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ESPIROMETRIA NA MÉDICOS
PRÁTICA... Silva et al. PROCEDIMENTOS MÉDICOS
das explicações é a relativa indisponi- exposição. Com relação a isso, o Mi- nicos, tanto no que se refere ao equi-
bilidade do teste espirométrico. Outra, nistério do Trabalho estabeleceu a nor- pamento quanto ao processo de sua
é o desconhecimento dos médicos com ma regulamentadora número sete (NR7), realização, sendo prioritárias a com-
relação à interpretação dos seus resul- tornando compulsória a realização de preensão e colaboração do paciente, a
tados. E, certamente, muitas outras ain- avaliação clínica, radiológica e espiro- técnica de execução padronizada e a
da podem ser mencionadas. Mas, a métrica em trabalhadores expostos, com freqüente revisão de todo o processo.
principal é a falta do costume de usar intervalo máximo de dois anos. Os valores obtidos devem ser compa-
critérios objetivos de mensuração das Para o acompanhamento de pacien- rados com valores de normalidade de
variáveis funcionais pulmonares e a tes em tratamento quimioterápico e/ou uma população de referência. Também,
desinformação vigente sobre testes de radioterápico com potencial de toxici- deve-se estar atento a dados clínicos e
função pulmonar, o que dificulta a ela- dade pulmonar indica-se avaliação fun- epidemiológicos que auxiliem a inter-
boração de um raciocínio fisiopatoló- cional pulmonar antes, durante e após pretação (6, 7). Para haver confiabili-
gico quando do equacionamento diag- a intervenção. dade nos resultados dos testes, devem
nóstico e terapêutico (2). Com o de- O prognóstico de algumas pneumo- ser observados os seguintes itens: o
senvolvimento da medicina respirató- patias, como, por exemplo, a DPOC, equipamento deve ser de boa qualida-
ria, atualmente, é impossível não in- pode ser estabelecido conforme o re- de; sua calibração deve ser diária e re-
cluir os testes de função pulmonar, sultado de indicadores funcionais, no petida sempre que necessário; o pro-
particularmente a espirometria, na ro- caso o VEF1. Lembre-se de que indi- tocolo do laboratório deve seguir os
tina assistencial. víduos adultos normais perdem cerca consensos oficiais (6); os técnicos de-
A quantificação do grau de obstru- de 25 ml de VEF1 anualmente, enquan- vem ser treinados adequadamente e
ção brônquica e a resposta aos bron- to os portadores de DPOC podem per- reavaliados periodicamente; os exames
codilatadores são obrigatórias na as- der até 100 ml/ano. Recentemente, devem ser interpretados por pneumo-
sistência dos pacientes asmáticos, en- Celli e cols. instituíram o índice BODE logistas com experiência e dedicação
fisematosos e bronquíticos. como o preditor mais acurado de mor- ao setor.
A medida dos volumes pulmonares talidade para pacientes com DPOC (3).
faz parte da avaliação de pacientes com Esse índice inclui quatro itens muito Em face disso tudo, os autores es-
enfisema e com infiltrações pulmona- importantes: B – medido pelo índice tão trazendo para este periódico infor-
res difusas. de massa corporal ou “body mass in- mações práticas e de fácil acesso sobre
A medida da capacidade de difu- dex”; O – obstrução, medido pelo este importante capítulo da pneumo-
são (DCO) auxilia na avaliação de en- VEF1; D – medido pelo grau de logia e da medicina, principalmente
fisema e de alterações intersticiais pul- dispnéia; E – exercício, avaliado pelo para os não-especialistas, de modo que
monares difusas. teste da caminhada dos 6 minutos. possam utilizar com mais facilidade
Os testes de broncoprovocação Celli, numa analogia com a “fração esses recursos na prática diária. Con-
(TBP) têm utilidade na investigação da de ejeção”, medida pela ecocardiogra- sideram que a espirometria deva ser um
tosse crônica e na melhor caracteriza- fia, criou a expressão “fração de inspi- teste simples de ser entendido e de fá-
ção da asma em casos de mais difícil ração” (FI) para a relação CI/CPT (ca- cil obtenção. Dessa forma, deve fazer
diagnóstico. pacidade inspiratória/capacidade pul- parte da rotina assistencial para pacien-
Diversas questões eminentemente monar total), observando que a FI é um tes pneumológicos ou não. E insistem
clínicas podem ser esclarecidas com o ótimo preditor da mortalidade por que, da mesma forma que a medida da
auxílio dos testes de função pulmonar. DPOC, independentemente do índice pressão arterial e o eletrocardiograma,
Origem cardíaca, pulmonar ou outra de BODE (4). a medida dos fluxos aéreos e dos volu-
para explicar a dispnéia do meu pacien- Com a evolução dos procedimen- mes pulmonares, através da espirome-
te? Como explicar e como intervir na tos diagnósticos e condutas terapêuti- tria, deve estar inserida no contexto
tosse crônica do meu paciente? Meu cas da pneumologia e da cirurgia torá- básico da avaliação clínica.
paciente com colagenose tem sua fun- cica, a avaliação funcional pulmonar
ção pulmonar comprometida? Como tornou-se importante aliado na busca
está a função pulmonar do meu pacien-
te com cifoescoliose?
das respostas mais efetivas aos ques-
tionamentos necessários. Transplante
E SPIROMETRIA
Os efeitos da exposição a fatores pulmonar, cirurgia redutora de volume Com a espirometria, basicamente
de risco necessitam ser detectados pre- pulmonar, uso de stents e outros dis- são medidos alguns dos volumes pul-
cocemente e, quando necessário, ser positivos nas vias aéreas são procedi- monares, particularmente a capacida-
monitorados periodicamente. Assim, a mentos que exigem testes funcionais de vital, e os fluxos aéreos. Atualmen-
função pulmonar deve ser avaliada pulmonares acurados e realizados com te, utilizam-se equipamentos compu-
antes do ingresso em trabalho com ex- boa qualidade técnica (5). tadorizados, que fornecem, além dos
posição a produtos aerodispersíveis e, Os testes funcionais pulmonares valores numéricos das variáveis men-
periodicamente, durante o período de são realizados dentro de padrões téc- suradas, gráficos das curvas volume-
tempo e fluxo-volume (6). A curva ração máxima e que, portanto, não pode (CVF), plotando volume e fluxo (Fi-
volume-tempo auxilia, principalmen- ser medido pela espirometria simples. gura 2). Para se obter os dados neces-
te, na interpretação de que o tempo de – Volume de Reserva Expiratória sários, o paciente realiza a seguinte
expiração foi adequado. A curva flu- (VRE) – volume máximo que pode ser manobra: inspira até a CPT e, após,
xo-volume, além de também auxiliar expirado após o final de uma expira- expira de maneira forçada e rápida até
na verificação da boa técnica do exa- ção normal. o VR; após, inspira rapidamente do VR
me, é útil na sua interpretação: tipo de – Volume Corrente (VC) – volu- até a CPT. Logo após o início do mo-
distúrbio – obstrutivo, restritivo, ou me expirado ou inspirado durante cada vimento expiratório, o fluxo chega ra-
misto, e presença ou não de obstrução movimento respiratório, em repouso. pidamente ao máximo possível – este
fixa ou variável das vias aéreas. Ana- Seu valor é muito variável, uma vez é o pico do fluxo expiratório – e, a se-
lisar uma espirometria sem essas duas que depende de total repouso do pa- guir, ocorre redução progressiva, à
curvas é o mesmo que interpretar um ciente. medida que se aproxima do VR. O pri-
eletrocardiograma sem a visualização – Volume de Reserva Inspirató- meiro 1/3 da curva expiratória depen-
de todo o traçado. ria (VRI) – volume máximo que pode de, primordialmente, do esforço ex-
Resumidamente, pode-se obter uma ser inspirado a partir do final de uma piratório e, por conseguinte, da co-
espirometria com manobra muito sim- inspiração em repouso. laboração do paciente. Os últimos 2/3,
ples: inspira-se profundamente até en- – Capacidade Inspiratória (CI) – principalmente da retração elástica
cher plenamente os pulmões (capaci- volume máximo que pode ser inspira- pulmonar.
dade pulmonar total) e, em uma expi- do a partir do final de uma expiração – Capacidade Vital Forçada
ração rápida (não tão brusca como na normal: CI = VRI + VC. (CVF) – volume expirado com esfor-
tosse), sopra-se todo o volume de ar – Capacidade Vital (CV) – volu- ço máximo e o mais rapidamente pos-
contido nos pulmões até o maior tem- me máximo que pode ser expirado após sível, a partir de uma inspiração máxi-
po possível (geralmente, não menos a inspiração máxima: CV = VRE + VC ma. Durante sua realização, são medi-
que seis segundos). Com essa mano- + VRI. dos os fluxos instantâneos (FEF 25,
bra, obtêm-se os diversos parâmetros – Capacidade Pulmonar Total FEF50 e FEF75) e o FEF25-75.
necessários, principalmente a capaci- (CPT) – volume de ar nos pulmões – Capacidade Vital Lenta (CVL)
dade vital forçada (CVF), que é o vo- após uma inspiração máxima: CPT = – volume máximo que pode ser elimi-
lume máximo de ar eliminado, e o vo- CV + VR. nado após inspiração máxima, no en-
lume expiratório forçado no primeiro tanto, sem exigência de esforço rápido
segundo (VEF1). O volume residual (VR) e a capa- e intenso. A CVL costuma ser igual à
Os diversos volumes medidos pe- cidade pulmonar total (CPT) não po- CVF, salvo nos pacientes que apresen-
los testes de função pulmonar podem dem ser medidos diretamente pela es- tem obstrução severa, quando a CVF
ser observados na Figura 1, sendo des- pirometria e, sim, por outras técnicas pode tornar-se inferior à CVL, devido
critos a seguir. indiretas (ex. pletismografia, técnica de ao alçaponamento de ar que pode ocor-
– Capacidade Residual Funcional diluição do hélio, técnica de lavagem rer na expiração forçada.
(CRF) – volume de ar nos pulmões do nitrogênio, etc.). – Volume Expiratório Forçado no
após uma expiração normal: CRF = VR Os espirômetros modernos forne- primeiro segundo (VEF1) – volume
+ VRE. cem a curva fluxo-volume para análi- expirado no primeiro segundo da CVF.
– Volume Residual (VR) – volu- se gráfica do fluxo gerado durante a É a variável funcional mais usada na
me retido nos pulmões após uma expi- manobra da capacidade vital forçada prática, particularmente nas doenças
obstrutivas.
– Pico do Fluxo Expiratório
(PFE) – fluxo máximo obtido logo
após o início da CVF (geralmente ao
final de 0,2 segundo). Como é estrita-
Inspiração
VRI mente dependente da vontade, é um
V indicador do grau de colaboração do
o CV
l VC
CV CPT
paciente.
u – Fluxo Médio-Expiratório For-
m VRE VRE çado (FEF25-75%) – fluxo entre 25% e
e CRF
75% da CVF. Os fluxos FEF 25%,
Expiração VR VR FEF50% e FEF75% medem o fluxo ex-
piratório instantâneo nas marcas dos
25%, 50% e 75% da curva fluxo-volu-
Tempo me da CVF. Esses fluxos não são es-
Figura 1 – Subdivisão dos volumes e capacidades pulmonares. senciais na interpretação da espirome-
0 Volume
25 50 75 100
Capacidade vital forçada
Aspectos técnicos
CPT VR
(expiração)
Figura 2 – Curva fluxo-volume. A espirometria deve ser realizada,
preferencialmente, em laboratório es-
pecializado com a participação e sur-
tria, em virtude de sua variabilidade em do do tipo de aerodispersíveis), duran- pervisão de pneumologista com conhe-
diferentes medidas. A relação FEF25- te o período de exposição. Dessa for- cimentos na área de fisiologia respira-
75% / CVF diminui essa variabilidade e ma, pode-se diagnosticar precocemen- tória, sendo as interpretações de sua
pode auxiliar na detecção de distúrbio te doenças ocupacionais relacionadas responsabilidade. Pode, também, ser
ventilatório obstrutivo quando os ou- com o aparelho respiratório. realizada no consultório, devendo se-
tros parâmetros forem normais (VEF1, b) Quantificação do distúrbio – guir sempre as exigências técnicas ha-
CVF, VEF1 / CVF) e houver quadro É a única maneira de fazer a medida bituais.
clínico sugestivo. objetiva das anormalidades funcionais
pulmonares.
a) Investigação de sintomas – Preparo para o teste
Indicações Dispnéia e tosse são indicações formais
para a realização de testes funcionais O paciente deve ser instruído para
A espirometria é realizada de roti- pulmonares. não usar broncodilatador por um pe-
na na quase totalidade das avaliações d) Acompanhamento da evolução ríodo dependente do seu tempo de ação
pneumológicas, independentemente de e avaliação da resposta terapêutica (mínimo de 4 horas), bem como evitar
a origem do processo ser pulmonar ou – Tanto em procedimentos cirúrgicos café, chá, álcool e, principalmente, ci-
extrapulmonar. Suas indicações mais quanto clínicos, o resultado terapêuti- garro. O exame deve ser precedido de
freqüentes são: co deve ser medido também por ava- repouso, durante o qual um questioná-
a) Diagnóstico – Quando analisa- liação funcional, que em conjunto com rio respiratório deve ser preenchido
da em conjunto com os dados clínicos dados clínicos consegue demonstrar (11). Caso o paciente apresente expec-
e radiológicos, pode confirmar a hipó- objetivamente a recuperação do pa- toração volumosa, o teste deve ser pre-
tese de doença obstrutiva, restritiva, ou ciente. Em doenças de curso crônico, cedido de toalete brônquica. Devem ser
mista. Também pode detectar precoce- como DPOC, asma e infiltrações in- registrados idade, sexo, peso e altura,
mente o surgimento de doenças pulmo- tersticiais difusas (8), a avaliação fun- que serão utilizados na obtenção dos
nares, particularmente em fumantes, cional seqüencial possibilita informa- valores previstos. Para a população
como no caso da DPOC, antes do sur- ções sobre o curso da doença e perío- brasileira, a raça não tem importância
gimento de manifestações clínicas ou dos de agudização da mesma, de gran- na obtenção desses valores. As condi-
alterações radiológicas. A Norma Re- de importância na formulação do es- ções atmosféricas devem ser constan-
gulamentadora Número 7 (NR7) do quema terapêutico. tes no laboratório, principalmente tem-
Ministério do Trabalho tornou obriga- e) Avaliação de incapacidade – A peratura (20oC) e pressão (nível do
tória a avaliação dos trabalhadores ex- disfunção é considerada acentuada mar), para evitar erros nas mensura-
postos a produtos aerodispersíveis (po- quando a espirometria demonstrar dis- ções. Se necessário, os valores volu-
eiras ou gases), antes da admissão no túrbio ventilatório severo, obstrutivo métricos obtidos devem ser corrigidos
trabalho, e a cada 1-2 anos (dependen- ou restritivo (9). Nas doenças respira- para essa referência.
Não Sim
de. A obesidade é um fator de confu- para a quantificação do distúrbio, como e, para um paciente com sarcoidose,
são nesses casos, por impedir o aumen- difusão, consumo de O2, medida de va- não há qualquer correlação com sobre-
to da CPT na presença de obstrução. riáveis no teste de caminhada, medida vida. Por outro lado, uma redução leve
Quando possível, a classificação de um da CPT e das pressões respiratórias má- do VEF1 em asma muitas vezes ocorre
distúrbio como inespecífico é sempre ximas. Todas estas informações devem em pacientes assintomáticos, enquan-
evitado através da correlação com da- ser analisadas em conjunto com dados to em um paciente com obstrução tra-
dos clínico-radiológicos. clínicos e radiológicos que possibili- queal pode significar um nível eleva-
O DVI só deve ser considerado tem melhor avaliação da limitação fun- do de obstrução, justificando tão ime-
quando: cional. diata intervenção. Mas, essa classifi-
• Não há dados indicativos de doen- A quantificação do distúrbio obs- cação é utilizada como uma padroni-
ça restritiva, asma ou DPOC trutivo relaciona-se à queda do VEF1, zação, na tentativa de chamar a aten-
• CV > 50% previsto enquanto que a CVF é a variável rela- ção para o grau de obstrução, ou res-
• CVF pós-BD permanece redu- cionada ao distúrbio restritivo (Quadro trição. Além disso, deve sempre levar
zida 1). Ambas devem ser analisadas con- em conta a doença subjacente.
• FEF25-75/CVF < 150% previsto siderando-se seus percentuais em re-
• Difusão CO normal lação ao valor previsto. A classifica-
ção da gravidade baseou-se, principal- Resposta ao broncodilatador
mente, em estudos de grupos de pa-
Quantificação do distúrbio cientes com DPOC (para o VEF1 no A resposta ao broncodilatador é
distúrbio ventilatório obstrutivo) e de avaliada pela variação do VEF1, antes
Freqüentemente o grau de obstru- fibrose pulmonar (para a CVF no dis- e após 10 minutos do uso de BD (inala-
ção ou restrição descrito no laudo fi- túrbio ventilatório restritivo). Dessa ção de 400 mcg de fenoterol ou salbuta-
nal não está de acordo com sintomas e forma, a quantificação da gravidade do mol ou terbutalina). Em alguns casos,
limitação funcional do paciente. Sem- distúrbio na espirometria tem pouca a resposta ao BD pode ser expressa pela
pre que possível, deve-se comparar correlação com prognóstico em outras variação da CVF ou do FEF25-75%. Em
com testes anteriores, descrevendo essa doenças obstrutivas, ou restritivas. asmáticos, esse período de tempo pode
progressão no laudo. Também devem- Uma CVF < 50% do previsto em um ser reduzido para até 5 minutos (24).
se obter dados complementares atra- paciente com fibrose pulmonar indica, Considera-se que existe resposta ao bron-
vés de outros testes, mais sensíveis freqüentemente, prognóstico sombrio codilatador quando ocorre:
CAPACIDADE PULMONAR
TOTAL)
ria significativamente importante e es- complicações e mortalidade (29). resultados são lidos diretamente, em
taria associadada à piora da qualidade Quando a DLCO é inferior a 50%, o mmHg. Os valores da Pemax e da Pi-
de vida e maior escore de dispnéia. risco é considerado elevado. Em pa- max apresentam boa correlação com
cientes portadores de carcinoma brôn- dados clínicos de limitação funcional
quico submetidos à radioterapia, a e dispnéia (32).
C APACIDADE DE DIFUSÃO DLCO diminui significativamente
após 6 meses.
A capacidade de difusão para o Indicações
monóxido de carbono (DCO) é o úni-
co método não invasivo capaz de in- Interpretação – Diagnóstico diferencial de
formar sobre a integridade da membra- dispnéia ou de quadro restritivo inex-
na alvéolo-capilar e a efetividade das Os resultados encontrados para plicado.
trocas gasosas. Essa técnica é realiza- DLCO são expressos em percentuais – Avaliação da integridade da mus-
da através da inalação da mistura de em relação ao previsto, conforme o culatura respiratória em doenças que
CO até o nível da CPT, seguida de um Quadro 3. afetam diafragma e musculatura inter-
período de 10 segundos de apnéia, e a costal ou acessória.
ulterior eliminação do gás alveolar. O – Avaliação de fadiga diafragmáti-
aparelho analisa a quantidade inicial de
CO (inspirada) e a quantidade final de
P RESSÕES
MÁXIMAS
RESPIRATÓRIAS ca e muscular em pacientes com DPOC.
– Avaliação de resposta à fisiotera-
CO (expirada), informando o quanto pia e reabilitação pulmonar.
de CO difundiu-se pela membrana Para a avaliação da integridade fun-
alvéolo-capilar. cional da musculatura respiratória, de-
vem-se usar testes que meçam os efei- Interpretação
tos do diafragma e dos outros múscu-
Indicações los envolvidos no processo ventilató- São utilizados os valores referen-
rio. Os músculos podem estar prima- ciais da tabela de Black (1969), sendo
– Diagnóstico e quantificação de riamente comprometidos como nas consideradas alteradas as pressões in-
enfisema pulmonar. miopatias e neuropatias, e na esclero- feriores a 60% em relação aos valores
– Diagnóstico e acompanhamento dermia, ou secundariamente devido à previstos.
de doenças intersticiais. fadiga muscular, como ocorre em pa-
– Avaliação de incapacidade e de cientes enfisematosos (30). Através das
risco operatório.
– Diagnóstico diferencial da
medidas objetivas, obtêm-se informa-
ções que permitem avaliar o grau de
T ESTES DE EXERCÍCIO
dispnéia de origem indeterminada. limitação funcional. A medida da ven- Os testes de exercício podem de-
tilação voluntária máxima (VVM), monstrar alterações da função pulmo-
A diminuição do DLCO ocorre de- pouco reprodutível e de baixa especi- nar não observadas em repouso, sendo
vido a dano da membrana alvéolo-ca- ficidade, a medida da pressão transdia- particularmente úteis para diagnóstico
pilar por destruição (enfisema) ou es- fragmática, e a eletromiografia não são diferencial da dispnéia, avaliação de
pessamento (fibrose, alveolite, edema, utilizados na rotina. Na prática, me- risco cirúrgico e de resultados terapêu-
doenças do colágeno, proteinose alveo- dem-se as pressões expiratória e ins- ticos (33).
lar, infiltrações intersticiais), ou devi- piratória máximas (PEMax e PIMax),
do a alterações perfusionais (por exem- através do manuovacuômetro. Mede-
plo, embolia pulmonar), ou mesmo por
anemia (25). Em asmáticos, policitê-
se a PEMax com os pulmões em CPT,
fazendo manobra expiratória forçada
T ESTE DA CAMINHADA DOS
6 MINUTOS (FASE I)
micos, em situações de hipermetabo- contra o bocal do aparelho. A PIMax,
lismo (hipertermia) ou em vasculites, com os pulmões em VR, fazendo ma- O teste de caminhada dos seis mi-
a DLCO pode estar aumentada. A nobra inspiratória forçada através do nutos é um teste de exercício submá-
DLCO é marcador quantitativo de en- bocal conectado ao aparelho (31). Os ximo que pode ser utilizado como des-
fisema pulmonar (26, 27), sendo im-
portante na avaliação pré e pós-opera- Quadro 3 – Quantificação da capacidade de difusão (DLCO)
tória da cirurgia redutora de volume
pulmonar (28). Alguns consideram a 75 – 120% intervalo de normalidade
≥ 120% aumentada
DLCO uma variável preditora da fun- 75 – 60% leve redução
ção pulmonar pós-operatória superior 59 – 40% moderada redução
ao VEF1 para avaliação do risco de < 40% severa redução
fecho substituto para a avaliação do candidatos a transplante (35). Contra- ção primária está na membrana alvéo-
desempenho funcional do paciente em indicações absolutas para a realização lo-capilar (por exemplo, infiltrações
suas atividades diárias. É um teste que do teste: angina instável e infarto do difusas) e melhora da PaO2, quando a
representa a soma de variados fatores: miocárdio no mês anterior, estenose alteração primária ocorre na relação
função pulmonar, função cardíaca, de- aórtica severa, embolia pulmonar ou ventilação/perfusão (por exemplo,
sempenho muscular, estado nutricio- arterial recentes. DPOC).
nal, circulação periférica, condições
ortopédicas e até função psíquica e
cognitiva. Indicações: comparações pré Interpretação Indicação
e pós-tratamento (cirurgia redutora do
enfisema, transplantes, DPOC, hiper- Quedas na SpO2 superiores a 3% – Avaliar distúrbios das trocas ga-
tensão arterial pulmonar primária), são anormais e costumam estar asso- sosas durante exercício em diversas si-
medida do estado funcional (DPOC, ciadas a distúrbios difusionais. A FR tuações, como, por exemplo, DPOC,
fibrose cística, insuficiência cardíaca, quando aumenta significativamente fibrose pulmonar, síndrome hepatopul-
fibromialgia, avaliação de idosos) e (próximo aos 50 mpm) está associada monar e shunts pulmonares.
preditor de mortalidade (DPOC, hiper- a distúrbios ventilatórios. Quando a FC
tensão arterial primária, fibrose pulmo- aumenta até próximo da FC submáxi-
nar, insuficiência cardíaca, etc.). ma ou permanece inalterada ou, ain- Teste de broncoprovocação
Avalia a tolerância ao exercício da, reduz-se, é um indicativo de anor- por exercício
durante caminhada de 6 minutos, em malidade cardiocirculatória. A distân-
superfície plana, com 30 metros retilí- cia a ser percorrida é um parâmetro Através deste teste, verifica-se a
neos, marcados pelo menos de três em importante, tendo correlação prognós- presença de broncoespasmo induzido
três metros. Utiliza-se como sinaliza- tica para muitas doenças (DPOC, hi- por exercício, fenômeno freqüente em
ção para o retorno e a volta do pacien- pertensão arterial primária, insuficiên- asmáticos. O paciente realiza uma es-
te pelo corredor um cone de trânsito cia cardíaca). pirometria basal (interessa o VEF1) e,
laranja. No início e ao final do teste, após cumprir um protocolo de exercí-
monitoram-se as freqüências cardíaca cio preestabelecido e alcançar a FC
e respiratória, SpO 2 , e o grau de Gasometria arterial pós-exercício submáxima, fadiga ou dispnéia inten-
dispnéia através da escala de Borg (Fi- sa, realiza manobras espirométricas
gura 6). A queda da SpO2 após exercí- Este teste faz parte da gasometria (VEF1) a cada 5 minutos.
cio está associada a distúrbio difusio- trifásica, no qual o paciente é subme-
nal e como critério de avaliação para tido a três exames gasométricos: em
cirurgia torácica tem especificidade repouso, com O2 a 100% e após exer- Indicações
superior ao VEF1 (34). Esse teste é uti- cício. Os pacientes que apresentem hi-
lizado como alternativa da medida do poxemia em repouso poderão ter as – Diagnóstico de broncoconstrição
consumo de O2 (VO2) na avaliação de seguintes anormalidades com o exer- induzida por exercício.
pacientes com pneumopatia grave, cício: piora da PaO2, quando a altera- – Investigação de dispnéia não ve-
rificada em repouso.
– Avaliação de aptidão atlética em
FV FR Escala SaO2 Distância Dor nas asmáticos.
de BORG percorrida pernas
Repouso Interpretação
(pré)
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