Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CONCEITUAI
PAULWOOD
Capa: Par a Fct c r c K m n
Kc i t h Ar n a t t
Áuto-cutcrro (Projcto Ác nUerJcrcm ia televisiva) 1969
( d e t a lh e d a fíg.29)
Frontispício:
Vi c t o r Bu r g i n
Posse 1976
( d ct a ííie cfa hg. 54 j
P u b l i c a d o o r i g i n a i m c n r c p ela
Tiít c P u b l i s h i n g , a d i vi s i o n o t
Tiit c En t e r p r is e s L t d .
M \ l l b . \ u k , Lo u d vc s SWM' 4RCI
© 2002 Ta t e
© 2002 Cosac & N a i f y l í d i ç õ e s
T o d o s os d i r e i t o s r eser vad o s.
Ca p a : Sl a t t c r - An d e r s o n , Lo n d r e s .
P r o je t o g r á íic o : Lsam b ar d T h o m a s
T r a d u ç ã o : Be t in a Bi s c h o f
P r e p a r a ç ã o : F^ íbio G o n ç a l v e s
Re vi s ã o : P a u lo Ro b e i t í í M . Sa r m e n t o
As m e d id a s s ã o d ad as c m c e n t í m e t r o s ,
a lt u r a x la r gu r a x p r o fu n d i d a d e
W o o d , Pau l
Kl i 58c Ar ce Co n c e i t u a i / P a u l W o o d
Tr a d u ç . i o : in clin a Bi s d i o í "
Sã o P a u lo : C"osac & N a i f y I-'d içõ cs, 2 0 0 2
So p .
t í u i l o o r i g i n a l : C'o n ccp U ia l A r t
ISBN 85-750 i -n o -4
I. Ar r e e u r o p e ia d o s é c u l o \ X ; 2. H i s t ó r i a
I. W o o d , Pa u l; II. T í t u l o ; 111. Sé r ie
C'D D 70 9 .4 0 9 . 1
Ru a Ge n e r a l Jai-d im , 770, 2? a n d a r
0122^-010 - Sã o P a u lo - SP
Fo n e : (5511) ^218-1444
Fax: (5511)3255-^^64
i n fo @c o s a c n a i í ' y. c o m . b r
UMA INTRODUÇÃO À ARTE CONCEITUAI
PRECONDIÇÕES E PERSPECTIVAS
3
A VANGUARDA RECUPERADA
4
ARTE COMO IDEIA
5
POLÍTICA E REPRESENTAÇÃO
6
O LEGADO
Su g e s t õ e s d e Lc i t t i r a
í n d i c e Re m i s s i vo
Cr é d i t o s das Ilu st r a çõ e s
I
U m a I n t ro d u ç ã o à A r t e C o n c e i t u a i
p ó s - m o d e r n o c m q u e e s p a ç o s c o n t e m p o r â n e o s d e e xp o s i ç õ e s e s t ã o r e p l e t o s d e t u d o
e d e q u a l q u e r co isa , d e t u b a r õ e s a fo t o g r a fi a s , d e p i l h a s d e l i x o a v í d e o s d e t elas
m ú l t i p l a s — r e p l e t o s , a o q u e p a r e ce , d e t u d o , e xce t o d e p i n t u r a m o d e r n a .
O le g a d o d a a r t e c o n c e i t u a i n ã o é a l é m d i s s o d e m o d o a l g u m c o n s e n s u a l .
G r a n d e p a r t e d o s e n vo l vi d o s e s t á a i n d a vi va e q u e s t õ e s c o m o s t a t u s e p r i o r i d a d e
s ã o d e fe n d id a s c o m e xt r e m o z e lo . E m m e a d o s d a d é c a d a d e 9 0 , m e m b r o s a n t i g o s e
a t u a is do g r u p o in glê s A r t e & Li n g u a g e m p r o m o v e r a m u m a g u e r r a ve r b a l n a
i m p r e n s a c o m r e l a ç ã o à h i s t ó r i a d e su as a t i vi d a d e s e m m e a d o s d a d é c a d a d e 70 . N o
c a t á l o g o d c 1989 d e d i c a d o à e x p o s i ç ã o Arte Conceituai n o C e n t r e P o m p i d o u , e m
P a r is — a p r i m e i r a g r a n d e e x p o s i ç ã o a r e c o n h e c e r a a r t e c o n c e i t u a i c o m o u m
f e n ó m e n o h i s t ó r i c o —, o a r t i s t a Jo s e p h Ko s u t h a c u s o u o h i s t o r i a d o r Be n j a m i n
Bu c h l o h d e ser p a r t i d á r i o e t e n d e n c i o s o , d e p o i s d e Bu c h l o h t ê - l o a c u s a d o d e
m e n t i r s o b r e seu ve r d a d e i r o p a p e l n as o r i g e n s d o m o v i m e n t o . M a s esse n ã o er a u m
f e n ó m e n o n o vo . Já e m 1975, o a r t i s t a a m e r i c a n o M e l Bo c h n e r r e c e b e u a t e n t a t i va d a
c r ít ic a L u c y L i p p a r d d e c a t a lo g a r os d e s e n v o l v i m e n t o s d a a r t e c o n c e i t u a i cie 1966 a
1972 e m seu l i v r o Six Years c o m u m a ve e m e n t e c o n d e n a ç ã o , p u b l i c a d a n as p á g i n a s d a
Artjonim , a m a i s i m p o r t a n t e r e vis t a d e a r t e d a q u e l e p e r í o d o . Se g u n d o Bo c h n e r , as
a n á l i s e s d e L i p p a r d e r a m "c o n f u s a s " e "a r b i t r á r i a s ", u m a t o d e " m á - f é " c u j o
r e s u l t a d o se r e s u m i a a p o u c o m a i s d o q u e u m a " p a r ó d i a " d a q u i l o c]ue r e a l m e n t e
a c o n t e c e r a . M u i t o m a is t ar eie, n a d é c a d a d e 9 0 , q u a n d o a a r t e c o n c e i t u a i
"h i s t ó r i c a " c o m e ç o u a se t o r n a r o b j c t o d e c u r a d o r i a s n u m a escala m a i o r , a p r ó p r i a
L i p p a r d v o l t o u a su a a t e n ç ã o p a r a a q u e le s q u e a go r a se m u l t i p l i c a v a m p a r a e xp l i c a r
a su a i m p o r t â n c i a , a f i r m a n d o , c m u m a r t i g o , cju e n ã o c o n fia va n e m n as m e m ó r i a s
d a q u e le s q u e h a v i a m e s t a d o lá , n e m n a s u p o s t a v i s ã o a u t o r i t á r i a d o s h i s t o r i a d o r e s
t ]u e n ã o t i n h a m vi s t o d e p e r t o o m o v i m e n t o .
T a m p o u c o s ã o co n se n su a is os r e la t o s h i s t ó r i c o s s u r g i d o s . O r e t r o s p e c t o d e
L i p p a r d n a r r a u m c o n j u n t o d e e s fo r ç o s — e m q u e é s ig n ific a t iva a p a r t i c i p a ç ã o d e
m u l h e r e s e a r t ist a s l a t i n o - a m e r i c a n o s — p a r a r o m p e r c o m os p r o t o c o l o s d o
m o d e r n i s m o , t i d o , ele p r ó p r i o , c o m o u m b o m c l i e n t e d as a m p l a s e s t r u t u r a s n o r t c -
a m e r ica n a s d e p o d e r . O c r í t i c o e h i s t o r i a d o r Ch a r le s H a r r i s o n vê a a r t e c o n c e i t u a i e
e s p e c ia lm e n t e o t r a b a l h o d o g r u p o A r t e & Li n g u a g e m n ã o c o m o u m a r u p t u r a e m
r e la ç ã o aos p r i n c í p i o s d o m o d e r n i s m o , e m n o m e d e u m n o vo e n g a ja m e n t o c o m a
m o d e r n i d a d e s o c ia l, m a s c o m o u m a n e c e s s á r ia r e f o r m u l a ç ã o d o s f u n d a m e n t o s d a
i n d e p e n d ê n c i a c r ít ic a cia a r t e . P a r a ele, o e n g a ja m e n t o c o m a m o d e r n i d a d e s o c i a l e a
i n d e p e n d ê n c i a e st é t ica n ã o s ã o o p o s t a s . Be n j a m i n Bu c h l o h , p o r su a ve z , j u l g o u a
o b r a d e p e l o m e n o s a lgu n s d o s m a is i m p o r t a n t e s a r t ist a s q u e p r o d u z i a m a r t e
c o n c e i t u a i c o m o u m a "e s t é t i c a d e a d m i n i s t r a ç ã o ", o u seja, u m r e fle xo d as e s t r u t u r a s
d o c a p i t a l i s m o o c i d e n t a l n a su a fase a d m i n i s t r a t i va e p ó s - i n d u s t r i a l ; p a r a Bu c h l o h , a
ú n i c a p r á t i c a "c o n c e i t u a i " a c e it á ve l se r ia a d e u m a c r ít ic a d as i n s t i t u i ç õ e s c u l t u r a i s .
Se r ia i n g é n u o , e m face d essas vi s õ e s c o n t r a s t a n t e s , s u p o r q u e esse l i v r o t e n h a a
p r e t e n s ã o d e c o n s t i t u i r u m a a n á lis e d e fi n i t i va s o b r e a a r t e c o n c e i t u a i .
Nomes
At é m e s m o o n o m e p r o p õ e , d e sd e o i n í c i o , u m a d i fi c u l d a d e . Já m e u t i l i z e i d a
e xp r e s s ã o "a r t e c o n c e i t u a i " p a r a fa z er r e fe r ê n c ia a u m a f o r m a h i s t ó r i c a d e va n gu a r d a
q u e floresceu n o final d a d é c a d a d e 6 0 e ao l o n g o d a d é c a d a s e gu in t e . O t e r m o era
c o r r e n t e m e n t e e m p r e g a d o n a é p o c a , p a r a d e s ign a r u m a m u l t i p l i c i d a d e d e a t ivid a d e s
c o m base n a l i n g u a g e m , fo t o g r a fi a e p r o ce sso s, as q u a is se e sq u iva va m d o e m b a t e q u e
e n t ã o se cfet u ava e n t r e , d e u m l a d o , a a r t e m i n i m a l i s t a e vá r ia s p r á t i c a s "a n t i f o r m a i s "
e, d e o u t r o , a i n s t i t u i ç ã o d o m o d e r n i s m o , n u m c o n t e xt o d e cr e sce n t e r a d i c a l i s m o
c u l t u r a l e p o l í t i c o . O a r t i s t a a m e r i c a n o So l L e W i t t p u b l i c o u os seu s "P a r á g r a fo s
s o b r e a r t e c o n c e i t u a i " e m 1967, s e gu id o s das "Se n t e n ç a s s o b r e a r t e c o n c e i t u a i " c m
1969. Ê t a m b é m desse a n o a p r i m e i r a p u b l i c a ç ã o d a r e vist a Ar t -I.ai i gi i age, q u e t r a z ia o
s u b t í t u l o "Re vi s t a d e a r t e c o n c e i t u a i ". P o r é m o p r i m e i r o a e m p r e ga r , d c fa t o , a
e xp r e s s ã o "a r t e c o n c e i t o " fo i o e s c r i t o r e m ú s i c o H e n r y F l y n t , já e m 1961, e m m e i o às
a t ivid a d e s associad as ao g r u p o Fl u xu s d e N o v a Yo r k . E m u m e n sa io p o s t e r i o r ,
p u b licad o n a Antholog)i d o Fl u xu s (19 6 3), F l y n t escr eveu q u e "a r t e c o n c e i t o " é a c i m a
d c t u d o u m a a r t e n a q u a l o m a t e r i a l s ã o os "c o n c e i t o s ", a r g u m e n t a n d o e m s e gu id a
q u e , " u m a vez q u e 'os c o n c e i t o s ' s ã o e s t r i t a m e n t e vi n c u l a d o s à l i n g u a g e m , a a r t e
c o n c e i t u a i é u m t i p o d c a r t e n a q u a l o m a t e r i a l é a l i n g u a g e m ". N o e n t a n t o u m a
figura in flu e n t e c o m o Lu c y L i p p a r d c o m e n t a r i a cjue a l e i t u r a d e F l y n t d a "a r t e
1
Joseph Kosuth
m e a n - i n g ( m ê n 'ip ) , n . 1. wh a t is m e a n t ; w h a t is i n - Intitulado (Arte como
t en d ed t o be, cr i n fact is, sign ified , in d ica t e d , referred ideia como ideia)
t o , or u n d e r st o o d : sign ificat io n , p u r p o r t , im p o r t , sense, [Sentidol 1967
or sign ifican ce: as, t h e m eaning of a wo r d . 2. [Ar ch a ic], Cópia fotostática sobre
in t e n t io n ; p u rp ose. adj. 1. t h a t h as m e a n in g; sign ifi- papel apoiada em
ca n t ; expressivo. madeira 119.4 x 119.4
Coleção Menii, Houston
U m a das t ar efas d a p r e se n t e i n t r o d u ç ã o à a r t e c o n c e i t u a i , e n t ã o , é m a n t e r
sep arad os d o t e r m o c e n t r a l esses s e n t i d o s r iva is: ã b s t e n d o - s e d e a c e it a r colno n ão
p r o b le m á t ic a a h i p ó t e s e "c o n c e i t u a i " d e g r a n d e escala, m a s t a m b é m n ã o r e s t r i n g i n d o
a a t e n çã o a u m " c â n o n e " a n g l o - a m e r i c a n o ( e a go r a h i s t ó r i c o ) d o q u e se e n t e n d e
co m o c o n c e it u a i; e vi t a n d o , i g u a l m e n t e , e n xe r ga r a a r t e c o n c e i t u a i c o m o u m p ó s -
m o d e r n i s m o e n ga ja d o avant la lettre, m a s se m d e s c a m b a r p a r a o l a d o o p o s t o , q u e a vê
co m o u m eco e n fr a q u e c i d o d o m o d e r n i s m o b u r o c r á t i c o . O b s e r va r e m o s , com
cu id a d o , as vá r ia s t e n d ê n c i a s q u e t i ve r a m u m p a p e l s i g n i fi c a t i vo n a d é c a d a , c r u c i a l
para essa a r t e , q u e se e st e n d e d e m e a d o s d e 1960 a m e a d o s d e 1970. M a s , an t es d isso ,
é p r eciso vo lt a r os o l h o s p a r a a o r i g e m d a a r t e c o n c e i t u a i — vo lt a r - s e p a r a a su a "p r é -
h ist ó r ia ", p o r assim d iz e r . E, finalmente, c o n s id e r a r , b r e ve m e n t e , a q u e s t ã o d o seu
legad o c o m r e la çã o à a r t e c o n t e m p o r â n e a : a q u i , o q u e se d eve p e r g u n t a r é se a a r t e
co n ce it u a i t e r ia p r e p a r a d o , c o m e fe it o , o c a m i n h o p a r a u m "c o n c e i t u a l i s m o "
in t e r n a c io n a l b e m - s u c e d i d o . •
z
2
Kasimir Malevich
Quadrado preto
PRECONDIÇÕES E PERSPECTIVAS s ^^faigi s
óleo sobre tela
8 0 x8 0
Galeria Tretyakov,
Moscou
A r e la ç ã o e n t r e a a r t e c o n c e i t u a i e o m o d e r n i s m o é u m a s s u n t o fé r t il. O q u e se p o d e
a fir m a r c o m a l g u m a ce r t e z a é q u e o m o d e r n i s m o , n a f o r m a d o m i n a n t e q u e ve io a
a ssu m ir , ao m e n o s n o m u n d o a n g l o - a m e r i c a n o — o u seja, c o m o t e o r i z a d o p e l o
c r ít ic o C l e m e n t Gr e e n b e r g e d i g n i fi c a c io c o m u m " M " m a i ú s c u l o —, e n t r o u e m u m a
crise p r o f u n d a , t a lve z t e r m i n a l , n o fim d a d é c a d a d e 6 o . M a s essa q u e d a n ã o fo i a
p r i m e i r a — o m o v i m e n t o m o d e r n o já h a via p a ssa d o p o r u m a cr ise a n t e r i o r , d a q u a l
c o n s e gu iu se r e c o b r a r e d a q u a l e m e r g i u p a r a se t o r n a r d o m i n a n t e . E p r e c is o
est ab elecer u m a vi s ã o d e st e m o d e r n i s m o h e g e m ó n i c o p a r a m e l h o r c o m p r e e n d e r o
d esafio q u e a a r t e c o n c e i t u a i r e p r e s e n t o u e m r e l a ç ã o a ele. Pa r a t a n t o , é p r e c is o q u e
n os vo l t e m o s p a r a o " o u t r o " d o p r i m e i r o m o d e r n i s m o : a van gu ar cia h i s t ó r i c a ( u m a
d i s t i n ç ã o q u e d e vo ao h i s t o r i a d o r a l e m ã o Pe t e r Bú r g e r ) .
FORMA
O p r i m e i r o m o d e r n i s m o f o i t r a n s c u l t u r a l e t r a n s - h i s t ó r i c o c m seu i m p u l s o i n i c i a l .
O s c r í t i c o s d o g r u p o d e Bl o o m s b u r y , Cl i ve Be l l e Ro g e r Fr y, i s o l a r a m , n u m a •
d e fin iç ã o fa m o sa , a c a r a c t e r ís t ic a p r i n c i p a l d a a r t e c o m o " f o r m a " : " f o r m a
s i g n i fi c a n t e ", p ar a Be ll, " f o r m a e xp r e ssiva ", p a r a Fr y. D e a c o r d o c o m Be ll , F r y e
o u t r o s , a a r t e m o d e r n a , c o m o fo i est ab elecicla p o r C é z a n n e , o fe r e cia a p r o m e s s a d e
u m a l i b e r t a ç ã o d a t r a d i ç ã o a c a d é m i c a p o r m e i o d a ê n fa se so b r e a f o r m a p i c t ó r i c a .
Isso p o d e r i a t e r u m e fe it o so b r e as e m o ç õ e s d o e s p e c t a d o r s e n s íve l c o m p a r á v e l aos
efeit os d o s o m e m m ú s i c a ; o u seja, i n d e p e n d e n t e d a q u i l o q u e as fo r m a s p o d e r i a m
r ep r esen t a r . Essa c o n c e p ç ã o c o i n c i d i a c o m os m o v i m e n t o s t ]u e se c fe t iia va m , n a
p r á t ic a , e m d i r e ç ã o a u m a a r t e i n t e i r a m e n t e a b s t r a t a ; u m a a r t e "p u r i f i c a d a " d e t r a ç o s
n a r r a t ivo s o u d e s c r it ivo s , e q u e agia so b r e o e s p e c t a d o r c o m o "m t i s i c a vi s u a l ".
A o b r a q u e p ar ece t e r i n a u g u r a d o o m u n d o d a a r t e a b st r a t a , c o m o u m a e s p é c ie d e
m a n i fe s t o vis u a l, f o i o Quadm iopreto snprcuiatista d e Ka s i m i r M a l e v i c h , e x i b i d o e m
P e t r o g r a d o e m d e z e m b r o d e 1915 [ fi g . 2 ] . T a n t o M a l e v i c h q u a n t o M o n d r i a n
a p r o ve it a r a m - se d a a b e r t u r a leva d a a c a b o p e l o c u b i s m o e, a p a r t i r d o s p r i m e i r o s
e n c o n t r o s c o m esse m o v i m e n t o , p o r vo l t a d e 1911-12, a t é m a is o u m e n o s 1914-15,
d e r a m i n í c i o à a b s t r a ç ã o d e t r a ç o s r e c o n h e c í ve i s d o m u n d o , p o r m e i o d e su as
p i n t u r a s . Esse p r o c e s s o d e a n á lis e vi s u a l d e se n vo lve u - se , p o r é m , ap en a s a t é o p o n t o
d a c r ia ç ã o d e u m a a r t e "a b s t r a í d a " d a r e a lid a d e , m a s a i n d a e n r a iz a d a e m g é n e r o s
c o m o p a isa ge m , r e t r a t o e n a t u r e z a - m o r t a . O q u e ela p ar ece t e r fe i t o , ap esar d isso , f o i
cr ia r a p o s s ib ilic ia d e d e u m a a r t e i n t e i r a m e n t e a b s t r a t a , cu ja r e fe r e n cia p a r a c o m u m
m u n d o e xt e r i o r cfist in gu íve l t ivesse
s i d o e l i m i n a d a . A a b s t r a ç ã o falava d e
u m a b u s ca d a e s s ê n c ia p i c t ó r i c a e d e
u m a lib er t ação d o s lim it es t r a d icio n a is
qu e i n c i d i a m sob r e a ar t e.
Essa l i b e r d a d e , n o e n t a n t o ,
i m p l i c a v a a lg u n s p e r i g o s , o s q u a i s t ê m
r o n d a d o a art e ab st r at a ao l o n g o d a
su a e xi s t ê n c i a . Q u e m t e r i a a
a u t o r i d a d e p a r a d i z e r se u m a
e s p e c í fi c a c o n f i g u r a ç ã o d c f o r m a s c
co r e s c o n s t i t u i u m a " h a r m o n i a
f o r m a l " , u m " t o d o e s t é t i c o " — o u se
ela é fa lh a n a su a t e n t a t iva ? N a p r á t i c a ,
essa t o r n o u - s e u m a q u e s t ã o q u e
e n vo l vi a a q u i l o q u e o a r t i s t a a fi r m a va ,
o u , m a i s p r e c i s a m e n t e , a c ]u ilo q u e e r a
a fir m a d o p e lo cr ít ico d e ar t e. E u m
s is t e m a d e p e n d e n t e d e u m a
a u t o r id a d e cr ít ica é t a m b é m u m
s is t e m a c u jo s flancos se a b r e m a
sa r ca sm o s e à s a t i r i z a ç ã o . D a í a b r i n c a d e i r a d o s p r i m e i r o s va n gu a r cfist a s d e le va r u m
c r í t i c o a se d e r r a m a r , e m l i r i s m o , s o b r e u m a " p i n t u r a " a b s t r a t a fe it a c o m u m p i n c e l
a m a r r a d o a o r a b o d e u m b u r r o . F o i esse t i p o d e p r o b l e m a q u e M a r e e i D u c h a m p
r e s s a lt o u , d e m a n e i r a a g u d a , q u a n d o d o s u r g i m e n t o d a a b s t r a ç ã o p r o p r i a m e n t e
d i t a . T a i s o b r a s f o r a m , d e sd e e n t ã o , a m p l a m e n t e in ve s t iga d a s c o m o o s
p r e d e ce sso r e s d a a r t e c o n c e i t u a i : o s rcadyinaAes.
• CONTEXTO
D u c h a m p c o m e ç o u , já c m 1915, a r e c o l h e r o b je t o s q u e n ã o h a vi a m s i d o e la b o r a d o s
o r i g i n a l m e n t e c o m o o b je t o s d e a r t e , m a s s i m c o m o co isas c o m u n s e u t ilit á r ia s —
t r a n s p o n d o - o s e n t ã o d o seu c o n t e x t o u s u a l p a r a u m a m b i e n t e i n t e i r a m e n t e e s t r a n h o :
o c o n t e xt o d a a r t e . O p o n t o e m q u e s t ã o er a q u e , se P ica sso o u T i t l i n o u seja lá q u e m
fosse t ivesse e l a b o r a d o u m o b j e t o d e m e t a l e p a p e l ã o , o u a r a m e e m a cie ir a , p r o b l e m a s
p o t e n c i a l m e n t e c o m p le xo s i n c i d i a m so b r e a i d e n t i d a d e desse o b j e t o . T o m a r u m
o b j e t o d essa n a t u r e z a c o m o o b r a d e a r t e era u m fa t o p a r a o q u a l n ã o h a via
a n t e ce d e n t e s, fd o je é fácil ver a p o s s i b i l i d a d e d e u m e r r o c r u c i a l e n t r e o a t o d e
e st a b e le ce r a i d e n t i d a d e d e a lgo c o m o
u m a o b r a d e a r t e — c o m b ase n a "
q u a l i d a d e f o r m a l e sse n cia l q u e o •
o b j e t o p o s s u i e o o p o s t o t o t a l d isso :
t r at ar o o b je t o c o m o art e n ã o p o r
cau sa d e u m a "e s s ê n c i a " f o r m a l c o m ,a
q u a l t o d o s c o n c o r d a m o s , m as e m
d e c o r r ê n c i a d e fa t o r e s c o n t e xt u a i s , t a is
c o m o o fa t o d e a o b r a v i r a p ú b l i c o c m
u m a e xp o s iç ã o de ar t e o u de t er sid o
p r o d u z id a p o r algu ém a q u e m a
Mareei Duchamp
i d e n t i d a d e "a r t i s t a " já t ivesse s i d o
Suporte para Garrafas
c o n fe r i d a . O p r i m e i r o "readyiiiade sem 1914, réplica 1964
a s s i s t ê n c i a " cie D u c h a m p f o i u m Metal
s u p o r t e d e m e t a l p a r a ga r r a fa s [ fi g . 3]. Edição de oito
réplicas, altura 64,2
Ap e s a r d a su a a l e g a ç ã o d e q u e a
cada
e sco lh a d o o b j e t o t i n l i a s i d o a r b i t r á r i a , Arquivos de Mareei
Duchamp/ Edições
t a lve z ele t e n h a o p t a d o p o r a lgo
Arturo Sciiwarz, Milão
b a st a n t e p r ó x i m o d o t i p o d e e l e m e n t o s
qu e c o m e ç a va m a em er gir c o m o
fo r m a s e s c u l t ó r i c a s , c o m o o b j e t i vo d e Mareei Duchàh
a n o s m a is t a r d e c o m a Fonte d e '
D u c h a m p [ fi g . 4 ] . A h i s t ó r i a é
Jean-Léon Gérôme
c o n h e c i d a d e t o d o s . D u c h a m p , já
OPtiCien 1902
e n t ã o u m a r t ist a b cm -e st a b e le cid o , era
Óleo sobre tela
u m d o s m e m b r o s d o co m it é de se le çã o 8 7 x6 6
Coleção particular
e m u m a e x p o s i ç ã o a b e r t a d e e scu lt u r a s
e m N o v a Yo r k . Ele c o m p r o u u m u r i n o l
e m u m a l o j a d e fe r r a ge n s e o s u b m e t e u
c o m o e s c u lt u r a — a ssin a d a c o m o
p s e u d ó n i m o " R . M u t t " — aos o u t r o s
m e m b r o s d o co m it é. A ob r a fo i
r e je it a d a p e l o jú r i — ap esar d o s u p o s t o
c a r á t e r a b e r t o d a e xp o s i ç ã o , a c e s s íve l a
q u a l q u e r u m q u e p agasse a t a xa d e
in s c r iç ã o — e n ã o fo i e xi b i d a . As a l e g a ç õ e s e r a m d e q u e a o b r a era d e c e r t o m o d o
" i m o r a l " ; d e q u e se t r a t a va "s i m p l e s m e n t e " d e u m a p e ç a d e b a n h e i r o , c a ssim p o r
d ia n t e . A q u e s t ã o se fez a in d a m a is s e r ia m e n t e c ó m i c a p e la s e m e l h a n ç a f o r m a l e n t r e
o u r i n o l e as e scu lt u r a s a b st r a t a s o r g a n i c a m e n t e m o l d a d a s cie C o n s t a n t i n Br a n c u s i ,
a lgu m a s das q u a is já t i n h a m s i d o e xp o st a s n o s Es t a d o s U n i d o s .
12
LINGUAGEM
Du ch a m p m ar cou sua p osição com u m su p ort e para garrafas, um a pá dc neve e u m
u r in o l, em bora t am b ém ten h a u t iliz a d o a lin gu agem com o u m a crit ica à art e.
A relação da lin gu agem para co m a art e m od er n a é curiosa. N u m cert o n ível, o
m o d er n ism o expu rgou da arte a lin gu agem . A arte acad ém ica havia sid o altam en t e
t eorizad a, cen trada na p r oxim id ad e da arte e d a lit er at u r a — n o recon t ar, cm t erm os
visuais, de n arrat ivas p red om in an t em en t e clássicas e b íb licas. O m o d er n ism o rom p e
co m esse vín cu lo. N o ç õ e s com o a de u m "o l h o in ocen t e" o u de u m a arte que
apelasse apenas ao olh ar som aram -se a u m d o m ín io n o q u al a lin gu agem , co m as suas
con ot ações de n atureza m en t al e racion al, é elim in ad a. Em seu lugar são p r ior izad os
sen t im en t o e em oção. N u m o u t r o sen t id o, n o en t an t o, o m o d e r n ism o c perseguido
pela lin gu agem . Malevich , M o n d r i a n c Kan d in sky, t od os eles escreveram sobre a
t eoria d a abst ração. N o cu b ism o, as palavras aparecem nas p in t u r as e nas colagens
p r op r iam en t e d it as. Em geral, é
com o se a relação da lin gu agem
para com a arte m od er n a fosse a
de estabelecer os t erm os d o
en con t ro em ocion al d o
espectador e da obra.
O espectador seria p osicion ad o
pela t eoria, antes de estar livre
para sen tir. Part e da revolu ção d o
m o d er n ism o con sist iu em afastar
a arte de u m d o m ín io p ú bt íco de
lin gu agem e n arrativas
com p art ilh ad as, levan do-a para
u m a esfera de em oção e
sen t im en t os privad os, na qu al
esses ú lt im os são vistos de certa
for m a com o u m a in st ân cia m ais
fu n d am en t al d o que as palavras, c
mais "u n iver sal". U m a das
est rat égias de Du ch a m p era a de
prom over a con t am in ação d o
HISTÓRIA
Nas prim eiras décadas d o sécu lo o
m o d er n ism o t or n ou -se, dessa m an eira,
u m m o vim en t o estabelecido, co m a
realização de u m a arte au t ón om a e
in t eiram en t e abstrata. Por trás da
aparente au t orid ad e e au t o-su ficiên cia,
n o en t an t o, escondia-se u m a
in st abilid ad e con ceit u ai, que os
vanguardistas m ais crít icos logo
t rou xeram à lu z. M u i t o s dos temas
recorren tes da p r im eir a vanguarda,
com o a id en t id ad e da obra de art e, a
relação entre arte c lin gu agem , a
relação da arte co m o m u n d o da FRAMci j PI CABI A
p r od u ção de m ercadorias, con t r ap ost o
t a u m a id eologia de in d ep en d ên cia e de valor esp ir it u al, além dc pergun t ar-se o que
era exatamente aq u ilo que o art ist a fazia, p o d em ser vist os co m o prefiguradores da
p ost erior arte con ceit u ai. O m ais surpreen den t e é, t alvez, a rap id ez co m a q u al as
coisas for am cfctuadas. A alt u ra da Pr im eir a Gu erra M u n d i a l — t en d o, dc u m lad o, a
arte abstrata e, de o u t r o , o rcaiymadc —, os lim it es con ceit u ais t an t o d o essen cialism o
qu an t o d o con t ext u alism o já t in h a m sid o esb oçad os. Algu n s p ou cos anos m ais t arde,
p ost eriorm en t e à Revolu ção Bolch evist a, os con st ru t ivist as passariam a rejeit ar a art e
en qu an t o t al. O m o d er n ism o fo i, p o r assim d izer, estabelecido e t est ado até a
d est ru ição d en t ro dc u m m esm o p er ío d o h ist ór ico.
Ól eo sobre tel a e
de 1914-21, o status fio se viu em p o sição
col agem de restabelecer o con t r ole. Ao lon ao
148, 6x117, 4 o
Musée Nat i onal d' Art desse p er ío d o, a p rát ica da arte
Moder ne - Cent r e
Geor ges Pompi dou,
m od er n a parece t er se t r ian gu lad o dc
Pari s acordo com as op ções d o m o d e r n ism o ,
da vanguarda e d o realism o social,
algum as vezes cm suas form as puras,
René Magritte
algum as vezes de m an eira até cert o
O espelho mágico
1929 p o n t o h íb r id a. Deve-se m en cion ar,
Ól eo sobre tel a além disso, que o debate acon t ecia em
73x55
u m espaço r est r it o, à m ed id a que a
Tl i e Scot t i sh Nat i onal
Gal l eryof Moder n Ar t , d écad a de 30 avan çava: na Eu rO p a n ão -
Edi mbur go ocupada ( p r in cip a lm en t e Par is e, n u m a
escala m en or, Lon d r es) e nos Est ados
Un id o s (p r in cip alm en t e No va Yo r k ) ,
já que Ber lim e Mo sc o u t in h a m sc
t o r n ad o lugares bastante h ost is á
prát ica cia arte m od er n a. As s i m , p od em os respon d er à nossa p ergu n t a da seguin te
for m a: o m o d er n ism o , n aquela co n ju n t u r a, conteve o seu p ot en cial em an cip at ór io.
Con t r a u m pan o de fu n d o de fascism o e d it ad u r a, u m a arte in d ep en d en t e
desenvolve, em si e em relação a si m esm a, u m agu çad o cort e crít ico. O m o d e r n ism o
au t ón om o teve os seus "o u t r o s ", vir t u alm en t e a p a r t ir d o in ício cio m o vim e n t o , na
form a das vanguardas crít icas d o d ad á, su rrealism o e co n st r u t ivism o . Mas, n o t o d o ,
manteve-se h egem ón ico, en qu an t o as vanguardas eram o u su bord in ad as a ele o u
ext in t as. E com o sc, para que fosse rejeit ad o logicam en t e com o ob solet o e en t ão
su b st it u íd o — para que se desafiasse o que Mich a e l Fr ie d ch am ou de a sua "co n d içã o
p r im o r ciia l" ( o u seja, que a arte é feit a para ser olhada^ —, o m o d e r n ism o tivesse,
p rim eiram en t e, de fazer com que t o d o o seu p ot en cial fosse u t iliz a d o . Apesar d o
rcaiymadc e d o p r o d u t ivism o , isso am e ia n ão havia sid o feit o.
15
3
A VANGUARDA RECUPERADA
RAUSCHENBERG
O m o d er n ism o d o p ós-gu er r a am erican o fo i, co m a n ot ável exceção de Bar n et t
N e wm a n , essencialm ente u m a c ^ o la de ab st ração gestual. Jackson Po llo ck, Cliffo r d
St ill, W i l l e m de Ko o n in g, Ar sh ile Go r k y, Fran z Klin e e m esm o M a r k Ro t h k o , t od os
d epen d em de u m a con vicção q u an t o à au t en t icid ad e in t u íd a e da necessidade de um a
m arca au t oral — a con vicção de que a sin gu larid ad e de u m d et er m in ad o t raço, feit o
p o r aquele d et er m in ad o in d ivíd u o, em resposta a u m a circu n st ân cia específica,
precisam ente p o r ser t ão verdadeiro e ú n ico, escapa à con t in gên cia e ascende a u m
p lan o un iversal de sen t im en t o. E en t ão, o que faz Ro b e r t Rausch en berg? De m an eira
con scien te c d eliberad a, ele p m t a a m esm a coisa duas vezes. Kietiiiii Ic Eictuin 11 [figs.
8-9 ] são obras com plexas. Rau sch en berg com eçara p r o d u z in d o "t elas com b in ad as",
em m eados da d écad a de 50, fazen do t ab u la rasa da especificiciade d o m eio da
' p in t u r a m od er n a: os seus t rabalh os apresentavam fot ografias, jor n ais, objet os
descartados, in clu in d o u m gran d e n ú m er o de an im ais em palh ad os e de d et r it o s .
au t om ot ivos. Ele p r o cu r o u , cm suas p r óp r ias palavras, operar n o lim ia r en tre a art e e
a vid a, o que talvez im p liq u e operar n o lim ia r en tre u m a m o d er n id ad e u rban a,
' con su m ist a c con d u zid a pela m id ia , e aq u ilo cpe Green berg ch am ou efe "p in t u r a de "
t ip o am erican o". Pelo p ad rão de algum as cias suas prociu ções m a is recentes, as obras •
Etctiiin Ic Ejctniii Z/ são relat ivam en t e m odest as. As p in t u r as rem et em , claram en t e, ao
carát er ú n ico da ob ra de art e, em part e p o r m eio da in co r p o r ação de fot ografias, em
part e p elo at o de d u p licar que ali t o m a co r p o , ele p r ó p r io r ep et id o de m an eira
recorren t e (d ois ed ifícios cm cliam ns p in t ad os duas vezes; d ois presiden tes
Hisenliovver, duas vezes; um a fot ograh a de duas ár\ 'orcs, duas vezes). As marcas da
arte p r op r iam en t e d it a são d u plicad as, n o en t an t o, dc u m m o d o ain da m ais
específico, nas repetidas obras, cobert as cie b or r ões e m anchas, das p in t u r as
expressionistas abstratas. Essas p in t u r as são um a prova de espon t an eidade^ a_
au t en t icid ad e c, a li, colocada en tre asjías^ A m at éria p r in cip al da obra é a—:
in st it u cion alização da espon t an eidade.
FiKtiiin I c Factiiiii / í necessitam um a da o u t r a. O sen t id o da obra emerge n o esp aço
entre as duas p in t u r as, o u , t alvez, en tre at]uele esp aço e u m t erceiro elem en t o; a
18
ext in gu ir o gesto, u t iliz a n d o o m esm o recurso de con struç.ão dc scn ticio para desfazer
u m co n ju n t o dc sen t idos e in st it u ir u m o u t r o , d evolven d o a u n id ad e estética
alcan çada pela obra fin alizada à u n id ad e p r im o r d ia l on d e ela t em a sua origem — o
vazio da tela o u da folh a dc papel (se bem que visivelm en t e ímhalhaAo). De m od os
diversos, t an t o u m q u an t o o o u t r o t r ab alh o d cRau sch en b er g represen tam respostas
à qu est ão "Co m o prossegu ir?", u m a ve^z cant o lim it e cia expressão in d ivid u a l já fora
at in gid o e, além d o m ais, cod ificad o eir íiim sistem a.
Du ch a m p com en t ara, na d écad a dc 40 , que a sua in t en ção com os nadymaács, u m
q u ar t o dc sécu lo antes, fora a de fazer co m que a art e se voltasse ao pen sam en t o —
entediacfo que estava co m as lim it ações dc u m a art e a serviço apenas dos sen t id os.
Por m eio da sua am izade com o co m p o sit o r Joh n Cage, o legado de Du ch a m p
passou a ser associado a u m a geração m ais jovem dc art ist as, eles p r ó p r io s buscan do
u m cam in h o que se estendesse além d o m o d e r n ism o , m esm o t en d o co m o pan o de
Robert Rauschenberg fu n d o circu n st ân cias m u it o diversas daquelas enfrentadas p o r D u ch a m p às vésperas
Factml 1957 da Prim eir a Gu er ra M u n d i a l . O elem en t o c o m u m que anim ava o d ist an ciam en t o
Ól eo, nanqui m, cr ayon, crít ico das duas gerações em relação ao seu respectivo m o d e r n ism o era sua p ercep ção
papel , t eci do,
reproduções de j ornal e da arte com o u m sistem a. Apesar cia já m u it o ensaiada e rep et id a id eologia de
papel pi nt ado sobr e purificação e ciestilação, da necessidade de desfazer-se da bagagem cu lt u r al c descer
tel a
aos fu n d am en t os e â base da sign ificação, a art e abstrata, nas suas variadas form as,
155, 9x90, 2
Museumof op erou com u m sistem a in st it u cio n alizad o de p r o d u ção de sen t id o — co m
Cont empor ar y Art , Los p rod u t ores, d ist r ib u id or es e con su m id ores que circu lavam , de fo r m a in t erligad a, em
Angel es
Col eção Panza t o r n o uns dos ou t r os. A t eoria m od er n a via a "e xp r e ssã o " com o u m cort e na raiz da
"co m u n ica çã o ", com o ir r o m p e n d o , através das con ven ções, na d ireção da n at ureza
h um an a — u m a esfera sit uada, p or assim ciizer, n u m p lan o an t er ior à lin gu agem c às
Robert Rauschenberg
con ven ções. O am igo de Rau sch en berg e seu com p an h eir o nas artes Jasper Johns
f 3Cí um/ / 1957
resu m iu a d ist ân cia que m a n t in h a m em relação a essa p ost u ra na sua m áxim a
Ól eo, nanqui m, cr ayon,
"Co m e ç o a acredit ar que a p in t u r a seja u m a lin gu agem ". Johns dava in ício à t en t at iva
papel , t eci do,
reproduções de j ornal , de fazer u m a obra à lu z de u m a visão de sign ificad o ext raíd a da iilt im a fase da
e papel pi nt ado sobr e filosofia de Lu d wig W it t ge n st e in : "o sign ificad o é o u so". O u seja, as palavras
tel a
155, 9x90, 2 alcan çam o seu sen t id o n o con t ext o das sen t en ças em que são pron un ciacias, e n ão
TheMusemof Mqder n em d ecorrên cia dc algu m sign ificad o "a t ó m ic o " essencial t]ue elas pudessem possuir,
Art , Nova York
sim ples ou n at u ralm en t e. O sign ificad o é p r o d u z id o d u ran t e o t r ab alh o co m os
Aqui si ção e doação
anóni ma e doação con ju n t os dc con ven ções, p o r m eio de jogos em preen d id os co m a lin gu agem . Se isso
t est ament ári a de
se aplica t am b ém à art e, quais seriam suas im p licações para o m od ern ism o?
Loui se Rei nhardt Smi t h
EUROPA E JAPÃO
Sim u lt an eam en t e à prát ica dc Johns e Rau sch en berg nos HUA, alguns art ist as que
trabalh avam d o o u t r o lad o d o At lân t ico com eçaram , de u m m o d o sim ilar, a dar »
form a a um a at it u d e crít ica cm relação às con ven ções cia arte m od er n a d o m in an t e.
( A p r op ósit o, t an t o Johns q u an t o Rau sch en berg t in h a m estado na Eu r op a.) O
legado d o su rrealism o forn eceu o p o n t o de p ar t id a para m u it as in iciat ivas. O gr u p o
Cobra fo i fu n d ad o em 1948, e a In t er n a cio n al Sit u acion ist a, cm 1957. Asger Jor n ,
ativo em am bos os gr u p os, escreveu m ais t arde que as at ividades art íst icas desses
gru pos t in h a m com o premissa a crença de que "a art e visu al era u m m eio sem
u t ilid ad e para a criat ivid ad e e para o p en sam en t o", e cjue, ao con t rário disso, a "a r t e "
deveria se fun ciir d iret am en t c co m a vida social da cidade, t orn an d o-se in separável da
ação c d o pen sam en t o. N a Fran ça, Yves Kle in in icio u u m a série de m ovim en t os
crít icos n o que d iz respeit o aos gén eros art íst icos con ven cion ais: várias p in t u ras
idên t icas m on ocr om át icas azuis ( o p igm en t o pat en t eado com o Az jil'In t cr n a cio n a l
Kle in ) ven didas en t ão p o r diferen tes qu an t ias; p in t u r as feitas p d r m eio de t raços ,
deixados p o r corp os lam bu zad os em t in t a azu l; p in t u ras rcíílizadas co m fogo. U m
dos p rim eiros.esforços m ais claram en te id en t ificad os dessa t en d ên cia con ceit u ai veio
com a exp osição de Kle in in t it u lad a " O vazio ", em 1958, na galeria ír is Cle r t , em p
Paris. Visit an t es — recebidos, n o d ia da abert iu'a, p o r u m a ban da m ilit a r con t rat ad a
para a ocasião — passavam através de u m a co r t in a t in gid a dc Az u l In t er n acio n a l Kle in
10
Robert Rauschenberg
Desenho de De
Kooning apagado
1953
Si nai s de t i nt a e cr ayon
sobr e papel , cont endo
unna l egenda
manuscr i t a enn t i nt a, e
mol dur a f ol heada a
our o
64, 14x55, 25
San Fr anci sco l yi useum
of Moder n Ar t
Aqui si ção por mei o de
doação de Phyl l i s
Wat t i s
11
S a d a m a s a Motonoga
Água 1956
Co mo f oi r econst r uí do
par a a Bi enal de
Veneza de 1987
(Pegadas de Aki r a
Kamay ama e m pri mei ro
pl ano, embai xo de
Agua)
12
Píero M a n z o n i
Mer da d'artista n. 20
Met al e papel
4, 8x6, 5.
Col eção par t i cul ar ,
Mi l ão
2
com p lem en t ad os, p r in cip alm en t e pelo t r ab alh o de Mich a el Fr ied Essa ju n ção
aparentem ente in t egrad a dc t eoria e prát ica forn eceu o p o n t o de referên cia n egat ivo
para u m a serie m u it o m ais h et erogén ea cie atividades da "n eovan gu ard a", cujos
prot agon ist as t en d iam a se con siderar crít icos cie u m status quo t an t o social c]uanto
art íst ico, que, segun do eles, englobava igu alm en t e o m ociern ism o.
U m a das caract eríst icas m a is evidentes em relação às prát icas cie vanguarda
opost as, de u m a m an eira am p la, ao m o d e r n ism o c a ab olição, p o r part e dessa
vanguarda, daquela especificidade cie m eio que m en cion am os an t er ior m en t e. Alla n
Kap r ow escreveu: " O jovem art ist a de h oje n ão t em m a is que d izer 'Eu sou u m
p in t o r ' ou 'u m poet a' ou 'u m d an çar in o'. Ele c sim plesm en t e u m 'art ist a'. Tod as as
in st ân cias da vicia sc ab rirão a ele". Esse t ip o de at it u d e t en d ia a criar u m con t ext o
m u it o abert o, bastante diverso da exclusividade apregoada piela arte m od er n a. Essa
abert ura foi bem exem plificada pelo gr u p o Flu xu s. Co m o já observado, o p r im e ir o
13
Yoko Ono
Fot ogr af i a de
per f or mance e mQui oti
14
George M a c i u n a s
Manifesto Fluxus
1963
I mpr essão e mof f set
sobr e papel
20, 3x15, 2
Col eção Fl uxus de
Gi l ber t Lei l a Si l ver man
uso d o t er m o "art e co n ceit o " su rgiu n u m t ext o cie fd en ry Flyn t , em 1961, escrit o n o
âm b it o das atividades d o Flu xu s em No va Yo r k (ain d a que o gr u p o abrangesse
t am bém artistas da Asia e d a Eu r o p a ) . Yo ko O n o envolveu-se em m u it as cias^
atividades d o Flu xu s, t an t o cm No va Yo r k q u an t o n o seu país de or igem , o Jap ão.
Essas atividades abran giam desde "p in t u r a s d id át icas" e vocalizações em eventos de
"m ú sica con cret a", até perfiarm ances. / Mgumas dessas at ividades, n o uso que Yo ko
fiizia d o seu prcSprio cor p o c na evocação das relações de p od er en tre
h o m e m / m u lh e r , prefigu ram u m t r ab alh o que seria, n u m m o m e n t o p ost erior , m ais
abertam en te fem in ist a. U m exem plo vib ran t e foi o CIÍÍ Piece, n o qu al O n o se ajoelh ou
sobre o palco en qu an t o p art icip an t es d o sexo m ascu lin o cort avam , u m a u m , co m
u m a gran de tesoura, p ed aços de sua rou p a [fig. 13].
O et lios p r ed om in an t e d o Flu xu s con st it u ía-se cie u m a m ist u r a de agu çad a cr ít ica'
e de h u m o r extravagante — co m o in t u iu D i c k H iggin s q u an d o co m e n t o u q u e jn u it o s
2 2
artistas, n o ím al da década dc 50 c com eço dc 6 0 , com eçavam a acrcciitar que "xícaras
dc café p od em ser mais belas d o que elegantes e elaboradas escu lt u ras". Esse sen t id o
da beleza p ot en cial conticfa n o que c co m u m e cot iciian o ecoa u m a lon ga t rad ição de
at ividadc de vanguarda, afastando-sc da p om p a c d o p r o t o co lo da "alt a cu lt u r a "
vin culada d iret am en t c à burguesia. U m a fot ografia de 1965 m ost ra H e n r y Flyn t c u m
colega, Jack Sm it h , p rot est an d o, ao m o d o caract eríst ico da vanguarda, na p o r t a cie
entrada d o Mu seu de Ar t e Mo d e r n a em No va Yo r k , com frágeis cartazes
pen durados em seus p escoços nos quais se liam "D e st r u a m os Mu seu s de Ar t e !" e
"D e st r u a m a Cu lt u r a Sér ia!". George
Maciu n as, o criacior d o n om e Flu xu s,
Mani f e s t o :
ressaltou as im p licações sociop olít icas
dessa at it u d e em u m t ext o p u b licad o
2, TUalTcct, or bring to a certain statc, l.v suhiccline to,
ortreatinn with.a llui. "f/uj-f/intoaniilher •.vcir!.l.".s'uuí/i. com o o Manifesto d o gr u p o , cm 1963.
3. .tfeq. To cause a discharge from. as in puriíiruj.
Ilujt (flúks), n. [ O F . , fr. L . fiuxu», h~flueTe. fluzum, to Ar r a n ja d o à m an eira de u m a colagem —
flow. See F L U E . S T ; d . F L U S H , n. (of rarii.si.J 1. Med.
a .\ or fluid discharge from the iKiweU or other ju n t am en t e com defin ições ext raíd as
C Part: esp.. an excessive and morhidi
di.-ícharKe; a.s. the h]ooáy fiux, or! d o d icion ár io para a palavras "flu x"—,
d>-senter.v. b The matttr thus <lischar«ed. i
estava o t ext o de Maciu n as [fig. 14]:
"inklkàuol •; profesupria/ Zr com m erc,cr/ izé4
CUIfure, FUKGE the wot^ M of cfea^ Livrem o m u n do da doença burguesa,
art , imil'lfion , ar, da cultura "in t elect u al", profissional c
i f í vsi oni sf i c ar t , ma- f hemaf i col ar t j _ V comercializada. I^ivrcm o m u n do da arte,
PueóE TH6 WOZl V> of "EUKor Ah/ I SM - . •'
m ort a, da imitação, da arte artificial, da
( arte abstrata... Promovam uma arte viva,
uma antiarte, uma realidade não artística,
para ser compreendida por todos, não
\ s pelos críticos, diletantes c
,p r ofission ais... Aproxim em c amalgamem .
ANP TIT^I^ AfíT,
\ s revolucionários culturais, sociais c
PrtMoh Umrt^ a r t , aníi - art , pro^ot-c
NOkl Agr E E A L I T Y +O h€
políticos cm uma frente unida do ação.
ft^hj ^raspec( t"^ ali peopíes, n o t onlij
enfies, dilefarjhí <^nd profesííonals. Agora que a parafern ália d o Flu xu s
está sendo, cia p r óp r ia, m um ificacia nas
7. Chem.ii Melai, a An.v suftstance or miiiurt- u<í?rfõ
promote fusion, e^p. the fu.sion of metais or minerais. in st it u ições dc alta cu lt u r a, m u it as das
Lomraonmelalluriiical fl.uxesarésilicaand silicatos (acidic),
lime and limestone (basic), and fluorite (neutral), b .\nv suas ativiciacics parecem t er m ais em
sutoancç apphed to surfaccs to be joined by soiderini; o'r
aeldini!, just prior to or duriní the operation, to clean and
Iree lhem írom o^nle, Ihus promoiinc their union, as ro-in co m u m com M o n t y Pyt h o n d o cjue
co m u m a fren t e u n id a de ação
lie caclr^ s of culíuraij revolu cion ária. Mas m esm o esse p o n t o
social ic foh iical revoluj-fonanes n ão deveria ser su best im ad o, pois o
ihfo unij-eol froyit &- cxcfion.
exercício lú d ico fo i u m a réplica just a à
arregim en t ação e às caract eríst icas
pretensiosas da cu lt u ra d o p ós-gu erra. N o fim cie 1961, t rab alh an d o com o p rojet ist a
na Força Aérea Am erican a, Maciu n as fo i para a Alem an h a, oncie levou ao palco
diversos eventos baseados em m ú sica e perform an ces. En t r e as pessoas co in q u em
teve con t at o estava o art ist a corean o N a m Junc Paik. N o festival d o Flu xu s em
W iesbad en , em 1962, Paik apresen t ou Zenjor head, em c]ue ele arrastava a sua cabeça,
encharcada de t in t a, ao lon go de u m r o lo cie papel O live t t i para m áq u in a de escrever,
t en d o com o pan o dc fu n d o u m a peça de m ú sica com p ost a p o r La M o n t e You n g.
A peça foi in t it u lad a Composição # 10, 1960, t en d o com o su b t ít u lo a in scrição A Bob
Morris. Young foi t am bém eciitor da Antologia d o Flu xu s, que pu blicara a peça "/ Vrte
con ceit o", de Flyn t , assim com o u m t ext o de M o r r i s . En t r e aqueles que t am b ém se
en volveram co m o Flu xu s, na Alem an h a, estava Joseph Beuys [fig. 15]. Vale a pena
cit ar a d escrição que Troeis An d ersen fez da ação de Beuys, Eurásia, de 1966,
repu blicad a na an t ologia Six Ycars de Lip p a r d :
15
Por m eio de atividades com o essa, Beuys lo go se t o r n o u u m dos m ais Joseph Beuys
proem in en t es artistas da vanguarda in t er n acion al. A in cor p or ação dc an im ais em Eurásia 1966
suas ações e atividades com o a p lan t ação de árvores, com bin ad as a extensas sessões Fot ogr af i a de ação na
de "en sin am en t o", m in ist rad as n u m a fo r m a livre, con t r ib u ír am t am b ém para que ele Tal e Gal l er y
fosse vist o com o u m a figura sign ificat iva da p olít ica cu lt u r al, especialm en t e n o que
d iz respeito ao su rgim en t o d o m o vim e n t o "Ver d e", na Alem an h a. Mas é preciso
t am bém reconhecer que, p o r m ais sugestivas e in com u n s que sejam as suas at ividades,
elas possuem u m carát er am bivalen t e. Ain d a que a ação Eurásia possa fu n cion ar
alegoricam en te, é d u vid osa a afirm ação de que os seus sím b olo s sejam "in t eir am en t e
claros". Parte d o que ocor r eu n a m od er n id ad e fo i a fr at u ra d o sim b o lism o p ú b lico,
o u o seu en fraqu ecim en t o d ian t e dos t erm os e temas da m íd ia de massa. Alegorias
com o as que for am representadas aqu i requerem , para que possam fu n cion ar, que se
recorra a um a defin ição previam en t e est ipu lad a ( "A cru z apagada sign ifica...";
"A lebre m o r t a sign ifica..."; "Go r d u r a sign ifica X"; "Fe lt r o sign ifica Y" e assim p o r
d ian t e). E isso im p lica u m a aceit ação da au t orid ad e o u , m ais precisam en t e, da
au t orid ad e d o art ist a con cebid o com o u m xam ã. Beuys t alvez ofereça, realm en t e,
u m a crít ica ao m at erialism o da sociedade de con su m o e às relações de pod er.
N o en t an t o, ao falar u m a lin gu agem de h ab ilit ação e de o p o r t u n id a d e ( co m o n o seu
argu m en t o de que "N ã o apenas uns pou cos são ch am ados, mas t o d o s ") , ele usa u m a
au t orid ad e carism át ica para estabelecer o seu p o n t o de vist a. U m a das coisas que se
p od em d izer en t ão, talvez de m o d o "p erfeit am en t e clar o ", é que Beuys pod e ser
p osicion ad o n o in t er io r de u m a t en d ên cia ir r acio n a l da arte e d o pen sam en t o
alem ães que t em as suas raízes n o fim d o sécu lo XVIII o u , m ais precisam en t e, na
ciít ica rom ân t ica ao racion alism o ilu m in ist a. A qu est ão provoca u m a d iscu ssão
sem elhante àquela p r op ost a n o in ício desse t ext o: u m a d iscu ssão sobre a n at u reza da
arte con ceit u ai, sobre a sua relação co m a crít ica, co m a an álise e co m a
desm ist ificação das ideologias que con st it u em os pilares da art e. O m o d o co m o se
con cebem as at ividades d o Flu xu s, e dc Beuys, em p ar t icu lar , co m relação à art e
con ceit u ai é u m a q u est ão, em gran d e p ar t e, de d efin ições. Se r e st r in gir m o s a
im agem que fazem os da art e con ceit u ai a u m a m vest igação, baseada na lin gu agem .
EXHI 3 I T A
assim com o in ú m eras palavras correlat as. Algu n s desses t rabalh os eram
extrem am en te aut o-referen ciais, parecen do fazer paróciia da ob sessão m od er n ist a
au t on om ia d o ob jet o art íst ico. Co m u m pé na esfera d o readyiuade, Fichário
docum en t ava o processo da sua p r óp r ia p r od u ção p o r m eio de verbetes escritos em
um a série de 4 4 fichas organizadas alfabet icam en t e: dc Acid en t es a Tr ab alh o, d o
m o m en t o de con cep ção ("en q u an t o t om ava u m café na Bib liot eca Pt ib lica dc N o va
Yo r k ") ao p r ó p r io ato da com p r a d o fichário.
U m a área cen t ral da d isp u t a entre o m o d e r n ism o e a van guarda m ais diversificada
d iz respeit o ao status d o est ét ico. N ã o seria exagero afirm ar que, para os m od ern ist as, ^
26
t ) elem en t o est ét ico era o ob jet ivo e a fin aliciade lilt m ia da art e, a sua ú m ca e
apropriad a área de com p et ên cia. N o caso d o Flu xu s, o que estava em jogo era m en os
-u m a rejeição à n oção d o est ét ico d o que a am p liação d o raio dc ação dc suas
referên cias para além da especificidade d o m eio e da h a r m o n ia for m alm en t e
con st ru íd a da p in t u r a m od er n ist a, alcan çan d o, p ot en cialm en t e, qu alqu er coisa — u m
ob jet o, u m som o u u m a ação. N a arte con ceit u ai m a is recente, a qu est ão ligada ao
est ét ico foi estrategicam en te colocacia en tre parên t eses: n ão t an t o u m ob jet ivo da
arte crít ica, mas u m tem a a ser apon t acio p or ela. U m dos p on t os p r in cip ais d o
debate rclacionava-se a qu em com p et ia d izer se algo era ou n ão u m a obra de art e, se
tiiaha o u n ã o u m valor est ét ico. Essa qu est ão assom brava a arte desde a segunda
d écad a d o sécu lo XX. E m 1963, M o r r i s volt ou -se d iret am en t c a ela. A ob ra Litanisa,
m ost rad a em sua p r im eir a exp osição in d ivid u a l em No va Yo r k , con st it u ía-se de u m a
caixa cobert a de ch u m b o con t en d o u m bu raco de fechadura e u m m o lh o cie chaves —
para sempre fora d o alcance u m d o o u t r o (e assim apreendencio algo d o carát er
p oét ico associado aos p r im eir os objet os en igm át icos p r o d u zid os p o r artistas com o
Du ch am p , os surrealistas c, m ais t arde, Jasper Joh n s). A obra fo i com p rad a p o r
Ph ilip Joh n son , que n o ent.anto at rasou o pagam en t o, d an d o a M o r r i s , co m isso, a
o p o r t u n id ad e de in vert er a est rat égia d u ch am p ian a de con ferir u m status de arte a
objet os origin alm en t e p r o d u zid o s para ou t ros fins. M o r r i s co n st r u iu u m a peça
form ad a de duas partes: d o lad o d ir eit o , u m a im p ressão plan a em ch u m b o das
Litanias, t irad a a p a r t ir de dois ân gu los, fr o n t al e lat eral ( co m o u m a fot ografia
reservada para arcjuivos p o liciais), à q u al ele d eu o n om e de "O b je t o expost o A".
A esquerda cia fot ografia, mas en cerrada na m esm a m o ld u r a que circu n d ava a ob ra
com o u m t o d o , havia u m a folh a d at ilografad a, assinada p o r M o r r i s e co m firma
recon h ecida p o r u m t abelião. Sobre o papel, lia-se: " O abaixo assin ado, Ro b e r t
M o r r i s , n o papel d o co n st r u t o r cia est ru t u ra de m et al in t it u lad a Lit an ias, descrit a n o
O b je t o Exp ost o A anexo, p or m eio desta revoga em relação à referida est ru t u ra
qualquer qualiciade e con t eú d o est ét icos e declara que, a p a r t ir dessa data, a referida
est ru t u ra n ão t em tais c]ualidadcs e con t eú d o. Dat ad o 15 de n ovem b t o de 1963" [fig.
16]. Se a au t orid ad e d o art ist a fosse t od o-p od er osa, e se realm en t e fosse ve r d a d e ir o ^
afirm ar, com o fez D o n a l d Ju d d , que, "Se o ar t ist a d iz que algo é art e, en t ão isso é
ar t e", a alegação valeria t an t o para u m , q u an t o para o o u t r o lad o. M o r r i s está na
verciade d izen d o cjue, de m o d o sim ilar, se o art ist a dissesse que algo n ão era art e,
en t ão esse ob jet o n ão seria u m a obra de art e.
17
Frank Stella
est ru t u rar u m a crít ica aos pressupost os d o m o d e r n ism o art íst ico, em p ar t icu lar ao
seu foco exclusivamente d ir igid o ao est ét ico e às reivin d icações de a u t o n o m ia da art e.
O crít ico Clem en t Green berg, d iscu t in d o as origen s d o m o d e r n ism o n o fim d o
séctdo XIX, fala de u m processo de "in versão d ialét ica". Ele referia-se ao
d esen volvim en t o paradoxal n o q u al os artistas se lan çaram à t en t at iva de en con t rar
novas m aneiras de representar o seu m u n d o , o m u n d o m o d e r n o dos bulevares, cafés-
con cert o e est ações de t r em , e t e r m in a r a m p o r p r o d u z ir u m a art e de efeitos visuais
au t ón om os. Pode-se d izer que ocor r eu exatam ente o con t rário co m a art e con ceit u ai.
Afirm ações com o a de que a p in t u r a "apelava som en t e aos o lh o s" e que a "co n d içã o
p r im o r d ia l" da arte visu al era ser feita para ser olh ad a t orn aram -se t em a de u m n ovo
t ip o de reflexão. E o paradoxo, desta vez, con sist ia cm que, levan tan do-se qu est ões
co m relação à arte au t ón om a, abriu-se u m regist ro de qu est ões m u it o m ais am plas; o
m u n d o m o d er n o com eçou a r et or n ar ao foco de interesse da art e m od er n a.
Nin gu é m m en os d o que Jackson Pollock disse, em relação à sua art e abst rat a, que ela
era u m a resposta às demandas de u m a nova era. Mas com o é que a art e abstrat a
respon dia a esse n ovo m u n d o , c q u al a n at ureza da sua resposta, são qu est ões que se
t or n ar am cada vez m ais difusas, à m ed id a que o m o d e r n ism o se t ran sform ava em
"ab st ração p ict ó r ica". Nas con d ições em ráp id a t r an sfor m ação da d écad a de 6o ,
m u it os artistas t orn aram -se cét icos q u an t o ao que estava com eçan d o a assum ir a
aparên cia de u m a en carn ação m od er n a da arte pela art e. Co m o observou Claes
O ld én b u rg: "Sou a favor de u m a arte que faça algo m ais d o que sentar sobre a
p róp ria bu n d a n u m m u seu ". O t it u lo de im ia exp osição m on t ad a cm 1995 expressou
a nova ord em do dia: a arte con ceit u ai im p licava "Recon sid erar o o b je t ( iv) o da a r t e"
— o u seja, im plicava levantar qu est ões co m respeit o aos produtos da at ividade art íst ica e
aojiropósito da arte em relação à m ais am pla h ist ória da m od er n id ad e.
STELLA E O MINIMALISMO
A obra dc Fran k Stella representa o p o n t o cr u cial da frat u ra en tre o m o d e r n ism o e as
variadas prát icas con t ram od crn ist as de vanguarda c|ue deram or igem à art e
con ceit u ai. Já em 1959, St ella exib iu telas de
u m a abst ração t ão com p let a, e que
afirm avam a lógica m o d er n ist a cia red u ção
de m an eira t ão en fát ica, que chegavam a
an ular o o u t r o com p on en t e d o m o d e r n ism o
— a realização d o efeito expressivo. Suas
"Pin t u r as Ne gr a s", com post as de listas
pretas regulares acom p an h an d o o fo r m a t o
da tela — a t in t a aplicada plan a co m u m
p in cel dc d ecorad or —, in cor p or avam u m a
lit eralid ad e que am eaçava o aspecto
evocador da p in t u r a m od er n a m esm o
co n d u z in d o o seu m at er ialism o a u m n ovo
pat am ar. Esse m o vim en t o con firm ou -se à
m ed id a que St ella passou a usar t in t as cada
vez m ais art ificiais — alu m ín io, cobre —; à
m ed id a que au m en t ou a espessura dos
chassis até a p in t u r a se t o r n a r u m a laje
fixada paralelam en te à parede; e, acim a de
t u t io , en qu an t o trabalh ava a p r óp r ia t ela,
fazia entalhes e cort ava ân gu los e arestas
laterais de m o d o que a fo r m a d o t o d o
ecoasse a fo r m a in t er n a [fig. 17].
Essas obras, sign ificat ivam en t e, for am
defen didas t an t o pelo crít ico m od er n ist a
Fr ied q u an t o pelo escu lt or m in im a list a
D o n a ld Ju d d . Em u m a das suas t en t at ivas
para for jar u m a lin gu agem p r óp r ia para a.
p in t u r a m od er n a, n o ensaio "Sh apc as
Fo r m ", Fr ie d ar gu m en t ou que, ao eh m in ar a
lacuna entte a "fo r m a lit e r a l" da p in t u r a e a sua "fo r m a p in t a d a ", St ella alcan çou
uma un idade nova c m ais vigorosa, capaz dc p r o d u z ir u m a con vicção de valor
estético n o espectador. Para Ju d d , n o en t an t o, a lição parece t et sid o o op ost o.
N a sua op in ião, a p in t u r a de Barn et t N e wm a n e, ciepois dele, a de Ken n et h N o l a n d
t eriam levado a abst ração a u m n ovo pat am ar de in t egriciade e u n id ad e, que t eria
com o result ado, n o en t an t o, o fim da p in t u r a. Isso era t u d o que se p od eria fazer co m
uma superfície ret an gular paralela à parede. A ênfase de St ella na lit er alid ad e d o
suporte da p in t u r a p o r m eio das suas marcas profu n d as c de suas telas m old ad as
apontava para algo diverso: O-ato de t ir ar a obra da parede e in seri-la n u m espaço
29
t r id im en sion al. O result ado foi um a arte que Ju d d ch am ou de "O b je t o s esp ecíficos",
e que o m u n d o veio a conhecer com o m in im a lism o .
Para Fried isso equivalia a u m a d eclaração de guerra ao m o d e r n ism o — a in vasão,
n o âm b it o da art e, d aq u ilo que ele ch am ou de "t eat r alid ad e": u m t ip o de
perform an ce t eat ral con fron t ad a p elo espectador in co r p o r a d o à ação, n u m esp aço
lit er al e n u m t ein p o real, e n ão u m a elevação que resgata dessa con d ição o espectador,
lan çan d o-o em u m in st an t e de "p r esen t ificação" est ét ica. De acord o co m Fr ied , a
arte m od ern a t in h a com o caract eríst ica an ular o t em p o, d o m ín io da con t in gên cia;
deste m o d o , p o r t a n t o , red u zir a arte à con d ição de t u d o o m ais era algo com o u m a
t raição. Para m u it o s da geração de m eados dos anos 6o , p o r ém , essa t raição n ão
existia. Ela era, isso sim , u m r ep en t in o e fu n d am en t al m o vim e n t o de abert u ra da art e.
Esse fo i o u t r o daqueles m om en t os sat urados, t a l com o o o co r r id o p o r volt a de 1910-
15, qu an d o a arte abstrata, t od a ela fo r m a e essên cia t ran s-h ist órica, r esu lt ou n o
rcaAymadc, t o d o ele con t in gên cia e con t ext o. O ob jet o m in im a list a, ob jet o lit er al em
u m espaço real, d espojad o de qu alqu er co m p o sição e in t erven ção realizadas p o r
m eio da h ab ilid ad e m an u al d o art ist a — beco sem saíd a para a p r eocu p ação m od er n a
co m a for m a, atravessou o espelho e rap id am en t e deu or igem à an t ifo r m a: a obra de
arte com o qu alqu er coisa, p ed aços de lixo, felt ro, m at éria in d iferen ciad a, e até m esm o
n en h u m a "coisa", exccto ações e "id eias". Ma is u m a vez, com o q u an d o d o in ício da
abst ração, os p arâm et ros desse cam po pareciam t er sid o m apeados em u m m o m e n t o
— a p r im eir a m etade dos anos 60 — q u an d o o m o d e r n ism o r esu lt ou n o m in im a lism o
qu ê, p o r sua vez, resu lt ou na a n t ifo r m a . Esse m o m e n t o pod e ser vist o, agora, co m o o
p er íod o p r op r iam en t e d it o dc gest ação da art e con ceit u ai.
Pr NTURA
30
passado; podia-sc ser levado p o r essa con vicção a u m estado dc "gr a ça " e, p or ,'
^ im p licação, para fora de u m m u n d o m arcad o pelo t em p o , pela d ecad ên cia e pela
m o r t e. Para Lu cy Lip p a r d , n o en t an t o, a p in t u r a de O l i t s k i era u m "m u z a k visu al".
Lem brem os que, para os p r im eir os crít icos c artistas m od ern ist as, a_con dição da
m ú sica era algo a ser alm ejad o, u m a lib ert ação da arte q u an t o a sua forçosa
vin ct dação a u m a n arrat iva lit erária. A abst ração oferecia a esperan ça de u m
equivalente visual da m ú sica, u m a arte livre. "M u z a k " c o n om e d ad o à m ú sica
am bien t e, d o t ip o t ocad o com o fu n d o t ran cjú ilizad or em elevadores, aerop ort os e
superm ercados. Essa m ú sica serve a u m fim ; ela c u m au xiliar d o con su m o. Ver a arte
m od ern a com o u m m u zak visual era, deste m o d o , u m a afirm ação de que essa arte era
clien te de um a est ru t u ra de p od er en cobert a. Para m u it o s, o m o d e r n ism o se t or n ar a
n ão o representante d o est ét ico em u m m u n d o ciegradado, mas, precisam en te, u m a .
id e o lo gia an est ésica.
o com en t ário de Lip p a r d era o ju lgam en t o de u m crít ico. Mas os p r im eir os
artistas con ceit uais já analisavam, e até m esm o parod iavam , em sua prát ica cie art e, a
les Olitski abst ração. E esse fo i t am bém u m fen óm en o in t er n acion al, com o tantas out ras
J3S vezes desarmado
t a acríl i ca sobr e t el a
i 3, 3x 666, 8
et ropol i t an Mus eum
Art
j ação do Sr . e Sr a.
T h e conl ci i t of i hi s i xi i i i t i ng
j gene M. Schwar t z
is i nvi si bl c; l he chai acl c r
and ( l i mc ns i on of t he ccxi l cni l
ar e t o I x: kept pcr mai í ei i l l y
. secr et , k n o wn onl y t o l he
lei Ramsden
ar l i sl .
intura secreta
J67-8
ijitex sobr e t el a
, 12x122
:pÍ3 f ot ost át i ca
xl 22
•;ção Br uno
i l i of berger, Zur i que in cursões da vanguarda. N a In glat erra, já em 1965, Mich a e l Bald win est icou u m a
folh a dc m at éria plást ica sin t ét ica e reflexiva, para p r o d u z ir "p in t u r as espelh o" — o
m o n o cr o m o absolut am en t e sem m ist u r a que capturava o m u n d o que passava d ian t e
dele na sua su perfície pu ra. M e l Ram sd en p r o d u z iu , em No va Yo r k , em 1968, u m a
tela sobre cu jo fu n d o cin za foram t rabalh ad os, p o r m eio de est ên cil, os n ú m eros
"9 4 %" e "6 %"; a tela fo i en t ão in t it u lad a 100% Abstrata. Pou co antes, ele havia
parod iad o t am bém a m íst ica que acom pan h ava a abst ração em Pintura surda
( 19 6 7/ 8 ) . N u m t r ib u t o ao m o m e n t o origin ário da abst ração, o t r ab alh o con sist ia
n um a obra em duas partes — u m quacirado n egro e u m t ext o anexo n o qu al se lia:
" O con t et id o dessa p in t u r a é in visível; a n at ureza c as d im en sões d o con t eúcio devem
ser m an t idas perm an en t em en t e em segredo, con h ecidas apenas d o ar t ist a " [fig. 19].
Tam b ém em 19 6 7/ 8, na Califór n ia, Joh n Baldessari p rociu ziria u m a série de p in t u r as
form adas de cit ações ext raídas da crít ica de art e o u de livros d ed icad os à art e,
reprod u zid as na escala cia abst ração m od er n ist a [fig. 20 ] . N a Alem an h a, liem t o d a a
arte era refém d o m ist icism o : cm 1969, Sigm ar Polke p a r o d io u o gén ero c:om
Instâncias superiores ordenam: pinte o canto direito dc preto! [fio. zi'j. •
IDEIAS
ARE THE EDGES OF THE PI CTURE DRAWN I NTO THE Instâncias superiom
ordenam: pinte o a-
PI CTURE I TSELF ? ANSWER THESE QUESTI ONS FOR direito de preto! 191:
m od er n ism o se ergueu com o um a art e das sen sações, algo que aspirava a reter o
apren dizado e a lit erat u ra n o n ível das em oções. Mas agora a d esvin cu lação de arte e
in t elect o parecia cada vez m ais suspeita. A ideia passou a ser o cen t ro. A crise d o
m od er n ism o e a p roliferação de m ovim en t os in u sit ad os dc vanguarda im p licavam a
necessidade de levantar qu est ões em relação ao "o b je t ( i v) o " da art e; o que fp ],feit o _
de m o d o cru cial, n ão p o r acad ém icos, crít icos, h ist oriad ores o u filósofos, mas pelos
p róp rios artistas. A t eoria, p o r assim cfizer, torn ava-se u m assun to prát ico, o '/
Temas en volven do a represen t ação e a p ercep ção ad c]u irn am u m papel cen t ral.
O art ist a h olan d ês Jan D ib b ct t s p r o d u z iu um a série dc "co r r eçõ es de perspect n 'a" ao
t raçar lin h as n u m a parecie recuada, o u sobre o p lan o dc u m a paisagem , de t al m o d o
que, q u an t o fot ografadas, cias dessem a im p ressão de u m qu ad rad o paralelo ao p lan o
da fot ografia [fig. 23]. Em fòfo/n/Art, Vi c t o r Bu r gin fo t o gr afo u u m p ed aço d o ch ão de
u m có m o d o , am p lian d o as fot os m o n o cr o m át ica s até u m t am an h o n at u r al c
colocan d o-as en t ão n ovam en t e sobre o ch ão o r igin a l. Afirm a-se que as "P r o t o -
in vest igações" efe Joseph Ko su t h — placas dc vid r o , luzes n eon c obras com post as
en volven do objet os, fot ografias c palavras [fig. 24 ] — for am realizadas
con ccit u alm en t e — com o "id eias" — já
22
em 1965, em bora só t en h am sid o
John L a t h a m
exibidas m ais à fren t e. Seja com o for, V
Arte e cultura 1966
as obras são representativas de u m a \
Assemblage: mal a d
I in d agação con ceit u ai em relação ao cour o cont endo livro,
car t as, cópi as
o b jet o art íst ico. Em Um c cinco relógios,"
f ot ost át i cas et c. e
Uma c ires cadeiras c obras an álogas, pequenos f rascos
Ko su d i ch am ou a at en ção para a r ot ul ados cont endo
e l í qui dos
relação en tre u m ob jet o físico e 7, 9x28, 2x25, 3
diferen t es t ip os de rep resen t ação desse The Mus eumof Moí
Ar t , Nova Yor k
o b jet o : visu al, n o caso das fot ografias,
Bl anchet t e Rockef e:
verbal, n o que d iz respeit o às Fund
. . ^ . , •b).<i.i-..i.--.»<ti.>.í[™,.i
A o í / ' n 12 Í N •
t" 2- / " » \\- z::\:íi.X::z::iitM:iÁ..r^
•9 (-9 - V— 3 - : 5=: r ,™,::2". i „ - . - ; r . - i „ ; ; i - ^jj^~.^-ri£ír^f.^^ s: „7: r„í -: i ; , ' r-, ri í ; : . ' . ; i í -Ji -
\• \ ; ri . -; =vrr; i -. ' ! rrj -_-j í : í r; ~ : ' l Hl HE i 4 - i £ x '^::Th".^-:i^j'-.C-zr^
{ DESMATERIALIZAÇÃO ^
Em final dos anos 60 , Ko su t h , ju n t am en t e com Ro b er t Barry, Dou glas H u cb le r c
• Lawren ceW ein er, associou-se ao marchand Scd i Siegelaub, p r o d u z in d o u m t rab alh o
que indagava o que, exatam ente, era u m a exp osição, o que fazia u m art ist a e os
lim it es d aq u ilo que p od eria ser t id o com o u m a obra dc art e. Siegelaub desafiou as
expectativas con ven cion ais ao organ izar exp osições t]uc in ver t iam a relação usual
35
entre a obra exposta e o cat álogo. N a exp osição Janeiro, cie 1969, cn c]uan to algun s
exemplos m at eriais de obra eram m ost rad os em p r éd ios alugados, o verdacieiro
e s p aço da exp osição era o catálo gcSí^ quc, nos t erm os dc Siegelaub, t or n ou -se
in form ação "p r im á r ia " e n ão m ais "se cu n d á r ia ". Em u m a t r an sfor m ação n ot ável, a
obra de arte passava a ser vista com o "in fo r m a çã o " que se p od ia fazer circu lar m ais
eficien tem en te através cio m eio con st it u íd o p o r t ext os e fot ografias d o que p o r
in t erm éd io d o t r an sp or t e cie objet os m at eriais p r o p r iam en t e d it o s.
A afirm ação de que a t en d ên cia que um a a vanguarda con ceit u ai era a 25
Mel B o c h n e r
"d esm at er ialização" cio o b jet o art íst ico — u m a tese an t ecipada p o r Lu cy Lip p a r d c
Desenlios e outras
jo h n Ch an d ler em Arts Magazine em fevereiro dc 1968 — fo i est im u lad a, precisam en t e, coisas visíveis que IT:
pelo t rabalh o desses art ist as. O exem plo m a is lit er al dessa est rat égia cie têm necessariamenli
cie ser vistas comos:
"d esm at er ialização" nos é for n ecid o pela obra de Ro b e r t Barry. Ele com eçou 1966
p en d u ran d o pet]uenas telas m o n o cr o m át icas em p on t os d íspares cia parede da Quat r o cader nos d
galeria, c]ue, em e x p o s i ç ã o , p a re c i a m f ol has sol t as i dênti ccí
c om as mes mas 1
colocar em m o vim e n t o o esp aço en tre f ot ocópi as de not asc
elas. Dep o is passou a lid ar com fios. at el i ê, esboços e
di agr amas escoHi i do;
Não intitulado, dc 1968, com preen cic u m
f ot ocopi ados pel o
fio de n ylo n estenciido pelo peso de u m art i st a e expost oser
disco de aço, alon gan do-sc de m an eira quat r o bases
30 x 28 X 10 fi chai :;:
quase in visível, a p a r t ir d o t et o. O s fios 30, 5x63, 5x91, 4
con st it u íam o p o n t o m á x i m o q u e a bases
Cor t esi a da Sonrat ; '
m at éria sólid a p od eria at in gir n a esfera
Gal l er y, Nova York
da t ran sp arên cia. O p r ó xim o passo era,
n u m cam in h o kSgico, o gás. A série Gás 26
inerte, dc 1969, u t iliz o u gases com o C h r i s t i n e Kozlov
36
ch ão, com um a lata co m u m dc t in t a aerossol" (Afir m ação 017, 1968). Par t in d o
dac]uiIo que fora o seu t r ab alh o an t erior, W ein er com eço u t am bém a rem over
m at éria, ao invés de in st alá-la: "U m a r em oção i m x i m d o reboco o u d o estuque o u
d o revest im en t o dc u m a pared e" (Declar ação 021, 1968) [fig. 28 ]; "U m a rem oção em
for m a de qu ad rad o de u m tapete em u so" (Declar ação 0 54, 1969). A caract eríst ica
in co m u m que W ein er i m p r i m iu a esse t ip o de t rab alh o, a p ar t u ' de 1969 — q u an d o se
p u b lico u , pela p r im eir a vez, o cat álogo Janeiro, de Siegelaub —, foi anexar a cada
Declaração u m apên d ice t ríplice: " i . O art ist a t e m a p ossib ilid ad e de co n st r u ir a
obra. 2. A obra pode ser fabricada; 5. A obra n ão t em dc ser con st r u íd a." O u seja, a
. "o b r a " está na ideia. Ela n ão t em de ser fisicamente
realizada para ob t er o status de u m a "o b r a de ar t e".
E, além disso, se ela fosse fisicamente realizada, a
1
realização n ão t eria de ser feit a pela m ão d o art ist a.
Nesses p r im eir os t rabalh os, W ein er in vest igou os
lim it es de algum as premissas cen trais q u an t o à
n at ureza dos artistas e das obras de art e, ain d a que
parecesse estar realizan d o t ão p ou co. E n isso reside,
se n ão a "a r t e ", pelo m en os m u it o da atitucic que
dava à obra o seu ím p et o. E m algum as das obras
m ais in st igan t es das p rim eiras m an ifest ações da art e
con ceit u ai, pode-se sen t ir u m tênUe vest ígio de u m a
serenidade zen , aliada a u m a espécie curiosa de
h u m o r , que t an t o absorveu aqueles em t o r n o de
Cage nos idos da d écad a de 50, d ifcrcn cian d o-os das
ações d ion isíacas d o expression ism o abst rat o.
A at it u d e de certa fo r m a relaxada da con t r acu lt u r a
m ais am pla, a sua caract eríst ica ligeiram en t e
n óm ad e, assim co m o a p ost u ra u n iversal de
resist ên cia ao b r ilh o c ao con su m o, pairavam sobre
m u it as das m an ifest ações con ceit u ais. U m a varian t e
inglesa ocorre na leit u r a que Ke it h Ar n a t t fez da
d esm at erialização — o seu Auto-cnterro, de 1969 [fig.
29 ]. Ar n a t t escreveu que "a referên cia con t ín u a ao
desaparecim en to d o ob jet o de art e t rou xe a m i m a
su gest ão d o even tual desaparecim en t o d o p r ó p r io
a r t ist a ". Auto-enterro é u m ret rat o ir ón ico d o d est in o
d o au t or m od er n ist a nas m ãos da arte con ceit u ai.
REPETIÇÃO ^
"Ar t e con ceit u ai", com o n om e, su rgiu pela p r im eir a vez cm 1967, q u an d o Sol
Le W i t t p u b lico u os seus "Par ágr afos sobre a arte co n ceit u ai", na Artfonmi, n o verão
daquele m esm o ano. Le W i t t estivera p r o d u z in d o est ru t u t as m od u lat es em três
dim en sões d u ran t e algu m t em p o , e estava pat a envolver-se co m os desenhos de
parede que, ju n t os, co n t in u ar iam a fo r m a r o cen t ro da sua p r od u ção [fig. 30 ].
Nen h u m a dessas obras se apoia sobre con ven ções com o o t r ab alh o artesan al o u a
t r ad icion al au t oria art íst ica. As con st ru ções c os desen hos, uns com o os ou t r os, são
fabricados p o r assistentes que seguem as in st ru ções de Le W i t t . Seus "Pa r á gr a fo s"
37
con st it u íram a afirm ação can ón ica dc u m a abordagem con ccit u alist a un iversal: "N a
arte con ceit u ai, a ideia ou con ceit o é o aspecto m ais im p o r t a n t e da ob ra. Q u a n d o u m
art ist a se u t iliza cie u m a fo r m a con ceit u ai em art e, isso sign ifica que t odas as^dccisõcs
e plan ejam en t o são feit os de an t em ão e a execu ção é u m assun to p er fu n ct ó r io "i
Co m o clc declarou : "A ideia t orn a-sc a m áqu in a que p r o d u z a ar t e". . ^
Le W i t t , n o en t an t o, t en t o u evitar que a sua n oção dc arte con ceit u ai fosse '
associada a u m t ip o dc aridez in t elect u al, ao fazer afirm ações com o "A arte
con ceit u ai n ão c necessariamente ló gica" e "As ideias n ão têm de ser com plexas.
A m aiorias das boas ideias é r id icu lam en t e sim p les". De fiito, para Le W i t t , com o
en fat izado nas "Sen t en ças sobre art e co n ceit u ai" dc igóg escritas logo d epois, os
"art ist as con ceit uais são m ais m íst icos d o que racion alist as. Eles p roced em p o r
saltos, at in gin d o con clu sões quo n ão p od em ser alcan çad as pela lógica, lu lgam en t os
racion ais repetem ju lgam en t os racion ais. Ju lgam en t os ilógicos levam a novas
exp eriên cias". Essa d escon fian ça peran te o racion al n ão deveria causar surpresa, u m a 28
L a w r e n c e Weiner
Fot ogr af i a da
i nst al ação na
exposi ção de 5 a31í í
j anei r o de 1969
Col eção e arqui vos
Si egel aub da Funda; ;
St i cht i ng Egr ess,
Amst er dã
29
Keitli Arnatt
Auto-enterro (Projetc
interferência televis.
1969
J
w- T v em D ú sse ld o r f em 1971, u m volu m e fo i 160x 305, 4x 233
Tat e
31
H a n n e Darboven
/
ANÁLISE
^ y^ A abordagem de Joseph Ko su t h fez-se cada vez m ais agu çad a, forçan d o o r i t m o em
lim a série de obras que se t o r n a r a m ícon es da arte con ceit u ai. Em 1967 ele exib iu
obras d o t am an h o de p in t u ras — "Pr im e ir a in vest igação" —, con sist in d o n ão de
imagens visuais em qu alqu er fo r m a, mas de palavras: negativos de cóp ias fot ost át icas,
bran co sobre p r et o, t razen d o as defin ições d icion arizad as de m u it o s dos t er m os-
chave presentes n o debate sobre a n at ureza e status da art e m od er n a — "sign ificad o ",
"o b je t o ", "r ep r esen t ação", "t e o r ia " [fig. i ] . Co m o se n u m recon h ecim en t o d o eco
ain da presente da p in t u r a, Ko su t h , n u m a rad icalização p ost er ior da sua est rat égia,
rejeit ou nos anos seguintes o pan o de fu n d o n egro das cópias fot ost át icas, passando
a in serir verbetes lexicais em lugares an t er ior m en t e n ão associados à at ividade
art íst ica, com o cartazes de m u ros da cidade e seções de propagan da nos jor n ais.
O su b t ít u lo de Ko su t h , "Ar t e com o ideia com o id eia", ap on t a a n at ureza
am bígu a dessa t en d ên cia em relação ao m o d e r n ism o . A frase é t om ad a de A d
Rein h ard t , cujas p in t u r as, na sua lógica im p lacável, represen tam u m caso lim it e n o
m od er n ism o. Ab solu t am en t e ign orad o pelos crít icos green bergian os, Rein h ar d t
lealizou a proeza im provável dc ju st ap or u m a in t ran sigen t e p olít ica dc esquerda co m
um a arte abstrata cru elm en t e desbastada. As suas p in t u ras negras fin am en t e
h arm on izad as, dos anos 60 , quase, mas n ão in t eiram en t e m on ocr om át icas — u m a
cat act et íst ica que se revela apenas à con t em p lação p rolon gad a e de fat o in visível em
rep rod u ções fot ográficas —, for am con cebidas de acord o co m u m a r u b r ica exclusiva:
"H á apenas u m a coisa a ser d it a sobre a art e: e a ú n ica coisa a ser d it a sobre a arte é
qiãe èiã é u m a coisa. A arte é art e-pela-art e e o resto é o r est o". O exem plo avesso à
VOLUME I NUMBER 1 MAY 1969
Art -Lan g u ag e
The Journal of conceptual art
Edited by Terry Atkinson, David Bainbridge.
Michael Baldwin, Harold Hurrell
Contents
Introduction I
Sentences on conceptual art Sol LeWitt 11
Poem-schema Dan Graham 14
Statements Lawrence Weiner 17
Notes on MI (1) David Bainbridge 19
Notes on Ml Michael Baldwin 23
Notes on Mi (2) David Bainbridge 30
A r t & L a n g u a g e Press 84 J u h i l e e C r e s c e n t , C o v e n t r y C V 6 3 E T
34
Quando atitudes
tomam-se forma
Fot ogr af i a da
i nst al ação na
exposi ção do Instilnte
of Cont empor ar y Arts,
t ondr es, 1969 ( com
Fototrilfia de Vi t or
Bur gi n no cent r o em
pr i mei r o pl ano)
35
Keith Arnatt
Peça Calça-Palam
1972
these ways are both nurnerous ior particular kinds ol ihing*. and liabte Fot ogr af i as sobr e
to ba quite diHetom (or Ihings of diflerenl kinds. It is ihis identity ot
general lunction combined wilh immense divcrsily in spccific applico- • ART I S I ^ car t ão sobr e Perspei
tions which gives 10 lhe wofd 'real' lhe, at fifsi sighl, baffling leaiuie ol
having neilhor one single 'meôning.' nor yet ombiguiiy, a number ot 216, 2x183, 2
ditfeient meanings ' Tat e
John Austin. 'Senso and Sensibilia.'
11
( i . e., u m fu t u r o co n d icio n a l); c, com o u m t ip o de caso-lim it e, a afirm ação de que o
ensaio em qu est ão era, ele p r ó p r io, u m ob jet o de art e.
N a Gr ã-Br et an h a, a art e con ceit u ai "an alít ica " t orn ou -se u m a força pod erosa n o
fin al dos anos 60 e com eço dos 70 , abarcan do o t rab alh o de u m n ú m ero con sid erável
de artistas. H avia exp osições t od os os anos, in clu in d o t an t o a ret rospect iva
in t ern acion al Quando atitudes tornain-seforma, em 1969 [fig. 34], q u an t o exem plos m ais
localm en t e focados, tais com o Estruturas dc idéia, em 1970 , Exposição de parede, n a Lisson
44
Galler y em 1971, Retrospectiva da vanguarda, em 1972, e a im p o r t a n t e Nova arte na
H a ywa r d Gallery, n o m esm o ano. H avia t am b ém um a am pla variedacie de revistas,
que iam desde Art-Language, p u blicad a pela p r im eir a vez em m aio de 1969, a Control e a
Fraineworks, cm Lon d res — e out ras p rod u zid as p o r u m a geração reçém -su rgid a,
in clu in d o Analytical Art, a série d o Gr u p o de N e w p o r t , e, u m p ou co m ais t arde, em
m eados da d écad a de 70 , Issue, Ratcatcher e Ostricb, a iilt im a delas relacion ada a u m a
in iciat iva d o Ar t e & Lin gu agem que visava em preen der u m t r ab alh o crít ico nas
in st it u ições de en sin o da art e, sob o t ít u lo abtan gen te de -Vf/;oo/. Boa part e dessa ob r a
m ais recente com eçou a dar co r p o a um a crít ica à in st it u ição da art e, volt an d o-se, na
segunda m etade dos anos 70 , para u m a esfera além da arte — u m a rede de prát icas
radicais n o âm b it o da cu lt u r a c da p olít ica. A fase an t erior, n o en t an t o, viu su rgir
-^ um a am pla série de obras com base n o t ext o e na fot ografia, realizadas pelo gr u p o
/ Ar t e & Lin gu agem , p o r Keit h Ar n a t t , John Stezaker, Vi c t o r Bu r gin , Mich a e l Cr aig-
M a r t i n e ou t ros. Mu it a s dessas obras suscitavam qu est ões sobre a n at ureza da obra
de art e, o papel d o art ist a c d o observad on Ar n a t t em pregou u m t ext o do filósofo
J.L.Au st in para analisar e ir o n izar as qu est ões sobre o que era
u m "ver d ad eir o" art ist a [fig. 55]. As in st ru ções dc Bu r gin
fixadas na parede im p e lia m o observad or a se t o r n a r
con scien te d o processo n o qu al ele estava en gajado naquele
m o m e n t o . Câuicra registrando a sua própria condição, de Joh n
H i lli a r d , con vid a a u m a con sciên cia m ais am pla q u an t o à
represen t ação visu al relativa às afirm ações efe ob jet ivid ad e e
"fact u alid ad e" que en volvem a fot ografia [fig. 36].
FOTO-TEXTO
A fot ografia represen t ou para os artist as con ceit u ais, desde o
in ício, u m recurso cen t ral, Ut ilizacio com frec]iiência
^^•^^J^^J^^J ju n t am en t e co m diferen tes t ip os de t ext o. Jeff W a ll a fir m o u ,
^^I ^^I ^^I ^ ^ H até m esm o, que ela fo i "essen cial" às realizações da arte
BjH H H ^ BH ^ ^ H con ceit u ai. Ele argum en t a que a vanguarda crit ica "n ã o
sentia m ais a necessidade — t al cp al a art e an t er ior — de se
d ist an ciar d o p o p u la r p o r m eio da aq u isição de h abilid ad es e
sen sibilidades enraizadas em um a exclusividade art íst ica dc cor p or ação e de o fício ".
Ma is cio que isso: "era, de fat o, absolut.am ente n ecessário n ão proceder cicste m o d o ,
mas, em vez disso, an im ar, com u m a criat ivid ad e rad ical, aquelas t écn icas e
h abilid ad es com u n s que a m od er n id ad e t o r n o u , ela m esm a, acessíveis". O cu p a n d o o
p r im eir o lugar entre essa t écn icas estava a fot ografia, e n ão a "fot ogr afia-d e-ar t e",
mas um a fot ografia am ad oríst ica e de massa. Para W a ll, o precu rsor m ais im p o r t a n t e
neste âm b it o foi Ed Rusch a, que com eçara a sua serie de livros de fot ografias em
1965, com Vinte e seis postos de gasolina [fig. 57], d a n d o co n t in u id a d e ao t em a em / l/^i(/i5
' apartamentos de Los Angeles, c Todos os prédios de Sunset Strip. A fot ogr afia co m e ço u a ser
u t ilizad a cacia vez m ais para d ocu m en t ar a variedade de ações e perform an ces que
form avam u m com p lem en t o que via crescer a sua in fluên cia no que se refere à arte
con ceit u ai m ais estreitam en te "an alít ica". At ivid ad es t ão diversas q u an t o aquelas
levadas a cabo p or Gilb e r t e George e Rich ar d Lo n g na Gr ã-Br et an h a [fig. 38],
Ro b er t Sm it h son c Bruce N a u m a n nos Est ados U n id o s, apoiavam -se, t odas elas,
sobre a fot ografia para firmar a sua presen ça, quer em exp osições, c]uer nas págin as cie
livros c revistas. O status de t odas essas atividades era m arcadam en te in st ável à ép oca
d o seu su rgim en t o. N a u m a n relata que levou u m t em p o bastan te gran de reavalian do
exatamente o t]ue u m art ist a deveria fazer, e que o seu p r im e ir o livr o con st it u ía-se de
atividades tais com o café d erram ad o, fazer voltas e voltas n o est ú d io c a ssim p o r
dian t e [fig. 59]. A ú n ica m an eira, su st en t ou ele, de cfescobrir sc algo era o u n ão art e,
estava con t id a na realização d o ob jet o o u ação cm qu est ão. N a u m a n ad m it e, n o
en t an t o, que m u it a con fu são se in st alou à m edicia que se t orn ava pat en te que a arte
"n ão requer habilidac-lcs para ciescnhar, o u p in t ar, o u con hecer as cores — ela n ão
a'equer, para ser interessante, n en h u m a daquelas in st ân cias específicas que fazem
Jjarte da d iscip lin a ". E, n o en t an t o, sem a exist ên cia de h abilid ad es o u de u m a
'r ealização dc algu m t ip o , n ão haveria nacia a com u n icar. Co m o clc observou , o que
era interessante era "o esp aço en t r e" essas duas c o n d i ç õ e s ^
Em m eados dos anos 6 0 , D a n Gr ah am envolvcu-se na p r od u ção dc obras c]uc
apresentavam u m a id en t id ad e ext rem am en t e in st ável, àqu ela ép oca. A classificação
com o arte, desses t rabalh os, era ext rem am en te am b ígu a c, n o en t an t o, a eles fo i
o
conceciicio, subsec]uentemente, u m status exem plar d en t r o cio cân on e con ceit u ai.
37
Ed Ruscha
Union, Needles,
Califórnia
(de Vinte e seis posta
de gasolina) 1963
38
R i c h a r d Long
Grah am dava curso à ocu p ação usual cie escrever t ext os e fazer crít ica — u m a área que
vivia sob a in fluên cia da poesia e da art e e que dava fo r m a à vida n o in t er io r da
vanguarda dc No va Yo r k — sem pre lu t an d o para p u b licar aq u ilo que prociu zia. Trinta c
um Ác março de ig66 era u m a obra form ad a cie on ze "lin h a s", expressando a d ist ân cia
desde o lim it e d o un iverso con h ecid o até a p r óp r ia ret in a dc Gr ah am , passando pelas
dist ân cias até W ash in gt o n DC, Tim e s Square, cm No va Yo r k, a p róp ria p o r t a cia casa
de Grah am e a folh a dc papel sobre a m áq u in a cie escrever. A m ist u r a dc u m in síp id o
lit eralism o e dc um a m cciit ação im agin at iva cheia dc pecu liaridades c argú cia,
in cid in d o sobre o processo cio olh ar o u sobre o processo cia escrita, é caract eríst ica: a
econ om ia de m eios de Grah am serve com o u m ím p et o m aio r à iciéia. Em ciuas
inversões h ab ilm en t e elaboradas da cu lt u ra dc con su m o, n o que se refere a sexo e
com pras, Grah am in seriu u m t ext o m éd ico sobre a im p ot ên cia m ascu lin a e u m a n ot a
de su p erm ercad o cm , respect ivam en t e, a New York Review of Sex c a Harper's Bazaar.
46
parece, aliás, ter acon t ccicio co m m u it o s cios p r ojct os cie Gr a h a m ) ; u m a versão fo i
p o r fim p u blicad a, de fo r m a m u t ilacia, na ed ição de d ezem b ro de 19 6 6 / jan eir o de
1967 da revista Arts. A peça c agora u su alm en t e r ep r o d u zid a d o m o d o com o está
aqui — em duas partes, de acord o co m o fo r m a t o o r igin a l id ealizad o p o r Gr ah am .
Classificar a peça — que, se n ão é exatam en te u m sim ples ar t igo de revista, t am b ém
n ão é, em t od a a sua ext en são, u m a reprociu ção de arte — co n t in u a sen do u m a tarefa
d ifícil. O t r ab allio con st it u i-se de u m a série de t r in t a e cp a t r o "b lo co s" de t am an h o
sim ilar, organ izados cm seis colun as vert icais, três cm cada "p á gin a ". Algu n s dos
blocos t razem o t ext o de Gr ah am — um a d escrição calcu ladam en t e inexpressiva dos
pan fletos de propagan d a im ob iliária e que se pod e sit u ar co m o algo en t re u m a
broch u ra e u m levan t am en t o so cio ló gico . O u t r o s blocos in clu em t ip o s diferen tes de
t ext o: u m a list a cios variacios desenhos de casas à d isp osição ( A: "A Son at a", B: " O
Co n ce r t o ") ; um a list a das p ossíveis cores exteriores (5: "Verd e Gr a m a d o "; 7: "Rosa
Co r a l") ; o resultacio cie u m levan t am en t o das preferên cias e rejeições de clien tes
m ascu lin os c fem in in os q u an t o à gam a de cores; u m su m ário alfabet icam en t e
organ izad o das p ossíveis variações dos
diferen tes estilos dc casa q u an d o
con st r u íd as cm blocos dc o it o
( A A B B C C D D , A A B B C C D D , AABBCCt )D...).
ÍNDICE
49
r .
America
D. GRAHAM
B«t l «pl ai n Gar dan City [•:;icli hoxisv iti ;i i l i vcl upi i i cnl is a lif;lilly ti>n-
Br ooki awn Qar dan Ci t y Par k sti ufl cd ' shci r altli<nij;li lliis fiicl is ullcii l ui i -
Col óni a Gr aanl awn VVAU-I\ Wikr [hi.lf-slnn.-) Ij hck w:l\U. SMh
Col óni a Manor I sl and Par k i-.u, \H- i i ddrd ..r Mi!>tr;ifli>d ci si l v. -i-li.' siaiiíli.nl
Fai r Havan Lavi t own iiiiit i' ol I :
Fai r Lawn Middi avi i l a IcTiiptu.xislv <M ll<-d •l.iIll.o^..s.• W l i f u (lie I.O -;
Oraant i al da Vi l l aga Naw City Par k h:is A sl urpi v <il.li(|LK. runfit is t^dl cd a (:;l|.<- Cnd.
Gr aan Vi l l aga Pi na Lawn W l i ci . it is' ioiincr tliaii xvi d.' il is n •rancli.' A
Pl ai nsboro Pl ai nvi aw
Pl aat ant Gr ova Pl andoma Manor
Pl aasant Pi at nt Pl aacaht al da
Sunsat Hil l Gar dan Pl aasanl vl l l a
The i ogi c rekti i i g each setl i oned pari lo tlic cn-
tire pl an foi l ows a systemati c pi a». Adt vel op-
ment coiitaiiis a l i mited. set numbcr of Í HIHM'
i nodfi s. For i nst ance, Ca[ w Coral , a Floritla prn-
j et t , i i dvcrl i scs •'•t;lit di íTercnt iiiodol.s;
slitiitf (lie iiínv ci ty, Tiit-y art' l otated cverv-
wht TC. They urc iM it |>ttrticiitarty I M U I I K I ti) c\ist-
iuf, comtnun' i (i «; tlivy fali tt^ (ltvcli)]i citlicr rc-
^ÍI»M\ sorsqwrateidcnlitx'. TUvsc A Tl i c Soiiiita
•pni j wts" dat f f rom tlk; L-m\* Wdritl War II li Ti i e Coi tccrto
wlicih insoiitlicni Calífiiniia spctiilalor.s < CTl i c Ovcrti i rc
crativf"liuildcTsadapti^d iiiass proiliicliim D Tl i c Bal l et
ii(fisi' tl)(jiijtkly liíild m:mv lioiiscs for tlit; df - E riu- Prel i .dc
fci i w wiirkt-rs ovcr<'oiici.'nÍr,it<'(l i fi erc. 'I"liis F Tlie Scrcnftdr
' Cal i fmni a Mol l mU" «msi sl i -d .sirnply ol" dctt-r- C. ']'lic Notti i i i e
iiiiiiillK >t< l uKai i cc (liL- cvact arnouti t and iciigllis i rUi f l l l i apsody
o[ *p«vps of Itm i l xT ai i d m
iilliplyiiifí llioni !)>• tlic
iliim iífr of.j 4i i i i (br<IÍ/cd IKMISCS lò ÍM- Í H I Í I Í . A
cuttiiif; yarJ was scI iip noar l he silo ol ' tho pfo-
j wt to ^awrinij;li Inmli i T iiito lluisr si/.cs. Hy
iiiass ÍHiyi ng, j^rfalcr osc of niacliiiifs and fatl ory
priKlini' <I ]>arls, assciiiltlv iinv siaiiilardi/.aliuii.
iniiilíplc iiiiils wvii- .•asily' fal>ritat<'d,
\, Cr^,^*^,
4 Seaf o^mCreei i
Tl Lawn Greei i
(i Hamhoo
7 Coral Pi nk
0(.' \ctopíTS iisnally hi i i l d, iari:*' líroiips of i ndi - H Col oni al Red
vi dual honi LS sliariiif; si m i l ar l i cor plaiis and
wli ose ovcral i yroi i pi íi g i xttsesses a di scrctc i l o«'
pl ai i . Hcgi oi uíl shoppi íi j ; ceiittn-s aiid i ndustri al
parks are soi nrt í mei iiit^grateil l u wf ! i i nl o tlic
j ;cnfral sohci i nr. E«c)i devel opi nont is sítl i oi ícd As tli<' col or seri es usnal l \ cari es i ndcpendei i tl v
i nl o hi ockcd-oi i t area-i contaíi i íng a .series oí' i<k' n- of tlie I I K K I C I scii.-s, a hl wk ofeiíílil hi mscs iitií-
lical or .se<pietitiat)y rt?late<l t ypes ofl i oi ni cs ali of i/iiiií four mudei s and l onr t ol ms might li,uc
wliicli have uiiiforin or st aceerwl sft-l »«cks atid Ibily-einlit linicíi forty-ei ght or 2.iÍ<K ixissililc ai-
l andpl ol s, ^ ranj íei nenl s.
50
•llie 8 col or \' arial>lfs wer c cíj i m l l y di^tribtited
ani oi íg tlic l i onsf cvteri ors. Tl i c first Ij uyers wer c
mor e l i kcl y to l i avc ol i tai ni d thei r (írst choi ec iii
eoi or. Fai ni l y iiiiits had to ni akc u choi ce based
on t he avui l i i bl e col ors whi ch al so t ook account
of l>otli hnshai i d and wi f es likes and di di kes.
Adi i l t mal e an<l fci nal e eol or likcs and di sl tkes
wcr e t oi npared in a si i rvey ofl l i e l i oni i -owii crs:
Mal e Femal e
SkywayBhi e
" col oni al Red Lawn Grcei i
E.itli bl ock of houscs is a sei f-conl ai i i cd scciiiiím
.c Páti o W hi t e Ni cki e
- tliere is no devel opment — sel etted froni iUv Yel l owChi non Col oni al Red
jwjísilile acct-ptable arrai i gemei i ts. As an e\ Ui wn Creeu Vel i ow Chi fToi i
ampl e, if a sectioii was to contai n eiglit housf s ol ' Ni cki e Patío W l i i te
«liich four model types wcr e to I » uscd. anv of Fawn MiKHi st one Gr cv
Iline i >ennut«ttoni J poisibílities coul d be usetl : Mouost one Gr ey Fawn
'Pá
AABBCCDD ABCDABCD
AABBDDCC ABDCABDC:
AACCBBDD ACBDACBD
AACCDDBB ACDBACDB Al t hough t hcre is perhaps some aesi hcti c pre-
AADDCCBB ADBCADBC cedci K-e ín t he r ow houscs whi ch are i ndi geníni s
AADDBBCC ADCBADCB to i nany ol der cities al ong l he east coast . and
BBAADDCX l i ACDBACD Tv- f—u„ , t v_ 5+,í^ i r,,„j_ A--/. hui l t wil l i uni f onn façadcs and set-l wcks earl y
BBCCAADD BCADBCAD tlils cei íturj ' , housi ng dc\ ' el opment s as an archi -
BBCCDDA. \ BCDABCDA tectiiral phenomenon seempecul i arl y gral i i i l ous.
BBDDAACC BDACBDAC They exi st apart f rompri or st andards of ' eood'
BBDDCCAA BDCABDCA archi tecture. They wer e not buíl t to sati sfv in-
CCAABBDD CABDCABD di vi díi al needs or tastes. The owner is compl et e-
CCAADDBB CADBCADB ly l angcnti ul to t he prmittets coi npl rt i on. Hi s
CCBBDDAA CBADCBAD líoiiie isn' t real l y poswssabl e in t he ol d j ensc; it
CCBBAADD CBDACBDA Mal e Fi i i i al e wasnt desi gi i cdto *Iast for gei íerati ons' ; and wi t-
CCDDAABJi CDAI i CDAB si<le of its i mmedi at e ' herc and i i ow' i -ontcxt it is
CCDDUHAA CDBACDBA LawnCr een Páti o W hi t e i i sei ess. desi gi i ed to l>e throsvi i away. Bot h ar-
DD. AABBCt : DACBDACB Col oni al Ked Fawi , chi tecture and eraftsi nanshi p as valiies are suh-
DDAACCBB DABCDABC Páti o W hi t e Col oni al Red \erted by tlie dependence on si mpl i fi cd and
DDBBAACC DBACDBAC Mooi í st onc Grt McKmsI mi e Gr cv easi l y di i pl i cal cd tecl mifi ues of fabri cati on and
DDBBCCAA Fawn Vdl owChi l Ton standardi zetl mo<l ul ar pi aus. Cont i ngmci es
DDCCAABB DBCADBC:A
Vel i ow Chi l l on I,aw.i t;r.-en such as mti ss producl i on tee^l nol og^• and l and
DI Xi CBBAA DCABDC;AB
Ni ekl e Sk\ wa\ e use ec<i nomics muke t he fi nal decí si ons. denyi ng
D C B A D C B A
Skvwav Bi ne Ni cki e t he archi l ect hi s fori ner ' unitiiie' rol e. Devcl op-
nieiits st and in an al tcred rel uttonshi p to thei r
ei i vi ronni enl . Desi gned to fill in dead l and
áreas, t he houscs neeí hi t adapt to or attei npt to
witlistaiid Nat nrc. Ther e is uo l i rgani e uni tv
coni i ecti ng t he l and site and t he bom.-. Bot h are
wi t bout roots — sei >aratc parts tn a l arger, pre-
det ermincd, syntheti c order.
e n fa t i z a n d o , c m seu lu ga r , a c o n s t e l a ç ã o d e
cau sas so cia is a p a r t i r cias q u a is se c o n s t i t u í a a 41
Robert S m i t h s o n
o b r a . A a ssim c h a m a d a "s o c i o l o g i a d o
O Monumento da fonte
c o n h e c i m e n t o " s u r g i u t a m b é m n essa é p o c a .
- Vista aérea
P a r t i c u l a r m e n t e s i g n i fi c a t i vo fo i u m de Monumentos a
Passaic 1967
d e s e n vo l vi m e n t o n o c a m p o d a filosofia da
c iê n c ia a sso cia cio à n o ç ã o , ciescn vo lvicia p o r Fot ogr af i a
Museu Naci onal de
T . S. K u h n , d c "r e v o l u ç õ e s n o p a r a d i g m a ". Ar t e Cont empor ânea,
A a r g u m e n t a ç ã o d e K u h n era a cie q u e o Osl o
c o n h e c i m e n t o c ie n t ífic o n ã o p r o g r i d e d e
42
m o d o c u m u l a t i v o , m a s s i m e m d e c o r r ê n c i a cie
Arte & Linguagem
u m a sé r ie d e sa lt o s. Al g u m a s b r e ch a s c r u c ia is
índice 011972
e s t a b e le c e r ia m u m p l a n o d c cst u cio s q u e
Fot ogr af i a da
c ie n t is t a s p o s t e r i o r e s c o n t i n u a r i a m a e xp l o r a r . i nst al ação na Gal eri e
Nat i onal e du l eu de
Ev e n t u a l m e n t e , as e xp e r i ê n c i a s a c a b a r i a m por
Paume, Par i s, 1994
p r o d u z i r a lgu n s r e s u lt a d o s a n ó m a l o s , q u e ,
c o m o t e m p o , c o m e ç a r i a m a a m e a ç a r a c o e r ê n c i a g l o b a l d o s is t e m a . D e p o i s d e u m
p e r í o d o d e in ce r t e z a s d u r a n t e o q u a l o s is t e m a ser ia s u b m e t i d o a u m
q u e s t i o n a m e n t o fu n c i a m c n t a l , o c o r r e r i a u m a " m u d a n ç a d e p a r a d i g m a ". A p r á t i c a
cie n t ífica t e r ia d e ser r e c o n fi g u r a d a p a r a q u e p u d e sse fo r n e c e r r e sp o st a s, b asead as e m
e xp e r i ê n c i a , p ar a u m n o v o c o n j u n t o d e q u e s t õ e s . A t e o r i a d c K u h n i n t r o c i u z i u , cicst e
m o d o , u m a ce r t a d o se d e r e l a t i vi s m o n o c a m p o d o c o n h e c i m e n t o c ie n t ífic o . N o
p l a n o c u l t u r a l , a r e vis ã o t e ó r i c a cie K u h n t eve u m i m p a c t o p r o n u n c i a d o , p a r e c e n d o
d a r s u p o r t e a u m a n a sce n t e e p e n e t r a n t e r e l a t i vi z a ç ã o d e va lo r e s.
O g r u p o A r t e & Li n g u a g e m t e n d i a a o l h a r c o m c c t i c i s m o a vo ga cia t e o r i a
fr a n ce sa , a l i m e n t a n d o - s c , ao in vé s d is s o , d a t r a d i ç ã o a n a lí t i c a c m filosofia. Mas a
t e o r i a cie K u h n p a r e cia ser i n s t a n t a n e a m e n t e a p l i c á ve l â a r t e , u m d i s p o s i t i v o
l i b e r t a d o r p a r a p e n sa r a t r a n s f o r m a ç ã o t r a z i d a p e la a r t e c o n c e i t u a i às p r e m issa s q u e
fo r m a v a m os fu n d a m e n t o s d a a t t e m o d e r n a . U m t e xt o d e A t k i n s o n c Ba l d w i n
p u b l i c a d o n a Studio lutcrimtioual, c m 1970, e xp l o r a as c o n s e q u ê n c i a s d o a fa s t a m e n t o da
a r t e c o n c e i t u a i e m r e l a ç ã o à q u i l o q u e sc d e fi n i u c o m o o "MC:POP" (O c a r á t e r m a t e r i a l
c o p a r a d i g m a o b j e t o - fí s i c o d a a r t e ) : o r e c o n h e c i m e n t o e x p l i c i t a d o p e la p r o p o s i ç ã o
52
d o Ar t e & Li n g u a g e m é d e e]iie o c r it é r i o c]iic sc u t i l i z a p a r a cla ssifica r o im in d c:i t e r á
u m e fe it o d e t e r m i n a n t e so b r e o t i p o d e m u n d o cjue se é ca p a z d c classificar .
O m u n d o , o u a a r t e , s ã o i n s t â n c i a s q u e n ã o e s t ã o d i vi d i d a s e m t i p o s n a t u r a l m e n t e
d e t e r m i n a d o s ( o b j e t o - d e - a r t e / n ã o - o b j e t o - d e - a r t e ) ; a n t e s, a n o ssa l i n g u a g e m c, p o r
e xt e n s ã o , as e s t r u t u r a s c o n c e it u a i s q u e e m p r e g a m o s a j u d a m a f o r m u l a r o q u e ve m o s
c o m o a lgo ( c o m o a r t e ; c o m o c r i t i c a dc a r t e ; c o m o p o l i t i c a ) . A r e l a ç ã o
"t r a n s f o r m a c i o n a l " d o índice d á t e s t e m u n h o d e u m a p e r c e p ç ã o s i m i l a r . N ã o é
su ficie n t e d i z e r q u e A é c o m p a t í v e l c o m B, o u i n c o m p a t í v e l c o m X ; t e m o s cjue
le va n t a r q u e s t õ e s s o b r e esse caso, l a n ç a r i n t e r r o g a ç õ e s e, a o final, ch e ga r a
t r a n s fo r m a r o p r ó p r i o f u n d a m e n t o so b r e o q u a l se a r t i c u l a m e le m e n t o s e i n s t â n c i a s
t ais c o m o c o m p a r a ç õ e s o u i m p u t a ç õ e s d e i d e n t i d a d e . O i t e m i p o d e ser u m a o b r a d e
a r t e , o I t e m z , u m a p e ç a d e c r ít ic a d c a r t e , o I t e m 5, u m a p r o p o s i ç ã o filosófica, m a s ,
ao t r a n s fo r m a r a d e fin iç ã o d i s c i p l i n a r d a q u a l d e p e n d e m a q u e la s c o m p a r a ç õ e s , é
p o s s í ve l c]ue se veja a e m e r g ê n c i a dc u m m a p a i n t e i r a m e n t e d i fe r e n c i a d o do t e r r e n o .
N e s t e caso, u m a c o n t i n u a d a p r á t ic a a r t í s t i c a p o d e , t a lve z , ser c o n s t i t u í d a a p a r t i r d o
d i á l o g o d o s seu s p a r t i c i p a n t e s , u m a "p r á t i c a t e ó r i c a " c o le t iva i n f o r m a d a p o r u m a
va r ie d a d e d e r e cu r so s filosóficos, lin gu íst ico s o u at é m e s m o d e cu lt u r a p o p u la r .
C o m o t a l , essa p r á t i c a d c a r t e n ã o t e r ia c o m o finalidade a p r o d u ç ã o d e i n fi n i t o s
o b je t o s c]ue sc c o lo c a s s e m a s e r vi ç o d o p r a z e r e s t é t ic o , n e m seria vist a cc5mo o
p r o d u t o d c u m a u t o r i n d i v i d u a l "a r t í s t i c o ". O q u e n ã o c]u cr d i z e r q u e u m s e n t i d o
t r a n s fo r m a d o d o e s t é t ic o n ã o p u d e sse p e r m a n e c e r e m a b e r t o , c o m o u m a
p o s s i b i l i d a d e . Sign ific a , isso s i m , c o n c e b e r a a r t e c o m o p o t e n c i a l m e n t e u m t i p o d e
p r á t ic a c r ít ic a , c o g n i t i va c, a c im a d e t u d o , s o c ia l, q u e p u d e sse p e r m i t i r o a lca n ce d e
u m a a u t o c o n s c i ê n c i a c r ít ic a n o m u n d o , i n fl u e n c i a n d o , t a lve z , a t é m e s m o , a
c o n s t r u ç ã o d e u m t a l m u n d o . N e m é p r e c is o d iz e r , c o n t u c i o , q u e t a l t r a n s f o r m a ç ã o
n a h is t ó r ia r e q u e r m a is d o q u e u m a m o d e l a g e m e m a r t e .
53
5
POLÍ TI CA E REPRESENTAÇÃO
A h i s t ó r i a d a a r t e m o d e r n a t r a z m u i t o s e xe m p lo s d e p r o j e t o s q u e t e n t a r a m vi s u a l i z a r
u m m u n d o t r a n s f o r m a d o . O s m a i s e vid e n t e s s ã o a q u e le s a sso cia d o s ao
c o n s t r u t i v i s m o s o vi é t i c o d o s a n o s 20 , e m b o r a t e n h a h a v i d o o u t r o s . O c a p i t a l i s m o
i n t e r n a c i o n a l , c o n t u d o , n ã o fic a r ia c o n fi n a d o à h i s t ó r i a d e p o i s d o O u t u b r o
Bo lc h e vis t a . N e m o r a d i c a l i s m o d o fi n a l d as d é c a d a s d c 6 0 e 70 r e s u lt a r i a e m
q u a lc]u e r t r a n s f o r m a ç ã o p o l i t i c a f u n d a m e n t a l . N u m a r t i g o e s c r it o c m 1975, Lu c y
Li p p a r d la m e n t a va a a b s o r ç ã o d o s i m p u l s o s r a d ic a is d a a r t e c o n c e i t u a i : o m o c i o
c o m o at e m e s m o fo lh a s d e p a p e l d a t i l o g r a f a d o e st a va m s e n d o c o m e r c i a l i z a d a s n o
m e r ca cio d c a r t e , e o m o d o c o m o c o n c e i t u a li s t a s d e p o n t a h a vi a m c o n s t r u i d o
ca r r e ir a s d e su cesso n o â m b i t o d a já e xist e n t e e s t r u t u r a d e m e r c a d o . I a n Bu r n
escr eveu , e m 1981, q u e "a co isa m a is s ig n ific a t iva q u e s c p o d e d i z e r e m fa vo t d a a r t e
c o n c e i t u a i é, t a lve z , o fa t o d e ela t e r f a l h a d o ". N e s t e s e n t i d o , ' c o m o ela p o d e r i a n ã o
t e r fa lh a d o , le va n d o - se e m c o n t a o g e n e r a l i z a d o fr a ca sso d a " c o n t r a c u l t u r a " , d a q u a l
a a r t e c o n c e i t u a i fa z ia p a r t e ? E, n o e n t a n t o , a p esar d e os fu n d a m e n t o s d o c a p i t a l i s m o
n ã o t e r e m s i d o a b a la d o s d e m o d o s u b s t a n c i a l , a h i s t ó t i a , p o r su a vez, e st á e m
c o n s t a n t e m o v i m e n t o ; m u d a n ç a s so cia is c c u l t u r a i s o c o r r e m . A a r t e c o n c e i t u a i , n u m
s e n t i d o m a i s l i m i t a d o , fa z ia p a r t e d e u m a m u d a n ç a s i g n i fi c a t i va AJn i a d as.
c a r a c t e r ís t ic a s c e n t r a is d a a r t e c o n c e i t u a i i i o s a n o s 70 f o i a s u a c r e s c e n t e j p o l i t i z a ç ã ^
Par a a lgu n s, i n c l u i n d o Bu r n , isso sign ifica va q u e essa a r t e er a t r a n s i t ó r i a : e m r e l a ç ã o à
p r ó p r i a a r t e e a m p l i a n d o - s c p a r a u m a esfera m a i o r d e p r á t i c a s c u l t u r a i s e n ga ja d a s,
a lé m d o u n i ve r s o a r t í s t i c o , c m a t ivid a d e s r e la c io n a d a s à e d i t o r a ç ã o , à t e l e vi s ã o , às
c o m u n i d a d e s o u aos s i n d i c a t o s . Pa r a o u t r o s , c o n t u d o , o s e n t i d o q u e se d e s e n vo lvia
d c u m a p o l í t i c a d a t e p r c s c n t a ç ã o r e su lt a va n u m a m u d a n ç a d c co n ccp çcã o cie vi d a
p r o p r i a m e n t e d i t a ; u m a m u d a n ç a q u e H a l Fo s t e t r e s u m i u q u a n d o o b s e r vo u q u e o
a r t is t a p ó s - m o d c r n o era m e n o s u m p r o d u t o r d e o b je t o s d o q u e u m m a n i p u l a d o r d e
s ign o s , e n ga ja d o c r i t i c a m e n t e c o m a a m p l a esfera d a r e p r e s e n t a ç ã o .
Te m - s e a i m p r e s s ã o , às vezes, cie q u e os a sp e ct o s r e l a c i o n a d o s à a r t e c o n c e i t u a i
s ã o c o m p l e xo s c p a s s í ve i s d e d i s c u s s ã o c d ú v i d a . A q u e s t ã o q u e a b o r cia a d i m e n s ã o
p o l í t i c a d o c o n c e i t u a l i s m o r e q u e r , c e r t a m e n t e , u m a b o a d o se d c ca u t e la . In d a ga - s e ,
p o f e xe m p lo , q u ã o a b e r t a c p ú b l i c a cicvc ser u m a p r á t i c a p a r a q u e p o ssa ser vis t a
c o m o "p o l í t i c a ", o u se a r e cu sa t io s e s t e r e ó t i p o s d c u m a p r á t i c a d e a r t e p o d e ser t icia ,
ela p r ó p r i a , c o m o "p o l í t i c a ". N o s p a í s e s d e l i n g u a in gle sa , a a r t e c o n c e i t u a i n ã o
p ar ece t e r se vo lt a c io e xp r e ssa m e n t e p a r a c]u e st õ cs "p o l í t i c a s " c n c ] u a n t o t a is a t é o
c o m e ç o d a d é c a d a d c 70 . O cieb at e n o m u n d o d a a r t e , n o e n t a n t o , t o r n a va - s e cacia
vez m a is p o l i t i z a d o n o final d a d é c a d a cie 60 e, c m o u t r a s p a r t e s, a lg u m a s p r á t i c a s
a n á l o g a s a b a r c a va m u m a p o s t u r a p o l í t i c a e xp l í c i t a já e m u m a d a t a b e m p r e c o c e .
EUROPA •
N a Eu r o p a , Fr a n ç a e I t á l i a p a ssa vam p o r c o n vu l s õ e s so cia is, q u e c u l m i n a r i a m n o
M a i o d e 1968, e m Pa r is e n o m a i s l o n g o O u t o n o Q u e n t e , e m 1969, n a I t á l i a . N a
Fr a n ç a , os s it u a c io n is t a s d e s e n vo lve r a m u m a c o n c e p ç ã o d a m o d e r n a so cie cia d e d e
c o n s u m o q u e a p o n t a va o p a p e l e xe r c id o p e la c o n f o r m i d a d e i d e o l ó g i c a aos va lo r e s
d o m i n a n t e s n a m a n u t e n ç ã o d o s is t e m a . Is s o c o n d u z i u a u m a m u d a n ç a n o fo c o d a
a t ivid a d e r e vo l u c i o n á r i a , q u e p a s s o u cie u m a t i a d i c i o n a l o r i e n t a ç ã o m a r xi s t a vo l t a d a
à e c o n o m i a e à p o l í t i c a , p a r a u m a m a i o r ê n fa s e n a c u l t u r a e n a i d e o l o g i a . N o s a n o s
60 , os s it u a c io n is t a s c h e ga r a m a d e s e m p e n h a r u m i m p o r t a n t e p a p e l q u a n t o à
r a d i c a l i z a ç ã o d o s e st u d a n t e s fia n ce se s. Ap e s a r cie t e r t r a b a lh a c io i n i c i a l m e n t e c o m
a r t ist a s c o m o As ge r Jo r n , o g r u p o ve io a r e p u d i a r a a r t e c o m o u m p o s s í ve l e s p a ç o cie
l u t a r e vo l u c i o n á r i a . O c i n e m a era u m a a r m a c u l t u r a l m a is p o d e r o s a , c o m o n a o b r a cie
Je a n - Lu c G o d a r d . N o e n t a n t o , p a r a o m e n t o r filosófico d os sit u acio n ist as, Gu y
eviseun
, J e l ' -' ' M
f)-i
m m s .
m Êm
D c b o i d , a a i t c c i a u m e l e m e n t o i t r e d i m í v c l d a "s o c i e d a d e do e s p e t á c u l o ' , e os seu s
n i l T t J S ^ c i r i n d i vi d u a l i s m o e a u t o - e x p i e s s ã o , c o n t t a r i a m c n t e à e l a b o r a ç ã o d e u m
c a m i n h o l i b e r t a d o r , f o r m a v a m p a r t e d a t ] u i l o q u e m a n t i n h a as m assas escravas d o
c o n s u m o . N ã o o b s t a n t e , h a via a r t is t a s d e s e n vo l ve n d o u m p r o g r a m a r a d i c a l , q u e
i n c o r p o r a va a sp e ct o s d a p o l e m i c a c u l t u r a l s i t t i a c i o n i s t a ao c a m p o d as a r t e s visu a is.
D a n i e l Bu r e n est ava e n t r e os q u e sc d i s t a n c i a r a m d o t e r m o "a r t e c o n c e i t u a i ", m a s
cu jas a t ivid a d e s c e r t a m e n t e se e n c a i xa m n o â m b i t o d c u m a m a i s a m p l a c o r r e n t e d e
o p o s i ç ã o . Ju n t a m e n t e c o m O l i v i e r M o s s e t , M i c h e l P a r m e n t i c r e N i e l e T o r o n i , Bu r e n
o r g a n i z o u u m a d e m o n s t r a ç ã o n o Sa l o n de la Je u n e P e i n t u r e e m ] de ja n e i r o d e 1967.
O s q u a t r o a r t is t a s t i n h a m , ca d a u m d e le s, a d o t a d o u m e s t i l o i m p e s s o a l : o e s t i l o d e
Bu r e n c o n s i s t i n d o e m list a s ve r m e lh a s e b r a n c a s ve r t i c a i s , o d e M o s s e t , e m u m
c i r c u l o p r e t o s o b r e u m f u n d o b r a n c o , o d e P a r m e n t i c r , e m fa ixa s h o r i z o n t a i s e m
c in z a e b r a n c o , e o d c T o r o n i , m a r ca s q u a cir a d a s feit a s c o m u m p i n c e l d e t a m a n h o
p a d r ã o c o b e c t o d e t i n t a a z u l [ fi g . 4 ; ] . N o d i a s e gu in t e , os a r t is t a s r e m o v e r a m as su as
o b r a s, c o l o c a n d o c m seu lu g a r u m a f a i x a n a t]u a l sc h a "Bu r e n , M c is s e t , P a r m e n t i c r ,
T o r o n i n ã o e s t ã o m a is e x p o n d o ". E m u m p a n fl e t o d i s t r i b u í d o à m e s m a é p o c a , eles •
a fi r m a va m " N ó s n ã o s o m o s p i n t o r e s ", o fe r e c e n d o u m a va r ie d a d e d e m o t i v o s
r e la c i o n a d o s às m a is c o n ve n c i o n a i s s u p o s i ç õ e s e m r e l a ç ã o à c o m p o s i ç ã o , à
r e p r e s e n t a ç ã o d e o b je t o s , à c o m p e n s a ç ã o e s p i r i t u a l e ao m o d o p e l o q u a l a p i n t u r a
c o n fe r ia va l o r e s t é t i c o a u m a sé r ie d e fa t o r e s, e n t r e os q u a is " o e r o t i s m o , o a m b i e n t e
c o t i d i a n o . . . a p s i c a n á l i s e e a g u e r r a d o Vi c t n ã ".
ni el Bur en
O o b j e t i vo era c h a m a r a a t e n ç ã o , n ã o p a r a as p i n t u r a s p r o j i r i a m e n t e d i t a s , m a s
iclage saiivage
p a r a as e xp e ct a t iva s p r o c i u z i d a s p e l o c o n t e x t o a r t í s t i c o . A Bu r e n , p a r t i c u l a r m e n t e , fo i
[m de cart azes
ôtóri a) d a d o in \ ' c r t e r a r e l a ç ã o u s u a l e n t r e a o b r a d e a r t e e o e s p a ç o d e e xi b i ç ã o . Se g u n d o a
ril 1968 c o n ve n ç ã o , u m a ga le r ia p e r m a n e c e r á m a is o u m e n o s a m e s m a e n q u a n t o as o b r a s
lografia de part e da
e xp o st a s se m o d i f i c a m . Bu r e n , n o e n t a n t o , m a n t e ve - s e fiel à su a m a r c a p e sso a l d e
ra msííu
c o l o r i d a s list a s ve r t ic a is e m d ife r e n t e s s i t u a ç õ e s , q u e a b r a n g i a m d e sd e ga le r ia s —
p a ssa n d o p e l o e xt e r i o r d e e d i fí c i o s e p o r ca r t a z e s d e r u a — a t é as p á g i n a s d e u m a
r e vist a [ fi g . 4 4 ] . O o b j e t i v o d a o b r a era f u n c i o n a r p o r m e i o d e u m c o n j u n t o d c
n e g a ç õ e s — n e g a ç ã o d e in t er esse f o r m a l , n e g a ç ã o d o a p e lo e s t é t i c o , n e g a ç ã o d e u m
c o n t e i i d o e m o c i o n a l , c a ssim p o r d i a n t e , t r a n s f e r i n d o a a t e n ç ã o , c o m u m e n t e vo lt acfa
à ob r a de art e, para o e sp a ço cir cu n d an t e.
A o b r a d c Bu r e n c o n s t i t u i - s e d e st a m a n e i r a n u m a i n s t â n c i a p r e c o c e d o q u e sc
Jo r i i a r i a , m a i s t a i vi e ^ jt m a xa r a c t e r í s t i c a c e n t r a l d a a r t e c o n c e i t u a i p o l i t i z a d a : a c r í t i c a
à i n s t i t u i ç ã o . N o e n t a n t o , q u a n d o fo i c o n v i d a d o p c l ó ^ S w f n o fr a n c ê s , e m 1986, para
r e c o n fi g u r a r o p á t i o d o Palais Ro ya l c e m Pa r is c o m as su as list a s c a r a c t e r í s t i c a s , su a
v i r t u d e c r ít ica — q u e p o r vo l t a d e 1968 a n d a va p a r a p a r c o m a p r á t i c a — p a r e cia t e r
e va p o r a d o . A d e s p e i t o d o q u e a go r a p o d e m o s en ,xergar n o p a ssa d o , o p o n t o c m
q u e s t ã o é q u e o p a p e l d as i n s t i t u i ç õ e s c o m e ç a v a a se t o r n a r m a t é r i a d e u m e s t u d o
c r ít ic o . N o final d o s a n o s 60 , o filósofo m a r xi s t a fr a n c ê s Lo u i s Al t h u s s c r i n t r o d u z i u
a n o ç ã o de "a p a r a t o i d e o l ó g i c o d o e s t a d o " c o m o p a r t e d e u m a t e n t a t i va d e e n t e n d e r
o m o d o p e lo q u a l as i n s t i t u i ç õ e s t a n t o fo r m a i s q u a n d o i n f o r m a i s — t a is c o m o
e d u c a ç ã o c fa m í li a — c o n t r i b u í a m p a r a a r e p r o d u ç ã o d as r e l a ç õ e s d e p r o d u ç ã o . •'
vige n t e s. A o b r a d c M i c h e l F o u c a u l t , p a r t i c u l a r m e n t e , \ ' o l t o u o seu e n fo q u e p a r a a
r e la ç ã o d e c o n h e c i m e n t o e p o d e r n a s o c ie d a d e . O s a r t is t a s r a p i d a m e n t e c o m e ç a r a m a
a p lic a r esse r a c i o c í n i o às fu n ç õ e s d a a r t e p r o p r i a m e n t e d i t a e às i n s t i t u i ç õ e s q u e a
su st en t am — p r in c ip a lm e n t e o m er cad o e o m u seu . , ;/ ; ,
57
U m a das p r i m e i r a s o b r a s d e a r t e vo lt a d a s ao t e m a d o m u s e u fo i o Miisce d'Art
MoAcrnc, Dcpartcnicnt desAigles, d e M a r e e i Br o o d t h a e r s [íig. 4 5] . Br o o d t h a e r s era u m
p o e t a b e lga q u e se b a n d e a r a p a r a os l a d o s d a a r t e e m m e a d o s d o s a n o s 6 0 ,
p r o d u z i n d o u m a ser ie e c lé t ic a d e o b je t o s , fo t o g r a fi a s , l i vr o s e fi lm e s . I n i c i a d o c m
1968 c e xi b i d o n a su a f o r m a final n a Documenta 5, c m 1972, o e s q u e m a d o ficcional
" M u s e u das Á g u i a s " era, c m su a e s s ê n c ia , s i m p l e s . C o m e ç a n d o c o m c a r t õ c s - p o s t a i s
1 45
M a r e e i Broodthaers
t . if
Musée d'Aft Moderne.
Département des
Aigles, Section
Publicite 1972
Fot ogr af i a da
i nst al ação na
Documenta 5, Kassel ,
Al emant i a
46
J a n i s KounelMs
47
M á r i o Merz
d e p i n t o r e s a c a d é m i c o s d o s é c u l o XIX, Br o o c it b a e r s c u id a c io s a m c n t e r e u n i u u m
r e p e r t ó r i o d e im a ge n s e xt r a í d a s d a c u l t u r a p o p u l a r e d a p r o p a g a n d a . A e sc o lh a d a
á gu ia p e r m i t i u u m a m i r í a d e cie r e p r e s e n t a ç õ e s , p o i s i m p l i c a va u m a r i c a m i t o l o g i a
cu lt u r al: s ím b o lo n acio n al, s ím b o lo m ilit a r , s í m b o lo de fisrtaleza e d e p e r c e p ç .ã o ,
m e t á fo r a p a r a a ge n ia licia d c et c. R e u n i n d o essas vá r ia s r e p r e s e n t a ç õ e s , Br o o c it b a e r s
p r o d u z i u , n a ve r d a d e , u m a r e p r e se n t a ç.ã o d e s e g u n d a o r d e m — u m a r e p r e s e n t a ç ã o n ã o
cie u m b a n d o d e aves, m a s d o f u n c i o n a m e n t o d e u m s is t e m a c l a s s i fi c a t ó r i o .
As á g u i a s c o n o t a m c a r a c t e r í s t i c a s va r ia d a s c o n f o r m e n ó s as ve m o s — va lo r , p o d e r
et c. Ela s t a m b é m d e m o n s t r a m , a t r a vé s d o m e i o d a p i n t u r a a c a c iê m ic a , c o m o a a r t e
r e cicla a i d e o l o g i a . M a s o p o n t o c m c| u est ão é c]uc a e sc o lh a p o d e r i a t e r r e c a í d o s o b r e
q u a k ] u c r co isa : o q u e p a r e ce est ar e m j o g o é o fa t o d e q u e o s sist e m a s c la s s i fi c a t ó r i o s
i m p õ e m o r d e m e e st r u t u r a sob r e a q u i lo d c q u e s ã o c o m p o s t o s . D e s c o n s t r u i r o -
m u s e u t o r n o u - s e , a ssim , u m a e s t r a t é gia r e c o r r e n t e d o s e s t u d o s c u l t u r a i s ; a p a r ó d i a d e
Br o o d t h a e r s , n o e n t a n t o , m a is i n fl u e n c i a d a p o r Bo r ge s d o q u e p e la s o c i o l o g i a , t e m a
va n t a g e m d e a p r e se n t a r u m sen so h u m o r í s t i c o t ]u c va i a l é m d o p a t a m a r a l c a n ç a d o
p o r m u i t o s d e seu s su cessor es m a is s é r i o s — c o m o se a su a i n t e r ve n ç ã o est ivesse a
sa lvo d o r e c o n h e c i m e n t o r e s p e it o s o p r e c is a m e n t e p o r r e sva la r p a r a o a r b i t r á r i o . E m
u m t e xt o q u e a c o m p a n h a va a i n s t a l a ç ã o d a Documenta, Br o o d t h a e r s escr eveu : "Esse
m u s e u é u m a ficção. El e p o d e , n u m m o m e n t o , c ic s e m p e n h a r o p a p e l d e u m a p a r ó d i a
p o l í t i c a d c e ve n t o s a r t í s t i c o s e, e m o u t r o , o d e u m a p a r ó d i a a r t ís t ic a d e e ve n t o s
p o l í t i c o s . O q u e n ã o d e ixa d e ser, d e fa t o , o q u e m u s e u s o fic ia is c i n s t i t u i ç õ e s c o m o a
D o c u m e n t a fa z e m . C o m u m a d i fe r e n ç a : a ficção p o s s i b i l i t a q u e sc ap r een cia t a n t o a
r ealiciad e q u a n t o as i n s t â n c i a s q u e ela e n c o b r e ".
N a I t á lia , o c r í t i c o G e r m a n o C e l a n t u n i u u m a va n g u a r d a
r e c é m - s u r g i d a s o b a b a n d e i r a d a arte povera, e m 1967. O
n o m e , q u e d e r iva d o d o t e a t r o d o d i r e t o r p o l o n ê s Jc r z y
G r o t o w s k i , i m p l i c a u m a c r ít ic a à r ic]u e z a . I m p u l s i o n a d a p o r
u m c c t i c i s m o c m r e l a ç ã o a o m e i o t r a d i c i o n a l d as "b e l a s -
a r t e s ", a va n gu a r d a i t a l i a n a a b r a ç o u u m a a m p l a e
h e t e r o g é n e a g a m a d e m a t e r i a i s c o m o s q u a is se p u d e sse
p r o c i u z i r a r t e : t i j o l o s , p ccir as, m a d e i r a , p a p e l ã o , p a p e l .
C o m o escr eveu Ce l a n t , "An i m a i s , ve ge t a is e m i n e r a i s fa z e m
p a r t e d o m u n d o d a a r t e ". C o m o se c o n f i r m a n d o esse
p e n s a m e n t o , Jan n is Ko u n e l l i s , e m su a i n s t a l a ç ã o e m R o m a ,
e m 1969, c o l o c o u n a ga le r ia d o z e ca va lo s, e m e s t á b u l o s [ fi g .
4 6 ] . H á u m p a r a le lo e n t r e essas a t ivid a d e s e as d e t i p o antiforma, q u e o c o r r i a m e n t ã o
n a a r t e a n g l o - a m c r i c a n a . D a d a a s i t u a ç ã o d a I t á lia , n o e n t a n t o , n ã o cau sa s u r p r e s a
e n c o n t r a r u m vié s a b e r t a m e n t e p o l í t i c o c m a lg u m a s cias m a n i fe s t a ç õ e s a r t í s t i c a s a l i
p r o d u z i d a s . O s iglu s d e M á r i o M e r z t ê m c o m o a lvo os a sp e ct o s d a t e o t i a d a a r t e
p o ve r a q u e e xa lt a m o n ó m a d e c o n ã o - o c i d c n t a l e m d e t r i m e n t o d o c a p i t a l i s m o d e
c o n s u m o d o O c i d e n t e . E m u m e xe m p l o , a fr ase "O q u e fa z e r ?" fo i p a ssa d a , d c f o r m a
a le a t ó r ia , p o r e n t r e g a lh o s d e á r vo r e s s o b r e os q u a is se t i n h a c o n s t r u í d o u m i g l u [ fi g .
4 7] . Esse er a o t í t u l o d e u m t e xt o d e Le n i n , d e 190 2, n o q u a l ele d i s c u t i a o p a p e l d o s
in t e le c t u a is n o p a r t i d o r e vo l u c i o n á r i o . Le va n d o - s e e m c o n t a as c o r r e n t e s
p r e d o m i n a n t e m e n t e a n a r q u ist a s d a e sq u e r d a i t a l i a n a , n ã o m e n o s c r ít ic a s e m r e l a ç ã o
ao p a r t i c i o c o m u n i s t a o fi c i a l q u e a o c a p i t a l i s m o d c c o n s u m o , o ge st o cie M c r z p o d e
s ign ific a r u m r a d i c a l i s m o c u l t u r a l m a is a m p l o d o q u e a q u e le q u e e n vo l via a p e n a s
u m a p o s i ç ã o p o l í t i c a d c csc]u cr d a. Al i g h i e r o Bo e t t i p r o d u z i u u m a sé r ie d e
d a g u e r r e ó t ip o s / á g u a s - fo t t e s d e cob r e r e p r e se n t a n d o m ap as d c p a íse s e m gu er r a,
i n c l u i n d o Lí b i a , Isr a e l e I r l a n d a . O Zoo d e M i c h e l a n g e l o P i s t o l e t t o i n c o r p o r o u
c o l e t i va m e n t e u m a t e a t r a l i d a d e a n a r q u i s t a n u m a va r ie d a d e d e p e r fo r m a n c e s cie r u a .
Ce l a n t v i u a t e n d ê n c i a g l o b a l d a o b r a c o m o a r e p r e s e n t a ç ã o d c " i j m j j i o d o
59
a s s i s t c m á t i c o d c e xis t ê n c i a n u m m u n d o n o t]u a l o s is t e m a é t u c i o ". C o m e fe it o , n u m a
e scr it a m a r c a d a p o r u m e s t ilo h i p e r b ó l i c o , clc d e s i g n o u a a r t e p o ve r a , r c t o r i c a m c n t e ,
c o m e r "n o t a s p a r a u m a g u e r r i l h a ". P o d e - se a r g u m e n t a r t]u e a fr ase n ã o p assa d e u m
r a sgo d e e xp r e s s ã o , e q u e a ve r d a d e ir a fo r ç a d a a r t e p o ve r a r e sid e n o r a d i c a l i s m o )
^ Ji- ,,Té cn ico d o s seu s m a t e r i a i s e m é t o d o s d e e l a b o r a ç ã o . I ^ o e n t a n t o , a q u e s t ã o a p o n t a
p a r a as m a t r i z e s c r ít ic a s , t a n t o so cia is q u a n t o a r t í s t i c a s , d as a t i t u d e s q u e p e r m e i a m a
n o va a r t e . O p o n t o , t a lve z , se r ia n ã o i n s i s t i r e m se p a r a r os d o i s a sp e ct o s: o in t e r e sse
c o n t í n u o d a a r t e p o ve r a e st a r ia , p r e c i s a m e n t e , n a c o m b i n a ç ã o d esses d o i s fa t o r e s .
AMÉRICA LATINA
Ar t i s t a s a l u a n d o e m lu ga t e s c m q u e d c fa t o h o u ve u m a g u e r r i l h a s e n t i r a m q u e a
s i t u a ç ã o d e m a n d a va r e sp o st a s p o l í t i c a s mais d ir e t a s d o q u e ac]u elas q u e p a r e c i a m
su ficie n t e s à va n gu a r d a r a d i c a l n a Am é r i c a d o N o r t e e n a E u r o p a O c i d e n t a l . Lu c y
Li p p a r d s i t u o u a su a p r ó p r i a p o l i t i z a ç ã o a p a r t i r d e u m a vi a g e m à Am é r i c a d o Su l ,
e m n o v e m b r o d e 1968, d u r a n t e a q u a l c o n h e c e u u m g r u p o d e a r t is t a s e m Ro s a r i o q u e
t r a b a lh a va e m c o n j u n t o com a CC"iT a r g e n t i n a . P o r r a z õ e s h i s t ó r i c a s , r e l a c i o n a d a s ao
e s p a ç o e xt r e m a m e n t e r e s t r i t o r e se r va d o a u m d e b a t e p o l í t i c o , a va n g u a i d a n a
Am é r i c a La t i n a t o r n o u - s e u m f ó r u m p a r a
i n t e r ve n ç õ e s p o l í t i c o - c u l t u r a i s . Essas i n t e r ve n ç õ e s
a b a r ca va m d o " M e d i a - A r t M a n i f e s t o " p u b l i c a d o
c m Bu e n o s Ai r e s e m j u l h o d e 1966 — e c u j o
o b j e t i vo er a l a n ç a r n a m í d i a falsas i n f o r m a ç õ e s
so b r e a a r t e , p a r a s u b l i n h a r as i m p l i c a ç õ e s q u e a t
a r t e m a n t i n h a c o m a p u b l i c i d a d e c as n o t í c i a s — a t é
1
d e m o n s t r a ç õ e s cad a ve z m a is p o l í t i c a s n as g r a n d e s
e xp o s i ç õ e s c o m o as d a Bi e n a l d e C ó r d o b a . E m b o r a
n ã o se t ivesse e m p r e g a d o o t e r m o "a r t e
c o n c e i t u a i " a t é os a n o s 70 p a r a d e scr e ve r esse
m o v i m e n t o , essa a r t e ve io , n ã o o b s t a n t e , a ser
p o s i c i o n a d a r e t r o s p e c t i va m e n t e c o m o p a r t e c e n t r a l .
d c u m "c o n c e i t u a l i s m o g l o b a l ". N a s p a la vr a s d e M a n C a r m e n Ra m i r e z , o
c o n c e i t u a l i s m o d a Am é r i c a La t i n a n ã o era " u m r e fle xo , d e r i va ç ã o o u r é p l i c a cia a r t e
- ^ , c o n c e i t u a i r e a liz a d a n o c e n t r o ", m a s r e p r e se n t a va , a n t e s, u m a sé r ie d e "r e s p o s t a s
• . • lo ca is às c o n t r a d i ç õ e s ger a d as p e l o fr a ca sso d o s p r o j c t o s d e m o d e r n i z a ç ã o p ó s
Se g u n d a Gu e r r a c d o s m o d e l o s a r t í s t i c o s a d o r a d o s n a r e g i ã o ". C o m e fe it o , p a r a
Ra m i r e z , essa a r t e o r ie n t a va - se descfe o i n í c i o p a r a a ssu n t o s r e la t ivo s a uma esfera
p ú b l i c a m a is a m p l a , e n ã o p a r a a i n s t i t u i ç ã o d a a r t e ( m o d e r n a ) p r o p r i a m e n t e d i t a ,
p o d e n d o e n t ã o ser vist a c o m o t e n d o "c l a r a m e n t e a n t e c i p a d o " a vi r a d a p o l í t i c a n a
va n gu a r d a d a a r t e o c o r r i d a n o c h a m a d o p r i m e i r o m u n d o n o s a n o s 70 . A o b r a q u e
Li p p a r d e n c o n t r o u c m Ro s a r i o é r e p r e s e n t a t iva d o a s s u n t o e m q u e s t ã o . O s a r t is t a s sc
d e fr o n t a va m a l i , d esd e m e a d o s d o s a n o s 6 0 , c o m o a p a r e n t e fr a ca sso cias i n s t i t u i ç õ e s
a r t ís t ic a s e m l i d a r c o m u m a s i t u a ç ã o d c cr e sce n t e ce n su r a e r e p r e s s ã o p o l í t i c a . Essa
s i t u a ç ã o c u l m i n o u c o m os a c o n t e c i m e n t o s d a p r o ví n c i a d c T u c a m á n , c m q u e
p o l í t i c a s e c o n ó m i c a s d o g o ve r n a t i ve r a m c o m o c o n s e q i i ê n c i a e n o r m e d e s e m p r e g o e
m is é r ia . As c o n d i ç õ e s f o r a m e xa ce r b a d a s p e la c e n su r a d e i n f o r m a ç õ e s n a i m p r e n s a
c o m r e la ç ã o às c o n d i ç õ e s d a p r o ví n c i a . E m 1968, cer ca d c t r i n t a a r t is t a s e n ga ja r a m - se
n u m p r o j e t o r e a liz a d o j u n t a m e n t e c o m o s i n d i c a t o p a r a p e s q u is a r e t o r n a r p ú b l i c a s
60
as c o n d i ç õ e s lo ca is. lissc t r a b a l l i o c t i l n i i n o i i n a e x p o s i ç ã o íiiuiiihíii arde, in s t a la d a n o
p r é d i o d a C d I cm Ro s a r it ) . A e x p o s i ç ã o l o i d e scr it a p o r Ale x A l b e r r o c o m o "iim
a m b i e n t e i n t e r n o q u e t u d o a b a ixa va ", e n o c]t ial os vis it a n t e s se viam c o n f r o n t a d o s
c o m u m a i n s t a la ç ã o m u l t i m i d i a d e i n f o r m a ç õ e s q u e t i n h a m c o m o base o t e xt o , n a
fo r m a d e slo ga n s, p a n l l e t o s c p ó s t e r e s , b e m c o m o c o m l i l m e s c fo t o g r a h a s a m p lia d as
cm g r a n d e escala [ fi g . 4 8 ] . A o r o m p e r c o m o c o n t e i i d o c o n ve n c i o n a l d e u m a
e xp o s i ç ã o d e a r t e , cfcsvm ct ila n d o - s c d a ga le n a e i m i s c u i n d o - s e n u m a e s p é c i e d ive r sa
d e o r g a n i z a ç ã o s o c ia l, os p a r t i c i p a n t e s t i n h a m c o m o i n t u i t o p r o d u z i r u m a o b r a q u e
r eflct issc a r e a lid a d e six-ial m a is a m p l a n a q u a l a a r t e t e m a su a e xi s t ê n c i a .
m án arde 1968
i l ação mul t i mi di a,
l a no pr édi o da cor
arti stas e
i cal i stas em
i mán. Ar gent i na
ção Graci el a
l eval e
o Meireles
rções em circuitos
ilógicos: Projeto
a-Cola 1970
af as de Coca- Col a
texto apl i cado
l e al t ura
esi a do art i st a
Gal eri e Lel ong,
a York
61
q u a l SC e scr e ve m as m f o r m a ç õ e s n o r m a i s d o r ó t u l o . N e s t a e t a p a , as m e n sa ge n s
p e r m a n e c i a m m a is o u m e n o s d e s p e r c e b id a s. M e i r e l e s , n o e n t a n t o , r e i n t r o d u z i u as
gar r afas n o s is t e m a . Ela s v o l t a r a m p a r a a fá b r i c a d a f o r m a u s u a l, o n d e f o r a m lavad as
e n o va m e n t e p r e e n cb icia s. L o g o q u e o líqu ic-lo m a r r o m p assava a a gir c o m o p a n o d e
f u n d o p a r a as le t r a s b r a n c a s, a m e n s a g e m a n t i i m p e r i a l i s t a so b r e ssa ia .
UNIÃO SOVIÉTICA
Ar t i s t a s n ã o o fic ia is d a U n i ã o So vi é t i c a t i n h a m u m a r e l a ç ã o d i fe r e n t e , p o r é m
i g u a l m e n t e c o n t r a d i t ó t i a , e m r e l a ç ã o à va n gu a r cia o c i d e n t a l . E n q u a n t o n a Am é r i c a
La t i n a os a r t ist a s t e n d i a m a r e s is t ir aos e st ilo s d c a r t e c]uc ju l g a va m r e p r e s e n t a t ivo s
50
d o i m p e r i a l i s m o o c i d e n t a l , a r t is t a s n ã o o fic ia is d o b l o c o s o vi é t i c o i n c l i n a va m - s e a Ilya Kabakov
a b r a ç a r o i n d i v i d u a l i s m o "e xp r e s s i o n i s t a " o c i d e n t a l c o m o p a r t e d a su a e xp r e s s ã o d e Levando a lata de lixo
r e je iç ã o ao r e a l i s m o s o c ia lis t a . Esse q u a d r o n ã o se m o d i f i c a r i a a t é o s u r g i m e n t o d o s para fora 1980
Esmal t e sobr e
compensado de. .
madei r a
ÚUHOta noMOunoio
Pacnucaniie ffe9j)a„o 9ouv^2ino9i,e3Õ^6
150 X 210
Fundação Emanuel
Hof f mann, em
vjuua uji.S.SapduHa M3K.^S SayMaucKoto p-na.
empr ést i mo
Cf»ma*pb0smsbpb
1979, per manent e ao Museu
de ar t e Cont empor ânea
da Basi l ei a
Jlttpm .Upmb
1980,.
fiuM: JimuK
CmoCtiM..,3i rmm>à.a 51
ilitUt1í>JHUtfJ.^íi
ã ílpimpomJt Mierle L a d e m i a n
Ukeles
Jtdpm .tnpejb
19 8U. Lavando
Cabia ^XSMmuHlC .,21
TmíbU. ^ iimSa.U. Jí 5UtiswniioFJ...,2l % CmoéfíJUí .,25 rastros/Manutenção:
Jl ã ItÕmCÍ J6 5 Tm/uimM Jlt 6 lirmlilU. JS. B nmiHPHKútLr.Jt interior 1973
«5„.-
MJ,Ciuimii.ÕI.% iamfaIII. ,S•^-Coi),mmlUI...3ÍJimba
.MI -Ji-J, U .ã!
Mfípm .4npi>ji>Má Hum llbjb .Ifíinrm Fot ogr af i a de
V J S Z u
SUCMÍIUMÍ: TlpmfMUJt 5 CmoiíC .,20 JammlC Jí per f or mance no
..JmoSaia íopomiHllà JimbfJ. i>plMia.U. .Jí £ .hwívimã..2l CiaotaM. -3 Wadswor t h At heneum,
JmbHlC ._ 2i S Miiina JiiiimaHllíi.4lô B JfrjifíiJÍC_ . ^laimiabSÍ. J16
Cmaliam. J5 % OuimíM. JS haHlaia,.
S J9i raponuHlIM. ...
:SÍJimba J2 Har t f or d, Connect i cut
Jlapiii .iiipiuh llim UM.
srniapb tpmpajb Cor t esi a Ronal d
(
19837.
IJ JaiiuiílHtúi.^
'i.MfS 3íaumlLC«Zê IbmrmíiJlUfB Oupíff. Fel dman Fi ne Ar t s,
» himeaia ,.19II afmmia. ma.. .,39 Jiuarj. ,,27 » .lumermUJl Nova Yor k
...BCmoHU. .JÚ%JamKlr. 2í\iUeeiifiia._-- -'- TumimU. ,M
Jli UmHtimSI.,11 CHJ1H0Ú.ÍJL SlSSum.,2!'falíS ,S íopoKWtSJl ,,23
SHSfípbS^paib Mapm .íiipejb Maú lltoHb Cmníapb õxmsopb ^bSeKoopb
1984t. 52
Adrian Piper
62
d e s e g u n d a o r d e m q u e a b r a n g i a os m o v i m e n t o s t e m e r o s o s d a va n g u a r d a dc p r i m e i r a
o r d e m — e ia a l é m d eles — p o r m e i o d a d i s r u p ç ã o cju e o r e c u r s o t r a z i a ao c o n c e i t o d a
"a u t ê n t i c a " vo z a u t o t a l . A c o m b i n a ç ã o d e i m a g e m e t e x t o e m p r e g a d a p o r Ka b a k o v
n o s á l b u n s n a r r a t i vo s e v o l u i u p a r a u m a s é r ie d e a m p l a s p i n t u r a s n o final d a d é c a d a
d c 70 . Essas p i n t u r a s g u a r d a va m u m a s e m e l h a n ç a c o m os ca r t a z e s o fic ia is e
f o r m u l á r i o s b u r o c r á t i c o s , a m p l i a d o s n u m a escala m a i o r . Levando a lata de lixo para fora
[fig- 50] p a r o d i a a o b s e s s ã o e c o n ó m i c a d o c o m a n d o c o m o p l a n e j a m e n t o ao l i s t a r a
r o t a p a r a d e s fi z c r - s c d as la t a s d e l i xo d c u m a p a r t a m e n t o
^
c o m u n a l p e lo s p r ó x i m o s seis a n o s . D u r a n t e a p e r e s t r ó i c a
d o s a n o s 80 , Ka b a k o v t eve p e r m i s s ã o p a r a e xp o r fo r a d a
U n i ã o So vi é t i c a , d e i xa n d o finalmente o p a is e m i g Sg . D e s d e
e n t ã o , as su as c o m p l e xa s i n s t a l a ç õ e s f o r a m a d o r a d a s p e l o
p a n t e ã o d o "c o n c e i t u a l i s m o g l o b a l " . E m u m a cias m a i o r e s
i r o n i a s d a c u l t u r a , a figura q u e ficara m a r g i n a l i z a d a p o r
d é c a d a s , vi ve n d o s o b a p e r e n e a m e a ç a dc ser i m p e d i d o d c
t r a b a l h a r , p o r u m a b u r o c r a c i a e st a t a l h o s t i l , r e p r e s e n t o u d c
m o d o t r i u n f a l a Ri i s s i a n a Bi e n a l d e Ve n e z a d e 1993.
ESTADOS UNIDOS
N o c e n t r o cio i m p é r i o , p o r su a ve z , n a vi r a d a p a r a a d é c a d a
d c 70 , o m u n d o d a a r t e c o m e ç a v a a ser a i e t a d o p e l o m a i s
a m p lo r ad icalism o d o p e r ío d o . A Co a liz a ç ã o dos
T r a b a l l i a d o r e s d c A r t e ( A W C ) f o r m o u - s e e m N o v a Yo r k e m
ja n e i r o cie 1969, v i n d o a a b a r ca r , r a p i d a m e n t e , u m c o n j u n t o
d c cau sas r a ciica is. A p r e o c u p a ç ã o o r i g i n a l d a AWC d i r i g i a - s e
ap en as aos d i r e i t o s d o s a r t is t a s s o b r e os t r a b a l h o s e xp o s t o s .
N o e n t a n t o , esse a s p e c t o l o g o i n c l u i u u m e n v o l v i m e n t o c o m
o m o v i m e n t o c o n t r á r i o à a u c r r a d o Vi c t n ã e u m a c r í t i c a
a e n e r a liz a d a ao r a c i s m o e ao m a c h i s m o , a m b o s
o
d e s e n vo l vi d o s n o â m b i t o d a a r t e e, n u m a escala m a i o r , n a
s o c ie d a d e p r o p r i a m e n t e d i t a . E m 1969, M i e r l e La d e r m a n
U k e l e s e l a b o r o u o Mainfesto da arte de manutenção. N e l e , d e fi n i u
fiirmas d c t r a b a l h o c o n v e n c i o n a l m e n t e b a ixa s — e m a i s
fr e q u e n t e m e n t e a sso cia d a s às m u l h e r e s , c o m o c o z i n h a r ,
l i m p a r , fa z e r c o m p r a s et c. — c o m o u m t r a b a l h o d c
" m a n u t e n ç ã o " , d i fe r e n t e , e m su a f o r m a , d c t r a b a l h o s m a i s
c o m u m e n t e r e c o n h e c i d o s c o m o d e "d e s e n v o l v i m e n t o ",
d e fe n d e n d o , e n t ã o , q u e se ciever ia c o n fe r i r t a m b é m ao
p r i m e i r o t i p o u m status e q u i va l e n t e . E m p e r fo r m a n c e s n o
W a d s w o r t h A t h e n e u m , ela e sfr e go u o c h ã o e as escad as,
p o l i u as vi t r i n a s d c e xi b i ç ã o e fe c h o u os e s c r i t ó r i o s , a f i r m a n d o o c a r á t e r d c "a r t e d e
m a n u t e n ç ã o " cie t o d o s esses t r a b a l h o s [ fi g . 51].
En t r e os a r t is t a s c o n c e i t u a i s , a o b r a d e A d r i a n P i p e r o fe r e ce a i n d a u m e xe m p l o
d a í n d o l e ca d a vez m a is r a d i c a l q u e est ava e m c u r s o . N o final d a d é c a d a d c 60 , ela
p r o d u z i r a u m a a r t e c o n c e i t u a i t i p i c a m e n t e a u t o - r e fe r e n c i a l e b a se a d a n a l i n g u a g e m ,
m a s d e p o i s vo l t o u - s e p a r a O J J S O _ C Í D p r ó p r i o c o r p o , d o c u m e n t a n d o , p o r e xe m p l o ,
a q u i l o q u e ela ob scrv.ava e m u m m o m e n t o e s p e c í fi c o , o u p a r t i c i p a n d o d c s i t u a ç õ e s
A 63
sociais usuais, com o descer i m i a ru a ou se u t ilizar d o t r an sp or t e p ú b lico, ao m esm o
t em p o c]uc executava u m a serie dc ações in u sit adas. Catálise I I I m ost ra u m a viagem de
ôn ibu s pela cidade, mas com u m am p lo pan o bran co sain d o de sua boca; em Catálise
IV, ela fazia com pras na loja de d ep art am en t os M a c ys vest in d o roupas que t in h a m
sido empapadas com t in t a [fig. 52]. Em 1970, Pip er r e t ir o u a sua p rop ost a de
p art icip ação na exp osição d o N e w Yo r k Cu lt u r a l Ccn t er, Arte eoiieeitual e aspectos
conceituais. O at o fo i pen sado com o u m a resposta à ciet erioração da sit u ação p o lit ica
n o país, da t ju al a ord em dc at irar nos estudantes na Un iversiciadc Est ad u al de Ken t ,
qu an d o esses prot est avam con t ra a recru d escim en t o da gu erra n o sudeste asiát ico, era
u m exem plo con t u n d en t e. A carta de revogação de Pip er foi en t ão in cor p or ad a aos
cadernos que form avam Contexto #8 c Contexto # 9 , t en d o com o su b t ít u lo,
respectivam en te, "In fo r m a çã o t ext u al volu n t ar iam en t e forn ecid a a m i m d u ran t e o
Sensation ContraDiction
Create a little sensation "fòuVegotit Everything you hay says something about you
Feel the dilference that everyone can see Yoa want to keep it Som e thingsyoubuysay more thanyou realise
Something yoa can touch Naturally. Th at^ conservation One thing you buy says everything
Property It conserves those who can t have it Property
There's nothing to touch it They ãorít want to be conserved Either you have itor you don^t
Lo gicallxthat^ contradiction
REINO UNIDO
D o o u t r o lado t fo At lân t ico, o cu t so an alít ico dc gran de part e da arte con ceit u ai
brit ân ica estava sen do ferm en t ad o pelo in flu xo da t eoria francesa. O ano de 1967
testem un h ara a t rad u ção para o in glês t fo Elementos de semiótica, de Rolan d Barth es,
assim com o d o seu in flu en t e ensaio sobre "A m o r t e d o a u t o r ". O seu livr o cie ensaios
Mitologias, su rgid o t ard iam en t e na In glat er r a, em 1972, con t in h a a sua famosa an álise
dos diferentes n íveis dc sign ificad t i na fottígrafia — especialm en te a m od t í pelo q u al
u m a im,agem con st ru íd a pode desencadear cadeias de con ot ações in con scien t es n o
espectador, e m ais ainda se a im agem parece in t eiram en t e n at u r al. Por algima t em p o ,
con ceitualistas "cr it ico s" volt aram -se para u m a con sciên cia n ão apenas da art e, mas
de u m regist ro m ais am p lo c geral d o "visu a l" com o u m esp aço cen t ral da p r od u ção
e rep rod u ção social d o sen t id o.
Nm gt iém vin ct d ou a sem iót ica a u m a crít ica da it ieologia de m ocio m ais coerente
d o que Vi c t o r Bu r gin . Em u m a série cie obras, ele avan çou , dc m ed it ações gerais sobre
o fu n cion am en t o id eológico da im agem visual [fig. 53], até p rojet os especificam ente
in t et ven cion ist as qu an t o ao despert ar da con sciên cia. Grancic part e dessas obras
alcan çou o seu m aio r im p act o p or m eio de u m a com b in ação n ão esperada de t ext o e
im agem , que u t ilizava t od os os recursos dc persu asão da propagan d a. Dest e m o d o ,
u m a im agem m elosa dc u m a fam ília burguesa ext raída de u m a propagan d a era
forçada a ficar lacio a lad o com u m a h o m ilia m aoíst a sobre a su b or d in ação dos
desejos in d ivid u ais em favor d o bem m aior da colct ivid ad c. Ma is à fren t e, Bu r gin
53
Victor Burgin
ieasação 1975
54
Victor Burgin
Possessão 19 76
Póst er
109x84
Domi ni o públ i co
UM
(fotografi a da obr a ín
Si tu, Newcast l e- upon-
Tyne)
I
ju st ap ôs imagens fot ojorn alíst icas cie m ulh eres operárias m al-rem un eracias, o u cie '
um a mãe m iserável com u m car r in h o dc bebe na d esolação cie u m abrigo, co m
dizeres ext raíd os de luxuosas propagan das dc perfum es, carros e con gén eres. Em . u m :
exem plo de 1976, as imagens forarir rep rod u zid as com o póst eres, c colacias em lugares
espalhacios pela ciciade dc Ncwcast le [fig. 54 ]. A figura ressalta u m con t rast e m i i l t i p l o
entte a im agem de u m belo casal que se abraça, a n oção cie "Posse", com a sua d u p la
sugest ão dc d om in ação sexual e dc p od er econ óm ico , c o fat o, ain da, dc t]uc u m a
pequena parcela da p op u lação d et ém quase t od a a riqu eza d o p aís.
O gr u p o Ar t e & Lingu,agem t iesem pen h ou u m papel com p lexo na p olit ização da
arte con ceit u ai. Em m eados dos anos 70 , o Ar t e & Lin gu agem estava lon ge dc ser
um a en tidade u n ificada. N a Gr ã-Br et an h a havia m ais de u m a geração en volvid a, c os
m ais jovens com eçavam a desenvolver interesses e expectativas diferen tes daqueles
prat icados origin alm en t e pela "ar t e co n ceit u ai". A facção de No va Yo t k t in h a-sc
65
enredado, alem disso, n u m a d isp u t a com o gr u p o mglcs que levaria à sua ciissoluç.ão.
A p ar t ir de 1974, esse gr u p o envolveu-se com a a p r od u ção de Tlx Fox, u m a revista
que coexist iu , p or u m breve t e m p o e n u m a relação tensa, com a o r igin a l Art-Language
[fig. 55]. O t ít u lo l o i ext raíd o de um a d ist in ção estabelecida p o r Isaiab Bcr lin en tre "o
p or co-esp in h o", que sabia "u m a grancic coisa", c "a rap osa", que sabia "m u it a s
pequenas coisas". Apesar d o fat o de Bcr lin referir-sc, nessa expressão, aos m en t o s
con trastan tes d cTo lst ó i e D o st o icvsk i, o con ceit o p od e ser vist o com o alegorizan d o
um a diferen ça entre o m o d e r n ism o (Green berg: "o valor est ét ico c u m , n ão m u i t o s ") 55
Schapolsky et al.
estudos cu lt u rais — co m suspeita, com o se ele Os bens imobiliários de
representasse, cm vez cie u m a prát ica gen u in am en t e Nova York: um sistema
social em tempo real.
t r an sfor m ad or a, u m con t r ole social exercido p or u m a como em primeiro de
"nova etapa d o geren ciam en t o cu lt u r al. maio de 1971
( det al he) 1971
66
o r g a n i z a ç õ e s d c 'm a ssa ' e fo r m a ç õ e s ' p r c - p a r t i d o ' m a o í s r a s ". E m E d i m b u r g o ,
Es c ó c i a , D a ve Ru s l i r o n e c u , e n t r e o u t r o s , d e m o s c o n t i n u i d a d e à School Press. O
t r a b a l h o t i n h a c o m o i n t u i t o d e se n h a r e p r o d u z i r p ó s t e r e s , p a n fle t o s e b r o c h u r a s p a r a
g r u p o s d c s in d ic a t o s p o p u l a r e s e p ar a c a m p a n h a s t a is c o m o Ro c k c o n t r a o Ra c i s m o ,
assim c o m o p ar a c o r p o r a ç õ e s p o l i t i c a s , i n c l u i n d o o P a r t i d o So c ia lis t a d o s
T r a b a l h a d o r e s . Q u a n d o o A r t e & Li n g u a g e m d e N o v a Yo r k se d e sfe z , o p r ó p r i o I a n
Bu r n d ei.xou os Es t a d o s U n i d o s e v o l t o u p a t a a Au s t r á l i a , c m p a r t e e n c o r a ja d o p e lo
p o t e n c i a l q u e se a b r ia c o m a e l e i ç ã o d o g o ve r n o so cia list a d e W h i t l a m . Bu r n
p a r t i c i p o u d o Se r v i ç o cie M í d i a cio Si n d i c a t o c t r a b a l h o u c o m N i g c l L e n d o n , T e r r y
Sm i t h , Sa n d y Ki r b y e o u t r o s n o p r o j e t o A r t e e V i d a O p e r á r i a . Esse p r o j e t o p r o c i u z i u
i g u a l m e n t e p ó s t e r e s e b r o c h u r a s p a r a u m ser ie d e s i n d i c a t o s e g r u p o s c o m u n i t á r i o s ,
c o m e ç a n d o a cn vo lve r - se , t a m b é m , c o m a ssu n t o s e s p e c i h c a m e n t e a u s t r a lia n o s , t a is
c o m o a c a m p a n h a p e lo s d i r e i t o s d o s a b o r ige n e s [ fi g . 57].
WORKPLACE
V.
I S N O P L A C E F O R R A C I S M
T o d a s essas in ic ia t iva s s u r g i r a m d i r e t a m e n t c d as fo r m a s d e u m a a r t e c o n c e i t u a i
p o l i t i z a d a , e m b o r a os e n vo l vi d o s sc visse m , d e p o i s d o seu r o m p i m e n t o c o m o
e xe r c íc io d a a r t e e n q u a n t o t a l , t o t a l m e n t e d e svin cu la cio s d essa esfera, c m n o m e d e
u m e n v o l v i m e n t o m a is p r á t i c o c o m as m a i s a m p l a s i n s t â n c i a s so cia is. N a s su as
" M e m ó r i a s d e u m e x- a r t is t a c o n c e i t u a i ", d e i g Si , Bu r n i s o l o u c i n c o c a r a c t e r í s t i c a s
p r o gr e ssiva s d a a r t e c o n c e i t u a i : u m a r c a ç ã o c o n t r a o sist e m a d e m e r c a d o ; u m a
t e n d ê n c ia a u sar fo r m a s m a is d e m o c r á t i c a s d e m i d i a c c o m u n i c a ç ã o ; u m a a t e n ç ã o
m a i o r c o m r e la ç ã o aos r e l a c i o n a m e n t o s h u m a n o s r eais; u m a ê n fa s e e m m é t o d o s cie
t r a b a l h o o r g a n i z a d o s d e m a n e i r a c o le t iva ; e u m in t er esse e m e d u c a ç ã o , lc\ 'a n d o a u m a
\ o d a a r t e e a u m a cr e sce n t e c o n s c i ê n c i a d o p a p e l q u e a a r t e
67
68
292 E 3 S t .
B l c c k 57" l o t 19
1 tl2 e c o . - (19?]
69
CRÍTICA INSTITUCIONAL
Essa ve r s ã o , n o e n t a n t o , est á l o n g e dc a b a r ca r a h i s t ó r i a t o d a . A p o l i t i z a ç ã o d a a r t e
c o n c e i t u a i q u e v i m o s a q u i c o r r e s p o n d e a u m s e n t i d o r e l a t i va m e n t e p a d r ã o e
e sq u e r d ist a d a q u i l o d o q u e c t i d o c o m o " p o l i t i c o " . N o e n t a n t o , o p r ó p r i o
e n t e n d i m e n t o d o q u e era " p o l í t i c o " p assava p o r u m a t r a n s f o r m a ç ã o , á m e d i d a c| uc
q u e s t õ e s c m r e la ç ã o a r a ç a e sexo sc c h o c a va m c o m a t r a d i c i o n a l p r e o c u p a ç ã o d a
e sq u e r d a c o m o t e m a d as classes. N e m t o d o s e r a m d a o p i n i ã o d e q u e se fa z ia
n e c e s s á r i o a b a n d o n a r o â m b i t o d a a r t e p a r a m a n t e r u m a p r á t i c a c r ít ic a s u s t e n t á ve l .
A o b r a dc H a n s H a a c k e c in t e r e ssa n t e n esse s e n t i d o , c sc cst cn cicu ciesde a
o r g a n i z a ç ã o d e sist e m a s c i n é t i c o s — a c i r c u l a ç ã o d c l í q u i d o s e m c a n o s , o p r o c e s s o
r e p e t i d o d e c o n d e n s a ç ã o e e v a p o r a ç ã o d e n t r o d e u m c u b o d c v i d r o fe c h a d o — a t é
sist e m a s m a is a b e r t o s , q u e e n v o l v i a m d a r a l i m e n t o s aos p á s s a r o s e p l a n t a r g r a m a . E m
1970 ele ]á se vo l t a r a p a r a sist e m a s so cia is. C o m o v i m o s c o m P í p c r , a r e s p o s t a d o
m u n d o d a a r t e à g u e r r a n o su d e st e a s i á t i c o cr e scia ca d a ve z m a is e, e m 22 d c m a i o , a
59
Gr e ve d c A r t e d e N o v a Yo r k e n vo lve u p i q u e t e s n o M e t r o p o l i t a n M u s e u m . Par a a
H a n s Haacl<e
e x p o s i ç ã o liijormaçõcs do M u s e u d c A r t e Um dos set e pai néi s
M o d e r n a , n a q u e le ve r ã o , H a a c k e i ndi vi dual ment e
emol dur ados de
i n s t a l o u u m a c a b in e d e v o t a ç ã o
Uma lintiagem ã parte
co n st it u ícfa p o r d u a s u r n a s , " S i m " e
1978
" N ã o " , m o n t a d a s sob u m a p e r gu n t a : Fot ogr af i as sobr e papel
" O fa t o d c o G o v e r n a d o r Ro c k e fe l l e r mont ado e m pai nel
9 1 x 9 1 cada pai nel
n ã o t er co n d e n a d o a p o lít ica d o
Tat e
p r esid en t e N i x o n c m r e la çã o à
I n c i o c h i n a se r ia u m a r a z ã o p a r a vo c ê 60
n ã o v o t a r n ele c m n o v e m b r o ? ". D o i s M a r t h a Rosler
70
Em 1974, Haacke p r o d u z iu um a peça que deralliava o interesse com ercial dos
curadores d o Gu ggen h eim , e desde en t ão vem segu m d o u m a carreira cie "cr ít ico das
in st it u ições", jogan cio lu z sobre as filiações p olít icas de Saatchis e ou t ras
com pan h ias de p o n t a [fig. 59]. È d iíicíl d izer se a prát ica dc Haacke é u m a t o r m a
m od ern a de em preen der u m a crít ica p olít ica b reclit ian a ou apenas u m a est rat égia
arciilosa para m an ter-se u m art ist a bem -su ccciid o. E in egável, n q en t an t o, c]tie as
obras aqu i m en cion adas t orn aram -se can ón icas, in cor p or an d o-se à coleção dc
grandes m useus. N o m at er ial in t r od u t ór io à sua e.vposição realizada pela Serpen t m c
Gallery e pelo Vic t o r ia & Alb e r t Mu se u m cm Lon d res, cm z o o i, H aacke é cHescrito,
sem meias palavras (pelas p r óp r ias in st it u ições que ele desm ascara), co m o "u m dos
artistas con ceit u ais m ais em in en t es em t o d o o m u n d o ". Le m b r a n d o o com en t ár io
de Ian Bu r n , talvez sc chegue a pensar, co m efi^ito, que n ão há fracasso m aio r d o que
o co m p let o sucesso.
POLITICA DE IDENTIDADE
O u t r o s percorreram um a t rajet ória sim ilar, t en d en d o, n o en t an t o, a su b st it u ir u m
sen t ido da p olít ica relat ivo à classe e às gran des empresas, pela recém -su rgid a p olít ica
da id en t id ad e, mais especificamente em relação a c]ucstões c]ue en volvem se.xo,
sexualidade e r a ça / o r igem ét n ica. M a r t h a Rosler respon d eu , ela m esm a, à crítica de
Mich ael Eried em relação à "t eat r alid ad e" na arte co m u m a exclam ação de "Bin go !
E isso aí". O s resultados são vistos em t rabalh os cm vid eo com o Semiótica dc cozinha
[fig. 6 0 ] . Dc pé cm frente a u m a mesa de cozin h a cobert a co m u t en sílios, Rosler pega
cada u m deles, em or d em alfabét ica, en t oan d o o seu n om e e fazen do a m ím ica d o seu
uso. Ao final, p or ém , vem os a art ist a b r a n d in d o a faca e expressan do as fru st t ações
de um a id en t id ad e con fin ad a pelas t rad icion ais d efin ições de sexo c gén ero.
En t re aqueles que in sist ir am nas im p licações de u m a arte con ceit u ai desvin cu lad a
de um a especificidade de m eio, e que servisse a u m a reflíexão sobre as cp cst ões da
representaç.ão e da con st r u ção da id en t id ad e, estava M a r y Kelly. Co m u m t r ab alh o
que t em p or base as in t erven ções sociais de H aacke e t am b ém a ob ra de Pip er
vin cu lad a ao t em a da id en t id ad e, Kelly dest acou ain d a algum as potcn cialidacfes
61
con t idas na in st alação Liílíce d o gr u p o Ar t e & Lin gu agem , o u , m ais precisam en t e, M a r g a r e t Harrison,
Kay Fido Hunt, IVIary
aq u ilo que viu com o as ausên cias n aquela in st alação. "A im p or t ân cia da relação en tre
Kelly
o p síq u ico e o social t or n ou -se eviden t e para m i m pela sua ausên cia n o t r ab alh o d o
Mulheres no trabalho
Ar t e & Lin gu agem ... Eu vi aquele esp aço com o u m esp aço em abert o." A sua 1975
Docuinentafão pós-parto ( 19 73-9 ) é d efin it iva n o en t relaçam en t o d o psíc| Uico e d o sociaL Vi st a da i nst al ação na
En q u an t o t rabalh ava n a obra, Kelly envolveu-se t am b ém n u m p r o je t o "p o lít ic o " Sout h London Gal l ery
62
IVIary Kelly
Documentação
pós-parto
(Documentação IV):
objetos transiclonais,
diário e diagrama 1976
63
Mary Kelly
72
passando pela aqu isição da lin gu agem —
até a ob t en ção da capacidade de escrever o
seu p r ó p r io n om e. A peça em prega u m a
am pla gam a de sign os — os rabiscos da
crian ça, marcas dc pé, m anchas e assun
p o r d ian t e — , mas evita im agens icón icas.
H á t am b ém u m a variedade de t ext os:
t ran scrições das conversas da crian ça,
reflexões da m ãe em fo r m a de d iário,
exem plos da t eoria psican alít ica de Jacques
Lacan , que serviu com o base para o
p r o jet o com o u m t o d o . O t r ab alh o
distan cia-se, deste m o d o , da obra de art e
m od er n a au t ón om a, t o m a n d o d ist ân cia,
igu alm en t e, da obra con ceit u ai an alít ica
Coalne back t T 9 \ que reflet ia sobre a con d ição da art e. Kelly
work thi» w««»i *
r«*ll««d th»* I . ^ . ^ u t iliz o u o p ot en cial ab ert o pela nova arte
— ""at thlBldJag para, com o ela d iz , "levan t ar qu est ões
ottt, ar walW*« relacion adas aos m ovim en t os sociais da
; M «UI I go* - é p o ca ". O u t alvez a in st alação, t en h a
. a b i t S ! ^ *í ' com eçad o a d isp or os "m o vim e n t o s
sociais da é p o ca " p o r trás de u m a série
•d t h i s t o M i n * ' ^
m ais subjet iva dc qu est ões vin culadas à
d i ffi c u l t con st r u ção da icienticiade. Ta m b é m Vi c t o r
cauae ve laav»
with othor pao?^? „ Bu r gin ciistan ciou-se, n u m regist ro sim ilar,
a l o t ..?S5 f i f dos já en fraquecidos esforços de agit ação
ooaxtrary, * -
^c a u *« we 'ra <» e propagan d a, cot n o em Posse, para
htB too « MO h *.
t rabalh ar co m cp est ões ligadas à
sexualidade (em Zoo), co m cu lt u r a p o p u la r
c, n o caso dc Escritório à noite, co m a
im p licação das "belas-art es" n a
con st r u ção da id en t id ad e sexual. N o
com eço dos anos 8o, artistas co m o Bu r gin
e Kelly viam -se op eran d o crit icam en t e em
u m t erren o em que im perava a
represen t ação em geral — u m lugar em que
o visu al, o con ceit u ai e o p olít ico estavam '
in t et ligad os. Se o p r o jet o Ar t e e Vid a
O p er ár ia de Bu r n in corp orava u m
m o vim e n t o de esquetda que se estendia
pata além da art e en qu an t o t a l ( in c lu in d o -
se, aí, a arte con ceit u ai), a Documentação
post-partinu fo i sin t om át ica q u an t o à
m u d an ça da p olít ica da No va Esqu erd a
para a p olít ica de id en t id ad e, c]ue veio a
d o m in a r a arte p ó s-m o d e r n a d o t ilt im o
q u ar t o d o sécu lo XX.
0S2 28 MOS,
73
6
O LEGADO
"^M. _ • . ^ - '
Vár ias t écn icas c est rat égias associadas à art e con ceit u ai d ifu n d ir am -se, p en et ran d o
t o d o o âm b it o cia ai-te con t em p orân ea. O em prego da lin gu agem p o r Jenny H o lz e r c
um a delas. A crit ica fot ográfica da or igin alid ad e em preen d id a p o r Sh errie Levin e é
ou t ra. O jogo de Cin d y Sh erm an co m a id en t id ad e é ain da u m a dessas p rát icas. O
uso dc t ext o e fistografia p o r Barbara Kr t iger seria in con cebível sem a exist ên cia da
arte con ceit u ai, e assim p o r d ian t e. En q u an t o o t r ab alh o de m u it o s artistas é
perm eado p o r u m a p olít ica da diferen ça, a arte realizada p o r ou t r os foca-se, p or sua
vez, na p rod u ção social e in st it u cio n al d o sen t id o. Esses d ois filamentos, ju n t o s,
t ran sform aram em h ist óricas as reivin d icações, feitas pela arte m ociern ist a, de
essencialism o e de au t on om ia da art e, dc u m a fo r m a c|uc lem b ra o que o
m od er n ism o ele p r óp r io fizera em relação ao ethos acad ém ico. Sct ia, n o en t an t o,
in adequado fechar u m livr o sobre arte con ceit u ai co m a con clu são dc cjue o seu
p r in cip al legado foi o de u m aspecto p olit icam en t e cor r et o, m arcad o p o r u m a
excessiva con vicção ética desprovida de h u m o r . Seria igu alm en t e in a p r o p r ia d o
celebrar sem ju lgam en t o crít ico afirm ações d o t ip o "o con ceit u alism o t or n ou -se
extrem am en te d ifu n d id o , se n ão cfom in an t e, n o m uncfo da ar t e". E, n o en t an t o, sob
u m aspecto isso talvez seja verdadeiro. Em resposta a u m a crít ica que n ão alcan çara a
com p reen são da sua obra, Da m ie n H i r s t co m en t o u , cm 20 0 0 : "N ã o acred it o t]uc a
m ão d o art ist a seja im p o r t a n t e , em qu alqu er n ível, apenas p orqu e se está t en t an d o
com u n icar u m a id éia". A "id é ia ", m ais d o c]ue o ob jet o feit o art esan alm en t e, t o r n o u -
se a m oeda corren t e da arte con t em p or ân ea in t er n acion al. Mas a relação dessa arte
com o seu con t ext o in st it u cion al é m u it o m ais firme e estável d o que havia o co r r id o
com a arte con ceit u ai c]uanc"io su rgiu , in st it u ições gigantes tais co m o Ta t e M o d e r n .
Gu ggen h eim Bilbao, Tcm p o r ar y Co n t e m p o r a r y c ou t ras s.ão m on u m en t o s ao espaço
t]ue a arte con t em p ot ân ea veio a ocu par na cu lt u r a cie u m m o d o geral. O crít ico c
jorn alist a M a t t h c w Collin gs estabelece os lim it es desse m o d ism o qu an d o reconhece
t]ue "As iciéias n.ão são n un ca im p or t an t es e n em m esm o são ideias verdadeiras, e sim
n oções, tais com o as n oções em p rop agan d a". Collin gs ad m ira a arte con t em p orân ea
porqu e, com o cie afirm a, "ela c exatam ente o que a vida é h oje cm d ia ", u m a vid a
assolada p or pergun tas com o "Ter á sucesso? Falh ará? At in gir á preços elevados?
Aparecerá na t ele\ 'isão?". O am or d evot ad o p o r Co llin gs à t r ivialid ad e d o que c
con t em p or ân eo co n st it u i o o u t r o lad o da m oeda d o p olit icam en t e cor r et o m aqu iad o
(e com o qu al a con vivên cia é m u it o m ais fácil). Mas a qu est ão c que n en h u m ciesses
dois aspectos se vin cu la d iret am en t c ao esp írit o que o r igin o u a arte con ceit u ai.
Co m o reconheceu Bruce N a u m a n , n aquela época n ão sc sabia, de m ocio algu m , o
que sc deveria fazer; e, com o afir m o u o Ar t e & Lin gu agem , o status alcan çad o pelo
result ado t am bém n ão era, dc m o d o algu m , claro. N o com eço deste livr o, afirm ei ser
im p o r t an t e cfiferenciar os \ 'ariados sen t idos ligados ao nosso t e r m o chave,
"co n ce it u a i". U m cicies, vin cu lad o à vanguarda e ao Flu xu s, sugeria u m a gama de
atividades n ão d et erm in ad as pela especificidade d o m eio — o que, p o r sua vez, n u m a
expressão talvez u m p ou co vaga, vin cu lou -se à idéia de um a criat ivid ad e h u m an a
un iversal, afastando a idéia de u m a prát ica est ét ica especializada, b io u vc t am b ém
um a "art e con ceit u ai" au t ocon scicn t c c m ais rigorosam en t e t eorizad a, surgida n o
final dos anos 6o c que dedicou-se in icialm en t e a u m exame crít ico das premissas d o
m od er n ism o c da arte de vanguarda, evolu in d o, nos anos 70 , para um a prát ica
crít ico-p olít ica voltacia para u m cam p o m ais am p lo de represen t ação, fissa arte
con ceit u ai in co r p o r o u , ela m esm a, difirren tes filamentos, alguns m ais an alít icos e
fu n dam en t ados na lin gu agem , ou t ros m ais p ixixim os das at ividades d o Flu xu s e de
elem entos de perform an ce, lisses d ois aspectos representavam u m interesse volt ad o
para, respectivam en te, m en t e e cor p o. Por m u it as razões, das quais n ão se deve
csc]ueccr o fem in ism o, o ú lt im o q u ar t o d o sécu lo XX t est em u n h ou um a m u d an ça
decisiva n o interesse cm relação ao cor p o. Tor n ou -se possível descart ar a an álise e a
crit ica racion al com o reféns de u m a m asculin idacie ultrapassada. O veio an alít ico da
arte con ceit u ai, vin cu lad o a um a p olít ica de classes de esquerda, foi eclipsado p o r u m
fervilh ar dc atividades guiadas p or um a p olít ica dc id en t id ad e. Essa m u d an ça está
p or trás da n oção de "co n ce it u a lism o " que su rgiu para descrever a gama de
atividades baseadas em perform an ces, vid cot ecn ologia e in st alações que d o m in a h oje
a cena art íst ica in t er n acion al. "Co n ce it u a lism o ", nesse sen t id o, é efetivam en te u m
sm ôn im o pata "p éis-m o d er n ism o ". As fron t eiras en tre essas diferen tes form as dc
ativiciacic t orn aram -se in d ist in t as, c seria u m erro t en t ar im p o r , nesse cam p o,
defin ições rígid as o u ciescuidadas. Corre-se o risco dc chegar à sit u ação rid ícu la dc
aplicar testes q u ím icos para d escobrir sc o Ar t ist a X, ou a O b r a de Ar t e Y, sc encaixa
ou n ão nos requ isit os para o seu passaport e "co n ce it u a i". D i t o isso, algum as
d ist in ções, n ão obst an t e p rovisórias, são n ecessárias para que n em t u d o su bm erja cm
u m lam açal de on de n ão seria m ais possível d iferen ciar prát icas crít icas interessantes,
e, ousarei d izê-lo, progressistas, de ou t ras prát icas em que im p era u m iionscnsc vazio,
m ist ificad or c au t op rop agad or.
Em qualquer ép oca, boa parcela cia arte p r o d u zid a n ão t em m aior interesse. Isso
é t ão verdadeiro em relação à art e con ceit u ai q u an t o ao p éis-m od crn ism o
con t em p orân eo o u à art e acad ém ica. N o passado, u m desgaste n at u r al dava con t a da
qu est ão. Mas, à m ed id a que a in st it u ição da art e se dilat ava na m od er n a sociedade
ocid en t al, e à m ed id a que o in vest im en t o nessa art e — culttu-al c financeiro — se
m u lt ip licava, t or n ou -se cada vez m ais d ificil d izer, co m precisão, q u an d o c que o
Im p er ad or está vest in d o as suas roupas novas. A força m aio r da arte con ceit u ai c que
talvez ela ten h a sid o u m m o vim en t o c]ue, p o r u m breve p er íod o, t en h a se volt ad o
con t ra a ín d ole de t u d o isso. Nest e p er íod o, alguns artistas t o m ar am a si a
respon sabilidade de verificar o que era exatam ente a arte e que papel desem penhava
na sociedade m od er n a. Seria u m erro, acred it o, m ist u r ar essa espécie de prát ica
crít ica ao eclet ism o que se t o r n o u o t raço m ais visível da art e na virada para o sécu lo
XXI. A arte con ceit u ai pod e, sob alguns aspectos, ser resp on sável p o r essa sit u ação —
p or t et d cst fu íd o as barreiras d o su post o m eio da art e. Em ou t r os sen t id os, n o
en t an t o, essa respon sabilidade n ão existe. Já m en cion ei o im p act o c|uc a t eot ia das
revoluções parad igm át icas d cT. S. Ku h n exerceu sobre o d esen volvim en t o da arte
con ceit u ai. Ku h n defen dia que, na m aio r part e d o t em p o , a ciên cia p r o gr id e p o r
acu m u lação, até que se desenvolvam an om alias e t od a a est ru t u ra seja sacudida, t en d o
en tão in ício u m n ovo p er íod o de n or m alid ad e. O t raço m ais eviden te da arte à q u al
se aplica o t e r m o "co n ccit u alist a", seja posit iva o u n egativam en te, é que ela c, p o r
assim dizer, u m a "ciên cia n o r m a l". Ela é o m o d o com o as coisas são agora, assim
com o a arte acad ém ica in corporava o m o d o com o as coisas eram em m eados d o
sécu lo XIX, o m esm o acon tecen do co m a arte m od er n ist a cm relação ao sécu lo X.X.
Deixan d o de lad o h ip érboles c u t op ias, há u m sen t id o com relação ao qu al a arte
con ceit u ai fo i u m m o d o de ação gu er r ilh eira con t r a os poderes estabelecidos,
m an ifestos na fo r m a de u m m o d er n ism o in st it u cio n alizad o , t an t o n o âm b it o d o
m ercado q u an t o das un iversidades nas quais se ensinava e r ep r od u zia a art e. M e l
Ram sd en certa vez observou que a art e con ceit u ai estava m en os vin cu lad a ao at o de
colocar escritos na parede, d o que a u m esp ir it o de cct icism o e ir on ia. Se o
"co n ceit u alism o " t or n ou -se, co m efeit o, o status quo d o in flacion ad o m u n d o da art e
con t em p orân ea, en t ão é cert o con clu ir que ele t em m en os em c o m u m co m o esp írit o
da arte con ceit u ai h ist órica d o que co m a academ ia m od er n a da q u al aqueles artistas
h aviam t o m ad o d ist ân cia, bdoje, n u m a ép oca de glob alização, nos é d it o que "som os
t od os capitalistas, agora" - capitalistas liberais, está claro. Julga-se, além disso, que
deveríam os t od os ser, cu lt u t alm cn t e , p ós-m od cr n ist as. Ao final da p aráb ola de
George O r we ll em A revolução dos bichos (1945), os an im ais o lh am pela janela da casa em
que os seus líderes, os porcos, com em à m esm a mesa que os fazen deiros h u m an os:
N ã o há d ú vid a, a arte crít ica con t in u a a ser feit a, mas apenas em u m sen t id o
orwellian o se p od eria sustentar que "som os t od os con ceit ualist as agora".
Docunicnia 10. car. cxp., K a s s c l . Earl com cptuel, cat. cxp., M u s c c
BIBLIOGRAFIA '997 d ' A r t M o d e r n e d c la V i l l e d c
Paris. 19 8 9
F o s r c r , H a l ( e d . ) , Dtscussions in
Conleniporaty Cullure, Seartle, L i p p a r d , L u c y , Six Years: The
1987 Dem atevialization of the Art Ohject
igój lo igyz — whcn attitudcs from ig66 lo igji, 2a . ed.,
hecam cjorm , cat. cxp., Kcttlcs F r i e d , M i c h a e l , Art and
Berkcley, 19 9 7
Yard, Cambridge, 19 8 4 Ohjecthood, C h i c a g o , 199S
JAVC in your Head: Concept and
Alberro, Alexander and F r i e d m a n , K c n ( e d . ) , The
Experim cnt in England
Patrícia N o r v c l l (cds.), Fluxus Readcr, C h i c h e s r e r , 19 9 8
igô^ -igj^ , cat. cxp.,
Rccording Conceptual Ari, . W h i t c c h a p c l Gallery,
Clobal Conceptualism : Points of
Bcrkcley, 20 0 1 Londres, 20 0 0
Origin ig^ os— igSos, car. cxp.,
Baldwin, M i c h a e l . C h a r l e s cxp., M u s e u m of
N e w m a n , M i c h a e l and Jon
Harrison and M e l R a m s d e n Contemporary Art, Los
B i r d ( c d s . ) , Rcwriting Conceptual
Angeles, 19 9 6
feds.), Art íir L(iní>uaot - in Art, L o n d r e s , 19 9 9
Practicc, 1 vols., B a i x e l o n a ,
G r c c n b c r i í . C l e m e n t , Ari and
R o b e r t s , J o h n ( e d . ) , Tke
'999 Culture, Boston, 1961
Im possihle Docuuienl: Pholography
Buchloh, B e n j a m i n , NeO" and Conceptual Ari in Britain
G r e e n b e r g , C l e m e n t , The
iivaut^ arde and Culture Industry, igóó— igyô, Londres, 19 9 7
Collected Essays and Crííicism ,
C a m b r i d g e, M a s s . , 2 0 0 0
4 vols., ed. J o h n 0 ' B r i a n ,
S m i t h s o n , R o b e r t , The
Bíirgcr, Peter, Thcoiy oj the C h i c a g o , 19 S6 — 19 9 Í
Collected W ritings, c d . J a c k F i a m ,
Avant-Gardc, trad. M i c h a e l Berkclcv, 19 9 6
Groys, Bóris, D a v i d R o s s and
Shaw, M i n c á p o l i s , 19 8 4
I w o n a B l a z w i c k ( c d s . ) , Ilya
Srilcs, Kristine and Peter S c l z
Burgin, V i c t o r , The End of Art Kalhikov, Londres, 19 9 8
( e d s . ) , Thcorics and Docum ents of
Iheory: Criticisnt and Contem porary Art. B e r k c l e y ,
H a r r i s o n , C-harlcs, Essays on
Posttiwdcrnily, L o n d r e s . igS6 19 9 6
Art &• language, Oxford, 1991
1996
K r a u s s , R o s a l i n d , T7:r
fig-45 essencialismo [ 4 . 74
abstração pós-pictórica i i Buren, H a n i e l 57 esrérica. sratus da 7. 9. 17. 21, 30, índice 4 9 . $í. 72; íiií.42
abstrairão n. i ^ . 17.18, 10. i 8 . • Ajfiehage sauvage 57; l i g - 4 4 4 í - 75 i n s t a l a ç õ e s Í4—7. 4 0 , 4 9 . 59. 6^ .
Miuiifestitção II. I 57; fig.4} e x p r e s s ã o 19. 26 7^
Alcnianlia 2 , - 4 . ,1, 4 8 Biirçíer, IVrer 10 e x p r e s s i o n i s m o absrraro 18, ^7 Issue. revista 45
Alrluisscr, L o u i s 57 B u r a i n , Victoi" í 4 , 45, 65, 7^ Itália 20 . 55. 59—60
A i n c n c a L a n n a 9. 60— ] Fololnlhii í4 f e m i n i s m o 22, 75
antiforma 6, jo. 59 B u r n , Ian ÍS- 4 8 . 54, 66—7. 71. 7^ I-lynr. H e n r y 6 - 8 . 22-4 ]orn. AsiTor 19. 55
IVildessari, [olm ÍI—2 CAJr n s. M i c h a e l 66 Cjrcenberg. (Clement 10. 16. 17. hg- - 4
C ' r a i i j - M a r i i n . M i c h a e l 45 21. 28 , í 2, 41. 6 6 Intitulado (Arte eonio idéia com o
Baldwin, M i c i i a c I 4^—4. 52—Í C r o w . 1 liomas 4 7 Aneeeiiliiini ^2—Í; lig.22 idéia) [Sentido] 6. 4 1: lig.i
Sá-ic ihgás innk 36; íig.27 Cjro\'s, B ó r i s 6 2 Sem título fDoje cavalos) 59;
Beckett. S a m u e l ^8 H a l i . S a l v a d o r 17 G r u p t ) de N e w p o r t 4^ KozIo^'. C h r i s t i n e
Bell. Clive 10 narbo\'cn. Hanne 4 0 g r u p o G u t a i i o ; Uo.u híforuhição não teoria ^5; lig.26
linrásia 24 ; hg.15 d c s c o n s t r u ç ã o 52 H a m i l t o n . R i c h a r d 17
Boctri. A l i g l i i c ro 59 n i i c l i a m p . M a r e e i u, \ i. 17, (ytiiieiii irgisliiiiido ,1 siiii piópnii An and Culínre 1,1— 1,'- fisí.22
bolchevismo 14, 17 54 19. 26 , 2 7 4 í eoiidi(ão 45; íiií-56 Lendon. N í g e l 67
Borges, Jori^c L u i s ^9 H i r s t , D a m i e n 74 L e n i n , V I . 59
Brancusi. Cxíiistantín \ i Holzci", jenny 74 L e v i n e , S h e r r i c 74
Briiish l.iyhiihi 71; liij.sg
78
L c W i r r . Sol 7, ^4 . 37- 8 M o n d r i a n . P i e t 11. i ^ . 16 I^"per. A d r i a n 6^—4. 70 . 72 S i n i f h . s o n . R o b e r t 4 6 . 48—9
D.vs aihos iiioiiiibm uhcrtos ^7; M o r r i s , R o l x r r 21. 2Í. 24—7 séi'ie Catáliscb^ ; U-^ .=ii Monum entos de Passaic 4 8 ;
4 g, 6 s-6 , 6 7 72. 75 m o \ ' i i n e m o " \ ' e i ' d e " 24 oiJcnani... ^ 2; fia.21 S t e l l a , [ ' r a n k 29—30
obi"as hascadas c m m ú s i c a c o n c r e t a 22 p ó s - m o d e r n i s n i o 9 . 74 . 75 S t e z a k e r , | * i h n 45
r e l a ç ã o ci>m a arre Nam [une I ' a Í k 1^ Suporte para garrafas 12; IK;.Í
L i p p ; i r d , L i k - \ 7 8, 24 . í o , í 6 . N a u m a n , B r u c e 45—6, 75 r a d i c a l i s m o p o l í t i c o 7, ^4—7^. 75
( ) ('x/fi^Z/v' iiiiUj^ iiO 14; ha.7 n ú m e r o s 40—r readyniades 11—IÍ. 19. 2$—6. 27. 4 9 hgõi
M a l c v i d i . K a s i m i r i i . IÍ o b r . i s baseadas e m r e a l i s m o s t i c i a l i s t a i ^ . 62
iJicló:^ iícs 61: fig.4'.) O p a l k a . K o m a i i ^8. 4 0 li\ 'r o s d e fotos 46; Ii^ .í7
Y o u n g . L a M*>nte
M e r / . K i a r i o ^9 O s b o r n e . Peter 4^ R u s h t o n , Dave 6 7
cspecilicidade dc m e i o 21 Picasso. P a b l o 11 S i e g e l a u b . S c d i ^ 5- 6 . ^7