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ARTIGO ARTICLE
Alimentação na escola e autonomia – desafios e possibilidades

School nutrition and autonomy – challenges and opportunities

Najla Veloso Sampaio Barbosa ¹


Neila Maria Viçosa Machado ²
Maria Cláudia Veiga Soares ³
Anelise Regina Royer Pinto 4

Abstract This study seeks to emphasize school Resumo Este estudo tem por objetivo evidenciar
food as an important policy to promote student a alimentação na escola como importante políti-
autonomy by means of food and nutrition educa- ca na promoção da autonomia dos estudantes por
tion included in the curriculum, integrated with meio de uma educação alimentar e nutricional
different actors and based on the standpoint of desenvolvida de modo curricular, integrado pelos
citizenship. It seeks to return to fundamental con- diferentes atores e sob a ótica da cidadania. Reto-
cepts in the context of school food reflecting on mar conceitos fundamentais no contexto da ali-
them through theoretical assumptions to identi- mentação escolar, refletindo sobre eles por meio
fy possible strategies to promote citizenship and de pressuposições teóricas para identificar possí-
autonomy in school. The strategies involved food veis estratégias na promoção de cidadania e da
and nutrition education with the daily presence autonomia na escola. As estratégias envolveram
of quality and suitability in school meals, discus- educação alimentar e nutricional com a presença
sions on the various dimensions of food in the cotidiana de qualidade e adequação na alimenta-
curriculum and integrating food in the pedagog- ção escolar, de debates sobre as diversas dimensões
ical project extended to various areas of the edu- da alimentação no currículo vivido e com inte-
cation system. School food fosters the need for in- gração da alimentação no projeto pedagógico es-
tegration of actions, actors and the various social tendido a vários âmbitos do sistema de ensino. A
spaces interested in the food issue, such as minis- alimentação na escola suscita que haja integra-
¹ Secretaria de Estado de tries, education systems, departments and schools, ção das ações, dos atores e dos diversos espaços
Educação do Distrito
so that they may tackle the demands of contem- sociais interessados pelo tema alimentação, como
Federal, Fundo Nacional de
Desenvolvimento da porary reality in an integrated, systematic, con- ministérios, sistemas de ensino, secretarias e es-
Educação. 72000-000 sistent and efficient manner. colas, de modo que se possa enfrentar, de modo
Brasília DF.
Key words Autonomy, School nutrition, School, integrado, sistemático, consistente e eficiente, as
najla.barbosa@fnde.gov.br
² Departamento de Nutrição, Curriculum, Food and nutrition education demandas da realidade contemporânea.
Centro de Ciências da Palavras-chave Autonomia, Alimentação esco-
Saúde, Universidade Federal
de Santa Catarina.
lar, Escola, Currículo, Educação alimentar e nu-
³ Instituto de Nutrição, tricional
Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.
4 Centro Colaborador em
Alimentação e Nutrição do
Escolar de Santa Catarina.
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Barbosa NVS et al.

Introdução tos que conseguissem avançar em direção à dis-


cussão sobre a concepção do tema, o que coloca
A proposta deste artigo é evidenciar uma refle- de imediato a necessidade de avanços no sentido
xão sobre o conceito de autonomia e sua aplica- de perceber qual a relação existente entre o ali-
bilidade no contexto da execução do Programa mentar, o nutricional e o educacional presente na
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) desen- proposta de EAN, para que o elemento educacio-
volvido no Brasil. Essas reflexões, de maneira nal não seja secundário nesta discussão2.
contextualizada, objetivam retraduzir e ressigni- Consideramos fundamental a retomada de
ficar esta política pública no universo local de pressupostos teóricos como estratégia metodo-
sua execução, tomando por referência a poten- lógica para desnaturalizar3 conceitos como de
cial capacidade desse Programa em auxiliar e guiar autonomia e de direito à alimentação e, refletin-
os serviços e ações em saúde e educação. do sobre sua utilidade na prática pedagógica ins-
O Programa Nacional de Alimentação Esco- titucional4, reinseri-los de forma sistematizada
lar, em seus princípios estruturantes, tem avan- no contexto da alimentação escolar, de modo a
çado em direção a consolidar o direito e o acesso identificar estratégias de enfrentamento e gestão
à alimentação adequada e saudável no espaço dos problemas5. Pretende-se fundamentar uma
escolar, promovendo e incentivando ações que prática transformadora na escola a partir de te-
se apresentam pautadas pelo pressuposto de que orias atualizadas no contexto da educação. Sen-
alimentação adequada não pode ser entendida e do assim serão aprofundados os conceitos de
projetada a partir, somente, de seu entendimen- autonomia, habitus nos termos de Bourdieu6 e
to estrito de adequação de alimentos por meio direito à alimentação, operacionalizando-os no
de sua composição nutricional, informando re- âmbito da educação alimentar e nutricional nos
comendações mínimas de energia e nutrientes. dois últimos subitens do texto.
Esta política pública, ao se inscrever enquan-
to parte do conjunto de políticas públicas sociais A educação e o conceito de autonomia
estruturantes, atuando especificamente sobre a no processo educativo
questão alimentar, vem fortalecendo a sustenta-
bilidade quando incorpora em suas defesas e Nesse sentido, observa-se que a autonomia
princípios: a discussão da produção agrícola fa- quase sempre aparece na literatura acadêmica
miliar sem o uso de agressores ao meio ambien- vinculada à ideia de participação social e à ampli-
te; a construção do saudável e da cidadania por ação dessa participação nas políticas sociais. Para
meio dos cuidados promovidos pelas práticas o filósofo Rousseau, a discussão sobre o exercí-
de produção de refeições adequadas e seguras do cio da autonomia está diretamente relacionada à
ponto de vista nutricional, sanitário e da plena construção da democracia, uma vez que o pen-
realização do direito humano à alimentação, por samento democrático depende da liberdade e da
meio do fornecimento de refeições a todos os autonomia dos indivíduos, ou seja, de como uma
escolares. Dessa forma, o Programa se transfor- sociedade é capaz de reger suas próprias leis.
ma em uma ação de política pública voltada para Martins7 assinala que, para o bom funcionamen-
a construção da sustentabilidade, do respeito aos to da democracia:
direitos humanos e da cidadania. “Não basta que um grande número de cida-
Nesta direção, também se desenha a impor- dãos participe, direta ou indireta, da tomada de
tância da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) decisões coletivas. Não basta, também, a existên-
no contexto do PNAE, não somente por desen- cia de regras de procedimento como a da maio-
volver ações que garantam e assegurem a alimen- ria, isto é, da unanimidade”. Para o autor, torna-
tação adequada em termos nutricionais e sanitá- se “...indispensável uma terceira condição: é preci-
rios, mas por possibilitar, por meio de sua inclu- so que aqueles que são chamados a decidir ou a
são como parte componente dos currículos esco- eleger os que deverão decidir sejam colocados diante
lares, a integração dos temas Direito Humanos à de alternativas reais e postos em condição de poder
Alimentação Adequada (DHAA) e Segurança Ali- escolher entre uma e outra”. (grifos nossos).
mentar e Nutricional (SAN), ao processo de ensi- A ideia de que o acesso a alternativas reais
no aprendizagem desenvolvido na escola1. compõe o leque de condições para uma efetiva
Especialmente em relação à EAN e à sua in- democracia é extremamente relevante no debate
clusão como ação proposta pelo PNAE, conside- da autonomia. Ou seja, não basta participar, é
ra-se importante referendar que, até o momen- preciso garantir condições de escolha, e também
to, o movimento histórico não projetou elemen- opções e caminhos para esta. Entretanto, para
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melhor compreender-se como sujeito nesse pro- vor da formação de indivíduos realmente autô-
cesso, é necessário ao indivíduo conhecer sua re- nomos, capazes de criticar e de propor alternati-
alidade, as alternativas que dispõe, os direitos vas diante da sua realidade.
que foram conquistados em cada campo da sua
atuação e as intervenções sociais necessárias para E a escola, que espaço é esse?
garantir que seus direitos sejam objetivados e
ampliados. Certamente, um espaço extremamente com-
Nesse sentido, o processo educacional cons- plexo e desafiador, onde, dentre as muitas práti-
titui-se uma dinâmica favorável à construção cas escolares, está a alimentação escolar. Esta ati-
desse perfil de cidadão que conhece, convive, pen- vidade em quase a totalidade das escolas é cotidi-
sa, transforma a sua realidade e reage diante das ana, acontece nos mesmos horários e com uma
manifestações dela advindas. cultura de preparação, distribuição e consumo
Mas é importante considerar que não é todo bastante particular da escola. Há aquelas em que
processo educativo que contribui para a forma- os estudantes comem com o prato sobre a mesa
ção desse perfil. Ademais, vale ressaltar que esse é da carteira, outros em que comem em refeitóri-
um perfil interessante para os que compreen- os, outros ainda em pé e há também os que, por
dem que as relações sociais serão tão mais hu- opção, não se utilizam desse serviço. Há um coti-
manas e construtivas de uma sociedade mais equi- diano. Baseando-nos em Bourdieu9, pode-se afir-
tativa e digna quanto forem investidos os esfor- mar que há um habitus que se institui no espaço
ços na formação de um estudante e cidadão mais escolar relativo à alimentação que ali se oferece.
capaz de refletir sobre sua condição de sujeito na Freire10, numa perspectiva do cotidiano em
realidade social. Ou seja, está sendo afirmado nossa cultura, contextualiza nas discussões so-
que o grau de busca da escola e do professor pela bre alfabetização a problemática da desigualda-
autonomia dos estudantes determina o trabalho de social, afirmando que “com as palavras o ho-
escolar e o processo educativo a eles oferecido e mem se faz homem”. Nesse sentido, afirma que
as atividades pedagógicas que consolidam esse discutir o cotidiano implica discutir a prática dis-
fazer educativo. cursiva que não é somente uma forma de domi-
Para Freire8 “formar é muito mais do que nar a língua portuguesa, mas, sobretudo, uma
puramente treinar o educando no desempenho forma de empoderar a si mesmo e ao outro. Para
de destrezas”. Segundo esse autor, a formação do Freire, o discurso produz sentidos para as pes-
indivíduo abrange todas as dimensões da vida soas em seus contextos sociais.
humana e o respeito à autonomia e à dignidade E nossa questão passa por pensar sobre o
de cada um é imperativo ético e não um favor cotidiano, a cultura e o habitus que se institui na
que podemos ou não conceder uns aos outros escola: como o estudante percebe o alimento que
(...). Nesse sentido, o professor que restringe a lhe chega todos os dias? Ele sabe de onde vem,
curiosidade do educando, não aguça seu gosto quem comprou, de onde comprou, quem seleci-
estético, não estimula a inquietude, não o empo- onou, por que selecionou, sua importância para
dera na linguagem, que ironiza ou diminui o seu a manutenção de sua saúde? O estudante, lamen-
potencial, não contribui efetivamente para a for- tavelmente, não tem ainda o hábito de pensar
mação dos estudantes e torna-se transgressor dos sobre isto. Os profissionais da educação nem
princípios éticos da nossa existência. De igual for- sempre estão devidamente informados.
ma, age o professor que se exime do cumpri- Na sociedade moderna, a escola pode ser con-
mento de seu dever de propor limites à liberdade cebida como um espaço que privilegia o repasse
do aluno, que se furta ao dever de ensinar de dos conhecimentos necessários à manutenção do
estar respeitosamente presente à experiência for- desenvolvimento social e econômico da socieda-
madora do educando. de, adaptando e acomodando os sujeitos a uma
Fica caracterizado então, pela sequência das realidade social que se desenha como dada, sem
ideias que temos desenvolvido, que a escola como leituras críticas relativas ao modelo como pode,
espaço de construção da autonomia constitui-se preferencialmente, se constituir um privilegiado
um empoderado local de apresentação, debate e espaço de construção da autonomia, de análises
construção das alternativas, das várias possibili- críticas e produção de conhecimento e informa-
dades que o indivíduo, como cidadão, encontra ção, onde a educação se consolida como prática
ao longo da vida, no enfrentamento dos seus social11.
desafios. É esse o paradigma de educação que Os educadores críticos defendem a escola
está adotado neste texto: uma educação em fa- voltada para o estabelecimento pleno de uma
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relação social onde comunidade, família, educan- se articula com a questão da segurança alimen-
dos e educadores possam refletir e empoderar- tar e nutricional e que perpassa sua história de
se de argumentos e em favor de alternativas, ações vida e de sua família. O usufruto do direito à
e políticas voltadas para a sustentabilidade e para alimentação adequada é um processo de cons-
o respeito aos direitos humanos, o que a conso- trução social, sobretudo numa perspectiva do que
lidará como uma escola competente, democráti- Freire considera como sendo a ressignificação
ca, autônoma, séria e cidadã12. Nesta proposta que o sujeito faz a cada momento. A sensação de
de escola, emergem as possibilidades de que te- que o direito é uma lei capaz de se estabelecer
mas como direitos humanos, cidadania, susten- como prática é ilusório no sentido de que o legis-
tabilidade, ecologia, direito à alimentação ade- lativo é somente uma das dimensões desse direi-
quada, entre tantos apareçam no currículo de to na vida, entre tantos outros instituídos. O usu-
forma integrada com outros saberes que são tra- fruto do direito não e uma automação no con-
dicionalmente reconhecidos como pertencentes texto social. É necessária uma ética nesse proces-
ao cenário educativo. São temas que, se articula- so de construção cotidiana, é preciso desenvol-
dos, possibilitam tanto aos educandos/as e edu- ver a cultura do direito, o habitus que o institui
cadores/as a discussão da realidade e a viabilida- como parte do cotidiano.
de de propostas de construção de uma sociedade Uma cultura do direito envolve as possibili-
mais humana e cidadã. dades que tem o sujeito de conhecer e escolher os
O alimento e a alimentação, temas principais alimentos. A essa capacidade de optar entre as
desse debate, no espaço escolar assim organiza- alternativas existentes, de maneira instrumenta-
do, certamente serão desenhados tanto pelo en- lizada, consciente e deliberada, se pode chamar
tendimento de sua composição e qualidade nu- de autonomia, como sendo a liberdade de esco-
tricional quanto, principalmente, como elemen- lha diante, inclusive e sobretudo, dos apelos da
to fundamental na continuidade da vida e repro- grande indústria na mídia, diante da ruptura com
dução da espécie humana, como parte histórica hábitos alimentares anteriores e não saudáveis.
do viver humano. Nessa perspectiva, o alimento E tem que ser muito consciente porque a mídia
retoma sua característica de elemento constituti- contrata inteligências para impor hábitos e alte-
vo do mundo que se relaciona com a economia, rar o habitus das pessoas. Os adoçantes dietéti-
com o capital, com a saúde, com a cultura, com cos e alimentos “diet”, por exemplo, em poucas
o trabalho, com o prazer, com o sabor, etc. Ao décadas mudaram sua imagem passando de ali-
ser identificado como tal, possibilita o empode- mento refinado e caro próprio para camadas
ramento dos seres humanos de suas condições médias e altas da população, para alimento po-
de sujeitos autônomos, protagonistas responsá- pular e de baixo custo usado como terapêutica
veis pela construção de uma sociedade cidadã, em nome da prevenção de obesidade. Qual senti-
que convive com toda essa teia de relações13. do há em comer um alimento light? O que está
Ao trazer esta prática para o espaço escolar implícito neste enunciado?
voltado para a construção de uma proposta edu- O momento é de construção de verdades re-
cativa pautada pela autonomia, não se pode de- lativas que se modificam de um contexto para o
senhar somente uma prática centrada na relação outro e que demanda interação social, criativida-
alimentos e seus nutrientes. O alimento e a ali- de e respeito às diferenças. Os fundamentos con-
mentação ao se apresentarem como elementos ceituais, a construção coletiva de conhecimentos e
pedagógicos no espaço escolar, compondo pro- o acesso a informações orientam a construção
postas efetivas envolvidas com o currículo, po- dos significados dos sujeitos e ampliam suas pos-
derão propiciar discussões que avançam em di- sibilidades de viver e de entender a realidade dos
reção a análises mais ampliadas da realidade so- diferentes discursos produzidos na vida social.
cial e possibilitar o entendimento do espaço es- Se não se reconhece o poder do discurso que
colar como favorecedor de ações transformado- domina ou muitas vezes paralisa os sujeitos no
ras da realidade social14. campo social, sobretudo na escola, há um grande
risco de manutenção dessa escola inflexível, fria,
A construção conceitual do direito mecanizada e mecanizadora, quase sempre apáti-
à alimentação adequada na escola ca aos problemas e demandas da realidade social.
Convém lembrar que seres mecanizados reagem
Nesse espaço de atuação social, encontram- sem pensar e se mantém alienados de si mesmos,
se sujeitos que têm legalmente instituído o direito ignorando seu potencial criativo. Para ilustrar,
humano à alimentação adequada – DHAA, que pode-se pensar: como a escola se comporta dian-
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te dos altos indicadores de mortalidade por do- O Programa Nacional de Alimentação Esco-
enças crônicas não transmissíveis, adquiridas lar constitui-se uma ação política que favorece
quase sempre por meio de uma alimentação ina- pensar concepções e conceitos que engendram
dequada, como a hipertensão, a diabetes e ou- práticas em torno da alimentação escolar tanto
tras? Como a escola reage diante da não aprendi- no que diz respeito às ações estratégicas para SAN
zagem ocasionada pela anemia e por outras do- quanto às políticas educacionais. Segundo o Cen-
enças relacionadas à alimentação? Haveria algu- so Escolar de 2011 do Instituto Nacional de Es-
ma reação de indignação que se traduzisse em tudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
políticas e ações pedagógicas? Certamente que sim. (INEP)17, estão matriculados na educação básica
Pensar sobre os conceitos de direito e de au- cerca de 42 milhões de estudantes; todos atendi-
tonomia pode representar uma estratégia para dos, em tese e cotidianamente, com uma ou mais
evitar o mecanicismo que é capaz de tornar as refeições. De algum modo, mobiliza em torno
ações em torno da alimentação escolar mais cons- do ato de alimentar-se na escola, quase um quar-
cientes e instrumentalizadoras e ainda modificar to da população brasileira.
as práticas sociais estabelecidas, possibilitando Se bem for observada, a vida social na escola
que os estudantes passem da condição de meros se organiza em conjunto com a alimentação, não
reprodutores desumanizados a sujeitos autôno- somente como expressão das estruturas sociais,
mos, atuantes diante de sua realidade. mas também como uma criação histórico-cul-
tural capaz de convencionar a atribuição de sig-
A educação alimentar e nutricional como nificados que possibilite a comunicação. A ali-
estratégia de construção da autonomia mentação pode operar como um tipo específico
de linguagem que nos permite pensar sobre ela.
Na teoria de Bourdieu6 , os conceitos são con- A legislação atual que define o PNAE, Lei
tinuamente reconstruídos e operam como ins- 11.947/200918, estabelece dois eixos de ação igual-
trumentos que podem iluminar elementos invisí- mente importantes: a oferta de alimentação es-
veis do discurso e do universo simbólico e imagi- colar e as ações de educação alimentar e nutrici-
nário. Nesta perspectiva teórica das ciências soci- onal. Esta legislação abre precedente para se pen-
ais, segundo Luz15, os conceitos operam como sar que a parte tradicionalmente conhecida do
instrumentos de análise, coerentes numa repre- Programa, a oferta de alimentação na escola (por
sentação esquemática da realidade, e ainda que quase cinquenta anos vinculada à assistência),
logicamente estruturados, não deixam de ser uma passa a sofrer a influência de uma outra ação
interpretação dela. Segundo Carvalho et al.16, a que a torna mais significativa e abrangente. De
comida pode operar como uma categoria de aná- modo objetivo, sinaliza que a comum prática de
lise porque representa uma riqueza para o ho- comer na escola deve se dar ao mesmo tempo
mem e é capaz de expressar, ao longo da sua his- que a prática de educar para o ato de comer, tan-
tória, a constituição das estruturas sociais desde to dentro quanto fora da escola.
o momento em que ele se diferenciou dos outros Nesse sentido, vale refletir que as práticas de
animais, ao prepará-la e socializá-la, dividindo o alimentação podem ser compreendidas como um
trabalho para consegui-la. De algum modo, o núcleo de significação complexo, uma expressão
homem deve consumi-la refletindo, reconstruin- sociocultural de significados que (re)produz có-
do, desnaturalizando conceitos e concepções. digos de identificação para as pessoas em seu con-
É necessário desnaturalizar a alimentação na texto social. Comer é uma experiência social que
escola como parte de uma rotina comum, auto- envolve trocas simbólicas, acordos e negociações
mática, sem importância social. Desnaturalizar é constantes sobre o significado dos alimentos em
estranhar aquilo que parece natural, é conhecer em uma cultura.
detalhes o modo como foi se tornando natural, Dessa forma, os significados do direito a uma
compreender quais são os elementos que dão for- alimentação adequada são construídos social-
ça e poder a esse caráter natural nos conceitos, que mente na realidade local, e podem ser potenciali-
os coloca em um lugar de verdade indiscutível. zados com processos de educação alimentar e
É necessário estranhar que uma prática como nutricional capazes de motivar e de dar sentido
alimentação na escola passe despercebida e seja às ações entre os agentes da escola, de acordo
tida com a mesma consideração que uma cartei- com as condições que cada um desenvolve, para
ra, uma torneira ou um livro. Estranhar, neste compreender o direito à alimentação saudável e
caso, significa trazer o tema alimentação na es- adequada e as implicações desse direito sobre a
cola para a mesa de debate. segurança alimentar e nutricional numa dimen-
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são ética em favor da autonomia e do empode- Nesse alinhamento, a educação alimentar


ramento do sujeito. pode perfeitamente compor o currículo escolar.
Para avanço nessa perspectiva, é importante Mais do que isso, pode ser desenvolvida sem
considerar a instauração de processos claros, de- qualquer prejuízo aos saberes consagrados nos
finidos e planejados de educação alimentar e de conteúdos escolares. Ao contrário, irá agregar
educação nutricional dos estudantes na escola. valor a estes conhecimentos, uma vez que permi-
te, na análise real de cada indivíduo, instrumen-
De que EAN estamos falando? talizá-los no entendimento da sua condição de
ser vivo, das dimensões éticas, socioantropoló-
Diante da conjuntura social contemporânea, gicas e biológicas de sua existência, e que come e
é importante registrar a complexidade das ações habita no espaço social.
humanas e a necessidade de alternativas criativas Numa análise mais ampla, lamentavelmente,
para enfrentamento dos problemas de nosso a organização que ainda prevalece em alguma
tempo. parte das escolas remete-nos a uma concepção
Há uma crescente demanda social pela refle- obsoleta de educação, de homem e de sociedade,
xão e ação sobre temas que assegurem maior onde o conhecimento é algo a ser transmitido, a
conscientização acerca dos fenômenos sociais vi- aprendizagem é um acúmulo de informações, os
venciados e que permitam a possibilidade de in- conteúdos escolares são recortes arbitrários do
vestigá-los, sobretudo, quando se manifestam no conhecimento científico, os professores são seres
sentido de inibir a cidadania. encarregados de transmitir esses recortes e os alu-
Voltando o olhar para a escola, se pode per- nos são seres que devem assimilá-los, em um
ceber que os padrões rígidos de ensino e apren- contexto de recompensa ou punição.
dizagem dos séculos anteriores hoje dão lugar a No entanto, no Brasil, há diversas escolas que
um debate sobre o perfil do estudante que se de- desenvolvem atividades que extrapolam seus
seja formar e o papel do currículo escolar, bus- muros e as transformam em efetivos “centros de
cando uma concepção de currículo para além de formação da cidadania”, como prevê a vigente Lei
um desenho com poder de aprisionar e reduzir de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Nes-
os conhecimentos da cultura humana em mode- se processo, o entorno cultural da escola vira es-
los inflexíveis que devem ser transmitidos de ge- cola, ou seja, fonte concreta de pesquisas, apren-
ração a geração. A grade curricular tem dado lu- dizagem e descobertas. Transforma-se em labo-
gar a uma construção coletiva das ações e traba- ratório de experiências, fomentando as mútuas
lhos pedagógicos a serem desenvolvidos na es- intervenções de alunos, professores, comunidade
cola, a partir das demandas reais19. e produzindo as alternativas que podem interfe-
Buscando um novo alinhamento conceitual, rir na qualidade social de vida de seus membros.
o currículo é uma ferramenta imprescindível para No entanto, para isso, é imprescindível parar
se compreender os interesses que atuam e que e pensar sobre os caminhos e as alternativas didá-
estão em permanente jogo na escola e na socie- tico-metodológicas possíveis para ampliar e po-
dade20. Nesse sentido, adotamos aqui o conceito tencializar os saberes e as vivências na escola. Ne-
de currículo como conjunto de ações que coope- nhuma escola que avançou em suas práticas o fez
ram para a formação humana em suas múlti- sem esse redesenho coletivo do trabalho escolar.
plas dimensões constitutivas15. Esse entendimento Possivelmente, essa compreensão coletiva
faz referência ao complexo processo sociocultu- constitua um dos maiores desafios dos sistemas
ral que fez da escola um dos mais importantes de educação no Brasil: construir uma concepção
meios de compreensão e reprodução dos conhe- de ação educativa que atenda as múltiplas di-
cimentos produzidos pela humanidade. mensões formativas do indivíduo e consolide a
Discutir o currículo é, portanto, debater uma compreensão de que o currículo escolar se mani-
perspectiva de mundo, de sociedade e de ser hu- festa como expressão efetiva da vida vivida, em
mano, uma vez que o currículo expressa relações contraposição à ideia de um “currículo prescriti-
de poder, ideologias e culturas. Nesse sentido, vo”, previamente elaborado e comprometido com
este debate não se reduz a uma visão tradicional a classificação e a acumulação de informações
de mudanças de conteúdos dos currículos esco- mecanicamente absorvidas e quase utilizadas.
lares e sim a uma nova postura pautada na auto- Do ponto de vista pedagógico, para que o
nomia e na emancipação humana dos estudan- processo de educação alimentar seja efetivo e al-
tes por meio dos saberes e práticas construídos cance os resultados almejados, algumas reflexões
na escola. e ações parecem desejáveis para fortalecer a in-
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serção de tema alimentação escolar na prática ticas locais e ocupa espaço na agenda das políti-
cotidiana da escola, entre elas: cas sociais.
A) A alimentação escolar, que deve estar pre- Vista desse ponto, a educação alimentar e
sente todos os dias letivos na escola com quali- nutricional favorecerá ao estudante uma aproxi-
dade e adequação nutricional, conforme direito mação com as várias informações que existem a
constitucional do estudante e obrigação do po- respeito do tema alimentação e nutrição e per-
der público, por si só representa uma estratégia mitirá que o estudante seja e sinta-se parte da
pedagógica eficiente para trazer a evidência to- política que normatiza e sustenta esse tema. Se
dos os infinitos assuntos e temas que o ato de sistematizadas, estas ações educativas poderão
alimentar-se fomenta. Para isto, todas as áreas proporcionar ao estudante a construção dos co-
do conhecimento são chamadas a contribuir: a nhecimentos que o instrumentalizarão a fazer suas
matemática, as ciências da natureza, sociais, as escolhas – sobretudo na apropriação do direito
artes, a linguagem, a história, a química, a física, humano de uma alimentação adequada –, julgar
a filosofia, e todas que vierem a compor do dia a o que ouvirá na mídia e atuar de forma autôno-
dia da escola. ma diante das várias alternativas que se apresen-
B) Os temas e os debates sobre alimentação tam no seu contexto. Isso parece concretizar a
devem garantir que todas as dimensões dessa síntese de Paulo Freire: a leitura da escrita só tem
ação humana sejam abordadas: a dimensão eco- sentido se favorecer a leitura do mundo.
nômica, social, cultural, religiosa, psicológica,
pedagógica, nutricional, artística, gastronômica,
entre outras, dinamizando as ações do currículo Considerações finais
vivido;
C) Embora não seja tão simples como parece Ainda são inúmeros os caminhos que devem ser
ser, é importante que o tema alimentação compo- trilhados em direção a consolidar na prática de
nha o projeto pedagógico das escolas, direcionan- gestores, educadores e de nutricionistas o enten-
do atividades transdisciplinares entre os docentes dimento do papel do alimento e da educação ali-
e demais profissionais na escola, promovendo mentar e nutricional no contexto escolar.
atividades integradoras da ação escolar e ativida- Em relação à formação do nutricionista, a
des fora da escola que ampliem a percepção e a presença de um processo de formação tecnicista
leitura desse tema por parte dos estudantes; orientador de uma prática de educação alimen-
D) As práticas de educação alimentar não são tar e nutricional centrada na relação entre ali-
apenas as pedagógicas que acontecem em sala de mentos e sua composição nutricional, ao se cons-
aula. Essa educação deve acontecer nos vários ní- tituir em prática no espaço escolar se realizará
veis da política e em vários âmbitos dos sistemas por meio de metodologias autoritárias, tecnicis-
de ensino. Parece interessante pensar que não é só tas que se inscrevem no fortalecimento da rela-
o estudante que precisa ser educado do ponto de ção centrada em um único protagonista deten-
vista da alimentação, mas gestores, professores, tor do conhecimento, o nutricionista, o que trans-
cozinheiras, agricultores familiares, nutricionis- forma esta prática em maçante tanto para estu-
tas, coordenadores pedagógicos e também os seus dantes quanto para professores que dela bus-
pais. Por isso essa ação é abrangente e organiza- cam participar.
dora de muitas possibilidades de atividades. Percebe-se a importância de superar esta con-
Por todos os temas enunciados nesse texto, é cepção de formação, principalmente em direção
possível perceber que o conceito de educação ali- a promover a integração do conhecimento, bus-
mentar e nutricional nas escolas demanda um cando construir um processo de partilha e com-
aporte conceitual e técnico pelos vários sujeitos plementaridade entre os diferentes saberes que
envolvidos. É mais que oferecer pontualmente envolvem o alimento e a alimentação, e que, in-
atividades relativas ao tema alimentação. Nessa discutivelmente, se fazem presentes por meio dos
perspectiva, parece constituir-se um conjunto de diversos atores que participam da educação ali-
ações pedagógicas, normativas e culturais, que mentar e nutricional na escola, ou em qualquer
se desenha nos vários espaços, como a universi- outro espaço social.
dade, a prefeitura, a secretaria de educação, de Nesta direção, é fundamental um olhar mais
saúde e abrange a reflexão e a prática dos vários atento para o processo de formação do nutricio-
atores integrados a estes campos. Extrapola a sala nista em direção a promover avanços com rela-
de aula e as atividades pedagógicas desenvolvi- ção à compreensão da prática educativa envol-
das com os estudantes. Torna-se parte das polí- vendo o alimento no espaço da escola e a relação
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desta com uma proposta de educação que situe vas sobre alimentação em todas as suas dimen-
os processos e as práticas educativas no cerne, sões, inclusive a nutricional.
nos anseios e nas necessidades da própria vida Importante registrar neste espaço as conquis-
humana. tas que na atualidade tem se verificado em rela-
Também, como elemento importante para ção à constituição e à implementação de uma
compor esta discussão, aparece a necessidade de Política Nacional de Educação Alimentar e Nu-
consolidar no espaço escolar um novo entendi- tricional, na perspectiva da realização do Direito
mento de alimentação escolar que não se limite à Humano a Alimentação Adequada e Saudável.
questão da refeição fornecida com qualidade e Nesta discussão, encontram-se associados dife-
adequação nutricional. Lamentavelmente, não é rentes Ministérios como os da Educação, Saúde,
rara na prática escolar a presença de educadores Desenvolvimento Social, instâncias do controle
que não percebem a alimentação escolar como social ligadas à alimentação e à nutrição tais como
estratégia pedagógica a restringindo ao mecâni- o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
co ato de servir o alimento na escola. Nutricional (CONSEA), a Associação Brasileira
Romper estes limites em direção a consolidar de Nutrição (ASBRAN), entre outras que se uni-
os espaços de facilitadores da integração entre os ram para pensar tal política em direção a efetivar
conhecimentos sobre educação dos educadores, ações intersetoriais em todos os âmbitos.
com os conhecimentos sobre nutrição do nutri- Outros elementos se associam aos que aqui
cionista, pode ser um dos caminhos de supera- são apontados. Mas essa discussão encontra-se
ção dos limites que se fazem presentes tanto na longe de receber um ponto final. Antes sim, ex-
escola quanto na própria formação do nutricio- pressa reticências, no sentido de que há muito
nista e do docente pedagogo ou licenciado. Esta mais a ser dito, escrito, discutido e praticado.
questão aponta como fundamental a constitui- Essas reticências devem traduzir-se em tempos e
ção de espaços de formação continuada que pos- espaços de reflexão e ação permanentes em dire-
sibilitem a promoção sistemática destas ações no ção a possibilitar que a polifonia das vozes dos
âmbito dos currículos escolares, contemplando diversos atores envolvidos qualifique e se tradu-
o disposto na política de alimentação escolar, que za em uma integral, efetiva, instrumentalizadora
qualifica a oferta de alimentos na escola precedi- e cidadã educação para todos, rumo à emanci-
da, concomitante e sucedida por ações educati- pação e à autonomia de nossa gente.

Colaboradores

NVS Barbosa, NMV Machado, MCV Soares e


ARR Pinto participaram igualmente de todas as
etapas de elaboração do artigo.
945

Ciência & Saúde Coletiva, 18(4):937-945, 2013


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