Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Noção de Ciclo Regional No Cinema Brasileiro - Autran PDF
A Noção de Ciclo Regional No Cinema Brasileiro - Autran PDF
do cinema brasileiro1
Arthur Autran
Introdução
A
partir da publicação do seminal Historiografia clássica do cinema brasileiro (Ber-
nardet, 1995) afigura-se fundamental para o desenvolvimento dos estudos
históricos sobre cinema brasileiro retomar conceitos, noções, recortes e
periodizações dos autores ditos clássicos – tais como Alex Viany, Paulo Emílio Salles
Gomes ou B. J. Duarte, entre outros – e interrogar profundamente as suas concep-
ções historiográficas. Isto se deve ao fato de que boa parte delas não dá conta mais de
explicar o passado do cinema brasileiro, sendo necessário formular novas conside-
rações sobre ele com base em outras perspectivas. Ao mesmo tempo, seria ingênuo
achar possível ou mesmo desejável partir de uma perspectiva totalmente nova, pois
o modo de entender esta história é profundamente marcado pelos autores clássicos
mesmo quando não existe clareza a respeito disso, daí a necessidade de retomá-los.
Neste artigo pretendo discutir uma das noções centrais da historiografia clás-
sica: a de “ciclo regional”. Trata-se de uma noção bastante difundida nos textos que
compõem a bibliografia do cinema brasileiro, possuindo uma tradição que remonta
aos anos 1950. Entretanto, tal como outros recortes utilizados para explicar a história
do cinema brasileiro, o conceito de “ciclo regional” nunca foi definido claramente
e houve pouca discussão a respeito da sua pertinência2.
O meu objetivo é entender qual o quadro ideológico dominante que cerca a
utilização da noção de “ciclo regional”, indicar algumas características básicas que
mesmo de forma implícita a definiram para os historiadores do cinema brasileiro e
interrogar sobre a pertinência da idéia de ciclo regional em um discurso historiográ-
Já Carlos Diegues organiza a produção brasileira desde 1950 até a Lei do Au-
diovisual em termos de ciclos, inclusive o mais recente, o da “retomada”:
117
118
119
120
121
Novas perspectivas
122
Arthur Autran
Professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
autran@ufscar.br
123
Referências bibliográficas
ARAÚJO, Luciana Corrêa de. O cinema em Pernambuco nos anos 1920. In: FELICE, Fa-
brício (ed.). I Jornada Brasileira de Cinema Silencioso. São Paulo: Cinemateca Brasileira, 2007.
p. 33 e 71-76.
AUTRAN, Arthur. Ciclos Regionais. In: RAMOS, Fernão e MIRANDA, Luiz Felipe (orgs.).
Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000. p. 125-126.
BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1979.
__________. Historiografia clássica do cinema brasileiro. São Paulo: Annablume, 1995.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 34ª ed. São Paulo: Cultrix,1994.
COSTA, Selda Vale da. Eldorado das ilusões – Cinema & sociedade – Manaus (1897-1935). Ma-
naus: Editora da Universidade do Amazonas, 1996.
DUARTE, B. J. As idades do cinema brasileiro. In: Retrospectiva do cinema brasileiro – I Festival
Internacional de Cinema do Brasil. São Paulo: 1954.
ESCOREL, Eduardo. Adivinhadores de água. In: Adivinhadores de água. São Paulo: Cosac &
Naify, 2005. p. 13-34.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
GOMES, Paulo Emílio Salles. Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte. São Paulo: Perspectiva/
Editora Universidade de São Paulo, 1974.
__________. Panorama do cinema brasileiro: 1896/1966. In: Cinema: trajetória no subdesen-
volvimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra/Embrafilme, 1980. p. 35-69.
LIMA JR., Walter. Vícios da Embrafilme devem ser superados. São Paulo: Folha de S. Paulo,
8 abr. 1990. p. E-1/8.
MACHADO, Rubens. O cinema paulistano e os ciclos regionais Sul-Sudeste (1912-1933).
In: RAMOS, Fernão (org.). História do cinema brasileiro. São Paulo: Círculo do Livro, 1987.
p. 97-128.
MAURO, Humberto. O Ciclo de Cataguases na história do cinema brasileiro. Elite, São
Paulo, fev. 1954.
MOUESCA, Jacqueline e ORELLANA, Carlos. Cine y memória del siglo XX. Santiago: LOM
Editores, 1998.
NAGIB, Lúcia (org.). O cinema da retomada – Depoimentos de 90 cineastas dos anos 90. São Paulo:
Editora 34, 2002.
124
Resumo
Este artigo interroga a noção de “ciclo regional”, central na constituição da historiografia
clássica do cinema brasileiro posto que utilizada por diversos autores como Alex Viany, Paulo
Emílio Salles Gomes, Carlos Ortiz ou B. J. Duarte. A partir da demonstração de que esta
noção expressa uma aliança ideológica entre cineastas e historiadores, o texto indica os limites
da idéia de “ciclo regional” e aponta para outras formas de constituição da historiografia em
torno da produção localizada fora do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Palavras-chave
Cinema brasileiro; Historiografia do cinema; Pensamento cinematográfico.
Resumée
L’article interroge la notion de “cycle régional”, noyau constitutive de l´historiographie
classique du cinéma brésilien puisque utilisée par plusieurs auteurs comme Alex Viany, Paulo
Emílio Salles Gomes, Carlos Ortiz ou B. J. Duarte. À partir du raisonnement de que cet idée
exprime une alliance idéologique entre les cinéastes et historiens le texte indique les limites
de l´idée du “cycle régional” et montre d´autres formes d´organisation de l´historiographie
sur la production située hors de Rio de Janeiro et São Paulo.
Mots clés
Cinéma brésilien; Historiographie du cinéma; Pensée cinématographique.
125