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À Deus,
Por ter criado nossa moradia nesse universo e ter me permitido habitar e evoluir nele.
Agradecimento especial por sempre me iluminar com a Sua presença.
Aos meus pais Dr. Taniusmar e Rosimary,
Expresso a minha eterna gratidão, por estarem comigo nessa jornada terrena e por
partilharem o conhecimento, generosidade, sabedoria, amor, virtudes diversas e me
apoiarem em todos os momentos de minha vida.
Aos meus irmãos, Dr. Deyvid, Dr. Rodrigo e Dr. Diego,
Pelo companheirismo, amor e proteção eterna.
Aos familiares,
Meus agradecimentos. Meu tio Dr. Wilmar e minha tia Lêda, extraordinários e sábios
seres humanos a quem amo e tenho enorme carinho.
Agradeço, também, à ótima e esforçada equipe que me acompanhou na construção e
disseminação dessa ferramenta de conhecimento.
Autores Colaboradores
Adriana Santos de Oliveira
Médica formada pela Universidade de São Paulo (2006-2011). Cirurgiã geral (2014-2016) e cirurgiã
de Cabeça e Pescoço (2016-2018) pela Universidade de São Paulo.
Aldenir Rocha de Oliveira Filho
Médico Formado pela Universidade Federal do Ceará /Sobral – UFC (2009-2015). Residente de
Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de Sobral- SCMS (2019-2021). Mestrando em
Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Ceará – UFC (2019-2020). Pós - Graduado em
Medicina de Família pela Universidade Federal do Ceará- UFC (2016-2017). Experiência
Profissional: Médico Emergencista Clínico do Hospital Regional Norte - HRN.
Giovana Battaglia
Estudante do quinto ano de Medicina da Universidade Nove de Julho, campus Vergueiro.
Thais Vasconcelos
Médica Formada pela Universidade Federal do Piauí – UFPI (2011-2017). Cirurgiã Geral pela Santa
Casa de Misericórdia de Sobral/Universidade Federal do Ceará – UFC (2018-2020). Experiencia
Profissional: Médica Plantonista do Hospital da Unimed Sobral. Médica Plantonista do Hospital
Dom Walfrido.
Parte 1 | Capítulo 1
Cirurgia segura
Autora: Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho
Coautor: Dra. Alessandra Muoio
2. Fatores humanos
No período da década de 1970 e começo dos anos 1980, os acidentes aéreos de grande
porte eram comuns (ao menos dois por ano). Só em 1977 foram oito casos registrados,
somando cerca de 980 mortos. E, à medida que o número de voos comerciais crescia,
aumentava também a frequência dos desastres. Investigações apontavam que a maior
parte das ocorrências era devida a falhas humanas. Erros que, segundo investigadores da
época, poderiam ser evitados eliminando ambientes hostis dentro das cabines de comando
e possibilitando o trabalho em equipe, com a tripulação envolvida ativamente na solução
dos problemas a bordo.
3. O que a aviação nos ensinou
As estatísticas forçaram as autoridades da época a repensar a segurança do setor. Em
1979, a Nasa criou o sistema de formação profissional e compartilhamento de informações
conhecido por Gerenciamento de Recursos da Tripulação (CRM, na sigla em inglês, de Crew
Resource Management ), hoje utilizado em todas as escolas de aviação. Divisor de águas, o
programa de treinamento instituiu mudanças nos comportamentos da equipe de voo,
tripulação e demais integrantes das companhias que operam na terra. Com a medida, a
frequência de acidentes envolvendo aviões comerciais se reduziu drasticamente, colocando
o veículo entre os mais seguros do mundo. Hoje, para cada 100 mil milhas viajadas, a média
de morte é de 0,01, enquanto que de trem e carro esse número sobe para 0,04 e 0,94,
respectivamente.
Tendo sua origem no programa de pesquisa de fatores humanos da NASA, o CRM tem
como meta o uso eficaz de todos os recursos disponíveis para garantir segurança e
eficiência nas operações aéreas. Seu treinamento busca a mudança nas atitudes e nos
comportamentos da tripulação, da equipe de voo e de todos os integrantes das companhias.
A discussão em torno do modelo de segurança da aviação aplicado aos cuidados na
saúde já tinha sido levantada pelos órgãos ligados ao setor há alguns anos. Em 1999, o
Institute of Medicine (IOM) publicou o relatório “Errar é Humano”, constatando que falhas do
trabalho em equipe e comunicação respondiam por 75% dos erros médicos nos EUA. E
ainda nos anos 1990, a Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) criou o
MedTeams Project, tomando como modelo o TeamSteps da aviação. Hoje, a Joint
Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) recomenda às
instituições que solicitam a acreditação incorporar cursos de teamwork e comunicação a
seus programas de educação profissional.
• A revisão verbal, uns com os outros, dos elementos críticos de seus planos para a
cirurgia, usando as questões da Lista de Verificação como guia
IV – Definições
V –Ampliações
Atualmente há uma discussão em torno da ampliação do checklist de cirurgia segura
para outras áreas da medicina. Dentre elas, o checklist de parto seguro está ganhando
atenção especial.
A lista de verificação, desenvolvida e testada em parceria com a Ariadne Labs, um centro
conjunto do Brigham and Women’s Hospital e do Harvard T.H. Escola de Saúde Pública Chan,
apoiada pela Fundação Bill & Melinda Gates, sintetiza as Diretrizes e as Recomendações da
OMS existentes baseadas em evidências em uma ferramenta prática e única, com o objetivo
de melhorar a aderência às melhores práticas, incluindo comunicação adequada no
momento do parto.
A lista de verificação identifica quatro pontos de pausa correspondentes a um período
específico no fluxo normal de trabalho de um profissional de saúde: quando a mãe é
internada, imediatamente antes da expulsão (ou antes da cesariana), dentro de 1 hora após
o nascimento e antes da mãe e do recém-nascido receberem alta.
Esse checklist foi usado em plano piloto em nove países da África e da Ásia, com
resultados significativos. O próximo passo é explorar a viabilidade de usar a lista de
verificação em diversos contextos em todo o mundo.
Referências
1. CAIRUS, Henrique. Da natureza do homem Corpus hippocraticum. História, ciências, saúde-Manguinhos, v. 6, n. 2,
p. 395-430, 1999.
2. HAYNES, Alex B.; BERRY, William R.; GAWANDE, Atul A. What do we know about the safe surgery checklist now?.
Annals of surgery, v. 261, n. 5, p. 829-830, 2015.
3. HELMREICH, Robert L.; MERRITT, Ashleigh C.; WILHELM, John A. The evolution of crew resource management
training in commercial aviation. The international journal of aviation psychology, v. 9, n. 1, p. 19-32, 1999.
4. MAHAJAN, Ravi P. The WHO surgical checklist. Best Practice & Research Clinical Anaesthesiology, v. 25, n. 2, p.
161-168, 2011.
5. MCCONAUGHEY, Edie. Crew resource management in healthcare: The evolution of teamwork training and
MedTeams®. The Journal of perinatal & neonatal nursing, v. 22, n. 2, p. 96-104, 2008.
. MOREY, John C. et al. A transition from aviation crew resource management to hospital emergency departments:
the MedTeams story. In: Proceedings of the 12th international symposium on aviation psychology. Wright State
University Press Dayton, OH, 2003. p. 14-17.
7. Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo desafio global para a segurança do paciente. Cirurgias Seguras
Salvam Vidas. Tradução Nilo MS, Duran IA. Rio de Janeiro: Organização Panamericana da Saúde (OPAS); 2009.
. PIZZI, Laura; GOLDFARB, Neil I.; NASH, David B. Crew resource management and its applications in medicine.
Making health care safer: A critical analysis of patient safety practices, v. 44, p. 511-519, 2001.
Parte 1 | Capítulo 2
Nomenclatura cirúrgica
Autora: Paula Daher Rassi Guimarães
Coautor: Dr. Higor Chagas Cardoso
Nomes:
Referências
1. GOFFI, Fábio Schimidt et al. Técnica Cirúrgica: Bases
Anatômicas. Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia. 4ª Ed, São
Paulo, Atheneu, v. 822, 2004.
2. MARQUES, Ruy Garcia. Técnica operatória e cirurgia
experimental. Grupo Gen-Guanabara Koogan, 2000.
3. TOWNSEND, Courtney et al. Sabiston Tratado de Cirurgia: a base
biológica da prática cirúrgica moderna. Elsevier Brasil, 2014.
Parte 1 | Capítulo 3
1. Introdução
O ambiente cirúrgico tem grande importância para o sucesso da
realização de seus procedimentos, seja qual for o porte cirúrgico.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)¹ na
série de segurança do paciente de 2013 as infecções relacionadas ao
sítio cirúrgico ocupam a terceira posição entre todas as infecções em
serviços de saúde, sendo 14% a 16% das encontradas em pacientes
hospitalizados.
A manutenção desse espaço conta com o preparo dos
profissionais envolvidos, do sítio cirúrgico e com a qualidade dos
instrumentos utilizados. A grande relevância da metodologia
empregada está no risco que a ruptura com a esterilidade pode
representar aos pacientes cirúrgicos.
2. Roupa Privativa
Consiste na calça e na camisa que devem ser utilizados dentro do
ambiente do centro cirúrgico. Por ser apenas limpo, o uniforme não
pode tocar em superfícies estéreis.
A camisa precisa cobrir todo o tronco, do final do pescoço até o
início da pélvis. Devido a riscos de contato dos braços com fluidos
orgânicos, deve ter manga mais longa. Isso também protege contra a
liberação de microrganismos das axilas. A calça precisa cobrir
totalmente os membros inferiores, protegendo o trabalhador e
também evitando a liberação ao ambiente da flora de suas pernas e
seu períneo.
Alguns estudos sugerem calças com fechamento nos tornozelos
como as mais adequadas para impedir a liberação dessa flora.
Sua função é evitar a liberação de microrganismos da pele, do
tronco e dos membros.
3. Máscara
Deve ser utilizada dentro da sala cirúrgica, sempre que algum
instrumento estéril esteja exposto ou se a cirurgia estiver em
qualquer fase de andamento.
A máscara deverá cobrir totalmente a boca e o nariz.
Sua função visa proteção tanto do paciente quanto do profissional
de saúde. Ela evita a liberação de microrganismos oriundos do nariz
e da boca dos profissionais, protegendo o cliente de contaminação.
Do lado do profissional, protege suas mucosas de respingos de
sangue e outros fluidos do cliente.
Caso no ato cirúrgico ocorra da máscara cair é papel do circulante
arrumá-la.
4. Gorro
Deve ser utilizado desde a entrada no centro cirúrgico. Deverá
cobrir por completo o
couro cabeludo, cabelo, costeletas e orelhas. Sua função é
prevenir queda de partículas e/ou cabelos no sítio cirúrgico.
7. Luva estéril
Tem dupla função, protegendo tanto o paciente quanto quem
realiza o procedimento.
É o que efetivamente deixa as mãos estéreis, contudo, mesmo
assim é necessário o preparo das mãos antes de seu uso, bem como
sua correta colocação.
Deve ser calçada logo após a escovação adequada de mãos e
antebraço, secagem adequada e a colocação do avental cirúrgico. Só
calçar as luvas estéreis após o ajuste total do avental. Deve seguir os
seguintes paços de colocação:
8. Protetor ocular
Recomendado especialmente para proteção dos trabalhadores.
Seu modelo deve evitar o contato da mucosa ocular com sangue e
outros fluidos.
ESPECIAIS SÍNTESE
INSTRUMENTADOR CIRURGIÃO
DIERESE HOMEOSTASIA
8.2 Diérese
O termo diérese diz respeito a corte e separação, sendo, portanto,
necessários para a dissecção de estruturas durante o procedimento
• Bisturis
a. Cabo de bisturi número 3
b. Cabo de bisturi número 4
• Tesouras de Metzenbaum
a.Tesoura de Metzenbaumreta
b.Tesoura de Metzenbaumcurva
• Tesoura de Mayo
8.3 Homeostasia
São os instrumentos necessários para o controle do sangramento
do paciente
• Pinça de Crile
a. Pinça de Crile reta
b. Pinça de Crile curva
• Pinça de Rochester
a. Pinça de Rochester reta
b. Pínça de Rochester curva
• Pinça de Kocher
a. Pinça de Kocher reta
b. Pinça de Kocher curva
• Pinça de Mixter
8.4 Síntese
• Pinça de Adson: pinça fina para estruturas mais delicadas
a. pinça de Adson com dente
b. pinça de Adson sem dente
• Pinça anatômica
a. pinça anatômica com dente
b. pinça anatômica sem dente
• Porta-agulha
8.5 Especiais
São instrumentos utilizados propriamente durante o procedimento
para auxiliar e acessar mais facilmente o paciente.
• Afastador de Farabeuf
• Afastador de Doyen
• Afastador de Finochietto
• Afastador de Gosset
• Pinça de Collin Coração
• Pinça de Allis
Conclusão
De fato é indiscutível a necessidade de um ambiente cirúrgico que
esteja adequadamente preparado, do preparo de instrumentos e do
paciente para um procedimento bem-sucedido.
Busca-se cada vez mais aprimorar técnicas e instituir práticas
pragmáticas de atuação. O futuro das cirurgias e seu sucesso até o
momento está amplamente relacionado a essas práticas, seja desde
o preparo das mãos, uma prática clássica e institucionalizada até
limpeza dos tecidos vivos, com práticas e substâncias inovadas com
frequência.
Este capítulo tem grande importância para qualquer profissional
da área de saúde que pretenda atuar em procedimentos cirúrgicos,
uma vez que dá a base desses procedimentos e seus instrumentos
respectivamente necessários.
O que se deve levar de aprendizado são as técnicas e os
procedimentos de paramentação da equipe, sempre dando a devida
atenção ao preparo das mãos e colocação adequada dos
equipamentos de segurança, a importância de se saber nomes e
localização dos instrumentos cirúrgicos. Por fim, é necessário saber
a boa utilização de meios químicos de antissepsia, suas atuações e
suas limitações.
Referências
1. Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Critérios diagnósticos de infecção
relacionada à assistência à saúde. Série Segurança do Paciente e Qualidade em
Serviços de Saúde; 2013.
2. WHO, World Health Organization, First Global Patient Safety Challenge Clean Care.
3. AMB – Associação Médica Brasileira. Prevenção da infecção hospitalar. Sociedade
Brasileira de Infectologia; 2001. Ago 2001 [acesso em 2020 jan 7].
4. Moriya T, Módena JLP. Assepsia e antissepsia: técnicas de esterilização.
Medicina (Ribeirão Preto). 2008;41 (3): 265-73 [acesso em 2020 jan 7].
5. Ayliffe GA, Lilly H. Cross-infection and its prevention. J.Hos p. Infect., 1985: 6: 47-57.
Suppl. B.
. Carter R. Ritual and risk. Nurs.Times, 1990; 8(13):63-4.
7. Coop G. et al. Footwear practices and operating room contamination. Nurs. Res., 1987;
36(6):366-9.
. Garner JS. CDC Guideline for prevention of surgical wound infections. Today’s OR
Nurse, 1986; 8(3):33-40.
9. Garner JS. Guideline for isolation precautions in hospitals. Inf.Cont.Hosp.Epidem.,
1996; 17(1): 50-80.
10. Gaya H. Is it necessary for staff and visitors in an intensive care unit to wear masks,
hats, gowns and overshoes? Nurs. Times, 1990; 86(13): 63-4.
Parte 1 | Capítulo 4
1. INTRODUÇÃO
Sempre que ocorre uma agressão ao organismo humano, qualquer que seja a causa ou
mecanismo, desencadeia-se um complexo conjunto de respostas que são iniciadas
imediatamente, necessárias para manter a homeostase e a vida. Se o processo que levou à
lesão tecidual é de pequena intensidade, a resposta endócrina e imunológica tende a ser
temporária e a restauração da homeostase metabólica e imune prontamente ocorre. No
entanto, em pacientes vítimas de trauma extenso, a resposta à agressão sofrida pode ser
exacerbada, causando disfunção orgânica e aumentando os riscos de mortalidade.
É necessário, portanto, que o cirurgião esteja familiarizado com os eventos endócrinos,
metabólicos e imunológicos que ocorrem no organismo do paciente submetido a
intervenções cirúrgicas e indivíduos que sofreram grandes traumas, para que esses
eventos possam ser evitados ou manejados corretamente.
Para que a resposta ao trauma ocorra é necessária a integração e a sincronização de
três elementos fundamentais: o Sistema Nervoso Autônomo, o Hipotálamo e a Hipófise. A
porção aferente Sistema Nervoso Autônomo capta o estímulo dos nociceptores e leva a
informação até o Hipotálamo que será o grande coordenador da REMIT. Por sua vez, a
porção eferente, após a resposta do hipotálamo, será responsável pelo estímulo da
produção de hormônios contrarreguladores que ajudarão a gliconeogênese.
2. RESPOSTA METABÓLICA
A resposta metabólica pode ser dividida em três fases: Fase Ebb, Fase Flow e Fase
Anabólica.
A fase EBB, segundo a literatura, ocorre imediatamente após o trauma, caracterizando-
se por uma franca instabilidade hemodinâmica, representada por hipovolemia, hipotensão,
diminuição do fluxo sanguíneo, aumento da resistência vascular sistêmica, além de
aumento da insulina, de catecolaminas, e de gluco e mineralocorticoides circulantes,
esgotamento do glicogênio hepático, distúrbios no transporte de oxigênio para as células, e
aumento do consumo de oxigênio. Nessa fase, apesar do aumento nos hormônios
contrarreguladores, é marcada por hipometabolismo.
Após esse período, inicia-se a segunda fase. A fase Flow, simbolizada por uma retenção
hídrica, aumento da permeabilidade vascular, diminuição da resistência vascular, sistêmica,
com aumento crescente das catecolaminas, glicocorticoides, produzindo hiperglicemia e
proteólise. Nessa fase o hipermetabolismo é encontrado.
Após o término da fase Flow, inicia-se a fase anabólica que, dependendo da intensidade
do trauma ou do procedimento cirúrgico pode levar meses para ser concluída. Os
hormônios que estavam elevados voltam gradativamente aos níveis séricos normais.
Ocorre o anabolismo proteico, seguido do anabolismo lipídico. Os pacientes nessa fase
tendem a recuperar o seu peso habitual que foi perdido durante a fase catabólica.
Hipovolemia Hipervolemia
Hipometabolismo Hipermetabolismo
3. RESPOSTA ENDÓCRINA
A resposta hormonal ao trauma tem como um de seus principais objetivos o estímulo a
gliconeogênese por meio do estímulo da produção de cortisol, catecolaminas, hormônio
antidiurético (ADH), hormônio do crescimento (GH), entre outros. Esses hormônios, além de
auxiliarem a formação de glicose, promovem alterações fisiológicas no organismo do
paciente.
Após a injúria, o organismo do paciente traumatizado necessita de uma grande
demanda de glicose para que a restauração da homeostase ocorra. A glicose armazenada
no fígado, dependendo da extensão da lesão, pode ser consumida nas primeiras 12 horas
pós-trauma. Por essa razão, processo de gliconeogênese é iniciado.
A glicose será formada por meio de substratos não glicídios: as proteínas musculares e
os lipídios que, após a proteólise e lipólise, serão transformados em aminoácidos, ácidos
graxos e glicerol. Esse processo, estimulado pelo cortisol, pode ser exacerbado em
pacientes vítimas de traumas extensos. A proteólise descontrolada leva a um
comprometimento da musculatura diafragmática, fenômeno que traz prejuízo a dinâmica
respiratória, e a perda de proteínas viscerais.
A insulina, hormônio essencialmente anabólico, tem sua secreção reduzida e tem sua
resistência periférica aumentada para aumentar o aporte sérico de glicose. A importância
do sistema insulina-glucagon no controle do nível de glicose sanguínea está no fato de que
o cérebro utiliza apenas glicose como fonte energia, portanto, é essencial que a glicose
seja sempre mantida acima dos níveis críticos.
A produção das catecolaminas pela medula adrenal, além de auxiliarem o processo de
gliconeogênese, estimulam a taquicardia para aumentar o débito cardíaco durante a
primeira fase da REMIT, promovem taquipneia para aumentar o aporte de 02 para os
tecidos, aumento da atividade plaquetária e fibrinólise. Os níveis séricos de adrenalina e
norepinefrina apresentam-se elevados por 12-24h, dependendo do tamanho do trauma.
A aldosterona é estimulada pelo Sistema Nervoso Autônomo e pelo aumento do
potássio liberado com a lesão celular causada pelo trauma. Esse hormônio contribui para a
retenção hídrica e diminui a excreção de sódio, além de aumentar a excreção de potássio, a
fim de normalizar seus níveis séricos e de H+. Sendo assim, existe no pós-operatório uma
tendência natural a alcalose metabólica.
O hormônio antidiurético (ADH), nos casos de grandes traumas, sua secreção chega a
elevar, segundo estudos, 50 vezes. Suas ações são osmorreguladoras, vasoativas e
metabólicas. Provoca reabsorção de água livre dos túbulos distais e coletores dos rins.
Sendo assim, podemos encontrar oliguria e edema no pós-operatório.
Além dos citados acimas, o hormônio do crescimento (GH) também está presente na
REMIT. Apesar de ser um hormônio anabólico, o GH, no trauma, estimula a lipólise e,
consequentemente, auxilia na produção de glicose para o organismo.
HORMÔNIOS AÇÕES
4. RESPOSTA IMUNOLÓGICA
Durante a fase aguda do trauma os macrófagos, linfócitos e leucócitos, além de
migrarem para o local lesado, promovem a síntese de citocinas. Essas substâncias atuam
como hormônios e podem ter ações a distância. Essas ações tanto podem ser benéficas
ao organismo quanto maléficas.
O TNF-a, IL-1, IL-2 causam anorexia, atraso na cicatrização, pois podem desencadear
uma resposta inflamatória exacerbada no trauma. Além disso, elevação de PCR e
fibrinogênio também pode ser encontrado.
5. MANEJO DA REMIT EM CIRURGIAS
ELETIVAS
Pacientes candidatos a cirurgias eletivas podem ter uma Resposta ao Trauma
controlada. A avaliação pré-cirúrgica, a decisão na técnica a ser utilizada e o manejo
correto do jejum pré-operatório devem ser estimulados. É sabido que o jejum prolongado
pode levar um estado catabólico. Por esse motivo, a hidratação com Soro Glicosado 5%
deve ser realizada a fim de minimizar as chances de hipermetabolismo.
Além disso, sempre que possível, as técnicas cirúrgicas laparoscópicas devem ser
priorizadas. Pacientes submetidos a estas técnicas, apresentam um grau menor de
complicações pós-operatórias devido à menor agressão tecidual e, por consequência,
apresentam uma menor resposta endocrinometabólica ao trauma.
A ansiedade pré-operatória também é conhecida por aumentar a liberação de
catecolaminas pelo paciente. Como explicado anteriormente, isso resultará em aumento da
pressão arterial, aumento da frequência cardíaca e uma maior chance de arritmia. Por essa
razão, estudos mostram que o uso de benzodiazepínicos no pré-operatório para controlar a
ansiedade dos pacientes é benéfico e deve ser estimulado.
REFERÊNCIAS
1. Lemos MF et al . A informação no pré-operatório reduz a ansiedade pré-operatória em pacientes com câncer
submetidos à cirurgia: utilidade do Inventário Beck de Ansiedade. Rev. Bras. Anestesiol., Campinas, 2019;
69(1): 1-6. [acesso em 2019 out. 5].
2. Sousa JAG Programa de Autoavaliação em Cirurgia – Perspectivas Atuais em Videolaparoscopia – Colégio
Brasileiro de Cirurgiões.
3. Nunes JM. Resposta Neuroendócrina e Metabólica ao Stress.
4. Basile-Filho A, Suen VMM, Martins MA, Coletto FA, Marson F. Monitorização da resposta orgânica ao trauma e à
sepse. Medicina, Ribeirão Preto, 2001; 34: 5-17
5. Silva APA, Freitas BJ, Oliveira FLC, Piovacari SMF, Nóbrega FJ. Terapia nutricional em queimaduras: uma
revisão. Rev Bras Queimaduras, 2012; 11(3):135-141.
. Medeios AC, Dantas Filho AM. Metabolic Response to Trauma. Rio Grande do Norte: Federal University of Rio
Grande do Norte, 2017.
7. Melo REVA, Vitor CMA, Silva MBL, Luna LA, Firmo ACB, Melo MMVA. Resposta hormonal no paciente
politraumatizado. International Journal of Dentistry, Recife, 2005 Jan/Jun; 4(1):31-36.
Parte 1 | Capítulo 5
1. INTRODUÇÃO
O Equilíbrio Ácido-Base (EAB) e hidroeletrolítico é a base
molecular pela qual a vida se mantém e sua monitoração inicia-se
com a avaliação dos parâmetros ácido-base séricos, a maioria dos
doentes portadores desses desequilíbrios necessitam de cuidados
intensivos, qualquer que seja a patologia de base. A avaliação é um
instrumento fundamental, pois, além dos desvios do equilíbrio
acidobásico, acaba fornecendo outras informações de dados sobre
a função respiratória e as condições de perfusão tecidual. Os
sistemas orgânicos enfrentam dois desafios básicos para a
manutenção do EAB. O primeiro desafio é a distribuição nos
espaços orgânicos da cota fixa de ácidos, ingerida na dieta diária, o
segundo é o destino dado ao CO2 (dióxido de carbono) gerado pela
respiração celular como produto final do metabolismo aeróbio. O
organismo lança mão de uma série de mecanismos bioquímicos
para manter o pH dentro dos limites compatíveis com os processos
vitais, podemos destacar o papel desempenhado pelo chamado
sistema tampão, sendo fundamental para o entendimento do
equilíbrio acidobásico.1
Nos procedimentos invasivos do organismo como as cirurgias,
esse equilíbrio ácido-base pode ser muito afetado, como no
processo da hiperventilação intraoperatória pode causar alcalose
respiratória, e esta aumenta a afinidade da hemoglobina pelo
oxigênio com bloqueio parcial da glicólise aeróbica com
consequente acúmulo de ácido lático; cessada a hiperventilação, ao
término da cirurgia, pode ocorrer hipoventilação por depressão do
centro respiratório, ainda na presença do mecancimos
compensatórios da hiperventilação, o que exacerba metabolismo
anaeróbio iniciado durante a anestesia resultando em acidose
metabólica, isso adiociona mais gravidade a eventuais
complicações pós-operatórias aumentando o risco de disfunção
orgânica Nos estudos do pós-operatório, temos diversos fatores que
podem surgir para possíveis complicações como a depressão
respiratória na reversão anestésica, favorecem o aparecimento de
acidose, em contradição com outros que sugerem que toda cirurgia
não complicada em paciente metabolicamente sadio tende a
provocar alcalose metabólica.3
Em momento da intervenção cirúrgica, os pacientes podem
apresentar alterações do Equilíbrio Hidroeletrolítico (EHE), além das
complicações no Equilíbrio Ácido-Base (EAB). No período pré-
operatório essas alterações podem decorrer da própria doença de
base ou de problema clínicos associados. Durante a cirurgia as
alterações são proporcionais ao tempo e ao porte da cirurga,
orientando ,assim, quais procedimentos deve-se ter mais atenção e
maior controle pelo anestesista, sobretudo em pacientes
predispostos. No pós-operatório os distúrbios hidroeletrolíticos
estão condicionados à magnitude das alterações hormonais da
resposta orgânica ao trauma e ao tempo de duração da hidratação
endovenosa, necessária enquanto as vias oral e enteral não forem
factíveis. Em qualquer momento, antes, durante ou após a cirurgia,
todo ato relacionado à prescrição de hidratação deve ser precedido
do correto diagnóstico do estado de hidratação do paciente.2
O manejo de hidratação do paciente no pré-operatório busca a
restrição hídrica, visando respeitar a oliguria e a retenção de sódio
em resposta à maior liberação de aldosterona e hormônio
antidiurético (ADH) desencadeada pelo trauma cirúrgico. Outro tipo
de hidratação, baseada no balanço hidroeletrolítico diário, visa a
reposição de água e eletrólitos segundo as perdas diárias, o que
subentende que a administração está condicionada à reação
orgânica ao trauma. Já a hidratação com sobrecarga hidrossalina
tem o objetivo de bloquear ou reduzir a liberação de ADH e
aldosterona interferindo na resposta do organismo à cirurgia.4
A figura 1 (a seguir) demonstra os diversos mecanismos ativados
durante um trauma cirúrgicos que podem atuar modificando o EAB
de um paciente cirúrgico.
A alcalose é uma alteração muito frequente no pré-operatório
imediato. A acidose respiratória, metabólica ou mista é a alteração
mais comum na hora que sucede o término do ato operatório. Do 1º
ao 3º dia do pós-operatório a alcalose metabólica é a alteração
predominante do equilíbrio ácido-base. A hidratação com
sobrecarga hidrossalina reduz a incidência de alcalose metabólica
no pós-operatório, predispondo a acidose, quando comparada com
os outros métodos de hidratação.3
Figura 1
Fonte: MEDEIROS, A.C.5
2. ALTERAÇÕES DO EQUILÍBRIO
HÍDRICO E ELETROLÍTICO
As alterações hidroeletrolíticas serão discutidas em sequência, é
importante ressaltar que as alterações hidroeletrolíticas se iniciam
sempre no compartimento extracelular, no intravascular e podem ou
não repercutir em alterações do intracelular.
• Desidratação
A desidratação decorre da deficiência de entradas e/ou excesso
de perdas de água. Pode ser classificada, de acordo com a
tonicidade do espaço extracelular, em: isotônica, hipotônica e
hipertônica. As causas mais frequentes de desidratação são:
falta de ingestão ou perdas extraordinárias pelas vias ordinárias
(via cutânea, pulmonar, poliúria, diarreia) ou por vias
extraordinárias (vômitos, aspiração gastrointestinal, íleo
adinâmico, fístulas digestivas). A desidratação caracteriza-se
clinicamente por sede, oliguria, perda de peso, secura da língua,
olhos encovados, diminuição da elasticidade da pele, rolete
muscular, hipotensão postural, taquicardia, pulso fraco,
obnubilação, febre e coma. A desidratação pode levar também à
alteração de exames laboratoriais, tais como: aumento na taxa
de hemoglobina, hematócrito, proteínas totais, ureia, creatinina,
redução da volemia e aumento da densidade urinária e da
concentração da ureia na urina.6
• Desidratação isotônica
As causas estão relacionadas com as perdas não compensadas
de líquidos isotônicos, como perdas digestivas agudas (vômitos,
diarreia, fístulas digestivas), sequestro no terceiro espaço (íleo
adinâmico, peritonite, grandes áreas de dissecção cirúrgica),
paracentese. O quadro clínico inclui os sintomas e sinais da
desidratação em geral, sobretudo os relacionados à diminuição
do volume circulatória efetivo referente ao espaço intravascular
(oliguria e em casos graves choque hipovolêmico). O
comportamento dos espaços hídricos caracteriza-se pela
retração exclusiva do extracelular, que, por ser isotônica, não
favorece trocas extraordinárias com o intracelular. O tratamento
da desidratação isotônica consiste na administração de
soluções isotônicas.6
• Desidratação hipotônica
As causas se devem a administração insuficiente de água e
sobretudo de sais ou à perda não compensada de maior
quantidade de sais do que água, como exemplo: perdas
digestivas crônicas isotônicas (vômitos, diarreia, fístulas)
tratadas com soluções hipotônicas, hipoaldosteronismo
primário e perda salina em nefropatas.6
Os sintomas dependem da redução do espaço extracelular
(choque hipovolêmico, oliguria), da expansão do intracelular
(sialorreia, diarreia, vômitos) e da redução das taxas de Na+ e de
CI- (astenia, tremores, íleo adinâmico, choque). A escolha da
solução a ser ministrada depende do grau de hipotonicidade do
líquido extracelular. Se a hiponatremia é leve a correção é feita
apenas com solução isotônica; se a hipotonicidade é acentuada
com Na+ plasmático abaixo de 120 mEq/l e, principalmente, se
a manifestação clínica é importante, inicia se o tratamento com
solução hipertônica de NaCI a 3%, pode ser usada a fórmula de
Androgue para o cálculo da reposição, e, a seguir, complementar
a correção da desidratação com solução salina isotônica, ter
cuidado com a correção pois alterações brusca da natremia
podem ocasionar a mielinólise pontina, quadro grave e
irreversível
• Desidratação hipertônica
As causas mais comuns são a perda de líquido hipotônico na
ventilação pulmonar acentuada, sudorese, diabete insípido,
diurese osmótica por hiperglicemia e a oferta insuficiente de
líquido durante nutrição enteral ou parenteral.6
Além dos sintomas e sinais da desidratação em geral, com sede
intensa e oliguria acentuada, os pacientes podem apresentar
febre, agitação psicomotora, confusão mental e coma. Para a
correção dos diferentes tipos de desidratação a quantidade de
água a ser ministrada é a necessária para o retorno da
normalidade do estado hídrico, estimada pelo desaparecimento
dos sintomas e sinais de desidratação, e pelo restabelecimento
do volume urinário horário normal, entre 30 a 60 mEq/l no
adulto. Recomenda-se ofertar K+ (potássio) na forma de KCL (
CLORE TO DE POTASSIOA ) somente após diurese mínima de
800 ml, apresentando densidade urinária maior ou igual a 1018.6
• Super-hidratação
Desenvolve-se, teoricamente, na vigência de oferta exagerada
e/ou perda insuficiente de água. Na prática, porém, o rim normal
e não sujeito à ação hormonal é capaz de eliminar o excesso de
oferta de água e a super-hidratação resulta sempre por perda
insuficiente. A super-hidratação acompanha-se do aumento da
volemia, diluição do plasma, com redução relativa das taxas de
hemácias, de hemoglobina, do hematócrito e de proteínas totais
no plasma. Na prática clínica não se percebe a super-hidratação
hipertônica, somente possível se iatrogênica pela administração
exagerada de líquido hipertônico em paciente com perda hídrica
insuficiente.4
• Super-hidratação isotônica
As causas mais comuns são: cardíaca, renal e hepática. Existe
aumento do líquido extracelular que, por ser isotônico, se
mantém restrito a esse compartimento. O quadro clínico
corresponde a sintomas e sinais de retenção hídrica e da
doença de base (insuficiência cardíaca, renal ou hepática).
Assim, podem estar presentes edema subcutâneo, derrame
pleural, ascite, estertores pulmonares, dispneia, oliguria,
aumento do peso corpóreo, icterícia, alterações neurológicas. O
tratamento, além de medidas restritivas, pode incluir, na medida
da gravidade e da etiologia da super-hidratação, dieta
hipossódica, diuréticos, cardiotônicos e mesmo diálise
peritoneal ou hemodiálise com perdas. Não se deve dar
diuréticos até que seja analisada a causa do edema. Os
diuréticos usados sem critério podem induzir a distúrbios
eletrolíticos, coma hepático, azotemia e arritmias cardíacas.4
• Super-hidratação hipotônica
A causa é a excessiva oferta de água na presença de baixa
diurese. A fonte de água pode ser a ingestão oral, ou, mais
frequentemente, é a excessiva administração parenteral de água
com glicose. Os pacientes com doenças crônicas debilitantes,
como câncer, insuficiência cardíaca congestiva ou insuficiência
hepática ou renal, são propensos a ter expansão do espaço
extracelular com hipotonicidade antes de se submeterem à
cirurgia; no período pós-operatório tendem a expandir e diluir
mais o espaço extracelular.4
Os achados laboratoriais incluem rápida queda na concentração
do Na+ sérico e na osmolaridade plasmática. A urina pode
conter quantidade substancial de Na+ que, na presença de baixa
concentração plasmática, indica inapropriada liberação de Na+
decorrente do excesso de volume do líquido extracelular,
afastando outras causas como, doença renal e insuficiência
adrenal.4
O tratamento da super-hidratação hipotônica baseia-se na
restrição hídrica, reposição de Na+ mediante administração de
solução salina hipertônica em pequenas quantidades, uso
cuidadoso de diurético osmótico (Manitol) e administração
lenta de glicose hipertônica.4
• Alterações do Sódio
O Na+ é o principal cátion do LEC em que apresenta taxa de
concentração entre 138 e 145 mEq/l, com média de 142 mEq/l.
Hiponatremia absoluta pode desenvolver se por ingestão
insuficiente (dieta hipossódica recomendada para nefropatas)
ou por perdas renais e extrarrenais exageradas como poliúria,
diarreia crônica e aspiração gastrointestinal; nefropatias
perdedoras de Na+, frequentemente associadas a drogas e
infecção, o uso abusivo de diuréticos e insuficiência adrenal são
situações que acarretam perda importante de Na+,
condicionando a hiponatremia.7
Considera-se hiponatremia grave quando a concentração de
Na+ plasmático for igual ou menor que 120 mEq/l. Os sinais e
sintomas mais comuns são astenia, oliguria, dificuldade na
concentração mental, alterações da personalidade, taquicardia,
tendência a choque circulatório, confusão, delírio e coma. No
tratamento da hiponatremia absoluta (depleção de Na+) a
reposição pode ser calculada pela fórmula de Androgue,
administrando Na+ para a correção do desequilíbrio
hidroeletrolítico. Calcula-se o déficit de Na+ com base no
volume de água extracelular (20% do peso corporal), onde está a
maior parte do Na+ e que corresponde ao valor estimado
laboratorialmente. A reparação pode ser feita parceladamente,
por exemplo, em 2 dias. Em casos de intoxicação hídrica, o
tratamento visa sobretudo à eliminação do excesso de água
mediante uso de diurético osmótico (Manitol); reposição de Na+
somente em casos com concentração de Na+ abaixo de 110
mEq/l ou paciente sintomáticos.7
Hipernatremia, decorrente de perda de água proporcionalmente
maior que a de Na+ (diabetes insípido, diabete mellitus, febre,
insolação, hiperventilação), reposição insuficiente de perdas
hídricas (redução da ingestão hídrica por náuseas, vômitos ou
incapacidade física), administração excessiva de solutos em
pacientes renais (sal na alimentação por sonda, diuréticos
osmóticos, diálise peritoneal),ou excesso de esteroides.
Considera se hipernatremia grave quando o Na+ alcança 160
mEq/l. O quadro clínico é caracterizado por sede, oliguria,
mucosas secas, febre, taquipneia e alterações neurológicas que
podem ser variadas, incluindo tremor, hiper-reflexia profunda,
confusão mental, alucinações e coma agitado. Trata-se a
doença de base, suprime-se temporariamente a entrada de Na+
e faz-se a reposição hídrica mediante infusão de solução
hipotônica. A reposição muito rápida pode complicar com
edema cerebral.4
• Alterações do Cloro
O cloro é o principal ânion do espaço extracelular, com taxa de
concentração entre 95 e 105 mEq/ l e média de 103 mEq/l. As
alterações do CI- geralmente acompanham as do Na+. A perda
de CI- pode ser causada por dietas prolongadas sem ou com
pouco sal, por vômitos ou por aspiração gástrica pode associar-
se à alcalose metabólica por perda concomitante de H+. A
hipocloremia dilucional (intoxicação hídrica) pode desenvolver
se por administração excessiva de água em pacientes anúricos
ou oligúricos.7
A hipocloremia é grave quando a concentração do cloro
plasmático está abaixo de 80 mEq/l. A deficiência de cloro
caracteriza-se por redução do tônus da fibra muscular lisa,
principalmente do intestino e dos vasos, pelo que se manifesta
clinicamente por íleo adinâmico e tardiamente por hipotensão
arterial. O tratamento da depleção de cloro tem também como
base o tratamento da intoxicação hídrica, semelhante ao da
depleção de sódio.
Hipercloremia tem as mesmas causas que a hipernatremia, por
perda exagerada de água ou por entrada excessiva de sais em
pacientes renais ou com rim submetido à ação hormonal por
estresse (pós-operatório imediato). O quadro clínico caracteriza-
se pela presença de sede, oliguria, contrações musculares,
tremores, confusão mental, estupor, febre em geral moderada. A
hipercloremia é grave quando atinge valores acima de 125
mEq/l no plasma. Além da resolução da doença de base, o
tratamento envolve os mesmos conceitos da correção da
hipernatremia.7
• Alterações do Potássio
O potássio é o principal cátion do compartimento intracelular.
No compartimento extracelular sua concentração é baixa,
variando normalmente entre 3,5 e 4,5 mEq/l. Hipocalemia tem
como etiologia entrada insuficiente (geralmente por hidratação
parenteral inadequada), perdas excessivas por poliúria (período
poliúrico da insuficiência renal aguda ou por ação de diuréticos)
ou por diarreia e fístulas digestivas; doença de Cushing,
síndrome de Conn, desvio iônico (alcalose) também podem
levar à queda do K+ plasmático.2
A fibra muscular é a mais afetada pela carência de K+; a
hipocalemia origina hipotonia da musculatura lisa e estriada. O
quadro clínico dependente principalmente da hipotonia
muscular, caracteriza-se por astenia, fraqueza muscular,
parestesias, paralisias, íleo adinâmico, irritabilidade, letargia,
com arritmias cardíacas tipo bigeminismo e/ou trigeminismo, e
risco de parada cardíaca em sístole. O miocárdio pode
apresentar alterações de repolarização, que se manifestam no
traçado eletrocardiográfico sob a forma de prolongamento e
depressão do espaço QT e diminuição da amplitude da onda T,
que se achata com base mais ampla, chegando eventualmente
a se inverter.2
A hipocalemia é leve quando a concentração de K+ plasmático
está entre 3,5 e 3 mEq/l, moderada entre 3 e 2,5 mEq/l e grave
abaixo de 2,5 mEq/l. O tratamento é a administração de K+, por
via oral (KCI xarope ou drágeas, ascorbato de K+ em
comprimidos efervescentes) ou por via endovenosa
(aumentando se a concentração de K+ nas soluções
eletrolíticas usuais ou na forma de solução polarizante). A
reposição do K+ faz-se de maneira empírica, sendo um
esquema usual a administração de 40 a 60 mEq/l por via
endovenosa a velocidades não maiores que 30 a 40 mEq/hora.
Recomenda se não ultrapassar: 0,5 mEq/min, 40 mEq/h, 100
mEq/dia. Os pacientes cirróticos são especialmente suscetíveis
a complicações da hipocalemia e devem ser tratados
agressivamente na reposição do K+.2
A insuficiência renal é a causa mais frequente da hipercalemia.
Doença de Addison, desvio iônico na acidose, transfusões e
hemólise, lesões por esmagamento, grandes queimaduras,
grandes traumatismos e outras causas de degradação de
proteínas aumentam o K+ no plasma se a função renal for
insuficiente. As manifestações clínicas são tardias e incluem
principalmente alterações sensoriais como parestesias (face,
língua, pés e mãos), paralisia flácida, arritmias cardíacas; o
maior risco, contudo, é a morte súbita por parada cardíaca em
diástole. As manifestações eletrocardiográficas são
caracterizadas por ondas T elevadas, pontiagudas,
prolongamento do intervalo PR e do QRS e ondas S profundas. O
tratamento preferencial da hipercalemia é a diálise, porém,
medidas outras podem ser usadas quando esta não é possível.2
As medidas terapêuticas possíveis são: supressão da entrada
de potássio, ação antagônica do cálcio (o cálcio pode ser
administrado lentamente por via venosa na forma de cloreto ou
gluconato de cálcio 10%, na dose de 10 ml, para neutralizar a
ação do K+ sobre o músculo cardíaco), bicarbonato de sódio
pode ser administrado nos pacientes com acidose metabólica
para favorecer a entrada do K+ para o espaço intracelular e
reduzir a ação do K+ no músculo cardíaco. Redistribuição do
potássio, a administração de solução polarizante (glicose e
insulina) sem K+ favorece a redistribuição do K+ forçando a
migração do íon do compartimento extracelular para o
intracelular. Extração do K+ das secreções intestinais: resinas
de trocas iônicas (Na+ ou Ca++ por K+), por via oral ou,
preferencialmente, por via retal, na forma de enema de retenção,
retiram K+ a partir de secreções digestivas. Extração do K+ do
líquido extracelular mediante diálise peritoneal ou extracorpórea
(hemodiálise) com rim artificial.2
Na figura 2, exibimos os diversos mecanismos de ativação de
citocinas e mediadores inflamatórios envolvidos em lesão
orgânica que podem interferir e gerar distúrbios
hidroeletrolíticos em um paciente submetido a um insulto
cirúrgico.
Figura 2
3. HIDRATAÇÃO DO PACIENTE
CIRÚRGICO
O paciente cirúrgico pode apresentar alterações do equilíbrio
hidroeletrolítico (EHE) em qualquer período relacionado à
intervenção cirúrgica. No período pré-operatório essas alterações
podem decorrer da própria doença de base ou de problema clínico
associado. Durante a cirurgia as alterações são mais frequentes e
mais intensas nas operações mais demoradas e nas de grande
porte, que requerem mais atenção e maior controle pelo anestesista,
sobretudo em pacientes predispostos. No pós-operatório os
distúrbios hidroeletrolíticos estão condicionados à magnitude das
alterações hormonais da resposta orgânica ao trauma e ao tempo
de duração da hidratação endovenosa, necessária enquanto as vias
oral e enteral não forem factíveis.5
Pacientes hígidos, bem hidratados, candidatos à cirurgia eletiva
de pequeno porte, não necessitam, em geral, de fluidoterapia prévia.
Para pacientes a serem submetidos à cirurgia eletiva de médio ou
grande porte, principalmente nos que se prevê área extensa de
dissecção, recomenda se o início da hidratação 2 a 4 horas antes da
operação mediante a oferta de 800 a 1500 ml de solução salina, de
acordo com o tempo de jejum e, em princípio, o suficiente para
manter volume urinário de 30 a 60 ml por hora; este débito urinário é,
nessa situação, indicativo de boa perfusão renal e sugestivo de
hidratação adequada.2
A hidratação sustentada, mediante administração de água e sal
nos períodos pré, intra e pós operatórios, visa à compensação
adequada das perdas externas e internas, e constitui o método de
eleição para as grandes cirurgias, principalmente quando as perdas
para o terceiro espaço são significativas.2
Não é possível na prática estimar com precisão, durante o ato
operatório, as perdas pela exposição de vísceras nem a perda
interna no terceiro espaço, o que prejudica a estimativa do volume
da solução a ser administrada. Infunde-se, geralmente, de 2 a 10 ml
de solução isotônica por kg/hora, o que pode induzir erros,
resultando em desidratação ou super-hidratação, sobretudo em
pacientes criticamente doentes; esses limites são menores no idoso
e nos pacientes com lesão renal.2
Nas operações de grande porte, o balanço hidroeletrolítico diário,
pode evitar erros grosseiros na fluidoterapia, principalmente entre os
pacientes nos quais o terceiro espaço é pequeno, associado a
dosagens séricas periódicas dos eletrólitos e do hematócrito, e
densidade urinária, variando os intervalos de acordo com a situação
clínica e o estado hidroeletrolítico. No paciente bem hidratado, a
necessidade de água no pós-operatório corresponde
aproximadamente a 30 – 35 ml/kg de peso corpóreo, o que em um
paciente de 70 kg equivale a 2100 a 2450 ml/dia. A necessidade
média de sódio é de 100 mEq/ dia, de cloro de 80 mEq/dia e de
potássio de 60 mEq/ dia.2
A necessidade mínima diária de calorias varia com a idade e
peso corporal. Cada grama de glicose ou de proteína fornece 4 kcal
e cada grama de gordura fornece 9 kcal. Um grama de glicose
hidratada fornece 3,4 kcal, portanto 2000 ml de solução glicosada
5% ou 1000 ml de solução glicosada 10% equivalem a 340 kcal e
suprem as necessidades mínimas de calorias de um paciente de 60
kg. A administração de 100 g de glicose são suficientes para evitar a
cetose do jejum e reduzir pela metade o catabolismo proteico.2
Na figura 3 evidenciamos a distribuição da composição corpórea
do organismo humano entre os componentes moleculares que o
compõem, permitindo uma melhor compreensão da importância do
EAB e dos eletrólitos para a perfeita fisiologia dos sistemas
orgânicos necessários para a sobrevivência de qualquer indivíduo.
CONCLUSÃO
As reações ao estresse cirúrgico são desencadeadas por vários
componentes, tais como perda sanguínea, lesão tecidual, ansiedade
e dor. A infecção e o jejum prolongado são fatores que podem
contribuir para reiniciar ou agravar os eventos da resposta orgânica
do organismo. A extensão e a magnitude da resposta dependem da
intensidade da patologia, da imunidade do organismo, dos
procedimentos corretos e da capacitação dos profissionais, logo
podemos observar como as alterações dos componentes
hidroeletrolíticos e ácido-base são essenciais e determinantes para
os resultados do sucesso ou o fracasso de uma operação.
Essas alterações no organismo podem acarretar na amplificação
do estresse cirúrgico, sendo muitas vezes negligenciado em termos
de mortalidade, morbidade e custos. Todos os anos são realizadas
centenas de milhões de intervenções cirúrgicas, e dependendo do
país e da instituição, temos um número alarmante de complicações
graves que aumentam o número de mortalidade de pacientes no
pós-operatório.
Acreditamos ser estritamente necessário o fino manejo e a
condução adequada perante a presença desses distúrbios
mencionados, tão recorrentes no exercício da medicina, para que
aconteça um maior entendimento desses parâmetros, já que as
estimativas são que 50% dessas mortes ocasionadas por
complicações inerentes podem ser evitáveis.
REFERÊNCIAS
1. EVORA, et al. Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio acidobásico.
Medicina, v. 32, n. 4, p. 451-69, 1999.
2. CENEVIVA R, VICENTE, Y. V. A. Equilíbrio hidroeletrolítico e hidratação no paciente
cirúrgico. Medicina, v. 41, n. 3, p. 287-300, 2008.
3. MORIYA, T. et al. Hidratação e equilíbrio ácido-base em pacientes cirúrgicos. Acta
Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v.15, n. 2, 2000.
4. MOORE, F. D. Resposta metabólica à lesão. In Manual de cuidados pré e pós-
operatórios. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; cap. IV, p. 53, 1969.
5. MEDEIROS, A. C. DANTAS FILHO, A. M. Resposta metabólica ao trauma. Jornal
Cirurgia na Pesquisa Clínica, v. 8, n. 1, p. 56-76, 2017.
. ROTELLAR E. ABC dos transtornos eletrolíticos. Rio de Janeiro: Atheneu; 1968.
7. BIDANI A. Distúrbios eletrolíticos e ácido-básicos. Clin. Méd. Am. Norte, v. 70, p. 293-
317, 1986.
. BASILE FILHO, A. Monitorização da resposta orgânica ao trauma e à sepse. Medicina,
Ribeirão Preto, v. 34, p. 5-17, 2001.
Parte 1 | Capítulo 6
Nutrição em cirurgia
Autores: Rafael Aires de Castro e Karla Orlany Costa Gomes Aires
1. INTRODUÇÃO
Em um estudo realizado pelo o Inquérito Brasileiro de Avaliação
Nutricional Hospitalar (IBRANUTRI) cerca de metade dos pacientes
internados (48,1%) encontram-se com certo grau de desnutrição e
que o tempo de internação prolongado contribui negativamente no
desfecho do paciente. Segundo Studley, em 1936, que descreveu a
perda de peso como risco para complicações em pacientes
cirúrgicos, mostrou que os pacientes que perderam mais de 20% do
peso habitual apresentaram risco de óbito em comparação com um
risco para aqueles que perderam menos de 20%.1
Nos últimos anos, é perceptível a importância da triagem e
avaliação pré-operatória. Nesse sentido o peso corporal, aliado ao
IMC, a queda da condição geral do paciente e a ingestão inadequada
semanas antes do procedimento cirúrgico influenciam nas taxas de
complicações no pós-operatório; como: dificuldade no reparo
tecidual, retardo na cicatrização de feridas, aumento de infecções,
maior permanência hospitalar e consequentemente maior risco de
mortalidade.2
É importante destacar que em alguns centros hospitalares, os
protocolos nutricionais e cirúrgicos são negligenciados, e o olhar
mais sensível diante das fragilidades já presentes no paciente são
mascarados. Assim, o preparo da equipe de assistência deve possuir
uma visão crítica de qualidade diante das condições nutricionais e
prospectivas do paciente.
Portando, a nutrição em cirurgia torna-se pertinente quando
analisamos e demonstramos fatos e dados que evidenciam níveis
críticos de desnutrição, influenciando fortemente os resultados
cirúrgicos, mesmo para pacientes abordados eletivamente.
2. AVALIAÇÃO DO PACIENTE
CIRÚRGICO
Na admissão de pacientes pré-operatórios, deve-se estabelecer
como rotina a triagem e a avaliação nutricional, preferencialmente a
ser realizada nas primeiras 24 horas após a internação. Dentro desse
contexto, não só nutricionistas, mas também médicos e enfermeiros
devem trabalhar em conjunto no sentido de identificar a condição
nutricional do paciente.3
3. TERAPIA NUTRICIONAL
As altas taxas de desfecho negativo em procedimentos cirúrgicos,
com maiores taxas de morbidade e mortalidade, estão diretamente
relacionadas a uma terapia nutricional inadequada. É importante
salientar que pacientes bem nutridos, comparados a pacientes em
risco nutricional ou desnutridos, geralmente apresentam maior
capacidade de tolerar cirurgias de grande porte. A má nutrição está
associada com uma alta incidência de complicações operatórias, de
morbidade e de morte.11
Para uma melhor e mais rápida recuperação após o procedimento
cirúrgico, deve-se estabelecer um suporte nutricional pré-operatório
adequado e eficiente que assegure uma boa função muscular, imune
e cognitiva, bem como a manutenção de um balanço proteico
positivo. Sendo assim, devemos considerar as taxas de morbidade,
mortalidade e tempo de internamento como parâmetros para
avaliação de uma terapia eficaz.8
• Via Oral
A dieta Via Oral deve ser a primeira escolha, observando o grau
de desnutrição, o tipo de cirurgia a ser realizada, as
preferências e a tolerância de cada paciente. Em pacientes
com o trato gastrintestinal íntegro, livre de patologias e apto a
receber nutrientes, bem como apetite preservado, dá-se
preferência para dieta conforme as suas necessidades. No
entanto, para aqueles que não são capazes de alcançar suas
necessidades energéticas e proteicas diárias por meio da dieta
convencional, lança-se mão de Suplementos Nutricionais Orais
(SNO) no período pré-operatório.8
O profissional da saúde, seja ele médico, enfermeiro ou
nutricionista, deve estar atento quanto a possíveis distúrbios
no trato digestório, como diarreia, constipação, distensão
abdominal, náuseas e vômitos, em que a dieta oral precisa ser
modificada ou até mesmo substituída.10
• Via Enteral
O suporte nutricional artificial de primeira escolha, tendo em
vista ser mais fisiológica e oferecer menores taxas de
infecção, caracteriza-se pela nutrição enteral com
suplementação nutricional oral (SNO) ou simplesmente a
alimentação por sonda, seja ela nasogástrica, nasoenteral etc.
Porém, em situações de estresse agudo como obstrução
intestinal ou íleo paralítico, choque severo e isquemia
intestinal, o suporte nutricional deverá ser individualizado e
definido para cada situação.8
A opção por um suporte nutricional artificial torna-se benéfico
quando atua em pelo menos umas das situações a seguir:8
1. Desnutrição Severa.
2. Doentes em que se espera uma incapacidade de
alimentação por via oral num período superior a 7 dias
pós-operatório.
3. Doentes que não conseguem manter a ingestão até 60%
das recomendações diárias por mais de 10 dias.
Em doentes com neoplasia submetidos à cirurgia abdominal, é
recomendada Nutrição Enteral enriquecida com compostos
imunomodeladores durante 5 a 7 dias, independentemente do
seu risco nutricional, verificando-se um importante papel na
redução das comorbidades e no tempo de internamento após
a cirurgia abdominal.12 Já os pacientes desnutridos e
candidatos a tratamento de câncer do aparelho digestivo e
cabeça e pescoço devem receber TN pré-operatória por 7 a 14
dias com imunonutrientes.14
A preferência e a maior aceitação da dieta enteral em relação a
nutrição parenteral devem-se a estudos que indicam redução
na incidência de complicações infecciosas sem impacto na
mortalidade.14 No entanto, deve-se considerar que o paciente
poderá evoluir com aceitação parcial da dieta enteral, sendo
assim, deve-se fazer a associação de vias. Ou seja,
complementar a via enteral com a via parenteral.10
• Via Parental
A Nutrição Parenteral Total (NPT) pré-operatória basicamente
limita-se a pacientes com sinais de gravidade do ponto de
vista nutricional, acrescidos de outras indicações específicas.11
Diversos estudos trazem recomendações que indicam a
utilização da NPT em doentes com desnutrição grave e
naqueles pacientes impossibilitados de alimentar-se por via
oral ou enteral.8
A NPT também deve ser vista como uma forma de terapia
nutricional adicional para determinados tipos de pacientes que
são incapazes de atingir os seus requisitos nutricionais
completos por meio da nutrição enteral, bem como a terapia
de escolha nos pacientes que venham a apresentar algum tipo
de contraindicação à alimentação enteral.13
É importante identificar os principais riscos relacionados a
este tipo de suplementação, seja do ponto de vista infeccioso,
com necessidade de acesso venoso central e possibilidade de
complicações infecciosas, seja do ponto de vista metabólico,
com maior taxa de hiperglicemia e rigoroso controle glicêmico;
as formulações hipercalóricas e imunodepressivas.13
Outro aspecto importante em relação à dieta parenteral seria
na existência de complicações operatórias ou de situações
traumáticas que impossibilitem a alimentação digestiva, com
tempo superior a cinco dias. Nesses casos, a terapia
nutricional parenteral atua na diminuição de complicações
pós-operatórias e, consequentemente, no tempo de internação
hospitalar.14
O fluxograma abaixo, auxilia na definição da melhor via de
nutrição, seja ela por via oral, enteral ou parenteral, de acordo
com o conceito de Internuti:
Fonte: Adaptada de ACERTO: Acelerando a Recuperação Total Pós-
Operatória.
• Jejum pré-operatório
Quando as técnicas anestésicas ainda eram rudimentares,
preconizava-se que nenhum alimento deve ser permitido via oral por,
no mínimo, 6 horas antes da cirurgia. Outros livros textos do século
XX preconizavam jejum de 8h a 12h, sejam para cirurgias de urgência
ou procedimentos eletivos. Nesse contexto, é importante que o
estômago esteja vazio de alimentos no momento da cirurgia para
evitar o perigo de aspiração de vômitos durante a indução da
anestesia ou no despertar dela (Síndrome de Mendelson).11,15
Com o decorrer dos anos, as rotinas impostas pelas sociedades
de anestesiologias foram sendo modificadas e os jejuns prolongados
tem sido questionados por diversos autores. Em 1999, a American
Society of Anesthesiologists (ASA) passou a recomendar regras mais
liberais com relação ao jejum.15
Fonte: Adaptada de Anesthesiology, 1999.
Conclusão
Devemos sempre ter em mente de que a terapia nutricional
adequada advém de um bom julgamento clínico inicial, observando-
se aspectos relevantes que corroboram com a melhor avaliação do
estado nutricional. Cabe ao profissional de saúde o papel
fundamental de perceber sinais e sintomas que indicam que
determinado indivíduo venha a necessitar de cuidados e de
acompanhamento não somente durante sua permanência hospitalar,
como também em seu acompanhamento ambulatorial.
A cada dia surgem novas recomendações e novas diretrizes, com
novos conceitos e aspectos inerentes à realidade atual. Cabe ao
profissional o estudo diário e a capacidade de se permitir mudanças
pelo bem do seu paciente.
Referências
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chronic peptic ulcer. 1936. Nutr Hosp. 2001; 16(4): 141-3.
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19. Torgersen Z, Balters M. Perioperative Nutrition. Surgical Clinics of North America,
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Parte 1 | Capítulo 7
Cicatrização de Feridas
Autora: Mariane de Castro Michielin
Coautor: Gabriel Bernardo Rena
Orientador: Dr. Eduardo Fausto de Andrade Filho
1. INTRODUÇÃO
1.1. Estrutura e Função da Pele
A pele é o maior e mais visível órgão do corpo humano, possuindo
uma área de cerca de 7.620 cm². Ela possui diversas funções
essenciais para manter a homeostase corporal, dentre as quais
podemos citar: a proteção contra infecções (barreira física contra a
invasão de micro-organismos), evitar a desidratação e manter o
equilíbrio hidroeletrolítico.
Podemos estratificar a pele em 3 camadas: epiderme, derme e
hipoderme.
Figura 1: Ilustração das três camadas da pele
Fonte: Van De Graaff KM.¹
1.1.1. Epiderme
É a camada mais superficial e mais fina da pele e sua espessura
pode variar entre 0.04mm (pálpebras) e 1.6mm (região plantar dos
pés), possuindo um turnover (renovação) a cada 28 dias. As células
mais presentes nesta camada são os queratinócitos, responsáveis
pela produção de queratina, uma proteína essencial que garante a
proteção da pele. Podemos encontrar também os melanócitos,
células responsáveis pela pigmentação e proteção da pele contra os
raios ultravioleta. As células de Langerhans também estão presentes
nesta camada, e atuam no processo imunológico, enquanto as
células de Merkel estão ligadas às terminações nervosas, garantindo
sensibilidade a estímulos mecânicos, em especial, a pressão.
Podemos subdividir a epiderme em:
1.1.2. Derme
Camada intermediária da pele e sua espessura pode variar entre
0.3mm (pálpebras) e 3mm (dorso). Nesta camada podemos
encontrar 3 importantes estruturas: glândulas sudoríparas,
responsáveis pela termorregulação e por secretarem peptídeos
antimicrobianos, folículos pilossebáceos, que secretam serosidade e
os músculos piloeretores que reagem aos estímulos externos.
1.1.3. Hipoderme
Muitos autores na literatura consideram que a hipoderme está
intimamente relacionada à camada dérmica, não havendo uma
separação entre elas. No entanto, para uma melhor abordagem
didática, podemos defini-la como uma camada independente. É a
camada mais profunda da pele onde podemos encontrar o tecido
adiposo ou subcutâneo.
2. CICATRIZAÇÃO DA PELE
A cicatrização da pele é um processo com múltiplos níveis de
complexidade, envolvendo um conjunto de eventos sincronizados e
integrados decorrentes de uma lesão com a finalidade de restaurar a
integridade tecidual. O objetivo final cursa com a formação de um
tecido fibroso, que possui estrutura, textura e elasticidade diferentes
do tecido, ou seja, uma cicatriz nunca apresentará as mesmas
características de uma pele não lesada. Quando o paciente apresenta
uma lesão cutânea, há perda da integridade da pele, podendo
predispor a infecções, desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos.
Existem 3 tipos de cicatrização que serão abordados mais
adiante: a cicatrização por primeira, segunda e terceira intenção. Este
processo se dá de forma ocorrendo em 3 fases principais
(inflamatória, proliferativa e de maturação) que serão abordadas em
maiores detalhes neste capítulo.
2.1.2.4. Epitelização
Nesta última etapa da fase proliferativa, os queratinócitos (células
mais comuns da epiderme) se multiplicam e migram de forma
centrípeta, sendo inibido este processo assim que uma célula entra
em contato com a outra.
Em seguida, ocorre o processo de diferenciação, no qual há o
restabelecimento das camadas epiteliais da camada basal até o
extrato córneo, após a conclusão da migração. E os queratinócitos e
fibroblastos secretam laminina e colágeno do tipo IV para formar a
membrana basal.
Figura 4: Ilustração da fase de epitelização da cicatrização, com
destaque às células atuantes.
Fonte: Rodrigues T. 7
Fonte: Rodrigues T. 8
Fonte: Rodrigues T. 8
4. FATORES QUE ALTERAM A
CICATRIZAÇÃO
Alguns fatores podem levar à uma mudança no desenvolvimento
cicatricial, podendo ser externos e internos.
Dentre os fatores externos temos:
CONCLUSÃO
Com base em tudo o que foi abordado neste capítulo podemos
afirmar que a pele é um órgão de vital importância e que o processo
de cicatrização é extremamente complexo. Este envolve uma grande
variedade de células e substâncias, que, de forma harmônica e
ordenada, farão com que uma ferida possa ser cicatrizada,
garantindo assim a integralidade e as funções da pele.
REFERÊNCIAS
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1. INTRODUÇÃO
Aos cirurgiões e todos aqueles que almejam se destacar e
exercer a arte cirúrgica é essencial que saibam executar a
propedêutica pré-operatória, avaliar, indicar e contraindicar exames
complementares para o paciente em questão.
Conforme estudo conduzido entre 2008 e 2017 pelo Insper houve
aumento de 130% de demandas judiciais relacionadas à saúde.
Dentro desse contexto de aumento importante dos casos de
judicialização das questões de saúde que, associada ao aumento da
disponibilidade de métodos complementares, acabam por conduzir
muitos profissionais a solicitarem exames desnecessários a
despeito da falta de indicação clínica ou sintomatologia que os
justifiquem, se faz necessário reforçar as premissas que guiam as
condutas no pré-operatório.
É necessário lembrar que o período atual de desenvolvimento
científico não é compatível com práticas que fujam da medicina
baseada em evidências, portanto, os cuidados pré-operatórios e
classificação de risco cirúrgico devem seguir primordialmente
anamnese e exame físico detalhados, com investigação
complementar individualizada associada a esclarecimento pleno do
paciente quanto ao procedimento cirúrgico a ser realizado, seus
riscos, benefícios e possíveis complicações peri e pós-operatórias.
2. ANAMNESE E EXAME FÍSICO
A abordagem inicial ao paciente que vai se submeter a
procedimento cirúrgico passa mandatoriamente por anamnese e
exame físico detalhados, com especial enfoque na doença que
necessita de terapêutica cirúrgica, suas manifestações,
complicações e sinais de gravidade. A seguir, alguns tópicos que
devem ser abordados cuidadosamente na anamnese de uma
avaliação pré-cirúrgica.
- Doenças prévias e medicações em uso.
- Alergias.
- Histórico cirúrgico e suas possíveis complicações (incluindo
dificuldades de controle de sangramento, necessidade de
transfusão, dificuldade de intubação e reações adversas às drogas).
- Performance física (durante exercício e afazeres diários).
- Uso de drogas lícitas e ilícitas (com mensuração e data de
cessação se houver).
Durante o exame físico devem ser buscados fatores que podem
complicar a abordagem cirúrgico-anestésica, estigmas de doenças
graves descompensadas e desnutrição. A seguir citaremos alguns
tópicos importantes a serem procurados.
- Cicatrizes prévias.
- Possibilidade de acesso venoso de fácil obtenção.
- Estigmas de doenças das vias aéreas e sistema pulmonar, tais
como dispneia, estridores, taquipneia, tosse, aumento do diâmetro
anteroposterior do tórax, desvio da traqueia, assimetria de
expansibilidade e anormalidade na ausculta.
- Estigmas de doenças do sistema cardiovascular, tais como
turgência jugular, sopros cardíacos e/ou carotídeos, edema de
membros inferiores, insuficiência arterial e/ou venosa periférica e
alterações de ritmo cardíaco.
- Estigmas de doenças hematológicas tais como, equimoses,
hematomas e mucosas hipocoradas.
Se encontradas, algumas dessas condições podem requerer
compensação clínica com especialista antes do procedimento
cirúrgico para que se obtenham melhores resultados, diminuição
dos riscos de complicação e até diagnóstico de doenças até então
desconhecidas.
Abaixo exemplificaremos algumas perguntas práticas que podem
ser utilizadas para mensuração da capacidade funcional durante
anamnese e o grau de evidência científica das diferentes formas de
coleta de história clínica.
AVALIAÇÃO DE CAPACIDADE FUNCIONAL METS*
GRAU DE GRAU DE
ESTRATÉGIA
RECOMENDAÇÃO EVIDÊNCIA
Obeso IIa C
4. JEJUM
O tempo de jejum se tornou uma preocupação constante nos
casos de cirurgia, principalmente no que se refere às cirurgias
eletivas, uma vez que nos casos de urgência sempre é assumido
que o paciente esteja de estômago cheio e, portanto, o anestesista
deve tomar as medidas cabíveis para evitar episódios de
broncoaspiração.
Historicamente, os tempos de jejum se iniciaram prolongados,
muitas vezes chegando próximo às 12 horas para cirurgias eletivas,
já que a consequência de um episódio de broncoaspiração nesses
casos costumeiramente tem consequências dramáticas para o
paciente, levando a complicações importantes no peri e pós-
operatório, incluindo chance de óbito no próprio momento do
evento. Atualmente se assume que o período de jejum deve ser
justamente o adequado, a depender do tipo de dieta ingerida de
forma que não haja descompensação de doenças crônicas
preexistentes, como diabetes mellitus, início antecipado da resposta
endocrinometabólica ao trauma e aumento do desconforto do
paciente no pré-operatório. Uma boa estratégia para se evitar os
malefícios citados é o uso de carboidratos de alto índice glicêmico
(p. ex. maltodextrina ou dextrose) diluídos em líquidos claros que
podem ser administrados até 2 horas antes do ato operatório.
Admitem-se os seguintes tempos de jejum para as citadas
dietas:
DIETA INGERIDA TEMPO DE JEJUM
Procedimento de
Procedimento de Procedimento de
risco
alto risco baixo risco
intermediário
5 dias, INR
Varfarina 5 dias, INR normal 5 dias, INR normal 24 horas
normal
4 horas para
Heparina de baixo baixo risco; 12
peso molecular – 12 horas a 24h para
12 horas 12 horas
Profilaxia médio e alto
riscos
• Diabetes Mellitus
Todos os pacientes com diabetes devem ter solicitados glicemia
de jejum e hemoglobina glicada (HbA1c) na sua avaliação pré-
operatória, de forma que os valores devem estar entre 90 e
130mg/dl para o glicemia de jejum, até 180mg/dl 2h após
alimentação e menor que 7,0% para HbA1c. Por vezes, quando fora
das metas citadas, o endocrinologista pode ser acionado para
melhor compensação antes da intervenção cirúrgica. O paciente
diabético deve receber preferência para ser operado no primeiro
horário do dia visando a menor chance de hipoglicemia decorrente
do jejum.
O manejo das insulinas é um cuidado importante visando o
sucesso do ato operatório. A insulina NPH deve ser alterada apenas
no dia da cirurgia, sendo utilizada dois terços da dose diurna se
cirurgia pela manhã, metade da dose se cirurgia a tarde e um terço
da dose se cirurgia a noite.
Seguem tabelas acerca do uso da insulina regular no ambiente
intra-hospitalar e recomendação de sugestão de drogas.
GLICEMIA CAPILAR
CONDUTA SUGERIDA
(MG/DL)
160 – 180 01 UI
181 – 200 02 UI
201 – 250 03 UI
251 – 300 04 UI
Sulfonilureias
Clorpropamida 48 a 72 horas
(1ª Geração)
Demais classes de
No dia
drogas
6. RISCO CARDIOVASCULAR
Existem muitos escores que se propõem a quantificar o risco
cardiovascular dos pacientes submetidos às mais variadas
condições e tipo de cirurgias, no entanto, não existem estudos
claros em que se estabeleça superioridade entre eles. Apesar da
baixa acurácia todos os escores se provaram melhores que o acaso
na predição de eventos cardiovasculares adversos no intra ou pós-
operatório, justificando, assim, sua utilização.
Dentre os diversos escores utilizados discutiremos sucintamente
o escore de ASA, que leva em consideração apenas as condições do
paciente e suas comorbidades, o escore de Fleisher et al., em que se
correlaciona risco combinado de morte e Infarto Agudo do
Miocárdio não fatal com cirurgias não cardíacas e o algoritmo de De
Lee, em que há soma de critérios referentes tanto ao paciente
quanto ao porte cirúrgico para predição de eventos cardiovasculares
adversos.
CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO MORTALIDADE
Ó
PERIOPERATÓRIA
Procedimentos
Cirurgias de aorta e vasculares Cirurgias
cirúrgicos
superficiais extensas intraperitoneais
intratorácicos
RISCO DE EVENTOS
CLASSE DE RISCO
CARDIOVASCULARES MAIORES*
CONCLUSÃO
Apesar de tidas como cirurgias programadas e de risco menor, as
cirurgias eletivas devem passar por criteriosas avaliação para que
não haja aumento de desfecho inesperado para os pacientes que se
submetem a elas. O guia para todas as condutas deve ser a
premissa de individualização de cada tratamento e as evidências
disponíveis para embasar as condutas propostas.
REFERÊNCIAS
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Parte 1 | Capítulo 9
Antibioticoprofilaxia e
antibioticoterapia em cirurgia
Autores: Ana Dimitria Gomes Ponte e Thais Vasconcelos
1. INTRODUÇÃO
O primeiro pensamento que devemos ter como cirurgião é que
todo ato cirúrgico é um trauma, ou seja, rompemos barreiras de
proteção natural do corpo e ativamos uma série de cascatas de
resposta metabólica e imunológica no nosso paciente. Isso faz com
que esse paciente esteja exposto a uma gama de patógenos que
pode ocasionar infecções tanto no sítio cirúrgico como a distância.
Para minimizar o risco de exposição e de complicações advindas
dessas infecções devemos conhecer quais patógenos são esses e
quando indicarmos corretamente a antibioticoprofilaxia e
antibioticoterapia, para não expormos nosso paciente a antibióticos
desnecessários que podem levar a uma resistência bacteriana e
uma infecção ainda mais grave.
Bacilos gram-negativos
Trato biliar entéricos, enterococos e Cefazolina
clostridia.
Bacilos gram-negativos
Trato gastrointestinal
entéricos, cocos gram- Cefazolina
superior
positivos.
Bacilos gram-negativos
Genitourinária Ciprofloxacina
entéricos, enterococos.
Bacilos gram-negativos
Ginecológicas entéricos, anaeróbios, Cefazolina
estreptococos, enterococos.
3. ANTIBIOTICOTERAPIA
O cirurgião deve estar apto para indicar o antibioticoterapia não
somente para infecções dos sítios cirúrgicos, mas para qualquer
infecção que possa acometer seu paciente cirúrgico. As infecções
mais comuns nesses pacientes são as próprias infecções dos sítios
cirúrgicos, bacteremias associadas ao uso de cateter venoso
central, pneumonias nosocomiais e infecções do trato urinário.
Todo paciente com suspeita de infecção no qual você iniciará
antibiótico de forma empírica deve ter uma cultura obtida, sendo 2
amostras de hemocultura e, se for o caso, uma amostra do local da
infecção (por exemplo, no caso de infecção de sítio cirúrgico), antes
do início do tratamento, e assim que o resultado for obtido o
esquema deve ser modificado de acordo com o resultado do
antibiograma.
Para a escolha do antibiótico empírico a ser iniciado deve-se
pautar no patógeno mais provável de causar a infecção, da flora
bacteriana hospitalar e de tratamentos prévio aos quais o paciente
já foi submetido, evitando assim antibióticos de largo espectro que
poderiam promover multirresistência bacteriana.
Quanto ao patógeno mais provável podemos nos guiar pelo tipo
de infecção mais provável de estar acometendo nosso paciente de
acordo com a clínica que o mesmo apresenta e por exames
complementares realizados, como hemograma, sumário de urina,
raio X e tomografias.
A seguir, uma tabela em que se apresenta os patógenos mais
comumente envolvidos nos principais tipos de infecções que
encontramos nos nossos pacientes, sempre lembrando que isso
pode se modificar de acordo com a flora hospitalar de cada
instituição.
Quanto aos principais agentes bacterianos utilizados para iniciar
uma terapia empírica, apresentamos a tabela a seguir de acordo
com os patógenos, porém, isso pode variar para cada instituição
devendo idealmente ser guiado pela comissão de controle de
infecção hospitalar dessa instituição.
TABELA 3: PRINCIPAIS PATÓGENOS DE ACORDO COM O TIPO DE INFECÇÃO
Glicopeptídeo (Vancomicina)
Gram-positivos Lipopeptídeo (Daptomicina)
Oxazolidinona (Linezolida)
Metronidazol
Carbapenêmicos
Antianaeróbicos
β-Lactâmicos com inibidores da β-Lactamase
Tigeciclina
Piperacilina-tazobactam
Cefepima, ceftadizima
Imipenem-cilastatina, meropenem, doripenem
Antipseudomonas
Ciprofloxacina, levofloxacina
Aminoglicosídeos
Polimixinas (Polimixina B, colistina)
Piperacilina-tazobactam
Espectro amplo Fluoroquinolonas
Tigeciclina + agente antipseudomonas
CONCLUSÃO
O conhecimento a respeito das principais infecções a que um
paciente cirúrgico está susceptível é essencial não apenas para
tratá-las, mas também e principalmente para preveni-las.
A resistência bacteriana é uma ameaça cada vez mais comum e
cabe a nós como prestadores de cuidado ao paciente indicarmos de
forma mais assertiva o antibiótico correto, na dose adequada e pelo
período ideal, a fim de diminuirmos a seleção da flora bacteriana.
É um trabalho em conjunto da equipe cirúrgica, da enfermagem e
da comissão de controle de infecção hospitalar, que começa ao
lavar a mão corretamente e termina ao dar alta com o paciente no
momento certo.
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Parte 1 | Capítulo 10
1. INTRODUÇÃO
Conforme abordado no capítulo anterior, as lesões decorrentes
do ato cirúrgico obedecem uma história natural compatível no
processo cicatricial e estão intimamente ligadas a uma reação
inflamatória decorrente da resposta metabólica ao trauma
provocado. Dessa forma, o paciente deve ser frequentemente
reavaliado clinicamente a fim de detectar precocemente quaisquer
alterações que surgirem ou eventos adversos decorrentes desse
processo natural. Primeiramente, devem ser acompanhados durante
as evoluções diárias de cada profissional e, mais tardiamente, sob
regime ambulatorial pelo tempo e periodicidade decorrentes ao grau
de invasão provocado e ao tipo de procedimento, assim como o
diagnóstico e a terapêutica sob os quais o doente foi submetido.
Os fatores de risco para uma cicatrização anormal devem ser
investigados clinicamente nas avaliações pré-operatórias por meio
de uma boa anamnese e um exame clínico detalhado e bem
executado. Tais características são frequentemente identificadas ao
questionar os antecedentes pessoais (sobretudo a presença de
doenças crônicas ou cirurgias prévias), hábitos, vícios,
medicamentos de uso contínuo e estado nutricional. Dentre os
principais fatores de risco para complicações de feridas operatórias
podemos citar a idade avançada, imobilização, diabetes mellitus,
obesidade, tabagismo, desnutrição, deficiência de vitaminas e
minerais, exposição à radiação ionizante e uso de medicamentos
como a doxorrubicina e glicocorticoides. Vale ressaltar que tais
fatores podem alterar patologicamente o curso natural do processo
cicatricial e, dessa forma, associados ao trauma cirúrgico, serem
responsáveis por eventos adversos da ferida cirúrgica, como
infecção, hematoma, deiscência, necrose local, ferida crônica,
cicatriz hipertrófica e queloides.
2.2. Hematoma
O hematoma pode ser definido como coleção de conteúdo
hemático sob a pele na ferida cirúrgica e geralmente de evolução
mais tardia. Seus principais fatores de risco incluem hemostasia
inadequada no ato cirúrgico, uso de drogas (como antiagregantes
plaquetários, anticoagulantes e antagonistas de vitamina K) ou
doenças de base do paciente que promovam distúrbios da
coagulação.
Apresenta-se clinicamente com flutuação da ferida (tumefação
macia localizada com descoloração azul-purpúrica da pele
sobrejacente) e desconforto por compressão local. A infiltração
sanguínea em tecidos adjacentes constitui um risco maior para
ocorrência de infecções pela obstrução de linfáticos e capilares,
além de promover afastamento das bordas da ferida – o que
predispõe a deiscência.
Figura 2: Presença de tumefação ao redor da ferida operatória, de
coloração arroxeada, caracterizando o hematoma.
Fonte: Acervo pessoal de Dr. Eduardo Fausto de Andrade Filho. 2
2.3. Deiscência
A deiscência constitui separação de planos previamente unidos
por sutura ou primeira intenção, no início do curso pós-operatório. É
classificada como parcial, cursando com eventração, ou total,
cursando clinicamente com evisceração – forma mais grave. Pode
ocorrer em até 3% dos pacientes submetidos a cirurgias abdominais
e tem sua maior ocorrência por volta do sétimo ao décimo dia do
pós-operatório.
Em geral, essa complicação está associada à inadequada técnica
cirúrgica, fechamento incompleto dos planos cirúrgicos, infecção do
sítio operatório, presença de hematoma, obesidade, idade avançada,
desnutrição, tabagismo, diabetes mellitus, imunossupressão e
cirurgias emergenciais, além de outras condições que favoreçam
aumento da pressão intra-abdominal.
Clinicamente a deiscência pode ser visualizada pela eventração
ou pela evisceração, o que torna o diagnóstico certeiro – o paciente
pode referir dor e sensação de afastamento das margens cirúrgicas.
Pode ser melhor investigada com o toque de dedo enluvado no local
da deiscência, e, uma vez diagnosticada, a equipe cirúrgica deve ser
imediatamente notificada para conduta individualizada para o caso.
Figura 3: Deiscência parcial com exposição de tecido subcutâneo.
Á
Figura 5: Área enegrecida em região abdominal inferior,
caracterizando a necrose tecidual, em cicatriz de abdominoplastia.
Fonte: Broetto J. 11
2.6.2. Queloides
As cicatrizes queloidianas ou queloides apresentam formato
tumoral e são conhecidas por ultrapassarem os limites do trauma
ou inflamação que as originaram, não respeitando a linha de incisão
original. Elas não apresentam tendência à regressão, em oposição
às cicatrizes hipertróficas, e em alguns casos chegam a ser
pediculadas. Além disso, possuem coloração avermelhada, sendo
geralmente pruriginosas e muito dolorosas, com alta tendência à
recidiva.
Figura 13: Queloide em região auricular.
Fonte: Acervo pessoal de Dr. Eduardo Fausto de Andrade Filho. 13
2.7. Seroma
O seroma é um acúmulo líquido alojado no tecido subcutâneo
sob o local de incisão, pelo extravasamento de plasma sanguíneo e
linfa. Em seu quadro clínico temos edema localizado, com
desconforto frente à pressão, podendo ter saída de material líquido
de coloração amarelo-clara. Sua frequência depende muito do tipo
de cirurgia e da técnica utilizada. Um estudo mostrou que em
abdominoplastias realizadas com bisturi frio tiveram menos
coleções líquidas (4.89%) quando comparadas ao uso de
eletrocautério (8.75%). Essa formação líquida ocorre com maior
frequência quando se cria um grande descolamento de pele, como
vistos após mastectomias, hérnias grandes ventrais e dissecções
axilares. (Figura 15)
Figura 15: Seroma localizado em região de fossa ilíaca esquerda.
CONCLUSÃO
Com este capítulo podemos concluir que as feridas operatórias
podem sofrer complicações mesmo quando há a realização correta
das técnicas cirúrgicas. Algumas medidas específicas podem ser
realizadas para cada tipo de cirurgia, visando a redução de
complicações. Desse modo, torna-se fundamental que o profissional
tenha conhecimento dos tipos de complicações com maior
probabilidade de ocorrência, e, quando possível, utilize ações para
prevenir esses eventos.
É também de extrema importância a orientação do paciente
acerca dos tipos de complicações possíveis na cirurgia, destacando
os sinais de alerta para a procura do atendimento médico e assim
possibilitando uma resposta terapêutica adequada ao caso.
REFERÊNCIAS
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of Surgeons and Surgical Infection Society: Surgical Site Infection Guidelines, 2016
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2. Berríos-Torres SI, Umscheid CA, Bratzler DW, Stone EC, Kelz RR, Reinle CE. Centers for
Disease Control and Prevention Guideline for the Prevention of Surgical Site Infection,
2017. JAMA Surg. 2017; 152(8): 784-791.
3. Swanson E. Seroma Prevention in Abdominoplasty: Eliminating the Cause. Aesthetic
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4. Han G, Ceilley R. Chronic Wound Healing: A Review of Current Management and
Treatments. Adv Ther. 2017 Mar; 34(3): 599-610.
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hiperproliferativas – Queloide. Rev Bras Cir Plást. 2012; 27(2): 185-9.
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. Ogawa R, Akaishi S, Kuribayashi S, Miyashita T. Keloids and Hypertrophic Scars Can
Now Be Cured Completely: Recent Progress in Our Understanding of the Pathogenesis
of Keloids and Hypertrophic Scars and the Most Promising Current Therapeutic
Strategy. J Nippon Med Sch. 2016; 83(2): 46-53.
9. Sabiston. Tratado de Cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 18. ed.
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10. Silva PS, Borges EL, Lima MP. Risk Factors for Surgical Wound Complications
Following Abdominal Surgery: a systematic literature review. REME – Revista Mineira
de Enfermagem. 2008; 12(4): 539-546.
11. Sorg H, Tilkorn DJ, Hager S, Hauser J, Mirastschijski U. Skin Wound Healing: An
Update on the Current Knowledge and Concepts. Eur Surg Res. 2017; 58(1-2): 81-94.
12. World Health Organization. Global Guidelines for the Prevention of Surgical Site
Infection. 2018.
1.DRENOS
1.1. O que são?
Drenos cirúrgicos são dispositivos tubulares ou laminares
capazes de remover diversos fluidos corporais e gases de uma ferida
cirúrgica, permitindo que o conteúdo possa escapar de uma cavidade
corporal específica. Podem ser profiláticos, como na prevenção de
hematoma de ferida cirúrgica, ou ainda terapêuticos, como no caso
da drenagem de tórax. Isso permite ao paciente melhor conforto e
segurança no pós-operatório e ademais, constituem uma via
terapêutica. É importante frisar que a utilização de drenos deve ser
bem indicada e o tipo adequado a cada circunstância, de modo a
realizar sua função sem retardar a alta hospitalar ou prejudicar o
paciente.
Dreno Redivac®
É baseado em um sistema de pressão negativa por meio de tubos
flexíveis que levam os fluidos a um reservatório transparente tipo
garrafa de tamanho único, embora diversos tamanhos de tubo
estejam disponíveis no mercado. Seu ponto negativo é que uma vez
que o reservatório esteja cheio, este deve ser substituído. Um
reservatório limpo permite a aferição diária de fluido drenado. A
presença de vácuo pode ser vista de fora por meio de um tubo
colorido, o qual deve se encontrar retraído. Caso haja perda de vácuo
e o reservatório está vazio, este pode ser restabelecido pela conexão
do sistema a uma bomba de sucção. Importante ressaltar que,
durante sua remoção ou troca de reservatório, o vácuo deve ser
liberado em primeiro lugar por meio de um clipe – caso contrário, a
pressão negativa em contato com tecidos pode causar dor ao
paciente. Seu uso é amplo.
Exemplo de dreno Redivac. Fonte: B. Braun.1
Dreno Jackson-Pratt®
O dreno Jackson-Pratt, popularmente conhecido como “dreno JP,”
é composto por um tubo de silicone flexível e fenestrado conectado a
um reservatório em forma de bulbo com pressão negativa em menor
intensidade quando pressionado e fechado. Uma vez que o
reservatório esteja cheio, não é necessário que este seja descartado -
por meio de uma segunda luz é possível desprezar o fluido ou ainda
coletá-lo para análises. É muito usado na cavidade abdominal e em
cirurgias da face e do pescoço, bem como mastectomias. O fato de
ser fenestrado é importante para reduzir complicações como
perfuração ou isquemia de alças intestinais, uma vez que essas não
são sugadas diretamente ao tubo.
Exemplo de dreno Jackson-Pratt. Fonte: Enfermagem Novidade.2
Dreno Portovac®
O dreno Portovac® ou Hemovac® é mais um dreno de pressão
negativa em baixa intensidade. É composto por um tubo flexível
conectado a um sistema com reentrâncias em seu corpo,
semelhante a uma sanfona. Possui uma única luz e sua pressão
negativa é exercida por uma pressão sobre seu corpo antes de ser
conectado ao sistema fechado. Uma vez cheio o reservatório, a
secreção pode ser desprezada, mantendo o frasco. Causa menos dor
e, por ser de baixa pressão negativa, dificilmente o dreno pode ser
obstruído por estruturas como o omento. Amplamente utilizado na
cavidade abdominal.
Ilustração dreno Portovac. Fonte: Assessment Technologies
Institute.3
Curavac®
O Curavac® constitui um curativo a vácuo, indicado para feridas
abertas e extensas da pele. Embora sejam muito semelhantes a um
curativo, atuam como um dreno de superfície, o que previne infecção
local e colabora com a cicatrização. São compostos por uma esponja
estéril a qual é posicionada sobre a ferida e um filme envoltório com
um conector para um tubo o qual é ligado a uma bomba a vácuo
específica. Podem permanecer sobre a pele por até 48 horas sem
que haja necessidade de troca.
Funcionamento do Curavac. Fonte: Made-In-China.4
Dreno de Malecot
Dreno tubular de látex com extremidade em formato de cogumelo.
Atualmente menos utilizado, mas em geral é útil em cistostomia, ne-
frostomia ou até gastrostomias. Seu formato típico tem função de
evitar retração dessas cavidades citadas, que podem se tornar
virtuais, inviabilizando possível colabamento.
Fonte: Mederen.6
Dreno Pigtail
Característico pelo seu formato de rabo de porco - do inglês
“pigtail” -, este dreno tubular de pequeno calibre é útil para drenar
cavidades únicas. Em geral é muito utilizado para drenar cavidade
pleural, porém seu uso não é possível quando há diversas lojas de
coleção fluida numa única cavidade ou ainda quando o líquido
apresenta maior viscosidade. Sua inserção geralmente é guiada por
tomografia computadorizada ou ainda por ultrassonografia. São
drenos passivos e comumente são conectados a um saco coletor,
unidos por meio de uma válvula que impede o refluxo, conhecida
como válvula de Heimlich. frequentemente têm sua luz obstruída e
por isso é recomendado que sejam lavados cerca de duas ou três
vezes ao dia. Antes de ser removido, deve-se realizar um corte em
determinada linha para desenrolar sua extremidade de remoção
automática, permitindo assim sua retirada.
Dreno de tórax
Consiste num dreno passivo ligado a um reservatório com água
para evitar o refluxo de gases para o interior da cavidade pleural por
pressão negativa, atuando como uma válvula, especialmente durante
a inspiração. Este é o processo conhecido como drenagem em selo
d’água. O reservatório é conectado a um tubo flexível e fenestrado o
qual é capaz de drenar gases, no caso do pneumotórax, e líquidos,
em caso de derrame pleural. Em geral, o reservatório é composto por
uma haste imersa e um ou dois orifícios laterais na tampa em
contato com o ar ambiente. A haste deve ficar submersa até a marca
sinalizadora ou cerca de 2 centímetros sob a água para que o
sistema funcione adequadamente. O frasco reservatório é vantajoso
por permitir a mensuração de líquido drenado e verificar se há
presença de bolhas na água, o que traduz a drenagem de gases.
Dreno de Kehr
O dreno de Kehr ou dreno em “T” são comumente utilizados após
manipulação de vias biliares, que são ocupadas pelo dreno, o qual
contém uma extremidade mais longa que é trazida para a pele,
criando assim uma fístula biliar controlada, conectada a um saco
coletor. Este dispositivo permite a realização de uma colangiografia
para verificar a patência das vias biliares ou a presença de cálculos.
Pode ser clampeado após sete dias e retirado na ausência de sinais
de obstrução canalicular.
Fonte: Surgical Technology.10
Dreno de Penrose
o dispositivo para drenagem aberta mais frequente. Feito
geralmente de látex, é uma estrutura laminar, achatada e semelhante
a um dedo de luva. Para absorver o conteúdo líquido drenado, uma
gaze deve ser aplicada em sua extremidade externa. Por não estar
conectado a um reservatório, a mensuração de líquido drenado nesse
caso é difícil, permitindo apenas uma estimativa a partir de gases
trocadas. Pelo fato de consistir num sistema aberto ao meio externo,
a complicação mais comum deste dispositivo é infecção bacteriana -
essas colonizam o dispositivo e por contiguidade infectam a região.
Em geral, é utilizado para drenar pus e retirado em poucos dias.
1.3.Quando é indicado?
Os drenos podem ser indicados de maneira terapêutica ou
profilática, sendo essa última sua indicação mais comum. Em
qualquer cirurgia na qual é criada uma cavidade, o corpo tem a
tendência a acumular líquido ou gás e, dessa forma, a indicação
profilática tem como objetivo evitar que haja acúmulo de fluidos a fim
de prevenir hematoma, seroma e infecção. É imprescindível que a
indicação para drenagem seja individualizada para o caso e
procedimento submetido, pois, caso contrário, é possível que a
internação seja prolongada e o paciente exposto a riscos
desnecessários e desconforto. Esses dispositivos são
frequentemente usados após cirurgias de tireóide, mama, região
axilar, abdome e após artroplastias.
1.6. Complicações
Como qualquer procedimento invasivo, existem riscos de eventos
adversos no manejo do paciente com dreno. Dentre as complicações
mais comuns, pode-se citar hemorragia, inflamação local, infecção e
obstrução da via. Outras complicações de pior prognóstico incluem
perfuração intestinal e fístula enterocutânea em drenos abdominais;
hemotórax, pneumotórax hipertensivo e enfisema subcutâneo no
caso do dreno de tórax, dentre outras. É possível ainda que o dreno
quebre durante sua remoção e haja necessidade de reabordagem
cirúrgica do paciente, o que, assim como no caso das outras
complicações, certamente prolongará o tempo de internação do
paciente.
1.7. Contraindicações
A literatura não estabelece contraindicações absolutas à
aplicação de drenos com finalidade terapêutica ou profilática.
Entretanto existem determinadas condições nas quais o médico deve
considerar antes de submeter o paciente a esse procedimento
invasivo, tais como no caso de coagulopatia; uso contínuo de
anticoagulantes orais sem suspensão nas últimas 48 horas e com
INR superior a 1,5; uso contínuo de antiagregante plaquetário sem
suspensão nos últimos 5 a 7 dias; infecção da pele local; recusa do
paciente; inserção em hematoma próximo a anastomose arterial,
uma vez que o paciente tem risco aumentado de choque
hipovolêmico.
2. SONDAS
2.1. O que são?
Sondas podem ser definidas como tubos de borracha ou plástico
flexível que são introduzidos em algum canal do organismo ou
cavidade.
2.2. Tipos
Sonda nasogástrica ou Levine
Consiste num tubo simples de luz única, feito de plástico, com
aberturas próximas à extremidade. Possui marcas circulares que
auxiliam sua inserção, de acordo com o tamanho necessário aferido.
Sonda de Levine. Fonte: Medienf24.13
Sonda de Sengstaken-Blakemore
Criado na década de 50 por Sengstaken e Blakemore, é um
dispositivo usado especificamente para tratamento hemorragia
digestiva alta por tamponamento em caso de varizes esofagianas
sangrantes, é uma sonda composta por três luzes e dois balões. Uma
luz fornece caminho para insuflar o balão gástrico (via de coloração
bege), outra luz para insuflar o balão esofágico (via de coloração
vermelha) e a última viabilizando abertura para o trato
gastrointestinal. Seu uso é contraindicado em casos de varizes de
fundo gástrico, estenose esofágica e em pacientes submetidos a
cirurgias que manipulem a junção esofagogástrica. Como principais
complicações, temos: necrose de asa de nariz, necrose esofágica e
perfuração - para tal, o balão esofágico deve ser inflado numa
pressão de 35 a 40 mmHg, aferida com manômetro, para evitar
isquemia da mucosa local.
Durante a passagem do tubo, existe a possibilidade de asfixia por
intubação endotraqueal inadvertida ou por migração do tubo - nesse
caso, o dispositivo todo deve ser removido imediatamente. A
complicação mais comum é a ocorrência de broncoaspiração,
especialmente por conta de refluxo gástrico na inserção do aparato, e
por acúmulo de saliva imediatamente acima do balão esofágico - tais
pacientes podem se beneficiar de antibioticoprofilaxia para
pneumonia aspirativa, em geral com ceftriaxone associado a
clindamicina. Em todos os casos, a Sonda de Sengstaken-Blakemore
deve ser removida compulsoriamente em 24 horas.
Exemplo de dispositivo. Fonte: Produlab.15
2.4. Complicações
A sondagem do trato gastrointestinal, seja nasogástrica ou
nasoenteral apresenta como complicações erosão da mucosa nasal,
rinossinusite, obstrução ou deslocamento da sonda, aspiração
pulmonar; desconforto abdominal; náuseas e vômitos; soluços e
distúrbios hidroeletrolíticos.
Como complicações comuns, a sondagem vesical pode ser
responsável por infecção de trato urinário; ruptura do balão da sonda;
trauma e estenose de uretra; orquiepididimite; vazamento e
obstrução da sonda e incontinência a longo prazo.
A gastrostomia apresenta como principais complicações: má
posição da sonda, podendo resultar em isquemia e necrose; infecção;
perfuração do cólon e sangramento.
São eventos adversos da jejunostomia: dor e infecção local; mal
posicionamento ou deslocamento da sonda; diarreia; dores
abdominais; hiperglicemia; extravasamento e obstrução da sonda;
perfuração; hemorragia e pneumoperitônio.
2.5. Contraindicações
Constitui contraindicação à sondagem por via nasogástrica ou
nasoenteral obstrução intestinal completa; fístula enterocutânea
proximal de grande drenagem; sangramento digestivo superior;
fístula liquórica; fratura de base de crânio.
Como contraindicação à sondagem vesical, temos estenose de
uretra; fimose e obstrução por hiperplasia prostática benigna. Caso
sua realização não seja possível, outros procedimentos como a
cistostomia devem ser considerados.
A sonda de aspiração traqueal não apresenta contraindicação
formal em seu uso.
Como contraindicações à gastrostomia, temos: coagulopatia ou
uso de medicações que prolonguem o tempo de sangramento,
antecedente de gastrectomia, carcinomatose peritoneal, ascite
volumosa, peritonite, instabilidade hemodinâmica, doenças
psiquiátricas com risco de auto-remoção da sonda e abdome
perfurativo.
A jejunostomia é contraindicada em casos de incontinência da
estomia, infecção parietal e peritoneal, deslocamento da sonda e
tardiamente risco aumentado de hérnia incisional.
Vale ressaltar que a recusa do paciente constitui uma
contraindicação e sua vontade deve ser respeitada a menos que haja
risco de morte.
REFERÊNCIAS
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2018.
4. SEALOCK, ROBERT JAYMUNOT, KHUSHBOO. Common Gastrostomy Feeding Tube
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5. TREGER, GRAHAM, DEA. Sengstaken-Blakemore Tube Placement Technique.
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. LIMA, SABRINA, SARTORI, PRISCILASOUZA, HAMILTON. Drenos abdominais:
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7. SANTOS, JOSÉ SEBASTIÃO DOS, KEMP, RAFAELSANKARANKUTTY, AJITH KUMAR et al.
Gastrostomia e jejunostomia: aspectos da evolução técnica e da ampliação das
indicações. Medicina (Ribeirao Preto. Online), v. 44, n. 1, p. 39, 2011.
. TOWNSEND CM, BEAUCHAMP RD, EVERS BM, MATTOX KL, editores. Sabiston Tratado
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9. SCHETTINI, SÉRGIO MADI, OTÁVIO. Introdução à Prática Médica. 1. ed. São Paulo:
UNINOVE, 2016.
Parte 2 | Capítulo 12
Abdome agudo
Autores: Ana Cristina Fiuza de Albuquerque e Rafael Bernardo da Silva
1. Introdução
O abdome agudo caracteriza-se como uma síndrome dolorosa que leva o doente a
procurar atendimento médico e que requer tratamento imediato, clínico ou cirúrgico. Sua
importância está na elevada prevalência e nas complicações graves que podem advir de um
diagnóstico tardio.
2. Etiologia
Qualquer órgão intra ou retroperitonial pode originar um quadro de abdome agudo. A
estrutura acometida pode ser previamente normal ou cronicamente doente, sofrendo, nesse
caso, um processo de agudização. Classicamente, os abdomes agudos são divididos em
cinco síndromes clínicas de acordo com a etiologia: hemorrágico, inflamatório, obstrutivo,
perfurativo e vascular. O trauma não constitui uma causa de abdome agudo.
Tabela 1:Principais causas de abdome agudo Quadro Clínico
HEMORRÁGICO: PERFURATIVO:
INFLAMATÓRIO: VASCULAR:
• Apendicite aguda
• Embolia da artéria mesentérica superior
• Colecistite aguda
• Choque hipovolêmico
• Colangite
• Trombose mesentérica (arterial ou
• Diverticulite
venosa)
• Pancreatitie aguda
OBSTRUTIVO:
• Bridas e aderências
• Neoplasias
• Hérnias da parede abdominal
• Diverticulite
• Volvo
• Doença inflamatória intestinal
• Íleo biliar
• Corpo estranho
3. Quadro Clínico
A caracterização da dor constitui a chave para o diagnóstico. Na maioria das vezes, o
processo se inicia com uma dor mal caracterizada referida em epi/mesogastro, definida
como visceral. À medida que o processo evolui, a inflamação do órgão se estende ao
peritônio parietal contíguo, gerando uma dor melhor localizada com sinais de defesa
abdominal. Essa apresentação é típica dos abdomes agudos inflamatórios, etiologia mais
comum.
A peritonite também pode resultar da ruptura de uma víscera, sendo as substâncias que
causam maior irritação peritoneal: suco gástrico, bile, conteúdo fecal, e, em menor
intensidade, sangue e urina.
4. Diagnóstico
A anamnese e o exame físico criteriosos são capazes de direcionar o diagnóstico em
grande parte dos casos. Dependendo da etiologia, a apresentação clínica terá algumas
particularidades.
No abdome agudo inflamatório, a dor geralmente é insidiosa, com um intervalo
relativamente longo entre o início dos sintomas e a procura por atendimento médico, ao
contrário do perfurativo, que leva, na maioria das vezes, a uma dor súbita e intensa com
difusão precoce no abdome. No abdome agudo vascular, a dor também é súbita e
persistente, porém com uma dissociação em relação ao exame físico, que não apresenta
sinais de irritação peritoneal. Já no hemorrágico, além da irritação peritoneal, há uma clínica
relacionada à perda volêmica, com taquicardia, pulsos finos, hipotensão, etc. Apesar de
todas as causas poderem cursar com náusea e vômitos, no abdome agudo obstrutivo, esse
quadro é mais proeminente e associado a: distensão, parada da eliminação de fezes e flatos
e distúrbios hidroeletrolíticos.
Na coleta da história, deve-se questionar acerca de quadros semelhantes anteriores, as
características da dor (localização, irradiação, fatores de piora e melhora), cirurgias prévias,
uso de medicações (anticoagulantes, anti-inflamatórios não hormonais, anticoncepcionais),
doenças associadas (diabetes, hipertensão, coronariopatias, arritmias, aterosclerose,
colagenoses, etc.), atraso menstrual, alterações do hábito intestinal.
No exame físico, após coleta dos sinais vitais, pesquisar a presença de palidez, icterícia,
cicatrizes e hérnias da parede abdominal, massas palpáveis, equimoses (sinal de Cullen e
Grey-Turner na pancreatite aguda).
Alguns pacientes podem ter um quadro pouco característico, dificultando e retardando o
diagnóstico. São eles os idosos, obesos, desnutridos, imunossuprimidos, em uso de
corticoides, antibióticos ou quimioterápicos.
A rotina de abdome agudo, que constitui as radiografias de tórax (póstero-anterior) e
abdome (deitado e em ortostase), é o exame de imagem mais acessível na avaliação inicial
do doente. Permite visualizar a presença de pneumoperitônio, distensão de alças, níveis
hidroaéreos, corpos estranhos. A etapa em ortostase pode ser substituída pela radiografia
em decúbito lateral com raios horizontais, na impossibilidade de o doente permanecer em
pé para o exame.
A ultrassonografia possui elevada sensibilidade para doenças das vias biliares, massas,
coleções e líquido livre na cavidade abdominal. Contudo, a tomografia contrastada do
abdome é o exame de maior acurácia no contexto do abdome agudo.
Os exames laboratoriais são direcionados pela síndrome clínica, porém a maioria dos
doentes se beneficia de um perfil que inclui hemograma completo, gasometria, eletrólitos,
função renal e glicemia.
5. Diagnóstico Diferencial
Diversas doenças podem simular um abdome agudo. Na tabela 2 estão reunidas as
condições que eventualmente se apresentam com dor abdominal e que devem estar na
lembrança do médico-assistente.
Tabela 2: Condições que simulam abdome agudo
6. Tratamento
A cirurgia é a terapia de escolha na maioria dos pacientes com abdome agudo,
reservando o tratamento clínico para algumas condições específicas. Dois exemplos são a
pancreatite aguda e a diverticulite, nas quais a cirurgia está indicada somente nas
complicações. A laparotomia também pode ser utilizada como método diagnóstico nos
pacientes sem etiologia definida e que apresentem sinais francos de irritação peritoneal ou
dor persistente associada a piora clínica.
No abdome agudo vascular, terapias endovasculares podem ser associadas para
reestabelecer o fluxo sanguíneo mesentérico nos casos de embolia e trombose arteriais.
Em todos os pacientes, a estabilização hemodinâmica e a antibioticoterapia, quando
indicada, devem ser instituídas precocemente para um melhor resultado cirúrgico.
Conclusões
O abdome agudo, devido à sua etiologia multifatorial, pode ser um desafio diagnóstico.
Contudo, sua suspeição deve ser elevada para uma rápida definição terapêutica. No
fluxograma ao final do capítulo, há uma simplificação para orientação diagnóstica a partir
das características da dor, porém, apresentações atípicas e a congruência dos sintomas das
diversas síndromes clínicas podem distanciar o médico-assistente da causa do problema.
Fluxograma diagnóstico
Referências
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2. Towsend C, et al. Sabiston Tratado de Cirurgia: a base biológica da prática cirúrgica moderna. Elsevier Brasil;
2019.
Parte 2 | Capítulo 13
1. INTRODUÇÃO
Hérnia como um estado patológico, em virtude do qual alguns órgãos da cavidade
abdominal podem sair dela, por meio de um ponto fraco da parede, natural ou adquirido,
sendo conservada a integridade do peritônio e da pele. Vemos, assim, que se excluem do
conceito de hérnia as saídas de vísceras por meio de rotura da pele e do peritônio, como
acontece nas eviscerações traumáticas ou pós-operatórias. Por outro lado, a definição
engloba as eventrações abdominais pós-operatórias ou hérnias incisionais, em que há
integridade da pele e formação de saco peritonial.
• Anatomia:
• ANATOMIA (de dentro para fora)
• Vísceras abdominais.
• Fáscia transversalis.
• Anel inguinal interno (ou profundo): início do canal inguinal.
• Canal femoral.
• Parede posterior:
• Músculo transverso.
• Músculo oblíquo interno.
• Parede anterior:
• Aponeurose do músculo oblíquo interno.
• Anel inguinal externo (ou superficial): final do canal inguinal.
• Conteúdo do canal inguinal
• Homem
• Funículo espermático (plexo pampiniforme, músculo cremaster, vasos
deferentes, conduto peritoneovaginal obliterado).
• Mulher:
Fonte: Sabiston ³
Prematuridade Prematuridade
Sexo masculino Sexo masculino
História familiar História familiar
Criptorquia Criptorquia
• Diagnóstico
• Tipos de hérnia:
HÉRNIA TIPO FISIOPATOLOGIA CARACTERÍSTICAS
Adquirida:
enfraquecimento
posterior epigástricos.
Inguinal Direta
(no triângulo de Valsalva: protusão vai de
tabagismo e idade
avançada.
mais
vasos epigástricos
inferiores
Criança: defeito
congênito
(alargamento do
provável
fechamento com 4-
Umbilical
6 anos de idade
adulto: defeito ao
lado do anel
umbilical e não no
anel umbilical
propriamente dito.
Dor desproporcional ao
gordura pré-peritoneal.
Recomenda-se reparo
• Hérnias especiais:
HÉRNIAS ESPECIAIS
• Classificação de Nyhus
Classificação de NYLUS
I. Indireta com anel inguinal profundo normal (até 2cm)
a:direta
III.
b: indireta
c: femoral
Hérnia recidivada
a: direta
IV. b: indireta
c: femoral
d: Mista
Fonte: Utiyama²
• Tipos de cirurgia:
TÉCNICA
Hérnia inguinal
Marcy Ligadura alta do saco herniário somente
em crianças
Pontos
Shouldice Imbricação de quatro planos musculares
contínuos
Reparo tecidual
Sutura da fáscia transversalis ao
Bassini em três
ligamento inguinal
camadas
vasos femorais
• Cirurgia videolaparoscópica
Técnica laparoscópica transabdominal (TAPP) versus Técnica laparoscópica totalmente
extraperitoneal (TEP)
trocartes
fixar a prótese
• Principais complicações
Trombose do plexo
Orquite isquêmica com atrofia testicular
pampiniforme
Tratamento analgesia
Fonte: Petroianu¹
Referências
1. Oliveira RG , Petroianu M, Miranda. Blackbook: Cirurgia - série BlackBook, Editora - 2008.
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Parte 2 | Capítulo 14
1. Colelitíase
1.1. Introdução
Os cálculos da vesícula biliar são formados a partir da
precipitação dos solutos contidos na bile (colesterol, bilirrubina,
proteínas), podendo serem classificados em: cálculos de colesterol
e cálculos pigmentados. O primeiro é bem mais comum,
correspondendo a cerca de 70% dos cálculos no ocidente, sendo
compostos basicamente por colesterol e cálcio. Já os pigmentados
são formados da precipitação da bilirrubina produzida a partir do
metabolismo da hemoglobina e podem ser subdivididos em
castanhos e pretos. Os cálculos pretos são encontrados nos
pacientes cirróticos ou em condições hemolíticas. Já os marrons
são encontrados nos ductos biliares são comuns em populações
asiáticas e acredita-se que se desenvolvam a partir de infecção
bacteriana ou parasitária dos ductos biliares.
Os principais processos envolvidos na formação de cálculos são:
1. Aumento da secreção (colesterol e lipídios) na bile, o que gera
a formação de cristais;
2. Ação de agentes pronucleares, como glicoproteínas e
imunoglobulinas, que também levam à formação de cristais; e
3. Dismotilidade da vesícula biliar, que leva a estase, conferindo
tempo para a precipitação dos solutos. Tempo prolongado de jejum,
nutrição parenteral total, análogos de somatostatina e vagotomia
são condições que podem promover dismotilidade e formação de
cálculos.
– Vesícula em porcelana
– Cirurgia bariátrica
– Pacientes imunocomprometidos/Transplantados
1.4. Tratamento
Tratamento de escolha da colelitíase é a colecistectomia por
videolaparoscopia. Para pacientes com risco cirúrgico proibitivo,
pode-se tentar terapia clínica com ácido ursodesoxicólico,
dissolução de contato ou litotripsia extracorpórea por ondas de
choque, porém, todas com alto grau de recidiva. Durante as crises, o
uso de sintomáticos quase sempre está indicado.
2. Colecistite aguda
2.1. Introdução
Consiste na inflamação da vesícula, quase sempre secundária a
obstrução calculosa duradoura do ducto cístico e irritação da
mucosa local. A bile contida na vesícula biliar obstruída tende a
evoluir com proliferação bacteriana, o que agrava ainda mais a
inflamação local, podendo ocasionar sintomas sistêmicos. O quadro
pode complicar ainda mais com isquemia e necrose da vesícula,
culminando na colecistite gangrenosa. Se houver infecção por
germes anaeróbios, com formação gasosa, constitui a colecistite
enfisematosa. Pode ocorrer colecistite sem a presença de cálculos
na vesícula (colecistite alitiásica), comum em pacientes internados
em UTI.
– Febre
– Hipersensibilidade a palpação
2.3. Diagnóstico
A anamnese e o exame físico muitas vezes são bastante
sugestivos do diagnóstico, porém, pode ser necessário o uso de
exames complementares para auxiliar no diagnóstico e descartar
outras doenças. Geralmente há leucocitose com desvio a esquerda
no hemograma. Porém, haver pacientes com colecistite e
leucograma normal, principalmente idosos ou imunossuprimidos.
Pode haver elevação das enzimas hepáticas secundária a
inflamação local em 20% a 25% dos casos. Geralmente não há
aumento das bilirrubinas, porém, no caso da síndrome de Mirizzi
(impactação do cálculo no infundíbulo da vesícula ocasionando
compressão extrínseca do ducto hepático/colédoco) as bilirrubinas
tendem a estar alteradas.
A ultrassonografia é o exame de escolha para confirmar presença
de cálculo na vesícula biliar com uma sensibilidade de 85% e
especificidade de 95%. Além disso, pode ser encontrado: aumento
das dimensões da vesícula, espessamento da parede da vesícula (>
5mm), presença de líquido pericolecístico, debris intravesicular e
sinal de Murphy ultrassonográfico. Em casos atípicos, pode se
utilizar a cintilografia, onde se constata a obstrução da vesícula
biliar. Tomografia pode ser utilizada, porém, é menos sensível para o
diagnóstico em comparação ao ultrassom.
2.4. Complicações
O quadro de colecistite aguda pode evoluir de várias formas,
desde um quadro leve, sem repercussões locais e sistêmicas, até
quadros fulminantes, com hipotensão, coma, insuficiência renal,
coagulopatia e plaquetopenia. As principais complicações da
colecistite aguda são: empiema, gangrena, perfuração, perfuração
bloqueada, perfuração livre, fistulização.
CONDUTA NA COLECISTITE AGUDA
Grau Definição Conduta
– Colecistectomia
Obs.: Pacientes com risco cirúrgico elevado
percutânea
2.5. Tratamento
Inicialmente, o paciente deve permanecer em dieta zero,
necessitando de reposição hidroeletrolítica, além de
antibioticoterapia de amplo espectro. Também deve-se realizar
controle da dor e dos vômitos sintomáticos. A colecistectomia é o
tratamento definitivo, tanto por técnica aberta como por
videolaparoscopia, devendo ser realizada na fase inicial da doença,
durante a primeira semana. Em caso de quadros arrastados, o
tratamento não cirúrgico imediato pode ser uma opção, porém, o
paciente deve ser submetido a colecistectomia por volta da sexta
semana pós-crise. Em casos de inflamação intensa local, pode ser
optado por colecistectomia parcial (técnica de Thorek) para se evitar
possíveis lesões ao ducto colédoco. Em paciente com risco
cirúrgico proibitivo, pode ser realizada a drenagem percutânea da
vesícula, possibilitando a melhora dos sintomas e postergando a
colecistectomia em até seis meses.
3. Coledocolitíase
3.1. Introdução
É definido pela presença de cálculo no ducto biliar comum.
Geralmente é de causa secundária, ou seja, os cálculos se originam
na vesícula biliar e acabam migrando para o colédoco (95% dos
casos). Os cálculos da via biliar podem ser classificados como
primários se originarem no ducto biliar comum (cálculos marrons),
muito comum em pacientes asiáticos, podendo também estar ligado
a vários fatores: estenose biliar, papilite crônica, colangite de
repetição, disfunção do esfíncter de Oddi, colangiopatia pancreática.
A coledocolitíase está presente em 10% a 15% dos casos de
colelitíase.
3.3. Diagnóstico
As enzimas canaliculares como fosfatase alcalina (FA) e gama-
glutamil transferase (gama-GT) são as mais alteradas nessa
doença. Os níveis de bilirrubina total (BT) podem estar elevados (>
de 2 mg/dL), secundário a obstrução biliar. Ademais, se houver
complicações associadas, pode se esperar alterações no
leucograma ou nos níveis de amilase e lipase. A ultrassonografia é o
primeiro exame de imagem a ser realizado, permitindo a
visualização do cálculo no colédoco em 50-60% das vezes. A
dilatação das vias biliares com colédoco maior de 8mm é um sinal
indireto da presença do cálculo. A tomografia (TC) pode ser
realizada, porém, não visualiza com precisão os cálculos na via biliar,
identificando apenas dilatação da via biliar intra e extra-hepáticas. A
colangiorressonância (colângio-RM) é o exame de escolha para o
diagnóstico, pois apresenta alta sensibilidade (95%) e especificidade
(98%) estando indicada na maioria dos casos suspeitos. A
colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) ainda é o
padrão-ouro no diagnóstico de coledocolitíase, porém, só é realizada
naqueles pacientes com alto índice de suspeição devido ser um
método invasivo e passível de complicações. Entretanto, permite
tanto o diagnóstico como tratamento imediato (papilotomia sem ou
com exploração endoscópica das vias biliares e colocação de
prótese). A colangiografia intraoperatória (CIO) pode ser utilizada
nos pacientes com moderado risco de coledocolitíase, permitindo o
diagnóstico durante a colecistectomia em pacientes com fatores de
risco associados para presença de cálculos. A ultrassonografia
endoscópica (USE), apresenta sensibilidade e especificidade
semelhantes a colângio-RM e à CPRE, porém é um exame de alto
custo e de menor disponibilidade.
Tabela 1: Estratificação de risco para coledocolitíase
ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO
4. Colangite aguda
4.1. Introdução
É
É definida como infecção bacteriana aguda e ascendente da
árvore biliar causada por uma obstrução. A causa mais comum são
os cálculos, no entanto, pode se manifestar a partir de qualquer tipo
de obstrução, como as neoplasias. Para haver desenvolvimento de
colangite, dois fatores são necessários: proliferação bacteriana e
obstrução de fluxo, com aumento da pressão intraluminal. Os
patógenos mais comuns são a Klebsiella, E. Coli, Enterobacter,
Pseudomonas e Citrobacter spp.
4.3. Diagnóstico
Além da clínica sugestiva e do exame físico, podemos solicitar
como exames laboratoriais a fosfatase alcalina e as transaminases,
que estarão com níveis significativamente elevados, indicando lesão
hepatocelular e processo infeccioso. O primeiro exame de imagem
que deve ser solicitado é a ultrassonografia, que evidencia dilatação
da árvore biliar. A colangiografia por CPRE ou PTC é indispensável,
pois é meio de diagnóstico e tratamento por meio da identificação
da localização e da causa da obstrução, drenagem da árvore biliar,
possibilidade de colher amostra de culturas ou realizar biópsia se
necessário.
CRITÉRIOS DE TOKYO – 2018
4.4. Tratamento
O tratamento da colangite aguda é feito com hidratação e
antibioticoterapia precoce pelo alto risco de evolução para sepse.
Entre os patógenos envolvidos encontram-se, Enterobacteriaceae,
Enterococcus e anaeróbios. A associação de ceftriaxona +
metronidazol ou ampicilina + gentamicina + metronidazol oferecem
boa cobertura e resultado terapêutico quando utilizados. Para os
pacientes que não respondem ao tratamento clínico, é necessário
realizar descompressão emergencial da árvore biliar, primeiramente
por meios endoscópicos, e, se indisponíveis, por meio da realização
da exploração do ducto biliar comum e o posicionamento de um
tubo em T. A intervenção cirúrgica deve ser protelada até a
estabilização do paciente, controle da colangite e diagnóstico
confirmado, devido à alta morbidade e mortalidade. A
colecistectomia deve ser realizada ainda no mesmo internamento
após estabilização do quadro.
5.4. Diagnóstico
O primeiro exame de imagem solicitado, geralmente é a
ultrassonografia, com sensibilidade de de 50% a 80%, alcançando
identificação de quase 90% nos casos avançados. Os achados mais
importantes são: espessamento da parede da vesícula sem sinais
de colecistite aguda, lesão irregular no espaço sub-hepático, massa
heterogênea no lúmen da vesícula, espessamento assimétrico do
parede da vesícula ou pólipo > 10mm. A tomografia e a ressonância-
NM apresentam importância no estadiamento, principalmente para
demonstrar metástases regionais e no planejamento cirúrgico. A
colangiorressonância, apresenta uma imagem mais definida da
árvore biliar. A CPRE é útil nos casos de icterícia obstrutiva, pois
pode precisar o local acometido e utilizar próteses como tratamento
paliativo. O ultrassom endoscópico apresenta maior sensibilidade
na detecção de lesões menores de 2cm em relação a TC e
ressonância-NM e, ainda, fornece valiosa informação acerca dos
linfonodos regionais com possibilidade de coleta de citologia para
avaliação.
5.5. Estadiamento
TUMOR PRIMÁRIO
Tumor que perfura a serosa (peritônio visceral) e/ou que invade diretamente o
T3
fígado e/ou outro órgão ou estrutura adjacente
Tumor que invade a veia porta principal ou artéria hepática ou que invade dois ou
T4
mais órgãos ou estruturas extra-hepáticas.
LINFONODOS REGIONAIS
METÁSTASE A DISTÂNCIA
M0 Ausência de metástase a distância
M1 Metástase a distância
Estádio 0 Tis N0 M0
Estádio 1 T1 N0 M0
Estádio 2 T2 N0 M0
A: T3 N0 M0
Estádio 3 B: T4 N0 M0
T1-3 N1 M0
A: T4 N? M0
Estádio 4 B: T? N2 M0
T? N? M1
5.6. Tratamento
A taxa global de sobrevida em 5 anos é de 3% a 13%. Cerca de
80% dos pacientes morrem dentro do primeiro a partir do
diagnóstico. A quimioterapia e a radioterapia não causam
modificação nas taxas de sobrevida. Apenas 10% a 30% dos
pacientes são considerados candidatos a ressecção quando
diagnosticados. A ressecção da vesícula biliar ainda é o tratamento
com potencial de cura, com a abordagem convencional sendo a de
escolha devido o potencial maior de disseminação da doença caso a
vesícula seja perfurada. Dependendo do estadiamento, é necessário
realizar uma colecistectomia alargada, com a retirada das cadeias
linfonodais pericoledocianos, periportais, hepatoduodenais, celíacos
direitos e pancreaticoduodenais posteriores, além do ducto hepático
ou do parênquima hepático a depender do grau e da localização da
invasão. Pacientes já colecistectomizados podem necessitar de
outros procedimentos cirúrgicos para ampliação de margens. Para
pacientes com doença irressecável, o tratamento paliativo deve ser
realizado, com descompressão da via biliar por stents, tratamento
da dor e desobstrução duodenal. Em casos de irressecabilidade
(envolvimento da veia porta ou hepático extenso) ou incurabilidade
(metástase hepática ou peritoneal), biópsia percutânea deve ser
realizada para diagnóstico tecidual.
6.4.Estadiamento
Estadiamento do câncer do ducto biliar intra-hepático
TUMOR PRIMÁRIO (T)
Estádio 0 Tis N0 M0
Estádio I T1 N0 M0
Estádio II T2 N0 MO
Estádio III T3 N0 M0
T4 N0 M0
Estádio IV A
Qualquer T N1 M0
Estádio 0 Tis N0 M0
Estádio I T1 N0 M0
Estádio II T2 a-b N0 MO
Estádio III A T3 N0 M0
T4 N0-1 M0
Estádio IV A
Qualquer T N2 M0
Estádio 0 Tis N0 M0
Estádio Ia T1 N0 M0
Estádio Ib T2 N0 M0
Estádio IIa T3 N0 M0
T1 N1 M0
Estádio IIb T2 N1 M0
T3 N1 M0
Estádio III T3 N0 M0
6.5. Tratamento
O tratamento cirúrgico com ressecção da lesão com margens de
segurança livres de tumor é a única modalidade terapêutica com
potencial de cura para os colangiocarcinomas. Nos tumores
proximais, deve ser realizado a retirada em bloco do ducto colédoco
com parênquima hepático. Os tumores distais são tratados com
duodenopancreatectomia cefálica, devendo ser realizado
congelação para determinar área livre de tumor na via biliar. Quando
o tumor for irressecável há indicação de descompressão da via biliar
para melhora da qualidade de vida e alívio da icterícia. A
desobstrução pode ser realizada por via percutânea, por stent ou por
papilotomia ou ainda por cirurgia com anastomose biliodigestiva. A
classificação de Bismuth-Corlette demonstra a extensão do
envolvimento dos ductos biliares e extensão da ressecção a ser
realizada nos tumores hilares. A classificação da American Joint
Committee Cancer tem demonstrado ser mais útil na definição da
conduta a ser adotada. Quimioterapia e radioterapia geralmente não
são utilizadas pois não mostraram grandes benefícios. Metástase a
distância ou doença localmente avançada constituem critérios de
irressecabilidade.
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Parte 2 | Capítulo 15
1. INTRODUÇÃO
Os novos casos de câncer colorretal estimado para o Brasil no
ano de 2010 é de 13.310 casos em homens e de 14.800 em
mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 14 e
15 casos novos a cada 100 mil homens e mulheres,
respectivamente. Esses tumores acometem o cólon esquerdo em
77,8% dos casos, destacando-se o cólon sigmoide (32,6%) e da sua
junção com o reto (29,0%). Mais de 80% dos pacientes têm mais de
50 anos, tendo como idade média 60,6 anos.
O subtipo mais frequente é o adenocarcinoma, presente em 95%
dos casos, cujo risco de desenvolvimento é ainda mais elevado nas
síndromes de pólipos hereditários. Contudo, cerca de 90% desses
tumores originam-se esporadicamente de adenomas polipoides.
Vários estudos vêm comprovando a sequência adenoma-carcinoma
(Mucosa Normal Epitélio Hiperplásico Adenoma Câncer) na
carcinogênese colônica. Existe uma interação complexa de fatores
genéticos (genes: APC, K-RAS e p-53) e ambientais, como dieta, que
determinam o surgimento desse tumor. O fígado e os linfonodos
regionais são os locais mais comuns de disseminação, sendo rara a
disseminação para outros órgãos antes do acometimento hepático.
2. FATORES DE RISCO
• Idade superior a 50 anos, aumentando sua incidência a cada
década a partir dessa idade.
• Raça negra.
• Presença de doença anorretal benigna.
• Dieta rica em calorias, gordura animal e carboidratos
refinados.
• Atividade física.
• Ingestão de folato, cálcio e vitamina D.
• Aspirina.
4. SÍNDROMES HEREDITÁRIAS
A.Polipose Adenomatosa Familiar (PAF):
• Critérios diagnósticos:
i. Três ou mais parentes com CCR.
ii. Pelo menos um destes de primeiro grau.
iii. Um com menos de 50 anos.
iv. Tendo pelo menos duas gerações acometidas.
v. Exclusão de PAF.
C.Outras síndromes:
5. TRIAGEM
• População geral, sem fatores de risco: a partir dos 50 anos.
B. Sigmoidoscopia flexível:
C. Colonoscopia:
D. Enema opaco:
• Reservado para os casos em que a colonoscopia não pode
ser realizada.
• Colonoscopia virtual.
• Melena.
• Anemia ferropriva.
B. Cólon esquerdo:
• Sintomas obstrutivos.
• Perfuração.
Anemia 74 15,1%
6.2. Diagnóstico
A. Anamnese:
• Sangramento retal.
• Anemia .
• Emagrecimento.
• Dor abdominal.
• História familiar.
• Fatores de risco.
B. Exame físico:
C. Exames complementares:
6.3. Estadiamento
O sistema para estadiamento mais utilizado para tumores de
cólon é o TNM. Para estadiamento preciso, é necessária ressecção
cirúrgica para estudo.
6.4. Tratamento
• O melhor tratamento para neoplasias colônicas é a
ressecção cirúrgica.
A.Tratamento cirúrgico:
B. Tratamento quimioterápico:
6.5. Prognóstico
ESTÁGIO SOBREVIDA MÉDIA
REFERÊNCIAS
1. Cruz GMG, Santana JL, Santana SKAA, Constantino JRM, Chamone BC, Ferreira RMRS,
et al. Câncer Colônico – Epidemiologia, Diagnóstico, Estadiamento e Gradação
Tumoral de 490 Pacientes. Rev bras Coloproct, 2007; 27(2): 139-153.
2. Courtney M, et al. Sabiston: Textbook of Surgery: The Biological Bases of Mordern
Surgical Practice. 19th ed. Elsevier; 2015.
3. Regadas FSP et al. Fundamentos da Cirurgia Digestiva. 1. ed. Edições UFC; 2010.
4. Meyerhardt J, Saunders M. Colorectal Cancer. Dana-Farber Cancer Institute. Elsevier;
2007.
5. America Cancer Society. Cancer facts and figures. Atlanta; 2007.
Parte 2 | Capítulo 16
1. INTRODUÇÃO
As neoplasias gástricas podem ser divididas em benignas e malignas. As benignas são
sinalizadas, na maioria das vezes, por pólipos, que são encontrados incidentalmente na
endoscopia digestiva alta (EDA). Eles são achados em 6% dos procedimentos, pois a
maioria são assintomáticos.
As neoplasias malignas gástricas são consideradas como a mais comuns em alguns
países. No Japão é o câncer mais comum. É considerada a causa de maior mortalidade em
oncologia. Um dos motivos por essa alta taxa na mortalidade é pelo diagnóstico tardio,
pois essa patologia é assintomática, evoluindo com sintomas sutis. No Brasil, está entre as
5 causas de câncer, retirando o câncer de pele não melanoma. De acordo com a
epidemiologia, é mais comum em homens na 5º a 7º década. O tipo mais comum é o
adenocarcinoma gástrico com 95% dos casos.
2. NEOPLASIAS BENIGNAS
Alguns dos fatores de risco dos pólipos gástricos são H. pylori, gastrite atrófica,
inibidores da bomba de prótons e síndromes familiares. A abordagem inicial deve abranger
a avaliação histológica do pólipo e da mucosa circundante. A polipectomia deve ser
realizada em todos os pólipos com características neoplásicas ou com diâmetro maior ou
igual a 1 cm. Quando há múltiplos pólipos, deve ser escolhido o maior para ressecção.
Além disso, colher biópsia dos outros pólipos. Para estudo da mucosa, no Brasil, é colhido
de 5 amostras, duas em antro, uma em incisura angular e duas em corpo gástrico. O
objetivo desse estudo é avaliar presença de displasia e de H. pylori.
De acordo com essa avaliação, os pólipos serão divididos em:
3. NEOPLASIAS MALIGNAS
3.1. Adenocarcinoma gástrico
Os fatores de risco para o adenocarcinoma gástrico são: nutricionais (baixo consumo
de gordura e proteínas animais, alto consumo de carboidratos complexos, excessivo
consumo de nitratos, pouco consumo de frutas e verduras), ambientais (tabagismo, água
contaminada), social (baixo nível socioeconômico), médica (gastrectomia parcial, anemia
perniciosa, H. pylori, pólipos adenomatosos, doença de Ménétrier), sexo masculino e grupo
sanguíneo A (específico para o subtipo “difuso”).
Há dois tipos de classificação mais usadas no câncer gástrico conhecidos como Lauren
e Borrmann. A primeira é de acordo com histologia, dividindo o adenocarcinoma em
intestinal e difuso. Já a de Borrmann leva em consideração as características
endoscópicas, dividindo em 4 tipos macroscópicos diferentes.
Existe a classificação, também, do chamado câncer gástrico precoce, tumores restritos
a mucosa e submucosa, com ou sem linfonodos locais. Ela foi iniciada no Japão, onde
realizam screening em pacientes assintomáticos, proporcionando uma taxa de cura de
85%. A primeira figura a seguir é a classificação do câncer precoce e a segunda imagem
seria classificação macroscópica do adenocarcinoma gástrico.
CONCLUSÃO
Por fim, a maior dificuldade para se ter conhecimento dessas lesões precocemente é o
diagnóstico, pois são ou assintomáticas ou apresentam sintomas inespecíficos. Quanto
mais precoce o diagnóstico, melhor o prognóstico e a sobrevida do paciente.
Consideremos lesões precoces gástricas, são tratadas apenas com ressecção
endoscópica com boa resposta ao tratamento. Em lesões gástricas diversas, sem doença a
distância, considerado tratamento cirúrgico como procedimento curativo. Se houver
metástases, consideramos terapia paliativa, que o objetivo é proporcionar alívio dos
sintomas e evitar complicações com menor morbidade.
REFERÊNCIAS
1. Mahachai V, Graham DY, Odze RD. Gastric polyps. UpToDate; 2019 [acesso em 03 out. 2019].
2. Clínica Cirúrgica USP. 1. ed. Barueri, SP: Manole. 2 volumes.
3. Townsend C, Beauchamp D. Sabiston: Tratado de Cirurgia. 19. ed. 2 volumes.
4. Waidhauser J, et al. Frequency, localization, and types of gastrointestinal stromal tumor-associated neoplasia.
World Journal Of Gastroenterology, [s.l.], 14 ago. 2019; 25(30): 4261-4277.
Parte 2 | Capítulo 17
• Antibioticoterapia:
Esquema 1 – ampicilina + aminoglicosídeo + metronidazol ou
Esquema 2 – cefalosporina de terceira geração ou
ciprofloxacina + metronidazol.
Tempo de tratamento de quatro semanas. As primeiras duas
semanas parenterais e, a depender da resposta ao tratamento
(regressão da lesão, paciente assintomático, leucograma
normal), alta com tratamento ambulatorial por mais duas
semanas. Lembrar que a cultura das amostras colhidas
escalona a escolha dos fármacos.
Referências
1. Bahirwani R, Reddy KR. Review article: the evaluation of solitary liver masses. Aliment
Pharmacol Ther 2008; 28: 953-965.
2. Bioulac-Sage P, Laumonier H, Laurent C. Hepatocellular adenoma: what is new in 2008.
Hepatol Int. 2008; 2: 316-321.
3. Chiche L, Thong D, Salame E. Liver adenomatosis: reappraisal, diagnosis, and surgical
management. Ann Surg. 2000; 23: 74-81.
4. Ercolani G, Grazi GL, Pinna AD. Liver transplantation for benign hepatic tumors: a
systematic review. Dig Surg. 2010; 27: 68-75.
5. Gibbs JF, Litwin AM, Kahlenberg MS. Contemporary management of benign liver
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sequential management with transcatheter arterial embolization and resection. Saudi J
Gastroenterol 2010; 16: 116-119.
7. Wenniger MBL, Terpstra V, Beuers U. Focal nodular hyperplasia and hepatic adenoma:
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9. Prasad SR, Sahani DV, Mino-Kenudson M. Benign hepatic neoplasms: anupdate on
cress-sectional imaging spectrum. J Comput Assist Tomogr2008; 32: 829-840.
10. Takayasu K. Computed tomography of a rapidly growing hepatic hemangioma. J
Comput Assist Tomogr 1990; 14: 143-145.
11. Veteläinen R, Erdogan D, De Graaf W. Liver adenomatosis: re-evaluation of aetiology
and management. Liver Intern 2008; 28: 499-
12. Sangiovanni A, et al. The diagnostic and economic impact of contrast imaging
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13. Forner A, Reig M, Bruix J. Hepatocellular carcinoma. Lancet. 2018; 391(10127): 1301-
1314.
Parte 2 | Capítulo 18
1. Introdução
A doença diverticular caracteristicamente é uma doença benigna,
que pode acometer pacientes de todas as faixas etárias, porém, é
mais frequente com o avançar da idade, chegando a acometer cerca
de 10% dos adultos na faixa dos 50 anos, podendo chegar a 50%-80%
da população acima dos 80 anos, com distribuição igualitária entre
homens e mulheres. A doença diverticular caracteriza-se pelo
surgimento de uma protusão sacular que pode surgir por meio de
qualquer seguimento do trato gastrointestinal, porém sendo mais
comum o surgimento dessa afecção no cólon. A projeção sacular
pode ser classificada em divertículo verdadeiro, quando composto
por todas as camadas da parede intestinal, ou pseudodivertículo,
quando não possui uma das camadas, os divertículos colônicos, que
são epidemiologicamente mais prevalentes, em regra são projeções
da mucosa intestinal, sem demais camadas, sendo, assim, os
pseudodivertículos os mais prevalentes.
Figura 1: Diverticulitis, saco de mucosa intestinal
Fonte: Gastroenterologos
2. Patogênese
Os divertículos originam-se da herniação de parte ou todas as
camadas do TGI, sendo mais relevante e mais prevalente a patologia
no cólon, destaca-se que nessa porção do TGI a projeção da mucosa
por meio dos pontos de penetração das arteríolas na parede
muscular, podendo em alguns casos a arteríola ser elevada até o
cume do divertículo, incorrendo nesses casos maior frequência de
eventos hemorrágicos com repercussão clínica. Destaca-se ainda na
patogênese da doença diverticular o espessamento da parede
colônica, consequente da hipertrofia da camada muscular colônica,
podendo ainda preceder o surgimento do divertículo, associa-se esse
espessamento com a base etiopatogênica da diverticulose, que,
apesar de não ser totalmente definida, associa-se fortemente com a
mudança de padrão alimentar decorrente da revolução industrial que
introduziu fortemente alimentos processados na dieta ocidental, com
destaque para o trigo refinado, assim como açúcares e carnes
vermelhas, em suma, alimentos com maior teor calórico e menor
quantidade de fibras, influindo, assim, no prejuízo da formação do
bolo fecal, gerando uma necessidade de maior esforço da
musculatura intestinal para viabilizar a projeção do conteúdo
entérico, incorrendo assim no aumento significativo da pressão
intraluminal, podendo chegar a 90mmhg em alguns pontos do cólon,
gerando assim os divertículos nos pontos da maior fragilidade
tensional. Associa-se ainda a essa etiopatogênese o processo
natural de envelhecimento, onde nesse caso o processo de
fragilidade e frouxidão das fibras viabiliza o surgimento das
saculações.
3. Quadro Clínico
A doença diverticular, como outras das patologias benignas,
apresenta-se na maioria dos pacientes de forma assintomática,
sendo frequente sua descoberta incidental a realização de exame
colonoscópico eletivo por outra queixa ou de rastreio, porém em
alguns casos podem apresentar sangramento retal, podendo chegar
até a hemorragias maciças. Nas patologias diverticulares destaca-se
uma complicação comum nos portadores de divertículos, a
diverticulite, que manifesta-se com clínica variada, a depender do
grau de acometimento e extensão do processo diverticular, sendo
comumente flagrado dor no quadrante inferior esquerdo do abdome,
febre baixa redução ou aumento de mobilidade gastrointestinal,
anorexia e leucocitose, não infrequente pode surgir também dor
supra púbica, dor em fossa ilíaca direita, fleimão de bloqueio
infeccioso, até peritonite difusa e sepse, tudo isso associa-se
diretamente à localização do divertículo acometido.
4. Diverticulite
A diverticulite é uma infecção pericólica extraluminal resultante
do extravasamento de conteúdo fecal secundário a uma perfuração
no divertículo; em resposta a esse fato o organismo inicia um
processo de controle infeccioso visando conter a infecção, dando
assim início às queixas e às sintomatologias.
A evolução clínica da diverticulite é variada e depende
diretamente da competência do organismo na contenção do
processo infeccioso, por isso o diagnóstico preciso é necessário para
adequada condução do caso. Além dos sintomas citados
anteriormente destaca-se durante o exame físico do paciente com
suspeita de diverticulite o toque retal e vaginal, visando flagrar massa
flutuante dolorosa, que é fortemente sugestiva de abscesso.
5. Diagnóstico
Dentre os exames de imagem sugere-se a Tomografia de Abdome
Total com contraste como exame preferencial na avaliação do
paciente com suspeita de diverticulite, podendo ainda optar-se pela
Ressonância Magnética sem prejuízos ao diagnóstico da patologia,
assim como de suas complicações, respeitando obviamente as
peculiaridades de cada técnica assim como a viabilidade de
realização desses exames de maneira individualizada ao caso do
paciente. Destaca-se ainda a possibilidade da ultrassonografia
abdominal como exame de auxílio no diagnóstico e segmento do
paciente com diverticulite, porém com prejuízo na avaliação caso
haja dissensão gasosa, o que não é infrequente nesses pacientes,
porém como vantagem do método ultrassonográfico destaca-se a
possibilidade de drenagem percutânea de abscessos intracavitários.
Devemos citar ainda o clister opaco, método utilizado com
frequência antes da disponibilidade dos métodos tomográficos, que
consiste na infusão de contraste via retal seguido de radiografia;
esse contraste deve ser hidrossolúvel para não acarreta risco de
peritonite por bário. Esse método vem caindo em desuso pelo
elevado risco de extravasamento de contraste para cavidade
abdominal agravando e disseminando o processo infeccioso, além
do risco da pressão positiva, para injetar o contraste, acrescentar um
extravasamento adicional de conteúdo fecal no cavidade. Esse
último risco também se estende a outros exames que necessitam de
pressão positiva para realização como a sigmoidoscopia e a
colonoscopia, exames que, via de regra, são sugeridos quando,
dentre os diagnósticos diferenciais, levanta-se fortemente a
possibilidade de neoplasia intestinal perfurada, porém devem ser
criteriosamente avaliada a sua realização de acordo com o custo-
benefício em cada caso.
Figura 2: Tomografia computadorizada (TC) da pelve, corte axial,
sem meio de contraste, evidenciando divertículos em cólon
sigmoide (círculos vermelhos)
Fonte: Acoesunimedbh
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. Townsend MC. Sebastian: Tratado de Cirurgia. 20. ed. Elsevier; 2019.
2. Cirocchi R. A historical review of surgery for peritonitis secondary to acute colonic
diverticulitis: from Lockhart-Mummery to evidence-based medicine. World Journal of
Emergency Surgery. 20 de jan. 2017.
3. Ribas Y, et al. Int J Colorectal Dis. 2010 Nov; 25(11): 1363-70. Epub 2010 Jun 5.
4. Fingerhut A, Veyrie N. Complicated diverticular disease: the changing paradigm for
treatment. Rev. Col. Bras. Cir., Rio de Janeiro; 39(4): 322-327, Aug. 2012 [acesso em 26
out. 2019].
5. Cantao AFB, et al. Jejunal diverticulitis as a cause of acute abdomen. J. Coloproctol.,
Rio de Janeiro, 2016 Mar.; 36(1):50-52 [acesso em 26 out. 2019].
. Muglia VF. Doença diverticular dos cólons: evolução da abordagem terapêutica e papel
da tomografia computadorizada nos quadros agudos. Radiol Bras., São Paulo, 2017
Apr.; 50(2): IX-X. [acesso em 26 out. 2019].
7. Yucesoy AN. A double row epiploicoplasty for primary closure of free perforated
sigmoid diverticulitis. J. Coloproctol., Rio de Janeiro, 2018 Sept.; 38(3): 254-256
[acesso em 26 out. 2019].
Parte 2 | Capítulo 19
1. Pancreatite aguda
1.1. Introdução
No fim do século XIV e início do século XX diversos
pesquisadores como Rugero Oddi e Claude Bernard descreveram
detalhes da anatomia biliopancreática e sua fisiologia. O
desenvolvimento desses estudos culminou com os trabalhos
publicados por Reginald H. Fitz e H. Chiari, que inauguraram o
estudo da pancreatite aguda e suas complicações.
Desde então, a sua fisiopatologia e tratamento vêm sendo
estudados, no entanto, os dados sobre a doença no Brasil ainda são
bastante escassos, especialmente dados atualizados, e a maior
parte das fontes de informação sobre ela provêm de estudos
realizados na Europa e nos Estados Unidos.
Colelitíase
Etilismo
Hipertrigliceridemia
Pós-CPRE
Drogas
Autoimune
Hereditária
Trauma
Infecções
Hipercalcemia
Pós-operatório
CONTROVERSAS
Pâncreas divisum
1.6. Etiologia
O álcool é o principal fator etiológico da doença e atua como
cofator em pessoas que são suscetíveis a desenvolver a patologia
por outros motivos, sejam eles genéticos ou ambientais. Já o
tabagismo aumenta o risco de pancreatite crônica e acelera a
progressão de todas as formas da condição. O risco da doença é 7 a
17 vezes maior para tabagistas em relação a não fumantes.5
Figura 1: Pancreatite crônica alcóolica. Seção histológica do
pâncreas de um paciente com pancreatite crônica induzida pelo
álcool representando fibrose abundante e atrofia acinar.
Fonte: Sampaio.6
1.7. Tratamento
O controle da pancreatite crônica deve seguir abordagem
sequencial e escalonada, a começar pela eliminação de fatores
exógenos tóxicos como o álcool e o fumo, seguido pela
suplementação de enzimas pancreáticas e pelo uso criterioso de
analgésicos. A abstinência do álcool é fundamental, especialmente
quando ele é o pilar causador da doença. Pacientes com sintomas
persistentes podem passar por tratamentos mais invasivos. A
estimativa é de que até 50% dos pacientes desenvolvam sintomas
progressivos ou clinicamente intratáveis e que se tornem candidatos
ao tratamento cirúrgico. A principal indicação cirúrgica é a dor
abdominal intratável, mas ela também é indicada nas complicações
da pancreatite crônica, como pseudocistos, fístulas pancreáticas,
estenoses, comprometimento de órgãos adjacentes ou suspeita de
neoplasia.9
Devido à causa multifatorial da dor e ao pouco entendimento da
fisiopatologia da pancreatite crônica, várias opções cirúrgicas foram
desenvolvidas ao longo do tempo. Os procedimentos têm sido
classificados em três categorias: descompressão ductal,
denervação do pâncreas e ressecção proximal, distal ou total do
pâncreas. As estratégias de denervação se mostraram inefetivas ou
inviáveis, o que restringiu a discussão do tratamento cirúrgico à
descompressão versus ressecção. Nas últimas décadas surgiram
novos procedimentos híbridos, que combinam as duas modalidades
e são seguros e efetivos, na medida em que apresentam os
benefícios de remissão da dor dos procedimentos cirúrgicos de
ressecção, associados às baixas taxas de morbidade e mortalidade
dos procedimentos descompressivos.9
Em 1987, Frey e Smith desenvolveram uma técnica que alia as
duas vantagens de forma máxima. Ela consiste na ressecção local
da cabeça do pâncreas com uma pancreatojejunostomia
longitudinal (figura 2). Ao contrário de outros procedimentos muito
utilizados, nos quais o colo pancreático é dissecado da junção
esplenomesentérica e seccionado; neste o colo é preservado
intacto, com o corpo e cauda do órgão, o que facilita e reduz os
riscos da operação, gerando taxas de mortalidade próximas a zero.
Figura 3 – Principais passos da técnica de Frey, em que (A)
corresponde à abertura do ducto de Wirsung longitudinalmente
retirando cálculos e desfazendo estenoses; (B) enucleação do tecido
pancreático da cabeça e processo uncinado do pâncreas em
contiguidade com a abertura do ducto de Wirsung; (C) visão
transversal que evidencia a margem posterior de ressecção da
cabeça pancreática em contiguidade com o ducto pancreático
principal. (D) reconstrução com anastomose pancreatojejunal.
Fonte: Gestic.10
Conclusão
Foi detectada severa escassez de estudos sobre a realidade da
pancreatite tanto aguda quanto crônica no Brasil, especialmente no
que diz respeito à epidemiologia da doença. Nesse sentido, ressalta-
se a importância de empreender novos estudos na área no intuito de
contribuir para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes, a
exemplo da técnica de Frey, no caso da pancreatite crônica, que não
possui equivalente na contraparte aguda da doença.
Por sua vez, também é preciso reconhecer os inúmeros avanços
na compreensão e no tratamento da pancreatite desde que
começou a ser estudada no século XIX, conforme citado ao longo
deste trabalho.
Referências
1. Guimarães-Filho M, Maya M, Leal P, Melgaço A. Pancreatite aguda: etiologia,
apresentação clínica e tratamento. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto
[internet]. 2014; 8(1) [acesso em 2020 jan. 26].
Parte 2 | Capítulo 20
1. INTRODUÇÃO
Estudaremos neste capítulo as Doenças Inflamatórias Intestinais,
dando enfoque à Doença de Crohn (DC) e à Retocolite Ulcerativa
(RCU), as quais são assuntos muito abordados em provas de
residência e que possuem uma grande importância para a prática
clínica.
Ambas as doenças podem possuir apresentações clínicas
semelhantes e, dessa maneira, é lançado mão de subsídios
laboratoriais e de imagem para que se possa chegar a um
diagnóstico final. Em cerca de 10% dos casos não se é possível
diferenciar as doenças; nesse caso ela é denominada de colite
indeterminada.
Figura 1: O padrão saltatório da doença ajuda no diagnóstico de qual
DII se trata
Fonte: Johns Hopkins Medicine
1.1. Fisiopatologia
Não há uma causa bem definida que explique ao certo o
surgimento dessas doenças, mas acredita-se que a resposta estaria
em alterações da imunorregulação intestinal. Entretanto, sabe-se que
fatores genéticos (história familiar etc.) e ambientais (patógenos
como: Salmonella, Campylobacter e anaeróbios); fatores
psicossociais; tabagismo; hábitos alimentares; anticoncepcionais e
anti-inflamatórios estão ligados às patogêneses destas.
Obs.: Curiosamente tabagismo é fator protetor para risco de
desenvolvimento de RCU, enquanto aumentaria em duas vezes o
risco de desenvolvimento de DC.
2. DOENÇA DE CROHN
2.1. Epidemiologia
Tem um pico de incidência etária bimodal (15 aos 25 anos e dos
55 aos 60 anos), principalmente em brancos, judeus principalmente
de áreas urbanas, e tem o aumento do seu risco de incidência com o
uso de anticoncepcionais orais em mulheres.
2.2. Patologia
Na DC o trato gastrointestinal pode ser todo afetado desde a boca
até o ânus em padrão descontínuo, tendo sítio de preferência para
instalação no intestino delgado (90% dos casos), principalmente o
íleo terminal. Dessa maneira, há o padrão de “pedra de calçamento”
em que há uma mucosa sadia alternada com a mucosa lesionada
(padrão descontínuo). De maneira mais histológica pode ser
observado granulomas não caseosos formados por infiltrações
frouxas de macrófagos e úlceras aftoides.
2.3. Diagnóstico
Para realização do diagnóstico não se pode ater apenas a um
aspecto clínico ou laboratorial, é necessário um conjunto de
indicativos laboratoriais, radiológicos, endoscópicos, além de
anamnese para se fechar o diagnóstico e se excluir possíveis
diagnósticos diferenciais tais como RCU, diverticulite, gastroenterite
eosinofílica, apendicite, linfomas, entre outros.
A manifestações clínicas apresentam-se com períodos de
exacerbação alternados com períodos de remissão. As
manifestações intestinais mais características se apresentam como
dor abdominal, diarreia e consequente perda ponderal, que também
se associa à má absorção intestinal, que ocorre principalmente nas
ileocolites. Entretanto, a DC pode afetar da boca ao ânus, portando os
sintomas vão variar conforme local de instalação e tipo de agressão
ao organismo, podendo ser do tipo inflamatório, fibroestenosante ou
fistulizante. Dessa maneira os sintomas variam desde febre baixa,
astenia, úlceras aftoides em boca, sintomas dispépticos, diarreia
sanguinolentas, incontinência anal, abcessos, suboclusões ou
obstruções, fístulas enterocutâneas, perianais etc. Ainda há a
existência de manifestações extraintestinais (MEI), mas estas serão
vistas à parte por serem comuns a RCU e DC, apesar de leve
predileção por portadores de DC.
No exame físico podem ser observados achados a ectoscopia
como aftas orais, fístulas enterocutâneas etc., além de dor a
palpação abdominal, massas palpáveis, distensão devida a
processos obstrutivos.
O laboratório pode mostrar anemia, leucocitose VHS e PCR
aumentados, distúrbios hidroeletrolíticos e albumina diminuída
devido ao processo de desnutrição. Quanto a sorologias, os dois
principais marcadores são o p-ANCA, anticorpo antineutrofílico
citoplasmático perinuclear (detectado entre 60%-70% dos portadores
de RCU e de 5%-10% dos de DC) e o ASCA, anticorpos anti-
Saccharomyces cerevisiae (presente em 60%-70% dos portadores de
DC e 10%-15% dos de RCU).
A radiografia simples pode indicar dilatações de alças,
perfurações e em caso de uso de contraste evidenciar fistulas e
estenoses. Ressonância magnética e Tomografia computadorizada
podem evidenciar espessamento mural >2cm e abcessos
intracavitários. Enterotomografia e enteroressonância têm obtido
melhores resultados para avaliação do intestino delgado.
2.4. Tratamento
Não existe tratamento que forneça a cura para a Doença de Crohn,
sendo assim, o objetivo principal é buscar induzir e manter a
remissão. O tratamento clínico se baseia em suporte clínico e
medicamentoso.
O tratamento deve ser feito em etapas (indução da remissão e
manutenção), tendo como arsenal terapêutico usado conforme
gravidade da doença, há corticoides, sulfassalazina,
antibioticoterapia (com metronidazol e ciprofloxacino),
imunossupressores (azatioprina e ciclosporina) além de anticorpo
monoclonais contra mediadores essências à cascata inflamatória:
inibidores do TNF-alfa (infliximabe ou adalimumabe) e anti-integrina
(natalizumab e vedolizumab).
Ele é iniciado após um sistema de avaliação da atividade da
doença baseado no número de evacuações, dor abdominal, status
geral, perda ponderal, ocorrência de fístulas e de manifestações
patológicas a distância, que permite classificar a doença em leve,
moderada ou grave.
De maneira geral, na doença leve a moderada a droga de primeira
escolha são os derivados do 5-ASA (estratégia dita como STEP UP:
início com medicações menos potentes). Uma vez alcançada a
remissão a manutenção também é realizada com os derivados de 5-
ASA. Já nos no caso das doenças moderada a grave a droga de
primeira escolha são os agentes anti-TNF, associados a algum
imunomodulador (estratégia dita como TOP DOWN: combinação de
duas drogas, sendo assim mais efetiva). A mesma terapia de indução
que responde bem, sendo dupla deve ser mantida para terapia de
manutenção.
No caso de doença grave ou fulminante, torna-se uma emergência,
devendo as complicações – seja perfuração, abscesso ou obstrução
– serem resolvidas com rafia, drenagem e tratamento clínico inicial,
respectivamente. Além dessas condutas citadas, o uso de
antibioticoterapia deve ser preconizado, cobrindo gram-negativos
entéricos e anaeróbicos. Após o tratamento instituído e melhora
clínica, agentes biológicos ou corticoides devem ser iniciados.
O tratamento cirúrgico tem um papel restrito devido à patologia da
DC (doença que tem padrão saltatório por todo o trato
gastrointestinal), procurando sempre tratamento conservador
inicialmente, com exceção daquelas associadas a situações que
ameaçam a vida do paciente como em sepse e hemorragia maciça.
De 70%-75% dos pacientes com DC precisam cirurgia em algum
momento para aliviar os sintomas se o tratamento medicamentoso
fracassar.
Deve-se buscar realizar sempre a menor ressecção do intestino,
optando-se por estricturoplastia às enterectomias, pois recidivas são
comuns nas anastomoses, aumentando assim chances de
reabordagens. Após cirurgia, deve-se considerar azatioprina e
metronidazol durante pelo menos 3 meses, pois têm demonstrado
reduzir a recorrência.
As opções cirúrgicas mais comuns são a ressecção local com
anastomose primária (mais comum), estenoplastia (múltiplas áreas
estenosadas ao longo do segmento intestinal), colectomia subtotal
com ileoproctostomia e colectomia total com ileostomia.
3.2. Patologia
Esta doença se inicia no reto e progride de maneira ascendente e
contínua, restringindo-se até no máximo o cólon (metade das vezes
restringe-se ao reto, indo no máximo até o sigmoide e em apenas
20% dos casos acomete todo o cólon). É possível se perceber de
maneira macroscópica que ela acomete predominantemente a
camada mucosa do cólon. Em uma análise mais histológica, uma
característica muito observada é a presença de neutrófilos invadindo
o epitélio geralmente nas criptas, e com isso há a “criptite”.
3.3. Diagnóstico
As manifestações clínicas apresentam-se com períodos de
exacerbação alternados com períodos de remissão (há pessoas que
apresentam doença crônica e contínua). Os sintomas variam
conforme a apresentação e a extensão das lesões, podendo haver
manifestações extraintestinais associadas. As manifestações
clínicas mais comuns são diarreia, sangramento retal, eliminação de
muco nas fezes e dor abdominal. Em casos exuberantes pode haver
perda ponderal, febre e anorexia. Normalmente não há grandes
alterações ao exame físico.
O laboratório pode mostrar anemia, leucocitose, VHS e PCR
aumentados, distúrbios hidroeletrolíticos e hipoalbuminemia.
Leucócitos na coprologia funcional. Quanto a sorologias, os dois
principais marcadores são o p-ANCA e o ASCA (a presença de p-
ANCA + e ASCA – mostra uma especificidade de 98% p RCU).
A radiografia simples é útil para detectar a forma fulminante da
doença. Mas como o tratamento é realizado de acordo com a
extensão da doença, a retossigmoidoscopia flexível é útil para definir
as porções acometidas. A colonoscopia é contraindicada na suspeita
de megacólon tóxico, devido ao risco de perfuração.
3.4. Tratamento
A gravidade da doença é melhor avaliada pela intensidade dos
sintomas e pode ser classificada pelos critérios estabelecidos por
Truelove e Witts, úteis na definição terapêutica de indução da
remissão e manutenção: 1) leve (menos de 3 evacuações por dia,
com ou sem sangue, sem comprometimento sistêmico e com VHS
normal); 2) moderada (mais de 4 evacuações por dia com mínimo
comprometimento sistêmico); 3) grave (mais de 6 evacuações por dia
com sangue e com evidência de comprometimentos sistêmicos, tais
como febre, taquicardia, anemia e VHS acima de 30). Megacólon
tóxico também devem ser considerado grave.
De maneira geral, nas colites leves a indução é praticada com a
mesalazina retal. Em caso de refratariedade é possível associação
com corticoide retal. Para a manutenção o tratamento pode ser
mantido com mesalazina retal. Para os casos de colite leve a
moderada a terapia de escolha serão os derivados de 5-ASA, mas por
via oral. Em caso de colites graves a fulminantes é necessário
suporte clínico inicial e, em alguns casos refratários, realização de
colectomia total. A indução e a remissão são realizadas com
derivados de 5-ASA, inicialmente, mas em caso de refratariedade
imunomoduladores e até biológicos (anti-TNF) devem ser
considerados.
De 25%-30% dos pacientes com CU podem precisar cirurgia se o
tratamento médico não for completamente bem-sucedido. Observem
que pela patologia da doença, esta manifesta-se de maneira restrita
ao cólon, logo o tratamento cirúrgico com ressecção colônica torna-
se curativa, sendo a proctocolectomia restauradora com IPAA (Ileal
Pouch Anal Anastomosis) o padrão de escolha. Assim sendo, as
indicações de tratamento cirúrgico são: 1) refratariedade ao
tratamento clínico; 2) displasias e carcinomas (colectomia); 3) colites
fulminantes e refratárias e megacólon toxico (colectomia total com
ileostomia mais sepultamento do reto a Hartmann (ou fístula
mucosa) e 3) sangramento colônico maciço.
Figura 1: Proctocolectomia restauradora com IPAA (Anastomose Anal
da Bolsa Ileal)
Fonte: Medscape.8
CS oral ou EV
MTZ
subcutâneo
ou IM
5-ASA retal e oral CS EV
infliximabe EV
severa GCS oral ou intravenoso CSA EV
ou
CS retal Infliximabe EV
adalimumab
SC ou
certolizumab
SC
AZA ou 6-MP
ou
resistente AZA ou 6-MP AZA ou 6-MP ou
Anti-TNF
ou ou anti-TNF Anti-TNF
ou
dependente ou combinação de ou combinação
combinação
dos CS AZA/6-MP + anti-TNF AZA/6-MP + Anti-TNF
AZA/6-MP +
Anti-TNF
antibióticos
AZA ou 6-MP
orais
perianal
infliximabe EV
adalimumab
SC
Tabela 2: Resumão
RCU DC
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
Manifestações + ++
Extraintestinais
Fístulas, estenoses e
- +
doenças perianal
TRATAMENTO
Potencial
Resolutividade cirúrgica Conservadora
curativo
SOROLOGIA
Anca+ ++ +
Asca+ + ++
PATOLOGIA
Granuloma não
Biópsia Criptite
caseoso
REFERÊNCIAS
1. Bernstein C, et al. Doença inflamatória intestinal. World Gastroenterology Organization
Practice Guidelines. 2015.
2. Grinman AB. Manifestações extraintestinais das doenças inflamatórias intestinais.
Brazilian Journal Of Health and Biomedical Sciences. 2012; 11(4).
3. Sander GB, et al. Retocolite Ulcerativa. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas. 2002.
4. Motal ES et al. Manifestações extraintestinais em doença de Crohn e retocolite
ulcerativa: prevalência e correlação com o diagnóstico, extensão, atividade, tempo de
evolução da doença. Rev bras. colo-proctol. 2007; 27(4).
5. Pontte ACA, et al. Consensus guidelines for the management of inflammatory bowel
disease. Brazilian Study Group of Inflammatory Bowel Diseases. 2010; 47(3).
. Goldman L, Ausiello D. Cecil Medicina Interna. 24. ed. Saunders Elsevier; 2012.
7. Sabiston. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19. ed.
Saunders Elsevier.
. Brewer MBB, Bafford AC. Ileal Pouch-Anal Anastomosis Technique. Medscape; 2019.
Parte 2 | Capítulo 21
Apendicite aguda
Autores: Leonillson Joanh Paullo Vilarinho Barbosa e Joannillson
Taygon Vilarinho Barbosa
1. Epidemiologia
É a causa mais comum de abdômen agudo, sendo também a
emergência cirúrgica geral mais comum. A prevalência de apendicite
durante a vida é cerca de 7% em países ocidentais. O fator causal
mais importante de apendicite aguda é a obstrução luminal, tendo
como predileção em paciente do sexo masculino e faixa etária de
adultos jovens.
2. Bases anatômicas
O apêndice é uma formação em forma de dedo de luva que se
projeta do ceco, aproximadamente a 2,5 cm abaixo da válvula
ileocecal, tendo como medidas, geralmente, 0,5 cm de largura e
tamanho médio de 5 a 10 cm, mas podendo ser de um até 30 cm.
Embora sua implantação seja num ponto constante, a orientação do
órgão como um todo varia de acordo com a posição da sua ponta.
Segundos estudos, a maior prevalência é retrocecal (65,3%);
seguidos de pélvica (31,6%); subcecal (2,3%); dentre outros.
3. Fisiopatologia
Trata-se da inflamação aguda do apêndice vermiforme. A
apendicite aguda resulta da obstrução da luz do apêndice provocada
por, na grande maioria das vezes, hiperplasia linfoide, sendo este o
fator mais comum encontrado em pacientes menores de 20 anos,
enquanto a obstrução por fecálito é mais comum em idoso.
Causas de apendicite aguda:
OBSTRUÇÃO DA LUZ APENDICULAR
Parasitas intestinais
Bário espessado (enema opaco)
(Ascaris, Oxyurus)
Idiopático
3.1.Bacteriologia
A apendicite aguda é uma infecção polimicrobiana, tendo a
associação de germes aeróbios e anaeróbios, sendo os principais
agentes encontrados nas culturas a Escherichia coli e o Bacteroides
fragilis.
3.1.1. Diagnóstico
O diagnóstico de apendicite aguda é eminentemente clínico,
portanto, o conhecimento dos sinais e sintomas associados e a
avaliação precoce do cirurgião são importantes para que isso possa
ser possível, além de se possibilitar um bom manejo terapêutico e
um bom prognóstico cirúrgico. Abaixo alguns sintomas comuns em
apendicite aguda:
Dor abdominal iniciada em região periumbilical que posteriormente migra para Fossa
Ilíaca Direita (FID) – 50% a 60% dos pacientes, sendo o SINTOMA CLÁSSICO de
apendicite aguda
Náuseas (frequente)
Vômito (incomum)
Em crianças e
Pneumonia, otite média, Intussuscepção
idosos
Sintomas Anorexia 1
Elevação da temperatura 1
Laboratório Leucocitose 2
Desvio à esquerda 1
Total 10
Uma pontuação de três para baixo (índice baixo) quase exclui
apendicite aguda (96,2% de achados normais na tomografia
computadorizada). Com sete pontos ou mais (índice alto),
encontramos 78% de casos positivos em mulheres e 94% em
homens. Entre quatro e seis pontos (índice intermediário), a
sensibilidade é de 35% de casos positivos para a apendicite.
Em locais de baixos recursos onde exames de imagem, tais como
ultrassonografia e tomografia computadorizada, valores menores ou
iguais a 3 pontos podem ter alta para casa com orientação de retorno
em 12 horas; entre 4 e 6 podem ser observados mais de perto e com
maior ou igual a 7 pontos na escala podem ser levados à cirurgia,
tolerando um índice de erro diagnóstico entre 10% a 20%, em
laparotomias ou laparoscopias brancas (sem achados de
apendicite).
A escala de Alvarado pode também ser útil na seleção de
pacientes para complementação diagnóstica por tomografia
computadorizada, sendo indicada nos casos intermediários (quatro a
seis pontos) e dispensável abaixo de três.
3.2. Tratamento
O tratamento é cirúrgico, podendo ser cirurgia aberta ou
videolaparoscópica (preferencial). Na cirurgia aberta há dois tipos de
incisões mais comuns: incisão de McBurney (oblíqua em FID) e de
Davis (transversa sobre o ponto de McBurney).
Figura 4: À esquerda, incisão de McBurney. À direita, incisão de
Rockey-Davis.
Fonte: Baley & Love’s Short Practice of Surgery.
Grau 4A Abscesso
Referências
1. Williams N, O’Connell PR, McCaskie A. Bailey & Love’s Short Practice of Surgery. 27th
edition. 2018.
2. Lima AP, et al. Perfil clínico-epidemiológico da apendicite aguda: análise retrospectiva
de 638 casos. Rev. Col. Bras. Cir. 2016; 43(4).
3. Freitas RG, et al. Abdome Agudo Não Traumático. Apendicite aguda. Revista do
Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ. 2009; 8(1).
4. Goldman L, Ausiello D. Cecil Medicina Interna. 24. ed. Saunders Elsevier; 2012.
5. Sabiston. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19. ed.
Saunders Elsevier.
. Wakeley CP, et al. The position of the vermiform appendix as ascertained by an analysis
of 10,000 cases. Journal of Anatomy. 1933.
7. Jaffe BM, Berger DH. The appendix. In: Schwartz Principles of Surgery McGraw Hill
Medical Publishing Division. 11. ed. Schwartz’s Principles of Surgery. 2005. c. 30.
Parte 2 | Capítulo 22
Tumores pancr2eáticos e
neuroendócrinos
Autores: Diego de Aragão Bezerra e Tárcilla Pinto Passos Bezerra
1. Introdução
O pâncreas localiza-se na parte superior da cavidade abdominal,
em uma área chamada retroperitônio, situada posteriormente ao
estômago. Divide-se em três regiões: cabeça, corpo e cauda. A
cabeça do pâncreas tem íntima relação com os vasos mesentéricos,
com o duodeno e as vias biliares distais. O corpo e a cauda do
pâncreas são próximos aos vasos esplênicos e o próprio baço. O
pâncreas tem duas funções distintas:
- Endócrina: essencial para controle dos níveis glicêmicos com
produção de insulina e glucagon.
- Exócrina: produção de enzimas que participam da digestão e da
absorção de alimentos.
Figura 1
Fonte: https://www.vicc.org/cancer-info/adult-pancreatic-cancer
1.1. Patologia
Cerca de 95%-97% das neoplasias pancreáticas são
adenocarcinomas que se originam de células glandulares exócrinas
dos ductos. Trata-se de uma neoplasia sólida, não endócrina,
localizando-se mais frequentemente na cabeça (65%), 15% no
corpo/cauda e 20% envolvendo difusamente a glândula. Grande
parte da massa tumoral (até 2/3 do volume) existe devido à
pancreatite adjacente. A neoplasia comumente comprime o
colédoco distal e o ducto pancreático principal. Podendo também,
comprimir outras estruturas adjacentes, como o estômago,
duodeno, veias porta e cava. É uma neoplasia maligna de
comportamento agressivo, caracterizada por disseminação vascular
e linfáticas precoces. Metástases para os linfonodos regionais e
fígado ocorrem em 80% dos casos. Sendo o tumor multicêntrico em
30% dos diagnósticos.
1.3. Diagnóstico
Os pacientes portadores de câncer de pâncreas podem
apresentar anemia tanto pela anorexia como pela perda sanguínea
no trato digestivo, em razão da invasão tumoral no estômago ou
duodeno. Quando ocorre obstrução biliar, há aumento das
bilirrubinas, fosfatase alcalina e gama-GT. Elevações na amilase
podem ocorrer em 5% dos casos. As aminotransferases podem se
elevar em pacientes com icterícia prolongada ou intensa. A função
renal (ureia e creatinina) pode estar comprometida tanto pela idade
como pela hiperbilirrubinemia. A avaliação da coagulação é
essencial devido à atividade da protrombina, que pode estar
diminuída nos doentes ictéricos devido à absorção prejudicada da
vitamina K, devendo ser corrigida antes de procedimentos
diagnósticos invasivos.
O marcador mais utilizado no adenocarcinoma de pâncreas é o
antígeno carboidrato 19.9 (CA 19.9). Ele é uma mucina produzida
pelo tumor e pode ser dosado na corrente sanguínea. Tem alta
sensibilidade e especificidade, embora na presença de colangite os
níveis podem aumentar significativamente. É uma ferramenta útil no
diagnóstico de recorrências, sendo importante no seguimento de
pacientes tratados com intenção curativa. Níveis muito elevados
(>1000 U/ml) são patognomônicos de doença avançada.
Os exames de imagem desempenham um papel fundamental,
tanto no diagnóstico quanto no estadiamento dos pacientes com
câncer de pâncreas. A ultrassonografia é normalmente o primeiro
exame a ser solicitado em pacientes com dor em andar superior do
abdome e em pacientes ictéricos. Apesar de ser um exame
acessível e de baixo custo, é muito dependente do equipamento e do
operador. O achado mais encontrado é uma massa sólida
hipoecoica, monogênea ou heterogênea, de contornos imprecisos,
em topografia pancreática. Esse achado ultrassonográfico,
associado a alterações laboratoriais, tem sensibilidade de 83% e
especificidade de 99% para câncer de pâncreas. A tomografia
computadorizada de abdome com múltiplos detectores e trifásica
(sem contraste, com contraste em fase arterial e em fase venosa) é
o principal método para o diagnóstico e estadiamento dos tumores
de pâncreas. Em um estudo comparativo com 62 pacientes
submetidos a um estadiamento pré-operatório com TC helicoidal,
ressonância magnética, arteriografia e ecoendoscopia, a tomografia
computadorizada helicoidal demonstrou a mais alta acurácia quanto
à extensão do tumor primário (73%), extensão locorregional (74%),
invasão vascular (83%), metástase à distância (83%), estadiamento
TNM (46%) e ressecabilidade (83%), enquanto a ecoendoscopia foi
superior na avaliação do tamanho do tumor e comprometimento
linfonodal. A ecoendoscopia tem importância na identificação de
tumores pequenos não visualizados na TC helicoidal, além de
possibilitar coleta de material para exame histopatológico. Trata-se
de um exame de alto custo e pouco acessível, não devendo retardar
o tratamento cirúrgico da doença. A ressonância magnética de vias
biliares/ colangiorressonância tem papel mais importante na
identificação das lesões ductais císticas do pâncreas, com
sensibilidade e especificidade superiores à TC nessa categoria de
doenças. Para obtenção de material para análise histopatológica ou
citológica, dispomos de 4 métodos principais: punção guiada por
ecoendoscopia, punção guiada por tomografia de abdome, punção
obtida por laparoscopia e escovado obtido pelo exame de
endoscopia. A sensibilidade da punção com agulha fina guiada por
ecoendoscopia (PAAF-EE) varia de 75%-80% com especificidade
próxima de 100%. O principal objetivo de incluir a punção dos
tumores de pâncreas na abordagem sistemática dessa doença é
evitar o tratamento cirúrgico em um pequeno grupo de pacientes
que de outra forma seriam submetidos aos altos riscos da
pancreatectomia. Entretanto, quando o resultado se impõe como
falso-negativo ou inconclusivo, o que pode chegar a 14% em alguns
estudos, as consequências resultam em atraso no tratamento
cirúrgico e, portanto, piora na sobrevida desses pacientes. Portanto,
ainda se justifica a realização de pancreatectomia mesmo sem
resultado histopatológico prévio, sobretudo em centros onde a
mortalidade pela cirurgia seja baixa. Vale a pena investir em punção
guiada por ecoendoscopia ou tomografia, sobretudo em pacientes
assintomáticos e com risco cirúrgico elevado, em que o resultado do
exame histopatológico ou citológico poderia evitar cirurgia
desnecessária. A biópsia estaria indicada em pacientes com doença
avançada e estado geral comprometido, situação em que o
tratamento operatório curativo ou paliativo não está indicado.
Pacientes com massa pancreática localizada, cuja possibilidade de
linfoma, tuberculose, sarcoidose, paracoccidioidomicose e outras
doenças incomuns estiverem sendo consideradas
1.4. Estadiamento
O estadiamento do câncer de pâncreas deve passar
necessariamente pela solicitação de TC helicoidal trifásica, que é
capaz de identificar a maioria dos critérios de irressecabilidade
(como invasão de tronco celíaco, artéria mesentérica superior) e
metástases para órgãos distantes
com razoável sensibilidade e especificidade. Os critérios são
estabelecidos pelo sistema Tumor-Nódulo-Metástase (TNM) da
American Joint Commitee on Cancer (AJCC).
Fonte: Medicina Net.18
Fonte: Medicina Net.19
1.5. Tratamento
O tratamento cirúrgico é o único método potencialmente curativo
para os tumores de pâncreas. Os pacientes com doença ressecável
respondem por apenas 10% a 20% dos casos. Mesmo submetidos
ao tratamento cirúrgico, apenas 10% a 15% atingem uma sobrevida
em 5 anos. Para os tumores envolvendo a cabeça do pâncreas, o
processo uncinado ou outros tumores periampulares, o
procedimento de eleição é Duodenopancreatectomia ou Cirurgia de
Whipple. A ressecção envolve a vesícula biliar, porção terminal do
ducto colédoco, 15 cm proximais de jejuno, todo o duodeno,
estômago distal, piloro e cabeça do pâncreas até o nível da veia
mesentérica superior. O procedimento pode ser realizado ainda com
preservação de todo o estômago, piloro e uma porção diminuta de
duodeno (Cirurgia de Preservação do Piloro), o que resulta em
menor morbidade cirúrgica, menor tempo operatório, sem aumentar
a taxa de recorrência local nem diminuir a sobrevida a longo prazo.
A reconstrução do trato digestivo é realizada utilizando a alça de
jejuno proximal que se anastomosa com o ducto hepático comum
(hepaticojejunostomia), com o coto pancreático
(pancreaticojejunostomia) e com estômago (gastrojejunostomia).
Em pacientes selecionados, que foram submetidos à cirurgia em
condição nutricional inadequada, pode-se confeccionar uma
jejunostomia para garantir um suporte nutricional otimizado no pós-
operatório. O resultado anatômico final é representado na figura 1.
Nos centros especializados e com alto volume cirúrgico a taxa de
mortalidade perioperatória gira em torno de 5%.
Figura 1: Cirurgia de Whipple.
Fonte: Hopkins Medicine.20
1.6.1. Gastrinoma
É o tumor endócrino secretor de gastrina, usualmente surgindo
no pâncreas ou no duodeno. Causa a síndrome de Zollinger-Ellison,
que é caracterizada por sintomas e sinais clínicos resultantes da
hipersecreção de ácido gástrico (doença ulcerosa péptica, doença
do refluxo gastroesofágico, diarreia). É o mais comum tumor
pancreático endócrino maligno funcional, com incidência anual de
0,5-2 por milhão.4 É causa de 0.1%-1% dos casos de doença
ulcerosa péptica.3 A maioria é esporádica, e menos comumente
ocorre como parte da neoplasia endócrina múltipla tipo 1(NEM 1).
1.6.2. Patologia
Tumores secretores de gastrina se originam de células
neuroendócrinas que se desenvolvem do endoderma embrionário.2
Os tumores primários se localizam no pâncreas (30%), duodeno
(60%-70%) ou em outros locais (5%-10%), como estômago, jejuno,
fígado, baço, ovário, coração, linfonodos). A secreção ectópica de
gastrina pelo tumor resulta em hipergastrinemia, que estimula a
hipersecreção de ácido pelas células parietais do antro gástrico. Os
efeitos do excesso de acidez gástrica incluem úlceras pépticas
(frequentemente múltiplas, grandes, localizadas no duodeno distal e
jejuno proximal), má-absorção por inativação de enzimas digestivas
pancreáticas pela acidez, inibição da reabsorção intestinal de sódio
e água, resultando em diarreia secretória. A elevação crônica da
gastrina sérica induz a hiperplasia de células gástricas
enterocromafins-like e desenvolvimento de tumores carcinoides
gástricos.
A NEM 1 é usualmente decorrente de herança autossômica
dominante da mutação do gene supressor tumoral NEM 1 e, menos
comumente, devido à mutação de novo desse gene.
1.6.4. Diagnóstico
Deve-se suspeitar de síndrome de Zollinger-Ellison (SZE) em
qualquer paciente cuja doença ulcerosa péptica se acompanha de
diarreia, é recorrente, não se cura com o tratamento, não se associa
com infecção por H. pylori, associa-se a complicações
(sangramento, obstrução, estenose de esôfago), é múltipla ou
ocorre em localizações incomuns, ou se associa a tumor
pancreático. Também se deve suspeitar de SZE em pacientes com
diarreia secretória crônica, doença ulcerosa péptica associada a
grandes pregas gástricas, história familiar ou pessoal de cálculos
renais ou endocrinopatias, ou achados laboratoriais de
hipercalcemia, hipergastrinemia ou hipersecreção de ácido gástrico.
O teste inicial é a concentração de gastrina sérica em jejum, que
está elevada em 99%-100% dos casos de SZE. Outras causas de
hipergastrinemia incluem resposta fisiológica à acloridria ou
hipocloridria por causa de anemia perniciosa, gastrite atrófica,
insuficiência renal, infecção por H. pylori ou uso de inibidores de
bomba de prótons, que suprimem a secreção de ácido clorídrico por
até uma semana após serem descontinuados.
Se o nível de gastrina sérica estiver elevado, deve-se determinar o
pH gástrico em jejum. Gastrina sérica superior a 1.000 pg/mL
(normal < 100) e pH for menor ou igual a 2,0 confirmam o
diagnóstico. Cerca de 40% dos pacientes terão essa combinação de
achados.
Se a gastrina estiver elevada menos de 10 vezes e o pH for
menor que 2,0, então deve ser realizado o teste de estimulação de
secretina e medido o débito basal do ácido. Débito basal de ácido
maior que 15mEq/h, com gastrina sérica de jejum maior que 120
pg/mL confirmam o diagnóstico de SZE.
Gastrina sérica de jejum menor que 100pg/mL (na ausência de
medicações que suprimem a secreção de ácido gástrico) exclui o
diagnóstico de SZE.
Outros marcadores bioquímicos de tumores neuroendócrinos
incluem cromogranina A, pancreastatina, neurocinina A e serotonina.
Após confirmação diagnóstica, investigação adicional deve ser
realizada em todos os pacientes, e inclui screening para NEM 1
(pesquisar hiperparatireoidismo e prolactinoma, com dosagens de
paratormônio, cálcio e prolactina) e exames de imagem para
localizar a lesão, detectar doença metastática e avaliar
complicações.
Endoscopia digestiva alta é usualmente o primeiro exame de
imagem realizado. Os exames não invasivos incluem tomografia
computadorizada, ressonância magnética nuclear e cintilografia de
receptores de somatostatina. Se os exames não invasivos não são
conclusivos, deve-se realizar ultrassonografia endoscópica. Se esta
for negativa, deve-se considerar angiografia seletiva com
estimulação arterial. A cintilografia de receptores de somatostatina
é o método preferido para localização, identificando 60% dos
gastrinomas primários e mais de 90% dos pacientes com doença
metastática hepática. Ela utiliza octreotideo marcado com índio-111,
que se liga com alta afinidade aos receptores de somatostatina
subtipo 2, que são altamente expressos nos gastrinomas.
Para os gastrinomas pancreáticos, a ultrassonografia
endoscópica é particularmente sensível. Pequenos gastrinomas
duodenais (<1cm) frequentemente não são detectados por qualquer
modalidade de imagem, mas podem ser encontrados na cirurgia se
for realizada duodenotomia rotineira.
1.6.5. Tratamento
Os pacientes devem receber terapia medicamentosa para
controlar a hipersecreção de ácido gástrico e, se possível, terapia
cirúrgica para remover o próprio gastrinoma. Inibidores de bomba de
prótons são atualmente as drogas preferidas.
Os pacientes devem ser tratados indefinidamente, a menos que
sejam curados cirurgicamente. A terapia a longo prazo é segura, e
os pacientes têm sido tratados durante até 20 anos com omeprazol
sem perda de eficácia, embora níveis reduzidos de vitamina B12, que
são comuns com o tratamento prolongado, exijam suplementação.
A gastrectomia total, o tratamento histórico para essa doença,
agora é realizada apenas em pacientes que não podem ou não
tomarão medicações antissecretórias. A vagotomia seletiva reduz
de forma eficaz a secreção gástrica, mas muitos pacientes
continuam a demandar uma dose baixa de droga. A
paratireoidectomia deve ser realizada nos pacientes com
hiperparatireoidismo, SZE e NEM 1 porque reduz acentuadamente a
secreção ácida e aumenta a sensibilidade às drogas
antissecretórias.
A exploração cirúrgica para cura é recomendada em todos os
pacientes sem metástase hepática, NEM 1 ou comorbidades que
limitem a expectativa de vida. A ressecção cirúrgica diminui a taxa
de metástases e resulta em taxa de cura em 5 anos de 30%.
Crescimento tumoral agressivo ocorre em 25% dos gastrinomas
esporádicos e em 15% nos gastrinomas associados a NEM 1. O
preditor prognóstico mais importante é o desenvolvimento de
metástases hepáticas. Os pacientes com gastrinoma metastático
no fígado têm prognóstico ruim, com taxa de sobrevida em 5 anos
de 30%.
O tratamento da doença metastática inclui octreotideo
isoladamente ou em combinação com interferon-A, que objetiva a
inibição do crescimento adicional do tumor. Se esse tratamento
falhar, agentes quimioterápicos são recomendados
(estreptozotocina, 5-fluoracil, doxorrubicina, cisplatina, etoposídeo).
Em pacientes com doença metastática extensa, a radioterapia
dirigida para receptores da somatostatina usando análogos
marcados com ítrio-90, lutecio-177 ou índio-111 é cada vez mais
utilizada. O transplante de fígado é indicado ocasionalmente nos
raros pacientes com metástases limitadas ao fígado.
1.6.6. Insulinoma
O insulinoma é o tumor endócrino pancreático mais comum.
Consiste em neoplasia das células beta das ilhotas pancreáticas,
caracterizado pela produção excessiva de insulina, que se manifesta
com sintomas neurovegetativos e neuroglicopênicos secundários à
hipoglicemia.
É um tumor raro, com incidência de 4 casos por milhão de
pessoas por ano. Em sua forma esporádica (90% dos casos),
geralmente é solitário e pequeno (80%-90% têm menos de 2 cm),
distribuído em igual proporção na cabeça, no corpo e na cauda do
pâncreas. A idade média de apresentação é entre 40-50 anos, sendo
discretamente mais comum no sexo feminino.
Insulinomas malignos são definidos pela presença de metástase
a distância, sendo tal apresentação rara (5%-11% dos casos), com
as metástases mais comuns em fígado e linfonodos regionais.
Menos de 10% dos casos de insulinoma estão associados à NEM-1.
1.6.8. Diagnóstico
Deve-se suspeitar de insulinoma na presença da tríade de
Whipple, caracterizada por: (1) sintomas neurológicos de
hipoglicemia; (2) glicemia <50mg/dL; e (3) alívio imediato dos
sintomas após administração de glicose.
Outros critérios diagnósticos incluem glicemia ≤ 45mg/dL, níveis
de insulina ≥ 6 MUI/mL com baixos níveis de glicemia, peptídeo-C ≥
0,6 ng/mL, proinsulina ≥ 194 mg/dL ou ≥ 25%, na ausência do uso de
sulfonilureias. O método padrão-ouro é o teste do jejum prolongado
(72h), que confirma o diagnostico com níveis de glicose baixos e
concomitantes níveis de insulina elevados. Outras causas de
hipoglicemia são diabetes mellitus, sepse ou outra doença crítica,
insuficiência renal ou hepatica, exercício extenuante, medicações
(insulina, sulfonilureias, álcool, propranolol, haloperidol, salicilatos e
outros), hiperplasia de células beta, nesidioblastose, tumores
extrapancreáticos, hipopituitarismo e doença de Addison.
Os métodos de imagem incluem ultrassonografia, tomografia
computadorizada, ressonância magnética nuclear e PET-TC. A
ultrassonografia abdominal é o método inicial. A tomografia
computadorizada detecta até 2/3 dos insulinomas e a maioria das
lesões metastáticas.
Estudos invasivos como ultrassonografia endoscópica,
arteriografia seletiva por cateterização do tronco celíaco, coleta de
sangue venoso portal e estimulação intra-arterial de secreção de
insulina com cálcio são técnicas muito mais sensíveis e usadas O
método mais sensível e eficaz para a detecção de tumores
pancreáticos como o insulinoma é ultrassonografia intraoperatória,
que pode localizar 95-100% das lesões.
1.6.9. Tratamento
O manejo da hipoglicemia inclui medidas dietéticas (refeições
menores e mais frequentes), diazoxida (inibe a liberação de insulina)
e análogos da somatostatina (octreotide, lanreotide).
A cirurgia é o único método que cura a doença, permitindo a
reversão do quadro clinico e laboratorial. A enucleação é o
tratamento de escolha para insulinomas solitários benignos.
Insulinomas associados a NEM-1 requerem ressecção mais
agressiva, com pancreatectomia subtotal e enucleação de lesões na
cabeça do pâncreas. Já os insulinomas malignos devem ser
ressecados em conjunto com as metástases acessíveis. Tumores
de cabeça de pâncreas podem necessitar de
pancreatoduodenectomia. Metástases hepáticas devem ser
ressecadas, caso não haja envolvimento bilobar difuso,
comprometimento da função hepática ou metástases extra-
hepáticas extensas (pulmonares, peritoneais).
A embolização da artéria hepática, com ou sem a infusão de
quimioterapia, é aplicada como técnica paliativa. As experiências
tanto com quimioterapia quanto com radioterapia são limitadas. A
sobrevida pós-operatória em 10 anos é de 91% sem insulinoma
maligno e 29% com insulinoma maligno. Fatores associados a pior
prognóstico são idade avançada, insulinoma maligno e associação
com NEM 1.
Referências
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20. Hopkins Medicine. Cirurgia de Whipple [acesso em 2020 jan. 26].
Parte 2 | Capítulo 23
1.Introdução
A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) se define como uma
condição em que o conteúdo gastroduodenal, ao refluir
retrogradamente para o esôfago, gera sintomas que incomodam e
levam a uma redução na qualidade de vida do indivíduo. Esse refluxo
patológico também pode gerar complicações como esofagite,
estenose esofágica, disfagia, úlceras, sangramentos e lesões pré-
malignas.
A DRGE está entre um dos diagnósticos mais realizados na
gastroenterologia, por conta de sua elevada prevalência, podendo
chegar a 20% nas populações urbanas. Essa doença pode
apresentar um quadro clínico amplo, dividindo-se entre sintomas
típicos e atípicos, sendo esses últimos mais difíceis de se
diagnosticar, retardando o tratamento do paciente.
É uma doença de origem multifatorial, apresentando alguns
fatores de risco associados, vistos quadro 1.
QUADRO 1 – FATORES DE RISCO
Gestação
Obesidade
Hérnia hiatal
Fatores genéticos
Os pacientes que desenvolvem a DRGE, ao serem
diagnosticados, devem ser tratados de acordo com cada caso. O
tratamento consiste na associação de mudanças de hábito de vida,
medicamentos e cirurgia. A escolha vai depender do quadro clínico,
sejam sintomas típicos ou atípicos, da presença ou não de
complicações e das condições socioeconômicas de cada paciente.
2. Etiopatogenia e Fisiopatologia
Alguns fatores estão associados ao desenvolvimento da DRGE,
como o aumento da pressão intragástrica, a depuração esofagiana
e, como um dos mais importantes, o relaxamento transitório do
esfíncter esofagiano inferior (EEI), que é um espessamento distal do
esôfago, responsável por servir de barreira contra o refluxo do
conteúdo duodeno-estomacal. Em condições basais, ele mantém-se
sob pressão de contração em torno de 10-35 mmHg, impedindo o
refluxo. Outros fatores relacionados seriam as alterações na
estrutura anatômica tendo a hérnia hiatal como seu principal
representante.
As lesões na DRGE decorrem da exposição da mucosa esofágica
à agentes agressores como ácidos, sais biliares, pepsina e enzimas
pancreáticas. Essas substâncias provocam uma diminuição da
resistência do epitélio mucoso do esôfago, levando à dilatação do
espaço intercelular e a erosões. Entretanto, nem sempre há a
presença de erosões, podendo ter uma DRGE sintomática sem
complicações, assim podemos classificar a doença em forma não
erosiva e forma erosiva.
3. Quadro clínico
Classicamente os sintomas desses pacientes podem ser
divididos em típicos e atípicos. No que diz respeito aos típicos, o
principal é a sensação de queimação retroesternal, conhecida como
pirose, estando presente em mais de 60% dos casos. Outro sintoma
típico é a regurgitação, que se caracteriza pelo refluxo do conteúdo
ácido misturado a restos alimentares não digeridos até a boca ou
hipofaringe, sem associação com náusea.
Em relação às manifestações atípicas ou extraesofágicas da
DRGE, temos uma variedade de sinais e sintomas, representados na
quadro 2.
QUADRO 2 – MANIFESTAÇÕES ATÍPICAS DA DRGE
Dor torácica
Tosse crônica
Asma
Apneia do sono
Rouquidão
Pigarro
Globus faríngeo
4. Diagnóstico
O diagnóstico da DRGE inicialmente pode ser dado baseando-se
na história clínica do paciente. A presença dos sintomas típicos, por
4 a 8 semanas, tem um valor preditivo positivo elevado. A ausência
de sintomas típicos não exclui o diagnóstico, sendo mais importante
ainda a realização de exames complementares. Outra forma de
aumentar as chances de dar o diagnóstico é associando-se o teste
diagnóstico terapêutico, que consiste na administração em dose
plena de medicamentos conhecidos como inibidores da bomba de
prótons, por 4 semanas. Se o paciente apresentar melhora dos
sintomas, está dado o diagnóstico. Entretanto nem sempre é tão
simples, sendo necessário lançar mão de exames complementares.
5. Exames complementares
5.1. Endoscopia digestiva alta (EDA)
Não são todos os pacientes que estão indicadas a realização da
EDA. Como discutido anteriormente, muitas vezes podemos dar o
diagnóstico clinicamente sem necessitar de outros métodos. Porém,
em pacientes acima de 40 anos, e naqueles que desenvolvem sinais
e sintomas de alarme, torna-se necessária a realização da EDA.
Pela endoscopia podemos diagnosticar a hérnia hiatal, que se
caracteriza pela presença de uma diferença acima de 2 cm entra a
junção esofagogástrica e o pinçamento diafragmático. A hérnia
hiatal pode ser classificada em:
Grau Descrição
Grau Descrição
Erosões contínuas (ou convergentes) entre os ápices de pelo menos duas pregas,
C
evolvendo menos que 75% da circunferência do esôfago.
Figura 3
Fonte: Sakai, Paulo.2
5.4. Impedâncio-pHmetria
É um exame que permite caracterizar de forma mais ampla as
características do refluxo, podendo detectar o fluxo de líquido e gás
no esôfago por meio de alterações na resistência à corrente elétrica
por meio de eletrodos posicionados no esôfago. Associa-se a esse
sistema um eletrodo de pH, podendo detectar variações que vão do
ácido (pH<4) ao alcalino (pH>7). É um exame indicado
principalmente para aqueles pacientes que fazem uso de IBP sem
melhora do quadro clínico e que apresentam endoscopia negativa.
6. Tratamento
A grande maioria dos pacientes que apresentam a DRGE não
complicada se beneficiam do tratamento clínico. Esse tratamento
consiste na adoção de medidas não farmacológicas
comportamentais (Quadro 3), associadas ou não ao tratamento
medicamentoso.
QUADRO 3 – MEDIDAS COMPORTAMENTAIS
Ingerir pouco volume, evitando-se alimentos gordurosos, café, cítricos, bebidas alcoólicas,
bebidas gasosas, menta, hortelã, produtos à base de tomate e chocolate
Suspender tabagismo
• Fundoplicatura de Nissen.
• Fundoplicatura de Toupet.
6.1.1. Fundoplicatura de Nissen
É a técnica mais utilizada e caracteriza-se pela criação de uma
válvula em 360º ao redor do esôfago terminal, feita com o fundo
gástrico (figura 5). Está indicada nos pacientes que não apresentam
a manometria, atividade motora mantida, pois, caso seja realizada
em pacientes com motilidade comprometida, o paciente pode vir a
desenvolver quadro de disfagia.
Primeiramente é realizada a exposição do hiato esofágico,
fazendo uma abertura através da membrana frenoesofágica.
Associado a isso, realiza-se a ligadura dos vasos gástricos curtos, a
fim de facilitar a rotação do fundo gástrico. É dissecado os ramos
direito e esquerdo do pilar diafragmático direito e, com um fio
inabsorvível, faz-se a plicatura entre eles. A válvula é feita por meio
da rotação da parede posterior do estômago ao redor do esôfago,
suturando-a com fio inabsorvível na parede anterior do estômago.
Figura 5
Fonte: Rohde, Bersch.1
Referências
1. Rohde L, Bersch OA. Rotinas em cirurgia digestiva. 2018.
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Graduação. 2016.
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5. Hiran FC. Endoscopic fundoplication: pacient selection and technique, J Vis Surg.
2017; 3: 121.
Parte 2 | Capítulo 24
Câncer de Esôfago
Autores: Janssen Loiola Melo e Felipe Barbosa Rios
1. INTRODUÇÂO
O carcinoma esofágico ocupa a sexta posição brasileira entre os
cânceres mais frequentes no sexo masculino e a décima quinta
posição no sexo feminino, segundo dados no Instituto Nacional do
Câncer (INCA), com cerca de 8.240 casos novos de câncer de
esôfago entre os homens e 2.550 entre as mulheres.1 No mundo, é o
oitavo mais comum, tendo sua incidência duas vezes maior nos
homens e a partir dos 40 anos de idade.2 Estima-se que surjam
572.034 novos casos de câncer de esôfago anualmente, além de
508.585 mortes anuais.3
A distribuição do câncer esofágico por sexo, idade e raça é
influenciada pelo tipo de célula.4 O carcinoma de células escamosas
(CEC) e o adenocarcinoma são responsáveis por mais de 95% dos
casos e diferem em diversos aspectos como a localização e fatores
predisponentes. Apesar do aumento na incidência do
adenocarcinoma, o tipo histológico mais frequente ainda é o CEC.2
No Brasil não dispomos de políticas de rastreamento populacional
para câncer de esôfago e, tendo em vista o diagnóstico tardio dessa
doença, conhecer os tipos histológicos e o comportamento do
carcinoma de esôfago é de grande importância.4
2. EPIDEMIOLOGIA
As taxas de incidência variam em diferentes países, com as taxas
mais altas encontradas na África Oriental e no Leste Asiático, em
uma área que é frequentemente chamada de “cinturão do esôfago”.
Essa área compreende uma região de maior risco, abrangendo o
norte do Irã, as repúblicas da Ásia Central e a China Central e Norte.
Predomina o CEC como tipo histológico. As taxas mais baixas são
encontradas na África Ocidental e Central e na América Central.
Os principais fatores de risco nessas áreas não são bem
elucidados, mas o estado nutricional precário e o consumo de
bebidas quentes estão entre esses fatores. Já nas áreas de baixo
risco, como os Estados Unidos e vários países ocidentais, o
tabagismo e o alcoolismo são os responsáveis por cerca de 90% do
total de casos de CEC.
Enquanto as taxas de incidência de adenocarcinoma têm
aumentado consideravelmente em vários países ocidentais, devido
ao aumento dos fatores de risco conhecidos para esse tipo
histológico como o esôfago de Barrett com metaplasia intestinal e a
obesidade, as taxas de carcinoma espinocelular tem decaído nesses
mesmos países por conta da redução ao longo do prazo no consumo
de tabaco e álcool.5
Nos casos de adenocarcinoma, observou-se que grande parte do
crescimento da incidência envolve os tumores localizados na junção
esofagogástrica e cárdia.6
3. FATORES ETIOLÓGICOS
3.1. Fatores de risco para carcinoma espinocelular
de esôfago
Várias são as doenças hereditárias associadas com o
desenvolvimento do câncer de esôfago como a Síndrome de Peutz-
Jeghers (SPJ) e a Síndrome de Cowden.3 A tilose, tal como a
Síndrome de Howell-Evans, é outra doença hereditária associada.7
Todavia, é estimado que uma história de tabagismo, consumo de
álcool e dietas pobres em frutas e vegetais representaram quase 90%
dos CEC esofágicos nos Estados.8
Dentre as doenças esofágicas subjacentes que são
conhecidamente fatores de risco podemos citar a acalásia,
estenoses cáusticas e gastrite atrófica.3 Lesões térmicas na mucosa
esofágica ocasionada por bebidas e alimentos de alta temperatura
podem aumentar o risco de CEC.9
A influência do HPV no desenvolvimento de CEC, principalmente o
subtipo HPV-16, ainda é incerta.10
4. PATOLOGIA
4.1. Carcinoma de Células Escamosas (CEC)
Os CECs surgem do epitélio estratificado não queratinizado, que
faz parte do epitélio normal do esôfago, ocorrendo, na grande
maioria das vezes, na porção média do órgão. Inicialmente invade a
camada submucosa, estendendo-se ao longo da parede do esôfago,
geralmente na direção cefálica.
As lesões precoces costumam ser sutis e podem não ser
localizadas na endoscopia. Já as lesões mais avançadas se
caracterizam por massas infiltrativas e ulceradas, muitas vezes
circunferenciais e causando obstrução. A invasão linfonodal local
ocorre rápido e precocemente, devido ao fato de os vasos linfáticos
no esôfago estarem localizados na lâmina própria, ao contrário do
restante do trato gastrointestinal, que está localizado abaixo da
muscular da mucosa.3
4.2. Adenocarcinoma
A maior parte dos casos de adenocarcinoma esofágico localiza-
se contígua à junção esofagogástrica e está relacionada ao esôfago
de Barrett. Pode manifestar-se como úlcera, nódulo, padrão mucoso
com alteração, ou não ter nenhuma alteração endoscópica visível.
5. APRESENTAÇÃO CLÍNICA
Os pacientes com câncer de esôfago em estágio inicial podem
apresentar sintomas inespecíficos, como desconforto retroesternal e
pirose. Os pacientes que possuem doença localmente avançada
apresentam-se comumente com disfagia progressiva e perda de
peso. Estima-se que 20% dos pacientes apresentam também
odinofagia.2
Anemia por deficiência de ferro pode ocorrer principalmente
devido a sangramento crônico, mas raramente os pacientes vão
referir melena, hematêmese ou sangue em alimentados
regurgitados.15 Além disso, o sangramento gastrointestinal alto
agudo é raro e sua causa é resultado da erosão do tumor na aorta, ou
nas artérias pulmonares e brônquicas.2
Em pacientes com doença avançada outros sintomas que podem
surgir são a regurgitação de saliva ou de alimentos. Caso o nervo
laríngeo recorrente seja atingido pelo tumor primário, ou por
metástases associadas, o paciente pode apresentar rouquidão ou
tosse. Pneumonia por aspiração não costuma ser frequente, mas é
um quadro possível.2
Uma das complicações tardias do câncer de esôfago são as
fístulas traqueobrônquicas, associadas a tosses intratáveis ou
pneumonias frequentes. É uma complicação grave e os pacientes
que a desenvolvem costumam apresentar expectativa de vida inferior
a um mês.2
6. DIAGNÓSTICO
Várias modalidades de exame de imagem estão disponíveis na
suspeita de câncer esofágico, sendo o esofagograma com bário o
exame inicial recomendado para qualquer paciente com disfagia e a
endoscopia digestiva alta com biópsia o melhor exame para o
diagnóstico.4
O diagnóstico dos pacientes com suspeita de câncer esofágico é
realizado pelo exame histológico. Uma biópsia pode ser obtida por
endoscopia digestiva alta ou, em casos de metástase, guiada por
imagem de um local metastático. Exames contrastados são uma
opção cada vez menos usada e não consegue diagnóstico de certeza
por biópsia.2
7. ESTADIAMENTO
O estágio da doença em que se encontra o paciente está
diretamente relacionado ao prognóstico do câncer de esôfago, além
de auxiliar na escolha terapêutica adequada.2
O principal critério utilizado é o da American Joint Committee on
Cancer (AJCC), que se encontra na sua 8ª edição.
Tabela 1: Carcinoma epidermoide
Figura 1
Fonte: D.J. Sugarbaker, R.Bueno, Y.L. Colson, M.T. Jaklitsch, M. J.
Krasna, S.J. Menizer, M. Williams, A. Adams; Adult Chest Surgery, 2nd
Edition: accesssurgery.com
8. ABORDAGEM PRÉ-OPERATÓRIA
8.1. Abordagem pré-operatória de acordo com os
achados histológicos
No que diz respeito às diferenças histológicas, devido à escassez
de dados do impacto da histologia na eficácia do tratamento, a
abordagem costuma ser semelhante para os dois tipos
histológicos.22 Sabe-se que as taxas de resposta são mais elevadas
para os CECs após a realização da quimiorradioterapia. Nesse caso,
quando uma resposta endoscópica completa é alcançada o
tratamento não cirúrgico é uma opção após a quimiorradioterapia
inicial. No caso dos adenocarcinomas, existem poucas informações
sobre o manejo não cirúrgico e é recomendado que a maioria dos
pacientes receba tratamento cirúrgico após quimiorradioterapia
inicial.22
O tipo histológico influencia também no padrão de recorrência. Os
CECs localizados na região superior ou média do tórax costumam
recidivar primeiro localmente. Já os adenocarcinomas de esôfago
distal têm disseminação mais comumente a distância.22 No entanto,
apesar desses dados, muitos estudos sugerem que o
adenocarcinoma tem um prognóstico melhor do que o CEC,
principalmente quando a doença está em seu estágio inicial.23
A distinção na localização e na histologia do tumor tem efeitos na
escolha da terapia.23 Alguns estudos sugerem que a quimioterapia de
indução sozinha pode ser suficiente para os adenocarcinomas,
enquanto que os resultados para os carcinomas espinocelulares são
melhores quando realizada a quimiorradioterapia.23 Esse fato está
associado à redução do tamanho do tumor visando obter-se uma
ressecção radical e uma resposta completa.23
Em pacientes com adenocarcinoma ressecável de esôfago
localmente avançado (T3-4 e N+) na junção esofagogástrica, alguns
estudos compararam a cirurgia associada a quimioterapia
perioperatória (MAGIC Trial) com o tratamento neoadjuvante com
quimiorradioterapia seguido de cirurgia (CROSS Trial).Todavia, ainda
persiste indefinidas qual das duas abordagens apresenta melhores
benefícios. Já em um estudo alemão (FLOT 4) que substituiu a
quimioterapia perioperatória do triplet baseado em antraciclina
(MAGIC) pelo triplet baseado em docetaxel (FLOT), percebeu-se que
os pacientes tratados com esquema FLOT apresentaram maior taxa
de resposta patológica completa (por volta de 10%) e maior
sobrevida global (MAGIC: 35 meses, FLOT: 50 meses).24
9. Manejo cirúrgico
O objetivo do tratamento cirúrgico é curativo, e sua realização é a
base da terapêutica multidisciplinar para os pacientes que têm
doença localizada.29, 30 É importante frisar que o tratamento cirúrgico
independe da histologia do tumor e a escolha está mais relacionada
com a localização. A abordagem cirúrgica deve sempre ser
considerada nos tumores torácicos e abdominais. Para os tumores
em esôfago cervical, o tratamento geralmente é com
quimiorradioterapia exclusiva, reservando a cirurgia para os casos de
ausência de resposta.
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Parte 2 | Capítulo 25
1. INTRODUÇÃO
Úlcera é uma ruptura no revestimento mucoso do estômago ou
duodeno com mais de 5 mm de diâmetro e profundidade até a
submucosa. Úlceras menores que essa são chamadas de erosões.11
A prevalência da úlcera péptica (UP) estimada na população
ocidental é de 5% a 15%; apesar da diminuição da incidência,
permanece uma das doenças do trato gastrointestinal mais
prevalentes e onerosas.¹
Grande parte desse declínio deve-se ao maior conhecimento da
patogênese da doença (papel do Helicobacter pylori e riscos do uso
crônico de AINEs).¹
Como consequência, ocorreu declínio da terapia cirúrgica eletiva,
porém permaneceu constante o percentual de pacientes que
necessitam de cirurgia de emergência.¹
As úlceras pépticas são causadas por aumento nos fatores
agressivos e/ou redução nos fatores de protetores da mucosa
(Quadro 1).¹
Quadro 1: Principais fatores protetores e agressores da mucosa.
FATORES PROTETORES OU
FATORES LESIVOS OU AGRESSIVOS
DEFENSIVOS
Pepsinas
2. ABORDAGEM
2.1. Diagnóstico
Uma apresentação clínica comum é dispepsia: uma dor ou um
desconforto abdominal crônico e/ou recorrente centrado na parte
superior do abdome.5
Geralmente, apresenta-se como uma dor epigástrica, em
queimação, que pode irradiar-se para as costas e está presente há
cerca de 1-2 semanas.7
A dor abdominal pode estar ausente em mais de 30% dos idosos
com úlcera péptica.12
Pacientes com úlcera duodenal podem sentir dor parecida com
fome ou dor abdominal noturna associada à secreção circadiana de
ácido gástrico. Pacientes com úlcera gástrica tendem a apresentar
dor abdominal pós-prandial, náusea, vômito e perda de peso.6
O uso de AINEs e o alivio do desconforto com o uso de
antiácidos também pode auxiliar no diagnóstico.11
Exame físico pode-se perceber uma sensibilidade gástrica
aumentada ou dor à palpação de abdômen superior. 7
No entanto, esses não são indicadores sensíveis nem
específicos.² Deve-se observar que a maioria das pessoas com
dispepsia não tem úlcera péptica.5
Úlceras gástricas e duodenais podem causar sangramento oculto
e anemia ferropriva.11
As UPs podem apresentar várias complicações e seus sinais e
sintomas estão resumidos no quadro a seguir (Quadro 2).
Sintomas de úlceras
Hematêmese Dor epigástrica
precedentes
Proteção e rigidez
+/- dor abdominal Vômitos
abdominal
2.2. Tratamento
A primeira etapa é eliminar a causa subjacente, seguida pelo
tratamento para a cicatrização da úlcera.6 O objetivo da terapia é
tratar complicações (por exemplo, sangramento ativo), eliminar a
causa subjacente sempre que possível, aliviar os sintomas,
cicatrizar úlceras e prevenir recorrências.11, 12
Tanto os IBPs quanto os antagonistas H2 inibem a secreção de
ácido, mas os IBPs fazem isso com maior eficácia e cicatrizam
úlceras pépticas mais rápido.11
Em geral, os IBPs são os medicamentos de primeira escolha para
cicatrização da úlcera devido à simplicidade da sua posologia e sua
eficácia.6
Os IBPs mais utilizados e suas doses para cicatrizar ulceras
pépticas não hemorrágicas são: omeprazol 40mg/dia, pantoprazol
40mg/dia, lansoprazol 30mg/dia, rabeprazol 20mg/dia, esomeprazol
40mg/dia e dexlansoprazol 30mg/dia.7
É necessário verificar se o H.pylori está presente, uma vez que o
tratamento se baseia em sua presença ou ausência. Se o H. pylori
estiver presente, deve-se iniciar a terapia de erradicação. Se o
paciente fizer uso de AINEs (incluindo aspirina), ele deverá ser
descontinuado, se possível.6
O tratamento de H. pylori é fundamental em pacientes infectados
e com UP para promover a cicatrização da úlcera e evitar futuras
recorrências. Infelizmente, essa tarefa se tornou mais difícil por
causa da resistência bacteriana às drogas.²
A maioria dos esquemas tem entre 70% e 90% de eficácia na
prática, limitados principalmente pela resistência a antibióticos e
pela adesão do paciente ao esquema terapêutico.6
Uma recente declaração de consenso sobre a erradicação
recomenda uso da estratégia tradicional de tratamento com terapia
tripla, usando IBP, amoxicilina e claritromicina somente em regiões
com sensibilidades bacterianas favoráveis à claritromicina. Todos
os regimes de tratamento devem ser administrados por 14 dias para
melhorar as taxas de erradicação do H. pylori.6
São consideradas úlceras refratárias as que não cicatrizam após
8 a 12 semanas de tratamento. Dessa maneira, devem ser
pesquisados fatores que estejam contribuindo para a não
cicatrização, como, por exemplo, a má aderência ao tratamento,
persistência da infecção pelo H. pylori, uso inadvertido de AINEs,
tabagismo, estados hipersecretores, comorbidades, rápida
metabolização de antissecretores e causas incomuns de úlcera,
como doença de Crohn, gastroenterite eosinofílica, infecções
diversas e câncer. 13
2.3. Complicações
• As principais complicações das úlceras pépticas são:
sangramento, perfuração, obstrução de saída e penetração.
2.3.1. Sangramento
Ele ocorre quando uma úlcera erode na parede de um vaso
sanguíneo gastroduodenal.11
O sangramento é a complicação mais comum da UP.
Até 15% das UP sangram e sua mortalidade é cerca de 10%, além
de ser a causa mais comum de hospitalização nos pacientes com
UP. Ela é responsável por cerca de 20% de todas as hemorragias
digestivas altas (HDAs) agudas.11, 12
O uso de AINEs é um fator de risco importante para sangramento
da UP, promovendo o sangramento em parte por meio de seus
efeitos antiplaquetários.11
Pacientes com sangramento agudo (hematêmese e/ou melena
e/ou choque hipovolêmico) devem ser avaliados no pronto-socorro e
uma endoscopia deve ser realizada após estabilização clínica.11
Essa estabilização passa por uma anamnese e um exame físico
resumidos; avaliação da necessidade de intubação orotraqueal e da
necessidade de internação em unidade de terapia intensiva;
solicitação de hemograma, coagulograma, eletrólitos (sódio,
potássio), ureia, creatinina e perfil hepático; avaliação da quantidade
necessária de hidratação venosa e de transfusão sanguínea (uma
estratégia mais restritiva de transfusão apenas para hemoglobina <
7 g/dL) que demonstraram melhorar significativamente os
desfechos do paciente.8
Deve-se usar IBP antes da realização da endoscopia na suspeita
de hemorragia digestiva não varicosa.
IBP não diminui mortalidade, apenas mantém pH acima de 6,
facilitando a agregação plaquetária e estabilizando do coágulo.
Dose habitual: Omeprazol em altas doses: bolus de 80 mg, seguido
por 8 mg/h.9
Endoscopia digestiva alta deve ser realizada nas primeiras 24
horas da admissão hospitalar na suspeita de hemorragia digestiva
por UP. A terapêutica endoscópica é guiada pela classificação de
Forrest, pois ela relaciona estigmas de sangramento endoscópico
com percentagem de ressangramento (Quadro 3). Essa terapia está
indicada nos pacientes com UP se: Forrest IA, IB e IIA. Considerar
terapia endoscópica se UP com Forrest IIB, especialmente nos
pacientes com alto risco de ressangramento. Deve-se dar
preferência para uso da terapia combinada (injeção de adrenalina +
segundo método), ou monoterapia com método térmico ou
mecânico (hemoclipes) (fluxograma 1). Todos os casos de HDA por
UP devem ser pesquisados para a infecção por H. pylori, e se for
constatada o tratamento deve ser oferecido. O IBP de ser mantido IV
em altas doses por 72 h nos casos de úlcera péptica com Forrest IA,
IB, IIA e IIB.9
O tratamento cirúrgico ou a embolização arterial transcateter via
radiologia intervencionista fica reservada para os pacientes em que
a hemostasia endoscópica das úlceras hemorrágicas fracassar.11
A embolização tornou-se o procedimento de escolha quando o
tratamento endoscópico não é viável, para o paciente com úlcera de
ressangramento ou hemorragia gastrointestinal inicial maciça.6
Quadro 3: Classificação Endoscópica de Forrest
Fluxograma 1 – Papel da endoscopia na hemorragia por úlcera
péptica Fonte: Bucci, Rotondano, Marmo.10
2.3.2. Perfuração
A perfuração é causada pela erosão da úlcera por meio da
parede do estômago ou duodeno para a cavidade peritoneal (Figura
2).11
A úlcera péptica perfurada é uma emergência cirúrgica e é
associada a uma morbidade de até 50% e mortalidade de até 30%.
Embora o sangramento seja a complicação mais comum, cerca de
7% dos pacientes com UP vão desenvolver a perfuração (proporção
de 6:1).4, 6, 12
Figura 2: Mecanismos e fatores de risco na patogênese da úlcera
péptica perfurada.
2.3.4. Penetração
Ocorre quando a úlcera crônica penetra pela espessura inteira da
parede gástrica ou duodenal em um órgão adjacente como o
pâncreas, mas sem perfuração livre para a cavidade peritoneal. O
manejo é o mesmo da terapia de úlcera padrão. No entanto,
algumas vezes uma intervenção cirúrgica é necessária.11
2.4. Prognóstico
Com a terapia com IBP, as úlceras duodenais tipicamente
cicatrizam em 4 semanas e as úlceras gástricas em 8 semanas.11
Em pacientes com úlceras pépticas causadas por Helicobacter
pylori, o prognóstico após a erradicação é satisfatório: o risco de
recorrência de úlcera duodenal é aproximadamente 20%, o risco de
recorrência de úlcera gástrica é aproximadamente 30%.11
A erradicação do H. pylori também é benéfica para indivíduos
com doença ulcerosa complicada. 11
Para úlceras associadas ao uso de AINEs, a descontinuação do
AINE (e a erradicação do H. pylori, se presente) causará um baixo
índice de recorrência de úlceras. Em pacientes que continuam a usar
AINEs, a recorrência de úlceras é alta. Assim, a prescrição de um IBP
simultâneo é recomendável.11
CONCLUSÃO
O tratamento da doença ulcerosa péptica evoluiu
significativamente nos últimos 40 anos. Embora a terapia de
supressão ácida e a descoberta e tratamento do H. pylori tenham
tornado a doença ulcerosa crônica menos comum, a perfuração, o
sangramento e a obstrução aguda da úlcera exigem que o cirurgião
tenha conhecimento significativo dos múltiplos algoritmos de
tratamento apropriado para os cuidados de emergência e eletivos
desses pacientes. 6
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Parte 2 | Capítulo 26
Nódulos tireoidianos
Autores: Eneivaldo Soares Mororó e Guilherme Pinho Mororó
1. Introdução
Nódulos tireoidianos são afecções bastante comuns em nosso
meio, afetando cerca de de 6% das mulheres e 2% dos homens. Essa
prevalência é ainda maior em regiões com deficiência de iodo.
Contudo, cerca de 85%-95% dessas lesões são benignas.
A avaliação de nódulos tireoidianos desenvolveu-se bastante
após o advento da ultrassonografia, visto que afecções menores que
1 cm, anteriormente não identificadas com a palpação, puderam ser
visualizadas. Hoje, cerca de 70% dos adultos possuem algum nódulo
tireoidiano quando submetidos a ultrassonografia de alta resolução.
Além disso, a avaliação de características da lesão por esse exame
pode sugerir risco maior para malignidade, como visto
posteriormente.
A existência desse acometimento, em geral, sugere afecções
relativas a própria tireoide, visto que raramente neoplasias primárias
em outros sítios metastatizam para a tireoide, sendo os principais
mama, rim e cólon.
1.1. Diagnóstico
Anamnese com identificação do sexo, da idade, da história
familiar e da história de radiação na infância são pontos-chaves para
a conduta desses pacientes. Isso é evidenciado pela maior
incidência de malignidade em jovens e pior prognóstico em idosos.
A prevalência dos nódulos tireoidianos é maior em mulheres, mas
lesões malignas são 2 a 3 vezes mais comuns em homens.
Fundamental questionar sobre se paciente tem história de irradiação
prévia no pescoço.
Na história familiar pode nos influenciar na conduta a ser tomada
quando identificamos síndromes associadas a câncer de tireoide,
como NEM 2A e 2B e Síndrome de Gardner. De forma contrária, a
história de irradiação na infância é um importante fator de risco para
carcinoma papilífero.
A sintomatologia do paciente identifica sinais de alarmes, como
dor, evolução rápida e rouquidão (sugerindo acometimento do nervo
laríngeo recorrente).
Exame físico é fundamental para guiar melhor a investigação e o
rastreio desses pacientes, pois textura firme, contorno irregular,
aderido a estruturas adjacentes e linfonodo cervical ipsilateral
aumentado e palpável são características que sugerem malignidade.
Logo, deve-se avaliar com cuidado tamanho, consistência, textura da
superfície, mobilidade e sensibilidade, além das estruturas
adjacentes.
Nódulos associados à dor na porção inferior do pescoço
anteriormente, com tosse, dispneia, hemoptise, disfonia, disfagia
e/ou odinofagia são condições que sugerem malignidade por
compressão e invasão de estruturas adjacentes, como nervo
laríngeo recorrente, traqueia e esôfago.
Tendo em vista a anamnese e o exame físico do paciente, alguns
exames complementares são importantes na elucidação do caso.
Sendo os mais utilizados: avaliação da função tireoidiana,
ultrassonografia cervical e cintilografia tireoidiana.
Anecoico: 0 pontos
Ecogenicidade Hiperecoico ou isoecoico: 1 ponto
(escolher 1) Hipoecoico: 2 pontos
Muito hipoecoico: 3 pontos
Regular: 0 pontos
Margem Mal definido: 0 pontos
(escolher 1) Lobulado ou irregular: 2 pontos
Extensão extra tireoidiana: 3 pontos
PAAF se > ou = 1 cm
Altamente
7 pontos ou mais TR5 Seguimento se > ou =
suspeito
0,5cm
Lesão anecoica ou
Ecogenicidade Lesão hipoecogênica
hiperecogênica
Calcificações
Calcificações grosseiras (“em Microcalcificações
casca de ovo”)
Halo Presente Ausente
hipoecogênico
Seguimento clínico e
Bethesda II Benigno 2,5%
com ultrassonografia
2. Tratamento
O tratamento dos nódulos de tireoide levam muitas dependem de
muitas variáveis, desde a clínica do paciente (se é ou não
sintomático) ao estadiamento do nódulo. Nesse contexto, várias
terapêuticas foram desenvolvidas, buscando diminuir, ainda mais, a
mortalidade e as complicações dos procedimentos para garantir
uma melhor qualidade de vida ao indivíduo.
Um dos tratamentos mais antigos e mais estudados é a cirurgia
convencional que, em geral, realiza-se uma tireoidectomia total, em
especial, se paciente com alta probabilidade de malignidade do
nódulo. Isso porque a recidiva de cânceres de tireoide são comuns
após procedimentos mais conservadores que realizam apenas uma
lobectomia, por exemplo.
No entanto, novos tratamentos como ablação com
radiofrequência demonstraram que para nódulos benignos
tireoidianos estão associados a um menos risco de alteração da
função da glândula, menor tempo de internação e menos lesão de
estruturas adjacentes, como nervo laríngeo recorrente, apesar de
mesmo índice de redução do volume da tireoide e das recorrências
se comparados com a cirurgia convencional. Logo, para nódulos
benignos o tratamento com radiofrequência é considerado primeira
linha nos casos de problema estético, sintomatologia associada,
hiperfuncionalidade da glândula e recusa por cirurgia.
Outros tratamentos considerados nesse contexto são ablação
radioativa com iodo (a qual muitas vezes é associada ao
procedimento cirúrgico no intuito de erradicar completamente a
glândula, destruindo um possível câncer residual, fundamental, em
especial nos casos de câncer metastático e recidivaste também) e
uso de inibidores de tirosina-quinase (como vandetanibe,
cabozantinibe, sorafenibe, entre outros, mas precisam de mais
estudos para demonstrar a eficiência na diminuição na
morbimortalidade desses pacientes).
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Parte 3: Procedimentos Básicos da Cirurgia
Geral na Prática
Parte 3 | Capítulo 27
Os anestésicos locais
Autora: Isabela Alcântara Rocha
Coautor: Dr. Thales Resende Damião
1. INTRODUÇÃO
A descoberta dos anestésicos locais foi feita pelo oftalmologista Carl Köller no final do
século XIX, que passou a utilizar a cocaína em sua prática médica na forma de colírio
anestésico. A cocaína foi isolada pela primeira vez em 1960 pelo químico Niemann, que
mencionou o seu efeito de adormecimento local e torpor quando em contato com a pele ou
mucosa.1 Posteriormente novas substâncias surgiram em substituição à cocaína, e por
serem substâncias capazes de bloquear a percepção da dor, os anestésicos locais
passaram a ser utilizados de forma abrangente até os dias atuais nos consultórios de
dentistas, em procedimentos na pele, como, por exemplo, a realização de botões
anestésicos para sutura, biópsias ou excisões e até durante o ato cirúrgico por meio da
raquianestesia, bloqueio epidural ou anestesia locorregional.
Fonte: Barash PG, Cullen BF, Stoelting RK, Cahalan MK, Stock MC, Ortega R & Sharar SR. .
Fundamentos de Anestesiologia Clínica. Artmed Editora , Porto Alegre; 2017, 8ª ed, p.312
2.2.3. Quanto à associação de substâncias:
O uso de vasoconstrictores (epinefrina) é responsável pelo aumento da duração do
bloqueio anestésico. Quando há vasodilatação, ocorre uma absorção sistêmica do
anestésico, causando diminuição da sua quantidade no local de aplicação. A associação de
uma substância vasoconstrictora visa minimizar essa perda para a corrente sanguínea
aumentando a concentração do anestésico no local de ação contribuindo para que seu
efeito seja prolongado. Além disso, a associação de epinefrina ao anestésico local parece
desempenhar efeito analgésico ao interagir com receptores adrenérgicos α2 na medula
espinal. Os opioides (em especial a buprenorfina) também exercem efeito sinérgico na
analgesia quando associados aos anestésicos locais durante anestesias no espaço
peridural ou subaracnóideo sem aumentar a toxicidade sistêmica do anestésico local. Os
agonistas adrenérgicos α2 como a clonidina produzem analgesia sinergística por meio de
receptores adrenérgicos supraespinais e espinais, além disso, a clonidina produz efeitos
inibidores na condução nervosa periférica. Os esteroides (dexametasona) combinados aos
anestésicos locais são capazes de prolongar a duração da analgesia por aproximadamente
50% na abordagem supraclavicular ou interescalena para bloqueio do plexo braquial.5
Fonte: Brewer JD, Roenigk RK. Anestesia tumescente: técnica auxiliar para excisões
extensas em cirurgia dermatológica. Surgical & Cosmetic Dermatology. 2010; 2(2), p.141
4.4. Raquianestesia
Cirurgias ortopédicas, ginecológicas, urológicas e perianais, bem como procedimentos
em abdome inferior (infraumbilicais) são indicações da raquianestesia.10 A raquianestesia
consiste na aplicação de anestésicos locais no espaço subaracnoide através da passagem
de uma agulha pela parede do saco dural. Um dos efeitos adversos da punção é uma
cefaleia relacionada ao ortostatismo, que ocorre quando há perfuração acidental da
meninge.11 A raquianestesia deve ser feita abaixo do nível da terceira vértebra lombar (L3 –
L5), a fim de evitar que a agulha perfure o cone da medula espinhal, que termina em L1 na
maioria dos pacientes.13
CONCLUSÃO
Os anestésicos locais são substâncias que visam o bloqueio da transmissão de
estímulos nociceptivos; são amplamente utilizados para o tratamento da dor, na sua
prevenção para realização de procedimentos clínicos de diversas especialidades e também
nos hospitais em diferentes modalidades anestésicas, possibilitando o ato cirúrgico. Dada a
sua grande abrangência e importância no cotidiano da prática médica, é de extrema
importância o conhecimento dos efeitos dos anestésicos locais no corpo humano, a fim de
se manejar o evento orgânico mais subjetivo que existe e capaz de intervir em aspectos
emocionais, psicológicos e afetivos da vida do paciente: a dor.
REFERÊNCIAS
1. França VP. O namoro de Freud e a descoberta da anestesia tópica. Rev Med Minas Gerais. 2010; 20(1):131-137.
2. Schulman JM, Strichartz GR. Farmacologia dos anestésicos locais. In: Golan DE, et al. Princípios de
Farmacologia: A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia.Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2009. v. 2.
3. Rang HP, Dale MM, Ritter JM, Flower RJ & Henderson G. . Rang & Dale Farmacologia. Rio de Janeiro: Elsevier
Brasil; 2015.
4. Cangiani LM, Carmona, MJC, Torres MLA, Bastos CO, Ferez D, Silva, ED & Tardelli MA. Tratado de anestesiologia.
São Paulo: SAESP; 2017.
5. Barash PG, Cullen BF, Stoelting RK, Cahalan MK, Stock MC, Ortega R & Sharar SR.. Fundamentos de
Anestesiologia Clínica. Artmed Editora, Porto Alegre; 2017.
. Barbosa MPL, Boni CLA, Andrade FCJ. Conduta na intoxicação por anestésicos locais. Rev. méd. Minas Gerais.
2010; 20(4/S1).
7. Brunton LL, Knollmann BC. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman e Gilman-13. Artmed Editora,
Porto Alegre; 2018.
. Miller RD, Eriksson LI, Fleisher LA, Wiener-Kronish JP, Cohen NH, & Young WL.. Miller’s Anesthesia [e-book].
Elsevier Health Sciences, Philadelphia, 2014.
9. Brewer JD, Roenigk RK. Anestesia tumescente: técnica auxiliar para excisões extensas em cirurgia
dermatológica. Surgical & Cosmetic Dermatology. 2010; 2(2): 140-143.
10. Hodgson PS, Liu SS. New developments in spinal anesthesia. Anesthesiology Clinics of North America. 2000;
18(2): 235-249.
11. Alstadhaug KB, et al. Post-lumbar puncture headache. Tidsskrift for den Norske lægeforening: tidsskrift for
praktisk medicin, ny række. 2012; 132(7): 818-821.
12. Introduction to Ultrasound-Guided Regional Anesthesia. NYSORA, 2019 [acesso em 2019 dez. 14].
13. Morche KR, Balbinot LAK, Schneider GF, Schwantes GC, Moura MD & Aquino RB. Bloqueios do neuroeixo: uma
revisão entre duas modalidades anestésicas. Acta méd. Porto Alegre, 2018; 39(1): 47-54.
Parte 3 | Capítulo 28
Agulhas e fios
Autora: Lara Ranulfo de Mendonça
Coautores: Breiner Rodrigues de Almeida Ferro e Leandro do Couto
Aguiar
1. Introdução
No passado, frequentemente segurávamos agulhas em nossas
mãos. O risco de perfuração acidental e de infecção/contaminação
tornou essa prática insustentável e, por isso, passamos a utilizar
porta-agulhas. A observação das diferentes características
biológicas dos tecidos humanos também impuseram a necessidade
de variados tipos de agulhas e fios.
As agulhas são feitas de aço ou outras ligas metálicas, para que
tenham resistência suficiente (a fim de não quebrar), rigidez e
ductilidade para suportar a deformação plástica sob ação de cargas
sem se quebrar e de retornar à forma anterior original quando
deformadas). As agulhas perfuraram, penetraram e ultrapassam
tecidos que recebem o fio de sutura.
As suturas eram realizadas utilizando fios de fibras de cânhamo,
linho ou de crina de animais. Entretanto, tais fios apresentavam
inúmeras dificuldades em seu uso, como baixa resistência, muita
reatividade e difícil manuseio.
Com a evolução da Medicina foram sendo desenvolvidos
métodos para diminuir as adversidades antes encontradas no
processo de síntese tecidual, exemplificados por antissepsia
(utilização de produtos sobre pele e mucosas com objetivo de reduzir
microrganismos em sua superfície), assepsia (conjunto de medidas
para impedir a introdução de agentes patogênicos no organismo),
fabricação de fios cirúrgicos cada vez melhores e aprimoramento
das técnicas para realização de procedimentos diversos. Cada fio
possui características particulares e indicações de uso. Os fios
cirúrgicos podem ter a necessidade de ser removidos ou então
serem absorvidos pelo próprio organismo do indivíduo.
Inicialmente agulhas e fios eram produzidos separadamente;
tinha-se um agulheiro com tamanhos e tipos de agulhas diferentes e
os fios eram avulsos passados posteriormente e as agulhas podiam
ser reesterilizadas. Ainda hoje podem ser utilizadas em algumas
situações específicas, porém em caráter de exceção.
Atualmente é disseminado o uso de fios de sutura pré-
esterilizados, embalados individualmente, com agulhas pré-
instaladas e entregues prontos.
2. AGULHAS
2.1. Escolha da agulha
Para cada sutura existe uma agulha ideal que será escolhida com
base no local onde será utilizada, a maleabilidade e composição do
tecido, além do tipo de ponto que pretende-se usar.
3. FIOS
Para escolher o fio adequado é importante ater-se às
características físico-químicas, relacioná-los aos tecidos e às
condições orgânicas do local a ser operado.
A resistência do fio à tração, as alterações induzidas ao tecido
pela sua presença e seu tempo de absorção devem ser consideradas
no momento de sua escolha. Algumas características relevantes:
Capilaridade: capacidade de o fio absorver / reter líquidos.
Relaciona-se com a capacidade de retenção de micro-organismos e
adesão de micróbios.
Diâmetro: mede o calibre do fio. É expressa, por convenção, por
zeros. A quantidade de zeros é inversamente proporcional ao
diâmetro transversal do fio. Dessa forma, quanto maior o número de
zeros menor será o diâmetro do fio e vice-versa.
Composição física: fato de o fio ser formado por um filamento
único (monofilamentar) ou por múltiplos filamentos
(multifilamentares). Alguns exemplos de fios monofilamentares são
os fios de náilon e polipropileno. Exemplos de multifilamentares
temos o Categute, poliéster e poliglactina. Em geral os fios
multifilamentares apresentam menos memória (vide abaixo) e mais
fácil manuseio, porém geram maior reação inflamatória ao tecido e
maior possibilidade de formação de biofilme.
Resistência à tração: é quantidade de força / peso que o fio pode
suportar sem se romper.
Força do nó: avalia se o nó feito com aquele tipo de fio pode ser
desfeito de forma fácil ou difícil. Tem influência da aspereza do
material, quantidade de atrito entre outros fatores.
Memória: capacidade de retornar a forma original após ser
tracionado e manipulado.
Um fator de extrema importância na escolha do fio é a quantidade
de reação tecidual que ele origina. A reação tecidual inclui desde
trauma na passagem, indução de processo inflamatório e
predisposição a instalação de processos infecciosos.
Figura 4: Fio monofilamentar – memória.
4. O FIO IDEAL
O fio ideal conseguiria englobar inúmeras características
requisitadas para um bom fio e sua utilização. O fio ideal conseguiria
unir os pontos positivos de cada um dos fios utilizados em um único
fio. Infelizmente, o fio perfeito ainda não foi inventado ou descoberto.
Algumas qualidades do fio ideal são:
- Duração no tecido somente pelo período em que for necessário
(ou seja, desaparecer após a cicatrização).
- Memória pequena para que seu manuseio seja mais simples.
- Não ser condutor de eletricidade.
- Ter boa força de nó.
- Ter grande resistência à tração.
- Ser monofilamentar (apresentam menor reação tecidual, menos
indutores de inflamação e “facilitadores” de infecções).
- Ter baixo custo financeiro.
Ainda que o fio ideal ainda não exista, cada fio possui seus pontos
fortes e seus pontos fracos. Cabe ao profissional saber aliar os
pontos positivos com a necessidade encontrada para uma sutura
específica. Os fios foram divididos, neste capítulo, em absorvíveis e
inabsorvíveis para uma melhor didática.
4.9. Polipropileno
Fio sintético, monofilamentar, não absorvido pelo organismo. É
um fio de altíssima estabilidade tissular e com pouca reação no
corpo. Fio de muita memória.
Indicação: cirurgias cardiovasculares, fechamento de
aponeuroses de cavidade abdominal, fixação de telas em correção de
hérnia inguinal, suturas vasculares, sutura intestinal durante cirurgia
de apendicectomia.
4.10. Poliéster
Multifilamentar, trançado, não absorvível. É um fio maleável e
suave, facilitando a manipulação mas dificultando a fixação dos nós.
Indicação: pode ser utilizado em qualquer sutura, especialmente
utilizado em cirurgias cardíacas.
4.11. Seda
Multifilamentar, trançado e torcido. Facilmente manuseado, tem
alta resistência e produz nós bastante seguros. Pode induzir muita
reação com formação de granulomas por presença de proteínas de
origem animal.
Indicação: melhor escolha para ligaduras vasculares
Força de tensão: máximo de 1 ano.
4.12. Algodão
Multifilamentar, origem vegetal. Fios de baixo custo, pouca
memória e fácil manuseio.
Indicação: fixação de campos cirúrgicos, ligaduras vasculares.
4.13. Aço
Fio monofilamentar, não biodegradável, obtido do aço inoxidável.
Fio eletrolítico. Inerte, alta resistência e flexibilidade.
Indicação: suturas ósseas como fechamento de esternotomia
durante cirurgia cardíaca.
5. INOVAÇÕES NA PRÁTICA
CIRÚRGICA
5.1. Fios Antibacterianos
São fios agulhados como o poliglactina, poliglicaprona e
polidioxanona, porém com o adicional de conterem substâncias
antibacterianas em sua estrutura. A denominação “Plus” é
acrescentada no nome dos fios.
Os fios com antimicrobianos (usualmente o Triclosan e a
Clorexidina) fornecem proteção contra colonização da sutura por
bactérias associadas a infecções de sítio cirúrgico por no mínimo 7
dias (período considerado crítico no processo de cicatrização).
As bactérias comumente relacionadas são: Staphylococcus
aureus, Staphylococcus epidermidis, Escherichia coli, entre outras.
Figura 7: Sutura/fio Monocryl PLUS.
Fonte: Johnson & Johnson do Brasil Indústria e Comércio de
Produtos para Saúde Ltda.,2018. Browse Products. [S.l.]; 2019
[acesso em 2019 out. 8].
6. COLA CIRÚRGICA
Colas cirúrgicas são uma boa alternativa às suturas
convencionais, tendo como vantagens: retirada espontânea do
sistema, boa força tênsil; barreira antimicrobiana; menor tempo de
aplicação; diminuição de dor e inflamação pós-operatória no local da
síntese. A composição da cola é principalmente Cianoacrilato (e seus
derivados) e Metacrilosisolfolano. É empregada na camada superior
da pele e pode ser acompanhada de uma tela de poliéster para selar
e proteger o corte. Em geral, mantém sua força de tensão por 2-3
semanas.
Possui as desvantagens de elevar o custo com matérias,
possibilidade de causar reações alérgicas e necessitar de maior
cautela no uso em certas regiões corporais (como em áreas muito
estiradas). Por mais que ainda seja recente, a síntese feita com cola
cirúrgica é certamente uma inovação promissora e sua
implementação está progressivamente sendo disseminada na prática
médica.
CONCLUSÃO
Existem variados tipos de agulhas e fios, indicações individuais e
características cada um deles. Alguns fatos devem ser lembrados:
-Tecidos delicados e frágeis requerem o uso de agulhas
atraumáticas, assim como tecidos resistentes e densos precisam do
uso de agulhas cortantes e mais traumáticas.
Os fios de sutura, seguindo as premissas de Van Winkle e Hasting,
devem:
- Ter força semelhante a força do tecido em que for utilizado.
- Ser conhecidas as interações biológica provocadas por eles no
processo de cicatrização.
- Somente perder resistência se o tecido suturado estiver
ganhando resistência, ou seja, cicatrizando.
A aplicação da técnica de forma correta, o bom conhecimento
básico teórico e a gradativa experiência adquirida em campo
permitem que o profissional faça escolhas seguras e adequadas,
além de conseguir obter resultados positivos nos procedimentos
realizados.
REFERÊNCIAS
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2019 out. 10]. Disponível em: https://portalhospitaisbrasil.com.br/chega-ao-brasil-
sutura-farpada-para-o-fechamento-de-incisoes-cirurgicas/.
2. Cammarota MC, Moura LG, Ribeiro Junior I, Lima RQ, Almeida CM, Daher LMC, et al.
Comparação de resultado estético em cicatrizes com uso de fios cirúrgicos e Prineo®.
Rev. Bras. Cir. Plást.2017;32(1):101-108.
3. BioCryl II – Poliglactina 910 antibacteriano. [acesso em 2019 out. 12].
4. Equipe operatória fios e suturas: técnica cirúrgica – FMUSP. [acesso em 2019 set. 28].
5. Agulhas, fios, grampeadores e colas cirúrgicas [acesso em 2019 out. 3].
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7. Browse Products. [S.l.]; 2019 [acesso em 2019 out. 8].
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Appris; 2019.
9. Goffi FS, Tolosa EMC. Operações fundamentais. In: Goffi FS. Técnica cirúrgica: bases
anatômicas e fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. 4. ed. Rio de Janeiro: Atheneu;
2001.
10. Marques RG. Técnica Operatória e Cirurgia Experimental. São Paulo: Guanabara
Koogan; 2005.
11. Magalhães RG. Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental. São Paulo: Sarvier; 1996.
12. Cirino LMI. Instrumental cirúrgico e operações fundamentais. In: Cirino LMI: Manual
de técnica cirúrgica para a graduação. São Paulo: Sarvier; 2006.
13. Leonard PC, Zilberstein B, Jacob CE, Yagi O, Cecconello I, Nós e suturas em vídeo
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14. Kirk RM. Bases técnicas da cirurgia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2012. 224 p.
15. Ugulino Netto A, Lisboa JBRM. Manual de Suturas: Técnica Operatória. [S. l.]:
MedResumos; 2016 [acesso em 2019 set. 27]. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/378432572/16-Manual-de-Suturas.
1 . Moriya T, Vicente Y, Tazima M F. Instrumental cirúrgico. Medicina (Ribeirão Preto.
Online). 2011 mar.; 44(1): 18-32.
17. Quitzan JG. Técnica Cirúrgica Veterinária. Botucatu, SP: [s. n.], 2013 [acesso em 2019
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1 . Petroniau A, Miranda ME, Oliveira RG. Blackbook Cirurgia: Medicamentos e rotinas
médicas. Belo Horizonte: Blackbook; 2008. 736 p.
19. Rodrigues JJG, Machado MCC, Rasslan S. Clínica Cirúrgica. Barueri, SP: Manole;
2008.
20. Barros M et al. Princípios básicos em cirurgia. Porto,Acta Med Port.; 2011.
21. Ingracio AR. Técnica Cirúrgica. Caxias do Sul, RS: Educs; 2017. [E-book]
22. Produtos: Seda. [S. l.], [2016?] [acesso em 2019 out. 22].
23. Stratafix™ Knotless Tissue Control Devices: Product & Procedure Compendium. US:
Ethicon; 2017 [acesso em 2019 out. 21].
Parte 3 | Capítulo 29
Nós e suturas
Autora: Lara Ranulfo de Mendonça
Coautores: Breiner Rodrigues de Almeida Ferro e Leandro do Couto
Aguiar
1. INTRODUÇÃO
Os nós cirúrgicos são fundamentais na hemostasia definitiva
(como, por exemplo, ligadura de vasos sangrantes) e no processo de
síntese. Eles são parte importante das ações manuais repetitivas em
uma cirurgia. Aprender a técnica básica sobre os tipos de nós, suas
utilizações, além de aprimorar a teoria com o treinamento repetitivo
da técnica adequada são os pontos de partida para consegui-los
realizar de forma correta.
A realização de sutura para o fechamento de incisões ou síntese
de ferimentos tem objetivo de evitar infecção, proteger estruturas
nobres, obter estética satisfatória e possibilitar o processo
cicatrização primária da ferida com maior qualidade, rapidez e
segurança. As suturas podem ser realizadas por pontos separados
(também denominados interrompidos ou suturas simples) e por
pontos contínuos (suturas contínuas).
2. NÓS
As extremidades das ligaduras e das suturas são unidas por nós.
Um nó é um entrecruzamento dos fios com o propósito de uni-los.
São dois tipos: comuns (quadrado e deslizante) e especiais (nó de
cirurgião, nó de roseta e nó por torção). Podem ser realizados por
meio das técnicas manuais, apenas instrumentais ou mistas (mais
comuns, com uso de porta-agulha e mão livre para auxiliar). Em geral,
são realizados 3 seminós: 1º de contenção, 2º de fixação e o 3º de
segurança.
2.1.COMUNS
2.1.1. Nó quadrado ou antideslizante
Nó básico, composto por dois seminós, feitos com os mesmos
movimentos similares mas com mãos opostas, ou então um seminó
feito no sentido horário e outro seminó em sentido anti-horário,
como, por exemplo, a técnica de Pauchet utilizando nós do dedo
médio e dedo indicador respectivamente (vide a seguir). É um nó
firme, seguro, não facilmente desfeito. Faz-se um terceiro seminó
contrário ao segundo apenas por segurança. Estes são realizados de
forma contrária ou anterior (chamados de nós e contranós), a fim de
não afrouxar o nó ao final da sua execução.
2.2. ESPECIAIS
2.2.1. Nó duplo ou nó do cirurgião
Utilizado para nós feitos sob tensão, em que o primeiro seminó
feito tem que ser duplo para manter a tensão nos fios. O segundo
seminó é simples e feito no sentido oposto ao primeiro seminó, e o
terceiro também é simples e contrário ao segundo. Outra utilidade do
nó do cirurgião seria em caso de uso de fio monofilamentar, que
naturalmente apresenta maior memória e maior probabilidade de
afrouxar o nó.
Figura 1- Nó de cirurgião
Fonte: Bases técnicas da cirurgia, Kirk RM.
2.2.2. Nó em roseta
Nó para ancorar as extremidades de fios em suturas
intradérmicas, por exemplo, quando apenas uma extremidade do fio
está disponível. Ele é reversível se tracionado.
Técnica nó em roseta: rotação de uma das extremidades do fio
em torno das presas do porta-agulha, o qual realiza a preensão da
parte proximal desse mesmo seguimento e o traciona por dentro da
alça anteriormente formada.
Figura 2: Nó em roseta- nó de apoio para suturas contínuas
Fonte: Instrumental cirúrgico, Moriya T, Vicente Y, Tazima M F.
3. TÉCNICA MANUAL
Unimanual (uma mão realiza os movimentos enquanto a outra
mão somente fixa o fio) ou bimanual. Realizados pela Técnica de
Pauchet e Técnica de Sapateiro.
5. Técnica de Sapateiro
Um pouco mais lenta em sua confecção, porém permite que as
extremidades dos fios sejam mantidas esticadas e que não haja
perda de tensão nos seminós. Primeiro seminó duplo se tensão ou
uso de fio monofilamentar, segundo e terceiro seminós simples,
contrários entre si por meio da troca de mão ou inversão do sentido
(contra nós).
6. TÉCNICA INSTRUMENTAL
Uso de pinças e porta-agulha, utilizado para a realização de suturas
de ferimentos e incisões.
6.1. Nó cirúrgico
Segure a agulha (e o fio) entre o polegar esquerdo e o indicador.
Segure o porta-agulha (fechado) na mão direita com a ponta
apontando para a esquerda.
Coloque o fio agulhado contra a ponta do porta-agulha.
Com a mão esquerda, passe o fio em torno da ponta do porta
agulha duas vezes, posicionando o fio distalmente a você.
Abra o porta-agulha e posicione-o para segurar a extremidade
curta do fio.
Puxe o fio mantendo o laço duplo e deixe o laço descer para o fio
segurando a extremidade curta do fio.
Abra o porta-agulha e libere a extremidade curta do fio.
Segundo seminó (simples): sentido contrário ao primeiro.
Coloque o porta-agulha sob o fio.
Passe a extremidade longa do fio em volta do porta-agulha uma
vez.
Abra o porta-agulha e use-o para segurar a extremidade curta do
fio.
Deixe o laço único descer e tensione o fio.
Terceiro seminó (simples).
Segundo seminó no sentido oposto:
Dica: para nós no sentido regular usamos o “lado interno” do fio
para enrolar o porta-agulha.
Para nós no sentido oposto utilizamos o “lado externo” do fio.
Caso o fio possua alta memória será necessário confeccionar 3
nós para garantir uma fixação segura. Dessa forma, o nó seguinte
será sempre do lado oposto ao nó anterior. Ou seja, primeiro nó
sentido regular, segundo nó sentido oposto, terceiro nó sentido
regular.
Figura 6 e 7: técnica de confecção e de fixação do nó.
Fonte: Bases técnicas da cirurgia, Kirk RM.
7. FIXAÇÃO DO NÓ
As funções de “apertar o nó em sua base, conduzir os seminós
até o local adequado e de finalizar sua fixação são feitas pelo dedo
indicador, cuja posição é capaz de alcançar tecidos mais profundos e
de dificil acesso, além de possuir melhor sensibilidade tátil. Não se
deve apertar o nó tracionando as duas extremidades para trás ou
para os lados, pois as estruturas envolvidas podem ser lesadas e até
avulsionadas, ou mesmo o campo cirúrgico mais restrito pode não
permitir tal manobra. A fixação é tão importante quanto a técnica em
si, visto um nó frouxo não tem utilidade ao seu objetivo.
8. O NÓ BEM-EXECUTADO
• Não deve ser cruzado, pois pode romper.
• Não deve ser frouxo.
• Deve ter forças iguais em ambas extremidades do fio.
• Deve ser bem fixado com o dedo indicador.
• Deve possuir número de nós variando de acordo com o tipo de
fio e local de utilização. Fios finos e monofilamentares, por sua
memória, exigem três ou mais nós.
9. PREENSÃO DA AGULHA COM O
PORTA-AGULHAS
O porta agulhas deve prender a agulha na região do corpo, em sua
porção central ou no terço posterior, mas não nas extremidades pelo
risco maior de quebra ou deformidade do material. Se o individuo for
destro ele deve manter a mão em meia-pronação e a ponta da agulha
deve apontar para cima e para esquerda. Já os canhotos devem
manter a ponta da agulha para cima e para direita.
Entrada da agulha em 90 graus em relação ao tecido, em um
ponto equidistante da saída da agulha até a borda da ferida. A
distância entre os pontos deve ser similar ou ligeiramente maior que
a distância entre a borda da pele e a entrada da agulha.
10.2. Desvantagens
Maior trabalho para ser realização.
Mais demorada.
11.2. Desvantagens
Um nó frouxo ou solto vai ocasionar a deiscência da sutura por
completo.
É mais isquemiante.
11.3.4. Intradérmica
Sutura começa no início da incisão e percorre através da derme
superficial. A agulha é introduzida longitudinalmente na derme por
uma extensão de cerca de 0,5 cm, tangenciando a margem da ferida
internamente, atravessa a incisão e faz o mesmo do outro lado. O
processo é repetido até ser alcançado o ângulo final da outra
extremidade, onde há exposição do fio através da pele. O fechamento
é realizado pela técnica de roseta. Os nós podem ser elaborados
somente ao término da sutura ou então o primeiro nó pode ser o
passo inicial da sutura (ponto simples) e, assim, fixar o fio e facilitar a
execução.
Utilização: feridas de pouca tensão, utilizada somente para
fechamento de derme-epiderme, com coaptação da mesma. Produz
o melhor resultado estético, porém não suporta tensão.
Figura 15: sutura contínua intradérmica
CONCLUSÃO
A Lei dos nós de Levingston explicita que movimentos iguais de
mãos opostas executam um nó perfeito e que a ponta do fio que
muda de lado após a execução do primeiro seminó deve voltar ao
lado inicial para realizar o outro seminó; tendo-a sempre em mente é
possível executar a técnica de forma adequada.
A forma como cada profissional cria seus nós depende da
preferência pessoal. É fundamental praticar como realizar manobras
manuais e instrumentais para conseguir fazê-las em circunstâncias
adversas.
Na realização de suturas, as agulhas devem ser inseridas e
retiradas somente utilizando instrumentos. É necessário ter boa base
teórica para escolher a sutura que será empregada em cada situação
e local do organismo.
O sucesso da síntese cirúrgica depende do cuidado e da distância
com que os pontos são inseridos, a aproximação dos tecidos, o
cuidadoso ajuste da tensão e a finalização com nós seguros.
REFERÊNCIAS
1. Cirurgia ambulatorial. Nós instrumentais [acesso em 2019 out. 12].
2. Equipe operatória fios e suturas: técnica cirúrgica – FMUSP. [acesso em 2019 set. 28].
3. Sutura: princípios básicos [acesso em 2019 out. 3].
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Appris; 2019.
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Parte 3 | Capítulo 30
1. INTRODUÇÃO
A punção venosa é definida como o ato de introduzir de uma
agulha ou cateter em um vaso, podendo ser dividida em central ou
periférica. Trata-se do procedimento mais comumente realizado em
ambiente hospitalar, seja em casos eletivos (como uma coleta
sanguínea para realização de exames) ou em casos de urgência
(pacientes vítimas de trauma, por exemplo).
Os acessos venosos periféricos são amplamente utilizados em
ambientes hospitalares e não hospitalares, sendo úteis na
administração de soluções endovenosas, medicamentos e também
na coleta de sangue. Existem certas regiões anatômicas
preferenciais para a realização desses procedimentos, bem como
técnica adequada, podendo eventualmente cursar com
complicações locais.
Por sua vez, os acessos venosos centrais possuem maior
complexidade de realização e podem ser considerados cirurgias de
pequeno porte, requerendo bom conhecimento anatômico,
habilidade e treinamento técnico. De uma forma geral, estes
acessos podem ser utilizados para administração de soluções
hidroeletrolíticas, medicamentos, hemoderivados, nutrição
parenteral e também coleta de exames.
1.1. Classificação
As principais classificações envolvendo os cateteres são quanto
à localização da ponta da agulha, localização do acesso e tempo de
permanência.
2.2. Indicações
• Hidratação venosa em pacientes com desidratação ou com
impossibilidade de realização pela via oral.
• Hemotransfusão e hemodiálise.
2.5. Complicações
A frequência de complicações associadas à punção venosa
periférica é baixa e a maioria pode ser resolvida com a troca do
acesso por meio da punção em outro local. No entanto, quando as
complicações estão presentes, podem conduzir ao aumento da
morbidade e prolongamento da hospitalização, visto que a
contaminação do cateter venoso é a principal causa de infecções
sanguíneas intra-hospitalares.
Podemos destacar algumas complicações locais associadas ao
uso de cateter venoso periférico mais relatadas literatura, como
hematoma, trombose, flebite, tromboflebite, infiltração,
extravasamento, espasmo venoso e infecção local. Estas estão
diretamente relacionadas à experiência e ao conhecimento técnico-
científico dos profissionais da saúde sobre a terapia intravenosa,
que garantem a eficácia terapêutica e qualidade do cuidado
prestado.
Fonte: Caroline T. 4
3.2. Indicações
Acesso de curta permanência: indicações para o acesso que vai
permanecer por menos de 1 mês.
• Pacientes oncológicos.
• Procedimento:
1ª etapa: inserir a agulha conectada à seringa 1 a 2 cm abaixo
do ponto médio da clavícula em direção à fúrcula esternal,
passando posteriormente e rente à clavícula.
Figura 5: Local para inserção da agulha na veia subclávia
Fonte: Eachempati SR. 5
• Procedimento:
1ª etapa: inserir a agulha conectada à seringa 1 a 2 cm abaixo
do ligamento inguinal e 1 cm medialmente em relação à artéria
femoral sob um ângulo de 45 graus em direção à cicatriz
umbilical.
Figura 6: Identificação da veia femoral
3.5. Complicações
• Subclávia: de forma geral, podemos ter a ocorrência de
hemotórax com hemorragia maciça. Tem-se diferença entre o
lado utilizado no processo de punção, sendo que no lado
direito a complicação mais frequente é a progressão do
cateter para a veia jugular. Por sua vez, no lado esquerdo, as
complicações mais comuns incluem pneumotórax e lesão de
ducto torácico.
CONCLUSÃO
Com base em tudo o que foi abordado neste capítulo podemos
afirmar que as punções venosas periféricas e centrais consistem em
técnicas de alta complexidade para realização e manuseio. Sendo
assim, o cuidado com os procedimentos que incluem o acesso
vascular deve ser prioridade nas equipes profissionais para melhor
assistência aos pacientes.
Em vista disso, torna-se fundamental a padronização de técnicas
adequadas para a prevenção de eventuais intercorrências, bem
como a incorporação dessas técnicas, promovendo assim um
tratamento apropriado e digno aos pacientes.
REFERÊNCIAS
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Prospective Study of 3 Procedures for the Diagnosis of Catheter-Related Bloodstream
Infection Without Catheter Withdrawal. Clin Infect Dis. 2007 Mar 15.
2. Bowdle A. Vascular Complications of Central Venous Catheter Placement: Evidence-
Based Methods for Prevention and Treatment. J Cardiothorac Vasc Anesth. 2014 Apr.
3. Danski MTR, Oliveira AM, Meier MJ, Pedrolo E. Effectiveness of ultrasonography-
guided peripheral venous access: an integrative review. Enferm Glob [Internet]. 2016
[cited] 2017 Jan.
4. Dubois J, Garel L, Tapiero B, Dubé J, Laframboise S, David M. Peripherally Inserted
Central Catheters in Infants and Children. Radiology. 1997 Sep.
5. Gauderer MW. Vascular Access Techniques and Devices in the Pediatric Patient. Surg
Clin North Am. 1992 Dec.
. Hade AD, Beckmann LA, Basappa BK. A Checklist to Improve the Quality of Central
Venous Catheter Tip Positioning. Anaesthesia. 2019 Jul.
7. Oliveira AKA, Medeiros LP, Melo GSM, Torres GV. Passos da técnica de punção venosa
periférica: revisão integrativa. Arq Ciênc Saúde. 2014; 21(1): 88-95.
. Petroianu A, Miranda ME, Oliveira RG. Blackbook de Cirurgia. Belo Horizonte:
Blackbook Editora; 2008.
9. Resende V. Acesso Venoso. Monteiro ELC; Santana EM. Técnica Cirúrgica. Rio de
Janeiro: Guanabara; 2006.
10. Smith RN, Nolan JP. Central Venous Catheters. BMJ. 2013 Nov. 11.
11. Taylor RW, Palagiri AV. Central Venous Catheterization. Crit Care Med. 2007 May.
12. Tertuliano AC, Borges JLS, Fortunato RAS, Oliveira AL, Poveda V. Flebite em Acessos
Venosos Periféricos de Pacientes de um Hospital do Vale do Paraíba. Rev Min
Enferm. 2014.
1. Considerações iniciais
O procedimento de monitorização da pressão arterial invasiva
(PAI) consiste em uma técnica que envolve a utilização de cateteres
intra-arteriais, por meio da inserção destes em uma artéria viável,
com o intuito de se obter um registro da pressão arterial de forma
contínua. Essa técnica é muito utilizada em unidades de terapia
intensiva e em salas de operações, pois nesses ambientes faz-se
necessário um controle mais apurado dos registros pressóricos do
paciente. Existem dois métodos utilizados na medida de pressão
intravascular: por meio de um transdutor de distensão eletrônico
(mais usado), ou, na falta dessa tecnologia, pode-se medir utilizando
um manômetro numa conexão de 3 vias acoplado ao sistema de
medição seguindo a técnica de aferição da pressão venosa
profunda.
Este capítulo visa elucidar e abordar as vantagens, as
desvantagens, as técnicas, os materiais utilizados, as complicações,
as indicações e as contraindicações dessa técnica no dia a dia do
cirurgião.
2. Considerações anatômicas
A seleção do local de punção dá início com a localização de um
pulso arterial palpável. Dentre os locais mais comuns, encontram-se
as artérias periféricas (radiais, braquiais ou pediosas) e as artérias
centrais (femorais ou axilares). Em geral, as artérias periféricas
possuem um risco de infecção menor quando comparado aos
locais de punção arterial central. Os acessos mais comuns são nas
artérias radiais, pediosas, tibiais posteriores, axilares e femorais. O
local de punção escolhido deve apresentar uma circulação colateral
adequada, avaliada pela prova de Allen ou com o auxílio de
aparelhos de ultrassonografia com doppler.
3. Principais Indicações
• Monitoramento continuo da pressão arterial: é necessário
em diversas situações, entre elas, durante o intraoperatório de
uma cirurgia de grande porte; em pacientes em que o acesso
intravascular está dificultado; pacientes que apresentam
comorbidades significativas e eventualmente necessitarão do
uso de drogas vasoativas.
4. Principais contraindicações
• Prova de Allen anormal
• Coagulopatia
• Queimaduras no local
• Aneurisma
• Stent
• Fístulas arteriovenosas
• Enxerto vascular
• Doença vascular periférica grave
5. Vantagens
• Monitoramento da pressão arterial batimento a batimento
(muito útil para pacientes que necessitam de um controle
rigoroso dos volumes pressóricos)
6. DESVANTAGENS
• Potencial foco para infecção devido à permanência do
cateter intra-arterial por longos períodos
• Possibilidade da formação de trombose no local de inserção
do cateter, o que pode resultar em êmbolos e oclusão arterial
7. Materiais necessários
Principais:
• Equipo de soro
• Soro fisiológico 500ml a 0,9% – necessário para conduzir a
onda de pressão ao transdutor. Além disso, necessário no
processo de lavagem da cânula
• Máscara
• Solução de clorexidina
• Luvas estéreis
• Campo estéril
Anestesia local:
• Esparadrapo ou Micropore®
Apoio:
• Gaze
• Porta-agulhas
• Tesoura
9. Técnica de inserção
• A técnica de inserção para o cateterismo arterial é estéril.
Solução antisséptica é aplicada no local de acesso e aguardar
secar; além disso, para a realização do procedimento é
necessária a lavagem adequada das mãos e a utilização de
luvas estéreis; pode-se utilizar também máscaras, gorro e
óculos de proteção, porém estes não necessariamente
obrigatórios
11. Complicações
• Dor
• Inchaço
• Hematoma ou sangramento no local da inserção
• Danos às estruturas adjacentes
• Infecção local ou sistêmica
• Vasoespasmo
• Tromboembolismo
• Dissecção
• Pseudoaneurisma
• Formação de fístula arteriovenosa
• Isquemia local ou distal
• Necrose
REFERÊNCIAS
1. Arthur CT, Gilles C, Allison D. Indications, interpretation, and techniques for arterial
catheterization for invasive monitoring. Uptodate Jul 24, 2019.
2. Barros RF, Amato ACM, Vicente NC. Procedimentos Médicos Técnica e Tática:
Monitoramento Invasivo da Pressão Arterial. 2. ed. São Paulo: Roca; 2018. cap. 17.
3. Bertrand OF, Carey PC, Gilchrist IC. Allen or no Allen: that is the question! J Am Coll
Cardiol 2014; 63: 1842.
4. Esper SA, Pinsky MR. Arterial waveform analysis. Best Pract Res Clin Anaesthesiol
2014; 28: 363.
5. Kruse JA, Clark VL. Monitoramento de pressão arterial sanguínea. In: Kruse JA, Parket
MM, Carlson RW, et al. Manual dos princípios e práticas de terapia intensiva. São
Paulo: Roca; 1998.
. Marbas LL, Case E. Blueprints: clinical procedures. Boston: Blackwell; 2004. p. 93-96.
7. Miller RD. Miller’s Anesthesia. 6. ed. New York: Churchill Livingstone; 2004.
Parte 3 | Capítulo 32
Acesso intraósseo
Autor: Giovana Battaglia
Coautor: Dr. Fábio J. B. Sotelo
1. INTRODUÇÃO
O acesso intraósseo (IO) para reposição volêmica apesar de pouco
utilizado deve ser de conhecimento médico geral, uma vez que, em
situações de hipovolemia crítica, pode ser a única maneira de realizar
a reposição de forma rápida e eficaz.1
Situações como hemorragias graves ou outras relacionadas a
hipovolemia podem levar ao “colabamento” de veias em adultos e
principalmente em crianças (com veias mais finas e de difícil punção),
impossibilitando o acesso venoso periférico e até o central com
rapidez, sendo o acesso IO uma opção importante na reposição
imediata de fluidos, sangue e fármacos.2, 3 A infusão intraóssea além
de rápida é segura e eficaz ainda em neonatos.4
Fonte: Reichman.1
Esterno Adultos
Clavícula Adultos
Fêmur Crianças
Úmero Crianças
Calcâneo Crianças
3. INDICAÇÕES
Segundo a American Heart Association, acesso intraósseo é
indicado quando o acesso vascular não é possível, após 90 segundos
de tentativa ou após 2 tentativas.5
Pode ser utilizado em:
• Parada cardíaca
• Choque
• Sepse
• Traumatismo
• Desidratação grave
• Queimaduras extensas
• Epilepsia
Além disso, pode ser utilizado para fornecer amostras de sangue
para análise laboratorial e gasometria.
Durante a ressuscitação cardiopulmonar, o acesso pela tíbia
proximal é mais indicado por não ser necessário interromper a
massagem cardíaca.
4. FÁRMACOS E FLUIDOS
ADMINISTRADOS POR VIA
INTRAÓSSEA
Medicamentos e fluidos mais comuns para administração
intraóssea.2
Analgésicos, Antibióticos Fluidos Bloqueadores Medicações para Diversos
anestésicos, neuromusculares ressuscitação
anticonvulsivantes
e sedativos
5. CONTRAINDICAÇÕES1, 6
• Osteomielite
• Osteoporose
6. TÉCNICA
I. Assepsia e antissepsia com solução de clorexidina ou iodo
povidine.
II. Agulhas de injeção intraóssea: modelo Cook ou modelo de
aspiração esternal ou ilíaca de Illinois ou agulha Jamshidi, usada em
punção de medula óssea.
III. O local para punção mais frequentemente usado em crianças
corresponde à face medial da tíbia em cerca de 1 a 3 cm abaixo da
tuberosidade tibial.
IV. A agulha deve ser direcionada levemente inclinada (15 a 30º)
para a parte distal evitando a punção da cartilagem de crescimento
metafisária. Há dois dispositivos que facilitam esse acesso: o driver
intraósseo EZ-IO (Vidacare, San Antonio, TX) e a pistola de injeção
óssea (BIG, Wais Medical, Kress USA Corporation). Ambos os
dispositivos apresentam o tamanho adulto ou pediátrico e ajustam a
profundidade na qual a agulha será inserida no osso. Para a infusão
pelo esterno há um outro dispositivo usado em adultos chamado
MONOJECT™ I-Type Sternal-Iliac Aspiration Needle (Covidien,
Mansfield, MA).
V. Ao se sentir a ponta da agulha atravessando o córtex do osso,
não se deve mais aprofundá-la.
VI. A agulha permanece na posição sem suporte.
VII. A infusão em bolus de 5 a 10 mL de solução fisiológica com
uma seringa resulta em mínima resistência e não deve haver
evidência de infiltração no subcutâneo; se o fluxo da solução é
facilmente administrado e não há extravasamento, deve-se conectar o
equipo de soro e fixá-lo à coxa. A agulha deve ser protegida de abalos,
circundando-a com gaze e esparadrapo
Figura 2: Agulhas de acesso intraósseo.
Fonte: Reichman.1
Fonte: Reichman.1
7. COMPLICAÇÕES
O acesso IO deve permanecer no paciente por no máximo 24
horas. Sendo mais indicada apenas no momento do atendimento de
emergência, até a possibilidade de obtenção de um acesso vascular
periférico ou central de maior permanência, com a finalidade de
diminuir as complicações.5
A ocorrência de eventos adversos durante o uso dessa via é
inferior a 1%. Estudos recentes descreveram taxas de complicações
de aproximadamente 0,6%, e apontaram o extravasamento e a
infiltração de fluidos administrados como as complicações mais
frequentes. Ou seja, o acesso IO tem se mostrado seguro.7
Osteomielite, celulite, abscesso e sepse, relacionam-se a falhas na
técnica de assepsia para punção ou em erro de manuseamento do
dispositivo de acesso IO. A síndrome compartimental e a necrose
tecidual correlacionam-se à ocorrência do extravasamento de fluidos
para o subcutâneo. Embolia gordurosa também pode ocorrer, apesar
de não haver casos descritos na literatura em crianças, pois
apresentam pouca gordura na medula óssea.8
Fratura, deslocamento da agulha e extravasamento para o
subcutâneo podem ser minimizados se colocado um coxim sobre o
membro puncionado, além da imobilização dele.8
Dor tem sido relacionada ao aumento da pressão intramedular, o
que não é problema com infusões mais lentas ou em pacientes
inconscientes.
CONCLUSÃO
O acesso venoso pela via intraóssea é seguro e efetivo para
reposição volêmica, além de ser uma opção para a administração de
fármacos e exames laboratoriais em qualquer faixa etária. A via
intraóssea deve ser obtida quando o acesso venoso não for
rapidamente estabelecido.
Apesar de sua utilização, assim que a estabilidade hemodinâmica
for alcançada, deve-se proceder com sua retirada o mais precoce
possível, a fim de se evitar complicações mais graves.
REFERÊNCIAS
1. Reichman FE. Emergency Medicine Procedures. McGraw-Hill Education. Texas Houston.
2 ed. 2013. cap. 55, p. 361.
2. DeBoer S, Russell T, Seaver M, Vardi A. Infant intraosseous infusion. Neonatal Netw.
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3. Von Hoff DD, Kuhn JG, Burris HA 3rd, Miller LJ. Does intraosseous equal intravenous? A
pharmacokinetic study. Am J Emerg Med. 2008; 26(1): 31-8.
4. Coronel Carvajal C. Vía intraósea en pediatría. Rev Cuba Pediatr [Internet]. 2003; 75(3).
5. Américo Riberio de Sá et al. Acesso vascular por via intraóssea em emergências
pediátricas. Rev Bras Ter Intensiva. 2012; 24(4): 407-414.
. Vizcarra C, Clum S. Intraosseous route as alternative access for infusion therapy. J Infus
Nurs. 2010;33(3):162-74. Erratum in J Infus Nurs. 2011; 34(2): 123.
7. Luck RP, Haines C, Mull CC. Intraosseous access. J Emerg Med. 2010; 39(4): 468-75.
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9. Lane JC, Guimarães HP. Acesso venoso pela via intraóssea em urgências médicas. Rev
Bras Ter intensiva. 2008; 20(1): 63-7.
Parte 3 | Capítulo 33
Paracentese
Autora: Laís Siqueira de Magalhães
Coautor: Ivan Kirche Duarte
1. INTRODUÇÃO
Etimologicamente, o sufixo grego “–centese” significa “punção
ou perfuração cirúrgica de alguma membrana ou cavidade”. Desse
modo, o termo “paracentese” ou “abdominocentese” se traduz como
a punção da cavidade abdominal por meio de agulhas, trocartes ou
cânulas, cuja finalidade seja o diagnóstico e/ou a terapêutica da
ascite.
A ascite é o acúmulo patológico de líquido na cavidade
abdominal, uma vez que há, aproximadamente, 50mL de líquido
intraperitoneal em indivíduos hígidos. Ela pode ser causada por
diversas enfermidades: cardíacas (insuficiência cardíaca, pericardite
constritiva, “cor pulmonale”), neoplásicas (câncer metastático,
mesotelioma, linfoma, pseudomixoma peritoneal), hepáticas (cirrose
hepática, hepatite alcoólica, hepatite fulminante, trombose de veias
supra-hepáticas, doença veno-oclusiva, metástases hepáticas
maciças), renais (síndrome nefrótica, doença renal crônica dialítica),
infecciosas (tuberculose, esquistossomose, fúngica, bacteriana),
pancreáticas (pancreatite, pseudocisto), quilosa (obstrução de
linfáticos mesentéricos), biliares (doenças de vias biliares),
imunológicas (lúpus eritematoso sistêmico, angioedema
hereditário), ginecológicas (síndrome de Meigs, endometriose,
síndrome da hiperestimulação ovariana) e outras (mixedema,
gastroenterite eosinofílica, febre familiar do mediterrâneo, doença
de Whipple, hipoalbuminemia).
Sua suspeita se baseia na anamnese e no exame físico, o qual
pode demonstrar sinais semiológicos como:
A) Macicez móvel: principal sinal semiológico, considerado
clinicamente o mais sensível. Em decúbito dorsal horizontal,
obtém-se som timpânico na região mesogástrica (em
decorrência do ar presente nas alças intestinais) e som maciço
nas demais regiões (devido ao acúmulo de líquido nas goteiras
parietocólicas bilateralmente e no fundo de saco posterior),
sinal conhecido como semicírculo de Skoda – a macicez de
flancos à percussão. Realizando a mudança de decúbito, para
lateral esquerda e direita, observa-se a mudança das zonas de
timpanismo e macicez, devido ao escoamento do líquido para
os flancos ipsilaterais.
B) Sinal de piparote: menos sensível, pois requer ascite de
grandes proporções. Consiste na propagação da onda líquida
quando a percussão de um lado do abdome é sentida nas
polpas digitais do outro lado, com o paciente comprimindo sua
linha média abdominal.
Se necessário, a confirmação da ascite pode ser obtida através
da ultrassonografia de abdome, a qual se positiva a partir de 100mL.
A paracentese pode ser dividida em diagnóstica e/ou terapêutica:
A) Diagnóstica: análise do líquido ascítico a fim de determinar
sua etiologia. Deve ser realizada em: casos de início recente de
ascite; pacientes hospitalizados que contenham ascite;
deterioração clínica em pacientes ambulatoriais ou internados
com cirrose (febre, dor abdominal, palpação dolorosa do
abdome, alteração do estado mental, íleo, hipotensão,
insuficiência renal); anormalidades laboratoriais que possam
indicar infecção (leucocitose, acidose, piora da função renal);
encefalopatia hepática; sangramento gastrintestinal.
B) Terapêutica: drenagem de grandes quantidades de líquido
ascítico a fim de proporcionar uma melhora do desconforto
abdominal e torácico (muitas vezes, a ascite pode gerar
dispneia). Deve-se atentar, nos casos de drenagem de volume
superior a 5L, à reposição de albumina intravenosa.
Algumas literaturas dizem que o procedimento é contraindicado
absolutamente em casos de fibrinólise evidente ou coagulação
intravascular disseminada, ao passo que outras afirmam que
coagulopatia não é uma contraindicação, podendo o procedimento
ser realizado com segurança na maioria dos pacientes.
Contraindicações relativas à paracentese às cegas – gravidez,
distensão intestinal grave, bexigoma, extensa cirurgia
abdominal/pélvica anterior – devem contar com o auxílio de
ultrassonografia, diminuindo a incidência de aspirações sem
sucesso e de complicações. Ainda, deve-se evitar a punção em
locais com infecção de pele, com cicatriz cirúrgica, com varizes
abdominais visíveis e com hematomas.
Os riscos da paracentese são sangramento (sendo o hematoma
a complicação mais frequente), perfuração de vísceras, infecção
local ou peritonite, vazamento persistente no local da punção e
hipotensão quando grandes volumes são drenados.
CONCLUSÃO
A paracentese é um procedimento simples que todos os
profissionais médicos devem saber fazer, já que pode determinar
a etiologia da ascite e aliviar os possíveis sintomas causados por
ela. Pode ser feita à beira do leito, inclusive com o auxílio da
ultrassonografia, a qual fornece maior sucesso ao procedimento.
Porém, deve-se ficar atento às complicações que o método pode
gerar. Exames posteriores são solicitados conforme a clínica do
paciente.
REFERÊNCIAS
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2. Martins HS. Emergências Clínicas: Abordagem Prática. 10. ed. Barueri, SP: Manole;
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3. Bickley LS, Szilagyi PG. Bates, propedêutica médica. 11. ed. Rio de Janeiro, RJ:
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4. Mcgibbon A, Chen GI, Peltekian KM, Van Zanten SV. An evidence-based manual for
abdominal paracentesis. Digestive Diseases and Sciences. dez. 2007; 52(12): 3307-
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5. Weniger M, D’haese JG, Angele MK, Kleespies A, Werner J, Hartwig W. Treatment
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American Journal of Surgery. jan. 2016; 211(1): 206-13.
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em Set, 2019 [acesso em 2019 out. 16].
Parte 3 | Capítulo 34
Punção lombar
Autor: João Victor Maretti
Coautor: Rafael Andrade de Azeredo Bastos
Orientador: Prof. Dr. Gilberto Sadala Mendes
1. INTRODUÇÃO
A punção lombar consiste na introdução de uma agulha própria
para esse procedimento no espaço subaracnóideo para drenar
líquido cerebrospinal ou líquor, preferencialmente em topografia
anatômica da coluna vertebral lombar - sendo essa via a mais
comum. Existem outras regiões passíveis desse procedimento,
como a subocciptal (punção da cisterna magna), ventricular e
cervical lateral. Vale ressaltar que essas demais vias constituem
num procedimento neurocirúrgico e deve ser executado apenas pelo
especialista.
Sua execução é comum e tem como possíveis finalidades a
diagnóstica, como em suspeita de meningite, e terapêutica, como
tratamento de hidrocefalia de pressão normal ou pseudotumor
cerebral - ou ainda para administrar anestésicos.
Por constituir num procedimento invasivo, a Academia Brasileira
de Neurologia recomenda a adoção do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido para que o paciente assine, a fim de prestar
maiores esclarecimentos quanto aos riscos do procedimento e
medidas de prevenção.
2. CONTRAINDICAÇÕES
Em relação às contraindicações da punção lombar, podemos
dividi-las em absolutas e relativas. As contraindicações absolutas
consistem: infecção de pele ou partes moles no local da punção e os
já referidos sinais de hipertensão intracraniana; recusa ao
procedimento por parte do paciente ou responsável também
constitui em contraindicação absoluta à realização da punção
lombar (seja diagnóstica, terapêutica ou para fins anestésicos). Já
as relativas constituem: coagulopatias ou trombocitopenia,
abscesso cerebral e neutropenia. Recomenda-se que os níveis de
plaquetas sejam superiores a 50.000/mm³ e INR inferior a 1,5.
Recomenda-se como cuidado prévio principal a realização de
tomografia computadorizada de crânio, a fim de avaliar possibilidade
de hipertensão intracraniana, associado a dados clínicos. O ato da
punção lombar pode promover desbalanço importante entre os
gradientes de pressão, tendo como consequência herniação cerebral
pós-punção - condição fatal. Nesse sentido, a atenção aos sinais
clínicos do paciente deve ser priorizada. Vômitos incoercíveis em
jato, anisocoria, alteração do estado mental, cefaleia de forte
intensidade e edema de papila à fundoscopia de olho podem
hipertensão intracraniana, e nesse caso, o procedimento é
contraindicado. A tomografia, por sua vez, tem alta sensibilidade na
evidência de sinais radiológicos que podem inferir hipertensão
intracraniana, como desvio de linha média, apagamento das
cisternas supraquiasmática e basilar, massa na fossa posterior,
perda da cisterna cerebelar superior e apagamento da cisterna da
placa quadrigeminal. Quanto aos casos em que há infecção de pele
no sítio da punção, há contraindicação de modo a evitar contato de
microrganismos infecciosos com o líquor, o que pode gerar uma
infecção do sistema nervoso central iatrogenicamente.
A realização de uma tomografia computadorizada de crânio está
bem indicado no caso de pacientes com idade superior a 60 anos,
imunodeprimidos, história prévia de convulsão há menos de 1
semana, nível de consciência alterado, sinais focais no exame
neurológico, papiledema ou clínica de hipertensão intracraniana e
enfim, lesões expansivas conhecidas no sistema nervoso central.
Em casos de infecção aguda de instalação inferior a 48 horas e
ausência de sinais neurológicos focais ou papiledema, a coleta de
líquor sem a realização prévia de exame de imagem pode ser
conduzida.
3. ANATOMIA DIRIGIDA
A coluna vertebral no adulto é formada por 33 vértebras,
dispostas em 5 regiões. Na região cervical, dispomos de 7 vértebras;
na torácica, são 12; em região lombar, 5; 5 sacrais e 4 coccígeas.
Vale ressaltar que no adulto as vértebras sacrais e coccígeas se
fundem, formando o osso sacro.
Funcionalmente, a coluna vertebral além de sustentar o peso
corporal e viabilizar locomoção, protege a medula e nervos espinais,
os quais são abrigados no canal vertebral. Para este fim, a coluna é
então interligada por uma série de ligamentos, músculos e meninges
no canal medular. As meninges - dura-máter, aracnóide e pia-máter -
envolvem a medula espinal, sustentando e protegendo tais
estruturas nervosas suspensas em líquor.
Durante o ato da punção lombar, a agulha deve transpassar uma
série de estruturas até alcançar o espaço subaracnóideo para
coletar líquor ou ainda administrar drogas para raquianestesia.
Abaixo, a Figura 1 ilustra com maior clareza a estratigrafia para a
realização de punção lombar. É importante notar que tal
procedimento deve ser realizado a nível de L3-L4 ou L4-L5 para evitar
que a agulha transpasse a medula espinhal, produzindo lesão
nervosa. Isso se deve ao fato de que este nível, no canal medular,
contém apenas cauda equina, em conjunto ao filamento terminal e,
por sua vez, ao adentrar o espaço subaracnóideo, a agulha é capaz
de desviar dessas fibras nervosas. Para localizar estes níveis, basta
que o profissional palpe as cristas ilíacas ântero-superiores e trace
uma linha transversal em direção ao dorso medialmente.
A fim de facilitar o procedimento, o paciente deve ser
adequadamente posicionado, de forma que as lâminas vertebrais e
processos espinhosos sejam afastados; e o ligamento amarelo
distendido. Isso facilita a passagem da agulha pelo trajeto, até sentir
determinada resistência, que significa que o profissional atingiu a
dura-máter. Ao progredir, a resistência desaparece, o que indica a
É
entrada da agulha no espaço subaracnóideo. É importante ressaltar
que para a realização de anestesia epidural, o profissional não
transpassa a dura-máter, ficando restrito ao espaço epidural.
4. MATERIAIS NECESSÁRIOS
Para a realização da punção lombar, são necessários os
seguintes materiais:
• Máscara pessoal
• Avental estéril
• Luva estéril
• Campo estéril
• Gazes
• Pinça Cheron
• Esparadrapo
• Materiais para antissepsia: álcool 70% ou clorexidina ou
iodopolvidina
• Manômetro
• Tubos de coleta
5. TÉCNICA DE COLETA –
CHECKLIST
• Explicar o procedimento ao paciente, esclarecendo a
necessidade e seus riscos. Certificar-se que o paciente
assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
6. CUIDADOS E COMPLICAÇÕES
As complicações decorrentes da punção lombar geralmente são
evitáveis, por isso se faz necessário conhecer os riscos e as
técnicas corretas para que o procedimento atinja seu objetivo sem
causar mor-bimortalidade ao paciente. Dentre as complicações mais
importantes, citamos:
REFERÊNCIAS
1. Ellenby MS, Tegtmeyer K, Lai S, Braner DAV, et al. Lumbar Puncture. New England
Journal of Medicine. 2006; 355(13): e12.
2. Silva CP, Leite FB, Vale TC, et al. Líquido Cefalorraquidiano – Técnicas De Coletas E
Aspectos Diagnósticos. Revista Médica Oficial do Hospital Universitário da UFJF.
2004; 30(2-3): 91-97.
3. Ellenby MS, Tegtmeyer K, Lai S, Braner DAV, et al. Lumbar Puncture. New England
Journal of Medicine. 2006; 355 (13): e12.
4. Shlamovitz GZ. Lumbar Puncture. Medscape [acesso em 2019 nov. 7]. Disponível em:
https://emedicine.medscape.com/article/80773.
5. Flores WL. Manual do Residente de Clínica Médica. 2. ed. Barueri, SP: Manole; 2017.
. Narouze S et al. Interventional Spine and Pain Procedures in Patients on Antiplatelet
and Anticoagulant Medications. Guidelines from the American Society of Regional
Anesthesia and Pain Medicine, the European Society of Regional Anaesthesia and
Pain Therapy, the American Academy of Pain Medicine, the International
Neuromodulation Society, the North American Neuromodulation Society, and the World
Institute of Pain. Reg Anesth Pain Med. 2018; 43: 225-262.
7. Domingues R et al. Lumbar puncture, anticoagulants, antiplatelet drugs. Arq
Neuropsiquiatr. 2016; 74(8): 679-686.
Toracocentese
Autor: Laís Siqueira de Magalhães
Coautor: Ivan Kirche Duarte
1. INTRODUÇÃO
A toracocentese é um procedimento médico que, ao remover
fluidos ou ar do espaço pleural, pode ser diagnóstica ou
terapêutica/de alívio. A palavra advém da junção de tórax com o
sufixo grego -centese, que traduz “punção”.
O espaço pleural reveste internamente a parede torácica, sendo
delimitado pelas pleuras visceral e parietal, membranas lisas e
serosas. Sob circunstâncias normais, o espaço pleural contém
apenas uma pequena quantidade de líquido pleural, o qual é
lubrificante e é responsável por transmitir as forças respiratórias
entre o pulmão e a parede torácica. Todavia, o desequilíbrio entre
acúmulo e absorção de líquido pleural – pressão hidrostática
aumentada, pressão intrapleural negativa aumentada,
permeabilidade capilar aumentada, pressão oncótica plasmática
diminuída, drenagem linfática diminuída ou interrompida – acarreta
o desenvolvimento de derrame pleural.
As causas mais comuns de derrame pleural são insuficiência
cardíaca, pneumonia bacteriana, câncer, embolia pulmonar, doença
viral, cirurgia cardíaca, cirrose com ascite. Outras causas menos
comuns podem ser uremia, mixedema, síndrome nefrótica e
doenças reumato-lógicas. Vale ressaltar que, quando o espaço
pleural sofre uma infecção piogênica ou supurativa, forma-se um
empiema, o qual é classificado em fases: aguda (derrame pleural de
baixa viscosidade e baixa conta-gem celular),
transicional/exsudativa/fibrinopurulenta (elevação de leucócitos no
derrame pleural) e organizada/crônica (crescimento de capilares e
fibroblastos para dentro da borda pleural, cursando com uma
diminuição na expansibilidade pulmonar).
Em relação à clínica apresentada pelo paciente, o derrame pleural
pode ser assintomático; mas, quando extenso, pode provocar
dispneia e dor ou peso torácicos. Ao exame físico, na área onde o
líquido pleural está acumulada, haverá redução do murmúrio
vesicular, diminuição da ausculta da voz e macicez à percussão. À
radiografia de tórax em posi-ção supina, um mínimo de 250 a 500mL
de líquido deve se acumular antes de obliterar o seio costofrênico;
em casos duvidosos, pode-se so-licitá-la em posição de Laurell
(decúbito lateral com raios horizontais), esperando que o líquido
escorra com a mudança do decúbito.
A toracocentese diagnóstica é indicada em pacientes com
derrame pleural sem causa óbvia, podendo fornecer o diagnóstico
ou direcio-nar a investigação diagnóstica. Pode ser auxiliada por
uma ultrassono-grafia, principalmente em derrames pleurais
pequenos e em casos de toracocentese difícil, com a finalidade de
reduzir complicações. Para controle, a radiografia de tórax após a
toracocentese deve ser feita se houver tosse, dispneia, dor torácica,
saída de ar durante a toracocente-se ou redução do frêmito
toracovocal na parte superior do hemitórax aspirado.
Já a toracocentese terapêutica é indicada em pacientes com
grande derrame pleural que esteja causando intenso desconforto ou
dispneia. Pelo risco de edema pulmonar de reexpansão (expansão
pulmonar abrupta que causa ruptura e extravasamento de líquido
plasmático para o interior dos alvéolos pulmonares), a aspiração de
líquido pleu-ral deve ser suspensa quando o paciente apresentar
sintomas como hipotensão, dor torácica ou tosse. Antigamente,
havia uma restrição para remoções acima de 1,5 litro; no entanto,
hoje se sabe que a maio-ria dos pacientes não apresenta problemas
com a remoção de maiores volumes.
Contraindicações ao procedimento de toracocentese incluem pa-
cientes não cooperativos, alteração severa da hemostasia,
instabilida-de hemodinâmica, falência respiratória severa, efusão
pleural pequena e infecção de pele no local da punção.
Contraindicações relativas di-zem a respeito de bolhas no local da
punção e o uso de pressão positi-va expiratória (PEEP).
As complicações do procedimento podem ser: dor, pneumotórax,
respiração encurtada/dispneia, tosse (devido à distensão abrupta
dos alvéolos), reação vasovagal (sudorese, desconforto geral,
lipotimia), edema pulmonar reexpansivo, punção errônea de fígado
ou baço, san-gramento por laceração de vasos intercostais, início de
infecção pleu-ral, enfisema subcutâneo, embolia gasosa e
hematoma subcutâneo. Deve-se interromper o procedimento se o
paciente apresentar quais-quer sinais de instabilidade
cardiovascular.
Vale lembrar que não é necessária a realização da toracocentese
em centro cirúrgico, mas ela preferencialmente deve ser realizada
em um local limpo e reservado para pequenos procedimentos.
CONCLUSÃO
A toracocentese é um exame realizado em derrames pleurais de
etiologia desconhecida. Após o procedimento, deve-se classificar o
derrame pleural em transudato ou exsudato, sendo a insuficiência
cardíaca, a cirrose e a síndrome nefrótica as causas de transudato
mais comuns, e as de exsudato, infecção e neoplasia.
REFERÊNCIAS
1. Townsend CD. Sabiston: Tratado de Cirurgia, A Base da Prática Cirúrgica Moderna. 18.
ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2010.
2. Martins HS. Emergências Clínicas: Abordagem Prática. 10. ed. Barueri, SP: Manole;
2015.
3. Goffi FS. Técnica cirúrgica: bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia.
4. ed. São Paulo, SP: Atheneu; 2007.
4. Kalifatidis A, Lazaridis G, Baka S, Mpoukovinas I, Karavasilis V, Kioumis I, et al.
Thoracocentesis: from bench to bed. Journal of Thoracic Disease. fev. 2015; 7(1): S1-
4.
5. Sales R, Onishi R. Toracocentese e biópsia pleural. Jornal Brasileiro de Pneumologia,
São Paulo, ago. 2006; 32 (4): S170-S173.
. Heffner JE, Maldonado F, Finlay G. Diagnostic evaluation of a pleural effusion in adults:
Initial testing. Atual. em set. 2019 [acesso em 2019 out. 20].
7. Huggins JT, Broaddus VC, Finlay G. Large volume (therapeutic) thoracentesis:
Procedure and complications. Atual. em set. 2019 [acesso em 2019 out. 20].
Parte 3 | Capítulo 36
Drenagem torácica
Autoras: Larissa Miranda Rocha e Dra. Jackeline Ribeiro Oliveira
Guidoux
1. Introdução
Os pulmões são envolvidos por duas membranas contínuas, a
pleura visceral e a pleura parietal. O espaço entre as duas
membranas forma a cavidade pleural, que em condições normais
contém uma fina película de líquido que permite o deslizamento
suave de uma camada pleural sobre a outra durante a respiração.
Além disso, também mantém a tensão superficial que garante a
insuflação dos pulmões. Em situações patológicas, o espaço pode
ser ocupado por material anormal, comprometendo a mecânica
pulmonar e exigindo tratamento imediato de esvaziamento.
Drenagem pleural é um procedimento médico largamente utilizado
com finalidade terapêutica ou diagnóstica. Trata-se da introdução de
um dreno tubular no espaço pleural para remoção de material
líquido ou gasoso.4, 5
2. Indicações
Há dois métodos de drenagem pleural: aberto e fechado. A
drenagem aberta, ou pleurostomia, é um método mais complexo,
que exige anestesia geral e é realizada pelo cirurgião torácico. É
indicada apenas no tratamento de infecções crônicas. Essas
infecções são chamadas empiema crônico e ocorrem quando já há
fixação do pulmão pelo espessamento da pleura.
O segundo método é largamente utilizado na prática médica e
possui diversas indicações. É considerado relativamente simples,
mas requer cuidados especiais para evitar complicações.
Procedimento comum no pronto-socorro, nas unidades de
tratamento intensivo e nos hospitais gerais.1, 2, 4
As indicações mais comuns são:
• Drenagem de líquido:
• Derrame seroso
• Hemotórax
• Empiema
• Quilotórax
• Drenagem de ar:
• Pneumotórax
3. Contraindicações
Sua principal contraindicação relativa é a discrasia sanguínea, a
qual, quando possível, deve ser corrigida previamente ao
procedimento.1
4. Procedimento
O primeiro passo deve ser explicar todo o procedimento ao
paciente; trata-se de uma técnica realizada à beira do leito e que
pode necessitar da cooperação do paciente na sua realização. Em
crianças, exige sedação e realização em centro cirúrgico.1
5. Preparo cirúrgico
É necessário preparo cirúrgico com gorro, capote, luvas, máscara
e óculos. Fazer antissepsia ampla e rigorosa no hemitórax a ser
drenado. Colocação de compressas ou campo fenestrado no
hemitórax do local a ser drenado.4
6. Anestesia
Procedimento que gera muita dor, sendo necessário anestesia
local de pele e periósteo. Primeiro anestesia-se a pele; em seguida,
se introduz a agulha até a 6ª costela, sempre aspirando e injetando.
Ao tocar a costela, inclinar a agulha no sentido cranial, para injetar
anestésico na borda superior da costela.1
7. Posição do paciente
Em decúbito dorsal, com a mão atrás da cabeça, para abrir
espaço intercostal e facilitar procedimento.1
8. Local da incisão
A escolha do local a ser drenado exige atenção especial. Sua
localização pode tornar procedimento mais fácil, mais complicado,
gerar mais dor ou até provocar complicações relacionadas a danos
em estruturas nobres. Vai depender da indicação e também da
experiência do cirurgião. No tratamento de pneumotórax e
hemotórax, o local mais utilizado para introdução do dreno é entre a
linha axilar média e a anterior, ao nível do 5° espaço intercostal na
borda superior da costela inferior do espaço. Maneira rápida para
encontrar 5° espaço: projetar o mamilo do homem ou sulco
inframamário da mulher. Por vezes, vai ser possível uso de exame de
imagem para realização do procedimento, o que facilita sua correta
localização. Em situações de emergência, entretanto, isso não é
possível. Importante realizar exame físico pré-drenagem e confirmar
hemitórax com alteração – direito ou esquerdo. No pneumotórax,
lado comprometido terá alteração de percussão com som
timpânico.4
9. Incisão
Outro cuidado importante trata-se do tamanho da incisão, que vai
depender do diâmetro do dreno. Dreno deve passar mais ou menos
justo com as bordas da incisão. A abertura não deve ser maior que o
necessário e geralmente é em torno de 1 a 1,5 cm. Uma incisão
maior pode favorecer entrada de ar e ocorrência de pneumotórax,
configurando uma das complicações possíveis. É feita uma
toracotomia na pele e, com pinça do tipo Kelly, promove-se a
dissecção da musculatura até que seja atingida a cavidade pleural.
No caso de dreno rígido, introduz-se em sentido posterior e cranial.
O dreno é fixado à pele com fio de sutura resistente e conectado ao
sistema de selo de água. O diâmetro do dreno varia de acordo com o
tamanho do paciente e o tipo de líquido encontrado. Normalmente o
número escolhido é French 32, mas tamanhos menores também
podem ser indicados, como o número 28 para casos de
pneumotórax.1, 3, 4
11. Complicações
Há diversas possíveis complicações do procedimento, que
podem levar ao aumento da morbidade e tempo de internação. As
complicações mais comuns são: (1) dreno localizado fora da
cavidade pleural, como no subcutâneo ou musculatura; (2) lesões no
pulmão, no fígado e no baço; (3) e hemorragia importante devido a
lesões dos vasos intercostais. Ainda pode ocorrer persistência do
pneumotórax, que pode ser por conta da entrada de ar na cavidade
pleural pela abertura da pele ou pela má fixação do dreno. É
necessário devida atenção ao frasco coletor. O recipiente cheio
dificulta a drenagem e pode causar retenção de líquidos. Se surgir
dificuldade respiratória, o tórax deve ser radiografado
imediatamente.3
Conclusão
Mesmo sendo considerado um procedimento simples, a
drenagem pleural constitui um método que exige uma série de
cuidados especiais, necessários para sua ocorrência em segurança
e alcance do seu objetivo, que pode ser de diagnóstico ou
tratamento. Por vezes vai ser indicada para pacientes instáveis,
debilitados ou em pós-operatório, o que pode tornar suas
complicações ainda mais sérias. Assim, é indispensável o
conhecimento da sua técnica correta e clínica envolvida.
Referências
1. Amato ACM. Procedimentos médicos: técnica e tática. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora
Roca; 2016.
2. Goffi FS. Técnica cirúrgica: Bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia.
4. ed. São Paulo: Editora Atheneu; 2007.
3. Marques RG. Técnica operatória e cirurgia experimental. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2005.
4. Monteiro ELC, Santana EM. Técnica Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2006.
5. Moore KL, Dalle AF, Argur AMR. Anatomia orientada para clínica. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2011.
Parte 3 | Capítulo 37
Pericardiocentese
Autor: Gabriel Bernardo Rena
Cuautora: Mariane de Castro Michielin
Orientador: Dr. Roberto Salvador Martins
1. INTRODUÇÃO
A pericardiocentese é um procedimento invasivo realizado com a
finalidade de remoção do líquido pericárdico do saco pericárdico. É
frequentemente utilizado para o ajuste do tamponamento cardíaco,
com a correção da hipotensão devido à diminuição do volume
sistólico, que é causado pela compressão extrínseca das câmaras
cardíacas.
Esse procedimento pode ser realizado às cegas ou com a ajuda
de exames de imagem em tempo real, como a ecocardiografia
transtorácica (ETT) ou fluoroscopia, para reduzir o risco de
complicações processuais. O procedimento pode ser realizado à
beira do leito ou no laboratório de cateterismo cardíaco. No entanto,
a decisão sobre onde executar e quais exames utilizar é baseada na
estabilidade do paciente, no conforto do operador e na
disponibilidade de adjuvantes de imagem.
2. SITUAÇÃO NA EMERGÊNCIA
Atualmente, a pericardiocentese é a primeira opção de
tratamento para pacientes com tamponamento cardíaco. Neste
tópico vamos abordar mais especificamente essa patologia, para
podermos compreender melhor a realização do procedimento.
• O que é o tamponamento cardíaco?
O tamponamento cardíaco é uma emergência médica que
consiste na compressão cardíaca devido à presença de líquido no
espaço pericárdico, dificultando a contratilidade cardíaca. Ele pode
resultar em choque cardiogênico; portanto, é uma patologia de alta
mortalidade, cabendo a nós identificar e intervir rapidamente.
Figura 1: Acúmulo de líquido no espaço pericárdico
Fonte: Leonard J. 1
• Pericardite
• Uremia
3. INDICAÇÕES
A pericardiocentese é realizada em pacientes como
procedimento terapêutico ou diagnóstico. Em casos de derrames
pericárdicos agudos ou crônicos sem evidência de tamponamento
cardíaco e outras situações não emergentes, o procedimento é
indicado para diagnóstico da etiologia subjacente ao derrame.
Nesse caso, obtemos líquido pericárdico para análise laboratorial,
para alívio de sintomas como dispneia ou edema ou para impedir a
progressão do derrame para uma situação emergente.
Como visto anteriormente, a principal indicação da
pericardiocentese é o tamponamento cardíaco manifesto,
representando cerca de 80% a 90% dos procedimentos. Para
entendermos com maior clareza as demais indicações da
pericardiocentese, é fundamental compreendermos primeiro as
classes de recomendações existentes.
A classe I é aquela na qual há evidências científicas suficientes e
conclusivas que provam que o procedimento é útil. Por sua vez, a
classe II A é onde a maioria das evidências é a favor da utilização do
procedimento. Já na classe II B, não encontramos um predomínio de
evidências a favor da realização do processo, porém mesmo assim
há indicação relativa.
Assim sendo, dividiremos as indicações de acordo com as
classes:
• Classe I
• Tamponamento cardíaco;
• Dderrame pericárdico com separação diastólica > 20 mm
entre epicárdio e pericárdio no exame de ecocardiografia;
• Classe II A
4. CONTRAINDICAÇÕES
Não existem contraindicações absolutas à pericardiocentese
quando ocorre tamponamento cardíaco e choque cardiogênico. Isso
se deve ao fato de que mesmo a retirada de uma pequena
quantidade de líquido em um paciente muito instável pode gerar
melhora imediata na hemodinâmica. Com exceção da dissecção de
aorta e da ruptura pós-infarto da parede livre, que são
contraindicações à pericardiocentese por agulha e indicações para
drenagem cirúrgica com urgência.
As contraindicações relativas incluem:
5. REALIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO
Atualmente, existem algumas poucas maneiras convencionais de
se retirar o excesso de líquido pericárdico, sendo a
pericardiocentese percutânea de longe a técnica mais direta e
virtualmente mais rápida. Essa técnica é considerada muito segura
se o paciente não possuir contraindicações para um procedimento
percutâneo, e se o operador for experiente.
Para a realização dessa técnica, precisamos primeiramente
solicitar alguns exames laboratoriais: contagem de plaquetas e INR,
uma vez que a plaquetopenia < 50.000/mm^3 e INR > 1,5 são
contraindicações relativas à pericardiocentese, como vimos no
tópico anterior.
Nos últimos anos, o acesso ao saco pericárdico tornou-se muito
mais seguro devido ao uso sistemático de exames de imagem para
orientar o procedimento. É obrigatório obtermos uma boa
interpretação da extensão e da localização do derrame antes do
início do procedimento, embora as punções pericárdicas de
emergência muitas vezes não podem ser adiadas.
A imagem também identifica outros fatores que influenciam na
realização e na localização da punção, como massas ou aderências
intrapericárdicas. Na maior parte das vezes, a ecocardiografia de
rotina é a ferramenta mais rápida e acessível para visualizar o
derrame pericárdico, seguida de fluoroscopia que nos ajuda a
orientar a posição e a trajetória da agulha durante procedimento.
5.1. Preparação
O procedimento deve ser realizado na sala de cirurgia ou na UTI,
onde o paciente pode ser monitorado continuamente. O local deve
possuir uma máquina de ecocardiografia, bem como são
necessárias cortinas estéreis, seringas, agulhas, anestésico local,
bisturi e um kit de pericardiocentese.
O paciente deve ser colocado em decúbito dorsal com a
cabeceira levemente elevada (30º à 45º). Além disso, necessita de
acesso endovenoso, suplementação de oxigênio e monitorização
cardíaca. Caso o tempo permita, é recomendada a passagem de
sonda nasogástrica para descompressão do estômago, com o
intuito de prevenir uma perfuração gástrica.
5.2. Técnica
• 1º passo: Realizar a antissepsia do local que será
posteriormente puncionado com clorexidina. As regiões
anatômicas de preferência são a via subxifoide ou a região do
tórax anterior. Devemos preparar a área e cobri-la de maneira
estéril.
Fonte: Nickson C. 3
6. POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES
A pericardiocentese é um procedimento invasivo que traz
consigo potenciais riscos. Embora nos dias de hoje, com a presença
da pericardiocentese guiada por ecocardiografia, as taxas de
complicações sejam baixas, ainda é considerado um procedimento
de alto risco quando realizado por profissionais não experientes.
As principais complicações são:
• Pneumopericárdio;
• Pneumotórax;
• Arritmias;
• Reação vasovagal;
• Lesão da artéria mamária interna;
• Pericardite purulenta;
• Edema pulmonar agudo ou dilatação de ventrículo direito
por alívio muito rápido do derrame;
CONCLUSÃO
Com base em tudo o que foi abordado neste capítulo, podemos
concluir que a pericardiocentese é um procedimento de escolha em
certas situações de emergências com risco à vida, como o
tamponamento cardíaco.
Trata-se de um procedimento invasivo e com possíveis
complicações graves, portanto, sua realização deve ser reservada a
profissionais com maior experiência e capacitação para efetivação
da técnica correta. Dessa forma, conseguimos minimizar os riscos
de potenciais consequências que podem não somente piorar o
quadro do paciente, como levar ao óbito.
REFERÊNCIAS
1. Ariyarajah V, Spodick DH. Cardiac Tamponade Revisited: a Postmortem Look at a
Cautionary Case. Tex Heart Inst J, 2007.
2. Barra LD, Guimarães LA, Gomes MBV, Hanashiro M, Kilimnik LM, Lodi LD, et al.
Tamponamento Cardíaco Agudo: Uma Breve Revisão. Revista Médica de Minas
Gerais, 2008. 18(3 Supl 4): S37-S40
3. Bastian A, MeinBner A, Lins M, Siegel EG, Moller F, Simon R. Pericardiocentesis:
Differential Aspects of a Common Procedure. Intensive Care Med, 2000. 26: 572-576.
4. Bilchick KC, Wise RA. Paradoxical physical findings described by Kussmaul: pulsus
paradoxus and Kussmaul’s sign. Lancet. 2002 Jun 1;359(9321):1940-2.
5. Fenili R, Alcacer JA, Cardona MC. Traumatismo Torácico: Uma Breve Revisão. Arq.
Catarin Med, 2002; 31.
. Karatolios K, Maischi B. Die Perikardpunktion. Dtsch med Wochenschr, 2007. 132(33):
1707-1710
7. Maggiolini S, De Carlini CC, Imazio M. Evolution of the pericardiocentesis technique. J
Cardiovasc Med (Hagerstown). 2018 Jun;19(6):267-273.
. Meredith, JW; Hoth, JJ. (2007). Thoracic Trauma: When and How to Intervene. Surg
Clin N Am, 2007.
9. Sinnaeve PR, Adriaenssens T. A contemporary look at pericardiocentesis. Trends
Cardiovasc Med. 2019 Oct;29(7):375-383.
Intubação orotraqueal
Autora: Tamires Guimarães Cavalcante Carlos de Carvalho
Cuautora: Dra. Alessandra Muoio
2. Introdução
A intubação endotraqueal é subdividida em orotraqueal e
nasotraqueal.
A intubação nasotraqueal às cegas, procedimento menos
empregado na prática, requer um paciente alerta e colaborativo. A
técnica a ser aplicada nesse procedimento acompanha o fluxo de ar.
É
É mais frequentemente utilizado para induzir a anestesia em
cirurgias na região da cabeça e do pescoço.
Neste capítulo abordaremos a intubação orotraqueal por ser mais
comumente utilizada na medicina de emergência.
A intubação orotraqueal é classificada como uma via aérea
artificial definitiva e cumpre papel importante na prática médica.
Considerações anatômicas
A laringoscopia ideal depende de uma orientação espacial em
relação às estruturas anatômicas do paciente.
Figura 1: Via aérea superior
Fonte: Kovacs.4
3.1. Indicações
• Apneia
• Trauma cranioencefálico
• Glasgow < 8
3.2. Equipamento
• Bolsa e máscara de ventilação
• Fixador de tubo
• Estetoscópio
• Fonte de oxigênio
• Aspirador, cateteres de aspiração
• Conjunto de laringoscópio
• Tubos orotraqueais (dispor sempre de tubos com números
maiores e menores do que o esperado)
• Estilete-guia
• Seringa de 10ml
• Lidocaína
• Midazolam
• Fentanil
• Bloqueador neuromuscular
• Cardioversor
• Oxímetro
3.3. Técnica
7Ps:
1. Preparação: checar materiais
2. Pré-oxigenação: após avaliar saturação
3. Pré-tratamento: pelo menos 3 minutos antes da intubação
4. Paralisia e indução: com sedativos e bloqueadores
neuromusculares
5. Proteção e posição
6. Passar o tubo
7. Pós-tubo: checar posicionamento
Figura 4: Posicionamento do paciente.
• Posicionamento do paciente.
• Posicionar se possível o paciente em decúbito dorsal.
• Posicionar-se atrás da cabeça da vítima.
• Solicitar a auxiliar que estabilize a cabeça e pescoço do
paciente nos casos com suspeita de trauma cervical.
Figura 5: Demonstração dos eixos oral, faríngeo e traqueal e seus
alinhamentos em um posicionamento adequado.
• Não invasiva
• Obter se possível acesso venoso periférico antes do
procedimento. Sedar o paciente com midazolam 5 a 15mg por
via intravenosa associado se necessário a fentanil na dose de
50 a 150 μg
Avaliar necessidade de bloqueador neuromuscular de ação
rápida.
Testar o equipamento a ser utilizado.
Figura 8: Pré-oxigenação com ambu.
Fonte: Protocolos das unidades de pronto atendimento 24 horas.
3.3.2. Laringoscopia
O propósito da laringoscopia é facilitar a intubação orotraqueal
sob visão direta.
Realizar a laringoscopia de forma tranquila, de preferência na
posição do farejador, deslocando a lâmina do laringoscópio em
direção caudal com relação ao paciente (seta). Evitar o movimento
de báscula com a lâmina, pois há o risco de trauma em dentes
incisivos superiores.
Figura 10: Introdução da lâmina do laringoscópio
3.3.4. Lembretes
Observar que a luz da lâmpada do laringoscópio deve estar de cor
branca, a luz amarela indica bateria fraca.
Ao introduzir o laringoscópio, escolher a lâmina com as
dimensões adequadas ao paciente. Lembrar que é possível utilizar
uma lâmina grande para intubar um paciente pequeno, mas o inverso
não é verdadeiro.
A manobra não deve durar mais do que trinta segundos.
Ventilar o paciente por trinta segundos antes da próxima tentativa
no caso de insucesso.
• Escore de Mallampati
É baseado no quanto pode ser visualizado ao externalizar a língua
do paciente.
Fonte: ATLS.5
• Escore POGO
É utilizado para descrever a abertura glótica a ser visualizada na
laringoscopia.
Fonte: Kovacs.4
• Método LEMON
O método mnemônico LEMON pode auxiliar na avaliação de uma
potencial via aérea difícil. Vários componentes do LEMON são úteis
no doente traumatizado.
Fonte: ATLS.5
• Broncoaspiração (vômitos)
• Intubação esofágica
• Luxação da mandíbula
Referências
1. Kirstein A. Autoskopie des larynx und der trachea. Berlin Klinische Wochenschrift 1895;
32: 476-8.
2. Dunn PF, Goulet RL. Endotracheal tubes and airway appliances. Intern Anesth Clin.
2000; 38: 65-94.
3. [...]
4. Kovacs G, Law JA. Airway Interventions and Management in Emergencies: The infinity
Edition. A Free Open Access Living Textbook.
5. Comitê de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões. Advanced Trauma Life Suport
(ATLS). 9. ed. 2014.
. Matsumoto T, Carvalho WB. Intubação orotraqueal. Jornal de Pediatria, 2007; 83(2).
7. Protocolos de procedimentos das unidades de pronto atendimento 24 horas, Fernando
Suarez Alvarez et al, 2010
. J Pediatr (Rio J). 2007;83(2 Supl):S83-90, Toshio Matsumoto, Werther Brunow de
Carvalho
Parte 3 | Capítulo 39
Cricotireoidostomia
Autor: Victor Costa Monteiro
Orientador: Dr. Gustavo Nader Guidoux
1. INTRODUÇÃO
A cricotireoidostomia é um procedimento cirúrgico usado para
ventilar o paciente em situações de emergência. Consiste em uma
incisão feita através da pele e da membrana cricotireóidea até que a
via aérea esteja pérvia. O orifício comunica a luz traqueal ao meio
externo, permitindo a ventilação. Essa técnica deve ser empregada
apenas temporariamente, devendo ser substituída pela
traqueostomia convencional assim que possível.
É um procedimento responsável por salvar inúmeras vidas, sendo
que seu sucesso está ligado diretamente à técnica cirúrgica correta,
à disponibilidade do material necessário, à indicação adequada e
aos cuidados para que se minimizem as possíveis complicações.
2. BASES ANATÔMICAS
O pescoço contém inúmeras estruturas vitais localizadas dentro
de um pequeno espaço. Para se evitar acidentes e fazer um
procedimento adequado é necessário conhecer bem a anatomia
cervical. Algumas estruturas, em especial, merecem destaque
quando se trata de um procedimento de cricotireoidostomia, sendo
que o conhecimento delas é essencial para uma boa técnica. As
estruturas são: cartilagem tireóidea, cartilagem cricoide, membrana
cricotireóidea, artéria e veia cricotireóidea.
A membrana cricotireóidea, um dos componentes da anatomia
cervical interna, está entre a cartilagem tireóidea e a cartilagem
cricoide. A artéria e veia cricotireóidea estão na margem superior da
membrana cricotireóidea e podem sofrer lesões durante a
cricotireoidostomia. Por isso é importante conhecer as principais
estruturas anatômicas do pescoço.
Figura 1: Anatomia cervical interna demonstrando a membrana
cricotireóidea entre a tireóide e a cartilagem cricóidea.
3. INDICAÇÕES
A cricotireoidostomia, como já citado, tem boa indicação em
situações de emergência. As principais indicações são: quando o
paciente não estiver intubado, quando não for possível a realização
de intubação orotraqueal ou nasotraqueal e quando não se dispuser
de instrumental e material necessário para intubação.
Outras indicações são: obstrução de via aérea próxima à
subglote, trauma oral ou maxilofacial, trauma de coluna cervical,
hemorragia oral profusa, êmese copiosa e algumas anormalidades
anatômicas.
4. CONTRAINDICAÇÕES
As contraindicações incluem: incapacidade de identificação dos
marcos de superfície no pescoço; obstrução de vias aéreas
distalmente à subglote, estenose traqueal ou transecção; câncer de
laringe, visto que a cricotireoidostomia pode espalhar as células
cancerígenas para os tecidos do pescoço e coagulopatias, exceto
em casos extremamente necessários.
Outras contraindicações relativas incluem cirurgia traqueal
possível ou conhecida, laringe fraturada, ruptura laringotraqueal e
crianças. Pacientes com doença laríngea aguda podem ter uma taxa
mais alta de estenose subglótica, tornando a cricotireoidostomia
eletiva relativamente contraindicada. Ela também é uma
contraindicação relativa em crianças com menos de 5 anos devido
ao formato do funil das vias aéreas pediátricas e a um risco
aumentado de estenose subglótica.
5. PRÉ-OPERATÓRIO
6. MATERIAIS UTILIZADOS
7. TÉCNICA CIRÚRGICA
I – Posicione o paciente em decúbito dorsal com hiperextensão
do pescoço e elevação do tronco, expondo a traqueia anterior.
II – Faça antissepsia da região cervical anterior.
III – Faça anestesia local com lidocaína a 1% caso o paciente
esteja consciente.
IV – Palpe a cartilagem tireóidea (primeira proeminência de cima
para baixo), a cartilagem cricoide (segunda proeminência após a
cartilagem tireóidea) e a membrana cricotireóidea que se localiza
entre a cartilagem tireóidea e cricoide.
Figura 3: Topografia do pescoço demonstrando os principais pontos
de referência usados para a realização de uma cricotireoidostomia.
8. COMPLICAÇÕES
A cricotireoidostomia de emergência é um passo dado para
salvar a vida do paciente. Portanto, é um procedimento onde os
benefícios superam os riscos. No entanto, não é um procedimento
livre de complicações. Dentre as principais, temos: hemorragias;
lacerações da cartilagem traqueal, tireóidea ou cricóidea; perfuração
da traqueia e a criação de um trato falso (passagem do tubo em um
espaço que não seja a traqueia).
Das complicações a longo prazo, as principais são estenose
subglótica e alterações vocais.
CONCLUSÃO
Em resumo, a cricotireoidostomia é um procedimento
extremamente importante, principalmente na emergência. Conhecer
a técnica adequada e saber realizar o procedimento pode ser o
diferencial na vida do paciente. Quando bem indicada a
cricotireoidostomia salva vidas. Conhecer as bases anatômicas é
crucial para uma boa técnica e para que se evite iatrogenias. No
entanto, o procedimento não está livre de complicações; é
necessário conhecê-las e saber identificá-las. A cricotireoidostomia
deve ser contraindicada quando necessário. Em suma, após a
realização de uma cricotireoidostomia é importante encaminhar o
paciente para uma posterior traqueostomia convencional.
REFERÊNCIAS
1. Mckenna P, Morley EI. Cricothyrotomy (Cricothyroidotomy). In: StatPearls [Internet].
StatPearls Publishing; 2019.
2. Monteiro ELC, et al. Técnica Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006.
3. Debkowska MP, Butterworth JF, Moore JE, Kang S, Appelbaum EN, Zuelzer WA. Acute
post-operative airway complications following anterior cervical spine surgery and the
role for cricothyrotomy. J Spine Surg. 2019 Mar.; 5(1): 142–154. doi:
10.21037/jss.2019.03.01 [acesso em 2020 jan. 30].
4. Debkowska MP, Butterworth JF, Moore JE, Kang S, Appelbaum EN, Zuelzer WA. Acute
post-operative airway complications following anterior cervical spine surgery and the
role for cricothyrotomy. J Spine Surg. 2019 Mar.; 5(1): 142–154. doi:
10.21037/jss.2019.03.01 [acesso em 2020 jan. 30].
5. Debkowska MP, Butterworth JF, Moore JE, Kang S, Appelbaum EN, Zuelzer WA. Acute
post-operative airway complications following anterior cervical spine surgery and the
role for cricothyrotomy. J Spine Surg. 2019 Mar.; 5(1): 142–154. doi:
10.21037/jss.2019.03.01 [acesso em 2020 jan. 30].
. Debkowska MP, Butterworth JF, Moore JE, Kang S, Appelbaum EN, Zuelzer WA. Acute
post-operative airway complications following anterior cervical spine surgery and the
role for cricothyrotomy. J Spine Surg. 2019 Mar.; 5(1): 142–154. doi:
10.21037/jss.2019.03.01 [acesso em 2020 jan. 30].
Parte 3 | Capítulo 40
Traqueostomia
Autoras: Larissa Miranda Rocha e Dra.Jackeline Ribeiro Oliveira
Guidoux
1. Introdução
A traqueia faz parte do trajeto para a condução do ar do meio
ambiente até os pulmões, compõe a via aérea inferior juntamente
com brônquios, bronquíolos e alvéolos. É um tubo fibrocartilaginoso,
tem aproximadamente 12 cm de comprimento no adulto e se
estende da cartilagem cricoide até a carina, onde se divide nos dois
brônquios principais. É composta por 18 a 22 anéis cartilaginosos
incompletos, em formato de ferradura, letra “C”, que sustentam sua
porção anterior. Enquanto sua porção posterior é constituída por
uma membrana fibromuscular. A mucosa é formada por epitélio
respiratório ciliar, importante para evitar que partículas,
microrganismos e outras substâncias cheguem aos pulmões. Além
disso, tem capacidade para umidificar e aquecer o ar.
A traqueostomia é um procedimento cirúrgico que tem o objetivo
de estabelecer uma comunicação da traqueia com o meio exterior
por meio da criação de uma abertura na região anterior do pescoço,
facilitando ou permitindo a ventilação do paciente. É considerado
um procedimento simples, mas extremamente importante e
responsável pelo salvamento de incontáveis vidas.
Fonte: Netter.1
1.3. Contraindicações
Não há contraindicações absolutas. Algumas situações podem
dificultar o processo ou configurar-se como contraindicação relativa
dependendo do caso. São exemplos: Pescoço curto, bócios, massas
pulsáteis ou neoplasias na região da traqueostomia, infecções e
impossibilidade de estender a coluna cervical.
1.9. Pós-operatório
O pós-operatório de uma traqueostomia é geralmente
acompanhado de pouca morbidade. Para isso, alguns cuidados
devem ser tomados. A monitorização após o procedimento é
extremamente importante, isso porque algumas de suas
complicações podem aparecer nas primeiras horas após a cirurgia.
Outras podem aparecer mais tardiamente. A ferida deve ser avaliada
e o curativo deve ser feito com gaze estéril e sendo trocado sempre
que necessário. A cânula deve ser trocada com periodicidade de
sete a dez dias. Atenção especial para a fixação da cânula, para
evitar saída inadvertida. A aspiração de secreções na traqueia pode
ser necessária, sua realização exige rigorosa sepsia e atenção para
evitar lesões. A retirada da cânula deve ocorrer quando o paciente já
for capaz de respirar normalmente por via fisiológica, quando a
traqueostomia não for mais necessária. A cânula deve ser retirada e
um curativo simples deve ser feito, que cicatrizará por segunda
intenção.
1.10. Complicações
A literatura descreve complicações da traqueostomia, desde
intra-operatórias até pós-operatórias ou tardias. O preparo pré-
cirúrgico e os cuidados pós-operatórios diminuem os riscos. As
principais complicações são hemorragia, enfisema subcutâneo e/ou
mediastinal, infecção, saída inadvertida da cânula, obstrução da
cânula, fístula traqueoesofágica e a estenose de traqueia. O
sangramento é pouco comum e geralmente fácil de ser controlado e
ocorre habitualmente nas primeiras horas após a cirurgia. Quando
presente, pode ser devido algum distúrbio de coagulação ou crise
hipertensiva. A infecção é sempre uma potencial complicação para
qualquer procedimento cirúrgico. Cuidados com a correta assepsia
e antissepsia, curativos frequentes e, em alguns casos, a
antibioticoterapia, contribuem para a não ocorrência de infecções. O
enfisema subcutâneo pode gerar grande desconforto e
preocupação. Ocorre mais frequentemente pelo fechamento
completo da ferida cirúrgica, o ar não encontrando saída para a
atmosfera, infiltra-se no interstício da tela subcutânea. Um sinal de
alerta para essa situação pode ser a crepitação à palpação. O
tratamento para o enfisema subcutâneo é conservador e ocorre com
a retirada dos pontos. A saída inadvertida da cânula é uma das
complicações mais sérias e que pode ser letal. A recolocação da
cânula pode ser extremamente trabalhosa, necessitando de
cirurgião experiente e instrumental adequado.
Conclusão
Trata-se de um procedimento importantíssimo, tendo seus
primeiros registros já na era antes de Cristo. Hoje, tem diversas
indicações, que vão desde situações de urgência até cuidados
preventivos complementares a outros procedimentos que possam
causar dificuldade respiratória. Apesar de ser um procedimento com
enorme benefício, deve ser realizado respeitando os cuidados com
ambiente e material necessário. Suas complicações, embora não
frequentes, podem levar a óbito. É importante destacar que a
traqueostomia de emergência, quando o paciente está prestes a ter
uma parada cardiorrespiratória, é pouco realizada e recomendada.
Deve ocorrer apenas em situações excepcionais e com cirurgião
preparado. Para as situações de emergência, é recomendada a
intubação orotraqueal ou nasotraqueal, ou ainda a
cricotireoidostomia. Sendo procedimentos mais rápidos e que
garantiram maior segurança nesse contexto em que as condutas
devem ser feitas em minutos. Assim, percebe-se que a realização da
traqueostomia, tanto eletivo como de urgência ou emergência, exige
conhecimento da técnica, e também dos parâmetros para sua
realização.
Referências
1. Netter FH. Atlas de anatomia humana. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
2. Goffi F S. Técnica cirúrgica: Bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia.
4. ed. São Paulo: Atheneu; 2007.
3. Marques RG. Técnica operatória e cirurgia experimental. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2005.
4. Monteiro ELC, Santana EM. Técnica Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2006.
5. Ricz HMA, Mello Filho FV, Freitas LCC, Mamede RCM. Traqueostomia. Medicina, Ribeirão
Preto, 2011; 44(1): 63-69.
Parte 3 | Capítulo 41
1. INTRODUÇÃO
A sondagem do trato gastrointestinal, seja ela nasoenteral ou nasogástrica, é definida
como o ato de introduzir de uma sonda apropriada (Levine ou Dobbhoff) pela cavidade
nasal até o trato digestivo. É um procedimento que, como qualquer outro, tem suas
indicações, contraindicações e complicações, já abordadas no capítulo “Cuidados com
drenos e sondas”.
2. MATERIAIS NECESSÁRIOS
Para a sondagem do trato digestivo, os seguintes materiais são necessários:
• Xilocaína gel
• Seringa de 10 ou 20 mL
• Soro fisiológico 10 a 20 mL
• Esparadrapo
• Estetoscópio
3. TÉCNICA DE SONDAGEM
NASOGÁSTRICA E NASOENTERAL
• Inicialmente, explicar o procedimento ao paciente e realizá-lo conforme seu
consentimento. Após o consentimento inicial, separar materiais e iniciar
paramentação.
• Verificar o uso de próteses dentárias pelo paciente. Solicitar para que retire, caso
estas estejam presentes.
• Fixar o dispositivo na região nasal com esparadrapo, de forma a evitar que o tubo
dobre.
REFERÊNCIAS
1. Thomsen TW, Shaffer RW, Setnik GD. Videos in clinical medicine. Nasogastric intubation. N Engl J Med 2006;
354(17): e16.
2. Matsuba C. Acessos para Nutrição Parenteral e Enteral. In Baract EC, Bernardo WM. Programa de atualização
baseado em diretrizes da AMB (Prodiretrizes). Porto Alegre, RS: Artmed; 2013. v. 2, cap.3.
Parte 3 | Capítulo 42
1. Introdução
O cateterismo vesical é um procedimento invasivo, realizado por agentes de saúde em
âmbito hospitalar buscando avaliar o débito urinário, aliviar obstruções que impeçam a
drenagem da urina pela bexiga. Os pacientes acamados, comatosos, que foram submetidos
a anestesia e até mesmo que necessitam de alívio em casos de hiperplasia prostática
benigna são submetidos a sondagem vesical, como entre outros casos.1
Sendo uma técnica essencial para a medicina moderna, deve-se sempre avaliar a sua
necessidade, pois quando implicada em momento inoportuno, pode trazer consequências
irreversíveis ao paciente.
As indicações podem são divididas de duas formas: diagnósticas ou terapêuticas, para
facilitar a compreensão. Sendo: retenção urinária aguda ou crônica, eliminação de resíduos
pós-miccionais, quantificar o débito urinário como dito acima, irrigação vesical para
hematúria macroscópica, dilatação uretral, coleta de urina para análise laboratorial,
mensuração de pressão intravesical e uretral em estudos urodinâmicos como em
incontinência urinária e terapias com BCG para marcação de câncer de bexiga.3
Os tamanhos dos cateteres são universalmente medidos em unidades French (Fr), sendo
que 1 Fr equivale a 0,33mm, sendo indicados para crianças até adultos, variando seu
tamanho. Assim, também há a convenção do tamanho do cateter em relação à sua cor.
Sendo: 8 Fr = Preto; 10 Fr = cinza; 12 Fr = branco; 14 Fr = verde claro; 16 Fr = laranja; 18 Fr =
vermelho; 20 Fr = amarelo; 22 Fr = azul escuro ou roxo; 24 Fr = azul claro; 26 Fr = rosa.
Em relação ao número de vias, existem de uma simples via, via dupla e três vias. O mais
utilizado de uma única via é o cateter de Nelaton (figura 1), conhecido como sonda de alívio
(figura 2), geralmente transparente com entrada azul, utilizado, como o próprio nome diz,
para a drenagem da bexiga, quando a micção voluntária não está presente, devendo ser
retirado após a conclusão do esvaziamento. Podem advir com um ou mais orifícios, mas
não possuem balão para fixação intravesical.
Já os cateteres de duas vias, sendo o mais utilizado é o cateter de Foley (figura 1),
conhecido como sonda de Foley, bastante utilizado na medicina, não só para drenagem
vesical. Possui duas vias, sendo uma com uma válvula que tem como função a insuflação
de um cuff, o qual é utilizado para manter a sonda intravesical, impedindo sua saída. A
segunda via, a maior, é utilizada para a drenagem do fluido (urina, sangue, soro entre outros),
que deve ser acoplado a um coletor (figura 2).
Já os cateteres de três vias possuem as duas vias citadas anteriormente, e uma via com
função de irrigação vesical, como em hematúrias, formações de coágulos, a fim de lavar a
bexiga diminuindo o tamanho dos coágulos, facilitando a drenagem do fluido. Mas também
pode ser utilizada para a introdução medicamentosa tópica (figura 2).
Figura 2: Sonda de Foley de 2 e 3 vias e sonda de alívio de única via
Fonte: Crippa, et al.3
2. Técnica de sondagem
Normalmente quando não há histórico prévio de sondagem, ou histórico de patologias
urológicas, inicia-se com uma sonda 16 Fr (laranja) em um adulto, não é regra, mas o mais
comum. Todos os instrumentos devem estar preparados, de fácil acesso, e todo o
procedimento deve ser asséptico. O médico deve estar posicionado lateralmente ao
paciente, sendo o lado o mesmo da sua mão dominante, para que o manuseio da sonda seja
mais eficiente. A técnica difere entre homens e mulheres, visto o tamanho da uretra.
Em relação à sondagem masculina, após a assepsia da região genital, desde a exposição
do prepúcio, escroto, glande até a sínfise púbica. Antes da inserção da sonda, deve-se
utilizar de anestésico local, a fim de não causar dor e desconforto ao paciente. A mais
utilizada é lidocaína 2%, devendo ser instilada 1ml por segundo. O volume de anestésico
administrado deve corresponder ao tamanho da uretra, geralmente no gênero masculino é
de 20ml, devendo o médico esperar ao menos 15 minutos para que possa ter efeito.2
Quando administrado de forma rápida, pode trazer complicações ao paciente e dificuldade
para o agente de saúde introduzir a sonda, podendo ocasionar sangramentos por distensão
das paredes uretrais. Após a ação anestésica, o médico deve içar o pênis com a mão não
dominante a 90 graus e introduzir a sonda entre 7-12cm, devendo horizontalizar o pênis para
que não haja obstrução pela curvatura da uretra bulbar, e introduzir a sonda até sua
bifurcação, assim vai ocorrer a drenagem ativa, sendo o momento para inflar o balão da
segunda via (via menor, com válvula), para que haja a fixação intravesical. Assim, a sonda
deve ser fixada no abdome ou na coxa, e reavaliar se há potencial para lesões iatrogênicas.
Em relação à sondagem feminina, deve ser realizada a assepsia do introito vaginal, lábios
maiores e menores, como clitóris e meato uretral que está localizado abaixo do clitóris (1-
2cm), as duas regiões inguinais. A posição difere no sentido que a mulher deve estar em
‘’frog-leg’’, ou seja, pernas posicionadas em flexão e abdução. A uretra feminina é muito
menor que a do homem, visto que mede de 3-5cm, sendo que a quantidade de anestésico
deve ser menor, entre 5-10ml. Os lábios menores devem ser afastados com a mão não
dominante e a sonda introduzida no meato uretral até a metade, não sendo necessária até a
bifurcação, assim que ocorrer a drenagem ativa de urina, o balão deverá ser insuflado.3
3. Complicações
Sempre se atentar a quadros de parafimose, quando ocorre o edema do prepúcio e este
não consegue voltar à posição original, sempre devendo ser retraído à posição normal após
o término do procedimento. A infecção dos cateteres é uma causa comum, devendo só ser
tratada quando assintomática, visto que bacteriúria assintomática, só é tratada em certos
casos como em gestantes e pacientes que serão submetidos a manipulação do trato
urinário.4 A presença prolongada da sonda pode causar uma inflamação crônica, levando a
um aumento da parede da uretra, espessando-a, o que é conhecido como estenose uretral e
trará inúmeras complicações ao paciente, até mesmo a obstrução de via baixa urinária, ou
seja, a tentativa de sanar um problema vesical pode resultar em uma iatrogenia. Pode
ocorrer a incapacidade de desinsuflar o balão no momento da retirada da sonda, podendo
ser utilizado algumas técnicas, como: introdução de um fio guia na via do balão (mas pode
causar lesão vesical), uretrocistoscopia, punção suprapúbica e injeção de éter sulfúrico 2-
3ml na via do balão.
Conclusão
Deter o conhecimento da técnica de sondagem vesical de alívio e demora, e os tipos de
sondas e suas indicações, cabe a todos os médicos independente da sua área de escolha e
é preconizado que os alunos de medicina concluam seus cursos sabendo tanto a parte
teórica quanto a prática, para que assim diminua os índices de complicações que muitas
das vezes são irreversíveis e trazem novos eventos adversos aos pacientes.
Referências
1. Vieira FA. Ações de enfermagem para prevenção de infecção do trato urinário relacionada ao cateter vesical de
demora. Einstein (São Paulo). 2009; 7(3): 372-375.
2. Tailly T, Denstedt JD. Fundamentals of urinary tract drainage. In: Wein AJ, et al. Campbell-Walsh urology. 11th
edition review. Philadelphia: Saunders; 2015. Cap. 6, p. 119-135.
3. Crippa AS, Dip Júnior NG., organizadores. Urologia para graduação. São Paulo: Universidade Nove de Julho –
UNINOVE; 2018.
4. Stamm AMNF, Coutinho MSSA. Infecção do trato urinário relacionada ao cateter vesical de demora: incidência e
fatores de risco. Revista da Associação Médica Brasileira. 1999; 45(1): p. 27-33.
Parte 3 | Capítulo 43
Cistostomia
Autor: Ricardo Pagrion Neto
Orientador: Dr. Octávio Henrique Arcos Campos
1.Introdução
No século XIX, apesar de muito temido, foi proposto o acesso à bexiga por via
suprapúbica. A cistostomia é o procedimento realizado por médicos especializados para
realizar o acesso à bexiga urinária, localizado na pelve, sendo acessada pelo hipogastro e
inserido um catéter para derivação urinária. Assim, tornou-se uma cirurgia que cria um
trajeto alternativo para a saída da urina.
A cistostomia é indicada quando há obstrução de colo vesical, trauma vesical e uretral,
pós-uretroplastia, pós-cistoplastia, estenose de uretra ou qualquer condição que impeça a
saída de urina pela via uretral. Vale ressaltar que a cistostomia é reservada como última
opção em casos de retenção urinária aguda. Antes dela, lançamos mão da sondagem
vesical. Caso não seja possível, idealmente um profissional capacitado (urologista) realiza a
sondagem por meio de cistoscopia no centro cirúrgico. Se não houver disponibilidade do
urologista ou material, aí sim, em último caso, utilizamos a cistostomia.
• A incisão fica a gosto do cirurgião, Pfannenstiel (figura 1)3 podendo ser mediana
inferior (figura 2), como na imagem abaixo. Uma incisão de 2-4 cm é suficiente, na
maioria dos casos para acessar a bexiga.
Figura 1: Pfannenstiel
Fonte: Russell.2
Fonte: Cologna.1
• Deve-se abrir a aponeurose do músculo reto anterior, que está na linha mediana, e
separar o músculo piramidal, em seguida abertura da fáscia perivesical, podendo
ser visualizada a parede anterior da bexiga, que na ausência de patologias possui a
coloração rósea pálida, na presença de dúvida da localização do órgão, pode-se
utilizar uma agulha fina com seringa para aspirar conteúdo contido dentro, assim,
se vier urina, poderá certificar que é o local correto.1
Figura 3: Bexiga urinária do trato masculino e feminino
• É realizada uma sutura em bolsa, para fazer com que o cateter fique fixado dentro
da bexiga e que impeça a saída de urina (figura 5).
Figura 5: Realização da sutura em bolsa
Fonte: Cologna.1
• Caso a cistostomia for perdurar por longo período a parede anterior da bexiga
pode ser fixada a parede abdominal por meio de fios de tração através da bainha do
reto abdominal, facilitando a troca de cateteres (figura 6).
Figura 6: Inserção da sonda no interior da bexiga
Fonte: Cologna.1
• O fechamento da aponeurose do músculo reto anterior, pode ser realizada com fios
absorvíveis, e que o cateter e a sua fixação na pele fique o mais retilíneo possível
para facilitar se houver a troca. Então o cateter é fixado a pele, sendo a pele
suturada com fio inabsorvível, e é realizado o curativo.
Possíveis complicações: Infecção da ferida pós operatória, extravasamento urinário tanto
para o subcutâneo, quando para o extracutâneo, infecções urinárias, entre outras.
Fonte: Cologna.1
Conclusão
As técnicas de cistostomia devem ser realizadas por médicos, de preferência médicos-
cirurgiões, os quais dominam a anatomia da pelve e sistema genitourinário, pois a técnica
quando realizada de forma inadequada pode trazer graves consequências ao paciente,
desde a infecção do trato urinário, como a disseminação de células cancerígenas. Sempre
avaliar se é realmente necessário a prática da derivação vesical, buscando agir rapidamente,
mas com êxito.
Este capítulo buscou resumir, de forma simples porém instrutiva, o método da
cistostomia, com uma linguagem acessível a estudantes de medicina, e até mesmo a
residentes e especialistas.
Referências
1. Cologna AJ. Cistostomia. Medicina. Ribeirão Preto, 2011; 44(1): 57-62.
2. Russell J, Nauta MD. Surgical Pitfalls, General Laparotomy. 2009. Elsevier Health Sciences. Philadelphia
3. Rocha LS, Antunes CF, Antunes LD, Rodrigues AP, Cardoso SM, Machado NC. Aspectos ético-legais e técnicos do
procedimento de cateterismo vesical supra púbico pelo enfermeiro. 6º Congresso Internacional em Saúde, n. 6,
2019.
4. Teixeira A, Teixeira TMC. Temas de Técnica Cirúrgica. Anais da Faculdade de Medicina de Porto Alegre. 33: 49-
76.
Table of Contents
Capa
Rosto
Créditos
Sumário
Agradecimentos
Apresentação
Autores Coordenadores
Parte 1: Princípios Básicos da Cirurgia Geral
1. Cirurgia segura
2. Nomenclatura cirúrgica
3. Ambiente cirúrgico e seus profissionais
4. Resposta Endócrina, Metabólica e Imunológica ao Trauma
(REMIT)
5. Distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-base
6. Nutrição em cirurgia
7. Cicatrização de Feridas
8. Cuidados pré-operatórios e risco cirúrgico
9. Antibioticoprofilaxia e antibioticoterapia em cirurgia
10. Complicações das feridas operatórias
11. Cuidados com drenos e sondas
Parte 2: Principais Temas Teóricos da Cirurgia Geral
12. Abdome agudo
13. Hérnias da parede abdominal
14. Afecções da vesícula e via biliar
15. Neoplasias colônicas malignas
16. Neoplasias gástricas benignas e malignas
17. Tumores e abscessos hepáticos
18. Doenças diverticular dos cólons
19. Pancreatite aguda e crônica
20. Doenças inflamatórias intestinais
21. Apendicite aguda
22. Tumores pancr2eáticos e neuroendócrinos
23. Doença do refluxo gastroesofágico
24. Câncer de Esôfago
25. Doença ulcerosa péptica
26. Nódulos tireoidianos
Parte 3: Procedimentos Básicos da Cirurgia Geral na Prática
27. Os anestésicos locais
28. Agulhas e fios
29. Nós e suturas
30. Punção venosa periférica e central
31. Procedimento de pressão arterial invasiva (PAI)
32. Acesso intraósseo
33. Paracentese
34. Punção lombar
35. Toracocentese
36. Drenagem torácica
37. Pericardiocentese
38. Intubação orotraqueal
39. Cricotireoidostomia
40. Traqueostomia
41. Técnica em sondagem nasogástrica e nasoenteral
42. Sondagem de alívio e demora
43. Cistostomia