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CARTILHA DE TECNOLOGIAS

VITRINE
TECNOLÓGICA DE
AGROECOLOGIA
“Vilson Nilson Redel”

SHOW RURAL 2016


CARTILHA DE TECNOLOGIAS

VITRINE
TECNOLÓGICA DE
AGROECOLOGIA
“Vilson Nilson Redel”

– Organização –
Ronaldo Juliano Pavlak
Claudine Dinali Santos Seixas
Simone Grisa

ITAIPU BINACIONAL
Foz do Iguaçu, PR
2016
INST IT U IÇÕ E S O RGAN IZ AD O RAS
:: Agência de Desenvolvimento Regional :: Empresa Brasileira de Pesquisa
do Extremo Oeste do Paraná - Adeop Agropecuária – Embrapa
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Campus Palotina – Colegiado de Agronomia Unioeste, Marechal Cândido Rondon/PR Desenvolvimento, Embrapa Pantanal,
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Técnica e Extensão Rural - Emater CEP: 85.950-000 - Palotina/PR frederico.lisita@embrapa.br
Área de Agroecologia Fone: (44) 3211-8500 Andressa Faccenda
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E-mail: paulolizarelli@emater.pr.gov.br Antônio Manoel da Silva flaviacomiran@gmail.com
www.emater.pr.gov.br Agricultor Experimentador, Mundo Novo/MS
luisvitorneves@hotmail.com Jadir Aparecido Rosa
Engenheiro Agrícola, Doutor em Engenharia
Aurélio Vinicius Borsato Agrícola, Iapar, Polo Regional de Pesquisa de
E QUI PE O R GANI ZA D O RA Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia Ponta Grossa/PR
(Fitotecnia - Produção Vegetal), Embrapa Pantanal, jrosa@iapar.br
Adão Rodrigues dos Santos | VTA Luiz Antonio Odenath Penha | Iapar Corumbá/MS
Alberto Feiden | Embrapa Luiz Carlos Hartmann | Capa aurelio.borsato@embrapa.br João de Ribeiro Reis Junior
Ana Simone Richter | CPRA Marcelo Rohde | Capa Engenheiro Agrônomo, Especialista em
Anderson Zanatta | Biolabore Marcia dos Santos Fagundes | Biolabore Beatriz Spalding Corrêa-Ferreira Administração Rural e Agricultura Biológico
Aurélio Vinícius Borsato | Embrapa Márcia Vargas Toledo | Emater Graduada em História Natural, Doutora em Ciências Dinâmica, Emater, Curitiba/PR
Claudine Dinali Santos Seixas | Embrapa Márcio Miranda | CPRA Biológicas (Entomologia), Londrina/PR joaoreis@emater.pr.gov.br
Daiana Raquel Pauletti | Adeop Marco Antônio Bilo Vieira | Capa bscferreira@gmail.com
Daniel José de Souza Mol | Biolabore Marcos Rogério A. dos Santos | Biolabore José Marcos Gontijo Mandarino
Daniela Cristiane Zigiotto | Biolabore Maria Izabel Radomski | Embrapa Cátia Cristina Rommel Farmacêutico Bioquímico, Mestrado em Ciência
Dari Vargas | Biolabore Maristela Perera Carvalho Zanão | Iapar Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitotecnia, Iapar, e Tecnologia de Alimentos, Embrapa Soja,
Douglas Fernando Kunz | Biolabore Nailton de Lima | CPRA Polo Regional de Pesquisa de Ponta Grossa/PR Londrina/PR
Edimar Silveira da Silva | Capa Nelson Rogério Bueno da Silva | Emater catiarommel@iapar.br josemarcos.gontijo@embrapa.br
Edleusa Pereira Seidel | Unioeste Patrícia Aparecida Favorito | Capa
Edson Rodrigues dos Santos | Biolabore Paulo Henrique Lizarelli | Emater Claudine Dinali Santos Seixas Liziane Kadine Antunes de Moraes Pires
Edvan Nilson de Almeida | Biolabore Ronaldo Hojo | Iapar Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitopatologia, Engenheira Agrônoma, Mestre em Recursos
Emerson Fey | Unioeste Ronaldo Juliano Pavlak | Itaipu Binacional Embrapa Soja, Londrina/PR Genéticos Vegetais, Itaipu Binacional,
Etiene Leite Junior | Iapar Sidnei Francisco Müller | Capa claudine.seixas@embrapa.br Foz do Iguaçu/PR
Everaldo Correia do Carmo | Embrapa Simone Grisa | Iapar kadine@itaipu.gov.br
Everton Ulkoski | Biolabore Thaís Fernanda de S. Monteiro | Capa Daniel José de Souza Mol
Fabiano de Castro Leite | UFPR Tiago Pieniz | Adeop Engenheiro Agrônomo, Biolabore, Guaíra/PR Márcia Vargas Toledo
Ives Clayton G. dos Reis Goulart | Embrapa Valcir Inácio Wilhelm | CPRA djsmol2000@yahoo.com.br Engenheira Agrônoma, Doutora em Agronomia
Ivone Janete Gutz de Castro Leite | UFPR Valdeilson Ferreira de Almeida | Capa (Produção Vegetal - Fitossanidade e Controle
Jorge Luiz Knebel | Coopavel Vanda Pietrowski | Unioeste Alternativo), Emater, Mal. Cândido Rondon/PR
Lincoln Villi Gerke | Adeop Vanice Marli Fülber | Capa/Biolabore marciatoledo@emater.pr.gov.br
Liziane Kadine Pires | Itaipu Binacional Vilmar V. Saar | Capa
Lorivan Webber | Itaipu Binacional
C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 7
Marco Antonio Nogueira Sidnei Francisco Müller
Engenheiro Agrônomo, Pós-Doutor em Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia
Agronomia (Microbiologia e Bioquímica do Solo; (Produção Vegetal - Fitossanidade e Controle
Fisiologia de Plantas Cultivadas), Alternativo), Capa, Marechal Candido Rondon/PR
Embrapa Soja, Londrina/PR Técnicos capa@gmail.com
marco.nogueira@embrapa.br
Simone Grisa
Maria Izabel Radomski Engenheira Agrônoma, Mestre em Agronomia
Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitotecnia, (produção vegetal), Iapar, Polo Regional de
Embrapa Florestas, Colombo/PR
maria.radomski@embrapa.br
pesquisa de Santa Tereza do Oeste/PR
simone.grisa@iapar.br
SUM ÁRIO
Maximiliane Alavarse Zambom
Zootecnista, Doutora em Zootecnia, Unioeste,
Valcir Inácio Wilhelm
Técnico em Agropecuária
Os princípios da Agroecologia em 2.600 m² | 12
Marechal Candido Rondon/PR
mazambom@hotmail.com
Centro Paranaense de Referência em
Agroecologia, Pinhais/PR
Histórico da vitrine tecnológica de Agroecologia | 13
Adubos verdes e consórcios | 14
valcirw@cpra.pr.gov.br
Nelson Rogério Bueno da Silva
Técnico em Agropecuária, Emater, Vanda Pietrowski
Vera Cruz do Oeste/PR Bióloga, Doutora em Ciências Biológicas Agrofloresta | 16
nelsonrogerio@emater.pr.gov.br (Entomologia), Unioeste,
Marechal Candido Rondon/PR Como transformar uma
Renato da Silveira Krieck vandapietrowski@gmail.com propriedade convencional em agroecológica? | 18
Técnico em Agropecuária, Emater, Curitiba/PR
renatokrieck@emater.pr.gov.br Vanice Marli Fülber Como controlar pragas e
Ricardo Dri
Zootecnista, Mestre em Zootecnia,
Biolabore, Marechal Candido Rondon/PR
doenças em sistemas agroecológicos? | 22
Zootecnista, Unioeste,
Marechal Candido Rondon/PR
vanizoo@yahoo.com.br
Controle biológico de pragas | 25
dri.ricardo@hotmail.com Walter Fernandes Meirelles
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia Homeopatia e agroecologia | 28
Rodrigo Cesar dos Reis Tinini (Genética e Melhoramento de Plantas),
Zootecnista, Mestre em Zootecnia, Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas/MG Manejo de pragas e doenças –
Unioeste, Marechal Candido Rondon/PR walter.meirelles@embrapa.br as caldas e repelentes naturais | 29
digotinini@hotmail.com
Armadilha para captura de percevejos em soja | 31
Ronaldo Juliano Pavlak
Técnico em Agropecuária, Graduando em Compostagem e vermicompostagem | 32
Engenharia Agronômica, Itaipu Binacional,
Foz do Iguaçu/PR Fruticultura ecológica | 33
pavlak@itaipu.gov.br
Fixação Biológica de
Nitrogênio (FBN) – uso de inoculantes | 34
Olericultura como alternativa de
renda para agricultura familiar ecológica | 35
Plantas alimentares não convencionais (PANC) | 37
Plantas medicinais | 40
Bioconstruções | 42
Cultivares de soja para sistemas de base ecológica | 47
Meliponicultura –
uma atividade essencialmente agroecológica | 47

8 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 9
Milho QPM (alta qualidade proteica) | 49

Homenagem a
S I ST E M A S A LT E R NAT I VO S D E I R R I GAÇÃO
Irrigação com sistemas adaptados de baixo custo | 49
Aspersor de garrafa PET com conexão de 3/4 de polegada | 52
Irrigação alternativa por gotejamento e microaspersão | 54
Carneiro hidráulico | 55
Pastoreio Racional Voisin (PRV) | 57
Vilson Nilson Redel
Manejo nutricional em rebanhos de base agroecológica | 58
Suplementação alimentar proteica de

E
mbora tenha sido o coração o motivo de nosso colega não se encontrar entre
bovinos de leite em períodos de escassez (seca ou frio) | 60 nós, era justamente com coração que Vilson realizava suas ações e relações.
Bom pai, colega e companheiro, Vilson sempre foi apaixonado e defensor
da agroecologia. Havia uma busca constante por parte do profissional quanto a
conhecimento e qualificação, tendo objetivo de repassar ao agricultor acompanhado,
o melhor. Vilson tinha conhecimento em diversas áreas, com maior relação nas
áreas de produção animal com destaque na produção de leite adotando o sistema
Pastoreio Racional Voisin como sistema de manejo, e cultivo de hortaliças, com a
utilização da homeopatia na maioria de suas recomendações técnicas auxiliando
a muitos agricultores de forma simples, a contornarem problemas diversos na
produção agropecuária.

Vilson Nilson Hedel, sempre presente em nossas memórias com seu sorriso
fácil e jeito tranquilo, deixa marcado na linha do tempo da agroecologia do
Oeste Paranaense sua própria história. Agradecemos a oportunidade de termos
compartilhado com seu legado.

10 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A
Os princípios da Agroecologia Histórico da vitrine tecnológica
em 2.600 m² de Agroecologia
A Agroecologia é uma ciência, que con- pasto mais sadios e rentáveis; a redução da Em 2003, a Embrapa iniciou essa ativi- de transição da área e já estão consolidadas
siste na aplicação de conceitos e princípios dependência externa de insumos; o melhor dade com o cultivo de soja no sistema or- algumas estruturas que compõe a paisagem
ecológicos para o desenho e o manejo de aproveitamento da água da chuva e o uso gânico. Dois anos depois, foram cultivadas e viabilizam a produção sustentada.
agroecossistemas sustentáveis. Está base- de materiais alternativos em construções, parcelas, com várias espécies tradicionais A “nova área” é reflexo da resistência e
ada na interação dos aspectos ambientais, como o bambu. na região, dentre elas o milho, a soja, o fei- resiliência do grupo e para isso foi denomi-
sociais e econômicos, tendo as proprieda- Na Agroecologia, a melhor tecnologia é jão, o arroz e culturas potenciais. nada de “Vilson Nilson Redel” (in memorian
des agrícolas, o funcionamento da Nature- aquela que está calçada nos pilares da sus- Em 2006, o projeto foi ampliado para 17/09/2014). A alegria, a inocência e o sorri-
za como modelo, que por isso não utilizam tentabilidade, com retorno econômico, que os moldes de uma propriedade agrícola fa- so mantem a certeza de que não existe par-
agrotóxicos e adubos químicos solúveis. promova o equilíbrio ambiental e a justiça miliar diversificada, com casa, pastagens, tida para aqueles que permanecerão eterna-
Ao preservar as diversas espécies de social, com respeito aos conhecimentos lo- grãos, frutíferas e horta, trazendo a visão mente em nossos corações.
insetos nativos, a fauna do solo; ao pro- cais e tradicionais. sistêmica da unidade. A cada ano mais instituições vêm se
mover a interação planta-animal-ambiente, A Agroecologia também resgata valo- Em 2007, ampliou-se com os cultivos de juntando à proposta e várias iniciativas vêm
também se cria condições para que o solo res: a qualidade de vida e a saúde da famí- inverno no sistema orgânico, participando se consolidando, de forma a servir como um
produza por muitas gerações. Concomitan- lia, a vida em comunidade e a saúde dos do Encontro Técnico de Inverno. Assim, a exercício de conversão, passando pela redu-
temente, o mercado de grãos, leite, carne, consumidores. área passou a ser cultivada o ano todo, tal ção de insumos, substituição e finalmente
hortaliças, frutas, plantas medicinais e con- A crise do modelo de agricultura con- qual uma propriedade rural. o redesenho da propriedade, com respeito
dimentos orgânicos vêm conquistando cada vencional, seus altos custos e o surgimento Em 2009, com aumento da área de ao dinamismo do processo como um todo.
vez mais consumidores. de novas pragas e doenças, justificam uma plantio, consolidamos o espaço da Agroe- Hoje a Vitrine conta com 11 entidades em-
Demonstramos em nossa unidade di- proposta agroecológica para a agricultura cologia e desde então temos apresentado penhadas na sua organização: EMBRAPA,
dática de 2.600 m²: a importância do auto- paranaense. anualmente cerca de 20 temas pertinentes IAPAR, CPRA, ITAIPU, COOPAVEL, EMA-
consumo; a geração de renda; os animais no a discussão de uma agricultura sustentável. TER, BIOLABORE, CAPA, ADEOP, UNIO-
Em 2014, houve a necessidade de re- ESTE e UFPR, as quais exercitam com esta
alocar o espaço da Agroecologia dentro experiência a interinstitucionalidade multi-
do evento no SHOW RURAL COOPAVEL. disciplinar e o pluralismo com respeito nas
No decorrer de 2014 e durante o evento de relações humanas e profissionais, também
2015, mantivemos duas áreas, a área con- princípios da Agroecologia.
solidada e uma nova área, em processo de Essa unidade mostra que a agricultu-
transição. Assim, iniciou-se um novo pro- ra pode trilhar caminhos diversos, usando
cesso de transição com plantio de adubos conceitos científicos avançados, aliados a
verdes e barreiras. Estamos no segundo ano técnicas acessíveis aos agricultores.

12 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 13
Adubos verdes e consórcios plantas tiverem uma altura de 80-100 cm (maior
brotamento e uniformização da florada), com ciclo
de 210-240 dias, produtividade de sementes 0,7-
liza-se 50 kg/ha, com produção variável entre 1-2
t/ha. Com florescimento e maturação das semen-
tes de forma irregular faz-se a colheita com 50%
Dirk Claudio Ahrens | Flávia Comiran | Cátia Cristina Rommel 1,5 t/ha. É possível produzir sementes em regiões das plantas maduras. Não é possível produzir se-
mais frias, se não ocorrerem geadas precoces. mentes em regiões mais frias.

O que são adubos verdes? aumento de nitrogênio; controle de nematoi- :: Crotalária spectábilis :: Feijão de porco (Canavalia ensiformis)
des; aumento e diversificação da população (Crotalaria spectabilis)

FOTO: Piraí Sementes


São plantas de cultivo de verão ou de de microrganismos do solo, incremento da

FOTO: Piraí Sementes


inverno utilizadas para a melhoria da qua- capacidade de reciclagem e mobilização de
lidade física e química do solo fornecendo nutrientes perdidos ou pouco solúveis em
nutrientes, principalmente o nitrogênio (N) camadas mais profundas do solo.
para as plantas, além de servirem para co-
bertura do solo.
Quais características desejáveis
dos adubos verdes?
Quais são as vantagens da
utilização dos adubos verdes? As espécies eleitas para serem utiliza-
das como adubos verdes devem ter prefe- Originária de regiões tropicais, porte ereto, hábito
Trazem grandes benefícios aos solos Planta tropical a subtropical, podendo atingir de determina do podendo atingir de 60-120 cm de
rencialmente as seguintes características: altura. Adapta-se bem em solos de baixa fertili-
e sistemas agrícolas em geral: proteção do 60-150 cm de altura, com crescimento vegetativo
fácil estabelecimento no campo, crescimen- mais lento. Tolera solos mais pobres em fósforo, dade em fósforo. Planta rústica, mas de semen-
solo contra erosão; elevação da taxa de infil- to rápido, tolerância ao corte, alta capacida- com semeadura de setembro-dezembro a uma tes grandes (100 sementes = 130-150 gramas).
tração e aumento da capacidade de retenção densidade de 15 kg/ha. Manejar a cobertura aos Manejo aos 120-150 dias no início da formação
de de rebrota, alta produção de massa vege- de vagens, supressor do crescimento da tiririca,
de água; recuperação da estrutura do solo; 110-140 dias da emergência. É bastante efetivo
tal, fixação biológica do N, fácil obtenção de no controle de nematoides e vem sendo utiliza- suscetível à presença de nematoides. O ciclo da
adição de matéria orgânica; aumento da ca- sementes e facilidade de manejo. da como um repelente natural contra o mosquito cultura para produção de sementes varia de 180-
pacidade de troca de cátions; promoção do transmissor da Dengue. Para produção de se- 200 dias, produzindo 0,8-1,2 t/ha. Nas regiões
mentes usar 8-10 kg/ha, com ciclo de 180-200 mais frias produz sementes em solos de menor
dias e produtividade de 0,6-0,8 t/ha de sementes. fertilidade (encurtamento do ciclo).
É possível produzir sementes em regiões mais
frias, se não ocorrerem geadas precoces.
Algumas espécies de adubos verdes de verão
Mais informações:
:: Guandu anão IAPAR 43 - Aratã
:: Mucuna anã (Mucuna deeringeriana) :: Crotalária juncea (Crotalaria juncea) (Cajanus cajan) CALEGARI, A. Leguminosas para adubação
verde de verão no Paraná. Circular 80, maio
FOTO: Piraí Sementes

FOTO: Piraí Sementes

FOTO: Piraí Sementes


1995. IAPAR. http://books.google.com.br/books/
about/Leguminosas_para_aduba%C3%A7%-
C3%A3o_verde_de_ver.html?id=gQxjAAA-
AMAAJ&redir_esc=y

BARNI, N. A; FREITAS, J. M. de O.; MATZE-


NAUER, R.; TOMAZZI, D. J.; ZANOTELLI, V.;
ARGENTA, G.; SECHIN, J.; TIMM, P. J.; DIDO-
NE, I. A.; HILEBRAND, G.; BUENO, A. C.; RIBEI-
RO, S. de S. Plantas recicladoras de nutrientes
e de proteção do solo, para uso em sistemas
equilibrados de produção agrícola. Porto Ale-
Planta de clima tropical a subtropical, de hábito Planta tropical a subtropical, rica em fibras, de gre: Fepagro, 2003. 84 p. (Boletim Fepagro, 12).
Planta tropical a subtropical é uma arbustiva anu-
determinado, pode ser intercalada entre linhas rápido crescimento inicial, efeito alelopático, po-
al de dias longos. Além de produção de cobertu-
de espécies comerciais perenes. Tolera solos po- dendo atingir 2-3m de altura. Controla alguns ne-
ra, sua massa é rica em proteínas, e seus grãos
bres, mas é mais exigente que a mucuna cinza matoides, semeadura de outubro-dezembro com
também podem ser utilizados para alimentação
e a mucuna preta. Produz de 2-4 t/ha de massa densidade de 40 kg/ha, sendo manejada como
humana e animal. Necessidade de 50 kg/ha de
seca. Semeadura: densidade de 80 a 100 kg/ha cobertura aos 110-140 dias. Pode ser utilizada na
sementes para produção de biomassa, sendo
na primavera/verão devendo ser manejada no alimentação animal, a partir de cortes aos 70 dias
manejada para alimentação animal de 20-40 cm
florescimento (800-100 dias após a emergência) pós-emergência. A produção de massa seca pode
de altura e para cobertura verde aos 140-180 dias
com rolo-faca ou roçadeira. Ciclo de 150 dias pós- variar de 7-15 t/ha. Para produção de sementes
pós-emergência. Para produção de sementes uti-
florescimento para produção de sementes. usar de 20-30 kg/ha, fazendo um corte quando as

14 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 15
O que é um consórcio de Para que serve o consórcio? Por que Agrofloresta? rápidas perdas de solo. Um sistema agroflo-
plantas? restal pode, enfim, ser pensado como parte
A finalidade do uso de consórcios é ter Os sistemas agroflorestais utilizam o de um sistema maior que é a propriedade, e
Consórcios ou policultivos consis- rendas periódicas, maximização do uso do máximo da terra. Cada parte da terra é con- que contém muitos outros subsistemas que
tem no plantio de mais de uma cultura, solo e da água, da cobertura do solo e do siderada aproveitável para as plantas que juntos definem um caminho mais sustentá-
na mesma área, ao mesmo tempo, com uso da mão de obra, bem como proporcio- são utilizadas. Ênfase é dada para as es- vel para a vida no meio rural.
espécies que não competem entre si, or- nar condições desfavoráveis à presença de pécies perenes, lavouras de múltiplos usos
ganizadas ou não em fileiras. Podem ser pragas e doenças nos cultivos, pela diver- que são plantadas uma vez, mas benefi-
empregados com adubos verdes, grãos, sidade de espécies. Assim, cultivando-se, ciam por um longo período de tempo. Além
hortaliças, frutíferas. por exemplo, o milho, o feijão, o arroz e o disso, os sistemas agroflorestais são utiliza-
Vantagens da Agrofloresta
quiabo há um melhor aproveitamento dos
dos para aproveitar as interações benéficas :: Segurança alimentar para a família e ren-
FOTO: Cnptia Embrapa

espaços em uma propriedade, havendo in-


das plantas cultivadas, e para reduzir inte- da para o produtor;
teração positiva entre elas.
rações não favoráveis. Eles são usados para :: Produção diversificada – redução de risco;
reduzir os riscos associados à agricultura :: Baixa ocorrência de pragas e doenças;
de pequena ou larga escala, e para aumen- :: Aumento da fertilidade do solo;
O que vem a ser cultivo em tar a sua sustentabilidade. :: Alta produtividade por área ocupada;
faixas? Os sistemas agroflorestais oferecem os :: Uso de mão de obra familiar;
É uma evolução do uso dos consórcios, múltiplos benefícios das árvores: conser- :: Baixa necessidade de insumos externos;
para facilitar a semeadura e colheita mecâ- var o solo, aumentar a fertilidade por meio :: Espaço de convivência.
nica, sendo o cultivo em faixas de espécies da fixação de nitrogênio, ou pela retirada
Consórcio de Hortaliças. diferentes, como o milho e a soja. de minerais de camadas profundas do solo
e sua colocação na superfície através da
serapilheira, fornecer sombra para os ani-
mais, produzir madeira, alimentos e com-
bustível.

Agrofloresta A agrofloresta não é um sistema de


receitas prontas para a venda, é um siste-
ma para manejo dos recursos agrícolas, da
Maria Izabel Radomski terra, para benefício do proprietário e, em
longo prazo, para o bem-estar de toda a so-
Numa linguagem simples, a Agroflo- dem ser mais ou menos complexos (diversi- ciedade. Embora o sistema seja apropriado
resta é a integração de árvores, plantas e ficados), tanto no espaço quanto no tempo. para toda a terra, ele é especialmente impor-
animais em sistemas conservacionistas, re- Existem sistemas mais simples como os tante no caso de propriedades com declivi-
nováveis e produtivos. A agrofloresta pode sistemas agrossilvipastoris, que integram dades acentuadas onde a agricultura leva a Sistema silvipastoril.
ser considerada mais um meio, do que uma árvores, lavouras de verão, pastagem de
simples tecnologia acabada. A flexibilida- inverno e gado; e os sistemas silvipastoris
de do sistema agroflorestal é uma de suas que associam árvores, pastagem perene e
vantagens, ou seja, é possível montar dife- gado. E sistemas mais complexos, como os
rentes arranjos com árvores, lavouras e ani- sistemas agroflorestais multiestrata, que
mais de acordo com os objetivos do agricul- visam o arranjo de espécies alimentícias e
tor, os recursos disponíveis (terra, capital e arbóreas cultivadas ou regeneradas natu-
mão de obra), e as demandas do mercado. ralmente de modo a “imitar” os diferentes
Os sistemas agroflorestais também po- estratos de uma floresta.

SAF com frutíferas. Quintal Agroflorestal.

16 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 17
mos “modernos” no início há uma gran-

Como transformar uma propriedade de queda na produtividade das culturas,


fortes ataques de pragas e doenças, pois
convencional em agroecológica? o sistema está totalmente desequilibrado
e o agricultor ainda não tem experiência
Alberto Feiden | Aurélio Vinicius Borsato com o sistema e por isso está muito sujei-
to a erros. Com o tempo a produtividade
volta a subir, à medida que o sistema vai
Depois de mais de 10 anos de vitrine que respeita as bases da ecologia e os ciclos se equilibrando. Em uma propriedade de
agroecológica no Show Rural Coopavel, a da natureza. Muitas pessoas preferem a pa-
subsistência, com baixo uso de insumos,
pergunta acima se torna cada vez mais co- lavra “conversão” em lugar de “transição”,
esta queda de produtividade não costu- Culturas diversificadas com plantas medicinais.
mum. Depois de ver os resultados da vitrine, porque o termo reforça a questão da neces-
ma ser muito grande;
muitos dos agricultores pensam em iniciar sidade de mudança na cabeça do sujeito do
um processo de transformação de sua pro- processo, uma verdadeira conversão, no sen- fazer a conversão com o objetivo de ven-
priedade mas não sabem muito bem como tido das ideias e do jeito de fazer agricultura: 2. Conversão radical de apenas parte da der os produtos por um preço maior é
começar. A resposta não é simples, pois na é preciso deixar de pensar apenas na próxi- propriedade e mantendo o restante no uma das principais causas de fracassos
produção orgânica em bases agroecológicas ma cultura para pensar no futuro, no longo sistema convencional. Quando a primei- dos agricultores que iniciam o processo
não se tem pacotes prontos para adoção. Em prazo; pensar na propriedade como um sis- ra parte já está convertida e consolidada, e acabam desistindo. A melhor maneira
cada propriedade, cabe ao agricultor perce- tema agrícola (agroecossistema) em vez de passa-se para uma segunda parte e as- de ter sucesso, é estar preparado para
ber o melhor caminho para a mudança. Este uma única cultura; pensar na produtividade sim por diante até ter toda a propriedade vender o produto como convencional e
caminho pode variar muito, pois cada caso ótima do sistema de produção em vez de convertida. Assim a perda de produtivida- obter a vantagem na redução dos cus-
é um caso. O agricultor deverá considerar produtividade máxima de uma única cultu- de ocorre apenas na parte em conversão tos de produção, além do ambiente de
o quanto usa de insumos modernos (vene- ra; deixar de pensar em altas produtividades e só se passa a converter a parte seguinte trabalho menos insalubre.
nos, adubos químicos, maquinários), quais a qualquer custo, para pensar em produtivi- quando o sistema já está recuperado na
os recursos que dispõe, a acessibilidade e dades ótimas com uma boa rentabilidade; primeira parte. Estas duas formas de con- Passos para fazer a mudança
demandas do mercado local, além da dispo- pensar em renda no longo prazo em vez do versão só se justificam quando há uma
nibilidade e acesso a conhecimentos e assis- lucro máximo agora; observar, compreender Para se ter um melhor entendimento de
perspectiva concreta e segura de se colo-
tência técnica de qualidade. e imitar os processos naturais de cada agro- como fazer a transição lenta e gradual, aqui
car o produto como certificado orgânico
Transição agroecológica é a mudança ecossistema em vez de generalizar práticas nós a subdividimos em alguns passos na
e uma garantida de sobrepreço, o que na
do sistema convencional para um sistema de manejo para todos os ambientes. direção do aumento da complexidade do sis-
maioria das vezes não ocorre;
tema de produção. Estes passos foram defini-
dos apenas de forma didática e não precisam
Um sistema de produção agroecológica, tando as atividades agrícolas aos ciclos da 3. Conversão lenta e gradual da proprie-
ser seguidos exatamente na ordem em que
certificado ou não, precisa adotar uma série natureza e com isso diminuindo as interven- dade, adotando práticas agroecológicas
são apresentados aqui, tudo vai depender
de princípios ecológicos, tais como: 1) Man- ções para corrigir desequilíbrios ecológicos. passo a passo, sem se preocupar com da propriedade e do agricultor, e em muitos
ter a vida do solo, por meio de cobertura a certificação orgânica. É muito mais casos pode-se avançar vários passos simul-
permanente (viva ou morta), minimizando Estratégias de mudanças demorada para o agricultor conseguir a taneamente, principalmente quando as con-
perdas por erosão, mudanças bruscas de certificação, mas permite que o agricultor dições locais (recursos naturais, econômicos
temperatura e falta de alimento aos orga- Existem basicamente 3 estratégias para passe a dominar as tecnologias e avançar e conhecimentos) já permitem ao agricultor
nismos que ali vivem; 2) construir a fer- fazer a mudança do sistema convencional no processo de maneira segura, princi- começar por etapas mais adiantadas.
tilidade do solo pensando no longo prazo, para o agroecológico: palmente ao adotar processos agroecoló-
usando processos biológicos e fertilizantes gicos mais complexos. Apesar de haver
1. Conversão radical e imediata da pro- 1 - Racionalização do uso de insumos
de média e baixa solubilidade, adubando o uma certa demora para que o agricultor
solo e não a cultura; 3) promover a biodi- priedade como um todo, do sistema convencionais
possa ser certificado como orgânico,
versidade funcional, onde as espécies uti- convencional para o sistema orgânico.
consideramos esta estratégia a mais O primeiro passo para quem está acos-
lizadas desempenham funções ecológicas De uma hora para outra se deixa de usar tumado a usar sementes transgênicas, altas
segura, pois mesmo que o agricultor
como a ciclagem de nutrientes e o equilíbrio os insumos convencionais para usar só não consiga o sobrepreço de seus pro- doses de adubos e venenos é de reduzir e
dos organismos, o que vai permitir a substi- os insumos permitidos pela legislação dutos como orgânicos, além de não ter adequar utilização dos mesmos, atendendo
tuição do uso dos insumos químicos sintéti- de orgânicos. Em geral, neste caso, se a redução na produção, em geral ocorre a as normas corretas de sua utilização. Embo-
cos; 4) respeitar os ciclos naturais, adap- propriedade é muito dependente de insu- redução de custos de produção. Aliás, ra isso ainda não seja transição agroecológi-

18 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 19
5 - Sistemas Complexos de Produção
Implantar sistemas complexos de produ-
ção, imitando o funcionamento do ecossiste-
ma original da região e aumentando a inte-
gração entre explorações é o próximo passo.
Existem diversas experiências de construção
desses tipos de sistemas, como agrossilvi-
cultura e agrosilvipastoreio; agroflorestas
regenerativas análogas; permacultura e siste-
mas desenvolvidos por populações tradicio-
Culturas diversificadas com barreiras. Grãos diversificados. Talhões diversificados e cobertura de palha. nais. Estes sistemas têm complexidade alta,
muitas espécies e são muito parecidos com
ca, é um passo importante a ser dado. Isto passo já é possível conseguir a certificação 4 - Redesenho da Paisagem os ecossistemas naturais da região. Porém,
significa adequar os cultivos e explorações orgânica. Por isso grande parte do agriculto- a implantação destes sistemas exige um co-
à capacidade de uso do solo, fazer adubação res orgânicos parou por aqui. Porém, a sim- Redesenhar a paisagem na proprieda-
nhecimento bastante aprofundado da ecolo-
apenas com base na análise do solo, usar ples substituição de insumos não garante de, criando uma paisagem diversificada e
gia e das condições de solo e clima da região,
práticas de manejo integrado de insetos e a sustentabilidade, as causas dos desequi- subdividida em várias unidades complexas,
como também da capacidade de combinação
doenças, fazer o manejo adequado do solo, líbrios continuam existindo, e a lógica do reorganizando as atividades agrícolas e as
das diferentes espécies.
fazer plantio direto com boa cobertura de pa- sistema de produção continua a mesma do instalações no espaço para utilizar melhor
lha, usar os princípios de integração lavou- convencional. A médio prazo, se ficar ape- os recursos da paisagem e reduzir os im-
pactos ambientais é o próximo passo. É
6 - Reordenamento Regional
ra-pecuária-florestas. Este passo nada mais nas neste passo, os desequilíbrios continu-
é que incorporar boas práticas da agronomia am e os custos passam a aumentar, invia- fundamental levar em conta a aptidão agrí- Um último passo seria a reorganização
e da zootecnia com boas práticas, qualidade bilizando o sistema. Por isso é fundamental cola do solo, a legislação ambiental (reser- de toda região para sistemas agroecológi-
avançar no processo de transição ecológica. va legal, áreas de preservação permanente, cos, fazendo a transição não apenas na pro-
e segurança.
como matas ciliares, morros, encostas, ba- priedade de forma isolada, mas em toda a
nhados, etc), a direção dos ventos, a exposi- área de uma microbacia, de uma região ou
2 - Substituição de insumos 3 - Diversificação e Integração
ção ao sol e o regime hídrico de cada talhão um território, envolvendo desde os sistemas
de Atividades da propriedade.
Neste passo se começa a fazer a substi- de produção agrícola, até a distribuição dos
tuição dos insumos como sementes transgê- Aqui se procura criar combinações de Com isso se consegue aproveitar ao assentamentos urbanos, da infraestrutura e
nicas, venenos e adubos químicos por insu- culturas e criações para produzir diversida- máximo a capacidade produtiva de cada um das indústrias. Hoje isto pode parecer um
mos naturais e de baixo impacto ambiental. de funcional, isto é culturas e criações que destes locais, reduzir os riscos ambientais, sonho, mas já há exemplos de planejamento
São preferíveis os recursos locais, que são “combinem” entre si, produzindo serviços que aumentar o equilíbrio ecológico e promover a nível regional como o programa de manejo
encontrados na propriedade ou na região, ou substituem o uso de insumos. É a combina- as demais funções da propriedade. Alguns de solos em microbacias.
que podem ser feitos pelo agricultor e pelos ção de espécies, animais e vegetais, que tem exemplos: divisão das glebas com árvores
vizinhos. Na substituição dos adubos quími- funções ecológicas diferentes, produzindo ser- (quebra-ventos, cortinas arbóreas, cercas Resumindo
cos pode-se usar: fosfatos de rocha; cinzas viços como ciclagem de nutrientes, controle vivas); cultivos em faixas ou aleias; arboriza-
de madeiras; estercos e compostos orgâni- de pragas e doenças, atração de polinizadores, ção de pastagens e uso de cercas ou moirões O processo de transição não é fácil nem
cos; adubos verdes e biofertilizantes líqui- proteção do solo, melhoria do microclima, etc. vivos; arborização das curvas de nível em la- simples e pode avançar e recuar de acordo
dos. Para manejo de insetos e doenças, po- São exemplos de práticas que criam integra- vouras e pastagens; recuperação e preserva- com as condições de clima e mercado que
dem ser utilizados, além dos biofertilizantes ção: rotação e sucessão de culturas; culturas ção das matas ciliares; proteção dos manan- vão mudando ao longo do ano. É muito difí-
líquidos, caldas alternativas para controle de intercalares e consórcios; adubos verdes e ciais e das nascentes; recuperação das áreas cil que um agricultor sozinho consiga fazer a
insetos e doenças, insumos biológicos para culturas de cobertura, culturas complementa- de preservação permanente; recuperação e mudança, o ideal é que participe de um gru-
controle de insetos e doenças, fitoterapia e res; culturas com raízes profundas que trazem manejo da mata da reserva legal; criação de po de agricultores com os quais possa trocar
homeopatia. Ao invés de sementes trans- de volta os nutrientes lixiviados; culturas com refúgios biológicos para inimigos naturais e experiências, tirar dúvidas e somar esforços.
gênicas ou hibridas, passam a ser usadas diferentes alturas que permitem uma melhor polinizadores; áreas de reflorestamento para A assistência técnica especializada de qua-
sementes variedade ou crioulas, que podem utilização da luz solar; integração da produção fins econômicos; corredores biológicos para lidade também é muito importante. Mas o
ser reproduzidas pelos próprios agricultores. animal com a produção vegetal; policultivos interligar fragmentos de matas e/ou reservas principal é que o agricultor esteja motivado
Depois de substituídos todos os insu- aquáticos e integração de lavouras-criações-a- e recolocação das explorações e das instala- a fazer mudanças, e mudanças a longo pra-
mos e passado o prazo de carência, neste quicultura, entre outros. ções em locais mais adequados. zo, com um planejamento para vários anos.

20 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 21
Este planejamento não pode ser rígido, deve Mais informações:
ser dinâmico, estando aberto a ajustes se as
Cartilha “Como eu começo a mudar para siste-
condições mudarem. Mas deve ser como um
mas agroecológicos?”, disponível em:
farol que mostra qual é a direção a seguir,
www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/
mesmo que ás vezes seja preciso fazer vol-
tas par alcançar o objetivo. Neste processo CAR04.pdf
de transição, a direção deverá sempre pre- FEIDEN, A. ; ALMEIDA, D. L. ; VITOI, V. ; AS-
valecer em relação a velocidade da mudan- SIS, R. L. Processo de Conversão de sistemas
ça. Repensar alguns valores, alterar alguns de produção convencionais para sistemas
costumes/hábitos, tomar as decisões no mo- de produção orgânicos. Cadernos de Ciência
mento apropriado e assumir alguns riscos, e Tecnologia (EMBRAPA), Brasília, v. 19, n.2, p.
179-204, 2002. Canteiros diversificados com barreira repelente. Consórcio de milho leguminosas.
entre outros, serão os principais desafios
para quem busca a transformação de uma ASSIS, R. L. ; ALMEIDA, D. L. ; SILVA, V. V. ;
propriedade convencional em agroecológica. isso os vegetais são chamados de produ- possam se multiplicar, são necessários ali-
FEIDEN, A. A Conversão de Sistemas Con-
A medida em que vai se compreendendo os vencionais para Sistemas Orgânicos de Pro- tores primários e forma o primeiro elo da mentação, abrigo e condições favoráveis à
processos inerentes aos agroecossistemas, dução no Brasil. In: PADOVAN. M. P.; URCHEI, cadeia alimentar. Toda a vida no planeta procriação. Assim, temos duas estratégias
tais desafios tornar-se-ão motivação para M. A.; MERCANTE, F. M.; CARDOSO, S.. (Org.). depende da energia fixada pelas plantas. para interferir na multiplicação dos organis-
Agroecologia em Mato Grosso do Sul: Princí- Organismos que não conseguem fazer a fo- mos que temos em nosso agroecossistema:
que o agricultor-experimentador continue pios, Fundamentos e Experiencias. 1ed. Campo
interagindo com a natureza de forma dinâ- tossíntese obtêm sua energia consumindo promover as condições de alimentação,
Grande: IDATERRA/EMBRAPA Agropecuária
mica e sustentável, possibilitando qualidade Oeste, 2002, v. 1, p. 113-120.
matéria vegetal, por isso são chamados de abrigo e condições de procriação dos orga-
de vida, inclusive para as gerações futuras. herbívoros ou fitófagos e constituem o se- nismos desejáveis e inibir essas condições
gundo elo da cadeia alimentar. Já outras es- para os indesejáveis. Estas estratégias estão
pécies se especializaram em comer os que baseadas na diversificação das explorações,
comem plantas e são chamados de carnívo- criando barreiras entre as diferentes cultu-

Como controlar pragas e doenças ros (ou insetívoros ou entomófagos quando


comem insetos), e constituem o terceiro elo
ras para dificultar o deslocamento das espé-
cies indesejáveis, destruição de suas fontes

em sistemas agroecológicos? na cadeia alimentar.


A partir daí há vários outros elos na ca-
de alimento alternativas, seus refúgios e
procurando interferir nos seus processos de
deia alimentar em sequência. E é a partir do reprodução. Por outro lado criamos condi-
Alberto Feiden | Aurélio Vinicius Borsato
primeiro elo da cadeia alimentar que nossa ções favoráveis aos organismos benéficos,
exploração se encontra, que vamos enxer- introduzindo especies que possam servir
Em geral a primeira pergunta que os é “como convivo com os organismos inde- gar os outros elos da cadeia como inimigos de alimento alternativo, criando refúgios e
técnicos e agricultores convencionais fa- sejáveis?” ou no limite “como posso ma- ou aliados: Se nossa exploração é vegetal estimulando sua reprodução.
zem em relação aos sistemas de produção nejar esses organismos para que eles não e portanto no primeiro elo da cadeia ali- Na natureza, para cada espécie vegetal
agroecológicos é “que produto vocês usam se tornem problemas?”. Para responder a mentar, os herbívoros (segundo elo) vão ser ou animal, existe um grupo de organismos
para controlar as pragas e doenças?”. O estas questões é necessário muito mais nossos inimigos (pragas) e os carnívoros associados que mantém relações positivas
problema é que a própria pergunta já está conhecimento que simples receitas de pro- ou insetívoros (terceiro elo) serão nossos ou negativas com esta espécie. Como exem-
equivocada, pois ela parte do princípio que dutos que matam determinados insetos ou aliados (inimigos naturais das pragas), en- plo de relação positiva tem-se a que ocorre
é necessário usar algum tipo de veneno micro-organismos. É preciso conhecer mi- quanto o quarto elo volta ser inimigo, pois entre leguminosas e rizóbios, onde a planta
para fazer o controle dos organismos inde- nimamente a cadeia alimentar em que nos- elimina os inimigos naturais das pragas. alimenta as bactérias, e estas fixam o nitro-
sejados nos sistemas de produção. Uma das sas explorações estão envolvidas, conhecer Mas quando a exploração for em nível de gênio do ar e o disponibilizam às plantas.
primeiras coisas que precisamos quebrar no minimamente a dinâmica da população dos animais (segundo elo), o terceiro elo passa Porém, as interações mais conhecidas são
processo de transição agroecológica é esta organismos que nos incomodam e princi- a ser o inimigo (pragas), enquanto o quarto as negativas, como a predação e o parasitis-
lógica convencional de problema = insumo. palmente minimamente sobre as interações elo passa a ser aliado e assim por diante. mo, mais conhecidos como ataque de pra-
A pergunta correta na lógica agroecológica entre os diversos tipos de organismos. Estes conhecimentos nos ajudam a criar gas ou causadores de doenças.
estratégias de manejo das populações inde- Em sistemas agroecológicos se procura
sejáveis e favorecer as que nós considera- fortalecer as interações positivas e diminuir
Na natureza toda a energia útil que plantas (e algas), através da fotossíntese, mos desejáveis. as interações negativas através do aumento
move a vida vem do sol. A vida como co- conseguem capturar a energia do sol e ar- Para que os organismos a partir do se- da biodiversidade funcional e do equilíbrio
nhecemos hoje só é possível porque as mazená-la em compostos de carbono. Por gundo elo da cadeia alimentar (animais) ambiental, fazendo com que os mecanismos

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produtos que têm como objetivo fazer um
controle pontual da população de organis-
mos, para reduzir as perdas de produção, Controle biológico de pragas
principalmente no período em que se está
mudando do sistema convencional para o Vanda Pietrowski
agroecológico. No entanto, o objetivo princi-
pal a ser atingido é conseguir um ambiente
onde exista equilíbrio entre as populações A adoção de práticas agronômicas e de
para que os controles artificiais se tornem manejo da propriedade que favoreçam os
cada vez menos necessários. Pois, quando agentes de controle biológico de pragas são
o sistema de produção agrícola está em de fundamental importância para a redução
Insetos em desequilibrio.
equilíbrio, torna-se viável o convivo com os do impacto dos insetos pragas e para uma
organismos indesejáveis, os mantendo em maior eficiência do controle biológico, seja
naturais de controle das diferentes popula- níveis populacionais não problemáticos, de ele natural ou aplicado. Podem-se destacar
ções sejam atuantes. forma similar ao que ocorre nos sistemas como importantes para a conservação e a
É possível aumentar a diversidade naturais complexos. manutenção dos organismos benéficos o
funcional através do uso de consórcios e Para os controles pontuais (emergen- policultivo, as épocas de floração, as áre-
rotações de culturas, adubações verdes, ciais) podem ser utilizados produtos de as de refúgio e a seletividade de produtos.
culturas de cobertura, blocos com plantas fabricação caseira que atuam como repe-
bioativas (medicinais, condimentares, aro- lentes ou como inseticidas e fungicidas de
máticas entre outras), barreiras arbóreas, baixo impacto ambiental, como as caldas
cercas vivas nos limites das áreas ou faixas à base de pimenta vermelha, pimenta do a) Policultivo esses. Plantas como girassol, flor-do-sol
divisórias entre os talhões. De maneira ge- reino, cebola, cebolinha verde, alho, fumo; A diversificação da produção, além de e mamona são exemplos de espécies
ral, para cada espécie que se coloca no sis- sal e vinagre, leite cru, cinzas de madeira ou reduzir as populações dos insetos pra- importantes, que servem como banco
tema, pelo menos duas espécies associadas extratos de plantas bioativas (medicinais, gas, possibilita aos agentes de controle de inimigos naturais.
são atraídas, aumentando a disponibilidade condimentares, aromáticas entre outras). biológico maior disponibilidade de es-
de alimentos para os predadores não espe- Também podem ser utilizados produtos pécies de insetos que lhes sirvam como c) Áreas de refúgio
cíficos e aumentando a pressão de controle homeopáticos, fitoterápicos, agentes bioló- A manutenção de áreas de refúgio para
presas ou hospedeiras, aumentando
sobre as diferentes populações. gicos ou mesmo produtos comerciais regis- assim sua permanência na área. É im- que os inimigos naturais das pragas
Uma outra forma de proteção das cul- trados para produção orgânica. portante que, na diversificação de cul- se protejam em momentos com condi-
turas é o aumento da resistência das plan-
tivos, se leve em consideração, além da ções adversas, principalmente em altas
tas contra pragas e doenças, o que pode
diversidade de espécies, a diversificação temperaturas, tem demonstrado ser im-
ser conseguido por uma boa nutrição, Mais informações:
com adubação equilibrada, tanto mineral de extratos, ou seja, intercalar plantas de portante para ampliar a ação desses ini-
como orgânica. As adubações de solo po-
“Métodos alternativos para biocontrole”, dis- porte maior com plantas de porte baixo, migos naturais sobre os insetos pragas.
ponível em: <www.embrapa.br/pantanal/busca- criando assim um microclima favorável Essas áreas podem ser mantidas asso-
dem ser complementadas com uma grande
de-publicacoes/-/publicacao/787274/metodos- aos inimigos naturais. ciadas ao item anterior de disponibili-
quantidade de adubos foliares que também
-alternativos-para-biocontrole-na-agricultura.> dade de floração. Geralmente o plantio
funcionam como bio-protetores, tais como
urina de vaca fermentada e biofertilizantes b) Épocas de floração consorciado, principalmente com feijão
FEIDEN, A., Agroecologia: Introdução e Con-
líquidos de diferentes tipos (Supermagro, ceitos. In: Adriana Maria de Aquino; Renato
Muitos predadores e parasitoides adul- de porco, é um ótimo exemplo de área
Vairo, Agrobio, Biogel, etc.). Linhares de Assis. (Org.). Agroecologia: Princí- tos, quando há ausência de presas ou de refúgio para os insetos benéficos
Em casos que as práticas culturais não pios e técnicas para uma agricultura orgânica hospedeiros, alimentam-se de pólen que ajudam a controlar as pragas da
forem suficientes para reduzir as popula- sustentável. 1ed.Brasília: Embrapa Informação e néctar. Assim, portanto, um manejo propriedades
ções desequilibradas a níveis que não cau- Tecnológica, 2005, v. 1, p. 49-69. visando a diferentes épocas de flora-
sem dano econômico, podem ser usados ção contribui para a permanência e a d) Seletividade de produtos
multiplicação dos inimigos naturais. Mesmo na agricultura de base ecológi-
Importante também é a manutenção de ca são utilizados produtos que têm ação
flores na propriedade, nas bordaduras de largo espectro, ou seja, eliminam
dos cultivos ou em locais intercalados a também os inimigos naturais. O uso de

24 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 25
produtos seletivos é de suma importân- ros, percevejos, tesourinhas, vespas, entre
cia para a eficiência dos agentes de con- outros). Saber reconhecê-los é um passo
trole biológico. Embora haja pouca in- importante para sua manutenção e conse-
formação sobre a seletividade de caldas, quentemente redução no impacto dos inse-
extratos e outros produtos considerados tos pragas nos cultivos.
naturais ou ecológicos aos inimigos na- Alguns destes agentes de controle bio-
turais, experimentos demonstraram que lógico são extremamente pequenos e pas-
sam despercebidos aos agricultores, como
algumas caldas e extratos, tais como,
é o caso das vespinhas controladoras das
nim, calda sulfocálcica, enxofre elemen-
pragas na fase de ovo (se desenvolvem den-
tar e extratos de arruda afetam as vespi-
tro destes ovos). Este é um grupo que apre-
nhas controladoras de pragas. senta várias espécies, são muito comuns no
Doenças que controlam insetos. A: vírus da lagarta da soja; B: vírus do mandarová da mandioca;
C: fungo causador da doença branca em lagartas.
agroecossitema e eficientes, controlando as
Exemplos de agentes de controle pragas antes que causem danos. Contudo,
biológico de insetos pragas são extremamente sensíveis aos produtos
utilizados na produção agrícola.
Os insetos pragas são controlados na- A seguir serão apresentados alguns
turalmente por uma grande diversidade de exemplos de inimigos naturais ou agentes
agentes de controle biológico. Destacando- de controle biológico que frequentemente
se as doenças (fungos, vírus, bactérias e são encontrados associados ao sistema
nematoides), os parasitoides (vespinhas e agrícola. Salienta-se que são exemplos, pois
algumas moscas) e os predadores (besou- sua diversidade é muito grande.

Percevejos predadores de insetos. A: predando mandarová da mandioca; B: predando percevejo marrom;


C: predando vaquinha (brasileirinho).

Parasitoides controladores de pragas. A: Vespinha parasitoide de ovos de percevejos; B: vespinha parasitoide de


ovos de borboletas e mariposas; C: vespinha parasitoide de mosca branca; D: vespa parasitoide de lagartas; E:
larvas de vespinha alimentando-se externamente de lagarta; F: mosca parasitoide controladora de lagartas. Vespas predadoras de lagartas com seus ninhos.

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Considerações gerais tomar medidas de controle. O planejamento mann, a doença é uma conse­quência do
da produção também deve ser feito levando- desequilíbrio do organismo. Assim a es-
O ideal, quando se pensa em insetos pra- se em consideração os problemas fitossani- colha do tratamento é feita a partir dos sinto-
gas, é que não haja necessidade de adoção tários e não apenas as questões de mercado. mas, considerando as causas e o desenvol-
de medidas de controle, mas, sim, que o am-
Por fim, o agricultor deve compreender vimento da doença, a forma de adoecer, as
biente agrícola esteja estabelecido e maneja-
que a eficiência na adoção do controle bioló- circunstâncias, bem como as características
do de modo que o controle biológico natural
gico está diretamente ligada à qualidade do do organismo doente. Atuam na energia vi-
seja eficiente, mantendo a população dos in-
agente de controle e ao manejo da proprieda- tal do ser, estimulando o organismo e pro-
setos herbívoros em equilíbrio. Porém, mes-
de, fatores esses dependentes das escolhas movendo a autorregulação.
mo nas agriculturas de base ecológica, que
adotam práticas que favoreçam os inimigos do agricultor. Muitos são os agentes de con- Na agropecuária a Homeopatia vem sen-
naturais, isso é difícil de ocorrer havendo a trole biológico que estão naturalmente dis- do aplicada na prevenção e no tratamento de Amostra de medicamento homeopático.
necessidade de fazer intervenções que visem poníveis nas propriedades agrícolas. Saber doenças, pragas, melhoria na qualidade de
a reduzir a população dos insetos herbívoros. manejá-los e conservá-los, aproveitando os produtos, aumento de princípios ativos, tra- moscas brancas, cigarrinhas, lagartas, for-
Embora seja difícil a produção sem haver benefícios que estes trazem na redução de tamento de sementes, água, solo e equilíbrio migas, entre outros. Usada ainda para injú-
a necessidade de adotar métodos de contro- insetos herbívoros, é de suma importância dos ambientes. Experiências de campo na rias como transplantes, podas, granizos, es-
le, é importante que o agricultor compreenda quando se busca uma produção sustentável. pecuária comprovam a eficiência da Homeo- tiagens e geadas. Também potencializa os
e conheça sua propriedade, faça um históri- Algumas práticas simples, como, por exem- patia no controle dos parasitas; tratamento e nutrientes e a vida do solo, resultando em
co dos seus problemas com insetos pragas e plo, manter áreas de refúgios com flores e o prevenção de mastites, diarreias, problemas plantas mais sadias, mais produtivas e de
planeje em longo prazo medidas que visem consorcio de espécies são suficientes para reprodutivos, verrugas, entre outros. Seu melhor qualidade.
à redução dos impactos dessas pragas, não manter e aumentar esses agentes benéficos uso simples, junto ao sal mineral, água, no A Homeopatia é mais uma ferramenta a
esperando o problema se instalar para então de forma a reduzir o impacto de pragas. alimento, via oral ou outra forma de contato, ser utilizada na Agroecologia, por ir de en-
permite que todos possam utilizá-la. contro aos seus princípios. Proporciona o
Na produção vegetal, o uso da Home- autoequilíbrio da energia vital do ser tratado,
opatia tem demonstrado bons resultados resultando em animais e cultivos capazes de
Homeopatia e agroecologia na prevenção e no controle de doenças e
pragas como percevejos, pulgões, ácaros,
expressar melhor o seu potencial produtivo e
com maior qualidade.
Marcia Vargas Toledo | Sidnei Francisco Müller | Vanice Marli Fulber

A Homeopatia é uma ciência que vem ao curar seu próprio cavalo: “se as leis que pro- Manejo de pragas e doenças
encontro da Agroecologia, proporcionando a clamo são as da Natureza, elas serão válidas
homeostase do ser vivo. Seu uso tem crescido para todos os seres vivos.“ É baseada em qua- – as caldas e repelentes naturais
muito nos últimos anos, por apresentar resul- tro princípios, sendo eles a lei da semelhança,
tados concretos, ser de fácil uso, de baixo cus- doses mínimas e infinitesimais, experimenta- Márcia Vargas Toledo | Sidnei Francisco Muller
to, não gerar resíduos e nem contaminar o ser ção no indivíduo sadio e medicamento único.
humano e o ambiente. No Brasil, a medicina homeopática foi Algumas vezes nos cultivos agroeco- turais. Existem várias opções, muitas das
Em 1796 o médico alemão Samuel Chris- introduzida em 1840, e a prática terapêutica lógicos é preciso o uso de produtos para quais são utilizadas há décadas, mas de-
tian Frederick Hahnemann idealizou e criou regulamentada a partir da Lei n° 10.831, atra- o controle de pragas e doenças para evitar ve-se atentar para a proteção do aplicador,
a Homeopatia. Logo ao iniciar os estudos da vés da Instrução Normativa n° 46/2011, a qual perdas na produção, porém estes devem assim como qualquer prática na agricultura,
Homeopatia médica, Hahnemann disse ao legalizou seu uso na agricultura orgânica. confeccionados a partir de insumos na- independente do sistema.

A Homeopatia é acima de tudo uma -primas a partir de animais (ou partes deles), Macerados de plantas
ciência, portanto, não tem dono. Definida vegetais e minerais. Quando são preparados
Fumo, arruda, cinamomo, urtiga, cipó e água até, no máximo, 10%. Como atrativo da
como libertadora, proporciona maior inde- com o agente causador do desequilíbrio, são
outras plantas tem efeito inseticida. Coletar diabrótica (vaquinha ou cascudinho verde-
pendência econômica e técnica do agricultor. chamados de nosódios ou bioterápicos.
as folhas, picar, misturar com álcool deixar -amarelo), pode-se espalhar iscas com cipó
Os medicamentos homeopáticos são prepa- O fundamento da Homeopatia é que não
há doenças, mas sim, doentes. Para Hahne- em repouso por 48 horas, coar e diluir em tayuyá.
rados com doses ultradiluídas de matérias-

28 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 29
Macerado de alho da durante a noite para captura de mariposas Aqueça 25 litros de água limpa em um A calda é corrosiva, por isso lavar muito
Esmagar 4 dentes de alho em um litro de e traças. tonel. Retire um balde de água morna e mis- bem o pulverizador após aplicação.
água e deixar curtir por 12 dias. Diluir em 10 ture 5 kg enxofre peneirado. Em outro tonel, Uso: controle de doenças de plantas
Urina de vaca coloque 4 kg de cal virgem e queime com 2
litros de água e aplicar sobre a planta.
Coletar a urina de vaca e deixar armaze- a 3 litros de água morna, retirada do primei- Produtos biológicos
Uso: controle de pulgões e nematóides
do alho. nada em local fresco por 7 a 10 dias. Pode ser ro tonel. Quando a cal começar a queimar, Na natureza, o controle biológico ocorre
usada em pulverização de 1 a 5%. misture o enxofre mexendo sempre com o naturalmente e durante o tempo todo. Mas
Extrato de Nim Usos: fertilizante natural e repelente de bastão de madeira. Após adicione o restante enquanto não tivermos um ambiente equili-
pragas. da água quente. Ferva a mistura durante uma brado, podemos utilizar algumas estratégias.
Em 20 litros de água colocar 300 g de
folhas picadas e deixar em repouso por 12 hora mexendo sempre e repondo a água eva- Existem diversas formas de controle biológi-
Armadilha para mosca-das-frutas porada. Após deixe o fogo apagar e esfriar a co, desde parasitóides, predadores, bacté-
horas. Coar e pulverizar no mesmo dia.
Usos: inseticida contra traças, lagartas, Em uma garrafa pet são feitas diversas calda. Retire a calda do tonel e coe com o au- rias, fungos e vírus. Eles têm a vantagem de
larva minadora, pulgões e gafanhotos. No co- aberturas com 2 cm no sentido horizontal e xílio de um pano. Guarde a calda em vasilhas ser específicos, isto é, de controlar somente o
mércio, existe também o óleo de nim, que é 5 cm na vertical na parte mediana. Deve ser de vidro, madeira ou plástico bem fechado. parasita, mas não os seus predadores. Como
extraído da semente da planta. pendurada na planta a uma altura de 1,50 cm, Após preparada deve ser feita a medida da exemplos temos o Bacillus thuringiensis, Ba-
do lado que o sol nasce, na proporção de concentração em graus Baumé (ºBé), com culovirus, Beauveria bassianal, Metarhizium
Extrato de fumo uma garrafa para cada dez plantas. Dentro o auxílio de um aerômetro. Sua aplicação é anisopliae, Nomuraea rileyi, Trichoderma,
da garrafa é colocado o atrativo que pode ser: feita diluída em água, visando atingir uma Trichogramma sp. e Trissolcus sp., bem como
Misturar 250g de fumo com 20 litros de
• 2 partes de água + 1 parte de vinagre de concentração predeterminada. aranhas, ácaros vespas, percevejos e moscas.
água. Deixar de molho por 24h horas.
Uso: excelente inseticida tendo ação de vinho, suco de uva ou suco de outra fruta;
contato contra pulgões, vaquinhas, cochoni- • 1 parte de água + 1 parte de suco de fru-
lhas, lagartas e outras pragas. tas maduras;

Extrato de pimenta do reino


• 70 gramas açúcar mascavo ou suco de
frutas maduras + 1 litro de água + 1 co-
Armadilha para captura
Colocar 100 gramas de pimenta do reino lher de café de vinagre. de percevejos em soja
moída em 1 litro de álcool e deixar em repou-
so por uma semana. Dissolver 25 gramas de
Calda bordaleza Beatriz Spalding Correa-Ferreira | Claudine Dinali Santos Seixas

sabão neutro em 1 litro de água morna. Para Para o preparo de 10 litros, dissolver o
aplicação usar 10 ml do extrato da pimenta sulfato de cobre no dia anterior ou quatro ho-
ras antes do preparo da calda. Dentro de um Uma estratégia que pode auxiliar no ma-
por litro de água e misturar a água de sabão.
pano de algodão colocar 100 g de sulfato de nejo dos percevejos em soja é o uso de arma-
Uso: controle de lagartas, pulgões, trips,
cobre. Amarrar e mergulhar em um vasilha- dilhas com urina bovina. Essas armadilhas
bicho mineiro e cigarrinhas.
me plástico com 1 litro de água morna. são confeccionadas utilizando garrafas plás-
Leite ou soro de leite Colocar 100 g de cal em um balde com ticas tipo pet de dois litros com aberturas no
capacidade de 10 litros. Em seguida, adicio- terço mediano da garrafa. Essas aberturas
O leite tem efeito positivo sobre o desen-
nar 9 litros de água aos poucos. Adicionar, podem ser feitas mais acima para aumentar
volvimento das plantas, na redução de do-
aos poucos, o sulfato de cobre dissolvido an- o intervalo de reabastecimento das armadi-
enças e eliminação de ácaros. Misturar em
tes, mexendo sempre. lhas. É utilizada uma solução de urina bovi-
água na proporção de 1 litro de leite para 10
na + sal de cozinha, nas proporções de três
litros de água. Já o soro deve ser sem a pre- Mergulhar uma faca de aço limpa por 3
litros de urina e 500 g de sal, dissolvidos em Isca para percevejo.
sença de sal e pode ser usado desde puro até minutos na calda. Se a faca ficar marrom, a
sete litros de água.
misturado com água a 50%. calda está ácida e será necessário adicionar
mais cal na mistura. Se não sujar, a calda está
Iscas para captura pronta para o uso. É indicado que as armadilhas sejam vis- percevejos atraídos e capturados. As armadi-
Colocar garrafas pet ou placas pintadas Usos: controle de doenças de plantas. toriadas periodicamente para a retirada dos lhas devem ser colocadas desde o início do
de amarelo, branco e azul logo acima da cul- insetos já capturados e a reposição da solu- cultivo da soja, preferencialmente nas borda-
tura, cobertas com cola entomológica. Outra Calda sulfocáustica ção, que deve estar 2 cm abaixo das aber- duras, penduradas em estacas ou no chão, de
opção é instalar bacias com água e detergen- O preparo que deve ser feito com equi- turas da garrafa, evitando a fuga de novos 50 m em 50 m.
te e sobre ela uma lâmpada que deve ser liga- pamentos de proteção para evitar acidentes.

30 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 31
impedimento, utilizando os condicionadores Mais informações:
de solo e usufruindo da ação benéfica dos
Compostagem e vermicompostagem microorganismos.
• Circular Técnica 29: Vermicompostagem
www.cnpab.embrapa.br/system/files/cit029.pdf
Existem também outros condicionadores
Etiene Leite Junior | Nelson R. Bueno da Silva | Ronaldo Juliano Pavlak como o Bokashi, a turfa e, folhas e galhos de • Folder: Vermicompostagem: Uma alternativa
viável e sustentável
árvores que a própria natureza nos fornece www.cpact.embrapa.br/publicacoes/down-
Húmus • Melhora as propriedades físicas do solo; gratuitamente. load/folder/minhocultura.pdf
• Aumenta a retenção de umidade; • Circular Técnica 59: Compostagem de Resí-
O húmus é o componente orgânico, re- • Age como reservatório fixo de nitrogênio, duos para Produção de Adubo Orgânico na Pe-
sultante da decomposição microbiana de que é fundamental para manter a fertili- quena Propriedade
resíduos de animais e plantas. Com aspecto dade do solo. www.cpatc.embrapa.br/publicacoes_2010/
macio e acastanhado, essa substância amor- ct_59.pdf
• Reduz a compactação de solos argilosos
fa traz grandes benefícios ao solo, entre eles: e melhora a agregação de solos arenosos.
• Promove a liberação gradativa de nutrien-
tes, tornando a adubação mais eficaz e
duradoura.
Fruticultura ecológica
Compostagem O resíduo orgânico que serve como ali- Ronaldo Juliano Pavlak
mento para minhocas, ao passar por seu
Composto é o resultado da degradação trato digestivo, sofre transformações que
biológica da matéria orgânica, em presença favorecem a formação de matéria orgânica A fruticultura é uma atividade de grande sucos, doces, geleias, licores, entre outros,
de oxigênio, sob condições controladas pelo estabilizada, ou seja, de adubo orgânico co- importância e estratégica na agroecologia, de- o que agrega valor à produção e garante
homem. Os produtos do processo de de- vido a uma série de características, entre elas: renda ao produtor durante o ano todo;
nhecido como “húmus de minhoca” ou “ver-
composição são: gás carbónico, calor, água • Possibilitar ao agricultor um grande ren- • As frutas são importantes fontes de pro-
micomposto”.
e a matéria orgânica “compostada”. dimento por área; teínas, sais minerais, vitaminas e fibras,
As espécies mais adaptadas à vermicom-
A compostagem é o processo biológico • Tratar-se em sua grande maioria de cultu- indispensáveis para o funcionamento do
postagem são as Vermelhas-da-Califórnia
de decomposição e de reciclagem da maté- ras perenes; organismo humano.
(Eisenia foetida e Eisenia andrei) e a Noturna
ria orgânica contida em restos de origem • Utilização relativamente pouca mão de A implantação de pomares domésticos
Africana (Eudrilus eugeniae), por alimenta-
animal ou vegetal formando um composto. obra, a qual varia de acordo com a espé- ou comerciais, é uma excelente alternativa
rem-se de resíduos orgânicos semicrus, terem
A compostagem propicia um destino útil cie e estagio e ou idade do pomar; para a manutenção de agricultores familia-
alta capacidade de proliferação e crescimento
para os resíduos orgânicos, evitando sua • Apresentar possibilidade de comércio dos res e filhos no campo, bem como para a com-
muito rápido têm sido as mais utilizadas.
acumulação em aterros e melhorando a es- frutos in natura, ou a transformação em plementação nutricional das famílias rurais.
As minhocas digerem os resíduos que
trutura dos solos. Esse processo permite dar
são excretados sob a forma de húmus ou
um destino aos resíduos orgânicos agríco-
vermicomposto, que é um rico fertilizante,
las, industriais e domésticos, como restos No espaço reservado à fruticultura na
inodoro, contendo micronutrientes (ferro, zin-
de comidas e resíduos do jardim. Esse pro- Vitrine Tecnológica de Agroecologia, é apre-
co, cloro, boro, molibdênio, cobre) e macronu-
cesso tem como resultado final um produto sentado um pomar com algumas das frutí-
trientes (nitrogênio, fósforo, potássio).
– o composto orgânico – que pode ser apli- feras cultivadas na região oeste do Paraná,
Ambos os produtos são condicionadores
cado ao solo para melhorar suas caracterís- dispomos de Figo (Ficus carica L.); Amora
de solo, ajudam a fauna, servindo de alimen-
ticas, sem ocasionar riscos ao ambiente. Preta (Rubus sp.); Framboesa (Rubus ideaus
to a mesma, formando e ativando a vida do
L.); Banana (Musa x paradisíaca L.), cultiva-
solo, o que o torna mais poroso e agregado,
dos em sistemas solteiros.
facilitando o enraizamento das plantas, a não
Vermicompostagem Também dispomos de Acerola (Malpi-
entrada de doenças e a melhor absorção dos
ghia punicifolia L.); Goiaba (Psidium guajava
Vermicompostagem é o processo de pro- nutrientes pelas plantas. O agricultor pode
L.), Ameixa (Prunus domestica L.); Pêssego Figueira em frutificação.
dução de húmus ou vermicomposto utilizan- melhorar o solo de sua propriedade, dei-
(Prunus persica); Caqui (Diospyros kaki L.f.)
do minhocas. xando-o sem as camadas compactadas e de

32 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 33
e Banana (Musa x paradisíaca L.), cultivados
em Sistema Agroflorestal (SAF).
A Unidade tem como objetivo demostrar Olericultura como alternativa de renda
a fruticultura como alternativa de incremen-
to na alimentação e fonte de renda aos agri-
para agricultura familiar ecológica
cultores, também em técnicas de manejo e
Márcia Vargas Toledo | Sidnei Francisco Muller
condução das mesmas em sistema orgânico
de produção. No momento as frutíferas estão
em estágio inicial de desenvolvimento em A olericultura é a área da horticultura cada. A crescente demanda por produtos de
função da mudança de área que tivemos no que engloba a produção de culturas folhosas, melhor qualidade vem afetando a forma de
evento, realizamos o replantio das mesmas. Frutos de framboesa. raízes, frutos diversos e partes comestíveis. produção e comercialização das hortaliças. O
A atividade, além de colaborar na economia avanço nas agriculturas de bases ecológicas
Mais informações: familiar, pode ser encarada como alternativa tem colaborado na discussão de formas de
Informações importantes quanto à implantação, condução e manejo de frutíferas, bem como receitas
de renda na propriedade, sendo capaz de produção mais sustentáveis, em consonân-
e sugestões de tratamentos alternativos. proporcionar boa qualidade de vida e renda cia com o meio ambiente, economicamente
• Circular Técnica 64: Cultivo Orgânico de Fruteiras Tropicais – Manejo do Solo e da Cultura: bruta alta, porém requer mão-de-obra qualifi- viáveis e socialmente justas.
www.cnpmf.embrapa.br/publicacoes/circulares/circular_64.pdf
• Circular Técnica 35: Figueira (Ficus carica L.) do Plantio ao Processamento Caseiro:
www.cpact.embrapa.br/publicacoes/download/circulares/circular35.pdf O cultivo de hortaliças pode ser a campo, como plantas da família das Asteraceae (gi-
• Circular Técnica 75: Cultivo da Amora-Preta: em canteiros, com cultivo mínimo ou através rassol, flor de mel, margaridas) e Apiaceae
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/56229/1/cir075.pdf do plantio direto ou em ambiente protegido, (coentro, anis, funcho).
• Circular Técnica 80: Recomendações para o Controle de Pragas em Hortas Urbanas: para culturas mais exigentes. O sistema Outro aspecto a ser considerado é a rota-
www.cnph.embrapa.br/paginas/bbeletronica/2009/ct/ct_80.pdf Mandala são hortas no formato circular, ção de culturas, pois cada cultura apresenta
• Série Produtor Rural: Agricultura Orgânica: de forma que permita uma maior integra- necessidades diferenciadas de nutrientes,
www.esalq.usp.br/biblioteca/PUBLICACAO/Serie%20Produtor%20Rural%20Especial%20-%20
Agricultura%20Organica/Organica.pdf
ção de seus elementos, visando o máximo sistemas radiculares que atuam em distintas
proveito das funções entre si, e atender as profundidades, além de quebrar ciclos de pra-
necessidades uns dos outros. Os caminhos gas e doenças. Também é necessário conhe-
devidamente projetados facilitam o manejo, cer quais culturas seguem bem uma a outra.
a irrigação e a colheita, além de permitir um Entre as plantas existem as chamadas ami-

Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) – maior aproveitamento da área comparado


com o sistema de canteiros lineares (siste-
gas ou companheiras e as inimigas ou anta-
gonistas. As plantas companheiras quando
uso de inoculantes ma convencional). Plantam-se verduras, le-
gumes, cereais, frutas, adubos verdes, ervas
cultivadas em consórcio ou cultivadas na ro-
tação de culturas promovem benefícios a am-
Claudine Dinali Santos Seixas | Marco Antonio Nogueira
aromáticas, medicinais e flores. Essa técnica bos os cultivos, seja pela liberação de subs-
economiza água, trabalha com várias diver- tâncias pelas raízes, pelos aromas, produção
sidades de plantas e permite o melhor apro- de flores ou manutenção de predadores. A
Muitas plantas da família das legumino- A inoculação deve ser feita todo ano to- veitamento dos adubos orgânicos. seguir um quadro com alguns exemplos de
sas (fruto tipo legume ou vagem) são capazes mando alguns cuidados: realizar a inoculação É recomendado o maior número possível plantas amigas e antagonistas (inimigas).
de se associar a bactérias benéficas “rizó- à sombra e protegida do calor excessivo; se- de espécies possíveis, a escolha destas tem
bios” (Rhizobium), para receber o nitrogênio mear logo após a inoculação; se o inoculante papel fundamental, pois quanto maior a di-
que precisam. Essas bactérias podem ser for turfoso, umedecer a semente com solução versidade, tanto mais o sistema tenderá para
introduzidas no cultivo pelo uso de inoculan- açucarada a 10% para melhorar a aderência o equilíbrio, e desta forma menor problemas
te na semente, que é o produto que carrega (300 mL/50 kg de sementes); aplicar cobalto e com pragas e doenças. Devem-se levar em
essas bactérias. Essas bactérias formam nó- molibdênio via foliar. Também há inoculante consideração os possíveis arranjos, respei-
dulos nas raízes das plantas, onde captam o para milho e trigo, mas nesse caso, a bactéria tando as espécies conhecidas como “ami-
nitrogênio do ar e o transformam numa forma (Azospirillum) auxilia na promoção do cresci- gas” e as que não convivem em harmonia
assimilável pela planta. mento das plantas por outros mecanismos. entre si. É importante ainda incluir espécies
floríferas que atraiam insetos polinizadores e
que favoreçam o controle biológico natural, Horta em sistema de Mandala.

34 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 35
CULTURA PLANTAS AMIGAS PLANTAS INIMIGAS

Abóbora Milho, feijão-vagem, acelga, chicória, Batatinhas


Plantas alimentares
amendoim, cenoura
não convencionais (PANC)
Alface Cenoura, rabanete, beterraba, rúcula, Pepino, salsa, morango
acelga, feijão, milho, alho, nabo, hortelã, Márcia Vargas Toledo | Sidnei Francisco Muller

chicória, ervilha, cebola, couve-flor, tomate


Apesar da grande diversidade de plan- No entanto essas espécies apresen-
Alho Alface, beterraba, cenoura, camomila, Ervilha, feijão, couve-flor, aspargo
tas, a humanidade tem a base alimentar em tam qualidades nutricionais muitas vezes
morango, rosa, tomate, salsa
aproximadamente 20 espécies. As plantas superiores às hortaliças convencionais (al-
Beterraba Alface, alho, nabo, feijão-vagem, salsa, Mostarda, milho, batata alimentares não convencionais (PANC) são face, tomate, cebola, pepino, entre outras)
cebola, pepino espécies normalmente presentes em deter- e estão sendo muito valorizadas como um
minadas regiões e que fazem parte da culi- resgate cultural de regiões e culturas. O se-
Berinjela Feijão, feijão-vagem – nária alimentar de culturas ou povos tradi- tor de gastronomia de pratos finos tem ex-
Cebola Beterraba, morango, cenoura, tomate, Ervilha, feijão, couve-flor, aspargo
cionais. Como exemplo o maxixe, que faz plorado essas espécies pelos seus sabores
parte da cultura culinária das regiões norte e peculiares.
couve, alface, alecrim, pepino, abóbora
nordeste do Brasil, sendo consumido como Por não haver cultivos em escala as hor-
Cenoura Ervilha, alface, feijão, rabanete, tomate, Ervilha, feijão salada, em ensopados e moquecas. taliças tradicionais apenas são encontradas
cebola, alho Normalmente são espécies que em de- em feiras e casas especializadas. Entre as
terminados períodos foram amplamente plantas alimentares não convencionais te-
Couve Feijão, ervilha, camomila, hortelã, endro, Beterraba
consumidas ou tidas como alimentos que mos o açafrão-da-índia, almeirão-de-árvore,
sálvia, alecrim, tomilho, losna, aipo, acelga, distinguiam diferentes classes sociais. Com araruta, batata-baroa, beijinho, beldroega,
espinafre, alface, pepino, rabanete, salsa o passar do tempo passaram a ter pouca cará, cará-moela, caruru, caxi, chuchu-de-
Morango Feijões, espinafre, tomate, alho, cebola Repolho, alface expressão e em alguns casos até foram ne- vento, dente-de-leão, hibiscus, inhame, gen-
gligenciadas. Hoje muitas passam desper- gibre, jurubeba, mangarito, maxixe, ora-pro-
Pepino Girassol, feijão, milho, ervilha, aipo, salsa, Rabanete, tomate, alface cebidas em meio aos cultivos e até mesmo nobis, peixinho, picão, serralha, taioba, taro,
beterraba sendo consideradas plantas daninhas. vinagreira, entre outras.

Rabanete Aspargo, tomate, ervilha, agrião, cenoura, Pepino


espinafre, feijão-vagem, chicória, milho, Açafrão-da-índia, açafrão-da-terra Almeirão-de-árvore
salsa, couve, alface, batata, feijão ou cúrcuma (Curcuma longa L.) (Lactuca canadensis L.)
Repolho Batata, beterraba, alface, aspargo, cebola, Morango Originária da Índia com uso medicinal, Encontrada em todo o Brasil, apresenta
tomate alimentar e condimentar. É uma planta her- folhas lanceoladas, com nervuras roxas ou
bácea, anual, aromática, com ramificações verde-claras e de sabor meio amargo. A pro-
Rúcula Chicória, vagem, milho –
laterais compridas. A parte utilizada da plan- pagação é feita por sementes com a produ-
Salsa Tomate, aspargo, pimenta Alface ta é o rizoma (raiz). Reproduz-se por pedaços ção de mudas para transplante. Nos cantei-
do rizoma que apresentam gemas (olhos). ros onde é realizado o plantio em definitivo,
Tomate Aspargo, alecrim, alho, cebola, cebolinha, Pimenta, soja, beterraba, ervilha,
Cada rizoma mede até 10 cm de compri- poderá ser utilizado o espaçamento de 0,30
hortelã, salsa, cenoura, calêndula, serralha, pepino, batata mento e, quando cortado mostra a cor ver- a 0,40 m x 0,30 a 0,40m. A colheita inicia
salsão, sálvia, tomilho, urtiga, aipo, nabo, melho-alaranjada. Da sua raiz seca e moída 60 a 70 dias após plantio, quando as folhas
chicória, couve, espinafre, alface, milho, se extrai o pó, utilizado na culinária como atingirem 20 a 25 cm de comprimento e es-
feijão, rabanete condimento ou corante, e no preparo de me- tiverem tenras, colhendo-se de baixo para
Vagem Milho, abóbora, rúcula, chicória, acelga –
dicamentos. Para seu cultivo, recomenda-se cima. É feita a catação das folhas, deixando-
o preparo de canteiros, com plantio a 4,0 cm se a planta. Para que haja uma maior recu-
de profundidade em espaçamento de 0,20 x peração da cultura é importante que se deixe
0,40 m. A propagação é feita pelos rizomas. pelo menos três a quatro folhas por planta.

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Cará ou inhame Gengibre (Zingiber officinalle Roscoe) Ora-pro-nóbis Distingue-se de variedades selvagens
(Dioscorea cayenensis Lam.) (Pereskia aculeata Mill.) pela incisão natural das folhas até o pecíolo
De origem asiática, o rizoma dessa espé- e pela coloração verde do ponto de inserção
Planta muito rústica herbácea trepadei- cie é muito utilizado no emprego alimentar e Originária do continente americano,
dos pecíolos nas folhas. O rendimento das
ra que produz tubérculos comestíveis. Apre- industrial, como matéria-prima para fabrica- também é conhecida como “carne dos po-
folhas pode chegar a 6 mil kg/ha. No caso de
senta variedades com e sem espinho, de ção de bebidas, perfumes e produtos de con- bres” por ser rica em vitaminas A, B e C,
utilizar os rizomas, a colheita é feita a partir
casca e polpa de branca a escura. Recomen- feitaria como pães, bolos, biscoitos e geléias. bem como ferro, cálcio e fósforo. Suas folhas
de 7 a 8 meses e, para aumentar a produção
da-se o plantio em leirões com espaçamento Além disso, é conhecido popularmente pelo chegam a apresentar 25% de proteína. Fo-
de rizomas, deve-se reduzir ou evitar a co-
de 1,2 x 0,6 m. A colheita é realizada quan- uso medicinal. Os rizomas são plantados a lhas e flores podem ser usadas cruas, refo-
lheita de folhas.
do as plantas começam a seca aos 7 meses 15 cm de profundidade em sulcos em es- gadas ou secas como farinha.
após o plantio. paçamento de 1 x 0,2 m. A colheita inicia Planta perene, com características de
Taro, inhame-chinês, taiá
quando a parte aérea começa a secar, cerca trepadeira, mas pode crescer sem a presença
de anteparo. Para produção das mudas, deve
(Colocasia esculenta (L.) Schott)
Cará-moela ou cará-do-ar de sete meses após o plantio.
(Dioscorea bulbifera Linn.) ser utilizado material proveniente da região Cultivado em todo o Brasil para uso co-
Jurubeba (Solanum scuticum M.) intermediária do caule, localizada entre as mestível, ornamental e medicinal. Trata-se
Originária da África e Ásia, é uma tre- partes mais tenras e as partes mais lenho- de uma herbácea tuberosa, acaule, de 40-70
padeira caducifólia (perde as folhas) que Planta rústica nativa no Brasil que atin- sas da haste. Logo após o corte, as estacas cm de altura, sendo provavelmente nativa
produz tubérculos na axila das folhas. Esses ge de 1 a 4 metros de altura com folhas es- devem ser enterradas até um terço do seu da Índia, mas cultivada no Sudeste asiático
tubérculos são utilizados como alimento branquiçadas e aveludadas. Pode ser con- comprimento para enraizamento. Para man- há quase 10.000 anos, por isto seu nome
sendo boa fonte de fósforo. sumida in natura quando madura, utilizada ter a planta bem conduzida e com maior pro- popular. Pode ser consumido cozido, frito e
A propagação é feita com os tubérculos na culinária e no preparo de bebida alcoóli- dução de folhas é recomendada uma poda assado, além do elixir que tem uso medici-
aéreos enterrando-os superficialmente. Pode ca tônica. Também como planta medicinal de três em três meses, deixando os ramos nal, devido ao seu alto valor nutricional. A
ser cultivado rasteiro, mas é aconselhável pode ser utilizado raízes, folhas, flores e com o comprimento de 1,2 a 1,5 m. Pode ser propagação é feita pelos rizomas.
tutorar a planta. A colheita inicia entre 7 a frutos. A coleta dos frutos inicia entre 4 a 6 usada em ornamentação, cercas vivas e ali-
9 meses após o plantio. Os frutos variam de meses após o plantio quando estiverem to- mentação animal e humana. Vinagreira, hibisco, groselha
50 a 250 gramas. talmente desenvolvidos mas ainda imaturos (Hibiscus sabdariffa L.)
e verdes. Peixinho (Stachys germanica L.)
Caxi (Lagenaria siceraria) Subarbusto ereto, anual, de caule arro-
A germinação das sementes leva de 30 a Também é conhecido como lambarizi- xeado, com 80-140 cm de altura. Planta nati-
De origem africana, para fins culinários 40 dias, sendo as mudas transplantadas em nho, língua-de-vaca, orelha-de-lebre, orelha- va da África, mas cultiva em todo o mundo,
ramos jovens e frutos podem ser consumi- espaçamento de 3 x 3,0 metros. As plantas de-cordeiro, peixe-de-pobre, peixe-frito. Seu para fins ornamentais e para produção de
dos na forma cozida. Quando maduros os podem produzir por até 8 anos. cultivo é realizado em canteiros com espaça- frutos, cujos cálices carnosos são utilizados
frutos tornam-se duros e impermeáveis po- mento de 0,25 x 0,25 metros. As colheitas são na confecção de sucos, geléias e refrescos.
dendo ter diversos usos. É uma planta her- Maxixe (Cucumis anguria L.) periódicas das folhas e desmembramento As hastes, folhas jovens e sementes, após
bácea da mesma família das abóboras. A co- dos propágulos das touceiras para renovação cozimento são utilizadas na fabricação de
Originário da África Tropical é uma
lheita inicia entre 30 a 60 dias após o plantio. do plantio, evitando-se o adensamento exces- pães e refogados além de frisantes. A pro-
planta rústica de clima quente, sendo seus
sivo que chega a causar algum apodrecimen- pagação é feita por sementes e por estaquia.
frutos consumidos cru em saladas, cozidos
Chuchu-de-vento ou na forma de picles. Suas folhas também
to de folhas. A colheita inicia aos 60 dias após Outras espécies de Hibiscus também são
(Cyclanthera pedata (L.) Schrad.) podem ser utilizadas na forma refogada,
plantio, estendendo-se até seis meses. comestíveis, sendo utilizadas as flores e fo-
lhas para produção de saladas e geléias.
Trepadeira da família Cucurbitaceae, lembrando muito o espinafre.
Taioba (Xanthosoma
é originária da América do Sul. As mudas A colheita inicia 60 a 70 dias após o Mais informações:
plantio se prolongando por mais de 3 me-
sagittifolium (L.) Schott)
devem ser produzidas em bandejas ou em •  www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/vege-
recipientes individuais, e posteriormente ses. Utiliza-se a semeadura direta com duas Podem-se utilizar os rizomas, à seme- tal/Qualidade/Qualidade%20dos%20Alimen-
transplantadas para o local definitivo quan- sementes por cova em espaçamento 3 x 1,0 lhança do taro (Colocasia esculenta), mas o tos/manual%20hortali%C3%A7as_WEB_F.pdf
do tiverem 4 a 5 folhas. Utiliza-se o espaça- metros. que representa uma particular iguaria são as •  https://drive.google.com/file /d /0B8kf_
mento de 1,0 m x 0,50 a 0,7 m. A colheita ini- Existem duas variedades, Maxixe caipi- folhas, sempre refogadas, pois cruas apresen- f1JuaAcQ3pRSnFHM05SXzg/view?pli=1
cia 100 dias após o plantio quando os frutos ra do Norte (com espinhos) e Maxixe Japo- tam o efeito tóxico do ácido oxálico (oxalato
• www.agronomiacassilandia.uems.br/ad-
atingem 10 cm. nês (sem espinhos). de cálcio), que causa irritação da mucosa na min/arquivos/Inhame.pdf
garganta, coceira e a sensação de asfixia.

38 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 39
mandala um Relógio do Corpo Humano, energia vital circula pelo corpo humano se-
que consiste num canteiro em formato de guindo um ritmo que inicia no pulmão das
Plantas medicinais relógio, onde cada hora representa um órgão 3 às 5  h da manhã. Na tabela a seguir são
do corpo humano, para a escolha das plan- apresentados os horários, os órgãos ou fun-
Liziane Kadine A. de Moraes Pires | Reinaldo S. Shimabuku Jr | Michelle P. Cubilla Perez tas são considerados os conhecimentos rela- ção e as plantas utilizadas em Putinga e as
cionados a plantas medicinais aromáticas e plantas que estão na mandala da VTA 2016.
O que é? doenças. É, em muitos casos, uma alterna- condimentares da Medicina Tradicional Chi- De acordo com esse relógio, o tratamento
tiva à medicina alopática, pois estas ervas nesa, Medicina Ocidental e também o Reló- para os órgãos devem prioritariamente ser
Plantas medicinais são espécies vege- trazem menos efeitos colaterais que os re- gio Cósmico. O corpo é um microcosmo que realizado quando ele se encontra em estado
tais, cultivadas ou não, utilizadas com pro- médios convencionais. reproduz as leis da natureza, onde a energia de máxima atividade o que facilitará na de-
pósitos terapêuticos. circula pelos meridianos principais, assim a puração do órgão em questão.

HORÁ- PLANTA MEDICINAL PLANTA MEDICINAL


Quais os benefícios? RIO
ÓRGÃO AÇÃO PRINCIPAL
(Putinga/RS) (VTA Cascavel)

As plantas medicinais são utilizadas há Pulmonária /


Fornecer oxigênio aos órgãos através do Pulmonária / Guaco / Poejo /
milênios na cura de problemas de saúde e 3 às 5h Pulmão
sangue. Violeta de Jardim Assa-peixe /
podem ser usadas das mais variadas for- Gervão Roxo
mas: como chás, unguentos, florais e medi-
Intestino Reter a sobra dos alimentos que junto com
camentos fitoterápicos. As plantas passam 5 às 7h
grosso a água forma as fezes.
Linhaça / Tansagem Tansagem / Sene
a ser consideradas medicinais quando são
usadas de forma tradicional como remédio, Hortelã pimenta /
Acumular os alimentos para que sofram a
7 às 9h Estômago Hortelã / Manjericão Manjericão /
aliviando sintomas, prevenindo e curando Espinheira Santa (Maytenus ilicifolia). ação do suco gástrico.
Espinheira Santa

Baço e Relaciona-se com a circulação do sangue e Pariparoba /


9 às 11h Salsinha / Alfazema
pâncreas com a produção de enzimas. Sete Sangrias
Quais os cuidados devem ser • Chás de plantas medicinais também
podem apresentar efeitos indesejados Alecrim / Pfáfia /
observados ao comprar ou 11 às 13h Coração Bombear sangue para todo o organismo. Alecrim / Pfáfia
Sete Sangrias
se não forem utilizados na forma e
utilizar plantas medicinais?
quantidade recomendada; Intestino
Os alimentos passam para a circulação
Mil em Rama / Mil em Rama /
13 às 15h linfática e sanguínea, sendo a seguir
• De acordo com a legislação brasileira • O preparo correto de chás, xaropes e cozi- delgado
distribuído a todas as células do corpo.
Funcho Funcho

(Lei 5991/73), plantas medicinais podem dos são importantes para extrair as subs-
ser vendidas apenas em farmácias ou tâncias ativas que estão nas plantas; 15 às 17h Bexiga Receber e acumular a urina. Cavalinha / Malva Cavalinha / Malva
herbanários. Nesses locais, devem estar • Utilize somente plantas identificadas.
Eliminar as impurezas existentes no Carqueja / Carqueja / Hibiscus /
corretamente embaladas e acompanha- Plantas que possuem o mesmo nome 17 às 19h Rins
sangue formando a urina. Quebrapedra Embaúba
das da classificação botânica (nome popular podem tratar doenças diferentes; Corresponde ao aparelho circulatório,
científico) no rótulo. A embalagem de Arnica /
• Em caso de piora ou efeitos indeseja- 19 às 21h Circulação artérias e veias que carregam sangue para Arnica / Alcanfor
Centelha Asiática
uma planta medicinal não pode apresen- todo o corpo.
dos, interromper o uso e procurar o ser-
tar indicações para uso terapêutico. Estes três sistemas estão interligados e são
viço de saúde mais próximo. fundamentais para manter o ser humano
• Utilize somente plantas medicinais co- Sálvia /
saudável. Os alimentos são necessários
Sistemas Orégano Miúdo /
nhecidas e de preferencia com recomen- para produzir energia para trabalhar e para
Digestivo, Orégano Graúdo /
21 às 23h os órgãos funcionarem. O sangue leva a to- Sálvia / Tomilho
dação de um profissional da saúde, prin- Respitatório Manjerona /
dos os órgãos e partes do corpo o alimento
O relógio do Corpo Humano e Excretor
e o oxigênio, porém nesse processo tudo
Carqueja Doce
cipalmente durante a gestação ou em
idosos e crianças menores de 6 meses; com Plantas Medicinais que é desnecessário deve ser eliminado do
corpo pelo sistema excretor.
• Evite automedicação, mesmo com plan- Buscando agregar mais informações 23 às 1h
Vesícula
Acumular, armazenar e concentrar a bile.
Bardana / Bardana /
biliar Dente-de-leão Dente-de-leão
tas medicinais. Se necessário use em sobre plantas medicinais na Vitrine, a exem-
Alcachofra / Cardo / Alcachofra /
sintomas comuns, pouco intensos e de plo do projeto realizado em Putinga/RS, pela 1 às 3h Fígado
Produzir a bile. Eliminar substâncias
Mariano Falso Boldo / Losna /
nocivas.
natureza passageira; EMATER/ASCAR, foi montado no centro da Infalivina / Figatil

40 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 41
mostrar que a responsabilidade da saúde de Algumas tecnologias • podem ser adaptadas as condições de
FOTO: Alexandre Marchetti

cada indivíduo depende exclusivamente dele de bioconstrução cada propriedade ou família;


mesmo. E para isso é preciso saber onde es- • atitude ecologicamente responsável em
tão os órgãos, como eles funcionam, além de Cisterna de Ferro-Cimento tempos de crise hídrica.
permitir uma reflexão sobre hábitos alimen-
tares, físicos e comportamentais. Como Utilizar
• Em uma chuva de 100 mm numa casa
Mais informações: com 100 m² de telhado, dá para captar e
armazenar 10 mil litros de água (10 m³).
www.anvisa.gov.br/legis/index.htm
• Para construir uma cisterna os materiais
Funcho (Foeniculum vulgare Mill.) sendo polinizado por www.ibama.gov.br/legis
necessários são: malha de ferro de 10 x
abelhas nativas Jataí (Tetragonisca angustula latreill). www.agricultura.gov.br
10 cm x 4,2 mm, tela de viveiro malha 1/2”
www.biodiversidade.rs.gov.br/arquivos /
A metodologia do relógio além do co- (pinteiro), sombrite 65%, arame recozido,
1159290630estudo_caso_HORTO_MEDICI-
nhecimento sobre plantas medicinais busca cimento, areia, brita 1, registro de PVC 50
NAL_RELOGIO_DO_CORPO_HUMANO.pdf
promover o autoconhecimento em saúde, mm, joelho de PVC 50 mm, tubo de PVC
Desenho esquemático de captação, condução e 50 mm, tubo de PVC 100 mm e as calhas
armazenamento de água. e conexões para o telhado, bambus e tá-
buas para escoramento e andaime.
• As quantidades destes materiais de-
Bioconstruções

FOTO: www.portaldeideias.com.br
pendem do tamanho da cisterna, isto
é, do volume de água que desejamos
Valcir Inácio Wilhelm armazenar.

Passo a passo da construção da cisterna


O que são energia solar, telhado vivo, banheiro seco,
bambu, pedra, madeira e rebocos naturais. 1º Dia – Fazer um contra piso, com argamas-
São construções que utilizam como As tecnologias são simples podendo sa traço 3 : 3 : 1 (areia/brita/cimento), com 4
base os materiais naturais e trazem na sua ser desenvolvidas para a aplicação popular cm de espessura. Depois amarrar a tela de
essência a idéia da sustentabilidade, ao uti- tanto no meio rural quanto urbano, mas to- viveiro na malha de ferro que será a parade,
lizar de modo racional os recursos naturais. talmente viáveis para a arquitetura conven-
Cisterna de Ferrocimento. no tamanho (diâmetro) que for a cisterna.
Algumas técnicas, conceitos e materiais uti- cional. Montar o cilindro (gaiola) da cisterna em
O que é cima da malha do piso.
lizados são os tijolos de adobe, taipa leve, A proposta das construções ecológicas
taipa de pilão, cob, super adobe, fardo de São estruturas com a função de arma-
vai ao encontro da preocupação ambiental
palha, tijolos de solocimento, cisterna de zenar água e neste caso construídas com a
que não se resume a preservação de recur-
técnica de ferro-cimento. Invocam o uso sus-
ferrocimento para captação de água da chu- sos e ambientes naturais, tampouco só a
tentável da água e consiste em estabelecer o
va, aquecimento de água e iluminação com produção agrícola com base ecológica.
máximo de elementos da captação, armaze-
namento e reciclagem em uma propriedade.

Vantagens e benefícios Vantagens e benefícios


• reduzido impacto ou agressão ao meio
• utiliza materiais disponíveis no local/ ambiente na obtenção dos materiais, • economia de água potável ou tratada (até
propriedade, reduzindo custos com • menor variação da temperatura interna 50%), que tem custo e é muitas vezes
transporte; dos ambientes, melhorando o conforto desperdiçada e usada sem critério nos
• materiais são de menor custo, pois, ge- térmico, sanitários, na lavação de calçadas e veí- Construção 1º dia (Vitrine de Agroecologia
ralmente não passaram por processo • não exige mão-de-obra profissional ou culos, etc.; – Parque Tecnológico Coopavel).

industrial; especializada para construção. • considerada uma das melhores e mais


eficazes alternativas quando o assunto é 2º Dia – Sobre a armação começa a aplica-
economizar água; ção da argamassa que deve ter o traço 2 : 1

42 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 43
(areia/cimento) para a parede, e 3 : 1 (areia/ • Sua obtenção ou produção não polui o a. Para aquecimento de água: esquentar Uso Sustentável do Bambu
cimento) para o piso e a tampa. Uma pessoa meio ambiente. água para as mais diversas finalidades ne- – Estufa Ecológica
deve ficar por dentro aparando com uma • Redução significativa no consumo de cessita de alguma fonte de energia, sendo
placa a colocação da argamassa, que é apli- energia elétrica. as mais comuns a elétrica e o fogo. A ob- O que é
cada de baixo para cima e em faixas. tenção de ambas gera enormes impactos É a utilização do bambu em constru-
Como Utilizar sobre o meio ambiente. ções ou soluções rurais, obtido da colheita
FOTO: www.alternativasambientais.com.br

Vamos exemplificar aqui somente al- Apresentamos aqui o painel aquecedor e manejo racional do bambuzal. O cultivo
guns usos de forma direta: solar de água confeccionado com mate- orgânico é sensivelmente facilitado quando
riais recicláveis. feito em ambiente protegido, onde é possível
a. Desidratador ou secador solar: para desi-
controlar a umidade e temperatura.
dratação de vegetais (medicinais, condi-
mentares, frutas, cereais, farinha, amido...)
Vantagens e benefícios:

www.sempresustentavel.com.br
• O bambu é um recurso natural renovável
e de baixo custo.
• Planta rústica de rápido crescimento,
Construção 2º dia. com espécies adaptadas às diferentes
condições climáticas do Brasil.
3º Dia – Estando a massa seca, inicia-se o • Emite brotações anuais e proporciona
enchimento da cisterna com água, pois, ela colheitas anuais,
vai calcificar nos pontos mais frágeis, tor- Painel demonstrativo na Vitrine de Agroecologia. • Custo de material 7 a 8 vezes menor que
nando-a impermeável. as estufas convencionais.

DICA: para a construção de uma cisterna é Desidratador solar.

FOTO: Takashi Hara


importante que a argamassa da parede seja
feita toda no mesmo dia, portanto, faça um
cursodeagriculturanatural.blogspot.com

mutirão para realizar esse serviço. Antes de


fazer a sua, o ideal é participar de alguma
oficina prática, para aprender todas as dicas.

Mais informações:
http://docplayer.com.br/6777920-Construcao-
de-cisterna-em-ferro-cimento-para-captacao-
da-agua-da-chuva-cetap.html
Painel sobre telhado.
http://assesoar.org.br/dados/Caderno%20Cis- Imagem interna de estufa com estrutura
terna.pdf em bambu, modelo CPRA.
Vantagens e benefícios:
Desenho esquemático de um desidratador solar.
• Evita o descarte no meio ambiente de 120
Aproveitamento da Energia Solar Vantagens e benefícios: embalagens PET (2 litros) e 100 embala-
O que é • Fácil confecção utilizando sobras de ma- gens longa vida (1 litro).
É a utilização da irradiação ou da luz do teriais. • Energia solar é limpa e gratuita.
sol para aquecer, desidratar, esterilizar, mo- • Permite armazenamento de alimentos
• Tecnologia social de adoção livre.
vimentar... para consumo fora de época.
• Utiliza energia limpa sem custo. Mais informações:
Vantagens e benefícios: Mais informações: www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/
• Fonte alternativa renovável, inesgotável cors/Kit_res_17_aquecedor_solar.pdf
www.solefrutas.esalq.usp.br/docs/desidrata-
e sem custo. cao.pdf http://novoportal.celesc.com.br/portal/ima- Imagem externa de estufa com estrutura em bambu,
• Está disponível nos locais mais remotos ges/arquivos/manuais/manual-aquecedor-so- modelo CPRA.
www.iapar.br/arquivos/File/zip_pdf/secador-
lar.pdf
ou de difícil acesso. solar_iapar.pdf

44 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 45
• Realizar a colheita de maio a agosto
(meses sem a letra “R”) e na fase min-
guante da lua. Cultivares de soja para
• Prolongar a durabilidade do bambu, não
colocando em contato direto com o solo sistemas de base ecológica
e/ou
Claudine Dinali Santos Seixas | José Marcos Gontijo Mandarino
• fazer tratamento das peças, preferen-
cialmente com métodos naturais, fogo
ou água. Nos sistemas de base ecológica pode de para esse cultivo, observando o ciclo da
ser usada qualquer cultivar de soja, desde cultivar, a cor do hilo e a reação a doenças.
Outra imagem interna de estufa com estrutura que não seja transgênica. Na escolha da Cultivares de ciclo precoce são indicadas
em bambu, modelo CPRA. cultivar deve-se levar em conta o objetivo para facilitar o manejo da ferrugem asiática
da produção e as condições da proprieda- e dos percevejos.
• O cultivo em estufas diminui ocorrência
de doenças e o desequilíbrio da popula- A cor do hilo é importante no caso de de soja, mas há cultivares comerciais com re-
ção de insetos. produção voltada para alimentação humana, sistência a algumas doenças e essas devem
• Permite a produção de espécies que ne- nesse caso deve-se preferir cultivares que ser preferidas. A Embrapa Soja desenvolveu
cessitam melhor controle de umidade possuam hilo claro (amarelo ou marrom-cla- cultivares especiais para alimentação huma-
relativa e temperatura ambiente. ro). Não se tem notícia de materiais crioulos na. Elas possuem o hilo claro e o sabor suave.
• Protege a plantação de intempéries cli-
máticas (geadas, granizo, excesso de Evitar apoiar direto no chão.
calor).

Como utilizar:
Meliponicultura – uma atividade
A estufa construída e em produção na essencialmente agroecológica
Vitrine Tecnológica de Agroecologia Show
Rural Coopavel é só um exemplo das pos- Valcir Inácio Wilhelm

sibilidades de utilização do bambu em bio-


construções. Meliponicultura a criação, em caixas haja a fecundação cruzada o que resulta na
O uso sustentável do bambu implica em: racionais e com técnicas específicas de ma- formação de frutos de melhor qualidade e em
• Escolher as espécies e bitolas mais ade- nejo, de abelhas nativas sem ferrão (ASF) ou maior quantidade de sementes.
quadas. com ferrão atrofiado. Também chamadas de A esta ação dá-se o nome de poliniza-
• Colher somente colmos maduros, com 4 Oficina de construção da Estufa Ecológica. abelhas indígenas ou meliponídeos. A fun- ção, um serviço ambiental da maior impor-
a 6 anos. ção ou papel das abelhas no meio ambiente tância para a manutenção da biodiversidade
• Utilizar ferramentas adequadas e não não é produzir mel, nem pólen e nem pró- da fauna e flora nativa, além de influenciar
A construção de uma estufa de bambu
“deixar copo” no colmo cortado. polis e cera. Estes produtos são necessário diretamente na qualidade e na quantidade da
não é difícil, mas, por ser um material que
como alimento energético e protéico, e para produção de plantas cultivadas.
normalmente não temos muita prática em
sobrevivência das colméias e assim sendo,
utilizar, alguns detalhes são importantes.
são transformados do néctar, grãos de pólen
Então, converse com o técnico do Instituto
e resinas coletadas por elas de partes das
EMATER para organizar uma oficina em
plantas, mas, principalmente das flores.
sua região, que o Centro de Agroecologia-
Ao realizarem esta coleta, as abelhas
CPRA terá prazer em realizá-la.
transportam ou transferem grãos de pólen,
da estrutura reprodutiva masculina de uma
Mais informações: flor (antera) para a estrutura reprodutiva fe-
www.cpra.pr.gov.br/arquivos/File/Cartilha- minina (estigma) da mesma flor ou de outras
CPRAEstufaEcológica.pdf flores da mesma espécie, permitindo que
Corte errado formando “copo”. Meliponário associado ACRIAPA (Antonina/PR).

46 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 47
FOTO: www.embrapa.pr

FOTO: Cristiano Menezes


Milho QPM (alta qualidade proteica)
Claudine Dinali Santos Seixas | Walter Fernandes Meirelles

Esse milho especial tem qualidade pro- nha de trigo, sem alterar a cor, a textura e o
teica superior, porque os teores de lisina e sabor, além de aumentar o valor nutricional
triptofano, aminoácidos essenciais, são em de bolos, pães, biscoitos, mingaus e massas,
media 50% superiores ao milho comum, diminuindo o glúten na massa. Excelente op-
Abelha nativa visitando flor de algodoeiro. Abelha visitando flor. podendo chegar a ser 85% superiores. Ou- ção para fornecimento a programas sociais.
tra grande vantagem é que sendo variedade Ambas as variedades podem ser utiliza-
permite a produção e reutilização da semen- das na alimentação humana, mas também
Por que criar meliponídeos • Pode ser desenvolvida próximo a cen-
te pelo agricultor. A Embrapa disponibiliza devem ser fornecidos a animais monogás-
– vantagens e benefícios: tros urbanos, escolas e residências.
duas variedades, a BR 473 que tem o grão tricos – peixes, suínos, aves e equídeos
• Cerca de 80% das plantas com flores • Manejo das colméias pode ser execu-
amarelo e a BR 451 que tem o grão branco. A (cavalos, asnos, burros). O resultado será o
dependem de animais para serem poli- tado por crianças e pessoas da terceira
cor branca da BR 451 possibilita o emprego aumento de ganho de peso dos animais em
nizadas, sendo as abelhas os poliniza- idade.
direto do seu fubá em misturas com a fari- relação ao milho comum.
dores mais eficientes. • O mel é um alimento saudável que pode
• 1/3 das espécies vegetais que alimenta substituir o açúcar, melhorando a ali-
a espécie humana é polinizada por abe- mentação e a saúde da família
lhas. • É mais uma alternativa de atividade
e renda para propriedades familiares S I S T E M A S A LT E R N AT I VO S D E I R R I G AÇ ÃO
• frutos e sementes estão na base da ca-
deia alimentar, o que justifica os esfor- agroecológicas.
ços e o cuidado na manutenção e no res-
gate das populações de polinizadores.
• Quem mais lucra com a criação de abe-
lhas nativas é o meio ambiente, pelo au-
Irrigação com sistemas
• A atividade meliponicultura não requer
grande investimento inicial.
mento de polinizadores resultando em
maior biodiversidade vegetal e animal.
adaptados de baixo custo
• Criar estas abelhas é uma importante João de Ribeiro Reis Junior | Renato da Silveira Krieck
Mais informações:
forma de preservar as espécies, pois o
uso intensivo do solo, o desmatamento www.ispn.org.br/arquivos/mel008_31.pdf 1. Água no solo em solos mais argilosos essa velocidade
e a utilização de agrotóxicos na agricul- Contate seu sindicato rural - solicite um curso A velocidade de infiltração de água no tende a ser menor que em solos arenosos.
tura estão destruindo o ambiente natu- do SENAR-PR sobre Meliponicultura solo é um fator muito importante quando Ao ligar o sistema de irrigação a velocidade
ral para sua sobrevivência. trabalhamos com irrigação, porque ela de- de infiltração da água no solo tende a dimi-
terminará o tempo que o sistema de irriga- nuir com o aumento do tempo de irrigação
ção ficará ligado com o objetivo de fornecer chegando a um valor quase que constante.
a quantidade de água suficiente para o de- Essa velocidade varia de acordo com a por-
FOTO: www.gazetadopovo.com.br

FOTO: www.abelhasdobrasil.com.br

senvolvimento das plantas. A velocidade centagem de umidade no solo, a porosidade


de infiltração está relacionada diretamente e a existência de camada menos permeável
com a textura e estrutura do solo, sendo que no perfil do solo.

É fundamental a determinação da umi- precisão técnica e que exigem alguns equi-


dade do solo, visto que é baseado nela que pamentos.
determinaremos se precisa ou não utilizar Para efeito desse trabalho iremos abor-
o sistema de irrigação e para isso existem dar um método mais prático e fácil de ava-
Frascos com mel de várias espécies ASF. Melgueira pronta para colheita. vários métodos diretos e indiretos com boa liarmos a umidade existente no solo, trata-

48 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 49
se de cavarmos um buraco no solo sobre os Um aspecto muito importante na qua- a) Materiais necessários: Sistema de microaspersão
canteiros e pegarmos uma porção do solo lidade da água, diz respeito à contami- • Mangueira preta de ½” ou ¾”; com garrafa pet
na profundidade em que precisamos mo- nação por agentes biológicos, por isso, é • Mangueira espaguete
nitorar a umidade e espremermos na mão, fundamental efetuar análises para termos (mangueira de enrolar cadeira); O sistema de microaspersão com gar-
se escorrer um filete de água entre os dedos a garantia de que estamos utilizando água • Furador ou vazador de sapateiro no 03; rafa pet necessita de pressão superior ao
com facilidade, o solo encontra-se enchar- de boa qualidade, principalmente, porque • Alicate; sistema de microaspersão por espaguete
cado, se não escorrer água, o solo está seco. dentre as atividades agrícolas, utilizamos • Vela e fósforo; para o seu perfeito funcionamento. Esse
Porém, se com uma pressão neste solo es- na olericultura e diversas espécies são con- • Estilete ou gilete. sistema nos permite está eliminando do
correr um filete de água indica que o solo se sumidas in natura. ambiente num processo de reciclagem e
encontra com umidade ideal. b) Como montar o sistema aproveitamento das garrafas pet. Nesse sis-
tema qualquer tipo de garrafa pet pode ser
Ao se pensar em um projeto de irrigação Métodos de Irrigação • Cortar a mangueira espaguete em peda-
devemos ter em mente que existem diferen- ços de 5 a 7 cm; utilizado. As garrafas pequenas apresen-
tes tipos de irrigação, que não existe siste- Existem diversos métodos de irrigação • Esquentar uma ponta na vela acesa e sol- tam uma área de molhação menor do que
ma ideal e que todos apresentam vantagens que podem ser utilizados pelos agricultores, dar com o alicate; as garrafas maiores. As garrafas pet’s com
e desvantagens, que precisamos pensar em como irrigação por sulco, aspersão conven- • A 1 cm abaixo da solda, efetuar um corte plástico mole resistem menos no ambiente,
aumentar a produção, economizar trabalho cional, canhão, pivô central, microasperção na mangueira utilizando estilete ou gi- necessitando a troca com maior frequência.
e água, reduzir os efeitos da deterioração da e gotejamento. Cada sistema apresenta lete. Esse corte deve ser realizado até a
estrutura do solo, a perda de nutrientes, etc. vantagens e desvantagens, bem como, va- metade do diâmetro da mangueira; a) Materiais necessários:
O sucesso da irrigação está na escolha ria muito o seu valor. Visando oferecer aos • Na outra extremidade efetuar um peque- • Garrafas pet;
e dimensionamento correto do sistema, e agricultores sistemas de irrigação simples e no corte em bisel na mangueira, para que • Agulha ou alfinete de cabeça;
da operação e manutenção do sistema. Para de baixo custo, apresentaremos a seguir os introduzi-la na mangueira preta, não im- • Conector de mangueira para
isso, precisamos analisar os fatores de solo, modelos de microaspersão por espaguete e pedir a passagem da água; microaspersão;
clima, planta e água. Avaliar as inter-rela- de garrafa pet. • Depois que os microaspersores estive- • Mangueira preta de ¾”;
ções entre a irrigação e outros fatores cul- rem prontos, esticar a mangueira preta • Furadeira com broca no 09;
turais como variedade, densidade de plan- Sistema de microaspersão no sol para eliminar as deformações e • Estaca para suporte da garrafa pet
tio, fertilizantes, plantas daninhas, colheita, por espaguete poder realizar com auxílio do vazador e arame ou barbante.
etc. A quantidade de água exigida por uma Esse modelo de microaspersão pode ser ou furador de sapateiro no 03, os furos a
cultura varia de acordo com o tipo de cul- cada 1,5 m e colocar um microaspersor. b) Como montar o sistema
utilizado em praticamente todos os tipos de • Com o uso de uma agulha ou alfinete de
tura, seu estádio de desenvolvimento, tipo cultivos e culturas. É um sistema que fun- Atentar que todos os cortes devem ficar
de solo em que se encontra e as condições na mesma direção, para que a água a cabeça efetuar entre 6 a 8 furos no entor-
climáticas da região. ser aspergido faça uma sobreposição no de cada gomo do fundo da garrafa pet;
sobre cada um; • Com a furadeira com a broca no 09, re-
2. Qualidade da água para irrigação alizar um furo no centro da tampa da
Cada linha com os microaspersores garrafa pet e na mangueira preta. O furo
A qualidade da água utilizada para ir- devem ser instaladas a cada 3 m, uma da na mangueira preta deve ser realizado a
rigação de modo geral é determinada em outra, a uma altura que varie de 1,5 a 3,0 cada 4 m;
relação a cinco parâmetros: Concentração m. É importante que na área exista quebra
de sais, teor de sódio, concentração de vento para reduzir o efeito de deriva, melho-
elementos tóxicos, concentração de bicar- rando a eficiência do sistema. Na instalação
bonatos e aspectos sanitários. Todas as do sistema é necessário colocar um filtro no
águas utilizadas para irrigação possui uma ponto de captação de água, mas em caso de
maior ou menor concentração de sais, a Sistema de microaspersão por espaguete. entupimento do emissor (microaspersor),
utilização de água com alta concentração retira-o e troca por outro.
de sais pode levar a salinização do solo e ciona em baixa pressão, sendo que para
comprometer o desenvolvimento da cultura áreas maiores há necessidade de utilizar
existente na área caso ela não possua tole- uma motobomba visando melhorar a distri-
rância à salinização. buição de água na área. Sistema de microaspersão com garrafa pet.

50 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 51
• Esquentar a tampa furada para poder Conclusão através do projeto “Ações para otimização Para facilitar a fabricação da nova rosca
introduzir o conector de mangueira em da apropriação do conhecimento e fortale- e evitar danos no bocal e na tarraxa, corte
uma das pontas. A outra ponta introduzir Esses sistemas podem ser instalados em cimento de Redes de Agroecologia no Mato com o estilete as rebarbas grossas que fo-
na mangueira preta; áreas maiores, precisando colocar um conjun- Grosso do Sul e regiões vizinhas”. rem surgindo (Figura 2c). Quando a guia
• Rosquear a garrafa pet na tampa fixada to motobomba de maior potência, respeitando Observando o sistema apresentando no não permitir mais avanço, inverta a tarraxa
no conector e na mangueira, em seguida os limites de funcionamento dos sistemas. Show Rural Coopavel de 2014, o Sr. Toni- no suporte (Figura 2a) para ter espaço para
amarrá-la com arame ou barbante numa Esses dois modelos de sistemas de mi- nho reparou que o diâmetro do bocal das finalizar a nova rosca. Com muito cuidado
estaca colocada a seu lado para evitar croaspersão, demonstram que é possível qual- garrafas PET era o mesmo das conexões para não deixar a garrafa torta, termine de
que ela caia e quebre o conector. quer agricultor instalar e poder irrigar suas para mangueira de polipropileno preta com fazer a rosca, encaixando o suporte na garra-
áreas com baixo custo de investimento, apro- diâmetro de ¾”, porém a rosca era diferen- fa, conforme Figura 2b. Se houver rebarbas,
Cada linha de microaspersão com gar- veitando alguns materiais que seriam encami- te. Utilizando uma tarraxa reversível para corte com o estilete (Figura 2c). Verifique se
rafa pet deve ser instalada a cada 4 m. A nhados para reciclagem ou ficariam jogados canos plásticos de ¾”, conseguiu fazer a a rosca ficou bem feita (Figura 2d).
existência de quebra vento melhora a efici- poluindo o ambiente. Outra vantagem é que rosca no bocal da garrafa e conecta-la no Em seguida passe fita Veda Rosca no
ência do sistema. Na instalação do sistema apesar dos sistemas apresentarem vazões va- T da mangueira preta, conseguindo simpli- bocal (Figura 3a) e rosqueie a garrafa na
é necessário colocar um filtro no ponto de riáveis, por se tratarem de tecnologias adap- ficar o sistema de irrigação. Os materiais emenda tipo T para verificar se o encaixe é
captação de água, mas em caso de entupi- tadas, permite ao agricultor com o passar do necessários para a instalação do sistema perfeito, se não há folgas e se não é preciso
mento do emissor (garrafa pet), retire-a lave tempo, gerenciar os sistemas e realizarem um são: garrafa PET, tarraxa reversível de ¾”, forçar para rosquear (Figura 3b). Não force
bom manejo e utilização da água de irrigação estilete, alfinete, fita veda rosca, emenda o rosqueamento, porque o bocal do PET é
ou troque por outra.
evitando desperdício e problemas como o es- tipo T para mangueira ¾”, abraçadeira ¾” mais duro que o polietileno da emenda, po-
corrimento superficial e erosão na área. e mangueira preta. dendo causar danos e sua inutilização.
Para fazer a rosca deve-se retirar o anel

FOTO: Adriana Feiden


da garrafa que serve de lacre para a tam-
S I S T E M A S A LT E R N AT I VO S D E I R R I G AÇ ÃO pa, usando um estilete, conforme Figura
1a. Ainda com o estilete, remova com cui-
dado o ressalto de plástico que fica abaixo
Aspersor de garrafa PET do anel (Figura 1b). Evite apertar a garra-
fa para que ela não amasse e diminua sua
com conexão de 3/4 de polegada resistência. Em seguida coloque a tarraxa
de fazer roscas no suporte, com a abertu-
Alberto Feiden | Antônio Manoel da Silva | Daniel José de Souza Mol | Adriana Feiden ra maior voltada para a guia (Figura 1c),
de modo que a guia do suporte possa ser
O sistema apresentado é uma adaptação conexões de irrigação por gotejamento para utilizada para que a rosca não fique torta, Figura 2 - Inversão da tarraxa no suporte (a); posição
conforme Figura 1d. do suporte na garrafa para término da rosca (b); corte
do sistema demonstrado pela Emater Paraná acoplar garrafas de refrigerante de Polite- das rebarbas com estilete (c) e rosca finalizada (d).
na Vitrine Tecnológica de Agroecologia do reftalato de etileno (PET) perfuradas como
Show Rural Coopavel 2014, entre os dias 03 aspersores encaixadas em mangueiras de

FOTO: Adriana Feiden


FOTO: Adriana Feiden
e 07 de fevereiro de 2014. O sistema utilizava polietileno pretas.

O agricultor Antônio Manoel da Silva de experimentação participativa onde são


(Toninho), proprietário do Sítio São José, avaliadas as tecnologias propostas como
na Comunidade Asa Branca, no município solução de problemas levantados pelos agri-
de Mundo Novo/MS, membro da ASPROM cultores da Associação . A associação conta
– Associação de Produtores Orgânicos de com apoio técnico da Prefeitura Municipal
Mundo Novo, criada em 2009 e que tem por e da Cooperativa BIOLABORE, através do
objetivo a produção de hortaliças e frutas em Programa Cultivando Água Boa patrocina- Figura 1 - Corte do anel de plástico (a); corte do Figura 3 - Aplicação de fita veda rosca no bocal (a);
sistema agroecológico, sendo que a proprie- do pela Itaipu Binacional. A cooperativa por ressalto da garrafa (b); vista superior da tarraxa no garrafa rosqueada na emenda tipo “T” (b); perfuração
suporte (c) e posição do suporte para o início da rosca do funda o garrafa com o alfinete (c); garrafa com
dade do Sr. Toninho é uma das unidades sua vez tem o apoio da Embrapa Pantanal na garrafa PET (d). fundo perfurado (d).

52 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 53
Verifique também se a rosca não ficou Mais informações: Os gotejadores deverão ser espaçados de a manter apenas um orifício para inserção
muito torta. Se isto acontecer, o ajuste gar- http://inta.gob.ar/documentos/fabricacion-
modo a formar uma linha contínua de mo- do emissor (haste de cotonete) e um peda-
rafa-conexão poderá apresentar vazamentos, casera-de-herramientas-e-implementos-pa- lhamento. Em caso de plantas com maior ço para inserção do espalhador de jato, que,
sendo mais viável descartar a garrafa e fazer ra-la-huerta/at_multi_download/file/Fabrica- espaçamento, o ideal é colocar dois goteja- neste caso, é um percevejo de escritório.
cion%20casera%20de%20Herramientas.pdf, dores ao lado da mesma. Este espaçamento
rosca em uma nova.
págs 62-64.
Com um alfinete (Figura 3c) ou agulha, também dependerá do tipo de solo, uma vez
www.cultivandoaguaboa.com.br/sites/de-
faça furos no fundo da garrafa, de acordo que em solos argilosos a água tende a se in-
fault/files/iniciativa/Cartilha%20Vitrine%20
com a necessidade da área a ser irrigada. O Tecnologica%20de%20Agroecologia%20 filtrar tanto verticalmente como lateralmen-
trabalho pode ser realizado com mais faci- 2015.pdf, págs 30-33. te. Em solos mais arenosos, a tendência é a
lidade, utilizando alfinetes de marcação de SILVA, Antônio Manoel da; MOL, Daniel José água se infiltrar mais rapidamente no senti-
de Souza; DE LAI, Thiago BORSATO, Aurélio do vertical; neste caso, o espaçamento entre
mapas ou aquecendo a ponta do alfinete ou
Vinícius; FEIDEN, Alberto; FEIDEN, Adriana. gotejadores deve ser menor.
agulha, na chama de uma vela. Furos cen- Adaptação em sistema de irrigação alterna-
trais atingem uma altura maior e uma dis- tivo com garrafas PET, 11ª Feira de Sementes
tância menor. Furos laterais lançam água a Nativas e Crioulas e de Produtos Agroecológi- Irrigação por microaspersão
cos e 4º Seminário sobre Uso e Conservação
uma altura menor, porém com uma distância do Cerrado do Sul do Mato Grosso do Sul, Jut Na microaspersão, a água é aplicada em Microaspersão com cotonete e percevejo.
maior, mas podem ser facilmente interrom- - MSi, 10 a 12 de julho de 2015, Anais em CD- pequenos círculos através de dispositivos
pidos por obstáculo. -Rom (oficinas), 14p.
(microaspersores) que operam em pressões
superiores às do gotejamento e com vazões
maiores. A água é conduzida no campo atra-
vés de tubos de polietileno, e neles são inse-
S I S T E M A S A LT E R N AT I VO S D E I R R I G AÇ ÃO ridos os microaspersores de duas maneiras:
diretamente no tubo ou conectados com

Irrigação alternativa microtubos, o que permite manejar a área


irrigada de acordo com a localização das

por gotejamento e microaspersão plantas. O microaspersor caseiro é cons-


tituído de um pedaço de 1 a 2 cm de tubo Na microaspersão a pressão e a vazão são maiores
Jadir Aparecido Rosa de polietileno de 1”, que é cortado de modo que as do gotejamento.

Irrigação por gotejamento


S I S T E M A S A LT E R N AT I VO S D E I R R I G AÇ ÃO
com pontas de cotonetes
Cotonete é o nome comercial de um pro-
duto de uma empresa de higiene pessoal, Carneiro hidráulico
constando de uma haste flexível de plásti- Jadir Aparecido Rosa
co com algodões em suas pontas. A haste,
por ser de diâmetro interno muito pequeno,
O carneiro hidráulico, também chama- tróleo ou energia elétrica, a manutenção e
pode ser usada como emissor para peque-
do bomba de aríete hidráulico, balão de ar, a operação simples, não exigindo mão-de-
na vazão, desde que sujeita à pressão que
burrinho, etc., é um aparelho muito sim- -obra qualificada, o custo de aquisição e/ou
não desloque o algodão das pontas. O custo Cotonetes usados para gotejamento. ples e de grande utilidade para o abasteci- montagem relativamente baixos e a possi-
de uma haste é baixo (2 - 3 centavos/haste),
mento de água nas fazendas, podendo ser bilidade de uso durante 24 h por dia recal-
sendo que, cortada ao meio, de cada haste furo no qual será inserida a haste pode ser definido como uma máquina de elevação cando água sem emissão de poluentes ou
podem ser confeccionados dois gotejadores. feito com qualquer tipo de furador, desde de água com energia própria. O carneiro hi- gases. Como desvantagens, citam-se que a
Para facilitar a inserção no tubo que servirá que em um diâmetro pouco menor que o di- dráulico apresenta como vantagens, a não eficiência é determinada pelas condições
para conduzir a água, o corte deve ser feito âmetro da haste. A distância entre os goteja- necessidade de fontes externas de energia, locais, há necessidade de queda d’água e
em ângulo de mais ou menos 45graus. O dores irá depender da cultura a ser irrigada. tais como os combustíveis derivados de pe- utilização de água limpa, além de recalcar

54 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 55
somente uma pequena fração da vazão dis- vel fabricar carneiros hidráulicos de ma-
ponível na alimentação. neira não industrial, utilizando-se material
Considerando a escassez de recursos hidráulico facilmente encontrado em lojas Pastoreio Racional Voisin (PRV)
financeiros em uma propriedade, é possí- de materiais de construção.
Daniel José de Souza Mol

Nº Descrição da peça Qtde.

1 Válvula de poço 1” (metal ou plástico) 01


A capacidade de um sistema agroecoló- dutores que tiverem baixo custo de produção,
gico de se manter ao longo do tempo, depen- com produtividade ótima. A máxima eficiên-
2 Parafuso 5/16” com três porcas e uma arruela 01
de das práticas e processos utilizados, onde cia será alcançada apenas pelos bons produ-
3 Mola com mesmo diâmetro do parafuso ou maior 01
o acréscimo da biodiversidade e da bioce- tores de forragem, que a fornecem direto aos
4 Níple PVC roscável 1” 05 nose estão entre os principais itens a serem animais, respeitando seu bem estar.
5 Joelho 90° roscável 1” 01
observados como estratégia de manutenção
desse sistema ao longo do tempo.
6 Te PVC roscável 1” 02 Na atividade leiteira, o princípio exposto
7 Válvula de retenção vertical 1” 01 é de igual importância. Quanto maior o nú-
Pedaço de tubo de PVC 1” com 1 m, fechado em umas das pontas com mero de espécies vegetais, macro e micro-
8 01
cap, ou tubo de PVC soldável 32 mm + adaptador 32mm x 1”. -organismos, maior a capacidade do sistema
9 Bucha de redução PVC 1” x ¾” + Bucha de redução PVC ¾” x ½” 01 leite de se sustentar, tanto na manutenção e
10 Registro ½” 01 produção dos animais, quanto na manuten-
11 Adaptador para mangueira ½” 01 ção da fertilidade e condições ambientais.
12 Registro 1” 01 Se a situação da cadeia produtiva do
13 Adaptador para mangueira 1” 01 leite e da carne for analisada, chegar-se-á a Propriedade da família Hedel, em Marechal C.
conclusão que apenas sobreviverão os pro- Rondon, PR, manejada segundo as leis do PRV.

Partindo desse principio, o método de ma- deve ser o menor possível, antes que os ani-
nejo conhecido como Pastoreio Racional Voi- mais comam a rebrota nova.
sin (PRV), é o que oferece melhores condições 3. Lei do rendimento máximo – referente à
para alcançar eficiência econômica, social e necessidade dos animais para que atinjam o
ambiental, em propriedades de produção de seu melhor em produção e desenvolvimento.
leite e carne. O PRV foi proposto pelo cientis- 4. Lei do rendimento regular – permitir que
ta francês André Voisin, na década de 1940, o animal encontre todos os dias um piquete
e consiste no pastoreio direto com a rotação novo, com forragem necessária às suas exi-
de pastagens, respeitando o tempo de repou- gências diárias, promovendo assim o rendi-
so da forragem, através da subdivisão da área mento regular.
em piquetes, permitindo o direcionamento do Além do que foi exposto, para a boa con-
gado para os piquetes onde a forragem estiver dução do projeto PRV deve-se atentar para:
em seu máximo potencial forrageiro. • Não utilização de produtos químicos
O Pastoreio Racional Voisin é orientado como carrapaticidas, vermífugos, etc.,
por quatro leis: dando preferência para fitoterápicos e
1. Lei do repouso – período suficiente para homeopáticos, que estimulam o surgi-
armazenar reservas nas raízes e permitir a mento e a manutenção de organismos
labareda de crescimento, período de maior como besouro rola-bosta, minhocas den-
crescimento das pastagens. tre outros.
2. Lei da ocupação – refere ao tempo de • Utilização de água de qualidade e em
permanência dos animais no piquete, que abundância em todos os piquetes.

56 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 57
• Arborização e consórcio nas pastagens (animais de maior exigência nutricional, Vacas em lactação animal. Durante o período de menor cresci-
com espécies de múltiplos propósitos, como vacas em lactação) e repasse (ani- mento dessas pastagens, há a necessidade
mais com menor exigência nutricional, Em um sistema de alimentação para va- de alimentar esses animais com outros vo-
como: acréscimo de matéria orgânica e
como vacas secas, prenhas e novilhas cas em lactação é necessário que os animais lumosos como: capim-elefante verde pica-
fornecimento de nutrientes, ação que-
intermediárias). tenham acesso a pastagens de qualidade e do, cana picada, silagem ou feno.
bra-vento, sombreamento adequado do
com grande disponibilidade de alimento A
pasto, alimentação dos animais, dentre OBS.: Os animais devem ser conduzidos
quantidade de concentrado a ser fornecida
outros. para os piquetes com tranquilidade e cuida- Fornecimento de concentrados
para uma vaca em lactação depende da pro-
• Manejo dos animais em grupo de dife- do. Da mesma forma deve-se dar atenção
dução de leite deste animal. Vacas em início Para a suplementação com concentrado
rentes exigências nutricionais: Desnate nos momentos de ordenha e arraçoamento.
de lactação devem consumir mais concen- pode-se utilizar uma mistura simples à base
trado, de modo que atinjam o pico de produ- de milho moído, subprodutos da agroindús-
ção de leite e expressem todo o seu poten- tria, farelo de soja ou de algodão, calcário
cial produtivo. Por sua vez, vacas em final e sal mineral, sendo que preferencialmente
Manejo nutricional em rebanhos de lactação não respondem produtivamente estes ingredientes devem provir de sistemas
à oferta de concentrado, de modo que essa
de base agroecológica pratica encarece os custos com alimentação
agroecológicos. Caso isso não seja possí-
vel, é permitido a compra de concentrados
sem gerar retorno econômico. comerciais ou ingredientes que não prove-
André S. de Avila | Andressa Faccenda | Maximiliane A. Zambom | Ricardo Dri | Rodrigo Cesar do R. Tinini
nham do sistema agroecológico, desde que
Vacas secas estes não ultrapassem 15% da dieta total.
A alimentação animal é um dos princi- dução de leite. Os nutrientes digestíveis to-
pais pontos a serem considerados em um tais são os nutrientes que são aproveitados O período seco tem duração de 60 dias
e termina com a nova parição. Uma boa ali-
Fornecimento de minerais
sistema de produção. Uma dieta adequada e fornecerão energia para o animal.
é aquela que contém quantidades de proteí- Na produção agroecológica, um fato mentação nesse período com pastagens de O fornecimento de minerais é impor-
nas (PB) e nutrientes digestíveis totais (NDT) importante a considerar é a qualidade e a boa qualidade é fundamental para que haja tante para todas as categorias animais. Para
capaz de atender as exigências dos animais. origem dos alimentos que serão ofertados transferência de nutrientes da vaca para animais mantidos em pastejo, a suplemen-
A proteína é um nutriente que faz parte aos animais, visto que nesse sistema a uti- o desenvolvimento do bezerro. Nas duas tação mineral deve estar disponível à vonta-
dos músculos e órgãos sendo muito impor- lização de alguns alimentos e substâncias semanas que antecedem o parto, deve-se de, preferencialmente em cocho coberto no
tante para o crescimento dos animais e pro- são proibidas. iniciar o fornecimento de pequenas quanti- piquete. Para animais alimentados no cocho
dades do concentrado formulado para as va- é mais seguro e garantido incluir a mistura
cas em lactação, para adaptar essas vacas mineral no concentrado ou na dieta comple-
secas à dieta que receberão após o parto. As ta que é ofertada ao animal.
Para um manejo correto alimentar, de- novos o fornecimento de silagem preferen- quantidades a serem fornecidas variam en-
vemos separar os animais em classes, e cialmente só deve ser feito a partir do 4 mês tre 2,5 a 5 kg de concentrado por dia, depen-
Fornecimento de água
adequar a alimentação conforme a exigên- de idade. dendo da qualidade do volumoso fornecido
cia de cada classe animal. e do potencial produtivo dos animais. O fornecimento de água limpa e de boa
Novilhas qualidade é fundamental para todas as cate-
Bezerras Fornecimento de volumosos gorias animais. Ela deve estar à disposição
A dieta nessa fase deve conter em torno dos animais à vontade, próxima dos cochos
Após o nascimento as bezerras deverão de 14% de PB e 65% de NDT. Na época de O gado leiteiro deve ser manejado em e nos locais de pastejo.
receber o colostro diretamente da mãe. Em abundância de pastagens, o uso de paste- pastagens de excelente qualidade e em
sistema agroecológico é aconselhável que o jo rotativo ajuda a controlar a qualidade do quantidade suficiente para permitir o máxi-
Alimentos alternativos
animal seja amamentado por sua mãe até pasto ofertado aos animais. A composição mo consumo do animal. Para isto, o manejo
90 dias de idade, período então que pode do concentrado a ser fornecido vai depen- dos pastos em sistema de pastejo rotativo é Normalmente, as dietas são basicamen-
ser desmamado. Antes mesmo do desma- der da qualidade, disponibilidade e tipo do o mais recomendado. Uma das observações te, composta por Silagens, Feno, Milho, soja
me é interessante que as bezerras tenham volumoso utilizado. quanto mais pobre em importantes a serem feitas, é com relação a e Trigo porém alguns alimentos alternativos
acesso a pastagem de boa qualidade, feno PB e NDT for a pastagem, maior é a con- idade da planta, visto que planta muito ve- a esses animais, podem ser usados e suprir
e suplementação concentrada com aproxi- centração de PB e NDT que deve ter no lhas possuem um valor nutricional inferior, as necessidades e exigências de cada clas-
madamente 18% de PB. Para os bezerros concentrado. o que acarretará em menor desempenho se animal.

58 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 59
A mandioca pode ser utilizada para em pequenas quantidades para o forneci- Em geral, nas épocas de frio, com ou Desde 2005 a Embrapa Pantanal vem re-
alimentar o gado, sendo que dela pode-se mento imediato aos animais. Outra opção é sem geadas no Sul do país ou nos períodos alizando estudos visando obter alternativas
aproveitar a raízes, as ramas e as folhas. No a colheita total, nesse caso as raízes ficam de estiagem prolongada no Brasil central locais seguras e ecológicas para a suplemen-
entanto, a utilização dessa planta requer secando ao sol de trinta minutos a três ho- e no Nordeste, as pastagens não são sufi- tação animal em períodos de seca, usando
cuidados, pois existem dois tipos de man- ras e em seguida podem ser armazenadas cientes para atender as demandas proteicas espécies locais de fácil cultivo para produção
dioca: a mansa e a brava. A mansa pode ser em local com temperatura entre 13 a 16° C e energéticas dos rebanhos, principalmen- de feno no período chuvoso e sua conserva-
fornecida in natura sem problemas, enquan- e com boa ventilação de ar. A parte aérea te das vacas em lactação. Por isso, para os ção para utilização no período da seca.
to que a brava possui uma substância tóxica pode ser pastejada, desidratada parcialmen- agricultores com menos recursos ocorre uma Embora o feno apresente maiores per-
chamada de ácido cianídrico. Para eliminar te ou ensilada. forte sazonalidade na produção de leite nes- das de nutrientes em relação à silagem, para
essa substância deve-se picá-la e deixá-la Quando fresca, a parte aérea da beter- tes períodos, perda de peso e de fertilidade agricultores pouco capitalizados ele apre-
espalhada ao ar livre por 24-72 horas, e no raba contém uma substância chamada de dos animais e em alguns casos pode chegar senta maior versatilidade, pois exige menos
caso do terço superior da rama, esta pode ácido oxálico, que pode ser tóxica aos ani- à morte de animais. Portanto, há necessidade infraestrutura, bastando um triturador e uma
ser armazenada por 30 dias na forma de si- mais. Para evitar essas intoxicações pode-se de suplementar a dieta dos animais neste pe- lona para fazer a secagem, além de permitir
lagem. Tomados esses cuidados, as raízes adicionar 100 a 120g de calcário para cada ríodo, para evitar a redução do potencial de que seja feito também em pequenas quanti-
podem ser usadas como fontes de energia, 100 kg de folhas frescas. A quantidade má- produtividade destes animais. dades, podendo ser aproveitados materiais
substituindo até mesmo o milho, as folhas xima a ser fornecida é de 13 kg por vaca por A cana-de-açúcar apresenta-se como que de outra forma seriam perdidos (como
como fonte de proteína e a rama como fibra dia. A raiz da beterraba é um alimento rico uma alternativa de baixo custo e fácil ma- por exemplo, a parte aérea da mandioca co-
podem ser ofertadas no lugar do pasto. em amido e por isso é uma fonte interessan- nejo para suprir as demandas energéticas lhida semanalmente).
A abóbora pode ser usada para ali- te de energia para o animal. Recomenda-se do gado nas épocas de escassez, pois, além Várias das alternativas estudadas apre-
mentação das vacas leiteiras e devido ao fornecer, picado, até 30 kg por vaca por dia. de possuir alto teor de açúcar e elevada pro- sentaram altos teores de proteína bruta, en-
seu sabor adocicado e por sua suculência Maiores quantidades podem ocasionar pro- dutividade, tem seu ponto de maturação na tre elas se destacando a moringa (Moringa
é muito apreciada pelos animais. Deve ser blemas como acidose ruminal. estação mais seca e fria do ano. oleífera), leucena (Leucaena leucocephala),
distribuída no cocho picada e de preferência Também podem ser fornecidos outros feijão guandu (Cajanus cajan), amora (Morus
junto com outros alimentos mais grosseiros restos de horta aos animais, não havendo sp), a parte aérea da mandioca (Manihot es-
como silagens, feno e capim elefante pica- restrições.
do. A abóbora é altamente digestível, rica
em água e energia. Mais informações:
A rama da batata-doce pode ser forne- ZAMBOM, M. A. ; GOMES, L. C. ; BRITO, M.
cida sem restrições aos bovinos. Sua raiz M. ; TININI, R. C. R. Produção de Leite Agro-
também pode ser utilizada, sendo recomen- ecológico – Manejos e práticas sustentáveis
para a produção de leite. Marechal Candido
dado fornecer até 10 kg por vaca por dia. As
Rondon - PR 2014.
raízes são colhidas podendo ser retiradas

Cana-de-açúcar.

Entretanto, a cana possui baixo teor de


Suplementação alimentar proteica de proteína (no máximo 4%), o que não é sufi-
Leucena.

bovinos de leite em períodos de escassez ciente para atender as exigências proteicas


dos rebanhos. Na produção convencional

(seca ou frio) de leite uma alternativa de baixo custo uti-


lizada por muitos produtores é a adição de
Frederico Olivieri Lisita | Alberto Feiden ureia pecuária à cana-de-açúcar visando au-
mentar o teor de nitrogênio não proteico na
dieta, com objetivo de produção de proteína
No Brasil, a maioria dos bovinos leiteiros gens sendo que poucos recebem algum tipo
no rúmen. Porém, em sistemas orgânicos
são criados em sistemas semi-extensivos e de suplementação, durante todo o ano ou em
de produção não é permitido o uso da ureia,
têm como principal fonte alimentar as pasta- períodos específicos.
sendo necessário utilizar fontes alternativas
de alimentação proteica. Moringa manejada.

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culenta), entre outras, conforme dados mos-
trados na Tabela 1.
Assim é possível de elevar o teor de pro-
teína na dieta dos rebanhos leiteiros em pro-
dução orgânica, utilizando o feno de forragei-
ras proteicas, produzidas durante à estação
quente e chuvosa e conservadas como feno,
em substituição à ureia.
Para tanto basta misturar entre 10 a 30%
(conforme Tabela 1) de feno das espécies
com alto teor de proteína à cana ou outra fon- Leucena, cana e moringa.
te energética com baixo teor de proteína, para
garantir uma nutrição equilibrada.

Tabela 1: Valor nutricional (em % de matéria seca) do feno de


forrageiras proteicas (média de análises na Embrapa Pantanal)
Forrageira PB (%)* FDN (%)** FDA (%)*** Lignina (%)

Moringa (folhas) 24,16 26,59 12,99 3,32

Leucena (talos e folhas) 19,24 58,23 28,93 9,26

Guandu (talos e folhas) 21,31 71,40 57,33 11,95

Mandioca (parte aérea integral) 13,51 53,86 38,72 13,37

Amora (talos e folhas) 17,25 34,01 25,92 8,75


* PB: Proteína Bruta; **FDN: Fibra em Detergente Neutro; ***FDA: Fibra em Detergente Ácido

Mais informações:
ROSENES, J. L.; LISITA, F. O.; FEIDEN, A.; TRINDADE, L. L.; CAMPOLIN, A. I. Conservação e uso
de forragens adaptadas no Assentamento Tamarineiro II Sul, Corumbá, MS. Disponível em: www.
embrapa.br/pantanal/busca-de-publicacoes/-/publicacao/812921/conservacao-e-uso-de-forragens-a-
daptadas-no-assentamento-tamarineiro-ii-sul-corumba-ms.

LISITA, F. O.; TOMICH, T. R.; CAMPOLIN, A. I.; FEIDEN, A.; CONCEIÇÃO, C. A. da; NASCIMENTO,
V. R. do; TRINDADE, L. L., Recursos forrageiros regionais conservados como feno para a alimen-
tação de bovinos na região de Corumbá, MS. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/
bitstream/CPAP-2010/57325/1/CT87.pdf .

TOMICH, T. R.; LISITA, F. O.; MESSIAS, E. A. C., Forrageiras conservadas como feno: opção para
alimentação dos rebanhos durante a seca. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bits-
tream/CPAP/56622/1/FOL53.pdf

TOMICH, T. R.; NASCIMENTO, J. C. do; TOMICH, R. G. P.; LISITA, F. O.; DOMINGOS BRANCO, O.;
FEIDEN, A.; MORAIS, M. G. Feno da parte aérea da mandioca para a produção de ruminantes em sis-
temas orgânicos. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAP-2010/57326/1/
CT88.pdf

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