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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Disciplina: Psicologia Geral


Semestre: 2016/2
Curso: Direito
Turno: Noturno
Profª. Marcel Soares
Aluna: Milena Moreira de Almeida Fontes

ATIVIDADE DE PSICOLOGIA

É de extrema importância ressaltar que o século XX foi palco de diversas teorias que
contribuíram para a formação da psicologia como ciência. Entre elas, destacam-se três, as quais
foram estudadas e, portanto, serão utilizadas para analisar o caso proposto: a Psicanálise, o
Behaviorismo e a Gestalt. Embora divirjam em seu objeto, elas foram e são indispensáveis para
o entendimento da psique e do comportamento humano. Nesse sentido, será estabelecida uma
relação direta de alguns fatos do cotidiano da personagem Ana com as teorias supracitadas.

A rotina de Ana aparenta ser cansativa e estressante. Uma das suas principais frustrações recai
sobre o fato de não conseguir dormir bem por conta de uma insônia recorrente devido as
diversas atividades passadas pelo seu professor:

“Chegava atrasado, ia embora mais cedo, tinha dias que nem


aparecia. Quando ia, apenas lia slides e passava um monte de
atividade. Ninguém merece, é pra deixar qualquer um estressado,
de perder o sono isso.”

Freud, como criador da psicanálise, explica que o sono é perturbado pelos sonhos, mas,
curiosamente, somos levados a uma visão contrária e temos de encarar o sonho como o guardião
do sono. Na sua teoria dos sonhos, o ego é o mediador entre as exigências da consciência e da
sociedade - incorporadas no superego - e os impulsos instintivos do Id. Como deseja dormir, o
ego retira o seu investimento do mundo exterior e, ao mesmo tempo, relaxa a sua vigia sobre
os impulsos inconscientes previamente reprimidos no Id. Esse relaxamento permite aos desejos
inconscientes escaparem à consciência. Nesse sentido, infere-se que a partir do momento que
ideias perturbadoras – como o fato de estar cheia de atividades para fazer, o que a deixa
estressada – relacionadas a preocupação de entender as atividades que não são explicadas pelo
seu professor e, a partir disso, resolvê-las, mantêm a sua mente ativa durante a noite, o que
dificulta na hora de adormecer.
Além disso, no aspecto pessoal e familiar, a relação que Ana aparenta ter com a mãe parece ser
mais contundente do que a relação com o seu pai:

“Saiu correndo de casa aos gritos de sua mãe para que não
esquecesse o guarda-chuva, o casaco, o café, o pão e um beijo
nela. O pai perguntou se ela não queria carona, mas ela sabia que
se dependesse dele chegaria atrasada: ele sempre enrolava para
sair de casa (...) Esqueceu tudo em cima da mesa, menos o beijo
(...)”
Isso é explicado pelo behaviorismo radical através da contingência de reforçamento. De acordo
com essa teoria, “a contingência de reforçamento explica as regularidades na relação
organismo-ambiente”, ou melhor, certos comportamentos do ambiente sinalizam que, se uma
dada resposta ocorrer, ela tem alta probabilidade de ser seguida por uma consequência. Assim,
o comportamento funciona como uma sucessão de eventos, cuja direção é dada pelas
consequências das ações passadas. Há duas contingências diferentes em relação ao pai e à mãe.
Enquanto o pai realiza ações que fazem parecer que ele não se importa, a mãe, ao contrário,
preocupa-se no bem-estar da sua filha:

Pai  ação da filha de recusar a carona  se deve pelo fato de que ele sempre enrola, o que acaba
a atrasando ;

Mãe  ação da filha esquece todas as outras coisas, menos do beijo  fato da mãe se empenhar
para lembrar das suas necessidades antes de sair de casa .

Dessa forma, para que o comportamento de Ana seja diferente, é preciso alterar as
contingências, ou seja, para que ela possa aceitar a carona do pai, é preciso que ele pare de
enrolar para que ela possa chegar no estágio de forma que se atrase.

Um terceiro momento a se pontuar é a dificuldade de Ana para fazer a leitura do texto


proposto para a aula a noite, devido ao balanço do ônibus que ela pegou para ir ao estágio:

“Tentava concentrar-se nas letras, mas o balanço do ônibus


tornava tudo mais difícil. Era necessário um dom, um talento
único ou algum gene especial para conseguir ler e segurar-se
na barra. Em algum momento foi abençoada com um lugar
para sentar, de modo que pode aproveitar as paradas nos
pontos para marcar no texto o que achava importante.”

É possível explicar esse fenômeno a partir da ideia de percepção defendida pelos teóricos da
Gestalt. A percepção consiste na tradução das informações recolhidas do meio ambiente,
transformando-as em significado, ou seja, uma organização e interpretação dos estímulos
que foram recebidos pelos sentidos e que possibilita identificar certos objetos e
acontecimentos. A Teoria da Gestalt, em suas análises estruturais, descobriu certas leis que
regem a percepção humana das formas, facilitando a compreensão das imagens e ideias.
Essas leis são nada menos que conclusões sobre o comportamento natural do cérebro,
quando age no processo de percepção. Os elementos constitutivos são agrupados de acordo
com as características que possuem entre si, como semelhança, proximidade e outras. Por
exemplo, a lei da pregnância afirma que todas as formas tendem a ser percebidas em seu
caráter mais simples. É o princípio da simplificação natural da percepção. Quanto mais
simples, mais facilmente é assimilada. Daí faz-se uma ponte com o fato de Ana marcar no
texto as partes importantes, pois só assim o seu cérebro assimilará melhor e mais rápido as
informações. Outro exemplo que pode ser aplicado nesse fato, e que também faz parte do
estudo da Gestalt é a relação da “figura/fundo” que seria a tendência de organizar as
percepções do objeto sendo visto e do fundo sobre o qual ele parece. Essa questão pode ser
vista da seguinte maneira, figura seria aquilo que nós procuramos ou voltamos a atenção
(texto marcado) e fundo seria o contexto no qual a figura está inserida (papel, no qual está
inserido o restante do texto “não-marcado”).

Uma das poucas coisas do seu dia que deixara Ana feliz a ponto de se sentir importante –
visto que todos os outros acontecimentos pareciam não demonstrar nenhuma consideração
por ela – era o seu novo chefe, muito mais legal que o antigo, pois “semana passada ele
convidou todo mundo para almoçar, comemorar o lucro do mês”. Em analogia à teoria
behaviorista, isso poderia ser considerado um reforço positivo, isto é, a adição de um
elemento que propiciará o aumento do comportamento. Nesse caso, quando o chefe leva os
funcionários para almoçar a fim de comemorar o lucro do mês, é possível que eles se
empenhem cada vez mais para obtê-lo, pois dessa forma seria provável que o chefe repetisse
aquela ação.

Vale ressaltar que durante toda a passagem do texto há um desejo recorrente da personagem:
o de se sentir importante. Para ela, parecia que todos os eventos ocorridos no decorrer do seu
dia não demonstram ter nenhuma consideração por ela – tirando o fato do seu chefe, acima
referido. Assim como o exemplo utilizado anteriormente, esse pensamento é gerado através
de uma consequência reforçadora. Para o behaviorismo radical, ou mais especificamente
para Watson:

“Quando alguém diz que está ansioso, essa afirmação deve ser
entendida como um comportamento verbal. Logo, deve ser
passível de uma análise em termos de contingências de
reforçamento: no passado, diante de uma certa audiência e,
possivelmente, de certas condições corporais, a emissão da
resposta verbal “estou ansioso” foi seguida por alguma
consequência reforçadora” (LOPES, Carlos Eduardo. O
behaviorismo radical, p. 104)
Ou seja, essa sensação da personagem de não se sentir importante advém de consequências
que se seguiram a esse pensamento (nesse caso não seria uma resposta verbal) no passado.
Portanto, achar que o pai não se importa pode ser sido reforçada por diversas ações, a
exemplo de, no passado, sempre atrasá-la quando lhe dava uma carona para o estágio – fator
considerado importante para ela. Assim como o seu antigo chefe e o seu professor. Ambos
realizaram determinados atos que a estressavam, concomitantemente, a ponto de Ana chegar
a essa conclusão. A única pessoa que lhe fez parecer importante, como também já fora citado
acima, foi o seu novo chefe, pois, relacionando com esse conceito de contingência de
reforçamento, a ação reforçadora realizada por ele gerava uma consequência boa: a sua
aproximação dos funcionários e o estímulo para que estes possam gerar mais lucro.

De fato, essas teorias são de extrema importância para a explicação de fenômenos psíquicos
e comportamentais até os dias de hoje. Além disso, o nosso cotidiano é repleto de
acontecimentos que podem ser relacionados com diversos conceitos defendidos por essas
correntes de pensamento. Aqui foram ressaltados, principalmente, as ideias de sonhos,
reforço positivo e percepção, relacionando-as com o caso proposto, sendo, portanto,
fundamentais para o seu esclarecimento.

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