Você está na página 1de 15

3.

Beatitude

Uma vez apresentado sobre as duas esferas centrais deste trabalho que é o
Livre-arbítrio e a Divina Providência, verifica-se a necessidade de apresentar o
resultado da conciliação de ambas para o alcance da Beatitude. Este capítulo tem
por objetivo refletir sobre a concepção ética de Tomás de Aquino no que diz respeito
a noção beatitude. Demonstrar-se-á que a felicidade é o fim que todo homem
deseja, é a virtude das virtudes e que só pode ser obtida na prática social. Para
Santo Tomás, o homem conhece o fim das coisas, mas não conhece plenamente
Deus.
Ademais, dois são os objetos da ética tomista: o estudo dos atos humanos e
o estudo da moralidade, que trata sobre a bondade ou maldade humana proveniente
da ação voluntária. Portanto, a ética de Santo Tomás basicamente tem a intenção
de levar o homem, juntamente com seus atos livres, ao bem último, felicidade última,
que é Deus.1
A busca da própria finalidade é a tendência de tudo o que existe, “desde o
grão de areia até Deus. Nossa inteligência conhece sua própria finalidade: julgar em
conformidade com a natureza e com a existência das coisas e elevar-se à sua
Causa primeira e a seu Fim último”. 2
Existe uma tendência de buscar o seu fim, sendo esta natural e
inconsciente, sem sensibilidade nenhuma, como ocorre com os seres sem razão: um
ser mineral, por exemplo, sempre tenderá para o centro da terra, para sua
estabilidade. Ou com sensibilidade vegetativa, como as plantas tendem para a luz e
o calor do Sol; ou ainda com certo conhecimento sensível, como os animais que
buscam alimento e defendem a própria vida, protegendo-se e evitando os perigos,
que para eles constituem o contrário do bem ao qual tendem. Já os seres
inteligentes devem querer seu fim de modo racional. Por isso, segundo São Tomás,
no homem, “as coisas para as quais tem inclinação natural, a razão apreende como
bens e, em consequência, como algo que deve ser buscado. E o contrário destas

1 SIQUEIRA, Grégori Lopes; BRIXNER, Israel. O fim último da ética de Santo Tomás de

Aquino. Educação e ciência na era digital. Santa Maria: UNIFRA, p. 1-9, jan./dez. 2011.
2 GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. El realismo del principio de finalidad. Buenos Aires:

Desclée de Brouwer, 1947, p. 11.


são como males, que devem ser evitados”. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo. I-II, q.
94, a. 2).3
Diante disso, a ética medieval onde se inclui a de Santo Tomás, é fundada
na busca da εὐδαιμονία (eydaimonía), em latim beatitudo ou felicitas. E nas palavras
de Santo Tomás, “[...] o fim último do homem [...] chama-se felicidade ou beatitude”.
(TOMÁS DE AQUINO, Sum. C.G., III, XXV, 13.).4 Tal é a importância deste conceito,
que Lima Vaz afirma que da noção de beatitude depende a própria possibilidade de
uma leitura filosófica da ética medieval, inclusive a tomasiana:

A noção de beatitude, herdada da Ética clássica, mas profundamente


transformada, segundo a tradição agostiniana, pela Revelação cristã,
torna-se assim a noção matricial de toda a Ética tomásica, ficando a
depender da sua interpretação os juízos diversos que sobre ela têm
sido propostos.5

Santo Tomás faz uma distinção: há a beatitude imperfeita, que pode ser
alcançada nesta vida, pois é dada a natureza humana, e há a beatitude perfeita, que
é a visão de Deus e que não pode ser alcançada nesta vida, porque transcende a
natureza humana. Diz Tomás: “Duas são as bem-aventuranças: a imperfeita, que se
tem nesta vida, e a perfeita, que consiste na visão de Deus”. (TOMÁS DE AQUINO,
Sum. Theo., I-II, q. 4, a. 5, r.).6 O corpo é algo necessário para colocar em prática a
beatitude imperfeita, pois a ação da beatitude imperfeita é a ação do intelecto
especulativo ou prático. O que acontece na ação do intelecto, é que ele é movido
(no caso da beatitude imperfeita) pelas representações imaginárias, as quais são
expressas em um determinado órgão corpóreo. É aqui, que se fundamenta a
necessidade da existência do corpo para que possa ter a beatitude nesta vida, esta,
neste caso, como dependente deste corpo. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo., I-II,
q. 4, a. 5, r.).7
A beatitude imperfeita na filosofia moral de Santo Tomás é alcançável e
praticável na imanência, ou seja, nesta vida. Tal noção de beatitude recebe esta
denominação de imperfeita porque é realizável no mundo sensível, na pratica e nas
ações do homem. Este modelo beatífico é passível de todas as formas de mudanças

3 TOMÁS DE AQUINO, 2005, p. 562.


4 TOMÁS DE AQUINO, 1996, p. 508.
5 VAZ, Henrique Cláudio Lima. Escritos de filosofia IV: Introdução à ética filosófica 1. São

Paulo: Loyola, 1999, p. 220.


6 Cf. TOMÁS DE AQUINO, 2005, p. 87.
7 Cf. TOMÁS DE AQUINO, loc. cit.
ou transformações que derivam do viver humano. 8 A beatitude ou bem-aventurança
perfeita é a visão de Deus. Afirma-se que ela não pode existir na alma sem o corpo,
tentando igualá-la a beatitude imperfeita. Santo Tomás contesta dizendo que “o
intelecto não necessita do corpo a não ser por causa das representações
imaginárias, nas quais a verdade inteligível é vista” (TOMÁS DE AQUINO, Sum.
Theo., I-II, q. 4, a. 5, r.).9
Como foi visto e argumentado quanto à necessidade do corpo como
requisito para haver a manifestação beatífica, o Aquinate replica tal afirmação
argumentando que a essência divina não pode ser vista pelas representações
imaginárias. Santo Tomás faz questão de deixar clara a diferença que há entre a
beatitude imperfeita e a imperfeita. Assim, “como a beatitude do homem consiste na
perfeita visão da essência divina, ela não depende do corpo, e a alma pode ser bem-
aventurada”. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo., I-II, q. 4, a. 5, r.).10

3.1 A Felicidade em Santo Tomás

Santo Tomás ao desenvolver o tema da felicidade, parte do princípio de que


a vida humana é portadora de um fim último, que é identificado por beatitude ou
bem-aventurança. Este fim último é responsável por dar sentido a todas as ações ou
acontecimentos da vida do homem. Aqui é importante destacar que nem todos os
acontecimentos da vida humana justificam-se em função desse fim, isso por que
nem sempre aquele que age, o homem está agindo para esse fim. Desta forma, a
questão da felicidade está diretamente ligada à questão da vida humana, e está
unido à essência do homem.11
Antes que Santo Tomás chegasse a tais conclusões, ele colocou-se a
disposição de analisar as concepções de felicidade manifestadas em sua época.
Após analisar a realidade, Santo Tomás chegou a conclusão de que havia algumas
correntes que identificavam a beatitude como a posse de riquezas, conquista da
fama, de poder e de bens do corpo. O que se pode concluir, a priori é que Santo

8 VAZ, 1999, p. 221.


9 TOMÁS DE AQUINO, op. cit., p. 88.
10 TOMÁS DE AQUINO, loc. cit.
11 Cf. OLIVEIRA, Janduí Evangelista de. A felicidade na filosofia de Tomás de Aquino. Ágora

Filosófica. Pernambuco: UCP, n. 2, p. 65-77, jul./dez. 2011.


Tomás considerou tais correntes como não adequadas para a concepção de
felicidade, pois estas conduzem sim, a falsa noção de felicidade.12
Santo Tomás que, como sua ética, faz parte da idade média, possui uma
visão ética que difere da ética antiga (período antigo), pois para os antigos a ética
está mais ligada a noção de liberdade no campo político social, enquanto a ética
tomista considera a noção de livre-arbítrio em cada um dos indivíduos, os quais
podem escolher pelo bem ou mal, a partir de sua própria racionalidade. No que diz
respeito à ética no período medieval, a liberdade é seria como uma divisão no
interior do individuo, isso entre o seu querer o bem ou querer o mal. É aqui, nesta
escolha entre um ou outro que se encontra a noção de livre-arbítrio, e a partir disso
dá um caráter moral à liberdade.13
O homem, como todos os demais seres foram criados para um fim, mas só o
homem tem a capacidade de conhecer esse determinado fim. O homem tende de
forma natural para o seu fim, da mesma forma que todas as formas tendem para um
fim, como o fogo tende para o alto.14 Em meio algumas noções de ética, o foco aqui
é ater-se na noção apresentada por Santo Tomás, esta que é uma ética teleológica.
Assim, Santo Tomás adere a esse tipo de ética, “na medida em que deposita a
finalidade do obrar ético na noção de Bem Comum, com base na escolha do bem e
do que é melhor”.15 O fim último ou a finalidade do agir humano, que está ligado a
vontade livre do indivíduo é a felicidade. Desta forma, é impossível conceber
diversas finalidades neste agir humano, pois as demais são imperfeitas e não
satisfazem a prática dos atos. 16
Assim diz Gilson:
A ordem integral das criaturas deriva de uma só causa e tende para
um só fim. Por conseguinte, podemos esperar que o princípio
regulador das ações morais seja idêntico às das leis físicas; a causa
profunda que faz que a pedra caia, que a chama se eleve, que os
céus girem e que todos os homens queiram, é a mesma; cada um
destes seres não age senão para lograr, por suas operações, a
perfeição que lhes é própria e realizar com ela seu fim, que é
representar a Deus.17

12 Cf. OLIVEIRA, 2011, p. 68.


13 SIQUEIRA, Grégori Lopes; BRIXNER, Israel, 2011, p. 1.
14 Cf. GILSON, Etienne; BOEHNER, Philotheus. História da Filosofia cristã. 2. ed. Trad.

Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 476.


15 BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Curso de ética jurídica: ética geral e profissional. 5. ed. São

Paulo: Saraiva, 2007, p. 269.


16 SIQUEIRA, Grégori Lopes; BRIXNER, Israel, 2011, p. 2.
17 GILSON, Etienne. El Tomismo: Introducción a La Filosofia de Santo Tomás de Aquino. Trad.

Alberto Oteiza Quirno. Buenos Aires: Ediciones Desclée de Brouwer, 1951, p. 491.
É, pois, desta forma que a felicidade não encontra-se de forma plena nos
entes que foram criados por Deus, a não ser no próprio criador. Através do
conhecimento do amor de do bem agir de Deus, o homem é capaz de conhecer a
felicidade, mas de forma parcial ainda nesta vida, e desta forma aperfeiçoar cada
vez mais suas atitudes com bens superiores. Quanto a felicidade perfeita, esta
encontra-se apenas na vida eterna. Assim, a partir do conhecimento espiritual e da
tendência racional que o ser humano possui, ele já se insere no reino da
moralidade.18
Sobre esta aquisição de felicidade, Santo Tomás investiga ainda mais a
fundo quanto sua obtenção, de que forma podemos conquistar a felicidade, mesmo
que parcialmente. Assim diz o Aquinate:

A bem-aventurança é o estado perfeito da junção de todos os bens.


Ora, parece que pelo dinheiro poderão se adquirir todas as coisas,
por que o Filósofo, no livro V da Ética, afirma que o dinheiro se
inventou para ser a fiança de tudo aquilo que o homem quisesse
possuir. Logo, a bem-aventurança consiste nas riquezas. (TOMÁS
DE AQUINO, Sum. Theo., I-II, q. 2, a. 2,).19

É importante entender que esta citação não representa o pensamento de


Santo Tomás, porém, serve para elucidar melhor o que não é felicidade para ele,
caracterizando uma falsa ideia de felicidade. Na verdade, o que Santo Tomás deixa
claro e evidente é que: “é impossível que a bem-aventurança do homem consista
nas riquezas”. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo., I-II, q. 2, a. 2, r.).20 Isso é dado
pelo fato de que a riqueza não tem consistência existencial em si mesma, pois sua
razão de ser não está nela mas fora dela.21 Além de entender o que Santo Tomás
quer falar, dizendo que a bem-aventurança não consiste nas riquezas, é necessário
entender quais são estas riquezas que ele coloca. Ele faz uma distinção entre duas
riquezas, as naturais e as artificiais:

As riquezas naturais são aquelas pelas quais o homem é ajudado a


compensar as deficiências naturais, como sejam, a comida, a bebida,
as vestes, os veículos, a habitação, etc. As riquezas artificiais são
aquelas que por si mesmas não auxiliam a natureza, como o
dinheiro, mas a arte humana as inventou para facilitar as trocas, para

18 SIQUEIRA; BRIXNER, op. cit., p. 3.


19 TOMÁS DE AQUINO, 2005, p. 47.
20 TOMÁS DE AQUINO, loc. cit.
21 Cf. OLIVEIRA, 2011, p. 69.
que fossem medidas das coisas veniais. (TOMÁS DE AQUINO, Sum.
Theo., I-II, q. 2, a. 2, r.).22

Santo Tomás, mesmo detendo a noção ampla de riqueza, em nenhuma


delas ele reconhece como fonte de felicidade, dado pelo fato de que a riqueza não
tem um fim nela mesma. Quem busca a riqueza, não tem como objetivo ela mesma,
mas sim a aquisição de outras coisas, ou seja, bens materiais. Assim, é por este
motivo que as riquezas não podem ser identificadas com a felicidade, isso por que a
beatitude tem seu valor em si mesma.23
A partir disso, visto o que não é a felicidade em Santo Tomás, resta
apresentar então, o que é esta felicidade para ele. O que precisa ficar claro, é que a
filosofia de Santo Tomás inspira-se por vezes, nas teses aristotélicas, e tem por
objetivo torná-las compatíveis com a fé cristã.24 Agora, à medida que, em Aristóteles
limitava-se no homem ou na imanência a conquista suprema e final da felicidade,
para Santo Tomás, a exemplo de Santo Agostinho, ela se eleva a transcendência. É
a partir daqui, desta constatação que se conclui que a vida humana não está apenas
para desfrutar as coisas passageiras deste mundo, mas o que se entende é que
aponta para uma vida bem mais estruturada, organizada e perfeita, que é alcançada
por meio da conquista da beatitude.25
No que diz respeito a ideia de felicidade em Santo Tomás, é notório as
influências recebidas de seu tempo. Como Boécio, Santo Tomás questionou-se se
seria necessário, de fato, confessar Deus como a própria bem-aventurança. Após
longa investigação, o Aquinate chegou à conclusão de que o sumo bem é próprio da
natureza de Deus. Também, que não é possível a existência de mais de um sumo
bem. Desta forma, a bem-aventurança não pode ser outra coisa senão Deus. 26
Assim, o ser humano com sua vontade tende para o último fim, que é a bem-
aventurança. Nenhuma outra coisa deve tender a vontade humana a não ser para o
fim último, ou seja, para Deus, pois é ele que deve ser objeto de gozo, como diz
Santo Agostinho. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo., I-II, q. 3, a. 1, r.).27 Desta

22 TOMÁS DE AQUINO, 2005, p. 47.


23 Cf. OLIVEIRA, op. cit., 69.
24 Cf. MICHON, Crylle. Tomás de Aquino. In: PRADEAU, Jean-François (org). História da

Filosofia. Trad. James Bastos Ares e Noéli Correia de Melo Sobrinho. Petrópolis: Vozes; Rio de
Janeiro: PUC, 2001, p. 163.
25 Cf. OLIVEIRA, op. cit., 71.
26 Cf. OLIVEIRA, loc. cit.
27 Cf. TOMÁS DE AQUINO, 2005, p. 63.
forma, fica claro que somente uma realidade pode satisfazer as condições
necessárias para ser o fim último par ao homem, enquanto capaz de satisfazer o seu
desejo. Somente Deus pode ocupar tal lugar, isso dado por ele ser o Ser em seu
sentido pleno, ato puro, onde nele está toda a perfeição. Nada pode satisfazer a
vontade do homem senão o bem universal: Deus, pois toda criatura tem bondade
participada. Em Deus, a vontade encontra pleno alívio ou repouso, e a beatitude se
realiza. A partir disso, podemos resumir a filosofia do ser de Santo Tomás: Deus é o
Ser em sentido pleno, só ele pode dispensar o ser, onde o ser criado para ele
converge. Deus é a origem e o fim de todo ser.28
Santo Tomás também analisou a possibilidade de a beatitude se estruturar
na primazia da vontade, chegando a conclusão de que a beatitude consiste primeira
e essencialmente em um ato do intelecto, mais do que em um ato da vontade. E
conclui diferentemente da visão e tradição de Santo Gostinho, que o primeiro
desejado é o fim último do homem, a beatitude, e não o ato da vontade.29
Assim sendo, partindo de que a vontade, enquanto apetite natural não é
próprio da natureza do intelecto, mas depende dele para a operacionalidade. Desta
forma,

A beatitude suprema do homem consiste na contemplação das


coisas divinas. É isto que toda a substância intelectual deseja como
fim último e unicamente por si mesmo. Logo, a beatitude última de
toda substancia intelectual é conhecer a Deus.30

Assim sendo, no que se refere a função própria do homem, ou seja, sua


atividade intelectiva, esta converge para o conhecimento de Deus. Aqui, todas as
criaturas, mesmo as destituídas de intelecto, ordenam-se para um fim último, um
bem supremo que é Deus. Isso acontece enquanto participantes da semelhança
divina.31 Desta forma, o homem possui um fim elevado que é conhecer o inteligível
perfeitíssimo, aquilo que há de mais perfeito e sublime no gênero de operação do
conhecimento intelectivo, ou seja, Deus. Por conseguinte, a bem-aventurança do
homem não se realiza plenamente nesta vida, ela encontra-se a caminho da

28 Cf. OLIVEIRA, Cláudio Ivan de. A psicologia de Tomás de Aquino: a vontade


teleologicamente orientada pelo intelecto. Memorandium. Belo Horizonte: UFMG, n. 17, p. 8-21, out.,
2009.
29 Cf. VAZ, Henrique Cláudio Lima. Escritos de filosofia IV: Introdução à ética filosófica 1. 2. ed.

São Paulo: Loyola, 2008, p. 199-200.


30 PICHLER, Nadir Antônio. Revista Cultura e Fé. n.130, ano 33, p. 311-318, jun./set. [s.d], p.

315.
31 PICHLER, [s.d], p. 315.
perfeição final, o próprio Deus. Sendo assim, no sentido geral, a bem-aventurança
refere-se à união do homem com o Sumo Bem. É importante entender que tal união
não se realiza por meio da operação sensitiva, pois não se refere aos bens do corpo
a bem-aventurança. Portanto, a ação pela qual a mente do homem se unirá com
Deus não dependerá dos sentidos, mas sim do intelecto, principalmente.32
Com isso, pode-se concluir a existência de duas espécies de felicidade: a
perfeita, que deve ser aguardada para a vida futura, e a imperfeita, pela qual se é
feliz nesta vida. Assim, a felicidade da vida presente dá-se sob dois modos: o da
vida ativa e da vida contemplativa:

A conquista da beatitude é alcançada pela vida ativa e


principalmente pela contemplativa. A ativa, por meio da prudência, é
propiciadora da efetivação da práxis pelas virtudes morais na vida
humana e na comunidade política em geral e preâmbulo à atividade
contemplativa. Por meio desta, pela virtude da sabedoria, o Aquinate
procura elevar a alma intelectiva do sábio à verdade mais inteligível,
permanente, transcendente e eterna, Deus.33

Na filosofia de Santo Tomás, a felicidade aparece como que integrada à vida


humana como um todo. Nela, todas as criaturas possuem um só e mesmo fim
último: Deus, onde cada um alcança tal fim conforme sua natureza. O homem, por
sua vez, alcança através de um ato do intelecto especulativo, o qual consiste na
contemplação da própria essência divina. Tal ato torna-se o fundamento da
felicidade ultima do homem, do qual todos os outros atos são apenas uma
participação imperfeita. Desta forma, o fim último do homem ultrapassa sua própria
natureza, fazendo com que ele possa atingir mediante a graça divina.34
Assim sendo, o fim último do homem só pode estar ligado ao fim último
universal, o qual é fim de todos os fins e bem de todos os bens. Em uma palavra,
Deus – causa primeira e fim último de todas as coisas é o fim último do homem.
Conhecer Deus, aí esta a beatitude, está a contemplação de Deus, na visão de
Deus, e isso está acima da razão, pelo fato de estar no conhecimento de um objeto
que lhe transcende infinitamente. Santo Tomás, por conseguinte conclui:
A bem-aventurança é um bem perfeito, que totalmente aquieta o
desejo, pois não seria o último fim, se ficasse algo para desejar. O
objeto da vontade, que é o apetite humano, é o bem universal, como
o objeto do intelecto é a verdade universal. Disto fica claro que

32 Cf. OLIVEIRA, 2011, p. 74.


33 PICHLER, op. cit., p. 317.
34 Cf. OLIVEIRA, op. cit., p.76.
nenhuma coisa pode aquietar a vontade do homem, senão o bem
universal. Mas tal não se encontra em bem criado algum, a não ser
só em Deus, porque toda criatura tem bondade participada. Por isso,
só Deus pode satisfazer plenamente a vontade humana [...].
Conseqüentemente, só em Deus consiste a bem-aventurança do
homem. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo., I-II, q. 2, a. 8, r.).35

Portanto, a felicidade não pode ser entendida como uma utopia que é
simplesmente jogada de lado e uma realidade da vida futura. Já se é feliz neste
mundo, embora de forma imperfeita. E assim, querer a felicidade é querer viver em
plenitude para sempre, inclusive no hoje, no aqui e no agora.36

3.2 A Divina Providência e a Vontade

Perpassado por alguns temas que elucidaram de forma mais clara o


entendimento quanto a questão da beatitude, sua relação com a felicidade e
realização final do ser humano, ao findar este capítulo, far-se-á a apresentação do
cerne deste trabalho, a relação problemática que se estabelece entre a divina
providência e o livre-arbítrio em Santo Tomás.

3.2.1 A Divina Providência e a Vontade do Homem

Logo ao iniciar pode aparecer como questionamento se alguma coisa pode


opor-se as ordens de Deus, através de seu governo divino. Santo Tomás trás o
exemplo do rei, que na pratica da justiça, não pune aqueles que não se opõem às
suas ordens. Assim, da mesma fora acontece com Deus, se nada se opusesse à
ordenação Divina, também ninguém seria punido por isso. Agora, como já vimos,
todas as coisas estão submetidas à ordenação do governo divino. Desta forma,
algumas coisas tem por natureza oposições à outras, logo não teria também
oposição às ordens do governo divino? (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo., II, q.
103, a. 8, ad 3).37
Como todos os demais seres, o homem também foi feito para um
determinado fim. Além de ele tender para tal fim, o homem é capaz de conhecer
esse fim. Desta forma, o homem então se insere no reino da moralidade. Toda forma
trás em si mesmo uma tendência natural ao fim, nos seres dotados de racionalidade

35 TOMÁS DE AQUINO, 2005, p. 47.


36 Cf. OLIVEIRA, op. cit., p.77.
37 Cf. TOMÁS DE AQUINO, op. cit., p. 718.
e conhecimento, pode-se admitir uma tendência de ordem superior. São de duas
formas a distinção de tendências acionadas pelo conhecimento: a primeira é a
simples sensação, esta determinada pelo instinto no caso dos animais; e a que parte
do conhecimento intelectual, porém, chama-se de tendência racional. Esta última,
portanto, é a vontade, ou potencia apetitiva racional.38
A vontade tem como objeto necessário o bem em geral ou a beatitude, a
qual a vontade adere de forma necessária e por sua natureza. Na vontade há certos
bens particulares, cuja posse deles é dispensável à felicidade perfeita. Esses bens
particulares, sendo eles de forma dispensável, a vontade não tem a obrigação de
aderir, ou seja, não o faz de forma necessária. Entretanto, há outros que tem sim
conexão necessária, ou seja, tem ligação indispensável com a felicidade eterna. A
estes, o homem tem o dever de tender não podendo deixar de aceitar ou negar que
concorda.39 Esses bens, são pelos quais o homem adere a Deus, onde está a
verdadeira beatitude. Contudo,
Antes que a necessidade dessa conexão seja demonstrada pela
certeza da visão Divina, a vontade não adere necessariamente nem
a Deus nem as coisas que são de Deus. Mas a vontade daquele que
vê Deus em sua essência adere necessariamente a Deus, da mesma
maneira que agora queremos necessariamente ser felizes. (TOMÁS
DE AQUINO, Sum. Theo., I, q. 82, a. 2, r.).40

A ordem que há na Divina Providência pode ser entendida de dois modos: o


primeiro é o mais geral, onde pode ser entendida essa ordem enquanto procede da
causa que governa tudo. O segundo modo é mais particular, onde procede desta
mesma causa particular e é administrada pelo governo divino. Fica claro então, a
partir do primeiro modo que nada se opõe as ações do governo divino, isso dado
pelo fato de que a ordem do governo divino tende para o bem, e também pelo fato
de toda a inclinação, seja natural ou voluntária nada mais é do que o impulso dado
pelo motor imóvel. Santo Tomás exemplifica:

A inclinação da flecha ao alvo determinado não é outra coisa que o


impulso dado pelo arqueiro. Todos os que agem, seja naturalmente,
seja voluntariamente, conseguem, pois, de modo por assim dizer
espontâneo, alcançar aquilo para o qual estão Divinamente
ordenados. Neste sentido se diz que Deus “dispõe tudo com sua
suavidade”. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo., II, q. 103, a. 8, r.).41

38 Cf. BOEHNER; GILSON, 1985, p. 476.


39 Cf. Ibid., p. 477.
40 TOMÁS DE AQUINO, 2005, p. 478.
41 Ibid., p. 719.
Como é perceptível, a doutrina de Santo Tomás referente a vontade, conclui
um elemento relevantemente racional. Aqui, a razão é o ponto em que Santo Tomás
concorda com Aristóteles onde antecipa de forma a deixar com destaque o intelecto
em relação à vontade. Da mesma forma, sobre o conhecimento de Deus, a vontade
natural do homem, Santo Tomás coloca que o amor à Deus é superior ao
conhecimento de Deus, pois a vontade assim, ela atinge o objeto de forma mais
plena e imediata que o entendimento. Portanto, será, para Santo Tomás, no céu que
haverá a visão imediata de Deus, onde a superioridade caberá aos atos daquela
potência, a qual detém a prioridade da hierarquia das potências da alma. Pois, de
fato, é ao intelecto que cabe traçar o itinerário a ser seguido pelo amor e,
imediatamente pela vontade.42

3.2.2 O Livre-arbítrio perante da Divina Providência

O Livre-arbítrio é uma das noções diante das inúmeras, expostas por Santo
Tomás. Assim, investigamos acerca do que é então o livre-arbítrio? Para Santo
Tomás o livre-arbítrio é ― “o princípio pelo qual o homem julga livremente”. (TOMÁS
DE AQUINO, Sum. Theo., I, q. 83, a. 3, r.).43 Partindo desta perspectiva, o livre-
arbítrio é uma potência apetitiva, ou seja, ela tem a faculdade de escolher entre uma
coisa e outra, tendo já uma noção e clareza de que a escolha é a natureza do livre-
arbítrio. Numa determinada escolha, qualquer que seja, está envolvida duas
potências: cognoscitiva, que requer o conselho pelo julgamento, e a apetitiva que se
apropria do julgamento do conselho. Num ato de escolher algo, a potência que
predomina é apetitiva, tendo em vista que o desejo tem relação com o conselho.
Deste modo, sendo o bem, enquanto tal, o objeto do apetite, entende-se que, a
escolha é, sobretudo, um ato da potência apetitiva. Logo, o livre-arbítrio é uma
potência apetitiva. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo., I, q. 83, a. 3).44
O Livre-arbítrio é o principio ativo da vontade, ou seja, é de fato parte
necessária da vontade em caráter intrínseco. Assim sendo, move as diversas
potências da alma, com exceção da vegetativa. Em outras palavras, a vontade é
livre. A liberdade que a vontade tem, é uma das exigências mais elementares da

42 Cf. BOEHNER; GILSON, 1985, p. 477.


43 TOMÁS DE AQUINO, 2005, p. 491.
44 Cf. Ibid., p. 492.
filosofia, e assim não tem a possibilidade de ser negada. A questão aqui é o agir
livre, pois se a vontade não fosse livre, faltaria em nossos atos aquele caráter que
nos torna dignos de louvor ou de repreensão, e desta forma se desconsideraria a
questão da moralidade. Por isso,

A negação do livre-arbítrio deve ser contada entre as opiniões a -


filosóficas, por destruir os fundamentos de toda uma parte da
filosofia. [...] Donde se segue que a negação do livre-arbítrio procede,
ou de uma atitude leviana, ou de razões sofísticas. 45

O livre-arbítrio é o nível de participação na perfeição do ser dentro dos


limites da essência. Ao mesmo tempo, é o homem livre à escolha ou não da
felicidade, porém determinado à abertura da beatitude e da bem-aventurança. O
homem é livre, mas tal liberdade é determinada pelo nível de participação no ser,
pois, ele pode querer ser outra coisa contrária a sua natureza e não pode. A
liberdade tem como fundamento o ser, tendo para Tomás um sentido paradoxal, pois
em contraste com o querer, se encontra somente mais livre ao tender à felicidade,
ao bem, ou seja, ao Ser, por necessidade, segundo sua própria natureza livre. 46 É a
reta razão que indica os meios para chegar ao fim, à vida boa. Contudo, essa vida
boa, não é determinada pela sua natureza. Mas, o homem por possuir uma natureza
livre, pode construir sua própria existência, pela liberdade.47
Ser livre é não estar determinado a algo, mas aberto a realizar suas próprias
escolhas.48 Para tal, o homem possui a inteligência que opera e apetece algo
somente com um juízo. Isso é possível, porque a inteligência conhece o fim e os
meios para chegar a ele e suas relações. Assim, considera-se livre aquilo que é
causa por si, tendo liberdade de arbítrio. (TOMÁS DE AQUINO. Comp. Theo., III,
LXXVI, 1.)49 Logo, “o homem age com julgamento livre, podendo se orientar por
diversos objetos.” (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo., I-II, q. 83. a. 1. r.)50
Justamente essa escolha é o ato próprio da natureza livre. “Somos livres, enquanto

45 BOEHNER; GILSON, 1985, p. 477.


46 Cf. SILVEIRA, Carlos Frederico Gurgel Calvet da. Tomismo Essencial: Introdução ao
pensamento de Tomás de Aquino. Petrópolis: Universidade Católica de Petrópolis, 2010, p. 128.
47 Cf. VENDEMIATI, Aldo. Em primeira pessoa: Elementos de Ética Geral. Trad. José

Francisco de Assis Dias. Maringá, Paraná: Editora Humanitas Vivens. 2012, p. 103.
48 Cf. COROBIM, Kátia Regina de Vicenzo. O problema do mal: uma análise do sofrimento

humano no livro de Jó. 2008. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso [Bacharelado] – Faculdade de


Teologia, Faculdade Teológica Batista, São Paulo, 2008, p. 20.
49 Cf. TOMÁS DE AQUINO, 1977, p. 44.
50 Id., 2005, p. 487.
podemos aceitar uma escolha, e rejeitada outra.” (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo.,
I-II, q. 83. art. 3. r.)51 Logo, é a capacidade do homem de ser o senhor das suas
próprias ações, que denomina a liberdade.
Além disso, Santo Tomás relaciona a vontade ao livre-arbítrio. A causa da
escolha terá uma única potência que “se refere à vontade como potência de escolha,
isto é, ao livre-arbítrio [...] querer e escolher de uma só e mesma potência. Por isso,
a vontade e o livre-arbítrio não são duas potências, mas apenas uma.” (TOMÁS DE
AQUINO, Sum. Theo., I-II, q. 83. art. 4. r.)52 Afinal, o livre arbítrio possibilita a
vontade se determinar a si mesma,53 e escolher uma coisa ou outra com juízo da
razão e depois aceitar ou não aquilo que a razão julgou.54
Sim, a vontade tem liberdade de escolha, o livre-arbítrio. Agora, é importante
retomar que Santo Tomás constituiu sua filosofia nas bases cristãs, onde pra ele
existe uma ordem no universo que parece ser regida por uma sabedoria maior
chamada de Deus, que é onisciente, onipotente e onipresente. Tal ordem não vem
sem nada conhecer, pois Deus através da sabedoria Divina conhece a história do
mundo do princípio ao fim. Ele conhece não só o que fazemos, mas também o que
deixamos de fazer. Em outras palavras, Deus tem a ciência não só do que resultará
de uma atitude ou ação, mas também do que resultaria se ocorressem as demais
possibilidades de tais atos. Assim sendo, tal ordem vem a partir da Divina
Providência que rege toda a criação, e por sua vez o ser humano, como criatura que
se faz partícipe desta Divina Providência, é em suma, dotado de livre-arbítrio.55
Com isso, há uma problemática no agir do homem: ser ele livre para interagir
na obra Divina, e ao mesmo tempo, sendo governado por essa sabedoria maior, a
qual direciona seus passos. E é exatamente aqui que surge o questionamento, de
certa forma normal a todo ser humano e que se busca uma reflexão de cunho
filosófico: ora, se Deus criou o mundo com um propósito, se Ele tem um plano de
vida para todos e que o homem se realiza plenamente cumprindo este querer de
Deus, qual o lugar do livre-arbítrio no ser humano na filosofia de Santo Tomás?

51 Ibid., p. 491.
52 Ibid., p. 494.
53 Cf. LOPES, Maria Inácia; NEVES, Louredo Fábio. A liberdade Humana. Revista De

Magistro de Filosofia. Anápolis: Faculdade católica de Anápolis, n. 12, p. 37-52, jul./dez. 2003.
54 Cf. TURMINA, Leonardo Balbinot. O livre-arbítrio no pensamento de Tomás de Aquino.

2014. 85 p. Dissertação [Mestrado em Filosofia] Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do


Sul, Porto Alegre, 2014, p. 75.
55 MARITAIN, Jacques. A filosofia Moral: exame histórico e crítico dos grandes sistemas.

Trad: Alceu A. Lima. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1973, p. 100.


Todas as coisas que são governadas pela Divina Providência, são
conduzidas para um fim, este que é conveniente de acordo com o próprio governo
divino. A Divina Providência é a própria vontade de Deus, mediante a qual tudo o
que existe recebe a direção apropriada. O fim último de qualquer criatura é adquirir a
semelhança Divina. Desta forma, não estaria de acordo com a Divina Providência
tirar algo que possibilitaria a busca da semelhança a ela. Assim sendo, a criatura
como agente voluntário, obtém a semelhança Divina com o agir livre, pois em Deus
há por excelência o livre-arbítrio. Destarte, seria contra sua natureza conceber que a
Divina Providência tira a liberdade da vontade. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. C.G., III,
LXXIII, 3.)56
Por conseguinte, é importante ter clareza na interpretação daquilo que está
exposto. Não pode ser entendido as palavras do apóstolo nem o querer cabe aquele
que quer, nem a corrida aquele que corre no sentido de que o homem não é livre
para querer e correr, mas no sentido de que apenas o livre-arbítrio não basta para
tal ações, necessitando ser movido e ajudado por Deus. (TOMÁS DE AQUINO,
Sum. Theo. I. q. 83, ad. 2).57
Portanto, o livre-arbítrio deve ser entendido como causa de seu movimento,
onde é por ele que o homem se move para distintas ações. No tocante à liberdade,
não se faz necessário que aquele que é livre seja a causa primeira de si mesmo,
nem mesmo é solicitado para ser causa primeira de alguma coisa. É, de fato, Deus a
causa primeira, o qual move as causas naturais e voluntárias, onde ao mover as
causas naturais Deus não impede que seus atos sejam naturais, bem como,
movendo as causas voluntárias não impede que os atos sejam voluntários. Assim, a
Providência de Deus opera em cada um segundo a natureza que é própria de cada
um. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo. I. q. 83, ad. 3).58
Além disso, “Deus é tido em si, [...] como o princípio e também o fim das
criaturas”.59 Por isso, “o homem, enquanto criatura racional é todo especial e tem
participação daquela ratio que Deus governa”.60 Assim sendo, Deus será o princípio
e fim também das obras humanas. Sendo a mais nobre atividade do homem

56 Cf. TOMÁS DE AQUINO, 1996, p. 509.


57 Cf. Id., 2005, p. 488.
58 Cf. TOMÁS DE AQUINO, loc. cit.
59 ABBÀ, G. História crítica da filosofia moral. Trad. Frederico Bonaldo. São Paulo: Instituto

brasileiro de filosofia e ciência Raimundo Lúlio. 2011, p. 101.


60 ÀBBA, 2001, p. 104.
conhecer e amar a Deus sobre todas as coisas, mais que a qualquer outro bem,
tendo somente Ele, como seu fim.61
Todavia o que, em Tomás, se pode entender por fim último: “das coisas
feitas por um agente voluntário, é o que por ele em primeiro lugar, e por si mesmo, é
querido de modo que todo agente, em todas as suas ações age em função dele.”
(TOMÁS DE AQUINO, Comp. Theo., CI.)62
Portanto, quando se propõe um enunciado que diz que não está no homem
seu caminho, seu itinerário a ser completado em busca do fim, se refere quanto à
execução de suas escolhas, execução esta que pode ser impedido ou não segundo
a vontade do homem. Deste modo, se entende que as escolhas são nossas, porém,
sempre se supõe o auxílio de Deus. (TOMÁS DE AQUINO, Sum. Theo. I. q. 83, ad.
4).63

61 Cf. Ibid., p. 108.


62 Cf. TOMÁS DE AQUINO, 1977, p. 63.
63 Cf. Id., 2005, p. 488.

Você também pode gostar