Diário do Commércio, 16 de
novembro de 1889.

"Constando ontem ao conselheiro de estado Andrade Figueira que os ministros do 6 de


junho estavam presos no quartel general, dirigiu-se para ali s.ex.., e antes de falar aos
ministros soube que a ordem de prisão já havia sido suspensa. O conselheiro Andrade
Figueira, ao ver os ministros, animou-se a se retirarem para suas repartições, prestando-
se a acompanhá-los, ao que não quiseram anuir, não obstante ponderar-lhes a
conveniência de desvanecer-se assim o boato que corria. Então os ministros declararam
que haviam sido depostos de seus cargos pelo exército.

É inútil encarecer a gravidade dos acontecimentos. Os nossos conselhos e advertências,


embora moderada e imparcialmente feitos, não foram atendidos. a situação é tão difícil
que só dá prudência e do patriotismo se deve tirar conselho." - A Nação, 16 de
novembro de 1889.

"Após a gloriosa revolução ontem efetivada e da qual resultou a deposição do sr. d.


Pedro, que exercia em nome da Santíssima Trinidade, o absoluto poder magestático
sobre o povo do Brasil, ao espírito público desde logo cedo acudiu a necessidade
urgentíssima de fazer sair quanto antes do solo da Pátria a família que deixou de reinar.
Ontem mesmo esperava-se que essa indispensável medida fosse prontamente executada
pelo Governo Provisório; mas as atenções com que os membros desse governo cercaram
a pessoa do monarca decaído chegaram, parece, ao ponto de permitir a D. Pedro a mais
inteira liberdade de ação.

O ex-Imperador abusou da magnanimidade com que era tratado, e, em vez de submeter-


se à revolução triunfante, tentou opor-lhe meios em cuja eficácia só a verdadeira insânia
poderia acreditar. reuniu o conselho do Estado pleno, e, não aceitando o fato consumado
da sua deposição e da organização do Governo Provisório Republicano, quis confiar ao
Sr. saraiva a incubência de formar novo gabinete, malogrando assim os efeitos da
revolução vitoriosa. (...)

Era imponente o aspecto que apresentavam as forças de terra e mar, firmadas no Campo
da Aclamação, desde o amanhecer, em frente ao quartel do 1o, onde conservava-se
prisioneiro do povo e dos militares o gabinete decaído. Em constante evolução, ao
mando do general Deodoro da Fonseca, viam-se o 1o e 9o regimentos de cavalaria, 2o
regimento de artilharia de campanha, 1o, 7o e 10o batalhões de infantaria, corpos de
imperiais marinheiros e navais, corpos de alunos das escolas militares da praia
Vermelha e Superior de Guerra, corpo de bombeiros e corpos de polícia da corte e
província do Rio. Ali permanecendo durante horas, senhora da praça, a força levantava
sucessivos vivas à liberdade, ao exército e armada, à República Brasileira!

Cerca de 9 horas da manhã, à intimação do povo e do exército, o gabinete declarou-se


demitido, pedindo o senhor Visconde de Ouro Preto ao general Deodora da Fonseca
garantia para a sua pessoa e dos seus colegas. O sr. general respondeu-lhe que o povo e
o exército não ofenderiam os cidadãos destituídos do governo e que os ex-ministros
podiam se retirar na maior tranqüilidade, como aconteceu.

Ao ser comunicada ao povo e aos militares a queda do ministério, levantaram-se


aclamações de todos os lados à República Brasileira e vivas estrepitosos, enquanto o
parque de artilharia dava uma salva de 21 tiros, com os canhões Krupp assestados para a
secretaria da guerra.

O general Deodoro, o Sr. Quintino Bocayuva e o tenente-coronel Benjamin Constant


foram então disputados pelo povo e pelos militares, que os carregavam em verdadeiro
triúnfo. (...)

Durante todo o dia e até alta hora da noite o povo percorreu as ruas do centro da cidade,
formando diversos grupos precedidos de bandas de música. Expansiva em seu
entusiasmo, a população erguia vivas e saudações à imprensa livre, aos bravos do
exército e armada, ao general Deodoro, a Quintino Bocayuva e à República Brasileira.
(...)" Correio do Povo, 16 de novembro de 1889.
"A monarquia é um dos muitos males necessários a que estão sujeitos os povos de hoje,
entregues à influência anarquista do militarismo e sujeitos às depredações dos poderes
doirados! No Brasil, o caso apresentou-se como um fenômeno de medo, espécie de
terror coroado, que espantou de Portugal o rei João VI e o atirou, atônito, entre a
exuberância grandiosa de nosso clima e o incitarmento revolucionário de nosso sangue.
Um rei é sempre o frio para um povo. (...)

Comecemos de pensar. Esta República que veio assim, no meio do delírio popular,
cercada pela bonança esperançosa da paz; esta República no século XIX que surgiu com
a precisão dos fenômenos elétricos, sem desorganizar a vida da família, a vida co
comércio e a vida da indústria; esta República americana que trouxe o símbolo da paz,
que fez-se entre o pasmo e o temor dos monarquistas e a admiração dos sensatos - esta
República é um compromisso de honra e um compromisso de sangue. (...)" República
Brazileira, 21 de novembro de 1889.

"A população desta cidade foi hoje, ao acordar, sobressaltada pela notícia de graves
acontecimentos que se estavam passando no quartel general do exército, em ordem a
despertar as mais sérias inquietações. Era assustador o aspecto que oferecia a praça da
Aclamação, na parte em que se acha situado o referido exército e circumvizinhanças.

O quartel estava fechado e guardado por uma força do corpo militar de polícia, de
baioneta calada, pronta ao primeiro ataque, corpo de bombeiros, 1o batalhão de
infantaria e batalhão naval, municiado e dispondo de uma metralhadora. Deviam
embarcar hoje dois batalhões, e como boatos alarmantes se haviam propalado sobre a
provável recusa daqueles corpos do exército, o ministério providenciara para que se
fizesse o embarque sem novidade. O Sr. Ministro da Guerra conservou-se até adiantadas
horas da noite na sua repartição.

Número superior a 400 praças do corpo de polícia estiveram de prontidão, sendo


retiradas até algumas que se achavam de serviço nas estações. Os regimentos de
cavalaria nos 1 e 9 e o 2o de artilharia manifestaram-se em revolta e armados intentaram
atacar o quartel general e do corpo de polícia. O comandante de um dos regimentos de
cavalaria abandonou o quartel à vista do ânimo exaltado das praças. (...) No arsenal da
marinha permaneceram até pela manhã os srs. ministros da justiça e marinha. (...)

A verdade, porém, é que o sr. ministro da marinha se apresentou à porta do quartel


general, sendo-lhe impedida a entrada pelo Sr. General Deodoro; respondendo o
ministro que o governo ia cumprir o seu dever, puxou dois revólveres, empunhando-os
em posição de disparar. Nessa ocasião um praça do exército disparou alguns tiros que
atingiram S. Ex.. O sr. ministro caiu ferido, sendo transportado em braços para o
palacete Itamaraty. Seguiram para a praça da Aclamação o corpo policial da província
do Rio e contingente do batalhão naval.

Todo o movimento social da cidade acha-se paralisado. O comércio em grande parte


fechou as portas. As ruas mais freqüentadas nos dias ordinários estão desertas; raros
transeuntes passam, apressados, como perseguidos. (...) O serviço de bondes é feito com
grande irregularidade; há longos intervalos no trânsito dos carros, que chegam aos
pontos de estação aos grupos de cinco e seis. (...) O pânico anda no ar e nas
consciências. (...)" - Novidades, 15 de novembro de 1889.
"Desde ante-ontem que o Brasil é uma república federativa. O exército e a armada
nacionais, confraternizando com o povo, completaram a limpeza da pátria, começada no
dia 13 de maio de 1888. (...)

Não se faz política na Vida Fluminense, não, senhores, não se faz. (...) Entretanto, para
não espantar o leitor, diremos desde já que a nossa política será mais o apanhado da
pelótica dos pelotiqueiros baratos que para maior glória desta terra estão a governá-la,
do que preleções ligeiras sobre os rasgos da Razão Pura ou circular do ilustre sr. barão
do Paraná. Acresce ainda que a política e a preocupação constante deste pacientíssimo
povo, que toma café dez vezes ao dia, não vacilando em gastar sucessivamente muitos
três vitens, isto é, três vezes mais do que aquela célebre moeda que célebre também
tornou o honrado sr. presidente do conselho. (...)

Peloticas e pelotiqueiros é o que se encontra a dar com o pau. Veja-se a pelótica do


ministério em relação ao exército. Disseminá-lo pelo Império, mas disseminá-lo de
forma que em cada cidade fique apenas uma ala de batalhão, e depois licenciá-lo,
aquartelando em seguida alguns batalhões da guarda nacional, eis o plano, ministerial,
que desde sete dias corre de boca em boca, com os maiores visos de verdade. (...) É
bastante perigosa, porém, a cartada, e tão perigosa, que há muito quem se persuada que
no melhor da festa os trunfos não ficarão em mãos dos membros do atual gabinete (...) -
Vida Fluminense, 17 de novembro de 1889.

"A população fluminense despertou hoje com a notícia de que se havia o exército
recusado a cumprir ordens do governo por julgá-las ilegais e ofensivas ao seu brio. Dois
batalhões que haviam recebido ordem de seguir para pontos afastados do Império,
decidiram não obedecer esta ordem.

A Noite de Ontem:

Às duas horas da madrugada estavam no quartel-general do exército, o sr. ajudante-


general e diversos oficiais, Em forma, no quartel, estavam um batalhão de infantaria e
um regimento de cavalaria. Havia de prontidão uma força de mais de 400 praças do
corpo de polícia. Para aumentar essa força, foram retiradas praças de várias estações
urbanas. até depois da meia-noite, esteve o ministério em conferência.

Hoje:

6 horas da manhã - O ministério está reunido na secretaria do império. Estão fechados


os quartéis do 7o, do 10o e do Corpo de Bombeiros. desembarca na corte, vindo de
Niterói, uma parte do Corpo de Polícia da província. Outra parte da força está na ponte
da Armação a espera da lancha que a conduza à corte.

7 horas - Sobe a rua do Ouvidor uma força de fuzileiros navais. Os soldados estão em pé
de guerra. Os oficiais trazem revólver.

8 horas - É quse impossível chegar ao Campo de Santana. uma força do 10o está no
largo da Lapa para impedir a passagem provável de estudantes da Escola Militar. Das
janelas do palacete Itamaraty parte uma descarga sobre o povo.
9 horas - À porta de uma taverna, na esquina da rua são Lourenço está sentado, com um
ferimento na fronte, o sr. barão do Ladário, ministro da marinha. O ferido está com um
gramete ao lado. (...) Estão fechadas todas as estações de polícia.

9 1/2 - (...) O quartel está fechado. Dentro está o batalhão que não quer, segundo consta,
seguir para onde foi removido. O ministério continua reunido.

10 horas - (...) Confirma-se o boato de que o ministério pediu demissão. (...)

10 horas e meia - Os alunos da Escola Militar sem ordem, nem todos fardados, mas
armados, tendo à frente uma corneta do 22o seguem para o Campo de Santana, dando
vivas à Nação brasileira e ao exército. O ministério que estava preso e guardado pelo
exército, rende-se. O general Deodoro entra no quartel em triúnfo, abraçado, entre
aclamações entusiasmáticas. O exército dá vivas à República. É o grito que se ouve em
todo o Campo de Santana. (...)

10 e 3/4 - O general Deodoro é carregado em triúnfo. O 2o de artilharia dá uma salva de


21 tiros. Povo, exército e marinha dão vivas à Nação brasileira. (...)" Cidade do Rio, 15
de novembro de 1889.

AS MANCHETES

Viva a República Brasileira!


Viva o Exército - Viva a Armada!
Viva o Povo Brasileiro! (Correio do Povo)
Revolta no Exército (Novidades)
Viva a República! (República Brazileira)
O Futuro do Brasil (Gazeta da Tarde)
Viva o Exército Libertador! (Cidade do Rio)

A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Não houve um só tiro que podesse revelar que se tratava de um golpe e não de um
desfile. Se disparos ecoassem (de fato, houve dois, mas ninguém os escutou), talvez
aqueles 600 soldados percebessem que não estavam ali para participar de uma manobra,
mas para derrubar um regime. Na verdade, vários militares ali presentes sabiam que
estavam participando de uma quartelada. Mesmo os que pensavam assim achavam que
quem estava caindo era o primeiro-ministro de Ouro Preto. Jamais o imperador D.
Pedro II - muito menos a monarquia que ele representava.

Não é de se estranhar a ignorância dos soldados do 1° e do 3° Regimento de Cavalaria


e do 9° Batalhão. Afinal, até poucas horas antes, o próprio líder do golpe estava
indeciso. Mais: estava doente, de cama, e só chegou ao Campo de Santana quando os
canhões já apontavam para o quartel. Talvez ele não tenha dado o “viva o Imperador”
que alguns juraram ouvi-lo gritar. Mas com certeza impediu que pelo menos um cadete
berrasse o “Viva a República” que supostamente estava entalado em muitas gargantas.

A cena foi bem estranha. Montado no seu belo cavalo, o marechal Deodoro da
Fonseca desfilou longa lista de queixas, pessoais e corporativas, contra o governo - o
governo do ministro Ouro Preto, não o do imperador. O imperador - isso ele fez questão
de deixar claro - era seu “amigo: Devo-lhe favores”. Ma so Exército fora mal-tratado.
Por isso, derrubava-se o ministério. Difícil imaginar que Deodoro estivesse dando um
golpe, anda mais golpe republicano - ele era monarquista. Ao seu lado estava o tenente-
coronel Benjamin Constant, militar que odiava andar fardado, não gostava de armas e
tiros e, até cinco anos antes, também falava mal da república. Ambos, Deodoro e
Constat, contavam agora com o apoio de republicanos civis. Mas não havia sinal de
“paisanos” por perto - esses apenas tinham incentivado a aventura golpista dos dois
militares (por coincidênca ou não, dois militares ressentidos).

O fato é que naquela mesma hor ao ministro Ouro Preto foi preso e o gabinete
derrubado. Mas ninguém teve coragem de falar em república. Só à noite, quando
golpistas civis e militares se reuniram, foi que proclamaram - em silêncio e
provisoriamente - uma república federativa. “Provosoriamente” porque se aguardaria “o
pronunciameto definitivo da Nação, livremente expressado pelo sufrágio popular”. E o
povo a todas essas? Bem, o povo assistiu a tudo “bestializado, atônito, surpreso, sem
conhecer o que significava”, disse Aristides Lobo. Embora Lobo fosse republicano
convicto e membro do primeiro ministério, seu depoimento tem sido contestado por
certos historiadores (que citam as revoltas populares ocorridas na época). De qualquer
forma, o segundo reinado, que começara com um golpe branco, terminava agora com
um golpe esmaecido. A monarquia, no Brasil, não caiu com um estrondo, mas com um
suspiro. E o plebiscito para “referendar” a república foi convocado em 1993 - com 104
anos de atraso. O império já havia terminado.
O FIM DO IMPÉRIO
Oficialmente, a festa era para recepcionar os oficiais do cruzeiro chileno Cochrane,
que estavam no Brasil havia duas semanas. Na verdade, o baile - o primeiro (e, mesmo
se, por ventura, antes tivesse havido outro, o mais pomposo) jamais promovido pela
família imperial brasileira - fora organizado para celebrar as bodas de prata da princesa
Isabel e do conde D´Eu. Era 9 de novembro de 1889 e tudo foi preparado para tornar a
festa inesquecível: milhares de velas iluminavam o palácio da ilha Fiscal, no Rio,
ornamentado com balões e lanternas venezianas. Três mil disputadíssimos convites
foram enviados para o “melhor da sociedade” imperial. Cascatas de camarão,
champanhe e vinho jorraram aos borbotões. A festança se prolongou até o raiar do dia.

Por uma dessas ironias que parecem constituir a história, no instante em que a
monarquia, insuflada, fazia ecoar seu canto de cisne numa ilha de fantasia, não longe
dali o tenente-coronel e professor Benjamin Constant presidia uma reunião do Clube
Militar. Lá, criticou o governo imperial e sua “hostilidade” contra os militares. Ao final,
fez um pedido: “Mais do que nunca preciso que me sejam dados plenos poderes para
tirar a classe militar de um estado de coisas incomparável com a honra e a dignidade.
Comprometo-me, sob palavra, se não encontrar dentro de oito dias uma solução honrosa
para o Exército e a Pátria, resignar aos empregos públicos e quebrar minha espada”.

Constant não precisou de oito dias. Uma semana após a festança e a reunião
conspiratória, ele encontraria a solução honrosa - na forma de um golpe militar.

As ironias históricas que cercam o baile da ilha Fiscal são muitas. Pedro II passou a
noite retraído. Era do seu feitio, mas, todos sabiam, o monarca estava doente. Quem o
substituiria se ele viesse a “faltar”? Embora os chilenos fossem convidados de honra, os
reais homenageados eram Isabel e o conde D´Eu. Ninguém - e talvez nem eles próprios
- achavam que tinham chances de subir ao trono. Além de “estrangeiro”, D´Eu era um
tipo estranho, vítima de acusações grosseiras - diziam que era homossexual. Fora ainda
num encontro com os tais oficiais chilenos, na Escola Militar, dias antes, que Constant
tivera seu primeiro espasmo público a favor do republicanismo, ao final do qual,
afrontando as autoridades presentes, seus alunos gritavam: “Viva a república... do
Chile”. Mais: ao sair da reunião conspiratória do dia 9, Constant teve de ir até o cais
Pharoux, por exigência de sua família, que queria ver a ilha iluminada. Tentou ir até lá
no barco dos convidados, “sem desembarcar”. Mas não o deixaram ver o império
bailando. Duas semanas depois, Constant e a família eram os convidados de honra da
festa que o governo republicano deu para se despedir dos chilenos.

Muitos fatores ajudaram na queda do império, mas pode se dizer que a monarquia
quase caiu por si - como fruta mais do que madura.

UM FIM MELANCÓLICO
Uma semana depois do baile da ilha Fiscal, D. Pedro II foi comunicado por um major
que devia deixar o país. Antes de estender-lhe o papel, o militar gaguejou: “Vossa
Excelência”, disse; “Vossa Alteza”, corrigiu; “Vossa Majestade...”, rendeu-se. Algumas
horas mais tarde, em nota oficial, D. Pedro comunicava que, “cedendo ao império das
circunstâncias”, deixava, com a família, o país ao qual dera “constantes testemunhos de
entranhado amor e dedicação durante quase meio século”. No dia 17 de novembro, a
família imperial seguiu para o exílio na Europa.

A QUESTÃO RELIGIOSA
O quê: A chamada Questão Religiosa poderia ter se resumido ao Conflito entre Igreja
Católia e maçonaria. Como ambas as partes radicalizaram suas posições, a querela
quase acabou se tornando um confronto entre o próprio imperador e o Papa Pio IX. Na
luta entre “o trono e o altar”, o primeiro saiu abalado - e logo cairia. O segundo “se
manteve em pé”.

Onde: A pendenga iniciou-se no Rio, em 3 de março de 1872, quando o padre Almeida


Martins pronunciou um sermão “em termos tirados da linguagem maçônica”, para
saudar a aprovação da Lei do Ventre Livre, que fora proposta pelo presidente do
conselho dos ministros, visconde do Rio Branco, que era grão-mestre da maçonaria. O
bispo do Rio, Pedro Lacerda, decidiu suspender o padre de suas funções. O que seria um
mero exercício canônico de autoridade eclesiástica tornou-se uma grave questão
nacional porque, em Olinda, em maio do mesmo ano, tomara posse o bispo Vidal de
oliveira, um jovem rígido e capuchinho. Injuriado com as “grosserias” publicadas na
imprensa do Rio contra Dom Lacerda, D. Vidal afastou de sua diocese dois sacerdotes
que se recusaram a abandonar a maçonaria. D. Vidal impediu ainda que monsenhor
Pinto de Campos celebrasse o casamento de um maçon. Para agravar o conflito, o bispo
do Pará, D. Antônio Costa, também interditou os templos cujos padres eram maçons. O
conflito se generalizou.

Quando: O conflito, iniciado em março de 1872, se estenderia até setembro de 1875,


quando os bispos - depois de duramente punidos por Pedro II - foram anistiados.

Por quê: A “questão religiosa” só se deu porque a “união entre o trono e o altar”,
prevista na Constituição de 1824, era fonte potencial de conflito. O país herdara de
Portugal o regime do padroado: o governo indicava os principais sacerdotes e os padres
eram pagos pelo Estado. Mas bulas papais só teriam aplicação no Brasil com o
beneplácito do imperador. Em 1848, Pio IX assumiu o Vaticano criticando as
“liberdades modernas” e reafirmando a preponderância da Igreja. Em 1870, o Vaticano
aprovou o dogma da infalibilidade papal.

Como a questão terminou: Os bispos de Olinda e do Pará foram presos por ordem de
D. Pedro II e condenados a 4 anos de prisão com trabalhos forçados, em 1874. A pena
foi comutada para prisão simples. O papa Pio IX, que a princípio desaprovara o
procedimento dos bispos, injuriou-se e o problema tornou-se internacional. Foi
resolvido com um arranjo: os bispos foram anistiados e o gabinete de Rio Branco caiu,
sendo substituído pelo gabinete chefiado pelo duque de Caxias.

Conseqüências: O conflito desgastou o governo imperial aos olhos do povo. Mas não
parece ter tido maior influência na queda do regime, já que o povo teve pouco a ver com
o golpe e a Igreja tinha pouca influência entre militares e republicanos.
A QUESTÃO MILITAR
O quê: A “questão militar” foi uma série de eventos que colocou em confronto direto
ofociais do Exército e políticos conservadores e monarquistas. O estopim foi o fato de
os militares estarem proibidos por lei de discutir assuntos políticos na imprensa. O
verdadeiro motivo foi o crescente ressentimento dos militares - que tinham “se arriscado
pelo país na Guerra do Paraguai” - com o “pavoroso egoísmo, fundamentalmente
impatriótico, da classe política, no momento em que o sangue brasilero corria em
regatos”.

Quando: Os episódios principiaram em 1884 e se prolongaram até maio de 1887.

Como: O primeiro incidente ocorreu com o tenente-coronel Senna Madureira, punido


por Ter apoiado publicamente o fim da escravatura. Em agosto de 1885, o coronel
Cunha Matos, ligado ao Partido Liberal, apurou irregularidades administrativas num
quartel do Piauí e pediu o afastamento do comandante corrupto, ligado ao Partido
Conservador. Foi atacado, na Câmara, pelo deputado Simplício Resende, amigo do
comandante punido, que o acusou de covardia no Paraguai. Cunha Matos defendeu-se
em artigos de jornal - o que era proibido - e ficou preso por dois dias. No mesmo mês,
no Rio Grande do Sul, o tenente-coronel Senna Madureira viu -se de novo obrigado a
“defender sua honra militar” nos jornais. Escolheu o explosivo órgão republicano A
Federação, dirigido por Júlio de Castilhos. O rastilho de pólvora foi aceso.

Em 23 de setembro de 1886, o incendiário Castilhos escreveu, em seu p´roprio jornal,


um artigo chamado Arbítrio e Inépcia, atacando violentamente a coroa e tornando a
“questão militar” uma questão política e nacional. No texto, o Exército era apresentado
como a única força que se mantinha “impoluta” em uma “nação em ruínas”. Duas
semanas antes, o Marechal Deodoro, comandante em armas e presidente em exercício
da Província do Rio Grande do Sul, decidira que não iria punir Senna Madureira - mas o
ministro da guerra, Alfredo Chaves, que antes mandara prender Cunha Matos, já o
fizera. Em outubro, os alunos da Escola Militar da Praia Vermelha - conhecida como
“Tabernáculo da Ciência” e berço da chamada “mocidade militar” - engajaram-se na
luta de apoio a Deodoro, que foi exonerado e transferido para o Rio, e a Madureira, que
se demitiu. Ao chegarem ao Rio, em 26 de janeiro de 1887, ambos foram recebidos
como heróis pelos cadetes. Após muitas tensões, em maio do mesmo ano, Chaves caiu,
Deodoro, Madureira e Cunha atos foram “perdoados” por D. Pedro e a questão militar
acabou. Pela primeira vez na história do Brasil os militares revelavam, com vigor e
clareza, a existência de uma “classe militar” - supostamente unida e coesa - no país. Em
breve, essa classe iria interferir decisivamente no jogo político.

O tenente-coronel Antônio de Senna Madureira (1836 a 1889) não era um radical, mas
se revelou em três confrontos que precipitaram a questão militar. Em 1883, ele se
manifestou contra a lei de contribuição obrigatória ao montepio dos militares,
apresentada no Senado pelo visconde de Paranaguá, e foi punido. Em 1884, quando
comandava a Escola de Tiro de Campo Grande, ele organizou uma recepção festiva ao
jangadeiro Francisco do Nascimento, que se recusou a transportar escravos em
Fortaleza. Foi punido e transferido para e Escola Preparatória de Rio Pardo (RS). No
sul, contestou a decisão do então ministro da Guerra, Franco de Sá, e deflagrou a
polêmica.

O REPUBLICANISMO
Embora o papel de golpistas tenha sido confiado aos militares e as fricções com a
Igreja tenham ajudado a abalar a imagem pública do império - sem falar de todo o
desgaste político decorrente da tortuosa luta pela abolição -, o fato é que, sem a base
social fornecida por um largo setor da burguesia cafeeira de São Paulo, politicamente
organizada em torno do Partido Republicano Paulista (PRP), o movimento de novembro
de 1889 jamais se concretizaria.

O ideal republicano no Brasil era, evidentemente, anterior à fundação do PRP. Tanto


que não só a Inconfidência Mineira como várias das revoltas internas do período
regencial planejavam a queda da monarquia. Mas faltava a tais movimentos uma base
legalista e econômica, e o apoio dos conservadores. Em 1870, surgiu, no Rio, o Partido
Republicano. Em 3 de dezembro do mesmo ano, foi lançado, também no Rio, o célebre
"Manifesto Repúblicano" de 1870, redigido por Quintino Bocaiúva e com 58
signatários. Era um movimento de moderados embora muitos de seus integrantes
viessem do "novo" Partido Liberal e, entre eles, houvesse gente como o tempestuoso
Lopes Trovão (que, como Silva Jardim, achava que a república deveria vir através de
uma revolução popular). A base do republicanismo carioca era constituída de
profissionais liberais e jornalistas. O partido era favorável a uma transição pacífica entre
a monarquia e a república, de preferência com a morte do imperador. Mais tarde, or
radicais iriam abandonar o moderado PR.

O republicanismo brasileiro, porém, só iria adquirir a solidez conservadora que as


elites do país pareciam exigir para sacramentá-lo, após a fundação do Partido
Republicano Paulista. O PRP foi criado em 16 de abril de 1873, na convenção de Itu.
Formado para representar os interesses da oligarquia rural paulista, de seus 133
convencionais, 78 eram fazendeiros. Enquanto os republicanos cariocas associavam o
novo regime à maior representação política dos cidadãos, aos direitos individuais e ao
fim da escravidão, o PRP estava quase que diretamente devotado à luta pelo regime
federalista. Descentralização, maior autonomia provincial e uma nova política de
empréstimos bancários eram palavras de ordem dos republicanos da grande lavoura,
latifundiarios do chamado Oeste Novo de São Paulo. Na questão abolicionista o PRP
agiu sempre com a cautela mais radical, só aderindo ao movimento na última hora. Para
o partido, mais do que o destino dos escravos, interessava saber como substituí-los.
Em 1884, o PRP detinha apenas um quarto do eleitorado paulista. Aliado aos
conservadores, elegeu dois deputados - ambos, Prudente de Morais e Campos Sales, que
viriam a ser os primeiros presidentes civis da república. Embora nunca tenha havido
grandes interesses comuns nem mesmo contato intenso entre os militares e o PRP, foi a
burguesia cafeeira paulista que, implicitamente, deu aos militares a convicção de que
sua aventura golpista contava com uma sólida base de apoio econômica e social.

BOCAIÚVA

Quintino Antônio Ferreira de Sousa assinava Quintino Bocaiúva nas páginas de O


País - Principal jornal republicano do Brasil, de que era redator-chefe. Mas os artigos
que ele escrevia caçoando da família imperial eram infinitamente mais ásperos do que o
tom moderado que ele deu ao Manifesto Republicano de 1870, do qual foi o principal
redator. Quintino achava que os problemas de saúde do imperador poderiam salvar a
nação: se D. Pedro II morresse, a República nasceria feliz

BENJAMIN CONSTANT
Em março de 1867, do campo de batalha no Paraguai, Banjamin Constant enviou uma
carta para sua mulher. "Espero que toda esta porcaria acabe o mais depressa possível",
dizia. "Nada mais tenho em vista, mesmo porque não posso, e não devo ser militar com
a numerosa família que tenho, e pelos nenhuns recursos que dá essa desgraçada classe
em nosso país". O desabafo não poderia ser mais claro: Benjamin Constant não apenas
não gostava de armas e batalhas como se julgava mal pago.

Benjamin Constant Botelho de Magalhães entrara para a carreira militar pela mais
pura necessidade. Nascido em Niterói (RJ) em fins de 1836, era filho de um tenente da
Marinha lusa. Seu pai morreu de tifo em 1849 e a mãe tinha problemas mentais. Aos 12
anos, Benjamin tentou o suicídio. O único emprego que lhe ofereceram antes do quartel
foi o de servente de pedreiro. Na caserna, Benjamin descobriria suas paixões: a
matemática e o positivismo de Augusto Comte. Em 1872, entrou para o magistério da
Escola Militar da Praia Vermelha e, quatro anos depois, foi um dos fundadores da
Sociedade Positivista do Brasil. Mas numa doutrina marcada pela mais absoluta
ortodoxia, Benjamin logo teve problemas e rompeu com o grupo que ajudara a formar -
embora continuasse até o fim de seus dias um fiel e devotado discípulo de Augusto
Comte.

Graças ao seu desempenho na Escola da Praia Vermelha, Benjamin se tornou o líder


da mocidade militar: jovens tenentes "científicos", a maioria deles adeptos da
racionalíssima "religião da humanidade" fundada por Comte. Muitos desses alunos
eram republicanos, e parece ter sido eles que influenciaram o mestre. Afinal, ainda em
1879, Benjamin falra mal da República. Mas o fato é que, mal pago, desprezado na
cátedra como o fora do quartel (suas promoções eram freqüentemente adiadas), o
"doutor" Benjamin tornou-se um militante. A princípio defendendo a "classe" na
Questão Militar; a seguir acatando o império (que o maltratara tanto, e aos seus colegas
de farda, evitando-a ao máximo).Quando suas merecidas promoções vieram, o pacato
professor, constantemente imerso num "sonambulismo matemáticojá se transformava
num ativista que fundara o Clube Militar, em maio de 87, junto com Deodoro. No dia 23
de outubro de 1888,proferiu um surpreendente discurso de quase uma hora, durante a
visita de oficiais chilenos à Escola da Praia Vermelha - era a senha pública para o golpe
que nascia. A "mocidade militar" encontrara seu líder. Agora faltava apenas unir-seaos
militares mais velhos - os "tarimbeiros" - e sair de casa, de madrugada, para derrubar o
regime. Foi o que o dr. Benjamin fez na madrugada de 15 de novembro.

O POSITIVISMO

O positivismo é a escola filosófica nascida das idéias do pensador francês Augusto


Comte (1798-1857). Em meio a uma série de teorias, baseadas em sua "filosofia da
história" e na sua "classificação das ciências", Comte criou o que chamou de "religião
da humanidade", culto não-teísta, no qual Deus seria um substituído por uma
humanidade racional e evoluída que atingiria esse estágio "mais elevado" conduzida por
"homens mais esclarecidos". Para Comte, a melhor forma de governo era a ditadura
republicana - um "governo de salvação nacional exercido no interesse do povo". O
ditador comtiano, em tese, deveria ser representativo, mas poderia "afastar-se" do povo
em nome do "bem da república". Não é difícil entender por que os "militares
científicos" se apaixonaram tanto pela tese. Ao assumir o poder, depois do golpe de
1889, Deodoro - que não era positivista - e Constant deram um tom comtiano ao novo
regime, centralizador e autocrático. Com a ascensão dos oligarcas de São Paulo -
Prudente de Morais e Campos Sales -, a influência positivista se arrefeceu. Mas logo
voltaria a fluir entre os tenentes dos anos 20, na Coluna Prestes e na Revolução de 30.
Em outra vertente, os esquemas políticos comtianos se codificaram também no
trabalhismo gaúcho de Lindolfo Collor, ministro do Trabalho do positivista Getúlio
Vargas. A modernização conservadora proposta por Comte ainda fascina facções
militares. E um de seus lemas - "o amor por princípio, a ordem por base e o progresso
por fim" - tremula na bandeira nacional, embora "o amor" tenha ficado de fora. Outro
mote positivista eventualmente liberta fantasmas no espectro político da nação. Segundo
Comte, "os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos".

O PODER DOS QUARTÉIS


Os profundos ressentimentos de Benjamin Constant e Deodoro da Fonseca talvez
estivessem fundamentados em entraves burocráticos, questiúnculas pessoais e, quem
sabe, até numa certa mania de perseguição que, por ventura, afetasse os dois oficiais que
acabariam proclamando a república no Brasil. De qualquer forma, o tratamento
dispensado a ambos pelo governo imperial - constantes adiamentos das promoções
anunciadas, baixos soldos, transferências e punições - era claro reflexo da situação de
penúria que vivia o Exército brasileiro naquela época. Tanto que mesmo um
monarquista convicto como o político e historiador Eduardo Prado admitiu, às vésperas
do golpe, que existia no Brasil "um exército esquecido, mal-organizado, mal-instruído, e
mal-pago". Prado lamentava o fato de Pedro II estar divorciado das coisas militares".

Embora D. Pedro II tivesse de fato horror às armas, a situação de penúria do exército


começara antes dele assumir o poder. A participação de oficiais do Exército no governo
fora significativa até a abdicação de D. Pedro I - o primeiro "golpe" da história do país a
contar com a participação militar.

A presença da tropa em várias das agitações populares após a Independência fez com
que - temerosos que um grande exército fizesse surgir "pequenos Napoleões", como já
acontecera no México e na Argentina - os liberais da regência, liderados por Feijó,
reduziram os efetivos do Exército e criaram a Guarda Nacional.
A partir de então, o quadro de oficiais do Exército perdeu suas características de grupo
de elite - ao contrário do que se deu na Marinha. A maior parte dos jovens oficiais vinha
de famílias tradicionais do interior do Nordeste (agora em declínio) ou eram filhos de
fazendeiros - também relativamente decadentes - do Rio Grande do Sul. Foi essa a
oficialidade mandada à Guerra contra o Paraguai.

"Em minha vida, só tive um protetor: Solano López. Devo a ele, que provocou a
Guerra do Paraguai, a minha carreira", desabafava Deodoro, em agosto de 1889. Ele
tinha razão: foi depois da guerra contra López que o Exército adquiriu uma identidade
institucional, um orgulho "classista" até então desconhecido. Depois de lutar no Chaco,
estava pronto para o lodaçal político.

O centro da fermentação golpista foi a Escola Militar da Praia Vermelha - chamada o


"Tabernáculo da Ciência", já que ali se estudavam mais leis, filosofia e matemática do
que logística. Seus cadetes, a "mocidade militar", eram os "científicos" - jovens
positivistas e republicanos. Eles nada tinham a ver com o Marechal Deodoro, militar de
carreira, "tarimbeiro" (termop depreciativo que vem de tarimba, o estrado de madeira
onde os soldados dormiam nos quartéis, e designava oficiais ligados à tropa, sem
estudos superiores). O único elo entre "tarimbeiros" e "científicos" era a ligação entre
Benjamin e Deodoro, por sua vez unidos pelo ressentimento. Foram os "científicos",
com a benção de Deodoro (cooptado por Benjamin), que encaminharam o golpe de 15
de novembro. Não mais do que uma quinta parte do exército estava ciente da trama.
Mas a absoluta maioria da tropa agiu como o próprio povo: "Ficou estranha ao
acontecimento, que tomou como fato consumado".

"A história escrita pelos protagonistas do golpe de 89, deixou inscrita na história
política do país a visão de que um grupo ´esclarecido´ de militares pode ´salvar´ a
Nação, em seu nome", avaliou o historiador Celso Castro.
O MARECHAL DEODORO
Militar por vocação, destino, herança e necessidade, Manuel Deodoro da Fonseca foi
oficial de carreira que ascendeu na tropa brasileira graças à bravura em combate, à
determinação e ao comportamento irrepreensível. Participou da repressão à Praieira, do
cerco a Montevidéu e de uma dezena de batalhas na Guerra do Paraguai. Sua ascensão
foi tal que, em 1883, além de comandante das Armas do RS, ele virou presidente
provisório da província. Foi então que se envolveu na Questão Militar: “Aliou-se a Júlio
de Castilhos e desafiou a monarquia. Ainda assim, em tese, a questão militar acabou
bem para todos - menos para Deodoro, que, apesar de continuar comandante das Armas
de uma província, percebeu que, na verdade, fora “desterrado” para Mato Grosso. Mas
foi em agosto de 1889 que o império, sem o perceber claramente, fez de Deodoro um
inimigo. Primeiro, o coronel Cunha Matos, o mesmo da Questão Militar, foi feito
presidente de Mato Grosso - seria um coronel mandando num marechal. Depois, Gaspar
Oliveira Martins - que Deodoro odiava - virou presidente do RS. Embora amigo de
Castilhos, Assis Brasil, Ramiro Barcelos e dos outros republicanos gaúchos, Deodoro
não era um deles. Tanto que, logo que chegou ao Rio, em 13 de setembro de 1889, após
deixar Mato Grosso sem maiores explicações ao governo, Deodoro escreveu numa carta
a um sobrinho: “República no Brasil é coisa impossível porque será uma verdadeira
desgraça. Os brasileiros estão e estarão muito mal-educados para republicanos. O único
sustentáculo do nosso Brasil é a monarquia; se mal com ela, pior sem ela”. Faltavam 63
dias para o marechal dar o golpe republicano.
Deodoro estava doente; passou quase todo o mês de outubro de cama. Apesar de
amargurado com o governo, gostava do imperador e relutou antes de conspirar. Parece
ter sido quase um bode expiatório às avessas, um “inocente útil”, atraído à rebelião por
Benjamin Constant - para fazer a ponte entre a velha guarda e a “mocidade militar”.
Talvez isso explique os seus vacilos em frente às tropas, no Campo de Santana, quando
derrubou o ministro Ouro Preto, mas não ousou proclamar a república. A república de
fato só foi proclamada à noite, na casa de Deodoro, com ele na cama. Alguém espalhou
o boato de que D. Pedro escolhera Gaspar Silveira Martins para o lugar de Ouro Preto.
As hesitações de Deodoro acabaram. Chamou Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva,
Aristides Lobo e falou: “Digam ao povo que a República está feita”.

Deodoro se tornou o primeiro presidente do novo regime e Benjamin Constant,


ministro da Guerra. O convívio entre ambos não foi pacífico - como não era o dos
“tarimbeiros” com os “científicos”. Numa reunião ministerial, em 1890, ambos quase se
agrediram e Deodoro desafiou Constant para um duelo. Mas dali a dois anos, ambos
estariam mortos. Deodoro, que pedira demissão do Exército, exigiu ser enterrado em
trajes civis.
A Proclamação da República

As Origens da República.

A República implantada em 1889 foi resultado da modernização ocorrida no país. Essa


modernização foi representada pela urbanização, pelo crescimento da "classe média",
pela imigração, e pela emergência do setor cafeeiro com interesses diversos aos dos
setores agrários tradicionais. A modernização aumentou a reivindicação dos setores
médios por reformas sociais e políticas - criação do Partido Republicano e o movimento
abolicionista são exemplos - que a classe dominante tradicional não conseguiu conduzir.
0 resultado foi o movimento republicano iniciado em 1870 e que terminou com a
deposição da Monarquia em 1889.

A primeira fase da República, que vai de 15 de novembro de 1889 à posse do primeiro


presidente civil Prudente de Morais, em 1894 ficou conhecida como República da
Espada, pelo fato do cargo de Presidente da República ter ficado nas mãos de dois
militares de prestígio Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

0 governo Deodoro marcado pelo nepotismo acabou com sua renúncia e sua
substituição pelo vice-presidente Floriano Peixoto cuja principal tarefa foi sufocar as
revoltas nos Estados reforçando o poder presidencial. A pacificação do país e a falta de
articulação impediram a continuação dos militares no poder. 0 Partido republicano
Paulista indica o sucessor de Floriano Peixoto, o paulista Prudente de Morais.

Os Republicanos
No Rio de Janeiro, em 1870, a insatisfação de setores da elite com o regime monárquico
levou ao aparecimento do Manifesto Republicano assinado por advogados, médicos,
professores, engenheiros e funcionários públicos. Em 1873, na cidade de Itu surgiu o
Partido Republicano Paulista formado por profissionais liberais e cafeicultores
interessados na descentralização administrativa. Em Minas o movimento republicano
teve em Juiz de Fora o seu centro irradiador. O Partido Republicano Mineiro somente se
organizou em 4 de junho de 1888, sob a liderança de João Pinheiro.

Entre os novos republicanos estavam os cafeicultores paulistas que desejavam o


Federalismo republicano - descentralização administrativa -no lugar da excessiva
centralização da Monarquia. O federalismo daria aos Estados maior autonomia política
e econômica o que favorecia principalmente os mais ricos como o caso de São Paulo
grande pagador de impostos ao governo central. Os paulistas alegavam que a renda
gerada no Estado era empregada em outras províncias, e em troca recebiam muito pouco
deste mesmo governo. Reclamavam os paulistas que somente a arrecadação da
alfândega de Santos, em três meses, era maior do que os investimentos que o governo
central fazia em São Paulo em um ano.

O fim do escravismo, com o qual a Monarquia conviveu por muito tempo, representou
um abalo na sua sustentação política. Os grupos escravocratas contrariados afastaram
-se do trono e tomaram -se indiferentes a sua sorte. Os monarquistas mais lúcidos como
Visconde de Ouro Preto tentavam em junho de 1889 neutralizar o movimento
republicano propondo um conjunto de reformas como: extensão do direito de voto aos
alfabetizados, autonomia provincial e municipal, liberdade de reunião, de culto e de
ensino, nomeação do Presidente Provincial através de lista tríplice, casamento civil
obrigatório, redução dos direitos de exportação, incentivo à imigração, leis de terras que
facilitassem sua aquisição, redução dos fretes, etc.

Os Militares e o movimento Republicano.

A Guerra do Paraguai em 1870 foi outro acontecimento que desgastou a monarquia


brasileira. Ela exigiu o sacrifício de milhares de brasileiros pobres e negros no conflito e
demonstrou o despreparo do exército nacional. Com seu fim aumentam as
reivindicações dos militares, por melhor tratamento a corporação, e direito de participar
da vida política nacional, sobre o argumento de que "o exército e o próprio povo". Os
militares consideravam o regime monárquico dominado por uma elite bacharelesca que
tratava o exército com desconsideração, mesmo após os atos de heroísmo na guerra do
Paraguai.

A idéia republicana no exército apresentava duas correntes: uma ligada a Benjamin


Constant, positivista, interessado na implantação de uma ditadura republicana "capaz de
garantir a ordem material, entendida como a incorporação do proletariado à
sociedade(...) a quebra do monopólio da Igreja e do Estado sobre a educação, a religião
e a ciência". A segunda corrente visava defender a corporação que considerava relegada
o segundo plano. Esse grupo de militares considerava a República necessária para a
salvação do exército.
A sedição militar vinha se desenvolvendo desde o final de outubro de 1889, numa série
de escaramuças entre oficiais e o gabinete ministerial presidido pelo Visconde de Ouro
Preto. Primeiramente, o Visconde imaginou que o oficial de guarda do Ministério da
Fazenda estava dormindo em serviço e mandou prendê-llo. Depois, o ministro da guerra
demitiu, por desacato, o tenente-coronel João Nepomuceno, do comando da Escola
Militar do Ceará. O governo também suspendeu Benjamin Constant do Cargo de
professor da Escola Militar e puniu seus alunos (...) E, por fim, o 22o. Batalhão de
Infantaria foi transferido para a Amazônia por ter participado das manifestações de
solidariedade a Benjamin Constant.

Entre os dias 4 e 11 de novembro de 1889 vários militares entre eles Benjamin


Constant, convenceram o Marechal Deodoro da Fonseca à causa republicana. Os
militares levaram ao prestigiado Deodoro a notícia de que o governo pretendia
reorganizar a Guarda Nacional e fortalecer a polícia do Rio para contrapor-se ao
Exército. Deodoro da Fonseca até então relutante em aceitar a idéia da República,
respondeu aos militares presentes em sua casa "só mesmo mudando a forma de
governo". Era o sinal que os republicanos esperavam para por o movimento nas ruas.

O movimento republicano só foi possível com a ação dos militares, mas como afirma
Emília Viotti, ele foi o resultado da soma de três forças: uma parcela do exército,
fazendeiros do Oeste Paulista e representantes das classes medias. Urbanas.

Nesta data, no ano de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca entrou no


Quartel-General do Exército (hoje Palácio Duque de Caxias, sede do
Comando Militar do Leste, no Rio de Janeiro), montado num cavalo e
terminou com o último Gabinete da Monarquia, que se encontrava em
reunião naquele local.

Na verdade, o sistema monárquico de governo já não tinha o apoio de antes


da Igreja, nem dos militares, nem das lideranças civis e dos antigos
senhores de escravos. Essa insatisfação generalizada enfraqueceu a
monarquia e o gesto do marechal Deodoro foi o marco decisivo para abolir
aquele sistema e implantar a República. O fato é que muitos só esperavam
que isso acontecesse após a morte do imperador D. Pedro II, admirado e
respeitado por todos.

O marechal Deodoro, ao chefiar o movimento pacífico do qual se tratou a


Proclamação da República no Brasil (não houve derramamento de sangue),
marcou o início de uma nova era no país, a partir do ano de 1889. O começo
da era republicana, que se firmou de fato com o marechal Floriano Peixoto,
sucessor de Deodoro.
A semente do ideal republicano no Brasil já podia ser percebida nos tempos
coloniais. Movimentos de emancipação como a Inconfidência Mineira (1789),
a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817) tinham
em mente, de uma certa forma, a adoção da República como sistema de
governo.

Esse ideal, que teve como fonte os princípios da Revolução Francesa, foi se
fortalecendo aos poucos entre as Forças Armadas e sua implantação deixou
de ser um mero sonho para se tornar uma possibilidade real, tendo em vista
o desgaste da Monarquia.

O Imperador D. Pedro II ainda tentou manter o sistema monárquico, ao


sugerir a formação de um ministério comandado por Silveira Martins,
inimigo pessoal do marechal Deodoro. A decisão, porém, ocorreu-lhe tarde
demais, não conseguindo impedir que, já na manhã do dia 16 de novembro,
o Diário Oficial publicasse a notícia da Proclamação e também a do governo
provisório na mudança
do Regime.

A atual bandeira do
Brasil foi instituída no dia
19 de novembro de
1889, quatro dias depois
de proclamada a
República.
Ninguém pode afirmar com certeza que o Marechal Deodoro quisesse de fato
proclamar a República. Ele era amigo de D. Pedro II e tinha boas relações
com a família imperial.

Entretanto, sua ação já havia avançado de uma tal maneira que não seria
possível voltar atrás. Muitos militares saudavam a República das janelas dos
quartéis, aguardando a conclusão do movimento.

À frente do Gabinete da Monarquia se encontrava o Visconde de Ouro Preto,


de quem Deodoro guardava alguns ressentimentos: primeiro, por ter
nomeado seu grande inimigo, Gaspar Silveira Martins, para a presidência do
Rio Grande do Sul; e, segundo, por ter oferecido a presidência da província
de Mato Grosso a Cunha de Matos, com o qual não se entendia.

Nessa mágoa de Deodoro é que os republicanos convictos se agarraram,


vencendo a indecisão afetiva do Marechal e o aliciando definitivamente para
a conspiração e o derradeiro golpe. Militares como Benjamin Constant e
Sólon Sampaio Ribeiro, sabendo tanto do seu descontentamento com o
Visconde de Ouro Preto quanto do seu prestígio entre os soldados,
souberam estrategicamente convencer Deodoro a favor da causa
republicana.
Elaborada e promulgada rapidamente, a nova Constituição do país
determinava que o primeiro presidente da República e o seu vice fossem
eleitos pelo Congresso Nacional. Ganharam a eleição o Marechal Deodoro
para a presidência e o Marechal Floriano Peixoto para a vice-presidência.
Ambos de chapas diferentes, iniciando, dessa forma, uma prática que viria a
se tornar comum: a de o presidente e o vice serem de partidos opostos.

Inspirada na Constituição norte-americana, a Carta Magna brasileira


estipulava para a nação um regime republicano, com governo
presidencialista e sistema federativo. Na prática, no entanto, o que se deu
nos governos seguintes foi um forte e centralizado presidencialismo,
tornando difícil a aplicação do princípio federativo, uma vez que os estados
nunca foram independentes do poder central nem
no âmbito político, muito menos no financeiro.

Ganharam força as oligarquias rurais, basicamente


as de São Paulo e Minas Gerais, fazendo surgir a
conhecida política do "café com leite", que alternou
o poder presidencial entre esses dois estados até o
ano de 1930, quando chegou ao fim a chamada
República Velha.

Em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a


primeira Constituição Republicana.
Nascido em Alagoas, em 1827, combateu
revoltas contra o Império e lutou nas
guerras do Prata e do Paraguai,
alcançando o posto de marechal, em
1884. No ano seguinte, foi nomeado
comandante de armas do Rio Grande do
Sul e lá mesmo se envolveu com os fatos
que o colocariam, a sua revelia, na
liderança do movimento que acabou com
o sistema monárquico. Em 1886, foi para
o Rio de Janeiro, assumindo a chefia da
facção do Exército que era favorável à
libertação dos escravos.

Como presidente, sofreu violenta


oposição do Congresso, que tentou
vencer articulando um golpe de Estado.
Não contava, porém, com a resistência
do Exército, chefiada pelo vice-
presidente, Marechal Floriano Peixoto e,
em 1891, cansado e desiludido, renunciou ao cargo com a seguinte frase:
"Assino o decreto de alforria do último escravo do Brasil".

Depoimentos

"Em 16 de novembro de 1889, o jornal carioca O Paiz noticiava como


manchete: 'PROCLAMAÇÃO'. A seguir, anunciava o que ocorrera no dia
anterior: 'Concidadão: o povo, o exército e a armada nacional em perfeita
comunhão de sentimentos com os nossos concidadãos residentes nas
províncias acabam de decretar a deposição da dinastia imperial.' Assim, o
Brasil começava a viver sob um novo regime político, a República, ganhando
nova bandeira, hino e heróis nacionais. O povo passava a eleger o chefe de
Estado, o Presidente, além de escolher os senadores e os governadores dos
chefes federados, muito mais poderosos do que quando eram províncias.
Nesses 110 anos, a participação política do povo brasileiro não parou de
crescer: o número de eleitores aumentou, com o voto feminino e dos
analfabetos, e os direitos dos cidadãos se ampliaram bastante. Mas uma
República nunca está "pronta", havendo sempre direitos a garantir e a
conquistar. E todos, governo e povo, devem entrar nessa luta."

Angela de Castro Gomes


Historiadora da Fundação Getúlio Vargas e
Professora da Universidade Federal Fluminense - UFF

"Em 1922, quando da revolta do Forte de Copacabana, Siqueira Campos


retalhou uma bandeira nacional em 29 frações e as distribuiu aos soldados
sublevados, que, em qualquer situação, isoladamente, podiam homenagear
o Pavilhão Nacional e dele receber inspirações.
Quando da fundação de Brasília, criou-se um recanto para o culto coletivo
de toda a Nação. Na Praça dos Três Poderes, está permanentemente
hasteada uma Bandeira Nacional. Na base do mastro, as palavras:

SOB A GUARDA DO POVO BRASILEIRO, NESTA PRAÇA DOS TRÊS PODERES,


A BANDEIRA SEMPRE NO ALTO, A VISÃO PERMANENTE DA PÁTRIA.

Olhando de longe para a Capital Federal, os brasileiros, nomeadamente


aqueles de "peito juvenil" podem cantar: Contemplando o teu vulto sagrado
Compreendemos o nosso dever, E o Brasil por seus filhos amado, Poderoso
e feliz há de ser."

Raimundo Olavo Coimbra


Autor do livro " A Bandeira do Brasil"
Professor de Filosofia da Universidade Gama Filho

Dia da Proclamação da República

15 de Novembro é uma das datas, que se a nossa Pátria não for destruída,
( pelas idéias errôneas ditadas hoje em dia pelos economistas e moldadas
pelos psicólogos, isto é, pelos Homo-economicus e pelos Homo-personalis,
respectivamente, que sem duvida, nos levarão necessariamente à Animalis-
homo), teremos absoluta certeza, que será sempre lembrada, para que
possamos prestar o nosso Culto de Veneração à Pátria Brasileira , através
dos seus Grandes Filhos ou melhor dos seus Grandes Vultos Nacionais. Pois
cada vez mais os mortos necessariamente comandam os Vivos, da espécie
Homo-sapiens.

O nosso objetivo é o de congregar todos que tenham Veneração pelos


nossos Heróis, Amor aos nossos Mártires, Admiração aos nossos Maiores,
para que num momento de recolhimento, venhamos a Glorificar os seus
Feitos Altruísticos.

A Bandeira em toda a sua magnitude é Símbolo da Dignidade Humana.

Os Patriotas honram-na, como os tiranos a profanam.

Neste nosso pavilhão idealizado, por um cientista social, Teixeira Mendes, o


céu no seu conjunto estrelado, representa a convergência de sentimentos,
de pensamentos e atos para uma unidade, de parte da Alma de cada um; e
as estrelas , na sua disposição e disparidade exprimem o principio da
autonomia sagrada, dos elementos confederados, que cada uma representa
objetivamente.

Assim o céu estrelado de nossa bandeira brasileira, traduz com a eloquência


da sua beleza o principio da "Independência e Colaboração" , inscrito na sua
forma final, "Ordem e Progresso".

Cada estrela também simboliza o ideal republicano de muitos heróis, porque


o Patriota é para a Pátria o que a estrela representa para o firmamento.

Apagando no firmamento as lâmpadas celestes, tem-se a treva, o caos, o


nada; também esquecemos os nossos Heróis, se abandonarmos os nossos
Mártires, se desprezarmos nossos Maiores, rasgaremos as paginas que mais
honram nossa própria Historia. Por isso necessitamos educar os nossos
filhos, com o dom da Veneração. Hoje as escolas principalmente as
particulares, dão mais enfazes ao Pato Donald e outras figurinhas da Disney,
do que aos Grandes Vultos Nacionais. Isto já está sendo feito com a
intenção de nos desmantelar.

A Bandeira , que é comemorada no dia 19 de Novembro, recorda a cada


momento o sentimento cívico que se acumula e avoluma, ao longo dos
séculos e é o manto de glórias dos que a sabem Honrar. Se paira na mente
de alguns crápulas a idéia de te substituir por algo mais simples, nivelando a
tua pujança, pelos níveis barbárie de inteligência em patamares dos fúteis
neo-liberais de hoje, não podemos pestanejar, devemos rechaça-los, com
todas as nossas forças. O nosso Pavilhão Nacional, enquanto formos Brasil,
jamais será alterado, pois parece que desejam aniquilar até as nossas
Forças Armadas.

Por isso, é elementar o dever cívico, venerar os heróis e lembrar seus feitos,
admirar os Mártires e honrar seus sacrifícios .

No Brasil o fundador da Federação Republicana é uma das melhores sínteses


do civismo brasileiro e de todo o seu passado, que é a alma da Bandeira
Nacional, representando subjetivamente o sentimento, a inteligência e a
ação de nossa eterna Pátria.

Benjamin Constant !
Tantos anos são decorridos, desde aquela noite, de que despedistes da
amada esposa, atendendo ao chamado do Brasil, que te reclamava,
ensinando com esse exemplo edificante que, mais do que a Família, nós nos
devemos devotar à Pátria.

Saístes e fostes abater o espúrio trono, que tripudiava sobre um povo


escravo; e fundaste a Federarão Republicana Sociocrática Brasileira,
concebida da "Independência e da Colaboração" sob a égide da liberdade
espiritual e da fraternidade social.

Sentias então que o lema "Independência e Colaboração" é o único alicerce


que de fato sustenta o Espirito Republicano Sociocrático. Por isso, ainda
hoje, é a ti que nós nos dirigimos, para quem subjetivamente apelamos,
pois tu és o Modelo mais elevado das Virtudes Republicanas.

Exemplo de luz, só tu poderás inspirar os homens de boa vontade, formando


os estadistas do futuro. Só tu poderás fazer com que a Pátria, sobreviva no
meio de tormentas, és , Benjamin Constant, como uma tábua largada ao
mar revolto, e tivestes a grandeza de um caráter, que conduziu a nossa
Pátria, para o porto da Regeneração Social .

A República Sociocrática, foi o seu sonho, de cunho científico, que a todos


vivificou, desde um dia que um brasileiro pensou em Pátria, e não esta
metafísica conhecida por República Democrática.

Lá está Olínda, que na sua condição de Metrópole, que das alturas, olhava o
Continente e Gritava :

Viva a República!

Sonho de independência, anseio de fraternidade, força criadora dos


sentimentos cívicos. Por esse sonho e por esse anseio tombaram no campo
glorioso e da imortalidade tantos patriotas mártires: Agostinho Bezerra,
Lázaro de Souza, Nicolau Martins, Monte Oliveira, Antônio Macário, Andrade
Pessoa, Carapinima, Luiz Inácio, Silva Loreiro, Ibiapina Metrovich, Joaquim
José da Silva Xavier - o Tiradentes.
Mas o sonho de todos estes Mártires, a chama que os incentivava, num
amor ardente, não havia-se apagado ainda; ao contrário, mais viva ,
fagulhando mais ainda, aparecia, crescia em labaredas no peito patriota de
Beijamin Constant Botelho de Magalhães.

Corporificando em si os nobres fragmentos do passado republicano, tendo


em suas veias circulando o sangue escaldante de todos os heróis que se
haviam dado generosamente à Pátria; reunindo no seu patriotismo, o de
todos os patriotas e tendo, no seu devotamento, o de todos os brasileiros,
Benjamin Constant, quis realizar o sonho dos seus Patriotas : República
Sociocrática. "Independência e Colaboração", para a conquista da Ordem e
do Progresso !

Parte, o primeiro grito das caatingas de Pernambuco, com Bernardo Vieira


de Mello, em 1710, quiseram abafa-lo, mas este brado ressoou e o seu eco,
ouviu-se até no Sul. Das caatingas aos pampas, atingiu todas as almas bem
formadas. Este grito foi a alma republicana, que se personificou em
Benjamin Constant, tornando-o patriota, inspirando-lhe a grande devoção
cívica, incutindo-lhe o caráter perfeito e finalmente criando o Fundador da
Federação Republicana Sociocrática Brasileira. Assim é que 15 de Novembro
de 1889 se filia ao longo do passado republicano, a 10 de novembro de
1710.

As etapas que se interpõem são elos de amor que formam a corrente que se
estenderá até o futuro. Mas hoje este futuro está sendo orientado, para um
outro futuro, não aquele que nos desejamos e sim aquele que os outros
desejam, este é o grande perigo.

Desde 1710 que o espirito republicano, indefinido se era democrático ou


Sociocrático, nutrido do mais puro patriotismo, cresceu, fortificou-se e
engendrou a história republicana brasileira.

Os nossos compatriotas de 1817, de 1824 e 1828, estão vivos e devem


alertar os patriotas de todos os tempos, com os seus clamores ainda, sadios
e puros. Sadios dos sentimentos da Pátria, que a Historia retransmite ao
futuro.

Mas de todos os gritos de alarme, aquele que arrancou os corações dos


peitos dos patriotas, e pôs à disposição do ideal, o que mais profundo
rasgou o espaço e o tempo, é sem duvida o 6 de novembro de 1836, cujo o
gemido lancinante ecoou pelas planícies, penetrou nas choupanas e
germinou em 24 de julho de 1839.
Não há duvida, que a genealogia gloriosa de 15 de novembro de 1889, tem
como pai Manuel Beckman 1661-1685; como padrasto Zumbi, valente
Mártire Negro, lá dos ídolos de 1696, e como Mãe a Revolução nativista dos
Mascates de 1710, gerando como filho prodígio, Benjamin Constant, em
1889.

Quinze de novembro é a consubstanciação de todas essa glorias e martírios,


desse ideal que ardentemente pregado e definido até a morte, porém mal
definido e vagamente expresso.

15 de Novembro é um passo à frente na evolução brasileira , um grande


passo.

Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina são partículas
vivas deste ideal que não morre. O sangue dos patriotas alimentará a chama
que se reacenderá, o mais rápido, ainda neste século, para a honra da
Federação Política das Republicas Sociocráticas Brasileiras.

Benjamin Constant é a herança personificada e viva de todo esse passado e


traz em si o sonho da Liberdade e da República, onde aplicável : dos
Beckmans, Jorge Sampaio, Zumbi, Jerônimo Pedroso, Bernardo Vieira de
Melo o primeiro propriamente a propagar o brado de República no
continente americano; Felipe dos Santos Freire, Sebastião da Veiga Cabral ,
Pascoal da Silva Guimarães, Manuel Mosqueira, Domingos Prado, José
Joaquim de Maia, Domingos Vidal Barbosa, José Alvares Maciel, José
Joaquim da Silva Xavier-Tiradentes; Francisco de Paula Freitas de Andrade,
Inácio José de Alvarenga Peixoto, Domingos de Abreu Vieira; Cláudio Manuel
da Costa, Thomás Antônio Gonzaga, José Resende Costa, Luiz Vieira da
Silva, Correia de Toledo, Oliveira Rolim, Manuel Rodrigues Costa; José de
Barros Lima-Leão Coroa, Domingos José Martins, João Ribeiro Pessoa de
Melo Montenegro, Domingos Teotônio Jorge, José Lins de Mendonça, Manuel
Joaquim Correia de Araújo, Padre Roma, Padre Miguelino, José Martiniano
de Alencar, Gervásio Pires Ferreira, Antônio Carlos de Andrada Machado
Silva, Bernardo Luiz Ferreira, Manuel Pereira Caldas, Pedro de Souza
Tentório ; José Bonifácio de Andrada e Silva- O Patriarca da Independência;
Manuel de Carvalho Paes de Andrade, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca,
José Natividade Saldanha, Joaquim Loureiro, João Metrowich, João
Guilherme Ratcliff , Diogo Antônio Feijó, Mártires Farroupilhos tendo como
Chefe Bento Gonçalves da Silva , ao lado de Davi Canabarro e José
Garibaldi, estes três últimos fundando a Republica de Piratini.

Proclamando com orgulho a hegemonia da filosofia positivista, Benjamin


Constant se infiltrava neste grupo de republicanos, que desde Bernardo
Vieira de Melo vem até Teixeira Mendes. Se não realizou o programa que os
Sistema Sociocrático lhe ensinou, por meio do socialismo pacifista, foi
porque forças reacionárias por um lado e dissolventes por um outro, lhe
dificultaram a ação patriótica.

"A influência positivista , não se fez sentir se não aos dois primeiros meses.
isto é, até o Senhor Demetrio Ribeiro sair do Ministério. Esta retirada
anunciou que o influxo preponderante havia sido definitivamente
conquistado por individualidades nefastas , que não tardaram em desnaturar
o novo regime e em extinguir todo o afã regenerador". Miguel Lemos

É neste momento, que infelizmente a Democracia sobrepujou a Sociocracia


em nosso Torrão.

O Estado Republicano Sociocrático é criado por um conjunto de Leis


Naturais; Ele , tal como percebeu Augusto Comte , sai estruturalmente da
Natureza, e a sua sociedade vem das relações espontâneas que
naturalmente a determinam.

Este Estado é visceralmente Sociocrático: tem uma estrutura relativa à sua


sociedade e tem uma sociedade que só pode viver e evoluir, social e
moralmente em paz, dentro desta estrutura. Mudar-lhe a sua estrutura é
ferir-lhe a própria Moral, isto é, a mesma coisa que se nós modificássemos a
anatomia de um ser humano, com certeza alteraríamos profundamente o
seu sentimento, o seu pensamento e a sua forma de agir.

O Estado Republicano, é portanto, uma conseqüência, um resultado da


própria existência humana e da sua civilização; Ele surge da vida coletiva
continua, com a sua estrutura, como o homem sai do ventre materno, com
a sua anatomia própria definida.

O Estado Democrático ou Estado de Nações ou estado Ideológico ou Estado


Nominal ou Estado Subjetivo se forma aprioristicamente, para ser Ele
mesmo, a razão da existência humana; Ele cria a vida coletiva ao gosto dos
mandantes, como outrora se supunha Deus criava os impérios ao gosto dos
reis ou príncipes.

Isto ainda hoje é proclamado em linguagem mais que metafísica, em


puríssima linguagem teológica. O Estado Democrático se funda, segundo a
teologia moderna nos postulados das profecias. Mas tal disparidade , a
muito que é sentida e mesmo proclamada pelos espíritos de escol. Já Kant,
apesar do alarde que faz do "Direito", sentiu perfeitamente esta questão
dando-nos em paginas magistrais o conceito de Estado.

"Não basta que a vontade individual de todos os homens seja favorável a


uma constituição legal, segundo princípios de liberdade; não basta a unidade
distributiva da vontade de todos.

Para resolver tão difícil problema, é preciso que todos juntos queiram este
Estado, para que se institua uma unidade total da sociedade civil. Assim,
sobre as diferentes vontades particulares de todos é necessário uma causa
que as una, para constituir a vontade geral, e essa causa unitária não pode
ser nenhuma das vontades particulares. Não é possível contar com a
consciência moral do legislador, e crer que ele , depois de ter reunido em
um povo a multidão não civilizada, vai deixar ao cargo dela, o cuidado de
uma constituição jurídica conforme a vontade comum."

No Brasil, desde o século XVIII, o Estado republicano paira na atmosfera do


sentimento público determinando movimentos dentro do sentimento
espontâneo de Pátria e dentro do sentimento natural de Estado.

Somente devido ao egoísmo necessário ao sistema capitalista, que


desenfreou e criou a maior centralização econômica, financeira, trabalhista e
demagógica que poderia infelicitar os povos brasileiros. Realizada esta
centralização, transformaram-na em Nação; e os seus detentores subiram
ao pedestal da pátria, que eles criavam e criam até hoje.

O 15 de Novembro vem desta dolorosa evolução política e não - como


pensam alguns - conseqüência da abolição escravocrática. Naquela época
Miguel Lemos esclarecia :

" a fraqueza da monarquia entre nós não proveio da lei de 13 de maio e sim
de nossos antecedentes históricos...... lamentamos que a mesma convicção
não exista da parte do chefe do Estado, visto como muitos males seriam
poupados à nossa Pátria e a Humanidade , se ele nos isentasse do
republicanismo democrático. Mas qualquer que seja a sua conduta esse
republicanismo será varrido da cena política para dar lugar a ditadura
republicana , e isso, em futuro tão mais próximo, quanto mais cedo igual
transformação operar-se na França. É urgente trabalhar para que o
republicanismo democrático, torne-se superado, pois ele tem assumido de a
muito as proporções de calamidade publica, de modo que ou acabamos com
a democracia, ou ela adormecerá em nós as forças patrióticas e morais no
tóxico do seu caos.
É devido ao espirito republicano que de fato existe latente, na evolução
brasileira, que o Brasil só tem um problema à resolver. Problema de âmbito
Nacional Federal que, quando resolvido arrastará com ele, todos os outros
problemas que só existem, como apêndices sugadores dele próprio, isto é, a
centralização. No entanto todos Estados da Federação deverão propagar o
mesmo Sistema Educacional, ditado pelo Governo Federal, para criarmos
nos brasileiros o espirito homogêneo Patriótico, com base em uma Moral
Positiva e numa Intelectualidade Cientifica, afim de evitarmos o que existe
hoje, pois neste momento, as idéias de vender a Pátria, por meio da
corrupção, em vez de defende-la, para o bem estar dos seus patriotas, de
forma Moral Positiva.

" ...entendemos que no presente, a Federação Política das Republicas


Brasileiras, sinceramente respeitada a autonomia destas, é o regime que
mais se coaduna com os interesses da humanidade e do povo luso-
americano.." Teixeira Mendes

A filiação histórica de um fato é dada pelos seus antecedentes , mas


consoante aos mesmo sentimentos que os inspirou. Esta profunda
observação de Teixeira Mendes , que abaixo descrevemos nos alerta, sob
um cunho científico, sobre as verdades futuras :

" É somente com uma doutrina cientifica que se é capaz de traçar, o plano
destinado a dirigir a conduta em qualquer caso. Mas Graças a este privilégio,
das teorias monárquicas, é também evidente a sociologia Positiva, não teria
ainda seu verdadeiro caráter, se ela fosse incapaz de sistematizar a
transformação pela qual está passando a Sociedade . Uma tal lacuna
impossibilitaria aplicá-la a investigação do Passado , visto como toda a
explicação da Historia está em mostrar como cada fase social resulta da
anterior, isto é, importa prever , mediante uma fase, a que se lhe há de
seguir. Só o fato de já achar-se realizada, então a segunda fase permite
confirmar desde logo , ajustes da previsão , como em qualquer outro caso
cientifico. Tendo interpretado o passado, Augusto Comte demonstrou,
simultaneamente a aptidão do Positivismo para descrever o Futuro mais
remoto, para sistematizar o Presente, ou melhor o Futuro mais próximo."
Ultimas Concepções, 482 .

Apreciamos com rigor nosso passado quanto ao princípio republicano, do


equilíbrio social, da Independência ou liberdade, e da colaboração da ordem
e do progresso e da fraternidade humana.

No dia 10 de Novembro de 1710, num congresso reunido em Olinda, onde


estava toda a nobreza pernambucana, para resolver sobre que destino a ser
tomado, devido aos acontecimentos conhecido pelo nome de guerra dos
Mascates, Bernardo Vieira de Melo ergueu a voz, em pleno congresso, para
propor, pela primeira vez, o rompimento com a metrópole e a fundação de
uma republica nos moldes da Holanda ou de Veneza; sugeriu que se fizesse
da capitania a Republica de Pernambuco. A assembléia unanimemente
aplaudiu e aprovou, a medida radical e patriótica. Vieira de Melo com o
pessoal do sertão parte marchando sobre Recife, ocupando-o e fazendo aí ,
a histórica proclamação.

Em 1789 na Chácara do Cruzeiro, residência do Frei de Andrade, o assunto


republica foi ventilado, idealizou-se e talvez tenha sido proclamada a
republica Mineira, cuja capital seria São João del Rei. Libertas quae sera
tamen, o lema inscrito na bandeira toda branca, traduzia o sentimento
patriótico mineiro, que conduziu Tiradentes ao cadafalso, em 21 de abril de
1791.

Em 1817 a Junta Provisória do governo pernambucano declara que a


revolução vitoriosa é republicana; cria a nova bandeira azul e branca;
delibera que os atos do governo seriam datados da "segunda era da
liberdade pernambucana".

Sustendo suas gloriosas tradições republicanas, Pernambuco proclama em 2


de Julho de 1824, a Confederação do Equador.

A 28 de agosto de 1828 assina-se o tratado, segundo o qual a Província


Cisplatina passa a constituir Estado Soberano.

Em 6 de Novembro de 1836, é proclamada a independência da Província do


Sul e constituída a Republica Rio-Grandense.

Em 24 de julho de 1839 , é proclamada a independência de Santa Catarina e


constituída a Republica Catarinense.

Em 1870 é fundado na Corte o Partido Republicano. Na filiação de 15 de


Novembro, este é um dos fatos sociológicos de maior importância, embora
mais democrático que republicano, e portanto mais de espirito metafísico
que cientifico. O fato é que a sua existência , e principalmente o titulo de
"republicano" que exibia no cenário político monarquista, era uma espécie
de bomba, que estouraria a qualquer momento, embora constituídos por
homens venais - que logo se acomodaram sob a corrupção do trono- não
sabiam guardar e honrar o Ideal que vinha na correnteza dos sangues dos
ilustres e dos veneráveis, puros e idealistas, patriotas do passado.

Por menos esclarecidos que fossem esses "republicanos" por mais vagos que
fossem os princípios que os animavam , não era possível, em face dos
antecedentes históricos, que pretendessem a formação de uma Republica
unitária e não de uma Federação Política das Republicas Brasileiras. Embora
sem nenhuma ligação direta, este partido sucedera imediatamente a uma
Sociedade positivista fundada por Benjamin Constant em 1868, que teve
vida muito efêmera.

Esta Sociedade que tinha como finalidade o estudo da Filosofia Positiva, é


uma prova de que o ilustre patriarca do movimento de 1889, sabia que
somente no Positivismo, estavam os princípios republicanos e as luzes para
uma Sã Política. É de admitir , que os princípios mais elementares do
Positivismo acerca da política fossem conhecidos, a despeito de mal
compreendidos por uns e por outros. " O manifesto de tal Partido,
insuficientemente aborda a questão social. Peça de valor político com cunho
critico, com base nas doutrinas democráticas, e o seu único alcance foi o de
proclamar a eliminação do regime monárquico. Passou o republicanismo
democrático a levar uma vida inglória, na evolução nacional, assistindo
egoisticamente à elaboração dos grandes princípios regeneradores" Teixeira
Mendes.

A idéia republicana era de constituir uma federação consoante ao espirito de


liberdade, expresso na denominação posteriormente dada por Teixeira
Mendes: Federação Política das republicas Brasileiras, deves que a Historia
indiscreta e insistentemente, mostrava que varias destas republicas já
haviam dado o grito de liberdade, e sido mesmo proclamadas; portanto o
sentimento dominante era o sentimento republicano da pátria: independente
economicamente e financeiramente.

A eloquência da historia não podia conduzir os republicanos do Partido de


1870 a idealizar outra reforma que não fosse uma federação dos estados
brasileiros; e uma federação só se consegue com a autonomia de seus
elementos. Por mais alheios que eles estivessem à ciência social, recém
criada, não podiam ser alheios à historia do Império; e bastaria então o bom
senso para inspira-los e ensinar-lhes que um Império se transforma em
Federação e nunca num Estado; e ainda mais que , é a força que sustenta
um Império, e por outro lado o que assegura a existência de uma Federação
é liberdade na forma de independência administrativa, econômica e
financeira. De modo que quando uma federação, para se manter
democraticamente, assenta a sua existência na Força, é certo que não é
mais uma federação, mas um Império que, não tendo rei , não sabe
dispensar a força bruta, para manter a sua integridade territorial. Carecendo
dos canhões, dos bordados e dos galões para manter a sua integridade, é
certo que o Estado não é republicano.
Se os republicanos desse Partido não prestaram outro serviço à causa
republicana, se não o de contribuir para a queda do trono, é que o próprio
trono os consumia na sua corrupção. É neste momento que Teixeira Mendes
dá o brado, consciente de legitima política republicana descentralizada: "Nós
os Positivistas não temos o menor preconceito de integridade política". esta
é frase lapidar, que encerra o principio federativo da descentralização
política e da autonomia econômica e financeira. Não podemos medir até
onde esta frase patriótica teria influído no sentido republicano do 15 de
Novembro.

Em 1881 , Miguel Lemos assume a direção da Sociedade Positivista, que


então já existia,, embora precariamente , mudando-lhe o titulo para Igreja
Positivista do Brasil . Na filiação histórica do 15 de Novembro, este é o fato
mais significativo ou mesmo e importante e decisivo, que havia de
determinar certas características no movimento, de forma legitimamente
republicanas. O fenômeno já agora não é puramente político - demagógicos;
assume todos os seus aspectos politico-sociologicos.

Era uma doutrina que se apresentava para demonstrar a solução do


problema social no seu tríplice aspecto, Mora, Intelectual e Pratico. Era a
Teoria que se apresentava para mostrar os princípios que orientariam a
Prática - ou Tecnologia no campo Social e Moral. Era a Ciência, enfim, agora
no seu ápice, que assumia o lugar de guia. Estes princípios sociológicos
orientaram plenamente a Federação nascente, se forças retrogradas não se
impusessem na época, como ainda hoje se impõem, como soberanas
absolutas dos destinos brasileiros, comandando estes neo-loberaris de
mentes oportunistas e de vazio conteúdo sociológico e moralmente
negativas, isto é, altamente egoístas.

Quinze de Novembro nos parece que ficou incompleto, enquanto a Ordem e


o Progresso aguardam, um novo passo à frente. É o queremos sensibilizar
por persuasão e por conhecimento, aos homens realmente de caráter e de
visão altruísta, desta Pátria Brasileira, no final deste artigo.

Prosseguindo a nossa analise genealógica do 15 de Novembro, vejamos se é


verdadeiro que havia ou não o Ideal republicano nessas seqüências de
lutas . Examinemos o que é a Republica Sociocrática em bases Positivas ou
Cientificas; e vejamos sobretudo a diferença marcante entre ela e a
Republica Democrática.

Quando se constitui um Estado , surge segundo o lugar e a época , um


governo à Ele relativo. Há portanto uma relação entre Lugar, Tempo, Estado
e Governo.
Se o Governo atende a Elas ou é resultado das Pessoas que tem o poder
soberano ou de alguma forma, atende as diferenças destas Pessoas,
constitui-se uma forma ou regime Autocrático, Aristocrático ou Democrático,
consoante por algumas ou por todas as Pessoas.

Se entretanto, o Governo atende ou é resultante do Modo pelo qual o Estado


faz uso da sua integridade ou seja, do seu poder econômico, intelectual e
social , esse Governo é republicano., Esse governo seguro na integridade do
seu Estado, tem a capacidade de transformar a multidão em povo, o povo
em sociedade e a sociedade em uma unidade que se sente e se compreende
como tal.

O Governo por meio de uma Republica Democrática é o Governo do


Indivíduo ou do Profeta, como diria Maritain; e o Governo Republicano
Sociocrata é o do Principio . Por isso enquanto a Democracia é o Governo do
Povo, a Sociocracia é o Governo da Lei, compreendendo-se por Lei, o
conjunto de princípios ou de Leis Naturais, por isso Cientificas ou Positivas,
que regem a Sociedade, que a maioria desconhece. O Seu compendio é a
Sociologia Positiva, que vai registrando as Leis Naturais, que os sociólogos
vão descobrindo, assim como o Povo, é o conjunto heterogêneo de pessoas ,
que por qualquer circunstancias , se considera com a capacidade e o poder
de faze-las e desfaze-las.

Ora uma Lei Natural, não se faz não se cria; Ela existe na Natureza
Humana , como existe na Natureza Exterior. Ela é a relação constante que
determina a similitude ou a sucessão dos fenômenos o que é preciso
conhece-las e segui-las; não inventá-las. Mesmo porque , assim como o
homem tem o espirito de subordinação às Leis Naturais, tem o espirito de
insubordinação às que lhe são impostas extemporaneamente. Ele sente
tanto orgulho em obedecer às Leis Naturais , como revolta a obedecer as
leis do Homem. A submissão é a base do aperfeiçoamento, por isso mesmo
encontramos, ao longo da historia, o homem se revoltando sempre contra
aqueles que , impondo-lhe modalidades egoístas de vida , impedem o
império da Lei, à qual ele é naturalmente submisso.

Uma vez conhecidos ou mesmo espontaneamente pressentidos, os princípios


básicos da Republica Sociocrática, cabe ao "ditador" - que é
verdadeiramente ditador, que somente cumpre respeitar , e faz respeitar as
Leis Naturais - cabe ao ditador apenas a execução dos princípios básicos da
Sociocracia Republicana, para isto necessitamos EDUCAR Positivamente a
nosso Povo.
Apreciando o sentido filosófico e histórico da palavra ditadura e ditador,
segue abaixo de modo a esclarecer aos homens de boa fé , o seguinte:

Ditadura e Ditador são substantivos do verbo ditar , empregado no sentido


figurado de prescrever, ordenar, impor : que o sentido próprio é o de ato de
anunciar algumas palavras , que vão sendo escritas por outrem . Assim
Ditador é o que prescreve, ordena, impõem alguma coisa; e Ditadura é o
conjunto dos atos do ditador. De sorte que aplicados em política, os dois
termos querem dizer : Ditador - qualquer pessoa jurídica, individual ou
coletiva, que exerça um governo, pois ao governo cabe sempre a função de
ditar, prescrever, impor ordens; e Ditadura o governo exercido pelo ditador.

Assim , de modo geral, é um governo ditatorial, um ditatoriato, tanto o


governo democrático do parlamento francês ou inglês, como foi o
antidemocrático do fascismo italiano, do nazismo alemão e do bolchevismo
russo.

Foram ditaduras , tanto as individuais de Camilo ou Cesar na Roma Antiga,


como as coletivas do Conselho dos Dez da Veneza medieval, e da
Convenção Nacional da França quando da Revolução Francesa.

Fundamentalmente todos os governos de ontem e de hoje são Ditaduras.

Pouco importa que, se as leis e os decretos tenham órgãos distintos, ou


sejam expedidos pelo mesmo órgão, para classificar o governo ditatorial ou
não. O que define realmente ditadura, é o exercício da força material na
direção da Sociedade.

Pois, toda a questão está realmente na escolha da forma de Ditadura a ser


adotada, segundo a época e o local.

Somente com Augusto Comte foi o problema empiricamente resolvido, no


entanto ele achou a solução sistemática, combinando o ditatoriato com a
republica, condensando aquele em um só órgão principal, puramente
monocrático, e definindo esta como o regimen da máxima liberdade
espiritual, caracterizado pela incorporação do proletariado `a sociedade,
instituindo em fim a Ditadura Republicana.
É bom recordar ainda, que nos tempos em que era explicável e justificável a
confusão dos poderes temporal e espiritual, como na antigüidade romana, e
me parece que no Brasil esta moda ainda persiste, quase todos os
magistrados que primeiro foram chamados " ditadores", dignificaram para
sempre a sua função. Eram verdadeiros alvadores do povo.

Escreve Pierre Larousse :

O Ditador era magistrado extraordinário, que se criava nos tempos críticos


para governar durante seis meses. Chamavam-lhe em Latin de "Dictator",
porque todos lhes obedeciam as ordens.

" Dictator appellatur, quod ejus dicto omnes audientes essent"

Era nomeado pelos Cônsules em virtude de Ordenação do Senado.

Disse Bossuet : " A ditadura era uma magistratura extraordinária, que se


instituía segundo a exigência , em todos os tempos da República e não uma
forma particular de governo"

Pelas razões acima expostas, verificamos que na Antiga Sociedade Romana,


a ditadura não era propriamente governo, mas delegação de governo, uma
magistratura provisória, instituída pelos órgãos do governo romano da época
. Desde esta época, já se mostrava a necessidade de concentrar o poder
para o exercer melhor. De sorte que as ditaduras posteriores que foram
surgindo, mais ou menos modificadas, tem mostrado que a tendência , cada
vez maior é mais acentuada, para essa concentração. A historia tem nos
mostrado, que a parte condenável das ditaduras , a partir da construção
sociológica de Augusto Comte, somente os dirigentes e dirigidos não se
aperceberam , que a par da concentração, a evolução social mostrou
também a bipartição do poder; a separação do poder temporal e do
espiritual, reduzindo a ditadura a exercer apenas o primeiro destes poderes.

Por isto,, desde que respeitados rigorosamente o principio da separação dos


poderes, as ditaduras passam de retrogradas à progressistas, de despóticas
`a liberais , tornado-se assim verdadeiras Ditaduras Republicanas.
No entanto, no sentido comum do termo, ditador lembra déspota, ditador
lembra tirano.

A enciclopédia Larousse nos esclarece: Chama-se por extensão Ditador ,


todo homem que açambarca o poder ou que é acusado de o ter
açambarcado.

Quando Bonaparte penetrou a 18 de Brumário no Conselho dos Quinhentos,


foi expulso pelos deputados aos gritos de : " Abaixo o Ditador"

Realmente para o vulgo dos dirigentes e dos dirigidos, existe despotismo


quando o governo é exercido por um só homem, que concentra nas, suas
mãos todo o poder, que expede não somente decretos mas também Leis. "E
igualmente esse o mesmo pensamento de Montesquieu e de Rousseau, os
escritores metafísicos que inspiraram a fase negativa da Revolução
Francesa, através dos seus célebres livros - " O espirito das Leis " e o "
Contrato Social " . Como é do vosso saber, Sr. Presidente, pelo que ensina a
Sociologia, e antes dela o simples bom senso, é que o despotismo, a tirania
podem existir tanto nas leis das assembléias, como nos decretos dos
indivíduos. Muitas vezes a maior parte das vezes, as próprias assembléias só
servem para disfarçar o despotismo dos indivíduos, dando-lhe o falso
aspecto de legitimidade; de sorte que não é nos governos chamados
democráticos, caracterizados essencialmente pela bipartição do poder entre
assembléias que legislam e indivíduos que decretam, que está a verdadeira
Organização Republicana, e muito menos nos chamados governos
antidemocráticos, que reduzem ou eliminam as assembléias, concentrando o
poder nas mãos de uma só autoridade, ao mesmo tempo espiritual e
temporal, como foi o caso do fascismo e do bolchevismo. Mas no governo
que realiza a plena conciliação das mais rigorosa ordem material com a mais
ampla liberdade espiritual, e que é o ditatoriato liberal ,isto é, a Ditadura
Republicana.

A exclamação do Conselho dos Quinhentos perante Bonaparte não deveria


ter sido - " Abaixo o Ditador !" , mas , " Abaixo o Tirano ! " .

Deveria ter sido idêntico e plenamente justificada , a exclamação de todos


os homens dignos de serem homens , diante das figuras de ominosas dos
Mussolini, dos Hitler, dos Stalin - " Abaixo os Tiranos !" - todos estes são
ditadores , mas todos ditadores déspotas, ditadores anti-republicanos.

A circunstância destes déspotas terem praticado algumas boas ações ,


alguns atos republicanos, não basta para os excluir do rol dos culpados, da
lista dos réprobos, como o fato de Caracala, o monstruoso imperador
romano, por ter decretado o ato memorável de estender a todo o Império
Romano a cidadania romana, mesmo assim não o liberta da eterna
condenação social.

Como quer que seja, a verdade histórica, a verdade Positiva, é que as


ditaduras independem dos predicados que as qualificam. Podem ser liberais
e progressistas como as de Cezar e Danton, ou despóticas e retrogradas
como as de Silas e Robespierre ; podem ser exercidos por grandes eleitos da
Humanidade, como Sipião e Trajano, ou por facínoras como Nero e Hitler.

Sendo assim, não há motivo racional para repelir as ditaduras, desde que
sejam liberais e progressistas.

De acordo com estas noções básicas, que assentam no principio mais


fundamental e mais humano que é o principio da Liberdade e não do
Liberalismo ou neo-liberalismo, é fácil ver como o Estado é forçosamente
reduzido às fronteiras que a sua natureza e sua historia criam.

A multidão só se fará uma Unidade, isto é, em Sociedade, dentro de


fronteiras que guardam a sua Historia e o seu Trabalho, porque tanto a
sociedade como o seu governo, como a sua autoridade, resultam da
Colaboração e não do entendimento ou conchavo entre as autoridades. Por
isso a rigor não existe Sociedade Brasileira, mas quanto muito, poderá haver
Sociedade Paulista, Sociedade Pernambucana, Sociedade Carioca, Sociedade
Mineira, Sociedade Riograndense do Sul, etc . A expressão Sociedade
Brasileira, como a expressão Sociedade Americana ou Russa, ou Argentina,
é uma expressão afetiva e extensiva de cada uma destas sociedades, que
compõem a multidão destas federações. É um modo gentil de tratamento
para com estes povos. Pois já devemos ter percebido que não existe tanta
unidade de simpatia e de sinergia entre os habitantes da Amazônia, do
Nordeste, do Oeste do Sul e do Centro desta metade do continente . Existe
povo brasileiro, porem o povo se destingue das sociedades em que se
subdivide, porque ele não é resultado de simpatia e de sociabilidade que são
as forças criadoras das sociedades humanas.

Daí o Brasil ter a necessidade de se constituir numa Federação política, das


Republicas Brasileiras, para encaminhar o problema socio-brasileiro no
sentido do ideal republicano de fraternidade, consoante a formula
"independência e colaboracao" , e segundo o ideal daqueles que no Passado
tentaram-no indo até a morte, nessas sucessões de etapas gloriosas.
É por demais evidente que em todos os movimentos que encadeamos sobre
a mesma inspiração , para atingirmos o 15 de Novembro, o principio que
norteou todos os patriotas , quer os do norte- nordeste quer os do Sul , foi
sem duvida, o ideal de autonomia economia de cada Estado, no entanto de
baixo de uma única Educação Positiva emanada pelo Governo Federal.

A prova sociológica desta afirmativa é a Confederação do Equador , que se


fez como reunião de Estados livres que tinham esperança de unidos,
poderem sobreviver à absorção da Corte. Uniram-se em confederação e não
em Estado, o que evidencia o ideal de independência de cada um; uniram-se
em confederação porque era a velha forma do que os Estados livres se
defenderem dos conquistadores . Tales de Mileto aconselhava aos jônicos :
"confederai-vos para resistir ao inimigo".

Mas o espirito democrático é mais forte que o Sociocrático, o que não quer
dizer com isto que deva prevalecer ; também em nosso cérebro o egoísmo é
mais forte e poderoso que o Altruísmo, e nem por isso deve prevalecer, mas
podemos amenizá-lo com uma Educação Positiva, quando da formação do
caráter.

Assim o espirito Sociocrático, que é Altruísta, isto é, o verdadeiro ideal


político ,assenta as bases na Liberdade, na Veneração, no Devotamento e na
Colaboracao.

Não há duvida que o próximo século, mais do que este, seguirá os rumos
sociológicos; a sua missão será de rigorosamente traçar as diretrizes sociais
e morais consoantes as normas cientificas. Nesta altura , O Império dos
USA., Britânico, bem como o Império Romano serão uma recordação.

Por todo o Ocidente a Liberdade se espalhará a sua Luz por todos os


Estados, reduzindo os conflitos militares, para que a ordem social seja
projetada e o progresso seja, não uma conseqüência da desordem e da
injustiça, mas o resultado da felicidade social..

Isto porque a autonomia do Estado é uma contingência do grau da


civilização. Quanto mais civilizada, isto é, quanto mais próxima da ordem
Positiva estiver uma sociedade, tanto mais autônomo será, forçosamente, o
seu Estado. Alias é o mesmo que se observa com o indivíduo, que quanto
mais instruído, culto, educado, refinado, tanto menos se sujeita à
dependência econômica e tanto mais aceita uma ascendência moral.
Coube ao século XIX descobrir a base Moral do Indivíduo, Social da Família e
da Pátria, determinando-lhes com rigor científico a sua missão; a cabe a nós
a função de dirigir o alimento que a todo o momento está sendo ingerido,
constituído de todo este acervo, que recebemos e que maioria mal sabe com
vai conservar ; no entanto no próximo século, o século XXI, caberá a missão
de aprender e assimilar todo o conteúdo filosófico positivo - aplica-lo na
ordem social e moral , como já estamos o aplicando na ordem biológica.

Aí, neste momento, o problema brasileiro encontrará a sua solução, na


franca autonomia dos Estados, sob o predomínio do poder civil, para melhor
sustentação e o desenvolvimento da Cultura Brasileira que, é em última
analise, a sua verdadeira Unidade. Podemos repetir o que Teixeira Mendes,
resumiu : "O Brasil já mais possuiu, como realmente não possui hoje , uma
verdadeira Capital". E até hoje, isto é uma verdade.

Recordemos neste momento, os fatos que antecedem a nossa 15 de


novembro: após esforços e muitas lutas, recebera Benjamin Constant a
adesão imprescindível do Marechal Deodoro : Tu queres a Republica ? Leve,
para diabo o trono. Estou às ordens.

Assim pode o herói republicano sociocráta, sair naquela madrugada de 15 de


novembro, ainda escura, despedindo-se da esposa idolatrada, num adeus
que talvez fosse último, exclamando: "vou cumprir o meu dever".

Partiu para a jornada mais árdua e gloriosa que a um patriota é dado


empreender.

Envolto no seu capote, apressado e cabisbaixo, atravessando as ruas ainda


na escuridão, não era o assaltante que fugia à denuncia do luar; era o
patriota que guiado pelo clarão da lua, ia para o campo da luta fazer valer
os princípios que a Historia impunha.

Onde houvesse uma tropa e tivesse um comandante, a sua palavra era uma
ordem: VIVA A REPUBLICA ! E todos respondiam erguendo também o braço;
Viva a Republica Coronel !

Hoje nos falta um Benjamin Constant, um Patriota para nos Gritar


VIVA a REPUBLICA SOCIOCRÁTICA, VIVA A SOBERANIA NACIONAL.

Apressava cada vez mais o passo, pois do seu passo dependia o advento da
Republica Sociocrática, e antes que se deitasse a lua e o sol viesse trair-lhe
o generoso intento, consegui chegar ao Campo de Santana.

Diante da Porta da Casa do Marechal, no Campo de Santana, atual Praça da


Republica, no Rio de Janeiro, disse: " Levanta Marechal, é hora de partir. A
Pátria e a Liberdade nos chamam para a luta. O que nos vale a vida se a
Pátria não é livre? Ela geme sob o peso de um trono artificial. Um trono
baseado em uma exploração criminosa dos negros esfomeados. Ontem eram
eles que choravam pelo sonho da liberdade, implorando nosso auxilio,
pedindo o nosso amor. Hoje são negros e brancos irmanados, no mesmo
ideal, unidos num abraço fraternal, impulsionados pelos mesmos
sentimentos cívicos ; que gritamos e exigimos o tombo do algoz.

Viva a Republica , Marechal!".

"Mas ...interrompeu o Marechal, tens certeza , Benjamin, que a republica


será o fim dos nossos males? Será que iremos acabar com todas as dores
que atormentam o povo e todas as lagrimas que a sociedade chora?"

"Não Marechal, ela não será o fim do mal: será o inicio do Bem. O inicio do
regime de paz e da vida de fraternidade, que deixaremos para os nossos
filhos. Não é o fim que procuramos, Marechal, mas o inicio de grande
estrada. Daremos o primeiro passo sobre o limiar republicano, e quanto
mais firme o demos, mais segura a será a caminhada. O caminho a
percorrer é árduo. Todos que o tentaram pereceram. os que nos
anteciparam na gloriosa audácia subiram ao cadafalso. Mas seus gritos
chegam até nós; e seus sangues derramados nos trouxe a mensagem dos
mortos imortais. Juntemos, Marechal, o sangue de nossas veias e o grito de
nossos corações aos dos mártires Republicanos. Olha o passado e veja o
oceano de lagrimas , no qual nós navegamos até hoje . Se não nos couber
realizar o Bem, que o preparemos , ao menos . Do nosso sacrifício
dependerá o advento desse inicio, cujos os frutos legaremos aos nossos
filhos, ou aos nossos netos , ou aos nossos pósteros. Cumpre-nos, Marechal
poupar-lhes os dilaceramentos desta anarquia, espiritual e temporal, que
desgraçadamente se eterniza. Partamos Marechal é tarde. A pátria não pode
esperar. Viva a Republica Marechal!

O Marechal honrando os heróis que o antecederam na Historia, ergueu a


gloriosa espada e exclamou:
Viva a Republica, Benjamin !

Por outro lado, sabíamos, como disse Miguel Lemos: " por esta forma o
impulso demasiado vago emanado do Dr. Benjamin Constant era precisado e
completado pelo nosso ensino, apesar das graves divergências que
separavam a nossa ortodoxia da adesão incompleta do egrégio professor. Ao
passo que ele afirmava perante os seus alunos o advento de um novo ideal
que ele os apresentava essa poderosa criação do engenho humano como
depositária do segredo do porvir, nós mostrávamos a estes mesmo moços
em que consistia esse ideal e quais os meios por que poderíamos
encaminharmo-nos desde já para este futuro longínquo". "Reiterando as
velhas formulas revolucionárias e democráticas , esses moços militares
queriam a republica Sociocrática, como o ponto de partida da reorganização
social, sem sobrenatural, nem reis, pelos princípios estabelecidos por
Augusto Comte . Tais tendências e tais aspirações dominavam sobretudo ,
os alunos de nossas escolas militares".

Os militares brasileiros de hoje, retrocederam , pela suas formações atuais,


ao nível teológico e metafísico, que os seus ancestrais já haviam atingido a
fase positiva ou cientifica, de conhecer pelas Ciências Sociologia e Moral,
Positivas, a previsão dos fatos, que podemos ilustrar como escreveu em
1931 o seu primeiro livro As Falsas Bases do Comunismo Russo,
complementadas pelo segundo volume como o mesmo titulo em 1959, este
grande cérebro militar brasileiro, positivista, Tenente-Coronel Alfredo Severo
dos Santos Pereira, professor de matemática do Colégio Militar do Rio de
Janeiro, que previu que o povo russo iria pagar um preço muito amargo pela
escolha errada de uma doutrina sem nenhuma base de realidade humana.
Precisou aproximadamente 60 anos, para podermos, confirma para outros,
que não tenham tomado ainda conhecimento, do Positivismo, a verdade das
Ciências Sociologia e Moral Positiva.

Para encerrarmos, vamos reafirmar e lembrar que a Pátria nominal, Estado


Subjetivo ou como Kant denominou Estado de nações, é aquela que
conhecida pelo nome, não tem existência concreta, objetiva, geográfica. E
podemos afirmar que o Estado Objetivo é a criação teórica ou imaginaria do
homem , como coroamento da sua conquista.

Estado Subjetivo assim imaginado é aquele que dispensa fronteiras e não


conhece historia. A sua historia é a historia da infelicidade dos Estados que
lhe caíram na sanha militarista; e as suas fronteiras são as riquezas das
Republicas espoliadas pela sanha governista.
O estado Subjetivo é forçosamente modalidade do Estado Imperialista,
inspirada pelo espirito democrático; por isso é um Estado expancionista,
pois coloca as suas fronteiras no seu interesse e o seu interesse no mais
sórdido egoísmo, que prevalece na imaginação militarista democrática.
Desta maneira quem governa o Estado Subjetivo ou Pátria Nominal não é o
Principio, mas o Indivíduo, não é a Lei Natural , mas é um Governo. Por isso
emprega ao espirito democrático o próprio vocábulo "ditador", pois por mais
que queiram falsear-lhe o significado legitimo, sentem ou pressente todos o
que se deseja , por intermédio do "ditador" é somente o prevalecimento dos
princípios que são ditados, repetidos e cumpridos. O Governo Republicano
Sociocrático é pois a Lei Natural e não o ditador; este apenas a lembra e a
faz cumprir.

" Circunstancias fortuitas determinarão a delimitação de cada Pátria atual, e


esta delimitação não possui nenhum caráter definitivo, seja qual for amor-
próprio que inspire dos diversos governos. Em um governo mais ou menos
próximo, todas estas pátrias nominais se decomporão pacificamente , em
pequenas pátrias normais, verdadeiramente republicanas sociocráticas,
cientificas sociais, livre de qualquer preconceito militarista." Teixeira Mendes

Desta forma a Pátria é a partícula social que tem uma consciência própria e
característica formada de dois elementos que lhe preparam a vida: a Família
e a Sociedade Civil .

Depois essa partícula, desenvolvendo-se, lhe forma a consciência que se


dignifica sob o principio básico republicano sociocrático: Independência e
Colaboração.

Quando essa consciência não chega a formar-se ou é mal constituída, ocorre


a degeneração; é que esses dois elementos sociais estão oprimidos e a
própria Pátria então se dissolve no oceano da putrefação democrática.
Vejam o atual problema serio em que vive a Sociedade dos USA.

Há necessidade de se alertar os nossos irmãos dos USA, que provavelmente


ocorrerá uma Implosão Social do seu País, principalmente no que se refere a
sua economia Interna e Internacional, criando um "Belo Buraco Negro" ,
devido a sua desestruturação Familiar e o seu sistema Social entrar no
Estado de "Entropia Moral Positiva Zero," tragando-nos todos, no seu Vácuo,
para levar-nos a uma Retrógrada Anarquia Social e Individualista, de
grandes conseqüências desastrosas e de provável irreversibilidade . O
Câncer ou o epicentro do Buraco Negro, implodirá na da própria sociedade
dos USA, se não ocorrer em tempo, uma Evolução substancial do Modo de
Sentir, Pensar e Agir, dos americanos, que para manter o seu Sistema
Capitalista exige a predominância do sentimento egoísta, que provoca na
inteligência raciocínios altamente danosos à Sociedade.
É claro que no regime Republicano Sociocrático o principio que melhor
caracterizará a Ordem e mais amplamente determinará o Progresso é sem
duvida "a dedicação dos fortes aos fracos e a veneração dos fracos aos
fortes", este principio de Ordem Moral Positiva, jamais sairá do manto da
utopia, se o principio de Ordem Social, o principio político positivo,
"Independência e Colaboracao" não for instituído. Este é o principio
fundamental , sem o que somente ocorrerá a derrocada.

Ocorre então a degeneração do Patriotismo e se avilta, e se degrada no


mais, profundo egoísmo nacionalista. O Patriotismo deixa de ser o fruto da
Veneração, que a amizade prepara no seio da Família, para ser a voz da
ambição , aguçando a cobiça.

O Patriotismo não será mais o calor que anima os puros corações na pira do
altruísmo; não é a centelha que faz surgir Lavalleja e escrever com sangue
seu lema: Liberdade ou Morte; não é a centelha que comandou Davi
Canabarro, que deu de herói a Garibaldi e heroina a Ana de Jesus; não é a
centelha que formou Bento Gonçalves que criou Vasconcelos Jardim, Onofre
Pires e Corte Real, não é centelha que deu vigor ao Ideal de Frei Caneca,
Padre Mororó, Ratcliff, Natividae Saldanha, Padre Miguelino e Henrique
Rebelo que no cadafalso gritava para a história: Viva a Pátria; não é a
centelha que levou o amor aos mocambos, vida aos quilombos e liberdade a
Palmares.

Ontem eram os negros nus que agachados dormiam nas senzalas até que
um senhor de chicote à mão os viesse despertar para a labuta infernal, hoje
são as próprias pátrias brasileiras que na miséria mendicantes algemadas,
assistem com sua tristeza endêmica, o embriagues dos capatazes dançando
no solar faustoso.

Aí o patriotismo é somente o réptil venenoso e traiçoeiro nascido do egoísmo


mais baixo, aniquilando o indivíduo, degradando a Família e sonegando a
Pátria.

Esse é o patriotismo federal forjado no orgulho e desenfreado na ambição,


que germinou e floresceu à sombra do nome integro de Benjamin Constant
Botelho de Magalhães , relegando criminosamente os princípios
sociocráticos, para o campo da utopia e que para alguns não esclarecidos,
admitem somente isto tudo seja uma quimera.
Federal sem federação, patriotismo sem pátria a este monstro informe
chamam patriotismo. Patriotismo que conduz o indivíduo ao crime, a família
a luxúria e a sociedade à perdição.

Benjamin Constant Botelho de Magalhães, onde está a Federação com que


sonhaste?

Onde está a Federação, que inauguraste sob os auspícios da tua dignidade e


de um esforço como o teu , cujo o resultado se destinava ao bem publico?

Concebeste uma Federação que progredisse na Ordem, assentada na


Autonomia Material, na Liberdade Espiritual e na Dignidade Humana.

Traída e desonrada a Federação desaparece.

Quiseste a unidade politico-social na mais ampla autonomia material e tens


hoje , como ofensa a tua memória, a miséria, o vicio e o crime;
multiplicando os mocambos no norte e as favelas nos sul, dentro de uma
das maiores anarquias politico-sociais do Mundo.

Libertas quae sera tamen continuará ecoando preguiçosamente como o


gemido dos moribundos, até que em algum dia revigorado se transforme por
excelência no principio Republicano Sociocrático que é o objetivo, na
evolução social, que lhe completa o significado social: Independência e
Colaboração.

Porem o que mais espanta e choca nisso tudo, Coronel ,é que os vilões que
nos traem são os mesmos que todo ano, no teu dia, vão para as tribunas
democráticas, disfarçar a vileza pessoal na pureza do teu nome.

É neste momento que o dilapidador se arvora em patriota e a orgia se


transforma em bem público. A miséria caminha ao lado do crime, enquanto
o vicio tripudia sobre a Federação.
Que o teu ardor social, o teu devotamento, a tua probidade, saltem das
paginas da Historia e venham reintegrar o Brasil nos ditames do Amor, da
Ordem e do Progresso!

A historia republicana brasileira fecha as suas paginas, não querendo


escrever mais aquilo que assiste envergonhada.

De fato, quem está com Mérito, competência e capacidade para realmente


dirigi-la ?

Benjamin Constant surja desta Historia que carinhosamente te guarda e


atenda a federação, que te chama aflita. Á beira de um abismo ela espera
alguém que lhe estenda o braço; procura uma Patriota; encontra traidores.

Vem Benjamin Constant, vem livrar os Tiradentes e prender os Silvérios


que, enquanto o mártir morre o traidor fecunda.

Vem , Benjamin Constant, escurraçá-los com a tua sombra da dignidade e


do teu patriotismo.

Dentro desta selva escura, onde as panteras disputam aos leões as


premissas da fecundidade da terra; aqueles como nós, positivistas,
enxergam ao longe bruxoleando, porem acesa, a lâmpada da paz e da
fraternidade, não cessem de repetir, não cansem de repetir que é de nosso
esforço, para poupar nossos filhos dos dilaceramentos e nossa atual
situação.

É preciso portanto e com urgência, que outros patriotas, surjam com a


mesma consciência cívica que originou o patriotismo de Benjamin Constant,
e animado pela alma deste passado tão glorioso, tão cheio de heróis e de
mártires, esclarecidos pela doutrina Cientifica, acordem e despertem o
Espirito realmente Republicano, isto é, o Regime Sociacrático, que dorme
entorpecido ao sono de morfina dos desesperados e vencidos.

Vem, Benjamin Constant, com a doutrina que guiou os passos na vida


objetiva, com a doutrina que iluminou o teu pensamento, que mais purificou
o teu coração, que já era puro, e que te fez o símbolo de estadista; vem
com esta doutrina expulsar os abutres e salva a Federação Política das
Republicas Brasileiras !
Mas quando vieres, traga contigo, um plano completo de tendência
sociocrática, para não deixar que estes mesmos abutres, tomem outra vez o
comando do destino desta Pátria, ainda tão querida.

Viva a República Sociocrática, Viva a Soberania Nacional,Viva ainda a Pátria


Brasileira.

Saúde, Respeito e Fraternidade

Proença Rosa 1957

P.A. Lacaz 1997

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