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MINISTÉRIO DA SAÚDE

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos


Departamento de Ciência e Tecnologia

Série B. Textos Básicos de Saúde

Brasília-DF
2009
© 2009 Ministério da Saúde.
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A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Virtual em Saúde do
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Série B. Textos Básicos de Saúde

Tiragem: 1.ª edição – 2009 – 4.000 exemplares

Elaboração, distribuição e informações:


MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos
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O projeto que deu origem a este relatório foi financiado pelo Ministério da Saúde por intermédio de Cooperação Técnica com
o Escritório Regional da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde no Brasil. Foi executado por
pesquisadores da Universidade de Brasília e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Ficha Catalográfica
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e
Tecnologia.
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos, Departamento de Ciência e Tecnologia. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009.
72 p. : il. + 1 CD-ROM – (Série B. Textos Básicos de Saúde)

Anexo : CD-ROM encartado na contracapa, contendo Bibliografia.


ISBN 978-85-334-1559-1
1. Aborto. 2. Saúde pública. 3. Saúde da mulher. I. Título. II. Série.
CDU 618.39 (81)
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2009/0015
Títulos para indexação:
Em inglês: Abortion and Public Health in Brazil: 20 years of research
Em espanhol: Investigaciones sobre Aborto y Salud Pública en Brasil: 20 años
Agradecimentos
A equipe de pesquisa agradece o financiamento do
Ministério da Saúde por intermédio de Cooperação Técnica com
o Escritório Regional da Organização Pan-Americana da Saúde/
Organização Mundial da Saúde no Brasil e às executoras do pro-
jeto, Universidade de Brasília e Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Agradece, ainda, a Ana América Gonçalves Silva, Ana
Beatriz Souza, Aníbal Faúndes, Arryanne Queiroz, Biblioteca
Central da Universidade de Brasília, Biblioteca do IBCCRIM
(Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), Cecília Barros,
CFEMEA (Centro Feminista de Estudos e Assessoria), Cristiany
Borges, Diaulas Costa Ribeiro, Dirce Guilhem, Ellen Hardy, Estela
Aquino, Fabiana Paranhos, Flávia Motta, Graciana Alves Duarte,
Greice Menezes, Joana Maria Pedro, Joelson Dias, Jorge Andalaft
Neto, José Guilherme Cecatti, Malu Fontes, Marcelo Medeiros,
Maria Isabel Baltar, Maria José Osis, Maria Teresa Anselmo
Olinto, Martha Ramírez, Regina Barbosa, Rivaldo Mendes, Roger
Raupp Rios, Rosângela Digiovanni, Rozeli Porto, Sérgio Costa,
Tatiane da Silva Dal Pizzol, Thomaz Rafael Gollop, Wilza Vieira
Villela e a todos os pesquisadores e autores que enviaram referên-
cias bibliográficas, em especial àqueles que revisaram os originais
deste relatório e da bibliografia.

Em memória de Maria Isabel Baltar da Rocha.


Sumário

Apresentação........................................................................................7
Aborto e Saúde Pública....................................................................11
Perfil....................................................................................................13
Trajetória do Aborto.........................................................................21
Adolescência......................................................................................25
Aborto, Complicações e Seqüelas...................................................29
Misoprostol........................................................................................33
Ética, Pesquisa e Aborto..................................................................39
Mapa da Pesquisa..............................................................................43
Metodologia de Busca......................................................................47
Referências.........................................................................................59
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

Apresentação
O projeto que deu ori- mos, e aquelas que indicavam
gem a este relatório sistema- conter pesquisas com dados
tizou 20 anos de publicações primários ou secundários fo-
sobre o tema do aborto no ram selecionadas para análise
Brasil. O objetivo foi, de um integral. A metassíntese apre-
lado, fortalecer a agenda nacio- sentada neste relatório resultou
nal de pesquisas sobre aborto, de um exame em profundidade
organizando o conhecimento de 398 fontes, o que corres-
disperso, e, de outro, aproximar ponde ao universo das fontes
o debate político da produção com pesquisas empíricas sobre
acadêmica brasileira. O resulta- aborto, aqui denominadas “es-
do foi a recuperação de 2.109 tudos com evidência”.
fontes em língua portuguesa, A equipe de pesquisa
publicadas por autores, perió- responsável pelo projeto não
dicos e editoras nacionais ou emitiu qualquer julgamento
estrangeiros. de valor na recuperação e se-
Todas as fontes foram leção das fontes. Partiu-se do
avaliadas pelos títulos e resu- pressuposto de que os campos

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Ministério da Saúde

disciplinares e as comunidades O fio condutor da sínte-


científicas atuam na avaliação se foi o de recuperar dados que
da qualidade das fontes antes lançassem luzes sobre a tese
de sua divulgação por meio da do “aborto como uma questão
comunicação científica. Para de saúde pública no Brasil”.
este relatório, foi dada ênfase Por isso, embora presentes na
aos estudos com evidência de recuperação bibliográfica, al-
ampla cobertura populacional gumas questões foram consi-
com amostra selecionada de deradas secundárias à síntese
mulheres e aos estudos qua- do relatório, tais como aborto
litativos com maior potencial espontâneo, aborto recorrente,
analítico. novas tecnologias reprodutivas
A síntese dos resultados ou pesquisas de opinião sobre
foi ordenada por títulos temá-
o aborto.
ticos que correspondem não
Os temas do aborto le-
apenas às principais questões
gal e do aborto por anomalia
de pesquisa sobre aborto no
fetal são questões no topo da
Brasil, mas também aos desa-
fios de saúde pública impostos agenda de saúde pública, mas
pela ilegalidade dessa prática: raramente constituem objetos
perfil do aborto; trajetória do de estudos sistemáticos com
aborto; aborto e adolescência; evidências. Essa escassez de es-
aborto, complicações e seqüe- tudos com evidência não per-
las; aborto e misoprostol. mitiu a inclusão de ambos nas
Para cada tema, apresen- seções temáticas, muito embo-
tou-se a tendência geral dos ra eles tenham dominado o de-
resultados, o que não significa bate sobre aborto nos últimos
que dados diferentes ou con- cinco anos no Brasil.
flitantes não tenham aparecido Os dados apresentados
nos estudos. Como o objetivo resumem o que os pesquisado-
do projeto foi o de oferecer res brasileiros produziram so-
uma síntese dos resultados de bre aborto nos últimos 20 anos.
pesquisa sobre aborto, especial Grande parte das informações
atenção foi dada às evidências foi coletada em serviços públi-
que sinalizavam os desafios de cos de saúde, o que imprime
saúde pública. características particulares aos

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20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

resultados. Muito embora uma res do país. Em larga medida,


parcela considerável da popu- este é o pano de fundo da sín-
lação brasileira seja usuária do tese: são 20 anos de pesquisas sobre
Sistema Único de Saúde, os aborto com mulheres que buscam o
dados não cobrem a realidade serviço público de saúde para hospi-
do aborto para todas as mulhe- talizações.

Reinaldo Guimarães, Debora Diniz e Marilena Corrêa

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Aborto e Saúde Pública

Introdução

O aborto se manteve na Os resultados confiáveis


pauta de pesquisas brasileiras das principais pesquisas sobre
nos últimos 20 anos. Há uma aborto no Brasil comprovam
abundância de fontes, o que que a ilegalidade traz conseqü-
constitui um forte indício da ências negativas para a saúde
importância do tema para a das mulheres, pouco coíbe a
saúde pública no país. Grande prática e perpetua a desigualda-
parte das publicações é de en- de social. O risco imposto pela
saios, artigos de opinião e pe- ilegalidade do aborto é majori-
ças argumentativas: para cada tariamente vivido pelas mulhe-
estudo baseado em evidências res pobres e pelas que não têm
de pesquisas empíricas, há cin- acesso aos recursos médicos
co sem evidências. Os estudos para o aborto seguro.
com evidência são quase todos O que há de sólido no
relativos ao campo da saúde debate brasileiro sobre abor-
pública. to sustenta a tese de que “o

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Ministério da Saúde

aborto é uma questão de saúde maioria é jovem, pobre e cató-


pública”. Enfrentar com serie- lica e já possui filhos.
dade esse fenômeno significa Essa descrição não repre-
entendê-lo como uma questão senta apenas as mulheres que
de cuidados em saúde e direitos abortam, mas as mulheres brasi-
humanos, e não como um ato leiras em geral. Por isso, a com-
de infração moral de mulheres preensão do aborto como uma
levianas. E para essa redefini- questão de saúde pública em um
ção política há algumas tendên- Estado laico e plural inaugura
cias que se mantêm nos estu- um novo caminho argumenta-
dos à beira do leito com mulhe- tivo, no qual o campo da saúde
res que abortaram e buscaram pública traz sérias e importantes
o serviço público de saúde: a evidências para o debate.

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Perfil

As Pesquisas

Os estudos descritivos Os estudos que recupe-


adotam como variáveis: ida- ram variáveis demográficas e
de, classe social, religião, tem- médicas foram realizados em
po gestacional, tipo de aborto, todos os anos do período pes-
procedimento abortivo, tempo quisado, e os dados permitem
de internação e complicações traçar um perfil das mulheres
de saúde. As variáveis médicas que abortaram nos últimos 20
são mais regulares entre as pes- anos em grandes cidades bra-
quisas, o que permite uma me- sileiras. Houve variações no
lhor comparação e síntese, ao nível educacional, com acrés-
passo que as variáveis sociais, cimo nos anos de estudo das
em particular conjugalidade, mulheres, o que correspondeu
educação e inserção no mundo às mudanças da sociedade bra-
sileira. É difícil inferir particu-
do trabalho, apresentam dife-
laridades regionais entre as mu-
rentes sistemas classificatórios,
lheres, uma vez que os estudos
o que dificulta a síntese. Raça
comparativos são escassos. As
e deficiência são temas larga- desigualdades regionais ten-
mente ignorados nos estudos. dem a se reproduzir no perfil
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Ministério da Saúde

das mulheres em situação de reu no Nordeste e Sudeste do


abortamento, em especial em país, com uma estimativa de
temas como educação, proce- taxa anual de aborto induzido
dimentos abortivos e seqüelas de 2,07 por 100 mulheres entre
do aborto, mas foram raros os 15 e 49 anos.
estudos que correlacionaram O maior desafio para o
renda e trajetórias reprodutivas cálculo da magnitude do abor-
das mulheres. to no Brasil é a dificuldade de
acesso a dados fidedignos, além
do alto número de mulheres
Quem são elas que omitem ter induzido abor-
to em questionários com per-
Predominantemente, mulheres guntas diretas. Em finais dos
entre 20 e 29 anos, em união estável, anos 1980, foi testada a técnica
com até oito anos de estudo, traba- de resposta ao azar para esti-
lhadoras, católicas, com pelo menos mar a indução do aborto em
um filho e usuárias de métodos con- uma ampla amostra populacio-
traceptivos, as quais abortam com nal de mulheres. Por meio da
misoprostol. abordagem direta, encontrou-
se a incidência de oito abortos
Magnitude a cada 1.000 mulheres, ao passo
Um estudo recente sobre que, com a técnica de resposta
a magnitude do aborto no Brasil ao azar, chegou-se a 42 a cada
estimou que 1.054.242 abortos 1.000, ou seja, uma incidência
foram induzidos em 2005. A cinco vezes superior.
fonte de dados para esse cálculo Um estudo em meados
foram as internações por abor- dos anos 1990 comparou duas
tamento registradas no Serviço metodologias para a estimativa
de Informações Hospitalares do aborto induzido em pesqui-
do Sistema Único de Saúde. Ao sas de base populacional: o mé-
número total de internações foi todo da urna e o das questões
aplicado um multiplicador ba- indiretas. Os resultados mos-
seado na hipótese de que 20% traram que, entre as mulheres
das mulheres que induzem entrevistadas pelo método da
aborto foram hospitalizadas. A urna, 7,2% relataram ter indu-
grande maioria dos casos ocor- zido pelo menos um aborto, ao

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20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

passo que, em relação àquelas tradicionais, incluindo meninas


entrevistadas pelo método das entre 10 e 14 anos. Há uma
questões indiretas, o índice foi concentração, entre 72,5% e
de 3,8%. A razão entre os dois 78%, da experiência de aborto
métodos foi de 1,89. induzido entre as adolescentes
mais velhas, no segmento de 17
Idade a 19 anos.
Os cortes etários não são É no conjunto dos es-
homogêneos, mas a vasta maio- tudos com adolescentes que
ria dos estudos inclui mulheres surge o uso tanto de novas me-
entre 10 e 49 anos. Grande par- todologias, em especial sobre
te das metodologias estabelece temas originais à saúde pública,
a seguinte segmentação etária: como saúde mental, bem-estar
15-19 anos; 20-24 anos; 25-29 e reprodução, quanto de técni-
anos; 30-34 anos; 35-39 anos; cas longitudinais.
40-44 anos; e 45-49 anos. Há,
contudo, variações que impe- Religião
dem a comparação dos cortes Questões simbólicas são
etários entre todos os estudos. pouco exploradas nos estudos
Alguns deles segmentam de 10 de perfil das mulheres que abor-
a 25 anos, outros de 20 a 35 tam. A religiosidade é um tema
anos. A faixa etária com maior superficialmente analisado nos
concentração de abortos é de estudos de base populacional
20 a 29 anos, com percentuais e nos estudos qualitativos com
variando de 51% a 82% do to- grupos reduzidos de mulhe-
tal de mulheres de cada estudo. res. Uma possível explicação
Houve um crescimento para essa lacuna é que a vasta
na quantidade de estudos sobre maioria dos estudos de base
aborto e adolescência nos anos populacional foram realizados
2000, um possível reflexo da com dados de prontuários ou
emergência das pesquisas sobre outras fontes documentais, e a
reprodução e sexualidade nesse informação sobre religião está
grupo etário. Os estudos com ausente dessas fontes.
adolescentes ampliam o recor- Os poucos estudos ana-
te etário inferior das pesquisas líticos com amostras selecio-

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Ministério da Saúde

nadas de mulheres indicam que todas as mulheres que decidem


entre 44,9% e 91,6% do total abortar vivem uma relação
das que têm experiência de considerada estável ou segura.
aborto induzido declaram-se Essa foi uma mudança nos ins-
católicas. Entre 4,5% e 19,2% trumentos de pesquisa verificá-
declaram-se espíritas, e entre vel a partir de meados dos anos
2,6% e 12,2% declaram-se pro- 1990, em particular nos estudos
testantes. comparativos de aborto entre
É possível sugerir algu- adolescentes e adultas.
mas tendências regionais, ha-
vendo uma maior concentra- Educação e Mundo do Trabalho
ção de mulheres católicas nos Educação e trabalho são
estudos da Região Nordeste e temas tangenciais aos estudos,
de mulheres espíritas nos da em particular aos que se ba-
Região Sul. Um estudo com seiam em dados documentais,
21 mulheres que induziram o como prontuários ou registros
aborto identificou que 9,8% de bases de dados nacionais.
delas não tinham religião. Poucos estudos de base po-
pulacional e realizados com
Conjugalidade técnicas mistas (documentos e
A pergunta de alguns ins- entrevistas) recuperaram esses
trumentos de pesquisa é sobre temas. Conduzidos com peque-
o estado civil, o que leva a uma nos grupos de mulheres, são os
prevalência de mulheres não-
estudos qualitativos que anali-
casadas nos resultados. Esse
sam o significado da educação
dado é revisado por estudos
e do trabalho para as trajetórias
que recuperam a situação con-
reprodutivas.
jugal das mulheres ao invés do
As pesquisas indicam que
estado civil, indicando que a
vasta maioria delas encontra-se a maioria das mulheres parti-
em relação conjugal estabeleci- cipa do mercado de trabalho,
da. uma mudança significativa caso
Os poucos estudos que se considere que os estudos do
corrigiram esse viés de pergun- final dos anos 1980 registram
ta indicam que mais de 70% de mais da metade das mulheres

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20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

com experiência de aborto in- Ainda assim, há concentração


duzido fora do mercado de nos registros: mais da metade
trabalho. Não há surpresas na das mulheres com experiên-
descrição do universo de traba- cia de aborto induzido tem até
lho das mulheres que realizam oito anos de estudo.
aborto: trabalhos femininos Os estudos sobre aborto
(emprego doméstico), comér- na adolescência seguem as ten-
cio, ofícios informais (cabelei- dências sociais de gravidez nes-
reira e manicure), além de es- se período da vida, mostrando
tudantes, com renda familiar de adolescentes fora da escola
até três salários mínimos. e do mundo do trabalho, em
O perfil educacional das situação de dependência eco-
mulheres variou no percurso de nômica de familiares e/ou do
20 anos: houve um acréscimo
companheiro. Apesar de essas
no número de anos na escola e
serem questões importantes
uma significativa diminuição da
para a análise da vulnerabili-
quantidade de mulheres anal-
dade feminina diante de uma
fabetas. Estudos com coortes
gestação, os estudos que apre-
populacionais da década de
sentam evidências ou análises
1980 e repetidos nos anos 1990
mostram uma redução de até de como elas atuam na decisão
50% no número de mulheres pelo aborto são ainda raros.
sem escolaridade com experi- Nos anos 2000, um estu-
ência de aborto induzido. do com ampla base populacio-
No entanto, esse é um nal analisou os fatores associa-
tema com pouca possibilidade dos ao aborto como desfecho
de síntese, pois a classificação da primeira gestação entre jo-
de escolaridade é bastante di- vens de 18 a 24 anos. A pesqui-
versificada. Algumas pes- sa mostrou que renda familiar
quisas agrupam mulheres anal- e escolaridade constituem tais
fabetas e mulheres que cursa- fatores: quanto maior a renda
ram o ensino fundamental, e a escolaridade, maiores as
outras segmentam os grupos chances de a primeira gravidez
por anos de estudo declarados. resultar em um aborto.

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Ministério da Saúde

Número de Filhos e Métodos ou não são utilizados adequa-


Contraceptivos damente. Quando os estudos
Uma diferença importan- segmentam segundo faixa etária
te entre os estudos com grupos e número de filhos, as adoles-
de adolescentes (10-19 anos) centes compõem o grupo que
e de mulheres jovens adultas menos induz o aborto.
(20-29 anos) é a declaração de A constatação de que as
uso de métodos contracepti- mulheres adultas que abortam
vos: as pesquisas indicam que faziam uso de algum método
as adolescentes fazem menor contraceptivo é um achado que
uso desses métodos quando se repete nos estudos a partir
comparadas com as mulheres de meados dos anos 1990. A
jovens adultas. referência à utilização de méto-
Mais da metade das mu-
dos contraceptivos é um dado
lheres jovens adultas que mo-
coerente com a trajetória re-
ram nas Regiões Sul e Sudeste
produtiva de uma mulher que
e que abortam declara uso de
induz o aborto: a gravidez não
métodos contraceptivos, em
particular a pílula anticoncep- foi planejada, por isso a refe-
cional, o que sugere sua utili- rência ao método contracepti-
zação irregular ou equivocada. vo (que teve seu uso inadequa-
No caso dos estudos da Região do ou que apresentou falha) e o
Nordeste, a ausência desses recurso ao aborto induzido.
métodos na ocasião da gravi-
dez é alta, entre 61,1% e 66% Métodos Abortivos
em estudos com amplas amos- O início dos anos 1990
tras de base populacional. marcou uma mudança signi-
Apenas entre 9,5% e ficativa no perfil dos méto-
29,2% de todas as mulheres que dos abortivos adotados pelas
abortam não tinham filhos, um mulheres nas grandes cidades.
dado que leva muitos estudos a Métodos encontrados nos es-
inferir que o aborto é um ins- tudos dos anos 1980, como ve-
trumento de planejamento re- nenos, líquidos cáusticos ou in-
produtivo importante para as jeções, passaram a ser inexpres-
mulheres com filhos quando os sivos nos relatos das mulheres.
métodos contraceptivos falham O misoprostol se tornou o mé-

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20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

todo preferencial para realizar tos abortivos, em particular de


o aborto em casa ou para ini- quem compram ou recebem o
ciá-lo em casa e terminá-lo no misoprostol ou os chás; não se
hospital. É sobre a redução da sabe quais os recursos aborti-
heterogeneidade dos métodos vos e as práticas adotados pe-
abortivos que os estudos mais las mulheres rurais e indígenas;
têm convergido nos últimos 20 não se sabe qual o impacto da
anos. raça na magnitude, na morbi-
Entre as mulheres que dade e na experiência do abor-
declaram ter induzido o abor- to induzido; não se sabe como
to, os estudos indicam que de as desigualdades regionais são
50,4% a 84,6% utilizaram o refletidas na morbidade do
misoprostol, havendo maior aborto induzido ilegalmente;
prevalência do uso dessa subs- não se sabe como indicadores
tância no Nordeste e Sudeste. de desigualdade social (classe
Considerando que os estudos social, geração, raça, deficiên-
de meados dos anos 1980 re-
cia) atuam na decisão de uma
gistram entre 10% e 15% de
mulher por induzir um aborto;
uso de medicamentos como
não se sabe como mulheres em
método abortivo e altas taxas
situação de violência sexual do-
de morbimortalidade por abor-
méstica decidem pelo aborto;
to induzido, a entrada do miso-
prostol no cenário das práticas não se sabe como a epidemia
abortivas provocou uma mu- do HIV/aids se relaciona com
dança: ele passou a ser o mé- a prática do aborto. Sabe-se
todo preferencial das mulhe- pouco sobre o universo simbó-
res, pois traz menores riscos à lico das mulheres que abortam,
saúde e implica menor tempo e sobre o processo de tomada
custo de internação hospitalar de decisão e sobre o impacto
pós-finalização do aborto. em sua trajetória reprodutiva
ou em seu bem-estar. Os estu-
Os estudos não mostram dos sobre assistência à saúde e
como se aborta nas clínicas pri- mulheres em situação de abor-
vadas, com leigas ou parteiras. tamento induzido são raros, e
Não se sabe como as mulhe- há poucas pesquisas sobre os
res têm acesso aos instrumen- serviços de aborto legal.

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Trajetória do Aborto

Cenários

Os estudos indicam os nas de espera pela menstruação


seguintes cenários para uma podem ser descritas pelas mu-
mulher que decide induzir o lheres como um atraso. Nessa
aborto: fase, os chás ou ervas são utili-
zados para “descer a regra” ou
Cenário Inicial “regularizar a menstruação” e
A ausência da menstru- não para “induzir aborto”. O
ação é testada por chás ou er- conhecimento sobre chás e er-
vas medicinais para avaliar se é vas pertence aos saberes femi-
atraso menstrual ou gravidez. ninos compartilhados, e cabe às
Há uma fronteira culturalmen- mulheres, em particular mães,
te negociável entre os saberes sogras e irmãs, sua preparação.
femininos e o discurso biomé-
dico para determinar o limite Cenário Intermediário
entre um atraso menstrual e Se os chás ou ervas não
uma gestação. regularizam a menstruação, sua
Os estudos qualitativos eficácia poderá ser novamente
indicam que até quatro sema- testada para provocar um abor-

21
Ministério da Saúde

to. Os estudos não descrevem o uso do misoprostol. Uma das


espectro de chás e ervas utiliza- raras pesquisas de base popula-
do em cada cenário ou mesmo cional ampla a recuperar a me-
suas doses e prescrições. Como mória das doses de misoprostol
grande parte das mulheres tem mostra que mais da metade das
experiência de gestações ante- mulheres utilizou entre 600mcg
riores, os sinais da gravidez são e 1600mcg, sendo que 22,7%
identificados. Ainda sob o uso delas o fizeram em combina-
de chás e ervas, os homens en- ção com outros métodos.
tram em cena para a aquisição Os estudos não conse-
do misoprostol. guem estimar quantas mulhe-
A aquisição ilegal do mi- res usaram o misoprostol e
soprostol é uma tarefa predo- abortaram em casa, pois quase
minantemente masculina, o que todos eles foram conduzidos
é facilitado pelo fato de grande com mulheres que chegaram
parte das mulheres abortar vi- aos hospitais em processo de
vendo um relacionamento con- abortamento. A magnitude da
jugal estabelecido. Há uma pre- ocorrência do aborto com mi-
ferência pelo uso oral do miso- soprostol é, portanto, estimada
prostol em detrimento do uso com base em entrevistas com
vaginal, um dado descrito por mulheres que chegam aos hos-
estudos qualitativos com pe- pitais com aborto incompleto
quenos grupos de mulheres. O ou com base nos prontuários
uso oral é entendido como uma de pacientes atendidas para fi-
extensão dos recursos para re- nalização de aborto.
gularizar a menstruação e não
como um método abortivo. É Cenário Final
o uso vaginal do misoprostol Em relação às mulheres
que demarca culturalmente a que finalizam o aborto nos
tentativa de aborto. hospitais, é nas primeiras 24
Doses, tempo de interva- horas pós-uso do misoprostol
lo, combinações medicamen- que elas procuram um hospital
tosas ou com outros recursos público. Entre 70% e 79,3%
abortivos são aspectos pouco delas apresentam como sinto-
explorados pelos estudos de mas dores abdominais e san-

22
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

gramento, sendo diagnostica- que utilizam misoprostol, chás


do o abortamento incompleto. ou ervas e abortam integral-
Entre 63% e 82% estão com mente em casa. Alguns estudos
até 12 semanas de gestação. O sustentam a ausência desses
tempo de internação é de 1 dia dados com base na ineficácia
entre 30% e 85,9% das mulhe- do misoprostol em abortar no
res incluídas nas pesquisas. De primeiro trimestre de gestação,
9,3% a 19% apresentam sinais
mas não há pesquisas clínicas
de infecção.
que avaliem o potencial abor-
tivo do misoprostol nesse pe-
Os estudos não mostram
quantas mulheres abortam em ríodo no Brasil. Não existem
cada um dos cenários acima estudos descritivos sobre as
descritos, tampouco os cenários trajetórias de aborto em mulhe-
daquelas que abortam em clíni- res residentes fora dos grandes
cas privadas. O percurso dessas centros urbanos. Suas práticas,
mulheres é desconhecido. Não crenças e métodos abortivos
há informações sobre mulheres são desconhecidos.

23
Adolescência

As Pesquisas
As pesquisas sobre abor- Os resultados indicam
to e adolescência são recentes: que, exceto por nuances de
quase 90% delas foram divul- segmento etário, como inser-
gadas nos anos 2000. São es- ção no mundo do trabalho e
tudos com amplas amostras de
anos de estudo, o perfil da ado-
base populacional realizados
em grandes centros urbanos e lescente que aborta é bastante
estudos qualitativos com técni- semelhante ao da jovem mu-
cas de entrevistas em domicílio lher que aborta. Há um grande
conduzidos por cientistas so- número de dissertações e teses
ciais especializados em repro- acadêmicas sobre esse tema,
dução e sexualidade. A emer- com maior diversidade na par-
gência desses estudos se deu a ticipação de campos disciplina-
partir da agenda de pesquisas de res ligados à assistência à saúde
gravidez na adolescência, não e às humanidades, em particu-
se constituindo ainda a relação
lar a antropologia. Os periódi-
entre adolescência e aborto em
um tema independente de in- cos de divulgação mais comuns
vestigações. são os de saúde pública.

25
Ministério da Saúde

Quem são elas ção da primeira gestação: um


estudo de inquérito domiciliar
Predominantemente, adoles- com entrevistas mostrou que a
centes entre 17 e 19 anos, em rela-primeira gravidez foi levada a
cionamento conjugal estabelecido, de-
termo por 72,2% das moças e
pendentes economicamente da família34,5% dos rapazes entre 18 e
ou do companheiro, as quais não 24 anos.
planejaram a gravidez e abortam
com misoprostol. Conjugalidade
A maior parte das gesta-
Magnitude ções e dos abortos aconteceu
O aborto na adolescência em relacionamentos conjugais
ocorre entre 7% e 9% do total estabelecidos. Apenas 2,5% das
de abortos realizados por mu- mulheres registram a gravidez
lheres em idade reprodutiva. A como resultado de um relacio-
maior parte dos casos ocorre no namento eventual. Em relação
segmento de 17 a 19 anos, ou à primeira gravidez, os estudos
seja, entre as adolescentes mais com amplas amostras de base
velhas. Estudos com adoles- populacional indicam que entre
centes puérperas indicam que 60% e 83,7% das adolescentes
entre 12,7% e 40% delas ten- não pretendiam engravidar.
tam o aborto antes de decidir
dar prosseguimento à gestação. Métodos Abortivos
Pesquisas qualitativas sugerem Assim como entre as
que 73% das jovens entre 18 mulheres jovens adultas (20-
e 24 anos cogitam a possibili- 29 anos), os métodos aborti-
dade do aborto antes de optar vos utilizados pelas adolescen-
por manter a gravidez. tes são o misoprostol e chás.
Estudos com homens e Praticamente não há registros
mulheres adolescentes mos- de métodos perfurantes ou de
tram que os rapazes têm mais acesso a clínicas privadas nos
experiência de aborto que as estudos com adolescentes nos
moças, em uma razão de 2,5 anos 2000. Mais de 50% das
homens para cada mulher. A adolescentes em todos os es-
razão é inversa para a finaliza- tudos declararam o uso do mi-

26
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

soprostol como método abor- todas expressaram julgamentos


tivo. negativos sobre a gravidez um
Foi encontrada uma ra- ano após a primeira entrevista.
zão de prevalência de 2,3 no Além disso, houve melhora de
uso de métodos contraceptivos auto-estima em todos os gru-
entre as adolescentes que abor- pos de adolescentes entre a pri-
tam e as que não abortam, o meira e a última entrevista no
que reforça a tese de que as mu- período de um ano, mais acen-
lheres que recorrem ao aborto tuadamente no grupo das que
são usuárias de métodos con- induziram o aborto.
traceptivos e estão decididas a Um estudo avaliou o im-
não manter uma gestação não pacto da gravidez na adoles-
planejada. cência sobre a trajetória repro-
dutiva e a inserção social das
Trajetória Reprodutiva mulheres. O principal resultado
Somente um estudo ava- mostrou que o fato de ter tido
liou o impacto do aborto e da um filho durante a adolescência
gravidez com nascimento de aumentava em 2,5 a chance de
filho vivo com base em indica- tentar interromper uma nova
dores de auto-estima e bem-es- gravidez entre os 20 e os 34
tar. As adolescentes foram en- anos. Além disso, comparativa-
trevistadas no hospital e, pos- mente às mulheres que não ex-
teriormente, nos domicílios. perimentaram uma gravidez na
Além das entrevistas, a equipe adolescência com nascimento
de pesquisa realizou análises de de filho vivo, as mulheres com
prontuários. essa experiência tinham menos
A pesquisa mostrou que anos de estudo.
25% das adolescentes haviam Poucas pesquisas avaliam
engravidado novamente um a adesão de adolescentes a pro-
ano após o aborto e que 70% gramas de planejamento fami-
das que levaram a gestação a liar. Um estudo acompanhou
termo haviam abandonado a durante cinco anos adolescen-
escola. Exceto pelas adoles- tes com experiência prévia de
centes que induziram o aborto, abortamento em programas de

27
Ministério da Saúde

planejamento familiar e orien- as razões que motivam uma


tação para uso de métodos an- adolescente a abortar; as nego-
ticonceptivos. Do total das par- ciações familiares, simbólicas e
ticipantes do programa, apenas afetivas para o aborto; como o
16,7% voltaram a engravidar, aborto definirá a adesão futu-
50% das quais planejaram a ra a métodos contraceptivos; o
gestação. papel dos laços familiares entre
mulheres para o seguimento da
Os estudos não mostram gestação ou para a decisão pelo
como as adolescentes abortam aborto entre adolescentes; a re-
em clínicas privadas ou com lei- lação entre epidemia de HIV/
gas; qual o impacto da decisão aids, adolescência e aborto. São
pelo aborto ou pelo seguimen- raros os estudos longitudinais
to de uma gestação na adoles- comparativos entre mesmas
cência sobre o bem-estar; parti- coortes de adolescentes que
cularidades de raça, classe, reli- interromperam a primeira ges-
gião e deficiência entre as ado- tação e de adolescentes que le-
lescentes que decidem abortar; varam a gravidez a termo.

28
Aborto, Complicações e Seqüelas

Complicações e Seqüelas do Aborto Induzido


O tema da mortalidade res de correção para a mortali-
materna esteve na pauta per- dade materna no Brasil, o que
manente de debates em saúde estimulou análises com técnicas
reprodutiva desde o início da mistas de pesquisa para a recu-
década de 1990. Os periódicos peração de casos subnotificados
de ginecologia e obstetrícia, as em várias capitais do país. Essas
dissertações e as teses acadê- pesquisas mostraram a perma-
micas ofereceram um mapa da nência de desigualdades regio-
magnitude da morte materna no nais na morte de mulheres por
Brasil. Nos anos 1990, o abor- aborto induzido. Em algumas
to induzido se manteve entre cidades, como Recife e Salvador,
a terceira e a quarta causas de o aborto ocupou o primeiro e o
mortalidade materna em várias segundo lugares no grupo das
capitais brasileiras. A estimativa causas isoladas de morte mater-
oficial da razão de morte ma- na em meados dos anos 1990.
terna é de 76/100.000. Os estudos de meados
Estudos dos anos 1990 dos anos 1990 e 2000 registra-
dedicaram-se a identificar fato- ram uma mudança epidemio-

29
Ministério da Saúde

lógica significativa no perfil séptico. Uma pesquisa analisou


da morte materna por aborto as razões para essa intervenção
induzido. Houve uma redução durante o ciclo grávido-puer-
do número de casos, e várias peral e registrou que 88% das
pesquisas passaram a analisar histerectomias até 24 semanas
a correlação entre a queda na de gestação deviam-se a aborto
morbimortalidade por aborto realizado em condições inse-
induzido e o uso do misopros- guras, em geral com métodos
tol em detrimento de métodos perfurantes.
perfurantes ou cáusticos e do Um dos consensos dos
recurso às leigas. estudos sobre morbimortalida-
Um estudo realizado em de materna por aborto é o de
início dos anos 1990 correla- que o misoprostol modificou o
cionou três fases da comercia-
cenário do aborto induzido no
lização do misoprostol às se-
país. O uso desse medicamen-
qüelas das mulheres internadas
to em casa e o acesso imediato
por aborto induzido em um
ao hospital para curetagem por
hospital público. As três fases
aborto incompleto garantiram
foram o início da comerciali-
zação do misoprostol nas far- que as mulheres recebessem
mácias, o auge da difusão do assistência rapidamente, redu-
medicamento como método zindo a gravidade das hemor-
abortivo e o período imedia- ragias ou infecções.
tamente posterior à proibição Mas a entrada do miso-
da venda. Houve um aumento prostol no cenário dos métodos
de quase 50% das complica- abortivos não eliminou todos
ções infecciosas e hemorrági- os riscos do aborto induzido
cas do aborto entre o período em condições inseguras. Nem
de máxima comercialização do todas as mulheres têm acesso
misoprostol e o posterior a sua ao misoprostol, e a descoberta
proibição. do caráter rentável do mercado
Estudos longitudinais en- ilegal fez crescerem relatos de
tre as décadas de 1970 e 1980 medicamentos adulterados. A
registravam índices alarmantes eficácia do misoprostol para
de histerectomias por aborto provocar o aborto depende da

30
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

dose e do tempo de gestação, Se, por um lado, o aces-


ao passo que os riscos associa- so ao misoprostol reduziu as
dos ao medicamento depen- seqüelas e complicações por
dem desses mesmos fatores e métodos abortivos arriscados
da qualidade imediata da assis- comuns nos anos 1980, por
tência hospitalar oferecida às outro, o contexto de ilegalidade
mulheres. do aborto lança novos desafios
Estudo recente com 20 à saúde pública. Um deles é o
mulheres em situação de mor- risco de aproximação das mu-
talidade near miss (quase-óbito), lheres e seus parceiros ao tráfi-
isto é, de complicações de co ou comércio ilegal de drogas
saúde potencialmente fatais, para adquirir o misoprostol; o
mostrou que o antecedente de outro é o de que, para muitas
mulheres, a eficácia do miso-
aborto esteve presente em 40%
prostol como método abortivo
dos casos. O estudo não isolou
depende do acesso imediato a
o método abortivo utilizado
hospitais para a finalização do
por essas mulheres em condi-
aborto.
ção muito grave, mas manteve
Um estudo qualitativo
acesa a vigilância dos riscos à com 11 mulheres processa-
saúde envolvidos no aborto in- das judicialmente por aborto
duzido. induzido nos anos 2000 mos-
Além disso, os riscos as- trou que 80% delas iniciaram o
sumiram novos significados. O aborto com misoprostol e que
misoprostol é um medicamen- quase a metade foi denunciada
to com circulação restrita no à polícia pelos médicos que as
país e proibido para fins abor- atenderam nos hospitais. Muito
tivos fora de indicações médi- embora a denúncia seja uma
cas controladas. O universo da violação de princípios éticos
comercialização e circulação fundamentais à saúde pública e
do misoprostol é desconheci- à profissão médica, as mulheres
do, mas dados iniciais mostram não têm a garantia do sigilo du-
que o itinerário dessa substân- rante a fase de hospitalização.
cia segue o do tráfico de drogas Quase todas as participantes
ilícitas e de anabolizantes. do estudo foram processadas

31
Ministério da Saúde

pela prática de aborto após vidos nos métodos abortivos.


denúncias sofridas durante a Não se conhecem os riscos do
hospitalização. aborto em clínicas privadas.
Sabe-se pouco sobre os riscos
Os estudos não mos- de seqüelas para o feto envol-
tram quais os riscos do abor-
vidos no uso do misoprostol
to induzido em condições para aborto induzido. Os es-
ilegais para a saúde mental
tudos de morbidade near miss
das mulheres. Não se sabe
indicam que o aborto induzido
a magnitude das seqüelas e
complicações do aborto in- se mantém como uma causa
seguro. Não há estudos sobre importante de morbidade ma-
o universo rural, nem sobre terna, o que necessita ser moni-
as práticas e os riscos envol- torado por novas pesquisas.

32
Misoprostol

Método Abortivo

É no início dos anos 1990 soprostol no universo das prá-


que os estudos identificam uma ticas abortivas é uma história
mudança nos métodos aborti- ainda a ser reconstruída.
vos entre as mulheres: clíni- O misoprostol entrou no
cas privadas, leigas, injeções e mercado brasileiro em 1986
instrumentos perfurantes são para tratamento de úlcera gás-
substituídos pelo misoprostol trica, e até 1991 sua venda era
(conhecido como © Cytotec). permitida nas farmácias. Esse
A entrada do misoprostol no foi um tempo suficiente para
mercado brasileiro é objeto de a divulgação do medicamen-
especulação nos estudos: há to como um método abortivo
quem considere que ele foi di- eficaz, mais barato que as clí-
fundido por farmácias popula- nicas privadas e com menores
res, há quem sugira que seu uso riscos à saúde da mulher. Um
cresceu com a indicação obsté- estudo de início dos anos 1990
trica para indução de parto. O mostrou que o preço médio do
fato é que a genealogia do mi- misoprostol era de US$6, ao

33
Ministério da Saúde

passo que um aborto em clí- 2000 apresentam tendência se-


nica privada custava US$144, melhante nas razões da escolha
e o uso de uma sonda por lei- do misoprostol para indução
ga, US$42. Não há estudos que de aborto.
descrevam os custos atuais de Enquanto o misoprostol
cada método. ainda não estava banido das
Os métodos abortivos farmácias, um estudo correla-
dos anos 1980 eram chás, er- cionou o volume anual de ven-
vas, sondas, objetos perfuran- das do medicamento no Brasil,
tes e líquidos cáusticos, além o número de internações por
do recurso às leigas e clínicas indução de aborto e a mortali-
privadas. Referências a medi- dade materna por aborto indu-
camentos eram raras nos estu- zido. Apesar de a venda do mi-
dos, sendo feitas por menos de soprostol ter triplicado durante
15% das mulheres em situação o período da pesquisa, os resul-
de aborto nos hospitais públi- tados sugerem que não houve
cos. Já em meados dos anos aumento no número absoluto
1990, um estudo com mulheres de atendimentos pós-aborto,
hospitalizadas por abortamen- mas sim uma queda na mor-
to descobriu que 76,1% delas bimortalidade a ele associada.
conheciam o misoprostol ou Segundo o estudo, esse pode
um medicamento para abortar ser um indício de que o miso-
de cujo nome “não se recorda- prostol permitiu tão-somente
vam”. uma mudança de métodos, isto
Em início dos anos 1990 é, não provocou uma epidemia
foi feita uma análise dos prin- de aborto no Brasil, mas o tor-
cipais estudos nacionais que nou mais seguro.
indicavam o uso do misopros- Mas foi paralelamente à
tol como método abortivo. identificação do novo método
Identificaram-se três razões abortivo que os primeiros es-
pelas quais as mulheres opta- tudos sobre o impacto do mi-
vam pelo aborto com miso- soprostol no desenvolvimento
prostol: privacidade, segurança do feto começaram a surgir.
e recusa ao aborto em clínicas No início da década de 1990,
privadas. Os estudos dos anos um grupo de pesquisadores

34
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

levantou a hipótese de que o soprostol concentraram-se no


misoprostol poderia ter efeitos Ceará até meados dos anos
teratogênicos no feto quando 1990. Um centro de pesqui-
não fosse suficiente para in- sas em prevenção e uso de
duzir o aborto. Durante quase medicamentos lançou a hipó-
uma década, foram apresen- tese do insulto gestacional: o
tadas pesquisas clínicas com crescimento da SM no Brasil
estudos de caso em diferentes se daria por causa do aumento
campos médicos para estabe- do uso do misoprostol como
lecer a correlação entre miso- método abortivo. Hoje, outra
prostol e más-formações no referência em pesquisas sobre
feto. teratogenia e misoprostol é o
Rio Grande do Sul.
Síndrome de Möbius No início do debate, não
A Síndrome de Möbius
havia evidências de como o
ou Seqüência de Moebius
misoprostol atuaria no desen-
(SM) foi apontada como a
principal seqüela para o feto volvimento fetal, e até hoje
da tentativa ineficaz de aborto estudos em ratos mostraram
por misoprostol. Rara má-for- que o potencial teratogênico
mação, a SM constituía objeto do medicamento é baixo ou
de poucos relatos na literatura nulo. Pesquisas recentes es-
internacional até a abertura do timam um risco absoluto de
debate por pesquisadores bra- dano teratogênico inferior a
sileiros. Mais do que qualquer 10%, mas não há ainda um
outro tema de aborto e saúde risco estabelecido e um pa-
pública, a SM ocupou o topo drão de anomalias associado.
da agenda de pesquisadores No entanto, há um razoável
brasileiros nos periódicos in-
consenso na literatura de que,
ternacionais. Esse fato acen-
quando não é suficiente para
deu o interesse pelo tema na
comunicação científica, haja induzir o aborto, o misopros-
vista a profusão de disserta- tol aumenta as chances de má-
ções e teses acadêmicas sobre formação.
a SM nos últimos cinco anos. Nos anos 2000, foram
Os estudos sobre os realizados estudos extensos de
efeitos teratogênicos do mi- metanálise sobre o misopros-
35
Ministério da Saúde

tol e eventos na gravidez, além o uso de vários métodos abor-


das primeiras pesquisas clíni- tivos simultaneamente. O efei-
cas prospectivas de mulheres to isolado do misoprostol não
com uso desse medicamento foi rigorosamente analisado.
durante a gestação. O principal Um dos raríssimos estudos clí-
estudo de metanálise no Brasil nicos brasileiros com duas co-
sobre o uso do misoprostol ortes homogêneas de mulheres
identificou chances 3,56 vezes em período gestacional, o qual
maiores de ocorrência de qual- comparou prospectivamente os
quer anomalia congênita, 25,31 efeitos do misoprostol no de-
vezes maiores de ocorrência de senvolvimento fetal, encontrou
SM e 11,86 vezes maiores de a presença de má-formação em
ocorrência de redução trans- 8,9% dos fetos das mulheres
versa de membros. que utilizaram o medicamento
Uma característica da (quatro fetos) e nenhum caso
vasta maioria dos estudos so- entre os fetos das mulheres
bre os efeitos do misoprostol que não o utilizaram. No en-
é a de terem sido conduzidos tanto, 53,3% das participantes
com mães de crianças já diag- do estudo que referiram o uso
nosticadas com SM. Os estu- do misoprostol o fizeram em
dos recuperam os dados pela combinação com outros mé-
memória reprodutiva das mu- todos abortivos. Infelizmente,
lheres e, o mais importante, em a pesquisa não informou se as
uma fase na qual elas já rece- mulheres que deram à luz fetos
beram o diagnóstico da causa com má-formação utilizaram
da má-formação. Há, portanto, misoprostol sozinho ou com-
um importante demarcador na binado a outros métodos.
amostra que necessita ser inves- O grau de eficácia abor-
tigado para o desenvolvimento tiva do misoprostol é resulta-
da tese dos efeitos teratogêni- do direto das doses e regimes
cos do misoprostol. de administração. Há estudos
Outra questão importan- internacionais de metanálise
te a ser lembrada nas pesquisas que registram eficácia de 90%
sobre misoprostol e má-forma- na indução completa de aborto
ção é que as mulheres relatam com misoprostol em doses es-

36
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

pecíficas. No entanto, como se pública: enfrentar seriamente a


conhece pouco sobre como se morbimortalidade associada ao
inicia a indução do aborto em aborto induzido e as seqüelas
casa, o misoprostol vem sendo causadas ao feto pelo uso do
considerado um medicamento misoprostol pode significar in-
para começar o aborto e fazer formar às mulheres quais doses
com que as mulheres busquem e regimes de uso do misopros-
assistência de saúde nas primei- tol são eficazes para o aborto
ras 24 horas de dor e sangra- em casa.
mento.
Na verdade, por se desco- Ética
nhecer a realidade das mulhe- Há, no entanto, uma ques-
res que não buscam os serviços tão ética delicada na difusão da
de saúde, a eficácia abortiva do tese da causalidade entre tenta-
misoprostol ou do misoprostol tiva de aborto por misoprostol
combinado a outros métodos é e diagnóstico de má-formação
estabelecida pela casuística que
no feto, em particular a SM. Há
alcança os hospitais públicos
quase uma década, as mulheres
e/ou universitários. Os estudos
recebem a explicação científica
descrevem as mulheres que
de que a má-formação de seus
iniciam o aborto em casa com
bebês é resultado da tentativa
misoprostol (em geral, com do-
ses e intervalos desconhecidos ilegal de aborto por misopros-
ou muito variados) e terminam tol.
em hospitais. Mas não se sabe Hipótese científica não
se há mulheres que começam e se confunde com diagnóstico
finalizam o aborto em casa uti- médico consolidado. Foram as
lizando esse método. pesquisas sobre aborto ilegal
e teratogenia que lançaram o
Esse descompasso entre
diagnóstico da SM no cenário
a realidade das mulheres que in- da assistência à saúde, em um
duzem aborto em casa com mi- momento no qual esse diag-
soprostol e os dados de pesqui- nóstico ainda não estava con-
sa com evidências de mulheres solidado pela ciência médica.
que chegam aos hospitais para Ou seja, foi ainda como uma
a finalização do aborto resulta hipótese científica baseada em
em um novo desafio de saúde poucos casos clínicos que a tese
37
Ministério da Saúde

da teratogenia do misoprostol para a assistência à saúde das


ascendeu ao patamar de diag- mulheres em situação de abor-
nóstico médico no Brasil. tamento.
Não é um ato ingênuo
de pesquisa ou de assistência Os estudos não mostram
informar às mulheres que foi como as mulheres abortam com
uma tentativa mal-sucedida misoprostol em casa; como elas
de aborto o que provocou a têm acesso ao medicamento;
má-formação no seu filho. O e em quais doses e com quais
aborto é um tema com forte intervalos o utilizam. Não há
conotação moral na socieda- estudos por região sobre o uso
de brasileira, e não há estudos do misoprostol e a morbidade
que analisem o impacto da associada ao aborto induzido.
enunciação do diagnóstico de Não se conhece a eficácia abor-
SM como resultado do uso de tiva do misoprostol combinada
misoprostol sobre as relações com outros métodos abortivos
de cuidado e maternagem das tradicionais, em especial chás e
crianças. Além disso, muitas ervas. Não há estudos sobre a
dessas mulheres são informa- qualidade da assistência ofere-
das das causas da má-forma- cida às mulheres em situação
ção em seus filhos como fases de abortamento. São raros os
de um protocolo de pesquisa e estudos prospectivos para ava-
não como atos de assistência liar o desenvolvimento do feto
à saúde. de mulheres que utilizaram o
Paralela à investigação misoprostol sozinho ou com-
dos efeitos teratogênicos do binado com outros métodos
misoprostol, pode haver uma e não abortaram. Não há pes-
tentativa de imputação de res- quisas sobre o impacto ético
ponsabilidade pela má-forma- nas mulheres do diagnóstico
ção da criança, um movimen- de má-formação fetal pelo uso
to que deve ser considerado indevido do misoprostol como
arriscado para as pesquisas e método abortivo.

38
Ética, Pesquisa e Aborto

Desafios Éticos

Estudar uma prática ile- com garantia de sigilo no ato


gal é um desafio para qualquer profissional, ou seja, médicos e
equipe de pesquisa. Não há enfermeiras. Foram estudos re-
garantias legais de segredo ou alizados em serviços de saúde
sigilo dos dados coletados nas e/ou hospitais universitários,
pesquisas acadêmicas no Brasil. o que facilitou a sobreposição
Em um estudo sobre crimes, a entre a figura do pesquisador e
promessa de confidencialidade a do responsável pela assistên-
dos dados é um voto de con- cia à saúde.
fiança dado ao pesquisador pe- Essa sobreposição de pa-
los participantes em nome do péis foi o que permitiu a rea-
conhecimento científico. lização das primeiras pesquisas
Esse é o cenário que mar- com grupos de mulheres que
cou os 20 anos de pesquisa so- buscavam hospitais públicos
bre aborto no Brasil. Não é por para a finalização do aborto.
acaso que os estudos com evi- Os profissionais que assistiam
dência foram majoritariamente as mulheres eram também os
conduzidos por pesquisadores que analisavam suas trajetórias

39
Ministério da Saúde

reprodutivas. A proteção à ados dos anos 1990. As pes-


pesquisa se apoiava no respei- quisas etnográficas mostraram
to ao sigilo e à confidenciali- que as mulheres negociavam
dade, dois valores centrais aos os saberes biomédicos sobre
serviços de atenção à saúde. como definir “descer a regra”
Essa se manteve como a prin- e “abortar”. Desde então, vá-
cipal característica dos estudos rios estudos epidemiológicos
sobre aborto nos anos 1990 incorporaram essas sutilezas
no Brasil. culturais nos instrumentos de
Com a aproximação dos coleta de dados, com mudan-
saberes sociais ao tema do ças importantes na qualidade
aborto, novos desafios foram dos resultados.
lançados ao campo. Iniciaram- Em um desses estudos,
se as primeiras pesquisas de cujo objetivo era verificar a fre-
base populacional por inqué- qüência e as condições em que
rito domiciliar, de teste de se induzia o aborto, foram en-
novas metodologias para es- trevistadas em domicílio 1.995
timar a magnitude do aborto, mulheres. Em resposta à per-
de entrevistas com mulheres gunta direta sobre se a mulher
fora dos hospitais e mesmo de já havia realizado um aborto,
entrevistas em profundidade 4% delas declararam “sim”. À
com mulheres à beira do leito. pergunta sobre se alguma vez
Além da demografia, antropo- havia tomado chá ou remédio
logia e sociologia, a enferma- para menstruar, 16,7% res-
gem é um campo que se des- ponderam afirmativamente.
tacou na incorporação dessas Isso não significa que todas
novas técnicas de pesquisa nos as mulheres que usaram chás
anos 2000. ou remédios para menstruar
Um exemplo do impac- tenham efetivamente realiza-
to que as metodologias qua- do aborto, mas é possível que
litativas provocaram no cam- uma parcela delas assim tenha
po das investigações sobre feito, apesar de não descrever
aborto foram os primeiros a experiência como aborto.
estudos sobre práticas e mé- Mas foi com a imple-
todos abortivos conduzidos mentação do sistema nacional
por cientistas sociais em me- de revisão da ética em pesquisa

40
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

– Sistema Comitês de Ética em te definida não apenas pelas ur-


Pesquisa/Comissão Nacional gências da assistência – por isso
de Ética em Pesquisa (CEP/ a morbimortalidade materna
Conep) – que a reflexão so- relacionada ao aborto induzido
bre ética, pesquisa e aborto as- esteve em pauta durante duas
cendeu ao patamar de questão décadas –, mas também pelos
prioritária à agenda científica, cenários possíveis de coleta dos
em meados dos anos 1990. dados. Sair dos hospitais e se
Os estudos dos anos 2000 fo- aproximar do espaço domésti-
ram majoritariamente avaliados co, dos saberes femininos e tra-
pelo Sistema CEP/Conep, e dicionais, da participação dos
os autores reservaram espaços homens na decisão pelo aborto
significativos da argumentação são alguns dos novos itinerá-
para descrever os cuidados e rios da pesquisa sobre aborto e
desafios éticos da coleta de da- saúde pública no Brasil.
dos. Além disso, por ser o
A importância de descor- aborto um tema na fronteira
tinar o cenário de restrições le- entre a lei e o tabu, os instru-
gais e as estratégias éticas para mentos de pesquisa determi-
conduzir estudos sobre aborto nam a qualidade dos dados. Um
é que os resultados de pesqui- esforço importante foi dispen-
sa refletem o que foi possível sado nos anos 1990, quando se
conhecer no Brasil nos últimos testou a eficácia de diferentes
20 anos. As metodologias ado- técnicas para a recuperação de
tadas partem do cenário legal dados confiáveis: técnicas de
restritivo a que estão submeti- urna; técnicas de resposta ale-
dos os pesquisadores. Por isso, atórias; inquéritos domiciliares
grande parte dos estudos foi com mulheres que sabidamen-
realizada em hospitais univer- te abortaram segundo relatos
sitários e públicos localizados de prontuários; entrevistas se-
em centros urbanos e procu- qüenciais como forma de esta-
rou prioritariamente responder belecer vínculos de confiança;
a questões relacionadas à assis- e outras estratégias que bus-
tência à saúde. cavam expandir os limites im-
A agenda de pesquisa so- postos pela criminalização do
bre aborto foi majoritariamen- aborto.

41
Ministério da Saúde

O aborto induzido é um induzido, ao passo que, pelo


tema sobre o qual as mulhe- método de urna, 7,2% delas o
res tendem a omitir a verdade. relataram.
Alguns estudos dedicaram-se Isso mostra que há a
a testar a eficácia de diferen- preocupação compartilhada
tes metodologias aplicadas si- pelos principais pesquisado-
multaneamente a dois grupos res brasileiros sobre aborto
homogêneos de mulheres. em proteger a integridade das
Em uma dessas pesquisas, foi mulheres envolvidas nas pes-
testado o método de urna e quisas, bem como em apri-
o de questões indiretas para morar as técnicas de recupe-
estimar a freqüência do abor- ração de informação em um
to induzido. Pelo método das contexto em que a fronteira
perguntas indiretas, 3,8% das entre a verdade e a omissão é
mulheres relataram aborto continuamente ultrapassada.

42
Mapa da Pesquisa

Quem pesquisa

Majoritariamente mulheres fontes recuperadas, os livros,


pesquisadoras, sediadas em univer- com 18%, e as teses acadêmi-
sidades públicas e organizações não- cas, com 14%.
governamentais da Região Sudeste, O tema do aborto se
com formação em ciências da saúde. manteve ativo na comunicação
científica durante os 20 anos
Os Estudos em que se produziram as fon-
O campo de estudos tes recuperadas, mas houve um
sobre aborto é dominado por crescimento de 50% no núme-
mulheres pesquisadoras, sedia- ro de publicações em 2004 e
das em universidades públicas 2005, retornando-se ao cenário
e organizações não-governa- do início da década em 2006.
mentais da Região Sudeste, Uma análise do que foi publi-
com formação em ciências da cado nesses dois anos mostra
saúde. Os meios de comuni- um aumento na quantidade de
cação científica prioritários do estudos no campo jurídico, em
campo são os periódicos cien- particular sobre o aborto por
tíficos, com 47% do total de anomalia fetal.

43
Ministério da Saúde

Uma característica do mulheres que realizam aborto


campo é a hegemonia de estu- no Brasil. Grande parte deles
dos sem evidência empíricas. adotou pelo menos uma das se-
Para cada estudo com evidên- guintes técnicas de levantamen-
cia, há pelo menos cinco sem to de dados: informações sobre
evidência, ou seja, parte consi-
hospitalizações em bases do
derável das fontes é de análises
Ministério da Saúde; busca ativa
de argumentos e/ou teses teó-
de mulheres internadas em pro-
ricas, sem apresentações de da-
dos empíricos. A grande maio-cesso de abortamento para pro-
ria dos estudos com evidênciacedimentos médicos; análise de
prontuários e outros documen-
é da área da saúde pública, ao
passo que os estudos sem evi-tos hospitalares; e entrevistas à
beira do leito ou em domicílio.
dência se concentram nas áreas
do direito, da teologia e da fi- Os estudos reconhecem o
losofia. desafio ético envolvido nas pes-
Nos estudos sem evi- quisas sobre aborto, pois é entre
dência empírica, os homens a promessa de sigilo e o risco de
pesquisadores são tão ativos uma denúncia que os dados são
quanto as mulheres, respon- coletados. Essa tênue fronteira
dendo por quase a metade das é uma possível explicação para
publicações, com expressiva a prevalência das pesquisas em
participação das ciências hu-
campos disciplinares com ga-
manas (41% do total dos estu-
dos sem evidência). O cenáriorantia de sigilo profissional (me-
dicina e enfermagem) e para a
se modifica quando se analisam
apenas os estudos com evidên-concentração de 30% do total
cias empíricas: há 66% de au-dos estudos com evidência em
toras mulheres, sendo que 75%um universo de 15 pesquisado-
res pertencentes a universidades
delas são oriundas das ciências
da saúde, e 14%, das ciênciaspúblicas ou vinculados a servi-
humanas. ços de assistência em hospitais
universitários.
Estudos com Evidência A vasta maioria dos es-
Nos anos 1990, houve tudos empíricos foi realizada
uma concentração dos estudos na Região Sudeste (75%), ha-
empíricos sobre o perfil das vendo uma concentração no

44
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

estado de São Paulo (58% do Em geral, as pesquisas se


total). Os pesquisadores res- baseiam em observações cole-
ponsáveis por esses estudos es- tadas em um período igual ou
tão sediados em universidades superior a 12 meses. Os dados
públicas (88% do total). Dado têm origem em levantamentos
semelhante é encontrado na documentais; amostras aleató-
plataforma de grupos de pes- rias e não-aleatórias de mulhe-
quisa do Conselho Nacional de res; enquetes de caráter censitá-
Desenvolvimento Científico e rio; e compilações feitas a par-
Tecnológico (CNPq), que não tir do Sistema de Informações
indica nenhum grupo com a Hospitalares do Sistema Único
palavra-chave “aborto” em de Saúde. As técnicas de pes-
universidades confessionais no quisa documental e entrevista
são as mais utilizadas, tendo
país. As organizações não-go-
sido adotadas em mais de 70%
vernamentais são responsáveis
dos estudos com evidência.
por 9% do total de pesquisas
A maioria das publica-
com evidência durante o perí-
ções são versões abreviadas
odo analisado.
de pesquisas acadêmicas para
Os estudos de base po- titulação, em especial disser-
pulacional foram majoritaria- tações de mestrado e teses de
mente conduzidos em hospi- doutorado em saúde pública,
tais públicos e universitários que correspondem a 24% do
localizados em capitais, ha- total de estudos com evidên-
vendo uma concentração nos cia. Os estudos em hospitais e/
estados da Bahia, do Ceará, de ou clínicas privadas não alcan-
Pernambuco, do Rio de Janeiro, çam 2% do total de pesquisas
do Rio Grande do Sul e de São com evidência. Em geral, eles
Paulo. Do ponto de vista da referem-se aos temas do abor-
distribuição regional, não há to espontâneo ou recorrente e
pesquisas com evidências so- das novas tecnologias reprodu-
bre a Região Norte; além disso, tivas. Não há estudos sobre o
apenas 14% dos estudos foram aborto induzido e o universo
realizados sobre o Nordeste, e da assistência privada à saúde
4%, sobre o Centro-Oeste. no Brasil.

45
Metodologia de Busca

Projeto

Equipe Período de Execução


O plano de levantamen- O projeto de pesquisa foi
to bibliográfico foi organizado executado entre setembro e de-
por uma equipe de cientistas da zembro de 2007. A data-limite
informação e de especialistas de recebimento das fontes para
no tema do aborto. A equipe de análise foi 1º de dezembro de
pesquisa foi composta de duas 2007.
coordenadoras, três superviso-
ras, três bibliotecárias, três ana-
listas de dados, três assistentes Planejamento
de análise de dados, um estatís-
O objetivo do levanta-
tico, uma revisora, um suporte
mento bibliográfico foi mapear
administrativo e um suporte de a literatura especializada pro-
informática. Em diferentes fa- duzida em língua portuguesa e
ses da pesquisa, contou-se com publicada no período de 1987
o suporte de consultores espe- a 2007. Para tanto, foram le-
cializados no tema do aborto. vantados de forma exaustiva os
47
Ministério da Saúde

estudos produzidos e publica- de Nível Superior (Capes). Para


dos por editoras e autores bra- a busca, um vocabulário sobre
sileiros e também por autores aborto foi desenvolvido com
ou editoras estrangeiros, desde base na consulta às seguin-
que traduzidos para a língua tes fontes: manuais de saúde;
portuguesa e publicados nesse obras de referência em saúde,
período. tais como dicionários e enci-
A delimitação lingüística clopédias; e entidades de saúde
justifica-se por três razões. A reprodutiva, como o Ministério
primeira é que a dispersão dos da Saúde, a Organização
dados não permitiria a busca Mundial da Saúde, a Biblioteca
sistemática em vários idiomas, Virtual em Saúde (BVS) e o
por isso se priorizou o debate Centro Latino-Americano e
produzido no Brasil em língua do Caribe de Informação em
portuguesa. A segunda razão Ciências da Saúde (Bireme).
é que a análise nos currículos O vocabulário foi submetido a
Lattes dos 30 autores mais pro- um grupo de especialistas para
dutivos sobre aborto no país revisão e crítica.
mostrou que todos publicaram O vocabulário incluiu os
seus resultados de pesquisa seguintes termos:
preferencialmente em periódi- 1. Abdome agudo; 2.
cos de comunicação científica Abortamento; 3. Abortivo; 4.
nacionais. Por fim, a terceira Aborto completo: expulsão
razão é que a sistematização do de todo o conteúdo uterino;
debate nacional é um mecanis- 5. Aborto espontâneo: per-
mo eficaz de fortalecimento da da do feto ocorrida natural-
comunidade científica em saú- mente; 6. Aborto eugênico
de pública no Brasil. ou Interrupção Eugênica da
Foram recuperados do- Gestação (IEG): interrupção
cumentos de todas as áreas da gestação por valores racistas,
do conhecimento, de acordo sexistas ou étnicos; 7. Aborto
com o sistema classificató- habitual: três ou mais abortos
rio de áreas e campos disci- espontâneos; 8. Aborto incom-
plinares da Coordenação de pleto: expulsão de apenas parte
Aperfeiçoamento de Pessoal do conteúdo uterino ou rom-

48
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

pimento das membranas; 9. aborto ocorridos em nome da


Aborto induzido: interrupção autonomia reprodutiva da ges-
médica da gravidez; 10. Aborto tante ou do casal; 20. Ameaça
inevitável: dor ou sangramen- de aborto: sangramento ou
to com dilatação do colo do cólicas nas primeiras 20 se-
útero, que indicam a perda manas de gestação, indicando
do feto; 11. Aborto legal: no que o feto está em perigo; 21.
Brasil, em caso de estupro ou Antecipação terapêutica do
risco de morte para a mãe (ou parto (ou apenas antecipação
aborto – aspectos jurídicos); do parto): no caso de embrião/
12. Aborto oculto: retenção do feto anencéfalo ou em outros
feto morto no útero por quatro casos de más-formações; 22.
semanas ou mais; 13. Aborto Aspectos psicológicos e abor-
precoce: perda do feto antes to; 23. Aspectos morais e abor-
da 12ª semana de gestação; 14. to; 24. Aspectos religiosos e
Aborto provocado; 15. Aborto aborto; 25. Bioética ou aspec-
seletivo ou Interrupção Seletiva tos éticos; 26. Complicações
da Gestação (ISG): casos de na gravidez; 27. Contracepção
aborto ocorridos em nome de ou gravidez na adolescência;
anomalias fetais, como anence- 28. Crime contra a vida; 29.
falia (ver: Aborto terapêutico Curetagem; 30. Descarte de em-
ou Interrupção Terapêutica da brião ou fertilização in vitro ou
Gestação – ITG); 16. Aborto inseminação artificial humana;
séptico: infecção do conteúdo 31. Direito à vida; 32. Direito
uterino antes, durante ou após o de escolha das mulheres; 33.
aborto; 17. Aborto tardio: per- Direito do feto; 34. Direitos se-
da do feto entre a 12ª e a 20ª se- xuais ou direitos reprodutivos;
manas de gestação; 18. Aborto 35. Estupro ou violência sexual
terapêutico ou Interrupção contra a mulher (adulta, jovem e
Terapêutica da Gestação (ITG): criança); 36. Eugenia; 37. Feto;
remoção do feto para salvar a 38. Gravidez indesejada; 39.
vida da gestante ou preservar Infanticídio; 40. Interrupção
sua saúde; 19. Aborto voluntá- da gestação ou gravidez ou
rio ou Interrupção Voluntária descer a menstruação; 41.
da Gestação (IVG): casos de Misoprostol, citotec ou cytotec
49
Ministério da Saúde

ou prostokos; 42. Morbidade guns ministérios; as editoras e


materna; 43. Mortalidade ma- livrarias e os bancos de teses e
terna; 44. Morbimortalidade dissertações das universidades
materna; 45. Nascituro; 46. federais, estaduais e das prin-
Near miss; 47. Parto ou ges- cipais universidades privadas,
tação ou parteira ou prática incluindo as confessionais; as
obstétrica; 48. Planejamento bases da Capes e do Instituto
familiar; 49. Política de saúde Brasileiro de Informação em
ou Sistema Único de Saúde Ciência e Tecnologia (Ibict);
(SUS); 50. Profissional de saú- os sítios de ministérios e de
de; 51. Reprodução assistida; secretarias estaduais e munici-
52. Reprodução humana; 53. pais; e a plataforma do currí-
RU-484; 54. Saúde da mu- culo Lattes (CV-Lattes).
lher; 55. Saúde pública; 56. Na fase de levantamen-
Saúde sexual e reprodutiva; to e recuperação dos docu-
57. Sexualidade; 58. Síndrome mentos, a equipe não emitiu
de Moëbius ou Möbius ou qualquer julgamento de valor
Seqüência de Moebius ou que acarretasse omissão ou ex-
Möbius; 59. Teratógenos. clusão de referência bibliográ-
As buscas foram reali- fica ou fonte de informação.
zadas em 88 bases de dados Foram recuperadas todas as
bibliográficos de acesso pú- fontes acessíveis pelos siste-
blico, entre elas: a Biblioteca mas de busca adotados. A pre-
Nacional; as bibliotecas das missa ética da equipe de pes-
universidades federais e esta- quisa é que cabe às comunida-
duais; as bibliotecas das prin- des científicas o julgamento da
cipais universidades privadas, qualidade das fontes.
incluindo as confessionais; a
Rede Virtual de Bibliotecas
(RVBI), que reúne bibliotecas
Resultados
de 15 órgãos públicos fede- Foram levantadas 2.109
rais, incluindo a Câmara dos fontes de informação e referên-
Deputados, o Senado Federal, cias bibliográficas dos seguintes
os tribunais superiores e al- tipos: informação científica das
50
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

diversas áreas, especialidades e segundo os catálogos de autor e


subespecialidades do conheci- editores da Biblioteca Nacional
mento; informação social, po- e do currículo Lattes do CNPq,
lítica e religiosa veiculada pela bem como segundo o Catálogo
sociedade civil, organizada em Coletivo Nacional (CCN) do
entidades ou organizações não- Ibict, todos de acesso público
governamentais; e informação na Internet.
oficial.
Entre as fontes de in- Seleção e Acesso aos Documentos
formação e referências biblio- As fontes foram organi-
gráficas, foram localizados os zadas com base em uma dupla
seguintes tipos de documento: categorização: “estudos com
livros e capítulos de livros; pe- evidência” e “estudos sem evi-
riódicos e artigos de periódicos; dência”. Entendeu-se como
resumos e trabalhos apresenta- “estudo com evidência” toda
fonte que em seu resumo e/
dos em eventos científicos; te-
ou título indicasse que houve
ses, dissertações e monografias pesquisa com dados empíri-
de especializações produzidas cos, fossem eles primários ou
nas instituições de ensino su- secundários. Não houve qual-
perior em todo o país; e notas quer restrição ao tipo de fonte
técnicas de órgãos públicos. empírica. Foi cadastrada como
“estudo sem evidência” toda
Organização, Normalização e fonte cujo resumo e/ou título
Padronização indicasse que se tratava de um
As fontes de informa- documento argumentativo sem
ção e referências bibliográfi- pesquisa empírica.
cas foram digitadas em uma As publicações que não
base de dados bibliográficos, a possuíam resumo foram sub-
EndNote. Elas foram normali- metidas a uma segunda rodada
zadas segundo a NBR 6023 de de busca de informações por
2002 da Associação Brasileira meio do seguinte procedimen-
de Normas Técnicas (ABNT). to: comunicação eletrônica ao
Os campos de autor, editora, autor principal, cujo endereço
local de publicação e título de eletrônico estivesse disponível
periódicos foram padronizados no currículo Lattes, do CNPq,

51
Ministério da Saúde

solicitando o resumo ou o tex- disponíveis em texto integral na


to integral da publicação. Internet; b) aquisição dos livros
A seleção inicial identifi- por meio de doação, emprésti-
cou 540 fontes como possíveis mo ou compra; c) aquisição de
estudos com evidência. Os do- cópias dos artigos de periódi-
cumentos foram selecionados cos após consulta ao CCN do
pelo título e pelas palavras-cha- Ibict e solicitação nas bibliote-
ve atribuídas pelos autores ou cas locais, bibliotecas remotas
pelas bases de dados bibliográ- e via Comutação Bibliográfica
ficos consultadas. Desse con- (Comut); e d) solicitação de có-
junto, 342 fontes não estavam pias de teses e dissertações aos
disponíveis para acesso integral próprios autores ou, em último
em nenhuma das bases indica- caso, via Comut.
das na metodologia. Foram en-
viadas 264 mensagens eletrôni- Coleta e Sistematização dos Dados
cas, e 62 autores enviaram os Para a avaliação dos es-
documentos solicitados. tudos com evidência e dos
O resultado foi a recu- estudos sem evidência, foram
peração de quase 80% do total criados dois questionários. Em
de estudos com evidência. O relação às publicações dos es-
conjunto de estudos com evi- tudos sem evidência, o ques-
dência foi de 398 documentos, tionário previa a coleta dos
18% do total de fontes recupe- seguintes dados nas referências
radas para a bibliografia, o que bibliográficas:
compôs o grupo de referên- a) tipo do documento –
cias que fundamentou a síntese periódico, evento científico no
apresentada no relatório nar- todo ou em parte, documento
rativo. Somente foram incluí- eletrônico, livro, capítulo de li-
das na categoria “estudos com vro, tese, dissertação ou mono-
evidência” as fontes analisadas grafia de especialização; b) tipo
integralmente. de autoria – simples ou múlti-
Para o acesso aos docu- pla; c) se a publicação foi pes-
mentos selecionados, foram soal ou de entidade; d) gênero
utilizados os seguintes procedi- do autor principal; e) título do
mentos: a) impressão daqueles periódico, para o caso de arti-

52
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

gos; f) ano da publicação; e g) ou estrangeira, hospital públi-


campo disciplinar do documen- co, privado, universitário ou
to, tendo sido adotadas as áreas clínica privada, órgão público,
ciências da saúde e biológicas, empresa privada, organização
ciências humanas e sociais, ci- não-governamental, organis-
ências exatas, não-identificada mo internacional ou outra; h)
ou outras. área de vinculação profissional
Em relação às publica- do autor – ciências da saúde e
ções dos estudos com evidên- biológicas, ciências humanas
cia, o questionário foi mais e sociais, ciências exatas ou
extenso e previa a coleta dos outra; i) unidade da federação
seguintes dados nas referências e região do autor; j) título do
bibliográficas, no resumo e em periódico, para o caso de ar-
consulta à publicação: tigos; k) ano da publicação;
a) tipo do documento – l) entidade que financiou ou
periódico, evento científico no apoiou o estudo, a qual pode
todo ou em parte, documento ser órgão federal Coordenação
eletrônico, livro, capítulo de li- de Aperfeiçoamento de
vro, tese, dissertação ou mono- Pessoal de Nível Superior
grafia de especialização; b) tipo (Capes), Conselho Nacional de
de autoria – simples ou múlti- Desenvolvimento Científico
pla; c) se a publicação foi pesso- e Tecnológico (CNPq), mi-
al ou de entidade; d) gênero do nistérios e universidades fede-
autor principal; e) formação do rais), órgão estadual (Fundos
autor – graduação, especializa- de Apoio à Pesquisa (FAPs),
ção, mestrado, doutorado, sem- secretarias de estado e univer-
pre se optando pela maior titu- sidades estaduais), órgão muni-
cipal (secretarias municipais e
lação; f) função desempenhada
universidades municipais), or-
pelo autor, se pesquisador ou ganização não-governamental,
profissional de qualquer área, organismos internacionais, tais
dando-se sempre preferência como Fundação Ford, ONU e
à primeira função apresentada; OMS, financiamento privado
g) vinculação institucional – ou outras; m) campo discipli-
instituição de ensino superior nar do documento – ciências
pública, privada, confessional da saúde e biológicas, ciências

53
Ministério da Saúde

humanas e sociais, ciências exa- Statistical Analysis System (SAS).


tas ou outras; n) local em que o A análise e a síntese das fontes
estudo foi realizado – institui- foram realizadas por três pes-
ção de ensino superior pública, quisadores.
privada ou confessional, rede
pública de saúde, rede privada Limitações da
de saúde, hospital universitário, Metodologia
órgão público, empresa privada,
organização não-governamen- Ao longo das atividades
tal, redes sociais, comunidades de busca, a equipe de pesqui-
rurais, comunidades urbanas, sa se deparou com algumas
grupos de apoio ou outros; o) limitações que demandaram
unidade da federação do estu- soluções alternativas ao plane-
do; p) metodologia do estudo; jamento inicial, a fim de não
e q) técnicas do estudo, que po- comprometer os resultados do
dem variar entre survey, entre- levantamento.
vistas, etnografia, estimativas, A dispersão da comuni-
pesquisa documental, estudo
cação científica brasileira em
de procedimentos técnicos e
razão da carência de bases de
outras.
dados ou sistemas de informa-
Cada questão permitia a
ção especializados nos diversos
escolha de apenas uma opção
campos e áreas do conheci-
e possuía ainda a opção “não-
mento. O exemplo mais crítico
identificada” ou outras.
dessa dispersão são as bases de
Dois pesquisadores par-
monografias de especialização,
ticiparam da fase de avaliação
teses e dissertações acadêmi-
das fontes, sendo um respon-
cas, literatura de alto valor para
sável pela avaliação e o outro
o projeto de pesquisa;
pela checagem. Em caso de
As bases de dados brasilei-
discordância, um terceiro pes-
ras utilizam diferentes sistemas
quisador participava da avalia-
de normalização e catalogação
ção. Os questionários foram
bibliográficas. Além disso, não
preenchidos e digitados no
há padronização para as prin-
programa Access, do Windows.
cipais entradas da publicação,
Posteriormente, foram expor-
tais como autor ou editora. O
tados para o programa Excel.
problema é ainda mais delica-
Os dados foram analisados no
54
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

do nas bases cujas publicações São ainda escassas as ba-


são registradas pelos próprios ses de dados que dão tratamen-
autores. Em alguns momentos, to técnico específico e indexam
esse cenário resultou em casos os capítulos dos livros e artigos
como o de uma única tese ser de periódicos científicos brasi-
recuperada com quatro títulos leiros. Outro tipo de literatura
diferentes, a depender da base com dificuldades de recupera-
em que havia sido registrada; ção são os resumos ou traba-
A construção de uma lhos apresentados em eventos
bibliografia dessa abrangência científicos, a exemplo de con-
e extensão depende da coo- gressos e conferências;
peração dos próprios autores. Por fim, o acesso aos do-
Apesar da receptividade em cumentos costuma ser dificul-
disponibilizar os dados e os tado pelas lacunas dos acervos
textos integrais das publica- das bibliotecas, sobretudo as
ções, alguns pesquisadores fa- universitárias, e pelo alto custo
ziam demandas com relação à do acesso remoto. Além disso,
forma da citação de seus traba- há demora no recebimento das
lhos, algo que não era possível publicações, uma vez que mui-
à equipe de pesquisa antecipar tas não estão disponíveis em
na fase de recuperação das fon- meio eletrônico.
tes;
Apesar de o número de Controle de qualidade
currículos Lattes ter ultrapas-
sado a marca de 1 milhão, se- As limitações descritas
gundo dados do último censo acima foram enfrentadas por
do CNPq, a comunicação com um rigoroso controle de qua-
os pesquisadores nem sempre lidade, em que se tomaram
é ágil. Muitos deles ainda não medidas técnicas adequadas
possuem seus currículos cadas- durante todas as fases do le-
trados na plataforma Lattes, vantamento.
outros estão com seus dados O fenômeno da dispersão
desatualizados e, por fim, al- foi solucionado por meio da
guns demoram a responder a consulta ao maior número de
comunicações enviadas por bases de dados possível, mes-
correio eletrônico; mo aquelas de teor semelhante

55
Ministério da Saúde

e que gerariam redundância no Na medida do possível,


planejamento inicial. Em segui- as demandas dos pesquisado-
da, fez-se a referência cruzada res foram acatadas. A equipe de
entre todas as fontes citadas pesquisa foi treinada para res-
pelos autores em suas publica- ponder às demandas, esclarecer
ções. Após o cruzamento das sobre os objetivos do projeto e,
informações entre as bases e as em casos excepcionais, justifi-
referências citadas nas publica- car por que os encaminhamen-
ções, foi feita uma consulta pes- tos foram diferentes dos suge-
soal aos 30 pesquisadores mais ridos pelos pesquisadores;
produtivos. A todos eles, foi re- Para a comunicação com
metida a base de dados de pes- os pesquisadores, foram utili-
quisas com evidência para que zados todos os contatos dispo-
eles avaliassem a abrangência a níveis na plataforma Lattes ou
partir de sua experiência como nas publicações, seja via telefo-
ativos participantes da comu- ne ou fax, seja via correio tra-
nidade científica. As bases de dicional ou correio eletrônico.
teses e dissertações mantidas A desistência em estabelecer
pelas principais instituições de contato com os pesquisadores
ensino superior, assim como as só ocorreu quando todos esses
da Capes e do Ibict, foram con- meios falharam;
sideradas de extrema relevância Para esgotar a identifica-
para o levantamento desse tipo ção de capítulos de livros e arti-
de literatura; gos de periódicos, muitas vezes
A diversidade de norma- foi necessário recorrer à con-
lização e catalogação foi resol- sulta dos sumários das próprias
vida com a adoção de um único publicações, sobretudo dos
sistema de normas, a ABNT. livros e periódicos científicos
A padronização foi baseada considerados bastante relevan-
nos catálogos de autoridade tes para o tema. As informa-
desenvolvidos pela Biblioteca ções sobre os resumos e traba-
Nacional e, em casos omissos, lhos apresentados nos eventos
no currículo Lattes. Em casos científicos foram pesquisadas,
excepcionais de dúvida, o pes- alternativamente, nos currícu-
quisador foi consultado; los da plataforma Lattes;

56
20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil

O acesso à literatura foi sas bibliotecas espalhadas pelo


possível por meio do contato país. A busca compartilhada e
direto, sobretudo via telefone, o acesso cooperativo são mar-
entre as bibliotecárias e cientis- cas características das ativida-
tas da informação do projeto des dessas profissionais.
e as que trabalham nas diver-

57
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