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ARTIGO ARTICLE 913

Anomalias craniofaciais: descrição


e avaliação das características gerais
da atenção no Sistema Único de Saúde

Craniofacial anomalies: description


and evaluation of treatment under
the Brazilian Unified Health System

Isabella Lopes Monlleó 1


Vera Lúcia Gil-da-Silva-Lopes 2

Abstract Introdução

1 Faculdade de Medicina, The first initiative for treating craniofacial As anomalias congênitas afetam cerca de 5%
Fundação Universitária
anomalies under the Brazilian Unified Health dos nascidos vivos em todo o mundo. Seu im-
de Ciências da Saúde
de Alagoas, Maceió, Brasil. System was in 1993. An important step was the pacto, contudo, é mais bem evidenciado nos
2 Faculdade de Ciências creation of the Reference Network for Craniofa- países industrializados devido a um maior con-
Médicas, Universidade
cial Treatment. There are now 29 services listed trole das causas transmissíveis e nutricionais
Estadual de Campinas,
Campinas, Brasil. in this Network. The current study aimed to de- de morte, o que, de um modo geral, não ocorre
scribe and assess the general characteristics of nos países em desenvolvimento 1.
Correspondência
healthcare in this Network. Data were colleted Apesar disso, na América Latina, essas ano-
V. L. Gil-da-Silva-Lopes
Departamento de Genética by a questionnaire, sent to the centers. Response malias já respondem por 10-25% das admis-
Médica, Faculdade rate was 86.2%. The results showed an increase sões hospitalares pediátricas, ocupando entre
de Ciências Médicas,
Universidade Estadual
in services in Southeast Brazil, in universities, o 3o e o 4o lugares dentre as causas de morte no
de Campinas. and in relation to cleft lip and palate; public fi- primeiro ano de vida 2. No Brasil, os defeitos
Rua Tessália Vieira de nancing was prevalent; team composition was congênitos vêm se mantendo consistentemen-
Camargo 126, Campinas, SP
13081-970, Brasil.
largely in accordance with North American te como segunda causa de mortes perinatais 3,
vlopes@fcm.unicamp.br standards; routine care occurred in 90%; and contribuindo com 13% destas no ano 2000 4.
70% used clinical protocols. The Network’s name Entre os defeitos congênitos, as anomalias
does not appear to entirely reflect its scope. The craniofaciais constituem um grupo diverso e
results show the need to review the Network’s complexo. A denominação genérica de anoma-
definition, aims, and achievements and the lias craniofaciais inclui anomalias isoladas e
standards for inclusion of craniofacial centers. múltiplas de etiologia genética ou não. Via de
regra, refere-se à situação em que os arcabou-
Abnormalities; Cleft Lip; Cleft Palate; Cochlear ços craniano e/ou facial apresentam alterações
Implantation; Endosseous Dental Implantation de contorno 5,6,7.
Entre elas destacam-se fissuras labiopala-
tais, fissuras palatais, craniossinostoses, holo-
prosencefalia, defeitos otomandibulares e de
fechamento do tubo neural que afetam o pólo
cefálico, além de quadros sindrômicos multis-
sistêmicos como as síndromes alcoólica fetal e
de Stickler, entre outros 5,6,7,8.

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A prevalência das anomalias craniofaciais estrutura sociopolítica e sistema de saúde vi-


varia de acordo com a região geográfica e gru- gente 7,17,18.
po étnico considerado 7. Indubitavelmente, as Em meados da década de 1990, dois estu-
fissuras labiopalatais constituem os exemplos dos de grande abrangência foram conduzidos
mais freqüentes, podendo ocorrer em até um na América do Norte 15 e Europa 17. A despeito
em cada 600 recém-nascidos, o que significa o da concordância sobre a necessidade de aten-
nascimento de um portador a cada 2,5 minu- ção integral, especializada, multiprofissional e
tos no mundo 9. de longo prazo, esses estudos propuseram di-
Dados sobre as anomalias craniofaciais na ferentes critérios de credenciamento e acredi-
população brasileira são escassos e dispersos. tação de serviços.
A principal e mais abrangente fonte provém do Alguns desses critérios compreendem: com-
Estudo Colaborativo Latino-Americano de Mal- posição da equipe multiprofissional; número
formações Congênitas (ECLAMC), que realiza mínimo de procedimentos/ano/especialista e
vigilância epidemiológica dessas condições em de reuniões/ano/equipe; discussão e pactua-
maternidades voluntárias. De acordo com o ção de planos individuais de tratamento; docu-
ECLAMC, a prevalência de fissuras labiopala- mentação e manutenção de arquivo de dados
tais no Nordeste e Sul do Brasil varia entre 9,72- clínicos e exames; contato e encaminhamento
11,89/10 mil, enquanto no Sudeste, entre 5,39- de familiares a grupos de apoio e articulação
9,71/10 mil 10. As fissuras palatais variam de da referência/contra-referência 15,17.
2,41-3,08/10 mil no Nordeste e Sul, e de 3,09- Reconhecendo a necessidade de potencia-
5,01/10 mil no Sudeste 10. Essas prevalências lizar esforços e estabelecer necessidades prio-
são concordantes com outras populações 11. ritárias, consensos globais e protocolos comuns
Considerável parte dos pacientes com ano- de pesquisa nessa área, a Organização Mundial
malias craniofaciais tem expectativa de vida da Saúde (OMS) lançou em 2000 o projeto Glo-
normal, visto que apenas uma minoria delas é bal Strategies to Reduce the Health-care Burden
letal 7. A despeito disto, essas anomalias im- of Craniofacial Anomalies 7. Desde então, fo-
põem um significativo impacto sobre a fala, ram realizadas três conferências internacionais
audição, aparência e cognição, influenciando que definiram áreas de investimento de pes-
de modo prolongado e adverso a saúde e a in- quisas (interação genética-ambiente, aspectos
tegração social do portador 7,12. genéticos, tratamento e prevenção) e parâme-
Os custos da atenção à saúde nessa área são tros para registro global dessas anomalias 20.
elevados. No ano 2000, o National Institute of A história da atenção às anomalias cranio-
Dental and Craniofacial Research dos Estados faciais no Brasil confunde-se com a luta de pro-
Unidos estimou em 1 bilhão de dólares/ano o fissionais, pesquisadores e famílias de porta-
investimento necessário para atender portado- dores que, ao longo dos últimos 35 anos, não
res de fissuras labiopalatais ao longo de suas mediram esforços para a inserção desses defei-
vidas e, em 2001, o National Health Services do tos congênitos na pauta das políticas de saúde.
Reino Unido avaliou em 6,4 milhões de libras/ Como resultado desses esforços, o Brasil conta
ano o investimento necessário para manter hoje com centros de excelência no tratamento
uma unidade regional multiprofissional com de anomalias craniofaciais, sendo um deles re-
capacidade para 140 casos novos/ano de fissu- conhecido como referência mundial pela OMS.
ras labiopalatais 7,12. Apesar disso, apenas na década de 1990,
Por outro lado, os custos do não-tratamen- mediante o processo de implantação e consoli-
to ou do tratamento ineficiente das anomalias dação do SUS, foram dados os primeiros pas-
craniofaciais são também enormes 7. O ônus sos para a efetiva inclusão da assistência a por-
em termos de morbidade, distúrbios emocio- tadores de anomalias craniofaciais no SUS.
nais, estigmatização e exclusão social recai não Em 1993, foram criados mecanismos de
só sobre o portador, mas também sobre sua fa- pagamento para correção de fissuras labiopa-
mília e sobre a sociedade 7,12. latais e realização de implante dentário os-
A partir da década de 1980, estudos sobre seointegrado na tabela do Sistema de Informa-
oferta, composição e características estruturais ções Hospitalares (SIH/SUS) 21. No ano seguin-
e funcionais dos serviços de anomalias cranio- te foram publicadas normas de credenciamen-
faciais começaram a surgir no panorama inter- to de serviços para realização desses procedi-
nacional 7,13,14,15,16,17,18,19. mentos 22.
Todos esses estudos demonstraram que am- Posteriormente, no contexto da adequação
plas variações na oferta e qualidade da atenção do processo de descentralização a um arranjo
refletem, em última análise, diferenças entre os racional do sistema e ao modelo de financia-
países quanto ao desenvolvimento econômico, mento adotado, foi criada a Rede de Referência

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ANOMALIAS CRANIOFACIAIS E SUS 915

no Tratamento de Deformidades Craniofaciais poníveis na equipe; tipos de anomalias cranio-


(RRTDCF) 23. faciais e volume anual de pacientes atendidos.
A partir de 1999, a RRTDCF, além de incorpo- O questionário e a carta-convite foram re-
rar e ampliar o número de serviços já credencia- metidos, no período de maio a outubro de 2003,
dos, passou a abranger a área de implante coclear aos gestores das instituições credenciadas. A
para tratamento de deficiência auditiva 23,24. opção por esta forma de encaminhamento foi
Atualmente, essa rede conta com 29 centros definida considerando que o credenciamento
credenciados nas cinco regiões do país, para é concedido a instituições que dispõem de um
tratamento de fissuras labiopalatais e/ou reali- conjunto de serviços e não a um serviço espe-
zação de implante dentário osseointegrado e cífico. Para devolução do questionário foi for-
implante coclear 23. Os objetivos deste artigo necido envelope selado.
são descrever e avaliar as características gerais Nos casos em que a instituição não se ma-
da atenção a portadores de anomalias cranio- nifestou, novo contato foi realizado após con-
faciais no SUS, tendo como foco os centros de firmação do endereço postal. Foram conside-
atendimento que compõem a RRTDCF. radas como parte da amostra as respostas en-
viadas até novembro de 2003. Os dados foram
tabulados e analisados utilizando os progra-
Material e métodos mas Epi Info versão 6.04d (Centers for Disease
Control and Prevention, Atlanta, Estados Uni-
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética dos) e Statistical Analysis System versão 8.02
em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (SAS Institute, Cary, Estados Unidos).
da Universidade Estadual de Campinas (proto- Entre as variáveis selecionadas para análi-
colo 381/2002). O material foi composto por 29 se, 13 foram obtidas diretamente das pergun-
centros de atendimento credenciados pelo Mi- tas do questionário. Para análise do preenchi-
nistério da Saúde (MS) na RRTDCF. mento de critérios de composição de equipes
Os centros foram identificados junto à Coor- pelos centros estudados, foram criadas as va-
denação Geral de Sistemas de Alta Complexi- riáveis ACPA e EUROCLEFT, correspondendo,
dade do MS, sendo incluídos todos os creden- respectivamente, aos parâmetros norte-ameri-
ciados até outubro de 2003. Informações sobre canos 15 e europeus 17. O agrupamento em uma
área e tempo de credenciamento também fo- e (ou) outra variável foi realizado com base nas
ram obtidas nesta fonte. especialidades requeridas pelos respectivos cri-
Os dados foram coletados utilizando questio- térios e disponíveis no centro de atendimento.
nário semi-estruturado, adaptado de Strauss 15 e Para análise das razões para o não preen-
Shaw et al. 17. Esta adaptação se deu por meio da chimento dos critérios foi criada a variável
ampliação da lista de profissionais envolvidos na MOTIVO, correspondendo às especialidades
equipe, a fim de contemplar as especificidades requeridas e não disponíveis nos centros.
das profissões existentes no Brasil e pela elimina- Foram excluídos dessas análises os centros
ção de perguntas sobre procedimentos cirúrgi- que não se manifestaram sobre a presença de
cos utilizados e normas de arquivamento de da- alguma especialidade entre as mínimas reque-
dos. Para validação foram remetidos 13 questio- ridas em ambos os critérios.
nários a serviços que prestam atendimento a Os dados descritivos foram tratados por
portadores de anomalias craniofaciais, não inte- distribuição de freqüência e medidas de ten-
grantes da RRTDCF, sendo solicitado preenchi- dência central e dispersão. Para testar cruza-
mento, exposição de críticas e sugestões. mentos entre variáveis de interesse foram utili-
O questionário está constituído de dois con- zados os testes Exato de Fisher, MacNemar e
juntos de perguntas que compuseram as variá- Mann-Whitney. Adotou-se um nível de signifi-
veis selecionadas para descrição e avaliação cância de 5% (p-valor < 0,05).
das características gerais da RRTDCF e dos cen-
tros credenciados, quanto a: (1) organização da
RRTDCF: vinculação institucional; localização Resultados
geográfica e fontes de financiamento; e (2) es-
trutura e funcionamento do centro de atendi- Obteve-se resposta de 25 (86,2%) centros de
mento: denominação do centro/instituição; atendimento. A distribuição geográfica desses
existência de atendimento de rotina a portado- centros, no Brasil e na amostra estudada, é
res de anomalias craniofaciais, de protocolo de apresentada na Tabela 1.
atendimento e de contato com associações de A Tabela 2 apresenta a distribuição dos cen-
pais e portadores de anomalias craniofaciais; tros de atendimento de acordo com a área de
procedência dos pacientes; especialidades dis- credenciamento no Brasil e na amostra.

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O tempo de credenciamento na RRTDCF tal (ONG) de apoio a portadores de fissuras la-


variou de um a dez anos, com média de quatro, biopalatais.
desvio-padrão de 2,66, mediana de três e moda Em 10 (40%) centros os questionários fo-
de dois anos. Credenciamento há cinco anos ram respondidos pelo chefe de um serviço es-
ou menos ocorreu em 18 (72%) centros. pecífico, três dos quais acompanhados por ofí-
Na amostra, 13 centros (52%) informaram cio do gestor. Nestes, a denominação atribuída
vinculação a instituições de ensino superior. ao centro de atendimento foi “serviço de...”.
Os 12 centros restantes (48%) informaram vín- Com relação à existência de atendimento de
culo com hospitais gerais e materno-infantis, rotina a portadores de anomalias craniofaciais,
secretarias de saúde e associação de caridade. 22 centros (88%) responderam afirmativamen-
Com relação ao financiamento, excetuan- te. Os três centros que negaram atendimento de
do-se um centro que não respondeu esta ques- rotina são credenciados para implante coclear,
tão, todos os demais informaram receber re- sendo um deles também credenciado para tra-
cursos do SUS, sendo esta a única fonte em 19 tamento de fissuras labiopalatais. A realização
(79,2%) deles. Em quatro (16,7%), além do SUS, de atendimentos de rotina foi maior nos cen-
os recursos são provenientes de consultas par- tros credenciados para tratamento de fissuras
ticulares e (ou) convênios privados, e em um labiopalatais que nos demais (p = 0,0243).
(4,2%), de uma organização não-governamen- Quanto aos tipos de anomalias craniofaciais,
foi apresentada uma lista contendo os princi-
pais grupos (fissura labiopalatal, outras fissu-
ras faciais, craniossinostoses, defeitos de fecha-
Tabela 1 mento de tubo neural e de arcos branquiais),
sendo solicitado que fossem assinaladas aque-
Distribuição dos centros de atendimento credenciados pelo Ministério da Saúde, las que são atendidas em cada centro (Figura 1).
no Brasil e na amostra conforme região geográfica. A alternativa “fissuras labiopalatais” foi as-
sinalada por 19 (79,2%) centros. As demais
Região geográfica Brasil* Amostra anomalias craniofaciais foram assinaladas por
N % N % menos de 50% e um centro participante do es-
tudo não assinalou qualquer alternativa.
Norte 1 3,4 1 4,0
Poucos centros responderam a pergunta
Nordeste 4 13,8 4 16,0
sobre número de atendimentos/ano por tipo
Centro-oeste 2 6,9 1 4,0
de anomalias craniofaciais, tendo sido obser-
Sudeste 16 55,2 13 52,0
vada variação de 40 a 5.500 consultas de porta-
Sul 6 20,7 6 24,0
dores de fissuras labiopalatais/ano.
Total 29 100,0 25 100,0
Para avaliação da abrangência geográfica, os
* Fonte: Coordenação da Alta Complexidade, Secretaria de Assistência à Saúde, centros foram agrupados com base na informa-
Ministério da Saúde.
ção sobre a procedência dos pacientes (Tabela 3).

Tabela 2

Distribuição dos centros de atendimento no Brasil e na amostra, conforme Portaria e área de credenciamento.

Portaria Área de credenciamento Brasil* Amostra


N % n %

SAS/MS 62** Fissuras labiopalatais 17 58,6 15 60,0


Implante dentário osseointegrado 3 10,3 1 4,0
Fissuras labiopalatais + implante dentário osseointegrado 1 3,4 1 4,0
GM/MS 1.278*** Implante coclear 4 13,8 4 16,0
SAS/MS 62 e GM/MS 1278 Fissuras labiopalatais + implante coclear 2 6,9 2 8,0
Implante dentário osseointegrado + implante coclear 1 3,4 1 4,0
Fissuras labiopalatais + implante dentário osseointegrado + implante coclear 1 3,4 1 4,0
Total 29 99,8 25 100,0

* Fonte: Coordenação da Alta Complexidade, Secretaria de Assistência à Saúde, Ministério da Saúde.


** Portaria da área de fissura labiopalatal e implante dentário osseointegrado 22.
*** Portaria da área de implante coclear 24.

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ANOMALIAS CRANIOFACIAIS E SUS 917

Figura 1

Percentual de centros estudados que atenderam anomalias craniofaciais segundo o tipo.

100

80

60

40

20

% 0
Fissuras Outras fissuras Craniossinostoses Defeitos Defeitos de Outras anomalias Tipo de anomalia
labiopalatais faciais otomandibulares tubo neural craniofaciais craniofacial

Verificou-se que entre os dez centros que Tabela 3


referiram pacientes provenientes de pelo me-
nos um Estado dentro de sua região, cinco aten- Abrangência de atendimento dos centros estudados conforme procedência
dem pacientes apenas do próprio Estado. dos pacientes.
Contato com associações de pais e porta-
dores de anomalias craniofaciais foi afirmado Abrangência/Procedência n %
por 10 (41,7%) e negado por 11 (45,8%) centros
Pelo menos 1 Estado da própria região geográfica 10 40,0
de atendimento. Três centros responderam in-
Pelos menos 1 Estado em duas regiões geográficas 4 16,0
corretamente a esta questão, referindo outros
Pelos menos 1 Estado em três regiões geográficas 5 20,0
locais de atendimento como se fossem associa-
Pelo menos 1 Estado em quatro regiões geográficas – –
ções. Somando-se os centros que responderam
Pelos menos 1 Estado em todas as regiões geográficas 6 24,0
incorretamente aos que negaram, verifica-se
Total 25 100,0
que 14 (58,3%) deles não mantêm qualquer
contato com essas organizações.
Utilização de protocolos de atendimento
foi referida por 17 (73,9%) centros. Não houve
diferença estatisticamente significativa entre o diferentes entre si porque os centros não res-
número de centros que utilizam ou não proto- ponderam a todas as alternativas apresentadas
colos em relação à área de credenciamento (p = no questionário.
0,3726) e à vinculação a instituições de ensino Especialidades citadas espontaneamente
superior ou outras instituições (p = 0,6404). não foram incluídas na Tabela 4 por terem sido
Com relação ao número de especialistas na referidas por menos da metade dos centros es-
equipe, verificou-se variação de 2 a 18, com tudados.
média de 10,6, desvio-padrão de 3,99, mediana Aplicando os critérios mínimos de compo-
de 11,0 e moda de 8,0. Não houve diferença es- sição de equipes adotados na América do Nor-
tatisticamente significativa entre o número de te e na Europa, verifica-se que estes são preen-
especialistas e a existência de atendimento de chidos, respectivamente, por 17 e 9 centros
rotina a portadores de anomalias craniofaciais brasileiros (p = 0,0047).
(p = 0,916). A ausência de especialistas da área cirúrgi-
As especialidades disponíveis nos centros ca foi o principal motivo de não preenchimen-
de atendimento, conforme área de interven- to dos critérios norte-americanos, enquanto a
ção, são apresentadas na Tabela 4. Os números ausência de geneticistas clínicos, para os crité-
amostrais de cada uma das especialidades são rios europeus.

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Tabela 4

Distribuição dos centros de atendimento da amostra conforme área de intervenção.

Área de intervenção Sim Não


n % n %

Reabilitação
Otorrinolaringologia, fonoaudiologia, psicologia 23 100,0 – –
Odontologia 22 95,7 1 4,3
Fisioterapia 14 66,7 7 33,3

Cirurgia
Cirurgia plástica 20 87,0 3 13,0
Cirurgia bucomaxilofacial 19 82,6 4 17,4
Cirurgia pediátrica 15 68,2 7 31,8
Neurocirurgia 14 70,0 6 30,0

Cuidados gerais e diagnóstico


Pediatria 20 95,2 1 4,8
Nutrição 18 81,8 4 18,2
Genética clínica 13 52,0 12 48,0

Discussão tros de excelência nos locais de origem dos pa-


cientes tem sido uma das estratégias recomen-
A distribuição geográfica dos centros de atendi- dadas pela OMS 7.
mento integrantes da RRTDCF revela concen- No presente estudo, o importante aumento
tração de oferta no Sudeste. Esta concentração do número de centros credenciados nos últi-
ocorre particularmente no Estado de São Paulo, mos cinco anos, período correspondente à
onde estão localizados 14 centros de atendi- criação da RRTDCF, demonstra o impacto po-
mento do Brasil e 11 da amostra estudada. sitivo dessa ação do MS sobre a ampliação da
De acordo com as normas vigentes, os cen- assistência a portadores de anomalias cranio-
tros podem obter credenciamento nas áreas de faciais no Brasil.
fissuras labiopalatais, implante dentário osseoin- Alguns procedimentos na área de anoma-
tegrado e/ou implante coclear. Neste estudo veri- lias craniofaciais são bastante complexos 12,16,17.
ficou-se que a área de fissuras labiopalatais é a A maior concentração de centros de atendi-
que conta com maior número de centros creden- mento em instituições de ensino superior veri-
ciados no país, o que pode estar relacionado com ficada neste estudo, provavelmente reflete a
o fato de ser esta a primeira área criada pelo MS, existência de melhores condições técnicas ne-
além de lidar com o grupo de defeitos mais pre- cessárias à realização desses procedimentos,
valentes entre as anomalias craniofaciais. bem como facilidades propiciadas pela dispo-
Nos países em desenvolvimento, proble- nibilidade de especialistas envolvidos com a
mas de ordenação e hierarquização do sistema qualificação stricto sensu de profissionais de
de saúde e de iniqüidade de acesso aos servi- saúde, nessas instituições.
ços tornam a atenção às anomalias craniofa- Quanto ao financiamento, os dados obtidos
ciais fora do alcance de muitos pacientes e fa- demonstram que a atenção a portadores de
mílias. Nessas regiões, mutirões internacionais anomalias craniofaciais no Brasil tem custeio
realizados por ONGs muitas vezes representam predominantemente público. Os recursos são
a única chance de tratamento. oriundos do Fundo de Ações Estratégicas e de
Todavia, reconhece-se que essas ações en- Compensação, criado pela Portaria GM/MS 531
volvem não só problemas relacionados à quali- de 30 de abril de 1999, com o objetivo de ga-
dade e ao não-atendimento das necessidades rantir o financiamento de ações consideradas
de saúde dos indivíduos, mas também a im- estratégicas e a realização de procedimentos
portantes questões éticas 2,7. Assim, a interven- de alta complexidade em pacientes em refe-
ção do poder público na organização da aten- rência interestadual 26.
ção às anomalias craniofaciais é essencial 25. Conforme dados do SIH/SUS, o valor anual-
Neste sentido, o aumento do número de cen- mente dispendido para procedimentos hospi-

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ANOMALIAS CRANIOFACIAIS E SUS 919

talares na área das anomalias craniofaciais au- ciais”, o que indica uma imprecisão na utiliza-
mentou cerca de 165% entre os anos de 1999 e ção dos termos e, por conseguinte, na defini-
2003. Do mesmo modo, neste período, o nú- ção da RRTDCF.
mero de internações alcançou um aumento su- É possível que essa imprecisão esteja con-
perior a 50% 27. tribuindo para dificultar o reconhecimento de
A despeito desses números, importantes di- portadores de anomalias craniofaciais como
ferenças regionais continuam sendo observa- clientela própria nos serviços onde estes não
das, sendo os dois extremos representados pelas constituem a principal demanda.
regiões Norte e Sudeste. No ano de 2003, o mon- Além disso, pode-se supor que o atendi-
tante de recursos destinado à região Norte foi de mento de portadores de outras anomalias cra-
R$ 21.360,59, sendo realizados vinte procedi- niofaciais, e mesmo de fissuras labiopalatais,
mentos. Na Região Sudeste, esses números fo- esteja ocorrendo em outras redes do SUS, co-
ram R$ 10.084.812,09 e 4.546 procedimentos 27. mo a de assistência à pessoa portadora de defi-
Essas informações revelam manutenção de ciências físicas e a neurocirúrgica. Esta hipóte-
iniqüidade de distribuição de recursos nessa se, se confirmada, constitui um importante
área, o que pode influenciar na definição dos problema para a ordenação da oferta de servi-
tipos de procedimentos realizados em cada ços de alta complexidade nessa área específica.
centro credenciado. De acordo com o MS, as instituições cre-
Apesar do endereçamento do questionário denciadas na RRTDCF têm abrangência nacio-
desta pesquisa aos gestores das instituições, nal ou macrorregional 23. Contudo, em nenhum
uma parte importante das respostas foi enca- documento sobre a RRTDCF encontra-se defi-
minhada por chefes de serviço que denomina- nições sobre a circunscrição territorial do ter-
ram o centro como “serviço de...”. É possível mo “macrorregional”. Por outro lado, a defini-
que este resultado reflita aspectos da estrutura ção de “macrorregiões” adotada na Norma Ope-
interna da instituição, na qual, provavelmente, racional da Assistência à Saúde 2002 (NOAS) 28,
a atenção ao portador de anomalias craniofa- não parece corresponder ao termo utilizado
ciais é identificada como da alçada de uma de- pelo MS para a RRTDCF.
terminada especialidade, em detrimento da Como não há dúvidas quanto à definição de
concepção de equipe multiprofissional. “abrangência nacional”, os resultados verifica-
Com relação à clientela, chama a atenção dos neste estudo permitem afirmar que esta
que cinco centros credenciados para tratamen- ocorre em apenas seis centros de atendimento.
to de fissuras labiopalatais e realização de im- As menores áreas de abrangência são verifica-
plante dentário osseointegrado (Portaria SAS/ das para serviços que referiram atender pacien-
MS 62 22), dois dos quais também credenciados tes procedentes apenas de seu próprio estado.
para implante coclear (Portaria GM/MS 1.278 24), Devido à ausência de dados amplos sobre a
não tenham referido atendimento a fissurados. prevalência das anomalias craniofaciais na po-
Esse resultado, analisado conjuntamente pulação brasileira, não é possível avaliar o nú-
com o dado de que três centros afirmaram não mero de serviços necessários nas diferentes re-
atender rotineiramente portadores de anoma- giões geográficas do país. Contudo, tomando a
lias craniofaciais, expõe um problema de defi- densidade populacional como parâmetro, é
nição da Rede de Referência no Tratamento de possível inferir que talvez não exista um núme-
Deformidades Craniofaciais (grifo das autoras). ro excessivo na Região Sudeste.
O termo “deformidade” pode incluir diver- Por outro lado, nas regiões Norte, Nordeste
sas situações clínicas como, por exemplo, de- e Centro-oeste, provavelmente esse número
feitos congênitos, craniossinostoses, seqüelas seja insuficiente, fato que pode alimentar um
de acidentes e doenças crônico-degenerativas, importante fluxo de pacientes que buscam
além de traumatismos. atendimento em instituições distantes de seus
A clientela definida nas duas Portarias que locais de residência.
credenciam centros na RRTDCF é constituída A criação da Central Nacional de Regulação
de portadores de defeitos congênitos, as fissu- da Alta Complexidade, em 2001, foi uma im-
ras labiopalatais, e de portadores de deficiên- portante iniciativa do MS para a ordenação e a
cia auditiva que pode abranger diversos grupos hierarquização do sistema e para a facilitação
clínico-etilógicos, inclusive, mas não exclusi- do acesso a determinados procedimentos hos-
vamente, as deformidades craniofaciais. pitalares. A inclusão das cirurgias para corre-
Por outro lado, a partir do ano 2001, diver- ção de fissuras labiopalatais, muitas vezes não
sas portarias do MS relacionadas a procedi- existentes ou insuficientes nos estados de ori-
mentos realizados na RRTDCF passaram a ado- gem dos pacientes, encaixa-se neste perfil, po-
tar, também, a expressão “anomalias craniofa- dendo constituir-se numa ferramenta para me-

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lhorar o acesso de portadores de anomalias ção e a intervenção ainda prioritariamente téc-


craniofaciais a esse procedimento. nicas das equipes na área das anomalias cra-
A despeito disso, é necessário destacar que niofaciais no Brasil.
a atenção nessa área requer não apenas a reali- A qualidade da atenção às anomalias cra-
zação do reparo cirúrgico da lesão, mas o acom- niofaciais constitui uma importante preocupa-
panhamento continuado e de longo prazo do ção no meio científico. Em todo o mundo ainda
paciente e sua família. persistem grandes incertezas e controvérsias
Assim, é possível que as necessidades de em relação às melhores condutas clínicas e ci-
saúde dos portadores de anomalias craniofa- rúrgicas no acompanhamento dos portadores.
ciais no Brasil não estejam sendo plenamente É comum a adoção de protocolos não uniformi-
atendidas, seja devido às grandes distâncias zados, o que restringe a execução de estudos
geográficas que devem ser vencidas, seja devi- multicêntricos, longitudinais e randomizados 7.
do às dificuldades enfrentadas para a manu- Neste estudo, grande parte dos centros cre-
tenção de um cronograma regular de consultas denciados na RRTDCF informaram utilização
de seguimento, particularmente na área de de protocolos de atendimento independente
reabilitação, ou, ainda, para estabelecimento de vinculação a instituições de ensino superior,
de vínculos com a equipe e com o serviço. o que, per se, constitui um bom indicador da
Essas necessidades, de acordo com a taxo- preocupação com a qualidade do tratamento
nomia adotada por Cecílio 29, abrangem o mo- oferecido. Entretanto, uma análise aprofunda-
do de vida, o acesso e consumo de tecnologias, da deste parâmetro não pode ser realizada por-
o estabelecimento de vínculos (a)efetivos com que poucos centros enviaram cópia dos proto-
profissionais, equipes e serviços e a construção colos solicitados.
da autonomia, incluindo-se nesta a busca da Com relação às áreas de intervenção dos
satisfação desse conjunto de necessidades. centros, verificou-se que o grupo “reabilitação”
Deve-se enfatizar, também, que em se tra- conta com as especialidades mais freqüentes,
tando de cuidados de saúde na área das ano- correspondendo à otorrinolaringologia, fono-
malias craniofaciais, esse conjunto de necessi- audiologia e psicologia. Na segunda posição,
dades muitas vezes transcende a dimensão do dentro do mesmo grupo, está a odontologia. As
indivíduo e alcança a família como um todo especialidades de cirurgia plástica e pediatria
mediante a possibilidade da recorrência. aparecem na terceira posição e a genética clí-
Está plenamente estabelecido o importante nica constitui a especialidade menos freqüen-
papel desempenhado pelas associações de pais te, ocupando a oitava posição na amostra. Es-
e portadores no apoio inicial e continuado a fa- ses resultados sugerem que os centros estuda-
mílias de indivíduos com defeitos congênitos. dos são caracterizados, principalmente, por in-
Este apoio compreende acolhimento emocio- tervenções de reabilitação.
nal, troca de experiências, estímulo à partici- Quanto à constituição de equipes multipro-
pação ativa no processo de habilitação/reabili- fissionais, embora existam critérios internacio-
tação, encorajamento à participação voluntá- nais estabelecidos, no Brasil a portaria referen-
ria e esclarecida em pesquisas e envolvimento te às áreas de fissuras labiopalatais e implante
ativo na discussão e na proposição de políticas dentário osseointegrado, define apenas os ser-
de saúde e de inclusão social 2,7,16,17,18. viços que o hospital deve possuir. Esses servi-
Verificou-se no presente estudo que um ços são: otorrinolaringologia, fonoaudiologia,
grande número de centros da RRTDCF não psicologia, serviço social, clínica médica, pe-
mantém contato com associações de pais e diatria, fisioterapia, enfermagem, nutrição, ci-
portadores. Este resultado parece indicar um rurgia bucomaxilofacial e plástica, anestesia,
reconhecimento ainda incipiente dos papéis odontologia (odontopediatria, ortodontia, pró-
desempenhados pelas associações, seja como tese e implantologia) e atendimento familiar 22.
significativa fonte de informações para o ma- Para a área de implante coclear, estão defini-
peamento das necessidades de saúde, seja co- das a equipe básica, constituída pelas especiali-
mo importantes aliadas na melhoria da aten- dades de otorrinolaringologia, fonoaudiologia,
ção e da qualidade de vida desses indivíduos e psicologia e serviço social; e a equipe comple-
suas famílias. mentar, constituída pela clínica geral, pediatria,
Talvez o pequeno número de instituições neurologia/neuropediatria e genética clínica 24.
que mantém contato com associações aqui ve- Entre os critérios internacionais para equi-
rificado, possa estar relacionado, pelo menos pes da área de fissuras labiopalatais, os padrões
em parte, com a inexistência dessa recomen- norte-americanos definem as seguintes espe-
dação nas portarias que normalizam o creden- cialidades: cirurgia, odontologia (ortodontia),
ciamento na RRTDCF, bem como com a forma- otorrinolaringologia, fonoaudiologia, psicolo-

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ANOMALIAS CRANIOFACIAIS E SUS 921

gia, serviço social ou profissional da área de Esses resultados evidenciam a interferência


saúde mental e enfermagem 15,18. do credenciamento hospitalar ou ambulatorial
Nos critérios europeus estão: cirurgia, odon- na composição das equipes das áreas de fissuras
tologia (odontopediatria/ortodontia), pediatria, labiopalatais e implante dentário osseointegra-
otorrinolaringologia, fonoaudiologia, psicolo- do. Além disso, expõem um paradoxo nos crité-
gia, enfermagem e genética clínica 7,18. Esses rios do MS para credenciamento na RRTDCF,
critérios foram adotados pela OMS em 2000 7. visto que a presença de geneticista clínico é re-
Verificou-se que a maior parte dos centros querida para centros que não assistem, necessa-
estudados segue padrões norte-americanos de riamente, portadores de anomalias craniofa-
composição das equipes. Entre os centros que ciais, enquanto não o é para aqueles que aten-
não preencheram esses critérios, o principal dem, no mínimo, portadores de fissuras labiopa-
motivo foi a ausência de especialidades cirúr- latais, anomalias com heterogeneidade etiológi-
gicas na equipe. Por outro lado, o pequeno nú- ca, incluindo importante componente genético.
mero de centros concordantes com os critérios
europeus deveu-se à exigência de geneticista
clínico na equipe, sendo este o especialista me- Conclusões
nos freqüente nos centros estudados.
Essa análise, entretanto, pode conter vieses Na última década, houve importantes avanços
devido à inclusão de dois centros com credencia- na atenção a portadores de anomalias cranio-
mento exclusivo para realização de procedimen- faciais no SUS. Entre esses, a criação da RRTDCF,
tos ambulatoriais, nos quais, a priori, não são re- constituiu, no contexto da NOAS 2002, a pri-
queridas especialidades cirúrgicas, e de quatro meira medida concreta de ampliação do aces-
centros que realizam exclusivamente implante so e de ordenação da atenção à saúde de por-
coclear, nos quais, por um lado o atendimento de tadores desses defeitos no Brasil.
portadores de anomalias craniofaciais não está Os resultados aqui apresentadas fornecem
explicitado e, por outro, a especialidade de gené- subsídios para a caracterização da atenção a
tica clínica é exigida na equipe complementar. portadores de anomalias craniofaciais no SUS,
Assim, após a exclusão desses seis centros, ao mesmo tempo em que sugerem a necessida-
verificou-se que todos os restantes preenchem de de revisão da definição, objetivos e abran-
os parâmetros norte-americanos. Contudo, o gência da RRTDCF e dos critérios de credencia-
número de centros que preenchem os critérios mento dos centros. Estudos futuros poderão
europeus permaneceu baixo, sendo este resul- complementar a avaliação de aspectos especí-
tado, mais uma vez, devido à ausência de gene- ficos em consonância com as atuais recomen-
ticistas clínicos na equipe. dações internacionais.

Resumo Colaboradores

A primeira iniciativa para incluir a atenção às anoma- I. L. Monlleó e V. L. Gil-da-Silva-Lopes participaram


lias craniofaciais no SUS ocorreu em 1993. Um impor- da elaboração do projeto, análise dos resultados e re-
tante avanço foi a criação da Rede de Referência no dação final do artigo.
Tratamento de Deformidades Craniofaciais (RRTDCF),
atualmente com 29 centros credenciados. Os objetivos
deste estudo foram descrever e avaliar as característi-
cas gerais da atenção às anomalias craniofaciais nos Agradecimentos
centros que integram a referida rede. Foi utilizado
questionário semi-estruturado, remetido por correio. À Secretaria de Atenção à Saúde/Ministério da Saúde,
Obteve-se 86,2% de respostas. Os resultados demons- aos centros de atendimento e às Fundações da Am-
tram agregação de centros no Sudeste, em universida- paro à Pesquisa dos Estados de São Paulo e de Alagoas.
des e na área de fissuras labiopalatais; financiamento
predominantemente público; equipes constituídas
principalmente de acordo com parâmetros norte-
americanos; atendimento de rotina em cerca de 90% e
utilização de protocolos em cerca de 70% dos centros.
A denominação da RRTDCF não parece corresponder
à sua abrangência. Os achados sugerem necessidade
de revisão da definição, objetivos e abrangência da
RRTDCF e dos critérios de credenciamento de centros.

Anormalidades; Fenda Labial; Fissura Palatina; Im-


plante Coclear; Implante Dentário Osseointegrado

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