Você está na página 1de 6

VARIABILIDADE ESPAÇO-TEMPORAL DA VAZÃO ESPECÍFICA MÉDIA NO

ESTADO DE GOIÁS
Jorge Enoch Furquim Werneck Lima1, Euzebio Medrado da Silva1, Fernando Antônio Macena da
Silva1, Artur Gustavo Müller1, Edson Eyji Sano1 ( 1 Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, C.P.
08223, 73010-970 Planaltina, DF. e-mail: jorge@cpac.embrapa.br; euzebio@cpac.embrapa.br;
macena@cpac.embrapa.br; agmuller@cpac.embrapa.br; sano@cpac.embrapa.br )

Termos para indexação: recursos hídricos, hidrologia, regionalização de vazões,


geoprocessamento, disponibilidade hídrica

Introdução
O conhecimento sobre o comportamento hidrológico das diferentes regiões é fundamental
para a adequada gestão de seus recursos hídricos. Nesse aspecto, o ideal seria o monitoramento
hidrométrico em todos os locais com importância social, econômica ou ambiental, ou com risco de
ocorrência de conflito pelo uso da água, qualitativo ou quantitativo. Contudo, o levantamento
sistemático de dados hidrométricos constitui atividade que requer grande quantidade de recursos
humanos e financeiros, geralmente escassos, principalmente para grandes áreas. Técnicas como a da
regionalização e a da modelagem hidrológica, normalmente, são utilizadas na busca pelas melhores
informações possíveis em áreas não monitoradas.
A capacidade de geração de vazão de uma determinada bacia hidrográfica pode ser obtida
pelo índice denominado “vazão específica” (L/s/km²), definida pela razão entre a vazão que flui em
um determinado ponto do rio e a sua respectiva área de drenagem. O conhecimento desse índice
possibilita, de forma fácil e rápida, a estimativa da vazão que passa por diferentes locais ao longo
do curso d’água a partir de sua área de drenagem (km²). Obviamente, as informações obtidas dessa
forma não substituem aquelas geradas com dados medidos no local. No entanto, considerando a
necessidade e a falta de dados de campo e o uso cada vez mais popular das ferramentas de
geoprocessamento, as estimativas feitas por meio desse índice podem fornecer uma excelente idéia
da ordem de grandeza da vazão disponível ao longo dos cursos d’água.
Como forma de contribuir para o maior conhecimento sobre o comportamento hidrológico
no Estado de Goiás, na busca pelo uso racional e a adequada gestão de seus recursos hídricos, este
trabalho objetivou estimar e avaliar a variabilidade espaço-temporal da vazão específica média em
seu território.
Material e Métodos
Para a realização deste trabalho foram utilizados os dados da Rede Hidrométrica Nacional,
atualmente sob gestão da Agência Nacional de Águas – ANA, disponíveis da base de dados Hidro
(ANA, 2008).
Primeiramente, foram selecionadas 15 estações fluviométricas espacialmente distribuídas no
Estado de Goiás e com pelo menos 20 anos de série de dados medidos. Em seguida, os dados foram
organizados e analisados para a geração das vazões médias mensais e anuais (m³/s) em cada
estação. Dividindo-se as vazões médias pelas respectivas áreas de drenagem das estações, foram
obtidas as vazões específicas médias mensais e anuais (L/s/km²) em cada estação.
Com base nas vazões específicas médias e na localização de suas respectivas estações,
utilizando ferramentas de geoprocessamento (ArcView), efetuou-se a espacialização dos resultados
de cada mês do ano e da média anual. Para a interpolação espacial dos dados utilizou-se o modelo
de geração de superfícies TIN (Triangulated Irregular Networks).

Resultados e Discussão
As estações selecionadas para a realização do presente trabalho, bem como a rede
hidrográfica e as sub-bacias do Estado de Goiás são apresentadas na Figura 1.

Figura 1. Localização das estações fluviométricas utilizadas no estudo, da rede hidrográfica e das
principais bacias do Estado de Goiás.
Na Figura 2, são apresentados os resultados da análise das vazões médias mensais das
estações utilizadas.

Figura 2. Variabilidade da vazão média mensal nas estações fluviométricas analisadas.

Como se pode observar na Figura 2, conforme esperado, as vazões médias mensais nas
estações seguem o comportamento das chuvas na região, ou seja, no período de chuvas, de
outubro/novembro a março/abril, a disponibilidade hídrica nos rios é maior do que no restante do
ano. Destaca-se que, na região, a vazão em um certo local é altamente dependente da sua área de
drenagem. Assim, a vazão específica é o indicador adequado para avaliar e comparar a capacidade
das diferentes porções do estado em gerar vazão em seus rios.
Na Figura 3, é apresentada a variação mensal desse indicador no Estado de Goiás.
Janeiro Fevereiro Março

Abril Maio Junho

Julho Agosto Setembro

Outubro Novembro Dezembro

Figura 3. Variabilidade espaço-temporal da vazão específica média no Estado de Goiás.


Segundo a escala utilizada na Figura 3, quanto mais forte a tonalidade da cor azul, maior a
vazão específica. No caso, quanto mais forte a tonalidade da cor vermelha, menor a vazão
específica. Assim, pode-se observar que os meses de janeiro, fevereiro e março são aqueles em que
a vazão específica é maior, enquanto setembro e outubro são os meses em que ela atinge, de forma
geral, os menores valores.
Com relação à magnitude dos resultados obtidos, destaca-se que, nos meses mais secos, na
região noroeste do estado, a vazão específica média mensal chegou a valores muito baixos,
inferiores a 2,5 L/s/km². No sudoeste do estado, mesmo nos meses mais secos do ano os valores de
vazão específica obtidos não foram baixos, permanecendo acima de 10 L/s/km². No restante do
estado, os valores mínimos médios podem ser considerados razoáveis, perto de 5 L/s/km². Destaca-
se, ainda, que os resultados apresentados são médias de longo período, portanto, em anos de chuva
abaixo da média, muito provavelmente, as vazões específicas também serão inferiores à média.
Na Figura 4 é apresentada a variabilidade espacial da vazão específica média anual.

Figura 4. Variabilidade espacial da vazão específica média anual no Estado de Goiás.


Observa-se que as vazões específicas médias anuais, em toda a bacia, variam entre 10 e 20
L/s/km². Os resultados anuais corroboram as considerações feitas anteriormente, mostrando que, na
parte sudoeste do estado, de forma geral, a produção hídrica superficial é maior, enquanto na fração
noroeste do estado, são verificados os menores valores de vazão específica média. Esses resultados
são coerentes com os resultados de vazão específica média anual apresentados no Plano Nacional de
Recursos Hídricos para a região (Brasil, 2006).
Segundo os resultados obtidos, por exemplo, um rio com área de drenagem igual a 1.000
km², localizado na parte noroeste do estado teria uma vazão média anual estimada em cerca de 10
m³/s (10 L/s/km² x 1.000 km²), enquanto isso, na porção sudoeste do estado, uma bacia similar teria
uma vazão média anual de aproximadamente 20 m³/s. No restante do estado, a vazão média anual
estaria entre esses valores. A vazão média mensal pode ser estimada da mesma forma, com base nas
vazões específicas médias mensais apresentadas na Figura 3.
Destaca-se que, como o território do Distrito Federal está inserido no Estado de Goiás, os
resultados apresentados servem de referência para o conhecimento da variabilidade espaço-temporal
da vazão específica nessa unidade federativa.

Conclusões
1. Há uma variabilidade espaço-temporal significativa da vazão específica no Estado de
Goiás;
2. Na parte noroeste do estado, foram detectadas as menores vazões específicas, atingindo
valores considerados “muito baixos” nos períodos mais secos do ano;
3. Na parte sudoeste do estado, foram detectadas as maiores vazões específicas;
4. No mês de setembro, foram detectados os menores valores de vazão específica no
estado; enquanto os maiores foram detectados nos meses de Janeiro, fevereiro e março.

Referências bibliográficas
ANA. Agência Nacional de Águas. Hidroweb: Sistema de Informações hidrológicas. Disponível
em: <http://hidroweb.ana.gov.br>. Acesso em: 20 jun 2008.

BRASIL. Plano Nacional de Recursos Hídricos. Panorama e estado dos recursos hídricos do
Brasil. v. 1, Brasília: SRH/MMA. 2006. 282p.

Você também pode gostar