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Senso comum: a vida como um caminho, uma estrada. Uma história. Curso, unilateral. Deslocamento linear. Começo
(uma estreia na vida), etapas e um fim. Fim da história.
Teoria do relato, relato de historiador e de romancista, indiscerníveis notadamente sob biografia e autobiografia.
Pressupostos desta teoria: vida como um todo; conjunto coerente e orientado; expressão unitária de uma intenção
subjetiva e objetiva.
Vida organizada como história transcorre segundo uma ordem cronológica e também uma ordem lógica.
Sujeito e objeto da biografia – o investigador e o investigado – têm de certa forma o mesmo interesse em aceitar o
postulado do sentido da existência narrada.
O relato autobiográfico se preocupa em dar sentido. Extrair lógica ao mesmo tempo retrospectiva e prospectiva.
Efeito e causa.
Ideólogo de sua própria vida: seleção, em função de uma intenção global, certos acontecimentos significativos.
Estabelecendo conexões para dar coerência.
O abandono da estrutura do romance como relato linear coincide com o questionamento da visão da vida como
existência dotada de sentido, no duplo sentido de significação e de direcionamento. Ex.: Faulkner, O som e a fúria.
Dar sentido e direção aos acontecimentos da vida é conformar-se com uma ilusão retórica reforçada pela tradição
literária.
“Como diz Allain Robbe-Grillet, ‘o advento do romance moderno está ligado precisamente a esta descoberta: o real é
descontínuo, formado de elementos justapostos sem razão, todos eles únicos e tanto mais difíceis de serem
apreendidos porque surgem de modo incessantemente imprevisto, fora de propósito, aleatório” (BOURDIEU, 2006,
p. 185).
O mundo social dispõe de todo tipo de instituições de totalização e de unificação do eu. Ex: o nome próprio –
designador rígido. Ponto fixo num mundo que se move. “Como instituição, o nome próprio é arrancado do tempo e
do espaço e das variações segundo os lugares e os momentos” (BOURDIEU, 2006, p.187). Asseguração da constância
nominal.
Construção da noção de trajetória como série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente – ou um
mesmo grupo – num espaço que ele é próprio um devir.