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Superior Tribunal de Justiça

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 31.342 - SE (2001/0003076-9)

RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER


AUTOR : JOÃO ALVES FILHO
ADVOGADO : LEDA MARIA LINHARES
RÉU : ANTÔNIO BONFIM
SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA 9A VARA CRIMINAL DE ARACAJU -
SE
SUSCITADO : JUÍZO ELEITORAL DA 2A ZONA DE ARACAJU - SE
EMENTA

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA


COMUM E JUSTIÇA ELEITORAL. CRIMES CONTRA A HONRA. CARÁTER
ELEITORAL.
Compete à Justiça Eleitoral o processo e julgamento de suposto crime praticado
pela imprensa, visando a fins de propaganda eleitoral.
Conflito conhecido, competente o Juízo da 2ª Zona Eleitoral de Aracaju - SE.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da TERCEIRA SEÇÃO do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
conhecer do conflito e declarar competente o Suscitado, Juízo Eleitoral da 2ª Zona de Aracaju -
SE, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Gilson
Dipp, Hamilton Carvalhido, Jorge Scartezzini, Paulo Gallotti, Fontes de Alencar e Fernando
Gonçalves.
Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Vicente Leal.
Brasília (DF), 13 de novembro de 2002 (Data do Julgamento).

MINISTRO FELIX FISCHER


Relator

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 31.342 - SE (2001/0003076-9)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Trata-se de conflito de


competência estabelecido entre o Juízo de Direito da 9ª Vara Criminal de Aracaju e o Juízo da 2ª
Zona Eleitoral de Aracaju, nos autos de procedimento criminal instaurado para apurar supostos
crimes cometidos por José Antônio Moura Bomfim.
O inquérito iniciou-se a partir de notitia criminis apresentada por João Alves
Filho, na qual atribui ao indiciado a prática dos delitos de difamação e injúria, prescrito nos artigos
325 e 326 do Código Eleitoral.
Acolhendo manifestação ministerial, o Juízo Eleitoral declinou da sua competência
à fl. 57 do apenso 1, sob o fundamento de que a legislação a ser aplicada no presente caso é a
Lei de Imprensa, posto que os crimes foram, em tese, cometidos pela imprensa.
O MM. Juiz da 9ª Vara Criminal suscitou conflito de competência, às fls. 168/179,
por entender versarem os autos sobre crimes eleitorais.
Às fls. 192/197, manifestou o Ministério Público Federal no sentido de ser
declarada a competência da Justiça Eleitoral.
É o relatório.

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 31.342 - SE (2001/0003076-9)

EMENTA

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE


COMPETÊNCIA. JUSTIÇA COMUM E JUSTIÇA
ELEITORAL. CRIMES CONTRA A HONRA.
CARÁTER ELEITORAL.
Compete à Justiça Eleitoral o processo e
julgamento de suposto crime praticado pela imprensa,
visando a fins de propaganda eleitoral.
Conflito conhecido, competente o Juízo da 2ª Zona
Eleitoral de Aracaju - SE.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Dissentem a Justiça Comum


e a Eleitoral acerca da competência para processar e julgar suposto delito cometido contra a
honra do então candidato a governador do Estado de Sergipe - João Alves Filho.
Depreende-se dos autos que os delitos cometidos, em tese, pelo diretor do
semanário CINFORM, ocorreram a partir do mês de julho do 1998, ano em que o noticiante
concorreria às eleições.
Trata-se assim de saber se as condutas atribuídas ao indiciado foram ou não
praticadas em período eleitoral ou com a finalidade de influenciar a opinião dos eleitores.
A douta Subprocuradoria-Geral da República, a respeito dos crimes contra a
honra cometidos com fins eleitoreiros, transcreveu consideração feita por Joel José Cândido:

"Chama atenção, apenas, que o que caracteriza estes crimes como especiais
é o componente eleitoral de seu tipo, consistente na expressão "...na propaganda eleitoral,
ou visando a fins de propaganda...", constantes de todos eles. Com o uso da palavra
"propaganda", por duas vezes, de modo diferente, o legislador indicou que eles podem
ocorrer tanto em ano eleitoral, no período da propaganda lícita (das convenções às
eleições", o que equivale a ser "na propaganda eleitoral", como em anos e em épocas
não-eleitorais, na propaganda política partidária, o que equivale à expressão "visando a
fins de propaganda". (Direito Eleitoral Brasileiro, 6ª ed., Edipro, p. 273).

A presente questão também foi objeto de Representação nº 03/98, formulada ao


MM. Juiz Auxiliar de Propaganda Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Sergipe.
Sendo levantada a preliminar de incompetência da Justiça Eleitoral, afirmou o Ministério Público
em seu parecer que o critério determinante da competência é a repercussão da infração no
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resultado das eleições, transcrevendo trecho proferido por Miguel Reale Júnior:

"O Código Eleitoral coloca de forma mais específica a proteção à honra do


que a Lei de Imprensa, posto que integra a figura típica situar-se a ofensa num contexto
de propaganda eleitoral ou visando a fins de propaganda.
No Código Eleitoral tutela-se não somente a honra, mas também a
preservação da correta escolha do eleitor. Protege-se este de ser vitimado por alusões,
frases e comentários que denigram a honra do candidato, perturbando a correta
formação da sua vontade política a ser expressa pelo voto.
O contexto da conduta é de clima eleitoral e de embate nas urnas. O bem
jurídico tutelado, não é somente a honra de um cidadão, mas de um candidato político de
que se denigre a imagem às vésperas do pleito." (JUTCiv., 103/372).

Acrescentou ainda:

"No caso em análise, a competência, a nosso ver, é da Justiça Eleitoral, em


razão dos seguintes fatores:
1) As publicações ocorreram em período da campanha eleitoral do pleito
deste ano;
2) As vítimas das pretensas ofensas contra a honra são candidatos
registrados ao Governo do Estado e teriam sido ofendidos nessa condição;
3) A conduta atribuída ao Jornal na inicial é política, ou seja, houve a
intenção de influenciar na decisão do eleitorado."

Com razão o ilustre representante do parquet, uma vez que as imputações


registradas na inicial se referem à atividade política do noticiante, com vistas à desqualificação do
candidato perante o eleitorado. A honra em tese violada é a de um candidato político às vésperas
das eleições, no contexto de propaganda eleitoral. Cabe, pois, transcrever alguns trechos
extraídos da referida peça:

"MERCADORES DE EMBUSTES
Clóvis, o VICE de JOÃO, já vendeu pílulas de amplacilina falsificadas.
JOÃO ALVES arrumou um parceiro à sua imagem e semelhança para sua
aventura política."

"No início desta década Silveira vendeu 36 mil cápsulas de amplacilina de


500 mg falsificadas à Prefeitura Municipal de Aracaju e inaugurou ali um PERFIL
POLÍTICO QUE FAZ JUS À CARREIRA POLÍTICA DE JOÃO ALVES FILHO, CANDIDATO
AO GOVERNO PELO pelo PFL, e UM DOS POLÍTICOS SERGIPANOS MAIS
ENVOLVIDOS EM ESCÂNDALOS LOCAIS E NACIONAIS"

"Um POLÍTICO A SERVIÇO DA MENTIRA DA EMPULHAÇÃO E DO


SUBDESENVOLVIMENTO".

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"Se há um mérito que jamais pode ser subtraído ao empresário e
Ex-Governador JOÃO ALVES FILHO do PFL é o de TRAMAR saídas estratégicas e
mirabolantes diante de situações embaraçosas com as quais se acha envolvido.
Aliás, o HÁBITO DE TRAMAR saídas estratégicas e mirabolantes foi
construído com bom cimento ao longo dos 25 anos de SUA TUMULTUADA VIDA
PÚBLICA, nos quais a constância de situações embaraçosas sempre esteve ao seu lado,
tornando-o O POLÍTICO QUE MAIS ASSOCIA A IMAGEM DO ESTADO A COISAS
ERRADAS E ATOS ABOMINÁVEIS A SITUAÇÕES POLITICAMENTE INCORRETAS."

"... Se na vida pública deste Estado, se aplicasse os rigores que norteiam o


comportamento da vida privada sergipana, bastaria o julgamento de um dos atos deste
senhor, para que ele se recolhesse ao seu lugar na história e NUNCA MAIS BOTASSE
SEUS TENTÁCULOS DE FORA ENSAIANDO DIRIGIR UMA COMUNIDADE, que por
natureza é progressista e quer avançar.

Como visto, os possíveis ilícitos praticados não se enquadram na Lei de Imprensa


(Lei nº 5.250/67), mas sim no Código Eleitoral.
Ante o exposto, conheço do conflito e declaro competente o Juízo da 2ª Zona
Eleitoral de Aracaju - o suscitado.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA SEÇÃO

Número Registro: 2001/0003076-9 CC 31342 / SE


MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 13098 9920900279

EM MESA JULGADO: 13/11/2002

Relator
Exmo. Sr. Ministro FELIX FISCHER
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ELA WIECKO VOLKMER DE CASTILHO
Secretária
Bela. VANILDE S. M. TRIGO DE LOUREIRO

AUTUAÇÃO
AUTOR : JOÃO ALVES FILHO
ADVOGADO : LEDA MARIA LINHARES
RÉU : ANTÔNIO BONFIM
SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA 9A VARA CRIMINAL DE ARACAJU - SE
SUSCITADO : JUÍZO ELEITORAL DA 2A ZONA DE ARACAJU - SE

ASSUNTO: Penal - Leis Extravagantes - Crimes Eleitorais (Lei 4.737/65)

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Seção, por unanimidade, conheceu do conflito e declarou competente o Suscitado,
Juízo Eleitoral da 2ª Zona de Aracaju - SE, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Gilson Dipp, Hamilton Carvalhido, Jorge
Scartezzini, Paulo Gallotti, Fontes de Alencar e Fernando Gonçalves.
Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Vicente Leal.

O referido é verdade. Dou fé.


Brasília, 13 de novembro de 2002

VANILDE S. M. TRIGO DE LOUREIRO


Secretária

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