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ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Análise
de Situação
de Saúde

Organizadoras
Ana Emilia Figueiredo de Oliveira
Deysianne Costa das Chagas
Paola Trindade Garcia

1
Análise
de Situação
de Saúde
Análise
de Situação
de Saúde

Organizadoras
Ana Emilia Figueiredo de Oliveira
Deysianne Costa das Chagas
Paola Trindade Garcia

São Luís

2019
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


Prof.ª Dra. Nair Portela Silva Coutinho
Reitora
Prof. Dr. Fernando de Carvalho Silva
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Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e Inovação
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Prof.ª Dra. Ana Emilia Figueiredo de Oliveira
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EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


Prof. Dr. Sanatiel de Jesus Pereira
Diretor

CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Esnel José Fagundes; Profa. Dra. Inez Maria Leite da Silva; Prof. Dr. Luciano da Silva
Façanha; Profa. Dra Andréa Dias Neves Lago; Profa. Dra. Francisca das Chagas Silva Lima;
Bibliotecária Tatiana Cotrim Serra Freire; Prof. Me. Cristiano Leonardo de Alan Kardec Capovilla
Luz; Prof. Dr. Jardel Oliveira Santos; Profa. Dra. Michele Goulart Massuchin; Prof. Dr. Ítalo
Domingos Santirocchi.

Projeto de design
Douglas Brandão França Junior; José Henrique Coutinho Pinheiro; Katherine Marjorie Mendonça
de Assis.

Normalização
Edilson Thialison da Silva Reis – CRB 13ª Região, nº de registro – 764

Revisão técnica
Roberto Carlos Reyes Lecca

Revisão de texto
Fabiana Serra Pereira

Revisão pedagógica
Cadidja Dayane Sousa do Carmo; Halinna Larissa Cruz Correia de Carvalho; Elza Bernardes
Monier; Alessandra Viana Natividade Oliveira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Elaborada pela UNA-SUS/UFMA

Universidade Federal do Maranhão. UNA-SUS/UFMA

Análise de situação de saúde/Ana Emilia Figueiredo de Oliveira; Deysianne Costa das Chagas; Paola
Trindade Garcia; (Org.). - São Luís, 2019.

140 f.: il.


ISBN: 978-85-7862-867-3

1. Análise da Situação de Saúde. 2. Diagnóstico da Situação de Saúde. 3. Epidemiologia. 4. Sistemas


de Informação em Saúde. 5. UNA-SUS/UFMA. I. Matheus de Sousa Mata II. Título.

CDU 616-036

Bibliotecário: Edilson Thialison da Silva Reis CRB - 13/764

Impresso no Brasil
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte
e que não seja para venda ou para qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais dos
textos e imagens desta obra é da UNA-SUS/UFMA.
INFORMAÇÃO SOBRE O AUTOR

Matheus de Sousa Mata


Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN), especialização em Gestão em Saúde
pela Fundação Oswaldo Cruz (Friocruz-RJ) e em Epidemiologia
pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Possui mestrado em
Saúde Coletiva pela UFRN e é doutorando em Saúde Coletiva
na UFRN. Atuou como analista técnico de Políticas Sociais na
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde.
Atualmente é professor da Escola de Saúde da UFRN.
INFORMAÇÃO SOBRE SOBRE
AS ORGANIZADORAS

Ana Emilia Figueiredo de Oliveira


Possui graduação em Odontologia pela Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), mestrado e doutorado em Radiologia pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pós-doutorado/
professora visitante pela University of North Carolina/Chapel
Hill-EUA. Foi presidente do Conselho Brasileiro de Telemedicina
e Telessaúde - CBTms (gestão 2015-2017). Atualmente é
Coordenadora-geral da UNA-SUS/UFMA e líder do Grupo de
Pesquisa SAITE - Tecnologia e Inovação em Educação na Saúde
(CNPq/UFMA).

Deysianne Costa das Chagas


Possui graduação em Nutrição pela Universidade Federal do
Maranhão (UFMA) e mestrado e doutorado em Saúde Coletiva
pela UFMA. Atualmente é professora adjunta do Curso de Nutrição
da Universidade Federal do Maranhão e design instrucional da
UNA-SUS/UFMA. Tem experiência na área de epidemiologia e
educação nutricional.

Paola Trindade Garcia


Possui graduação em Fisioterapia pela Faculdade Santa Terezinha
(CEST), mestrado e doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade
Federal do Maranhão (UFMA), Residência Multiprofissional em
Saúde (UFMA), especialização em Processos Educacionais na
Saúde (IEP-Sírio Libanês), Saúde da Família (CEST) e em Gestão
do Trabalho e Educação na Saúde (UFMA). Possui experiência
em educação a distância e em metodologias ativas de ensino.
Atualmente é docente da UFMA e coordenadora de Produção
Pedagógica da UNA-SUS/UFMA.
SUMÁRIO

p.
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................14
2 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE: CONCEITOS E INTERPRETAÇÃO
DE INDICADORES ................................................................................15
2.1 Bases conceituais da Análise de Situação de Saúde (Asis) ...............16
2.1.1 Objetivos da Asis ................................................................................19
2.1.2 Finalidades da Asis .............................................................................20
2.1.2.1 A Definição de necessidades, prioridades e políticas em saúde e a
avaliação de sua adequação ...............................................................20
2.1.2.2 A formulação de estratégias de promoção, prevenção e controle de
danos à saúde e a avaliação de sua pertinência e cumprimento........22
2.1.2.3 A construção de cenários futuros em saúde ..................................... 23
2.2 Utilização dos dados da Vigilância em Saúde ................................... 28
2.3 Comportamento e tendências das variáveis demográficas .............. 35
3 ASIS E PRIORIZAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS ................................ 45
3.1 Priorização: definição e aplicabilidade............................................... 45
3.2 Desigualdades em saúde ................................................................... 58
3.3 A carga global de doenças no Brasil .................................................. 75
4 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES EM SAÚDE .......................................... 84
4.1 Os sistemas de informação em saúde no Brasil e sua importância
para a construção das Asis ................................................................ 84
4.2 Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) ........................... 88
4.3 Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) ................... 92
4.4 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) ............. 97
4.5 Outros sistemas de informações ....................................................... 99
4.6 Identificação e seleção de dados fundamentais ............................. 100
4.7 Indicadores de mortalidade ............................................................ 107
4.7.1 Mortalidade Proporcional por Causas .............................................. 107
4.7.2 Taxa de Mortalidade por Causas ...................................................... 108
4.7.3 Taxa de Mortalidade Infantil............................................................. 109
4.7.4 Razão de Mortalidade Materna....................................................111
4.8 Indicadores de morbidade...........................................................115
4.8.1 Incidência..................................................................................115
4.8.2 Prevalência................................................................................117
4.9 Outros indicadores de saúde....................................................119
4.10 Qualidade das informações......................................................120
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................127
REFERÊNCIAS.............................................................................127
PREFÁCIO
A Análise de Situação de Saúde (Asis) ao caracterizar, medir e
explicar o perfil de saúde-doença de uma população produz informações
e conhecimentos úteis para o planejamento, definição de prioridades e
estratégias de intervenção, além da avaliação de seu impacto.
Por isso é importante que a Asis seja incorporada e considerada na
elaboração dos planos de saúde, no estabelecimento de prioridades para
a alocação de recursos orçamentários, financeiros e de infraestrutura e na
gestão do trabalho e dos recursos humanos para a saúde. Entretanto, realizar
o planejamento a partir da Asis ainda se constitui um desafio para os atores
envolvidos na construção de políticas públicas de saúde.
Partindo desse pressuposto, surge o livro "Análise de Situação de
Saúde", que aborda de forma clara e objetiva o conceito e objetivos da Asis,
bem como a sua importância no planejamento e definição de ações de saúde
direcionadas às necessidades da população. Entre os temas discutidos no
livro, alguns merecem destaque como: conceitos, interpretação e utilização
dos indicadores de saúde, a análise da situação de saúde na construção de
políticas públicas e o processo de análise das informações em saúde.
Este livro visa a ampliar a compreensão dos profissionais de saúde
para a importância da elaboração da Asis, objetivando sua incorporação nos
instrumentos de planejamento e gestão do Sistema Único de Saúde (SUS).
É importante destacar, também, que publicações nessa temática
são instrumentos importantes para o aprofundamento teórico dos
profissionais que já atuam no SUS. Portanto, esperamos que este
livro possa contribuir em sua formação profissional e que se torne
um referencial teórico para o planejamento de atividades de saúde
realizadas em seu local de trabalho. Boa leitura!

Deysianne Costa das Chagas


Doutora em Saúde Coletiva/UFMA
APRESENTAÇÃO

A análise da situação de saúde (Asis) é definida como a identificação,


descrição, priorização e explicação dos problemas de saúde da população,
com o objetivo de identificar necessidades sociais e determinar prioridades
de ação (TEIXEIRA, 2010).
A identificação de problemas e necessidades de saúde exige que se
caracterize a população de acordo com variáveis demográficas, socioeconômicas
e políticas. Este processo implica a definição de quais são os problemas e
quando, onde e quem se encontra afetado por esses problemas, subsidiando
a definição de políticas e prioridades de ação (TEIXEIRA, 2010).
Para isso, é necessário conhecer o perfil demográfico, socioeconômico
e epidemiológico da população para identificar suas necessidades e problemas
de saúde, os fatores determinantes e potenciais riscos à saúde, de modo a
subsidiar a tomada de decisão política e o estabelecimento de prioridades
para atuação, seja em relação à organização da rede de serviços de saúde,
às ações de promoção e proteção da saúde e prevenção de agravos e
doenças, seja para a devida articulação entre as políticas setoriais visando
ao fortalecimento do SUS no enfrentamento dos principais determinantes
do processo saúde-doença (BAHIA, 2014).
Entre os recursos que podem auxiliar na identificação, descrição
e análise do perfil de saúde-doença populacional, estão os Sistemas
de Informação em Saúde (SIS). Os SIS são ferramentas tecnológicas que
auxiliam gestores das três esferas de governo a processar os dados, gerando
informações necessárias para organizar a prestação de serviços em saúde,
monitorar o comportamento da população e investigar os mais diversos
agravos que incidem sobre ela, tendo em vista a promoção do planejamento
das ações e políticas públicas na área (DANIEL, 2012).
Os SIS auxiliam, portanto, o planejamento e a avaliação das políticas
de saúde, assim como dos serviços, redes e sistemas de saúde (PINHEIRO,
et. al. 2016). Sejam eles assistenciais ou epidemiológicos, são ferramentas
importantes para o diagnóstico de situações de saúde com vistas a intervenções
mais aproximadas do quadro de necessidades da população. Pois, por meio
deles é possível acessar as bases de dados nacionais que, alimentadas
regularmente por municípios e Estados, apresentam alto potencial
de instrumentalizar a tomada de decisão (MEDEIROS, et. al., 2005).
A partir desse contexto, este livro visa a auxiliar profissionais e
gestores de saúde, a utilizar informações e conhecimentos relacionados
a Asis de forma crítica e reflexiva. Este livro é composto por três
capítulos. O primeiro objetiva compreender a Asis, examinando
seus conceitos, finalidades, além da interpretação e a utilização
dos indicadores de saúde, o segundo objetiva reconhecer a ASIS
como potente ferramenta para o processo de tomada de decisão e
elaboração de políticas públicas e o terceiro objetiva compreender
os SIS, identificando sua importância para a Asis. Para alcançar cada
um desses objetivos, os capítulos apresentam os conteúdos de forma
contextualizada e problematizada, buscando facilitar o processo de
aprendizagem.
Além disso, cada capítulo aborda temas de grande relevância
para a Asis. O capítulo 1 apresenta conceitos e interpretação de
indicadores, bases conceituais, objetivos e finalidades da Asis, a
utilização dos dados da vigilância em saúde e o comportamento e
tendências das variáveis demográficas. O capítulo 2 discute temas
como a priorização de necessidades em saúde, as desigualdades em
saúde e a carga global das doenças. E o capítulo 3 trata dos Sistemas de
informação em saúde utilizado na Asis, os principais SIS e indicadores
de saúde e a qualidade da informação.
Assim, espera-se com este livro que técnicos e gestores de
saúde e representações sociais percebam que para alcançar um
diagnóstico adequado da população, a Asis exige um movimento
coletivo, contínuo e compartilhado. E que ao incorporarem a Asis em
seu cotidiano, que esses profissionais verifiquem sua potencialidade
em promover as mudanças esperadas nos ambientes e processos de
trabalho do território.
1 INTRODUÇÃO

Conhecer a situação de saúde de determinado território é uma importante


ferramenta de gestão, identificação, descrição, priorização e elucidação dos
problemas de saúde de determinada população. Assim, a Análise de Situação
de Saúde (Asis) é fundamental para que gestores e trabalhadores da área da
saúde possam contribuir para contextualizar os problemas identificados no
âmbito da gestão ou mesmo nos territórios sanitários sob responsabilidade
das equipes de saúde.
Em um contexto de escassez de recursos, saber aplicá-los adequadamente
se torna uma responsabilidade ainda maior para os atores envolvidos com a
saúde das pessoas. O envelhecimento da população brasileira, por sua vez,
traz consigo uma demanda maior para o setor saúde, exigindo dos gestores e
profissionais de saúde maior qualificação para atender essa crescente demanda
de serviços, sejam eles de caráter preventivo, ambulatorial ou hospitalar.
A Asis, portanto, engloba um processo de territorialização das condições
de saúde, de modo a identificar necessidades sociais de saúde, determinar
prioridades de ação e embasar a tomada de decisão por meio de evidências
relevantes. Para tal, é necessário conhecer os conceitos e finalidades da Asis,
além da interpretação e uso dos indicadores de saúde.
O conhecimento, a produção e a aplicação dos indicadores de saúde
no âmbito da gestão, ou mesmo no cotidiano dos profissionais de saúde,
possibilitam a identificação de problemas relevantes, bem como permitem
avaliar a qualidade do serviço prestado e o impacto de intervenções coletivas
na saúde.
Para que você compreenda como utilizar essas ferramentas no cotidiano
do trabalho, abordaremos os principais sistemas de informação em saúde,
por meio dos quais será possível analisar as mudanças nos perfis demográfico
e epidemiológico do Brasil, além de possibilitar que você crie os próprios
cenários de saúde no âmbito da sua atuação profissional.
Dessa forma, espera-se que as decisões em saúde superem o caráter
intuitivo e passem a considerar as evidências, elucidadas através de uma
Asis criteriosa e bem conduzida por quem administra serviços de saúde e
também por quem produz cuidado no dia-a-dia das pessoas.

14
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

2 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE:


CONCEITOS E INTERPRETAÇÃO DE
INDICADORES

Por meio de reflexões sobre problemas comuns ao sistema de saúde


brasileiro, você poderá percorrer caminhos que o ajudarão a compreender
os fatores contextuais que influenciam na saúde da população e interpretar
as mudanças no perfil epidemiológico e demográfico dessa população. Para
isso, convidamos você a fazer uma reflexão.
Imagine uma situação hipotética, em que todos os problemas de
saúde dos indivíduos pudessem ser resolvidos a qualquer momento, pois
existiriam inúmeras unidades de saúde, ambulatoriais e hospitalares, bem
como serviços de prevenção atuando em todas as cidades. Não existiria
escassez de profissional e todas as tecnologias, inclusive as mais avançadas,
estariam disponíveis a qualquer pessoa.
Você deve estar pensando que essa situação só é possível em um
mundo ideal, restrito à nossa imaginação. De fato, no mundo real esse cenário
descrito acima está longe de ser contemplado. No Brasil e em todos os demais
países, os recursos dos mais diversos tipos são finitos, ou seja, tanto recursos
financeiros como o número de profissionais, por exemplo, são limitados.
Evidentemente, essa escassez de recursos afeta alguns países mais do
que outros, mas em todos eles há um limite para os gastos. Na área da saúde
isso não é diferente, especialmente se considerarmos que estamos falando
de uma área dinâmica, na qual o adoecimento das populações é bastante
variável e há uma demanda crescente por novas tecnologias.

É preciso destacar algumas características do setor de saúde,


pois elas têm relações íntimas com os crescentes gastos observados:
os tipos de doença que são mais comuns em uma região podem não
ser em outras; o padrão de doenças também se modifica ao longo
do tempo – uma doença que era comum anos atrás pode ter sido
erradicada, ao passo que outras doenças surgem ao longo dos anos;

15
as doenças não respeitam fronteiras geográficas, e as epidemias
de ebola e influenza por H1N1 mostram isso. Outra característica
é a intensa inovação tecnológica da indústria de equipamentos
para a saúde e farmacêutica. Essas inovações costumam gerar
demandas para os novos produtos, que para serem incorporados
aos tratamentos geram altos custos aos governos.

Por isso, é importante conhecer as bases conceituais da Asis e


compreender como se dá essa dinâmica na saúde de diferentes regiões.

2.1 Bases conceituais da Análise de Situação de Saúde (Asis)

Se as realidades de saúde são distintas entre


populações e os recursos são escassos, como
aplicar os recursos disponíveis? Quais devem
ser as prioridades na execução das ações? Quais
os critérios que podem auxiliar os profissionais
e gestores de saúde na tomada de decisão?

A Asis é uma ferramenta que facilita a identificação de necessidades


e prioridades, bem como a identificação de intervenções e programas
adequados e a avaliação do seu impacto na saúde (OPAS, 1999). Segundo
a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a Asis “é caracterizada por
processos analítico-sintéticos que permitem caracterizar, medir e explicar o
perfil de saúde-doença de uma população, incluindo os agravos e problemas
de saúde, assim como seus determinantes” (OPAS, 1999).
O gráfico 1 apresenta um exemplo de como a Asis pode ser aplicada.
Os gráficos mostram as principais causas de mortes por região do Brasil para
o ano de 2013 e fazem parte da publicação anual da Secretaria de Vigilância
em Saúde do Ministério da Saúde chamada “Saúde Brasil”. Essa publicação,
portanto, tem como objetivo “produzir e disseminar análises de situação de
saúde” (BRASIL, 2015).

16
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Gráfico 1 - Taxas de mortalidade padronizadas das principais causas específicas de morte por
Região, Brasil, em 2013.

60 D. cerebrovasculares
51,5
Infarto agudo do Miocárdio
50
Diabetes mellitus
40 35,6 34,9
32,6 D. hipertensivas
30
21,9 Pneumonias
20 Bronquite, enfisema, asma
10 Homicídios
0 Acidentes de transporte terrestre
Norte
60 60
51,9
50 42,7
50 42,6
39,5 39,6
40 35,4 40 37,7
28
30 30
22,1
19,3
20 20
10 10
0 0
Nordeste Sudeste
60 60
50 46,9 50 44,1
37,1 38,9
40 40 35,5
29,3 30,2 29,5
30 26,2 26,1 30
20 20
10 10
0 0
Sul Centro-Oeste

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2014: uma análise da situação de saúde e
das causas externas. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. p. 106. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2014_analise_situacao.
pdf>. Acesso em: 19 jul. 2017.

A partir do gráfico 1, podemos observar algumas semelhanças no


padrão de mortalidade entre as regiões brasileiras. Mas também podemos
visualizar que algumas regiões têm como principal causa de morte doenças
que não aparecem com destaque nas demais, como é o caso do grupo
“Bronquite, enfisema, asma” no Sul do país e os “Acidentes de transporte
terrestre” no Centro-Oeste e Norte.
Nesse caso, a Asis ajudaria no direcionamento de políticas voltadas
para a redução das principais causas de mortes em cada região, ao mesmo

17
tempo que uma análise da mortalidade ao longo dos anos poderia auxiliar
na avaliação das políticas implementadas para evitar o excesso de mortes
por cada uma das causas. Para compreender melhor a importância da Asis
para o planejamento das ações de saúde, vamos analisar o caso do município
de Céu Azul:

CENA 1 - Reunião de Conselho de Saúde e Instituição da Comissão de


Asis de Céu Azul

Mário, 35 anos, é enfermeiro e assumiu há cinco meses o cargo de


secretário municipal de saúde do município de Céu Azul. Ele tem muitos
planos para a saúde do município e por isso agendou uma reunião com o
Conselho Municipal de Saúde de Céu Azul para discutir os problemas de
saúde e as ações para solucioná-los.
No dia agendado, todos os conselheiros se fizeram presentes. Durante
a reunião, Mário apontou a necessidade do planejamento das ações de
saúde e apresentou o recurso financeiro disponível. Além disso, também
apresentou os projetos de saúde que pretendia iniciar, visto que o recurso
possibilitava a realização de todos eles.
Entretanto, alguns dos conselheiros começaram a se questionar se
os projetos apresentados realmente contemplavam as prioridades de saúde
de Céu Azul, pois muitos deles referiam-se a solucionar problemas de saúde
pouco prevalentes no município.
Dessa forma, Marta, uma das conselheiras, profissional especialista
em saúde coletiva, destacou que achava importante realizar uma análise da
situação de saúde (Asis) do município para iniciar o planejamento das ações
de saúde da nova gestão. Sendo assim, Mário, convencido por Marta e demais
conselheiros, propôs ao final da reunião a criação de uma Comissão para
realizar a Asis de Céu Azul e apresentar os resultados na reunião seguinte.
Agora, imagine que você é um dos conselheiros da Comissão de Asis
de Céu Azul e que na próxima reunião do Conselho Municipal de Saúde você
e seus colegas da comissão deverão apresentar as principais características
de saúde do município. Atente-se para os seguintes questionamentos:

18
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

• Por que é necessário realizar a Asis de Céu Azul?


• Como a comissão irá iniciar essa Asis?

PARA SABER MAIS!

O Ministério da Saúde apresenta no livro “Saúde Brasil


2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para
o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”
um capítulo sobre mortalidade pelas principais causas
específicas em 2015: diferenças regionais – nas páginas
81 a 98 que se sugere a leitura.

2.1.1 Objetivos da Asis

Você deve estar se familiarizando com a Asis


como uma ferramenta importante para auxiliar
as ações na área da saúde. Talvez esteja
pensando em como pode utilizá-la no cotidiano
do seu trabalho, seja na gestão ou nas equipes
de saúde responsáveis por territórios. Vamos
conversar mais sobre o tema?

O objetivo geral da Asis, segundo Calvo (2004), é entender as causas


e consequências das diferenças dos problemas de saúde na comunidade. A
OPAS (1999) coloca mais explicitamente o componente da gestão da saúde
na sua construção teórica, segundo a qual a Asis busca “contribuir com a
informação que o componente técnico requer para os processos de condução,
gerência e tomada de decisão em saúde”.
Autores brasileiros sintetizam o objetivo da Asis assim:

A Asis tem como objetivo criar informações e conhecimentos válidos


sobre a situação de saúde de uma população em determinado
território/contexto, mas tem como finalidade principal informar a
tomada de decisão em saúde de maneira oportuna em todas as suas
instâncias (DUARTE; MORAIS NETO, 2015, p.10).

19
Dessa forma, a Asis objetiva gerar informações que auxiliem na
compreensão das causas e consequências de saúde e que também orientem
a tomada de decisão por parte dos profissionais e gestores da saúde.

2.1.2 Finalidades da Asis

Além do seu objetivo geral, podem ser identificadas outras finalidades


da Asis (OPAS, 1999). Veja a seguir algumas dessas finalidades.

2.1.2.1 A Definição de necessidades, prioridades e políticas em saúde e a


avaliação de sua adequação

A figura 1 ilustra como a Asis pode auxiliar na definição de necessidades,


prioridades e políticas em saúde, além da avaliação de sua adequação. A
partir dela, podemos vislumbrar que áreas de maior vulnerabilidade social
geram resultados distintos de saúde. Nesse caso, são apresentados mapas que
representam valores integrados de saúde e ambiente, com claro gradiente
mais desfavorável para o Norte-Nordeste do país. Essa análise ajuda a apontar
quais políticas e onde elas devem ser prioritariamente aplicadas para reduzir
as internações e mortes por doenças diarreicas entre crianças.

20
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Figura 1 - Distribuição espacial do indicador integrado de saúde e


ambiente por microrregiões brasileiras para internação e
mortalidade por doença diarreica aguda em menores de
um ano. Brasil, 2010/2009.
-70º -60º -50º -40º
Internação

0º 0º

-10º -10º

-20º Péssimo (0,30-0,66) -20º


Ruim (0,67-0,80)

Bom (0,81-0,89)
N
Muito bom (0,90-0,96)
O L

-30º 0 600 1.200km -30º


S

-70º -60º -50º -40º


-70º -60º -50º -40º
Mortalidade

0º 0º

-10º -10º

-20º Péssimo (0,17-0,69) -20º


Ruim (0,70-0,85)

Bom (0,86-0,92)
N
Muito bom (0,93-0,97)
O L

-30º 0 600 1.200km -30º


S

-70º -60º -50º -40º

Fonte: BUHLER, H.F. et al. Análise espacial de indicadores integrados


de saúde e ambiente para morbimortalidade por diarreia
infantil no Brasil, 2010. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.
30, n. 9, p. 1921-1934, Set. 2014.

21
A figura 1 apresenta desigualdades sociais
influenciando internações e mortes por
doenças diarreicas em crianças. Você consegue
observar desigualdades semelhantes dentro
do seu município? Há grupos populacionais
que sofrem mais de alguns tipos de doença
por causa da sua condição social? Esses grupos
deveriam receber uma atenção diferenciada
na definição e execução de políticas públicas?

Alguns grupos populacionais padecem mais de alguns tipos de doença


e agravos e podemos observar isso em nível municipal também. As mortes
violentas entre jovens da periferia em níveis bastante elevados, os altos
índices de perda dentária entre as pessoas de baixo nível educacional ou a
elevada prevalência de tuberculose na população carcerária são exemplos
concretos de desigualdades em saúde, com forte influência das condições
sociais sobre os grupos populacionais. As ações para enfrentar esses
problemas, portanto, podem ser direcionadas, ou melhor, priorizadas para
os grupos mais vulneráveis.

2.1.2.2 A formulação de estratégias de promoção, prevenção e controle de


danos à saúde e a avaliação de sua pertinência e cumprimento

A vacinação é um exemplo que ilustra bem a finalidade da Asis de


formulação de estratégias de promoção, prevenção e controle de danos à
saúde e a avaliação de sua pertinência e cumprimento. É uma estratégia
de prevenção de doenças bastante conhecida e o Brasil tem um programa
que abrange todo o território nacional, que é o Programa Nacional de
Imunização. A figura 2 mostra a importância da vacinação para a erradicação
da poliomielite no Brasil.

22
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Figura 2 - Número de casos confirmados de poliomielite e notificados de paralisia flácida


aguda, Brasil, 1979 a 2008.
3.500

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0
79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08
2.569 1.260 122 69 45 142 329 612 196 106 35 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
3.205 1.985 362 257 233 257 600 1.029 724 895 916 535 588 552 517 554 419 453 432 369 437 528 678 637 654 642 609 614 636 585

Poliomielite

Paralisia flácida aguda

Fonte: DURANTE, A. L. T.; DAL POZ, M. R. Saúde global e responsabilidade sanitária


brasileira: o caso da erradicação da poliomielite. Saúde debate, Rio de Janeiro, v. 38,
n. 100, p. 129-138, Mar. 2014.

Apesar da imunização ser uma estratégia consolidada na saúde pública,


ela deve ser acompanhada para garantir que as pessoas sejam imunizadas
e as doenças sejam erradicadas ou, pelo menos, mantidas sob controle.
Uma forma de acompanhar a execução dessas ações e avaliar seu alcance é
utilizar o indicador de cobertura vacinal. Esse indicador mede o percentual
de pessoas que foram imunizadas do total de indivíduos que fazem parte da
população-alvo. Se a cobertura vacinal estiver baixa, as ações não estão sendo
bem executadas e podem gerar graves problemas de saúde para a população.

Dois casos recentes de surtos de doenças imunopreveníveis


chamaram a atenção para a importância do monitoramento e do
cumprimento das metas de cobertura vacinal no Brasil. Foram os
casos de febre amarela em Minas Gerais no ano de 2017 e de
sarampo na Região Norte do país em 2018.

2.1.2.3 A construção de cenários futuros em saúde

A figura 3 apresenta um cenário futuro para as causas de morte no


Brasil, resgatando dados históricos e estimando qual o perfil de mortalidade
para o ano de 2033. A partir dessa análise, políticas governamentais podem

23
ser elaboradas a fim de mudar o cenário para determinadas causas –
notoriamente as causas externas, bem como preparar o sistema de saúde
para uma assistência adequada às pessoas que necessitarão de cuidados
prolongados – como os grupos que são acometidos por doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT), com destaque para as doenças do aparelho
circulatório e neoplasias.

Figura 3 - Mortalidade proporcional por grupos de causa (Capítulos da CID), estratificado


segundo os 10 grupos de maior peso para o ano de 2011. Brasil, 1980 a 2033.
100
Capítulos

Demais
75 Afecções perinatais
Aparelho geniturinário
Sistema nervoso
Infecciosas e parasitárias
50
Aparelho digestivo
Sangue, tr. imun., nutr. e metab.
Aparelho respiratório
25 Causas externas
Neoplasias
Aparelho circulatório
0

1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030

Fonte: SILVA JÚNIOR, J. B.; RAMALHO, W. M. Cenário epidemiológico do Brasil em 2033:


uma prospecção sobre as próximas duas décadas. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo
Cruz, 2015. p. 9. (Textos para Discussão; n. 17).

E você, sabe quais são as principais causas de


morte na população do seu município? Existe
alguma política pública que ajude a enfrentar
alguma dessas causas?
Você pode buscar essas informações na própria
Secretaria de Saúde do município ou buscar em
sites oficiais, como no DATASUS.

Como vimos, a Asis pode ser utilizada de diferentes formas por gestores
e profissionais de saúde para direcionar ações que busquem a satisfação das
necessidades de saúde da população. Não podemos, no entanto, esquecer
que a saúde da população depende de inúmeros fatores e que algumas
soluções, para serem efetivas, precisam ser articuladas com outros setores

24
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

governamentais e da sociedade.
Aqueles agravos ou doenças que são mais prevalentes em populações
mais vulneráveis são um exemplo de soluções que passam, necessariamente,
pela intersetorialidade das ações. Afinal, o grande número de mortes violentas
entre jovens em situação de vulnerabilidade e marginalizados não serão
resolvidos somente com a mobilização de equipes de saúde.
Podemos usar esse raciocínio para as neoplasias que podem ser
detectadas em programas de prevenção, como é o caso do câncer de mama,
de colo do útero e de próstata, mas que estão entre os tipos que mais matam
no Brasil. Esses tipos de neoplasias são mais letais entre o grupo de pessoas
mais pobres e menos escolarizadas. Ampliar o número de unidades de saúde
que diagnosticam essas doenças é apenas uma das ações que podem diminuir
a mortalidade, mas a redução das desigualdades sociais necessitará de uma
ação conjunta de diferentes setores.
É importante destacar que essa visão ampla sobre a saúde é uma
construção histórica, que se desenvolveu juntamente com a sociedade
humana. Por muito tempo, a saúde esteve vinculada a um conceito tradicional
que relacionava à saúde com os serviços sanitários. Dito de uma forma mais
direta, a saúde seria definida a partir da doença como referência, ou seja,
o organismo que estivesse em um estado mórbido era considerado doente,
ao passo que o contrário desse estado seria caracterizado como saúde
(CARVALHO; BUSS, 2012).
A mudança no paradigma da saúde, que passa a contemplar os
múltiplos fatores – incluindo os socioeconômicos – como produtores de
doenças, se reflete também nas medidas utilizadas em saúde pública para
analisar a situação de saúde da população. Por meio da Epidemiologia, essa
busca por medidas objetivas sobre a saúde deixou de ser exclusivamente
relacionada à mortalidade e morbidade e passou a incluir outros atributos.
Com a ampliação do conceito de saúde, reconheceu-se a necessidade de
considerar outras dimensões da saúde, como incapacidade e fatores não
biológicos da saúde, assim como a qualidade da assistência, o acesso aos
serviços, as condições de vida e os fatores ambientais (OPAS, 2001).

25
Epidemiologia é o estudo da frequência e distribuição de estados
ou eventos relacionados à saúde, e dos seus determinantes, em
populações específicas e a aplicação desse estudo para o controle
de problemas de saúde (PORTA, 2014).

Um dos módulos de um curso voltado a gestores de saúde pública


promovido pela OPAS traz premissas para a Asis em um contexto atual e
voltado para a realidade da América Latina. Essas premissas perseguem
uma Asis alinhada com a visão ampliada de saúde e incluem (OPAS, 2010):

A forma como se organiza a sociedade e os sistemas de saúde para dar


resposta às necessidades de saúde.

A existência de diferenças na distribuição das condições de vida e as


causas de enfermidade e morte.

A possibilidade de identificar a magnitude, o alcance e a gravidade dos


problemas de saúde na população.

A possibilidade de identificar os grupos populacionais com necessidades


de saúde não satisfeitas e de alto risco.

A sugestão de intervenções potenciais baseadas no reconhecimento


dos fatores de risco.

A avaliação da efetividade das intervenções sustentada nos indicadores


epidemiológicos.

Os aspectos de contexto que determinam as condições de vida e saúde


da população.

Percebam que a Asis inclui variáveis de contexto, as quais são aquelas


que determinam o estado de saúde das pessoas.

26
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

O que são determinantes sociais da saúde


para você? Você já se perguntou se o trabalho,
a renda, a educação e os comportamentos
das pessoas podem gerar doenças? Tente
se lembrar de um caso em que um desses
determinantes influenciou o aparecimento de
uma doença, seja em uma pessoa próxima a
você ou alguém que procurou o serviço onde
você trabalha.

Os determinantes sociais da saúde (DSS) são aqueles relacionados às


condições em que uma pessoa vive e trabalha, além de influenciarem a
ocorrência de problemas de saúde e fatores de risco à população – como
moradia, alimentação, escolaridade, renda e emprego (WHO, 2017; BUSS;
PELLEGRINI FILHO, 2007). Esses determinantes necessitam de articulação
com outros setores da sociedade para serem alterados, e muitas vezes se
situam além da governabilidade de quem planeja ações de saúde. Muitas
vezes, ficamos limitados na busca da resolução de um problema de saúde
pública, pois parte importante da resolução do problema está sob a gerência
de outros setores.

AGORA É COM VOCÊ!

Você concorda que a mortalidade infantil no Brasil apresenta características


de um problema com múltiplas dimensões? Considerando que o
Brasil apresenta taxa de mortalidade infantil (TMI) distinta entre suas
regiões, com piores resultados para o Norte e o Nordeste em relação
às demais, liste os possíveis setores que poderiam contribuir para a
redução da TMI no Brasil. Os setores podem ser governamentais ou
da sociedade civil.
Se você e sua equipe não dispõem dos meios e recursos necessários
para resolver todos os problemas de saúde do território, é importante
destacar que a Asis serve para a negociação política, a condução
institucional, a mobilização de recursos e para a disseminação de

27
informações em saúde. A Asis contribui, portanto, para um diagnóstico
mais preciso da situação, possibilitando identificar também os atores que
se corresponsabilizarão para a resolução dos problemas, aumentando
as chances de sucesso na execução das ações.

2.2 Utilização dos dados da Vigilância em Saúde

Inicialmente, convidamos você a pensar sobre o voo de um avião,


sobre os procedimentos necessários para que ele decole e chegue ao seu
destino. Entre as diversas funções da equipe de comando da aeronave está
a averiguação do tempo: se há possibilidade de chuvas, se há muitas nuvens
no trajeto, temperatura do ar, entre outras características atmosféricas. Além
disso, devem ser observadas a quantidade de combustível, a distância do avião
para o solo, sua velocidade, quantidade de carga transportada. Importante,
claro, é saber o fluxo dos outros voos na sua rota, bem como as decolagens e
aterrissagens nos aeroportos, função
essa auxiliada por equipamentos de
bordo e pela torre de controle.
Ufa! São utilizados muitos
dados durante um voo de avião para
que a tripulação conduza a aeronave
com precisão e que todos cheguem
ao seu destino com segurança.
Agora se imagine na direção
de uma unidade de saúde ou mesmo
fazendo parte de uma equipe – seja
ela de Vigilância ou de Saúde da
Família, por exemplo. Os dados de saúde são importantes para gerar um
atendimento adequado à população? Eles auxiliam no atendimento das
necessidades das pessoas?
Se vimos que os dados produzem informações relevantes para um
piloto de avião conduzir bem uma aeronave por meio da definição da melhor
rota, das mudanças de direção para adequar à malha aérea ou mesmo para
comunicar aos passageiros sobre regiões de turbulência, podemos pensar

28
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

que para “conduzir” uma unidade de saúde ou para uma equipe atender às
necessidades sanitárias de uma população, os dados são de fundamental
importância.
Obter informações de quantas mulheres estão gestantes em um
município, quantos novos casos de dengue surgiram no último verão ou
mesmo o total de pessoas hipertensas cadastradas na equipe de saúde da
família do bairro auxiliam gestores e trabalhadores a adequarem a assistência
materno-infantil daquele município; a atuarem de forma preventiva para
que não ocorram novos casos de dengue nos meses quentes e chuvosos; e a
estimarem a quantidade de medicamentos a serem dispensados à população
hipertensa sem que haja descontinuidade do tratamento.
Você percebeu que com apenas três exemplos já conseguimos visualizar
a importância que os dados têm para a saúde?
Na área da saúde, utilizamos fundamentalmente os dados epidemiológicos
para monitorar, avaliar, planejar e analisar as condições de saúde e bem-
estar dos grupos populacionais. Neste capítulo, já conhecemos o conceito
de epidemiologia, que em resumo é o estudo sobre a saúde da população.
Portanto, os dados de saúde se constituem em dados epidemiológicos. Vale
ressaltar que para a Asis, outros dados também podem ser utilizados, como
os demográficos, econômicos e os do meio ambiente.
Os dados podem ser classificados, ainda, segundo as suas fontes de
obtenção em primários e secundários, conforme ilustra a figura 4:

Figura 4 - Classificação dos dados segundo suas fontes de


obtenção.

Dados primários Dados secundários


quando são coletados aqueles coletados rotineiramente,
diretamente por questionários durante o registro da atividade
específicos. profissional.

Fonte: BONITA R. BEAGLEHOLE R. KJELLSTRÖM. Epidemiologia


Básica. 2ª ed. – Santos, São Paulo, 2010.

29
Esses últimos merecem um destaque especial, pois muitos deles estão
à nossa disposição no site do Departamento de Informática do Ministério da
Saúde, o DATASUS, e se constituem importantes elementos da Asis.

Quais são os dados de saúde que são


registrados rotineiramente no seu local de
trabalho? Eles alimentam algum sistema de
informação? Eles estão disponíveis para acesso
público?
Já destacamos a importância dos dados
secundários para a ASIS, mas você sabe
identificar os principais dados produzidos pelo
sistema de saúde brasileiro?

Vamos começar pelo sistema de informação mais antigo, o Sistema de


Informação sobre Mortalidade (SIM), que como o nome já diz, produz dados
sobre as mortes ocorridas no Brasil. Cada ocorrência de óbito no território
nacional deve ser registrada e comunicada às autoridades de saúde (secretarias
municipais e estaduais de saúde e ao Ministério da Saúde). Esse sistema é
responsável por coletar e disseminar esses registros, gerando dados como
a causa e o local do óbito, bem como dados sobre a idade, sexo e raça/cor
do indivíduo falecido (BRASIL, 2009).
Esses dados podem fornecer um retrato importante sobre quantas
pessoas morrem em cada município, estado e no país; quais as principais
causas de morte e quais grupos etários tem maior risco de morrer por essas
causas; permitem também o cálculo da expectativa da população e outras
possibilidades de análise. A tabela 1 mostra algumas variáveis disponibilizadas
pelo SIM, contribuindo para a análise da situação de saúde no Brasil.

30
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Tabela 1 - Percentual de óbitos e taxa de mortalidade específica (por 100 mil hab.) por causa
específica para homens e mulheres, segundo faixa etária. Brasil, 2015.
Faixa
Masculino Feminino
Etária

Causa % Taxa Causa % Taxa


Acidente de transporte
Homicídio 43,2 38,0 13,1 3,8
terrestre
Acidente de transporte
14,1 12,4 Homicídio 10,5 3,1
terrestre
5 a 19 anos

Neoplasia maligna linfático-


Afogamentos acidentais 4,7 4,1 5,0 1,5
hemático
Eventos de intenção
2,7 2,4 Influenza e pneumonia 3,7 1,1
indeterminada
Suicídio 2,7 2,3 Suicídio 3,6 1,1
Homicídio 35,1 93,3 Homicídio 8,3 6,9
Acidente de transporte Acidente de transporte
16,2 42,9 8,1 6,8
terrestre terrestre
20 a 39 anos

Doença pelo vírus da


Suicídio 4,1 10,9 6,0 5,0
imunodeficiência humana/HIV

Doença pelo vírus da


Doenças durante gravidez,
imunodeficiência humana/ 3,8 10,1 5,3 4,4
parto ou puerpério
HIV
Eventos de intenção
2,8 7,5 Doenças cerebrovasculares 4,0 3,4
indeterminada
Doenças cardíacas
10,6 69,9 Doenças cardíacas isquêmicas 8,4 29,8
isquêmicas
Cirrose e outras
6,5 42,9 Doenças cerebrovasculares 8,0 28,5
hepatopatias
40 a 59

Acidente de transporte
5,9 39,0 Câncer de mama 6,9 24,7
terrestre
Homicídio 5,9 38,9 Diabetes 5,1 18,2

Doenças cerebrovasculares 5,4 35,9 Câncer de útero 3,9 13,8


Doenças cardíacas
11,2 439,0 Doenças cerebrovasculares 10,2 313,8
isquêmicas
60 e mais anos

Doenças cerebrovasculares 9,7 381,1 Doenças cardíacas isquêmicas 9,3 287,7

Influenza e pneumonia 7,2 280,4 Influenza e pneumonia 8,5 261,3


Doença pulmonar
5,3 208,8 Diabetes 6,7 207,0
obstrutiva crônica
Diabetes 5,0 195,1 Hipertensão 5,4 166,5

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e
os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2018. 426 p.

31
Outra importante fonte de dados para a saúde é o Sistema de Informações
sobre Nascidos Vivos, o Sinasc. Ele é responsável por gerar dados de cada
nascido vivo no território nacional e contribui para informar parâmetros da
saúde do bebê ao nascer, a assistência pré-natal da mãe, características do
parto e o deslocamento das parturientes para obter assistência (BRASIL, 2009).
Na figura 5 você pode observar a utilização dos dados do Sinasc na
Asis. Os gráficos descrevem a situação dos partos cesáreos entre diferentes
grupos populacionais; primeiramente por região do país, seguidos pelas
categorias de escolaridade, cor da pele/raça e faixas etárias. Os dados
auxiliam a direcionar políticas que visem à redução do excesso de partos
cesáreos ocorridos no Brasil.
Figura 5 - Proporção de nascimentos por parto cesáreo, segundo região, cor
da pele/raça, escolaridade e idade da mãe. Brasil, 2013.
100 100
Região Escolaridade
83,8
80 80
61,4 62,7 62,2
56,7 56,3
60 60
49,9
% 46,1 % 42,4
40 40 34,8

20 20

0 0
N NE SE S CO BR 0a3 4a7 8 a 11 12 e +

100 100
Cor da pele/raça Idade
80 80
68,3 67,7 70,0 68,4
58,5 60,2
60 50,0 60
49,6 50,5
% %
40,7 41,8
40 40

18,9
20 20

0 0
Branca Preta Amarela Parda Indígena <15 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40 e +

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2014: uma análise da


situação de saúde e das causas externas. Brasília: Ministério da Saúde,
2015. p. 34.

O adoecimento também é registrado nas ações rotineiras dos serviços


de saúde. Um dos sistemas de informações responsáveis pelo processamento
desses dados é o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que
gera dados sobre doenças como dengue, febre amarela, tuberculose, entre

32
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

outros agravos que devem ser obrigatoriamente informados às autoridades


sanitárias. Uma outra forma de obter dados sobre a morbidade é utilizando
o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), que fornece dados sobre as
internações realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2009).
A figura 6 mostra a distribuição da incidência da febre pelo vírus Zika
por município de residência no ano de 2016. Podemos observar que, no
acumulado dos registros até a semana epidemiológica 49, os municípios
do Centro-Oeste e do Nordeste apresentavam maior concentração de
casos notificados. A partir desses dados, os gestores podem tomar medidas
preventivas contra a doença, como garantir assistência adequada à população
acometida. Os dados também são importantes para as equipes de saúde,
que devem ficar mais vigilantes aos casos surgidos com as características
da febre pelo vírus Zika.

Figura 6 - Incidência (/100 mil hab.) de febre pelo vírus Zika por município de
residência, até a Semana Epidemiológica 49. Brasil, 2016.

Incidência
0,0
0,0 --| 300,0
300,0 --| 500,0
500,0 --| 1.000,0
1.000,0 --| 3.000,0
3.000,0 --| 16.269,8

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Monitoramento dos casos de


dengue, febre de chikungunya e febre pelo vírus Zika até a Semana
Epidemiológica 49, Boletim epidemiológico, v. 47, n. 38. 2016. p. 9.

33
Vimos algumas das principais fontes de dados geradas de forma
contínua pelos serviços de saúde no Brasil. O SUS conta ainda com outros
sistemas de informação que geram dados relevantes para a Asis, e o melhor,
muitos deles estão disponíveis para acesso público.
Como você pode perceber, os dados gerados pelos serviços de saúde
brasileiros são uma fonte importante para gerar conhecimento sobre a
realidade sanitária das populações. Mas eles não são os únicos. O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fornece dados relevantes para a
saúde, que são os dados demográficos. Essa instituição é responsável, por
exemplo, pela contagem de toda a população brasileira, que ocorre a cada
dez anos.

A contagem periódica de todas as pessoas de um país é chamada


censo populacional. Ela permite saber o ritmo do crescimento
de uma população, os fluxos de migrações internacionais e os
deslocamentos internos do país e permite, ainda, a elaboração
das pirâmides etárias.

PARA SABER MAIS!

Você pode conhecer mais sobre o censo populacional


acessando o site do IBGE. Nele, você pode encontrar
os dados das pesquisas desenvolvidas por esse órgão
governamental, incluindo o último censo realizado no
país, em 2010.
Na publicação "Saúde Brasil 2015/2016: uma análise
da situação de saúde e da epidemia pelo vírus Zika e
por outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti"
há um capítulo intitulado “Como nascem os brasileiros:
uma análise do perfil epidemiológico dos nascidos
vivos e mães a partir dos eventos ocorridos em 2014”
(página 29) indicado para leitura sobre aspectos acima
discutidos.

34
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Sugerimos a leitura do documento Monitoramento dos


casos de dengue, febre de chikungunya e febre pelo
vírus Zika até a Semana Epidemiológica 7 de 2018,
publicado pela SVS/MS.

RETOMANDO O CASO DO MUNICÍPIO “CÉU AZUL”

Agora, podemos retomar a situação apresentada anteriormente e


compreender a importância da Asis para o município de Céu Azul:
Segundo BRASIL (2015), a Asis objetiva produzir informação e
conhecimento útil para orientar a ação em saúde coletiva. Sua prática é
relevante para os diversos níveis de decisão, permitindo a utilização das
informações e do conhecimento produzido nas atividades de planejamento,
definição de prioridades, alocação de recursos, avaliação dos programas
implementados, entre outras.
Um dos principais instrumentos para a realização da Asis é a utilização
de fontes de dados secundários, pois esse tipo de dados, principalmente
aqueles originados de sistemas contínuos de informação nacionais no Brasil
(ex.: SIM, Sinasc etc.), podem gerar atributos relevantes da Asis, tais como:
oportunidade e continuidade das análises, precisão e validade externa dos
achados, simplicidade de uso das bases de dados e menor custo, respeitabilidade
dos dados, entre outros (BRASIL, 2015).
Além disso, como ganho secundário, pode-se destacar a retroalimentação
dos sistemas de informação em saúde em um processo circular de uso dos
dados que produz crítica, qualidade, mais uso dos dados e assim por diante
(BRASIL, 2015).

Considerando tais aspectos, você consegue pensar em outras fontes


de informações importantes para a Asis?

2.3 Comportamento e tendências das variáveis demográficas

Os dados do censo são fundamentais para a análise de saúde, pois


permitem identificar o padrão etário da população e a situação dos domicílios

35
onde as pessoas residem, bem como auxiliam a estimar o tamanho e o
crescimento da população de um município ou estado.

De que forma os dados demográficos auxiliam


na Asis? Como esses dados podem gerar
informações sobre as necessidades de saúde
das pessoas?

Os dados demográficos nos revelam que a população brasileira está


passando por um processo de envelhecimento nas últimas décadas. A figura
7 traz essa informação na forma de pirâmides etárias.

Figura 7 - Pirâmides etárias brasileiras e projeções, por sexo, para os anos de 1970, 1991, 2010 e
2050. Brasil, 2013.

PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 1970


80+
75 a 79
Homens
Mulheres
70 a 74
65 a 69
60 a 64
55 a 59
50 a 54
45 a 49
40 a 44
35 a 39
30 a 34
25 a 29
20 a 24
15 a 19
10 a 14
5a9
0a4

10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000

PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 1991

36
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 1991


80+
75 a 79
Homens
Mulheres
70 a 74
65 a 69
60 a 64
55 a 59
50 a 54
45 a 49
40 a 44
35 a 39
30 a 34
25 a 29
20 a 24
15 a 19
10 a 14
5a9
0a4

10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000

PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 2010


90+
85 a 89 Homens
80 a 84 Mulheres
75 a 79
70 a 74
65 a 69
60 a 64
55 a 59
50 a 54
45 a 49
40 a 44
35 a 39
30 a 34
25 a 29
20 a 24
15 a 19
10 a 14
5a9
0a4
10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000

PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 2050

37
PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 2050
90+
85 a 89 Homens
80 a 84 Mulheres
75 a 79
70 a 74
65 a 69
60 a 64
55 a 59
50 a 54
45 a 49
40 a 44
35 a 39
30 a 34
25 a 29
20 a 24
15 a 19
10 a 14
5a9
0a4
10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000

Fonte: IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção da população por sexo e
idade: Brasil 2000-2060 Unidades da Federação 2000-2030. Rio de Janeiro: IBGE, 2013.

A base da pirâmide representa as faixas etárias mais jovens, enquanto


as camadas superiores representam as faixas etárias de maior idade. No
censo populacional de 1970, observamos uma base alargada e um topo
estreito. Nas décadas seguintes, o padrão se altera, passando a apresentar um
alargamento nas faixas etárias adultas, e a projeção para 2050, por sua vez,
apresenta uma clara inversão da pirâmide, com base estreita e topo alargado.
Esse fato tem implicações diretas para a saúde, uma vez que a
população mais envelhecida passa a sofrer mais de doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT), características do processo de envelhecimento. Por
outro lado, o perfil de morbimortalidade era bem distinto na primeira metade
do século passado, quando as doenças infecciosas e parasitárias (DIP) eram
responsáveis por importante parcela dos óbitos. Essa característica, somada
a altas taxas de mortalidade infantil (TMI), fazia com que a expectativa de
vida fosse de apenas 43 anos de idade em 1940 (IBGE, 2017). Para efeitos
comparativos, a expectativa de vida calculada para o ano de 2010 era de 73
anos de idade (IBGE, 2011).
A mudança no perfil da morbimortalidade da população, deixando
de apresentar predominância das DIP para serem substituídas pelas DCNT,
é denominada “transição epidemiológica”. Esse fenômeno foi descrito

38
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

inicialmente para o continente europeu, que experimentou a transição


epidemiológica nos séculos XVIII e XIX.
Algumas razões elencadas como causas para a redução da mortalidade
pelas DIP passam por melhorias das condições gerais de vida e pelo
desenvolvimento das tecnologias médicas. Ainda no século XVIII, algumas
medidas implementadas nos países mais avançados àquela época geraram
melhorias nas condições de saúde da população, no entanto, sem estarem
ligadas diretamente à assistência à saúde. O esgotamento sanitário, a
canalização da água e a limpeza urbana significaram importantes intervenções
para a redução da mortalidade pelas DIP.
Durante as décadas que se seguiram à Revolução Industrial na Europa,
foi experimentado um intenso desenvolvimento tecnológico, inclusive na área
médica. O fim do século XVIII e a primeira metade do século XIX constituíram-
se um período importante no enfrentamento das doenças infecciosas, com o
desenvolvimento de vacinas – para a prevenção das doenças – e a descoberta
da penicilina – para o tratamento dos indivíduos doentes.
Com a redução da mortalidade experimentada nesse período,
observou-se um aumento na expectativa de vida da população. É exatamente
essa alteração na duração da vida, somada aos estilos de vida modernos
pós-Revolução Industrial, que desloca as DCNT para o protagonismo do
adoecimento e morte da população. Além do incremento na expectativa
de vida, a redução da mortalidade impulsionou o aumento populacional,
uma vez que a taxa de natalidade ainda permaneceu em níveis elevados no
período inicial da Revolução Industrial.
Após a consolidação do estilo de vida urbano-industrial, com o
desenvolvimento de métodos contraceptivos e a intensificação da participação
da mão de obra feminina no mercado de trabalho, a natalidade sofre grande
queda, alterando a dinâmica populacional para baixos níveis de crescimento,
ou mesmo crescimento nulo. A dinâmica populacional aqui observada é
denominada “transição demográfica”.

39
PARA SABER MAIS!

Muitos livros de Epidemiologia trazem a discussão da


transição epidemiológica e demográfica. Aprofunde
os seus estudos sobre o tema consultando os
seguintes livros: Epidemiologia de Roberto Medronho,
Epidemiologia e Saúde de Naomar de Almeida Filho
e Mauricio Barreto e Epidemiologia e Saúde de Maria
Zélia Rouquayrol.

A transição demográfica é dividida em quatro fases e cada uma delas


apresenta características distintas (PEREIRA, 1995). Você pode visualizar
essas fases com suas respectivas características na figura 8.

Figura 8 - Fases e características da transição demográfica.


1ª Fase (Pré-industrial) 2ª Fase (Intermediária)
As famílias experimentavam altas Altas taxas de natalidade persistem,
taxas de natalidade, mas as condições mas a mortalidade decresce com a
de vida e saúde geravam uma alta melhoria das condições de vida e o
mortalidade. Observa-se um baixo desenvolvimento da medicina. Há um
crescimento populacional. grande aumento populacional.

Principais características: Principais características:


Ambiente rural; Industrialização e urbanização;
Modelo familiar de produção; Melhorias nas condições ambientais e
Muitos filhos; de saúde;
Muitas mortes: baixa expectativa Queda da mortalidade e natalidade
de vida. ainda alta.

3ª Fase (Intermediária) 4ª Fase (Moderna ou Pós-transição)


O estilo de vida urbano-industrial
gera uma natalidade decrescente, Sociedade em que há baixa
e mantém-se a baixa mortalidade, natalidade e baixa mortalidade.
características que geram um Característica de estabilização
crescimento em ritmo menos populacional.
acelerado.
Principais características:
Principais características: Mortalidade baixa;
Modelo familiar de consumo; Natalidade baixa;
Mulher no mercado de trabalho; Estabilidade populacional.
Cultura e economia;
Natalidade começa a cair.

Fonte: Adaptado de: PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e prática. Guanabara Koogan, Rio de
Janeiro, 1995.

Apesar de contemplar termos gerais para a compreensão da dinâmica


populacional europeia, as transições não ocorreram ao mesmo tempo e com
as exatas características dos países desenvolvidos. Países menos desenvolvidos

40
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

demoraram um tempo maior para iniciar essa transição, outros ainda estão no
processo e são descritos como países de transição tardia. Simultaneamente,
muitos desses países realizaram uma transição mais acelerada, como é o caso
do Brasil, que iniciou sua transição apenas no século XX, mas completou o
processo em um tempo menor do que os países europeus.
A figura 9 mostra a evolução da mortalidade no Brasil, pelo conjunto
das principais causas, desde 1930. Observe a elevada proporção de óbitos
por doenças infecciosas no início do período analisado e sua redução ao
longo das décadas. Por outro lado, os grupos de causas consideradas DCNT
aumentaram sua importância na mortalidade. Não podemos deixar de
destacar também as causas externas como importante fator de morte no país.

Figura 9 - Mortalidade proporcional no Brasil, 1930-2005. Brasil, 2008.


100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1985 1990 1995 2000 2003 2005
Infecciosas e Parasitárias Neoplasias Causas Externas Aparelho Circulatório Outras Doenças

*Até 1970, os dados referem-se apenas as capitais

Fonte: MALTA, D.C. Vigilância, Controle e Prevenção de Doenças não Transmissíveis.


2017. Disponível em: <http://www.epi2008.com.br/apresentacoes/MESA_
REDONDA_23_09_15H45_pdf/Deborah%20Carvalho%20Malta.pdf>.

A aceleração do processo de transição, portanto, tem implicações para


a demanda de políticas governamentais. Afinal, como preparar os serviços de
saúde para uma demanda cada vez maior de pessoas com idade avançada,
com necessidades de saúde crescentes? Deve-se destacar que outros setores
também devem se adequar ao novo perfil demográfico, como é o caso da
assistência social e da previdência. Todas essas políticas devem ser pensadas
considerando, ainda, o tempo menor experimentado pelo Brasil para toda

41
essa mudança no perfil demográfico e epidemiológico em relação processo
ocorrido em países desenvolvidos. Esses são desafios que o Brasil enfrenta
atualmente e são derivados, entre outras coisas, do processo de transição
demográfica.
Você já tinha parado para pensar como os dados demográficos são
importantes para a área da saúde? Agora você já sabe que a Asis utiliza
não só dados sobre a saúde da população, mas também dados sobre
crescimento populacional e sobre a estrutura etária. Mas não acaba por
aqui. Outra importante contribuição dos dados demográficos para a Asis é a
contextualização das condições de vida das populações. Vimos anteriormente
que a renda, as condições de moradia e o nível educacional são alguns dos
determinantes sociais da saúde. Esses determinantes são mensurados a
partir das informações geradas pelo IBGE por intermédio de suas pesquisas.
Portanto, algumas necessidades de saúde podem ser estimadas a partir
desses dados, sendo de fundamental importância a sua incorporação na Asis.

RETOMANDO O CASO MUNICÍPIO DE CÉU AZUL

CENA 2 - Reunião Seguinte do Conselho Municipal de Saúde de Céu Azul

Após coletar os dados disponíveis do município nas diversas fontes de


informação (Sistemas de Informação de Saúde - SIS, inquéritos populacionais
do IBGE e trabalhos acadêmicos das instituições de ensino superior localizadas
na região onde o município se encontra), a Comissão apresentou características
de saúde de Céu Azul aos demais conselheiros:
Céu Azul se estende por uma área de 435 km² e segundo as estimativas
do último censo, possui 37.689 habitantes. Destes, 91% vivem na área urbana
e 9% na zona rural, sendo a faixa etária mais prevalente dos 20 aos 34 anos de
idade. Ainda segundo o censo, a população economicamente ativa constitui-se
de 19.786 pessoas, sendo a média de renda mensal domiciliar de R$ 876,00.
E segundo dados do Ministério do Trabalho, as atividades do setor industrial
representam o maior número de ocupações, com 6.328 pessoas.
Segundo dados da própria Secretaria Municipal de Saúde de Céu Azul, a
rede de atenção à Saúde do Município dispõe de um hospital de pequeno porte,

42
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

19 equipes de Saúde da Família, todas com equipes de Saúde Bucal, dois Núcleos
de Apoio à Saúde da Família (Nasf), um Centro de Especialidades Odontológicas
(CEO), um Pronto Atendimento, um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), uma
clínica de fisioterapia, uma farmácia, uma central de agendamentos, um Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e um almoxarifado. O município
mantém convênio com um hospital geral, laboratórios de análises clínicas, clínicas
de diagnóstico por imagem e algumas especialidades médicas que o município
não comporta.
Segundo os dados coletados no DATASUS, o município apresenta uma
taxa de mortalidade infantil de 10 por mil nascidos vivos. Além disso, no último
ano aconteceram 67 óbitos no município, sendo 20 óbitos por causas externas
(14 por acidentes de trabalho) e 47 óbitos prematuros por doenças crônicas não
transmissíveis. Além disso, as principais causas de internações no município foram
doenças do aparelho circulatório e aparelho respiratório, sendo este último mais
prevalente na faixa etária infantil.
Após a apresentação da comissão, os conselheiros perceberam que o
planejamento anterior de Mário não estava condizente com os problemas de
saúde mais prevalentes em Céu Azul e que era necessário refazê-lo para otimizar
as ações de saúde do município.

Você acredita que essas informações servirão de subsídio para o


planejamento das ações de saúde de Céu Azul? Como elas poderão
auxiliar essas ações?

A informação constitui-se em suporte básico para toda atividade humana


e deve criar uma decisão que, por sua vez, desencadeará uma ação. Por isso,
pode-se dizer que há um consenso de que não é possível exercer gerência em
nenhum setor social se não houver um sistema de apoio à decisão que se sustente
na informação (BRASIL, 2015).
Portanto, a finalidade da informação em saúde consiste em identificar
problemas individuais e coletivos do quadro sanitário de uma população,
propiciando elementos para análise da situação encontrada e subsidiando a
busca de possíveis alternativas de encaminhamento. Dessa forma, o âmbito das
informações em saúde não se restringe ao setor de saúde em si, tendo interação
com sistemas de informação de outros setores (BRASIL, 2015).

43
PARA SABER MAIS!

Para obter um retrato da saúde e dos seus


determinantes no Brasil, o Ministério da Saúde,
em parceria com o IBGE, desenvolveu um inquérito
denominado Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). Ao
consultar os resultados dessa pesquisa, você poderá
observar que o foco do Ministério da Saúde é sobre as
DCNT e os fatores de risco relacionados a elas, já que o
Brasil vivencia os efeitos das transições epidemiológica
e demográfica. A partir da análise da PNS, portanto,
políticas públicas podem ser desenvolvidas para a
prevenção das doenças e para a melhoria da assistência.

44
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

3 ASIS E PRIORIZAÇÃO EM POLÍTICAS


PÚBLICAS

3.1 Priorização: definição e aplicabilidade

No mundo moderno, com frequência, nos


queixamos da falta de tempo para realizar
todas as atividades que desempenhamos e
aquelas que desejaríamos realizar. Muitas
vezes, a impressão que temos é que são
poucas horas para tantas atividades em um
dia. Isso faz com que tenhamos que escolher
quais delas serão realizadas durante aquele
dia e quais serão postergadas para um outro
momento. Provavelmente, você já passou
por uma situação semelhante a essa, não é
mesmo?

No momento em que você escolheu faltar a aula de música para


estudar para uma prova importante, ou desmarcou uma reunião de trabalho
para realizar um check-up na saúde, você estabeleceu prioridades para as
suas ações.
Nos casos mencionados, vimos que algumas atividades foram colocadas
em primeiro lugar devido a sua importância,
necessidade ou mesmo urgência na situação.
Muito provavelmente você não precisaria
fazer esse tipo de escolha se o seu dia tivesse
horas suficientes para cada uma das ações
a serem realizadas.
Mas não é só no gerenciamento da
agenda diária que precisamos fazer escolhas.
No nosso cotidiano, nos deparamos com

45
outras situações em que precisamos priorizar. Vamos pensar no orçamento
doméstico: às vezes sonhamos em fazer uma bela viagem de férias, mas as
economias da família obrigam você a fazer uma escolha difícil entre realizar
a reforma da casa ou viajar para aquele lugar tão desejado. Mais uma vez
temos que decidir o que é mais necessário, urgente, importante.
A discussão sobre o orçamento domiciliar nos ajuda a lembrar que
as ações de promoção e restabelecimento da saúde das pessoas mobilizam
diferentes recursos, entre eles os financeiros. Na área da saúde as demandas
são crescentes, assim como a pressão para a elevação dos custos envolvidos
no processo do cuidado.
Devemos lembrar também que os recursos disponíveis não aumentam,
necessariamente, na mesma proporção. Como resultado, podemos ter um
desequilíbrio entre a expectativa da população e a capacidade de resolução
dos problemas de saúde por parte dos governos. Para modificar essas
realidades e manter o equilíbrio social, são necessárias, portanto, políticas
públicas (SARAVIA, 2006).
Segundo Saravia (2006), política pública tem diferentes abordagens
conceituais:

Sob um enfoque mais operacional seria

[...] um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões,


preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade
de um ou vários setores da vida social, por meio da definição de objetivos
e estratégias de atuação e da alocação dos recursos necessários para
atingir os objetivos estabelecidos (SARAVIA, 2006, p. 29).

Segundo o mesmo autor, as políticas públicas


também podem ser vistas como
[...] estratégias que apontam para diversos fins, todos eles, de alguma
forma, desejados pelos diversos grupos que participam do processo
decisório. A finalidade última de tal dinâmica – consolidação da
democracia, justiça social, manutenção do poder, felicidade das
pessoas – constitui elemento orientador geral das inúmeras ações que
compõem determinada política (SARAVIA, 2006, p. 28).

Observamos no primeiro conceito que a política pública compreende


decisões públicas que buscam manter ou modificar a realidade social da
população. Para isso, necessita da definição de objetivos e estratégias para
alocar os recursos de forma que a atuação da política atinja seus objetivos.

46
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Aqui, podemos identificar o importante papel da Asis em fornecer subsídios


para os gestores, contribuindo para identificar os problemas sociais, assim
como para a priorização das ações.
No segundo conceito, destaca-se a participação dos diversos grupos
de interesse no processo decisório. Cabe, então, ao conjunto de atores que
tomam as decisões garantir o bem-estar da população, embora devamos
considerar que muitas vezes essas finalidades são conflituosas entre os
grupos de poder.
No mundo atual, é função predominantemente estatal a definição
das políticas públicas de saúde, uma vez que “a função de proteger e
promover a saúde e o bem-estar dos cidadãos é uma das mais importantes
do Estado moderno [...]” (ROSEN, 1994). Com isso, cabe a ele a escolha das
ações prioritárias para atender às necessidades de saúde da população. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) define a política de saúde como:

Um posicionamento ou um procedimento estabelecido por instituições


oficiais competentes, notadamente governamentais, que definem as
prioridades e os parâmetros de ação em resposta às necessidades de
saúde, aos recursos disponíveis e a outras pressões políticas (WHO,
1998 p. 10, grifo nosso, tradução nossa).

PARA SABER MAIS!

Para saber mais sobre os conceitos que envolvem a política


pública, sugerimos a leitura do texto "Introdução à Teoria
da Política Pública", de Enrique Saravia.

A Análise de Situação de Saúde (Asis) é uma ferramenta que auxilia


os gestores e profissionais de saúde na tomada de decisões, e isso inclui a
racionalização para elencar prioridades, uma vez que fornece informações
relevantes sobre as necessidades de saúde da população e sobre a oferta
de serviços. Ela pode, então, ser entendida como um dos instrumentos
que fornece informações e conhecimentos científicos em um movimento
que gera ação, propiciando aos gestores que definam políticas baseadas

47
em evidências (DUARTE; MORAIS NETO, 2015). Veja na figura 10 o ciclo da
produção de evidências e respostas.

Figura 10 - Tomada de decisão baseada em evidências: ciclo da produção de evidências e


respostas.
Disseminação oportuna (em Formulação e implementação de
tempo, espaço, linguagem) do respostas informadas pelas
conhecimento evidências

Outras fontes de
influência atuando
continuamente (a favor
ou contra): valores,
Interpretação da informação capacidade institucional,
produzida = conhecimento sustentabilidade política,
técnica e financeira entre
outras

Análise: Análise da Situação de


Saúde, Vigilância e Avaliação em Adequados Sistemas de Informação
Saúde, Pesquisas e de Monitoramento

Fonte: DUARTE, E. C.; MORAIS NETO, O. L. Introdução à Análise de Situação de Saúde. In: BRASIL.
Ministério da Saúde. Asis - Análise de Situação de Saúde. v. 1. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, 2015. p. 10.

Contudo, para cumprir seu papel de proteção social a política de saúde


deve se integrar a diversos setores e atores sociais, como gestores e atores
políticos governamentais e empresas, a indivíduos e grupos comunitários,
ou ainda a consumidores e prestadores de serviço (FLEURY; OUVERNEY,
2012). Se a Asis oferece uma racionalidade técnica para o estabelecimento
de prioridades na política de saúde, é verdade também que as prioridades
emergem a partir do poder político dos diferentes setores sociais e de sua
capacidade de influenciar as decisões por dentro do sistema político.
O estabelecimento de prioridades orientado a criar um conjunto de
intervenções favoráveis recomendadas é uma parte essencial da formulação
de políticas inspiradas em evidências científicas; entretanto, é só o começo
do processo. As recomendações devem estimular a aceitação de dirigentes
ou políticos que tomam as decisões (OMS, 2016).
Em resumo, a racionalidade técnica não é o único critério para se
estabelecer prioridades em uma política pública, apesar de ser um elemento
essencial, pois fornece informações relevantes sobre o objeto de determinada
política. Diversos interesses entram em cena no momento da definição das

48
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

políticas que devem ser implementadas em determinado local.

Você já vivenciou uma situação onde a


racionalidade técnica foi ignorada e a tomada
de decisão foi influenciada por outros fatores?
Como isso ocorreu? Reflita sobre como e por
que essa situação ocorreu.

Na área da saúde, podemos visualizar alguns exemplos onde a


racionalidade técnica não consegue influenciar diretamente uma política
pública. Quando um bairro pobre e carente de equipamentos sociais poderia
receber uma Unidade Básica de Saúde e o gestor opta por comprar mais
uma ambulância; ou quando a contratação de profissionais de saúde não
segue um critério técnico.
Contudo, longe de diminuir a importância da Asis para a definição de
políticas públicas de saúde, pretendemos mostrar que, sem uma racionalidade
técnica, é possível que as decisões sejam sempre tomadas por critérios e
interesses diversos, muitas vezes conflitantes com a necessidade real da
população. Além disso, para entrar na agenda governamental, é fundamental
que um determinado problema seja bem definido, pois, sem isso, diminuem
as chances de sua resolução por meio de uma política pública.
Como citado anteriormente, para a OMS a política pública de saúde é
responsável por definir as prioridades e os parâmetros de ação em resposta
às necessidades de saúde. Ou seja, antes de definirmos as ações, precisamos
identificar as reais necessidades de saúde da população. Mas o que são
necessidades de saúde? Como identificar essas necessidades?
As necessidades de saúde são um conceito relativo, pois dependem
de quem as define. Envolve diferentes aspectos da vida dos indivíduos e
coletividades, tais como cultura, política, economia, entre outros fatores.
Necessidade pode ser entendida como um distúrbio da saúde ou do
bem-estar, que tem potencial para gerar uma demanda ao sistema de saúde.
A necessidade pode ser percebida pelo paciente ou pode ser identificada por
profissionais de saúde (nesse caso, pode ser chamada de necessidade clínica).
De outra forma, pode ser vista como uma diferença entre a situação real de

49
saúde, no momento em que é examinada, e a situação ideal (PEREIRA, 1995).
Você pode acompanhar na figura 11 um fluxograma que indica as
relações entre necessidades, demanda e utilização dos serviços de saúde,
de forma que essa relação poderá ter um impacto positivo ou negativo
na saúde. As caixas em vermelho indicam as necessidades de saúde dos
indivíduos, que podem ser por uma alteração percebida no seu estado de
saúde ou por uma vontade de manter-se saudável (por meio de atitudes
preventivas, por exemplo).

Figura 11 - Relações entre as necessidades de saúde e o processo de atendimento.


Percepção de
alterações na
saúde
Demanda por
atendimento
Desejo de manter a
saúde e prevenir a
doença
Utilização de Impacto na saúde
serviços de saúde atual ou futura
Decisões políticas e
disponibilidade de
recursos
Oferta de serviços
Técnicas de
planejamento e
gerência de serviços

Fonte: Adaptado de: PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1995.

São as necessidades que fazem com que os sujeitos busquem


atendimento, e esse movimento de busca é chamado de demanda. As
demandas, por sua vez, geram a utilização dos serviços de saúde pelas pessoas
ou, pelo menos, a tentativa de uso. Isso porque a utilização depende, entre
outras coisas, de como são ofertados esses serviços.

50
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Você já vivenciou uma situação onde a


sua demanda de saúde (ou de uma pessoa
conhecida) não foi atendida? Por qual motivo
a demanda não foi atendida?
A demanda pode ser atendida quando o
sujeito consegue acesso ao serviço de saúde
e realiza sua consulta, exame, ou consegue
pegar preservativos na unidade, por exemplo.
Ou a demanda pode ser reprimida, quando as
pessoas enfrentam filas e não conseguem as
“fichas” de atendimento, quando ficam meses
no aguardo para a realização de um exame, ou
simplesmente não conseguem medicamentos
na sua unidade.
Em ambas situações, as necessidades de
saúde foram identificadas e se tornaram
demandas, uma vez que geraram o movimento
das pessoas em busca de atendimento nos
serviços disponíveis. Dessa forma, os serviços
de saúde disponíveis deveriam cumprir o seu
papel de atender à população e de serem
resolutivos, ou seja, deveriam resolver os
problemas de saúde das pessoas.

Para ofertar serviços que busquem manter ou melhorar o nível de


saúde da população de acordo com suas necessidades, é indispensável
conhecer o seu perfil de morbidade. Mas também, existem outros fatores
que determinam a oferta de serviços, pois, como já vimos, muitos interesses
são diversos no jogo político, o que gera pressão sobre como os serviços
serão ofertados.
O diagrama das relações entre as necessidades de saúde e o processo
de atendimento mostra que a oferta de serviços depende da decisão política
e dos recursos disponíveis e de como são planejados e geridos os serviços.

51
Esses determinantes, por sua vez, sofrem influência de diversos setores
da sociedade. O sistema de saúde brasileiro, por exemplo, que tem como
fundamento a universalidade, também abriga a livre iniciativa de empresas de
saúde. Isso faz com que a oferta de serviços seja dada de diferentes maneiras.
Há no Brasil uma forte concentração na oferta de serviços em
centros urbanos, sobretudo no Sudeste do país. Esses locais apresentam
uma concentração de clientes potenciais e, sobretudo, entre aqueles que
podem pagar pelos serviços (diretamente ou por meio de seguros de saúde
privados). A figura 12 ilustra essa situação: no mapa à esquerda podemos
ver áreas mais claras, que concentram um número maior de mamógrafos,
correspondendo principalmente aos estados do Sul e Sudeste. No mapa da
direita, as áreas claras correspondem a uma proporção maior de usuárias
que não precisam se deslocar para outras regiões de saúde para realizar o
exame. As regiões Norte e Nordeste apresentam uma proporção maior de
mulheres (azul mais escuro) que precisam se deslocar para realizar suas
mamografias. A oferta de serviços diminuída nessas áreas pode dificultar o
acesso aos procedimentos.

Figura 12 - Distribuição de mamógrafos por habitantes e mamografias


realizadas fora da região de saúde de residência. Brasil, 2015.
Distribuição de mamógrafos

Mamógrafos por habitantes (por 100 mil Hab.)

(89)
3,29
(87)
2,63
(86)
1,93
(89)
1,17
(87)
0 500 km
Fonte: CNES

52
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Mamografias realizadas

Mamógrafos real. fora da RS de Resid. (%)

(116)
50
(55)
25
(75)
10
(192)
0
(0)
Fonte: SIA-SUS
0 500 km

Fonte: PROADESS. Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde.


Mapas temáticos. 2017. Disponível em: <http://mapas.
proadess.icict.fiocruz.br/pub/>.

Por outro lado, houve uma forte expansão da interiorização de serviços


de saúde, como é o caso da Estratégia de Saúde da Família, que possibilitou
o acesso aos serviços primários de saúde a uma parcela importante da
população do interior do país, incluindo a população rural. Veja na figura 13
que a cobertura da Estratégia de Saúde da Família é maior nas regiões Norte
e Nordeste. Essa é uma importante política pública que visa à ampliação
do acesso a uma população com acesso limitado aos serviços de saúde.
Aqui, a política implementada pode corrigir desigualdades, promovendo a
equidade do acesso.

53
Figura 13 - Cobertura da Estratégia de Saúde da Família por Regiões de
Saúde. Brasil, 2010.

Cobertura pela Estratégia Saúde da Família (%)

(170)
90
(72)
80
(99)
60
(50)
40
(47)
0 500 km

Fonte: PROADESS. Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde.


Mapas temáticos. 2017. Disponível em: <http://mapas.
proadess.icict.fiocruz.br/pub/>.

Os dois exemplos mostram que a oferta de serviços pode seguir


diferentes lógicas, no primeiro caso a iniciativa privada segue a lógica do
mercado e, no segundo caso, uma política pública foi desenhada para atender
às necessidades de uma população que vivenciava dificuldade no acesso aos
serviços de saúde.
É indispensável, portanto, que as técnicas de planejamento sejam
utilizadas para organizar a oferta de serviços e orientar suas ações para
satisfazer as necessidades da sociedade. Com isso, busca-se melhorar a
oferta, de forma a equilibrá-la com a demanda pelos serviços. Não se deve,
portanto, perder de vista que a finalidade última de um sistema de saúde é
melhorar a saúde e promover o bem-estar da população.

54
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

PARA SABER MAIS!

Você faz parte de uma equipe de gestores que deve escolher


em qual localidade deverá ser implantado um serviço de
saúde. Considerando a escassez de recursos, qual das
populações abaixo seria beneficiada?

a) A população de um local com precárias condições


sanitárias, piores condições socioeconômicas, elevado
número de doenças infectocontagiosas e mortalidade
precoce por doenças cardiovasculares.

Ou

b) Uma população com condições de habitação e de


saneamento mais favoráveis, maior nível de emprego,
renda e escolaridade. População mais idosa e, com isso,
predominância das doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT).

Temos exemplos de breves análises de situação de saúde de duas


populações distintas. Elas devem ter diferentes necessidades de saúde, o que
nos permite imaginar que os serviços a serem oferecidos devem considerar
esses perfis. A oferta do serviço em questão deverá considerar quem está
implantando o serviço. Se estamos falando de gestores da iniciativa privada
que não tenha vínculo com o SUS e cujo objetivo é a lucratividade, é provável
que a escolha fosse a implantação de um serviço na localidade B. Já se a
oferta for pela administração pública, que tem como um dos seus objetivos
a equidade, seria mais justo se a unidade de saúde fosse implantada na
localidade A.
Observe que a tomada de decisão em saúde é um fenômeno complexo
e depende de diversos fatores, sendo que alguns deles fogem da nossa
capacidade de decisão. Mas no nosso cotidiano, podemos planejar ações com
base em evidências, a partir das informações que possuímos, e aqui a Asis é
uma ferramenta potente para priorizar as ações e racionalizar as decisões.
Além das informações de morbidade e mortalidade, os gestores e

55
profissionais podem utilizar outros enfoques para construir a análise de
situação. O enfoque de risco, por exemplo, auxilia na priorização de ações
na área da saúde. Esse enfoque se baseia na diferença de probabilidade de
adoecimento entre as pessoas e grupos populacionais. São as circunstâncias
do ambiente ou características dos indivíduos, herdadas ou adquiridas, e
que se associam à maior probabilidade de adoecimento, o que chamamos
de “fatores de risco”.
Esse enfoque permite determinar prioridades em função das maiores
necessidades de um grupo em relação a outro. Para que o enfoque de risco
funcione, pelo menos duas condições devem ser preenchidas (PEREIRA, 1995):

a) Que o grau de risco possa ser medido.

b) Que o atendimento diferencial aos grupos de risco resulte em


maior benefício às pessoas.

Na próxima seção, discutiremos de forma mais aprofundada a


importância de se identificar as desigualdades em saúde, os grupos que
são mais vulneráveis e suscetíveis ao adoecimento, para então promover
políticas de saúde mais equitativas.
Para compreender melhor a importância da Asis para entendimento
dos determinantes sociais da saúde de uma população, vamos analisar o
caso do município de Riacho Encantado:

Município Riacho Encantado

Riacho Encantado é um município de pequeno porte, que dispõe


de uma população de 7.422 habitantes, área de 499,40 km² e densidade
demográfica de 13,06 habitantes por km².
Desde que foi eleita, a atual gestão municipal de saúde tem tentado
implantar ações de saúde para reduzir a prevalência das doenças mais comuns
entre as crianças na idade escolar, evitando assim o número de faltas durante
o ano letivo e melhorando o desempenho escolar.
Para isso, a secretária de Saúde do município, Ana Luiza, criou uma
equipe para analisar os possíveis determinantes da saúde de crianças nesta

56
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

faixa etária.
Nessa perspectiva, o grupo formado juntamente com as equipes da
Estratégia Saúde Família (ESF) fez um levantamento de informações sobre as
condições de vida e de saúde dessa população. E após realizar o levantamento
dos dados, Ana Luiza e sua equipe obtiveram os seguintes resultados:
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Riacho Encantado
é 0,51 e o índice de Gini é de 0,629. Atualmente, 75,1% de sua população
vive abaixo da linha da pobreza (população vivendo com renda domiciliar
per capita inferior a R$ 140,00).
Ao analisar as doenças mais comuns no público-alvo, verificou-se
maiores prevalências de parasitose intestinal (42%), seguida da anemia
ferropriva (11%) e doenças respiratórias (4%). Em relação às características
demográficas e socioeconômicas dessas crianças, observou-se que a maioria
é do sexo masculino (58%) e que 72,5% foram declaradas como pretas, pardas
ou mulatas pelos pais. Além disso, entre todas as crianças com idade escolar
do município apenas 71,8% estão matriculadas no ensino fundamental.
Outro aspecto observado foi que a maioria dos responsáveis das crianças
apresenta escolaridade até o ensino fundamental (63%, pais, e 78%, mães).
Em relação às suas condições de moradia, observou-se a presença de
rede de água e esgoto em apenas 46% dos domicílios. Também vale ressaltar
que aproximadamente 38% das residências não possuíam filtros e faziam
uso de água não tratada para o consumo.
A equipe, ao analisar o acesso a equipamentos sociais, observou que
93,3% das famílias informaram ter supermercados, mercearias ou feiras livres
próximo às suas residências, 51% frequentam algum centro religioso, sendo
a maioria católica (88,5%), e 10% das mães afirmam frequentar a associação
de moradores, embora 56,4% das famílias tenham afirmado dificuldades
no acesso a espaços de lazer. Outro aspecto citado pelos moradores foi o
baixo acesso às unidades de saúde por terem dificuldades para a marcação
de consultas.
E por fim, ao analisar o acesso à informação a equipe observou que a
proporção de moradores com acesso à televisão é de 89%, a telefone celular
é de 76,1% e a computador com internet é de 3,2%.
Imagine que você faz parte do grupo que está analisando os dados

57
do município de Riacho Encantado. Utilizando como fio condutor o modelo
proposto por Dahlgren e Whitehead (figura 14), reflita:

Como seriam organizados os determinantes socais da saúde dessas


crianças?

3.2 Desigualdades em saúde

A expectativa de vida para quem nasce em um


país da África pode ser 30 anos menor que a
expectativa de vida de um bebê que nasce na
Europa. A taxa de mortalidade por doenças
cardiovasculares entre negros pode ser 50%
maior que a de brancos, como acontece nos
Estados Unidos. A taxa de mortalidade infantil
(TMI) pode ser quase o dobro na Região Norte
do Brasil em relação à encontrada no Sul do
país. As disparidades em saúde podem ser
encontradas também dentro de uma mesma
cidade, onde a expectativa de vida pode variar
mais de 20 anos entre áreas mais pobres e
áreas com população mais rica (MARMOT,
2007; CDC, 2013; BRASIL, 2014).
Você já parou para pensar sobre essas
diferenças nos resultados de saúde entre as
populações? Quais seriam as causas para essas
disparidades?

Difícil imaginar que essas diferenças em saúde se deem unicamente


por herança genética, por questões estritamente biológicas. De fato, não
está no âmbito biológico a resposta para a mortalidade infantil no Norte
do país ser maior do que no Sul. Afinal, a mortalidade infantil vem sendo
drasticamente reduzida no país nas últimas décadas como resultado de
diversas melhorias nas condições de vida na população. O Nordeste brasileiro,
que sempre sustentou a maior TMI no Brasil, deu lugar à região Norte como

58
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

líder em mortes infantis.


Aqui estão algumas pistas para desmistificarmos que as diferenças de
saúde apresentadas são devidas unicamente a uma fragilidade genética ou
fisiológica de uma população em relação à outra. Com esse exemplo, você pode
observar que o padrão da expectativa de vida, ou das taxas de mortalidade,
segue na direção de penalizar os grupos socialmente mais vulneráveis. As
desigualdades de saúde, assim apresentadas, são socialmente construídas a
partir das relações humanas e entre o homem e o meio em que vive.
Essas diferenças entre os grupos populacionais, determinadas entre
outras coisas pela posição geográfica, pela cor da pele e/ou pela renda das
pessoas e famílias, “têm origem em grande parte devido às condições nas quais
as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem” (CDSS, 2010).
Quando as diferenças em saúde são sistemáticas, socialmente produzidas
e injustas (e, portanto, modificáveis), são denominadas iniquidades em saúde.
As iniquidades são geradas a partir da distribuição desigual dos fatores que
determinam a saúde da população, tais como renda, educação, emprego,
moradia, lazer e meio ambiente (WHITEHEAD; DAHLGREN, 2006). Portanto,
descortinam-se as razões para as diferenças de saúde entre as populações
que foram apresentadas no início desta seção.
O interesse em investigar as desigualdades em saúde vem crescendo
nas últimas décadas, juntamente com o aumento dessas desigualdades em
boa parte do mundo. O reflexo da preocupação com o tema pode ser visto
na criação da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde dentro da
Organização Mundial da Saúde em 2005, e aqui no Brasil, com a instituição
de uma comissão nacional com objetivos similares.
Como objetivos gerais, a Comissão da OMS buscava consolidar as
evidências científicas produzidas sobre tema e promover um movimento
global para alcançar a igualdade na saúde. Se por um lado o movimento ainda
não conseguiu impulsionar a redução das desigualdades, por outro mostrou
que as evidências sobre a determinação social da saúde são convincentes e
em um volume que deveria mobilizar os gestores e políticos para a equidade
em saúde.
Dahlgren e Whitehead propuseram um modelo teórico que auxilia na
explicação da determinação social. O esquema apresenta os diferentes níveis

59
de determinação social, desde a camada mais externa, onde visualizamos
as condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais, até a mais
proximal ao indivíduo, correspondendo aos fatores hereditários e outras
características pessoais, como idade e sexo. Veja na figura 14 esse modelo
de determinação social da saúde.

Figura 14 - Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e


Whitehead.

ICAS, CULTURA
NÔM IS E
ECO AM
C IO BI
SO CONDIÇÕES EN
S DE VIDA E TA
E I
Õ DE TRABALHO

S
Ç

G
I

AMBIENTE DE
ND

ER
TRABALHO DESEMPREGO
CO

AI
IS E COM
CIA

S
U
SO NI
S TÁ
E VIDA DOS IN
DE DI ÁGUA E ESGOTO
D

EDUCAÇÃO
LO VÍ R
RE

TI D IA
ES

UO

S
SERVIÇOS
S

SOCIAIS
DE SAÚDE
PRODUÇÃO
AGRÍCOLA E DE
ALIMENTOS
HABITAÇÃO
IDADE, SEXO
E FATORES
HEREDITÁRIOS

Fonte: DAHLGREN; WHITEHEAD apud SUCUPIRA et al., 2014.

Esse modelo de determinação considera os diversos fatores que


contribuem para a saúde dos indivíduos e das populações. Na camada mais
externa da figura 14, as condições socioeconômicas atuariam sobre a saúde
da população de forma que os níveis de renda e de riqueza determinariam
melhor ou pior saúde. Você pode observar um exemplo de como os diferentes
níveis de riqueza podem gerar diferentes resultados em saúde no quadro 1.

Quadro 1 - Expectativa de vida masculina em diferentes países.

País Expectativa de vida ao nascer


b
Reino Unido, Escócia, Glasgow (Calton) 54
Índia 62
Estados Unidos, Washington DC
c 63
(afroamericanos)
a
Filipinas 64

60
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

a
Lituânia 65
a
Brasil 68
a
Polônia 71
a
México 72
a
Estados Unidos 75
a
Cuba 75
a
Reino Unido 77
a
Japão 79
a
Islândia 79
Estados Unidos, Condado de Montgomery
c 80
(caucasianos)
b
Reino Unido, Escócia, Glasgow (Lenzie N.) 82
a) Dados do país: 2005 dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2007c); b) Dados
recolhidos entre 1998 - 2002 (Hanlon, Walsh & Whyte, 2006); c) Dados recolhidos entre 1997
- 2001 (Murray et al., 2006).

Fonte: CDSS. Redução das desigualdades no período de uma geração. Igualdade na


saúde através da acção sobre os seus determinantes sociais. Relatório Final
da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde. Portugal, Organização
Mundial da Saúde, 2010.

O quadro mostra as diferenças na expectativa de vida ao nascer


entre os países e mesmo dentro deles (ver Reino Unido, Escócia, Glasgow e
os Estados Unidos). Vemos que os países desenvolvidos apresentam maior
expectativa de vida em relação aos países menos desenvolvidos (caso de
Índia e Brasil). Mas essa diferença também aparece dentro dos países, onde
as regiões mais ricas apresentam maior expectativa de vida do que as áreas
mais pobres – Washington DC (afroamericanos) e Condado de Montgomery
(caucasianos) nos Estados Unidos. A exceção é Cuba, que apesar de ser um
país de renda baixa, possui características políticas peculiares, onde há oferta
de saúde universal e um sistema de proteção social estatal.
No Brasil, a diferença de renda pode determinar maior ou menor
mortalidade na infância, além das diferenças entre as regiões. Observamos
que apesar da redução da mortalidade entre os anos de 1990 e 2005, as
diferenças entre os 20% mais pobres (1º Quintil) e os 20% mais ricos (5º
Quintil) ainda persistem, bem como as diferenças regionais. Veja no gráfico
2 essas diferenças:

61
Gráfico 2 - Taxa de mortalidade na infância, por quintis de renda familiar per capita, segundo região.
Brasil, 1990/2000/2005.
120,0

1990 1º Quintil
100,0 1990 5º Quintil
2000 1º Quintil
2000 5º Quintil
80,0 2005 1º Quintil
2005 5º Quintil

60,0

40,0

20,0

0,0
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Fonte: IBGE, 2005 apud CNDSS, 2008.

As “Condições de vida e de trabalho” (figura 14) também determinam


a saúde da população. Nesse nível, encontramos diferentes fatores, entre
eles a educação. A situação de saúde pode ser bem distinta a depender de
quantos anos de estudos o indivíduo possui. Além disso, a educação também
influencia a saúde dos outros membros da família, como você pode verificar
no gráfico 3.

Gráfico 3 - Diferença das taxas de mortalidade infantil entre países e nos países, pela educação da mãe.
160
Taxa de mortalidade infantil por 1000 nados vivosz

140
120
Sem educação
100
80
60
40
Secundária ou mais elevada
20
0 ia ia e s as a to ia os é ia al a ia r iti al h ia ia o es ia to a ja o ui ia er a ia é e e
b ân am ura in an Egi és oc bu tre Nep Gan olív asca Ha neg des uén tióp ong arõ zân eso and bod Fas alá mb Níg and igér Guin had biqu
lôm Jord ietn ond Filip inic on arr ba Eri B ag Se ngla Q E C m an L ng m ina M Zâ Ru N C m
Co V H om Ind M Zim ad Ba Ca da T U Ca urk oç
a
D M B
lic
a
n ida M
b
e pú i caU
R bl

Re

Dados de Inquéritos Demográficos e de Saúde (IDS, s.d.) da STATcompiler. A linha escura contínua representa a taxa de mortalidade infantil média nos países; os pontos
nas extremidades das barras indicam a taxa de mortalidade infantil para mães sem educação e mães com educação secundária ou mais elevada.

Fonte: CDSS. Redução das desigualdades no período de uma geração. Igualdade na saúde através da
acção sobre os seus determinantes sociais. Relatório Final da Comissão para os Determinantes
Sociais da Saúde. Portugal, Organização Mundial da Saúde, 2010.

62
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

O gráfico 3 mostra que a mortalidade infantil sofre influência tanto


do país em que é medida como da educação da mãe. No caso do Congo, a
taxa pode variar de 60 óbitos infantis por mil nascidos vivos para mães com
instrução até próximo a 140 mortes por mil nascidos vivos entre aquelas
sem instrução.
O Brasil também apresenta diferenças importantes na escolaridade
das mulheres, o que pode implicar piores condições de saúde da população.
Observamos no gráfico 4 a diferença de escolaridade por região brasileira.

Gráfico 4 - Mulheres de 15 a 49 anos analfabetas funcionais (menos de 4 anos de estudo), segundo


região. Brasil, 1991/2000/2005.
50,0
44,9
45,0
39,2 1991
40,0
2000
35,0 2005
29,6 30,9
30,0
26,3 27,1
25,0 22,1 22,1
19,2 20,3
20,0
16,1 16,8
15,0 12,3 13,5 12,9

10,0 8,4 8,4 8,4

5,0

0,0
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fonte: IBGE, 2005 apud CNDSS, 2008.

63
Imagine que na sua área de atuação, existem
algumas famílias cujas mulheres não têm
instrução. Elas têm idade fértil e algumas já
estão grávidas. Sabendo que essas mulheres
não costumam fazer suas consultas pré-natal,
como garantir uma assistência adequada à
mãe e ao bebê?
Retornamos à discussão do “enfoque de risco”,
que foi tema do fim da seção anterior. Temos
na situação acima famílias em situação de
vulnerabilidade, e as evidências mostram que
esses grupos têm maior risco de adoecimento
e de mortalidade. Elas não podem receber o
mesmo tratamento dado a famílias com alto
grau de instrução e de renda, ao contrário,
devem receber maior atenção das equipes de
saúde. Certamente essas famílias deveriam
receber visitas domiciliares, em vez de a
equipe aguardá-las nos serviços, bem como
receber maior atenção da gestão, a qual
deve ser responsável por articular ações
intersetoriais que garantam a cidadania e o
bem-estar dessas pessoas.

Outro fator determinante da saúde da população é a oferta dos serviços


de saúde, que podem ou não garantir o seu acesso para a resolução dos
problemas de acordo com suas necessidades. Vimos na seção anterior, que há
uma concentração de serviços e equipamentos de saúde em grandes centros
urbanos, pois a lógica de mercado muitas vezes se sobrepõe à necessidade
de saúde de uma parcela importante da população.
Para reduzir as desigualdades em saúde, é importante que políticas
públicas sejam desenhadas a fim de corrigir injustiças geradas pelos diversos
fatores sociais e econômicos (como é o caso da Estratégia de Saúde da

64
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Família). As desigualdades na oferta de serviços geram dificuldades para o


acesso da população que está sob maior risco de adoecimento.
Os gráficos 5 e 6 mostram como a oferta de serviços deve se basear
nas necessidades de saúde, ou pelo menos se guiar no enfoque de risco,
para possibilitar um acesso adequado aos que mais precisam dos serviços
e corrigir desigualdades em saúde.

Gráfico 5 - Proporção (%) de mulheres de 25 anos ou mais de idade que realizaram, alguma vez, exame
preventivo para câncer de colo uterino, por anos de estudo. Brasil, 2003.
100
93,1
87,0 87,9
90
81,5
80
72,6
70

60
55,8

% 50

40

30

20

10

0
Sem instrução 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos 15 ou mais
e menos de
1 ano
Anos de estudo
Fonte: IBGE, 2005 apud CNDSS, 2008.

Podemos observar no Gráfico 5 que as mulheres com menos escolaridade


acessam menos os serviços para a realização de exames preventivos do colo
do útero. Destacamos que a mortalidade para o câncer do colo do útero é
maior em mulheres com esse perfil, uma vez que costumam ser diagnosticadas
tardiamente.
O gráfico 6 mostra que quanto menor a escolaridade (sem instrução e
fundamental incompleto), menor a proporção de mulheres com sete e mais
consultas de pré-natal. É importante para gestores e profissionais de saúde
utilizarem essas informações para direcionar as ações para grupos prioritários,
com o intuito de diminuir ou eliminar as desigualdades em saúde.

65
Gráfico 6 - Proporção de nascidos vivos, segundo número de consultas pré-natal, por escolaridade da
mãe. Brasil, 2014*.
Escolaridade ciclos/séries
Fundamental Médio
Nº de consultas Sem instrução completo completo Superior
e fundamental Total
e médio e superior Completo
incompleto incompleto incompleto
Nenhuma 1,2 0,5 0,4 0,1 0,6
consulta
1-3 consultas 12,5 6,6 4,5 1,5 6,9
4-6 consultas 33,9 27,7 23,3 11,6 26,1
7 e + consultas 52,4 65,1 71,9 86,9 66,4
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2015/2016: uma análise da situação de saúde e da
epidemia pelo vírus Zika e por outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2016a. 386 p.

*Foram excluídos desta tabela 2,8% dos registros que possuíam número de consultas não informados ou
ignorados. Não foram apresentados os registros sem informação ou com informação ignorada de nível de
instrução (2,1% dos registros).

Além dos determinantes discutidos até aqui, outros fatores influenciam


a saúde da população. O ambiente de trabalho, por exemplo, pode ser um
estressor para os trabalhadores e gerar diversos problemas de saúde, com
destaque para os problemas mentais. O ambiente de trabalho também está
relacionado com o surgimento de doenças cardiovasculares, podendo causar
morte precoce por infarto ou acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo.
Da mesma forma, o ambiente onde as pessoas residem pode influenciar
o adoecimento e a morte precoce. Esse efeito sobre a vida das pessoas
acompanha os sujeitos por vários anos, mesmo após terem mudado para
lugares mais ricos. A diferença da expectativa de vida em algumas cidades
pode superar os 20 anos dependendo da região da cidade onde se vive
(MARMOT, 2016). Uma das ações para se reduzir as desigualdades com
relação à habitação é combater a segregação residencial, que empurra a
população mais pobre para a periferia das cidades, com menos infraestrutura
para oferecer bem-estar à população.
Seguindo os níveis causais apresentados no modelo de determinação
social da saúde, proposto por Dahlgren e Whitehead (figura 14), observamos
que as “Redes sociais e comunitárias” são determinantes da saúde. De fato,
quando há maior coesão social, envolvendo familiares, amigos e vizinhos,
há melhores resultados em saúde. Esse apoio é importante para a redução

66
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

da vulnerabilidade e risco de adoecimento, mas também para a reabilitação


das doenças já instaladas.
Por fim, apresentaremos a camada imediatamente acima dos
fatores mais proximais, tais como a herança genética, sexo e idade. São os
“estilos de vida dos indivíduos”, que determinam o surgimento de diversas
patologias. Interessante destacar que o estilo de vida dos indivíduos também
é determinado por outros fatores. Não é difícil imaginar que o tabagismo, o
consumo de álcool, a má alimentação e o sedentarismo são afetados por outras
condições sociais. Além disso, dependendo das condições socioeconômicas
dos indivíduos, o efeito desses fatores de risco pode ser ainda mais deletério,
com prejuízo à população mais pobre.
O hábito de fumar tem vários efeitos nocivos sobre a saúde, e o
consumo diário aumenta o risco de doença isquêmica do coração e AVC em
2-4 vezes e o risco de câncer de pulmão e doença obstrutiva pulmonar em
15-20 vezes (DIDERICHSEN et al., 2012). Veja no gráfico 7 as informações sobre
o uso do tabaco em diferentes grupos populacionais, com maior prevalência
entre homens e pessoas com baixa escolaridade.

Gráfico 7 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade usuárias atuais de produtos derivados do
tabaco, com indicação do intervalo de confiança de 95%, segundo o sexo, os grupos de idade,
a cor ou raça e o nível de instrução. Brasil, 2013.
%
40,0

19,2 19,4 20,2


17,8 16,6
15,0 16,4
13,2 13,3 13,1
11,2 10,7 10,4 8,8

0,0
Mulher

Preta

Sem instrução e

Fundamental completo
fundamental incompleto

e médio incompleto
Médio completo e
superior incompleto
Superior incompleto
Parda
Branca
Total

De 18 a 24 anos

De 25 a 39 anos

De 40 a 59 anos
Homem

De 60 anos ou mais

Intervalo de confiança

Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde
2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões e
Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014.

67
É importante destacar que há uma interação entre o tabagismo e
muitos outros fatores de risco para doença cardiovascular e câncer, os quais
também são socialmente influenciados. Isso traz implicações no impacto do
tabagismo, que se torna maior para os grupos sociais menos favorecidos.
Outro fator de risco importante para a saúde da população, e que
também foi objeto da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) em 2013, é o
consumo de álcool. O consumo de álcool implica em risco para várias doenças,
como cirrose hepática, câncer, doenças gastrointestinais, AVC, problemas
psiquiátricos, assim como violências e acidentes. Acompanhe no gráfico 8 os
padrões de consumo de álcool em diferentes grupos, com maior prevalência
entre homens e em pessoas jovens e, curiosamente, entre indivíduos com
maior escolaridade.

Gráfico 8 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que costumam consumir bebida
alcoólica uma vez ou mais por semana, com indicação do intervalo de confiança de 95%,
segundo o sexo, os grupos de idade, a cor ou raça e o nível de instrução. Brasil, 2013.
%
50,0

36,3
30,5
27,1 28,5 26,7 26,0
24,0 25,3 26,5
23,4 22,1
19,0
13,0 14,2

0,0
Mulher

Preta

Sem instrução e

Fundamental completo
e médio incompleto
Médio completo e
fundamental incompleto

superior incompleto
Superior incompleto
Parda
Branca
Total

De 18 a 24 anos

De 25 a 39 anos

De 40 a 59 anos
Homem

De 60 anos ou mais

Intervalo de confiança

Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde
2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões
e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014.

Por ser um importante fator de proteção para a saúde, a prática de


atividade física é objeto de investigação frequente em pesquisas e inquéritos.
O padrão dos grupos de atividade modifica de acordo com o domínio (se é
realizada no período de lazer, no trabalho, no deslocamento para o trabalho
ou em atividades domésticas), e é mais frequente entre pessoas de maior

68
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

escolaridade quando é realizada durante as horas de lazer, ao passo que


é mais comum entre grupos de baixa escolaridade quando a atividade é
executada no trabalho. Veja no gráfico 9 as informações sobre a prática de
atividade física por domínio.
Gráfico 9 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade fisicamente ativas, com indicação do
intervalo de confiança de 95%, por nível de instrução, segundo o domínio de atividade.
Brasil, 2013.
%
45,0
37,6
33,9 34,5
31,0
28,8
23,6 24,8

17,3 17,4
12,2 12,7 13,9 10,7
11,7 10,9

4,7

0,0
Lazer Trabalho Deslocamento Atividades domésticas

Sem instrução e fudamental incompleto Fundamental completo e médio incompleto


Médio completo e superior incompleto Superior completo

Intervalo de confiança

Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde
2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões e
Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014.

A atividade física é fator de proteção para diversos tipos de câncer, ao


passo que o sedentarismo é reconhecidamente fator de risco para doença
cardiovascular, obesidade e diabetes tipo 2.
Por fim, destacamos ainda outro fator de risco relevante, que é a má
alimentação. A dieta altera o risco para doença cardiovascular, sobrepeso
e diabetes, assim como diversos tipos de câncer, como oral, garganta,
esofágico, de estômago, retal assim como câncer de mama. Os gráficos 10
e 11 apresentam as diferenças na proporção de pessoas com alimentação
inadequada. Você pode verificar no gráfico 10 que em relação ao consumo
recomendado de frutas e hortaliças, quanto maior a escolaridade, maior a
proporção de pessoas que consomem a dieta recomendada. A proporção
de pessoas brancas com dieta de frutas e hortaliças adequada é maior do
que a de pretos e pardos.

69
Gráfico 10 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade com consumo recomendado de
hortaliças e frutas, com indicação do intervalo de confiança de 95%, segundo o sexo, os
grupos de idade, a cor ou raça e o nível de instrução. Brasil, 2013.
%
100,0

45,9
37,3 39,4 38,7 40,1 38,7 35,9 35,8 39,9
34,8 33,7 35,9 33,0 35,4

0,0
Mulher

Preta

Sem instrução e

Fundamental completo
fundamental incompleto

e médio incompleto
Médio completo e
superior incompleto
Superior incompleto
Parda
Branca
Total

De 18 a 24 anos

De 25 a 39 anos

De 40 a 59 anos
Homem

De 60 anos ou mais

Intervalo de confiança

Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde
2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões
e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014.

O gráfico 11 mostra que o consumo de proteínas com excesso de


gordura é maior entre os menos escolarizados e entre homens. Percebe-se
que, além dos demais determinantes que afetam a saúde da população com
menor status socioeconômico, os fatores de risco se tornam mais um ônus
para a saúde dos grupos mais vulneráveis.

70
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Gráfico 11 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que consomem carne ou frango com
excesso de gordura, com indicação do intervalo de confiança de 95%, segundo o sexo, os
grupos de idade, a cor ou raça e o nível de instrução. Brasil, 2013.
%
100,0

47,2
42,2
39,9 41,0 39,7 40,0
37,3 37,0 38,2
35,9 35,4
28,3 28,2 26,7

0,0
Mulher

Preta

Sem instrução e
fundamental incompleto
Fundamental completo
e médio incompleto
Médio completo e
superior incompleto
Superior incompleto
Parda
Branca
Total

De 18 a 24 anos

De 25 a 39 anos

De 40 a 59 anos
Homem

De 60 anos ou mais

Intervalo de confiança

Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde
2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões e
Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014.

Percebemos, então, que vários são os determinantes da saúde. Muitos


deles estão além das características pessoais de herança genética e outros
fatores biológicos. Os determinantes sociais da saúde (DSS) são distribuídos
desigualmente na sociedade, gerando o que se chama de iniquidade em saúde.
Os DSS devem, portanto, fazer parte da Asis, com vistas a contemplar
os grupos populacionais mais vulneráveis e gerar políticas públicas que
reduzam as desigualdades, promovendo justiça e bem-estar à população.

RETOMANDO O CASO DO MUNICÍPIO DE RIACHO ENCANTADO

Retomando a organização dos determinantes sociais da saúde das


crianças em idade escolar do município de Riacho Encantado e utilizando
como fio condutor o modelo proposto por Dahlgren e Whitehead, temos a
seguinte organização segundo as camadas do modelo, conforme figura 15
(SUCUPIRA et al, 2014; BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007):

71
Figura 15 - Organização dos DSS das crianças em idade escolar do município de Riacho Encantado
segundo modelo proposto por Dahlgren e Whitehead.

Nível 1 - Idade, sexo e fatores hereditários

• Na base do modelo de Dahlgren e Whitehead estão os indivíduos


com suas características individuais que influenciam o modo de viver
e adoecer (SUCUPIRA et al., 2014).
• No caso do Município de Riacho Encantado entre as crianças em
idade escolar a maioria são do sexo masculino e com cor da pele
preta, parda ou mulata.

Nível 2 - Estilo de vida dos indivíduos

• No segundo nível está o estilo de vida, o qual é uma camada situada


no limiar entre os fatores individuais e os DSS. Os comportamentos –
muitas vezes entendidos apenas como de responsabilidade individual,
dependentes de opções feitas pelo livre arbítrio das pessoas – na
realidade podem também ser considerados parte dos DSS, já que essas
opções estão fortemente condicionadas por determinantes sociais,
como informações, propaganda, pressão dos pares, possibilidades de
acesso a alimentos saudáveis e espaços de lazer (BUSS & PELLEGRINI
FILHO, 2007).
• No caso de Riacho Encantado, muitas famílias afirmaram não ter
acesso a espaços de lazer, o que pode prejudicar a prática de atividade
física. Além disso, muitas famílias afirmaram ter facilidade de acesso
à informação por meio televisivo.

Nível 3 - Redes sociais e comunitárias

• O terceiro nível destaca a influência das redes comunitárias e de


apoio cuja maior ou menor riqueza expressa o nível de coesão social,
que é de fundamental importância para a saúde da sociedade como
um todo (BUSS & PELLEGRINI FILHO, 2007). Os laços familiares e
religiosos formam importantes núcleos de apoio, pois a frequência a
esses espaços públicos constituem-se em mecanismos de socialização
e acesso às informações. A participação em grupos de igreja, grupos
de esporte, organizações fraternais e uniões trabalhistas é um dos
componentes mais fortemente relacionado à qualidade de vida e à
saúde (SUCUPIRA et al., 2014).
• Em Riacho Encantado, a maioria das famílias frequenta algum centro
religioso, e, em menor proporção, a associação de moradores.

72
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Nível 4 - Condições de vida e trabalho

• No quarto nível estão representados os fatores relacionados às


condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso
a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação, indicando
que as pessoas em desvantagem social correm um risco diferenciado,
criado por condições habitacionais mais humildes, exposição a condições
mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços
(BUSS & PELLEGRINI FILHO, 2007).
• No município de Riacho Encantado as características dos domicílios
refletem condições sanitárias precárias com dificuldades de acesso
à rede de água e esgoto e baixo consumo de água potável. Chama
atenção a baixa escolaridade dos pais dessas crianças. Além disso, a
baixa escolaridade dos pais tem grande repercussão no perfil escolar
das crianças, as quais apenas 71,8% estão matriculadas no ensino
fundamental. A utilização dos serviços de saúde é, em grande parte,
determinada pela disponibilidade dos serviços oferecidos. Em Riacho
Encantado muitos moradores relataram dificuldades na marcação
de consultas nas unidades de saúde municipais. E em relação à
disponibilidade de alimentos, a maioria das famílias afirmou ter fácil
acesso a supermercados, mercearias e feiras livres.

Nível 5 - Condições socioeconômicas, culturais e


ambientais gerais
• No último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados
às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade e
que possuem grande influência sobre as demais camadas (BUSS &
PELLEGRINI FILHO, 2007).
• Em Riacho Encantado foi possível observar um baixo IDH e um
baixo índice de Gini. Além disso, um alto percentual da população do
município vive abaixo da linha da pobreza. Destaca-se também neste
nível que a maioria das famílias do município são de religião católica.

A partir dessa análise, quais determinantes sociais da saúde


apresentados poderiam estar relacionados à alta prevalência
das doenças parasitárias entre as crianças escolares de Riacho
Encantado?

Segundo o Ministério da Saúde, em 2016, as doenças infeciosas e


parasitárias representaram a sexta causa de morbidade no país, totalizando
831 mil internações, o que corresponde a 7,36% da morbidade hospitalar
no período (DATASUS, 2017a).

73
Os efeitos patogênicos causados pelas infecções parasitárias exercem
importante influência sobre o estado nutricional, o crescimento e a função
cognitiva, principalmente nas fases precoces da vida (FERREIRA et al., 2004),
ocasionando quadros de má-absorção, diarreia crônica, anemia, desnutrição,
dores abdominais, dificuldade de aprendizado e concentração, atraso no
crescimento e baixo rendimento escolar (CASTRO et al., 2005; PITTNER et
al., 2007).
A prevalência de infecções por parasitos intestinais é um dos melhores
indicadores do status socioeconômico de uma população e pode estar
associada a diversos determinantes, como instalações sanitárias inadequadas,
poluição fecal da água e de alimentos consumidos, fatores socioculturais,
baixa escolaridade dos pais, contato com animais, ausência de saneamento
básico, além da idade do hospedeiro e do tipo de parasito infectante (ASTAL,
2004; GAMBOA et al., 2003).

PARA SABER MAIS!

Para aprofundar seu conhecimento sobre iniquidades em


saúde, sugerimos a leitura dos seguintes relatórios:

• As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil -


Relatório final da Comissão Nacional sobre Determinantes
Sociais da Saúde (CNDSS).
• Redução das desigualdades no período de uma geração:
igualdade na saúde através da ação sobre os seus
determinantes sociais - Relatório final da Comissão para
os Determinantes Sociais da Saúde.

Você pode acessar também o site Determinantes Sociais da


Saúde: portal e observatório sobre iniquidades em saúde.

74
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

3.3 A carga global de doenças no Brasil

Você deve ter observado que neste livro


utilizamos diversos exemplos de medidas
de saúde: taxa de mortalidade infantil
(TMI), mortalidade proporcional por causas,
incidência de doenças e outras. Se você parar
para observar com cuidado, esses indicadores
estão mais para medidas de doença do que
para saúde!

Historicamente, as medidas de mortalidade e, posteriormente de


morbidade, foram as mais utilizadas para a compreensão do processo saúde-
doença. As explicações para o uso predominante das “medidas de doenças”
resultam do fato de que os sistemas de saúde estão voltados, prioritariamente,
para o diagnóstico e tratamento de agravos à saúde e, portanto, os registros
obtidos no cotidiano dos serviços estão relacionados a doenças e óbitos.
Com a ampliação do conceito de saúde, tal como concebido pela
OMS – a qual considera a saúde como o estado de completo bem-estar
físico, mental e social –, outros atributos relacionados à saúde passaram a
ser buscados na hora de medir bem-estar. Qualidade de vida, funcionalidade
e saúde autorreferida são alguns exemplos de medidas que visam a mensurar
os aspectos positivos da saúde.
Outro aspecto gerou maior interesse dos investigadores na busca de
outros indicadores positivos de saúde. O aumento da expectativa de vida
resultante da transição demográfica e epidemiológica gerou não só acréscimos
aos anos vividos pelos indivíduos, mas também problemas oriundos das
doenças crônicas inerentes ao processo de envelhecimento.
Nesse contexto, o Banco Mundial patrocinou a criação de um
indicador que combinasse morbidade e mortalidade, e que fosse comparável
entre diferentes populações. Além disso, o indicador deveria propiciar aos
formuladores de políticas um comparativo entre os efeitos das diferentes
doenças que matam prematuramente e causam falta de saúde nas pessoas.

75
Esse estudo, denominado Carga Global de Doença (sua abreviação
vem do inglês Global Burden Disease – GBD), além de prover um cenário
comparável das causas de morte e invalidez em nível nacional ou internacional,
também calcula a carga de doenças atribuível a distintos fatores de risco. O
GBD também incorpora a prevalência de um fator de risco e o dano relativo
causado por esse mesmo fator (IMAS, 2013).
Veja na figura 16 como é mensurada a carga de doença:

Figura 16 - Mensuração da carga de doença.

efeito da mortalidade
Para mensurar a carga de doença, (anos de vida perdidos
o indicador utilizado é o DALY por óbito precoce)
(Disability Adjusted Life Years),
que significa anos de vida efeito da morbidade
ajustados por incapacidade, e (grau e tempo de
mede simultaneamente o: incapacidade devido a
uma dada patologia).
Portanto, um DALY equivale a 1 ano perdido de vida saudável.
Fonte: IMAS. Estudo de Carga de Doença Global: gerando evidências, informando
políticas de saúde. Seattle, WA: IHME, 2013.

A parcela da mortalidade é medida pelos “anos de vida perdidos”


(YLL – years of life lost) por morte prematura. Veja como isso pode ocorrer
no exemplo da figura 17:

Figura 17 - Exemplo didático sobre “anos de vida perdidos”.

Se em um país
a expectativa E um indivíduo Ele perdeu 30
de vida é de 80 morre aos 50 anos
anos
Fonte: UNA-SUS/UFMA.

76
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Já a parte da morbidade é medida pelos “anos vividos com incapacidade”


(YLD – years lived with disability). Medir a incapacidade é uma etapa mais
complexa, pois é necessário utilizar pesos para quantificar a perda de saúde.
Cada condição de saúde tem um peso, uma vez que uma dor lombar tem
impacto diferente de uma paraplegia na vida das pessoas. Como exemplo,
vejamos a figura 18:

Figura 18 - Exemplo de “anos vividos com incapacidade”.

Considerando
Um adulto que que a paraplegia
sofreu um Vivendo 50 tem peso 0,5,
acidente aos 30 anos nessa ele terá 25 anos
anos e ficou condição (50 x 0,5 = 25
paraplégico YLD) de perda
da qualidade
de vida

Fonte: UNA-SUS/UFMA.

O DALY pode ser calculado para indivíduos, mas para representar a


carga de doença é necessário somar os resultados de todos eles. O DALY pode,
portanto, representar o processo saúde-doença com um olhar voltado para a
qualidade de vida dos anos vividos por um indivíduo e, no seu conjunto, por
diferentes populações, mesmo utilizando dados de mortalidade e morbidade. A
carga de doenças, portanto, pode ser comparada entre diferentes populações,
como você pode observar no gráfico 12.

77
78

DALY (%) DALY (%)

Fonte: IMAS. Estudo de Carga de Doença Global: gerando evidências, informando políticas de saúde.

Gráfico 12 - A mudança no fardo por região desde morte prematura a anos vividos com invalidez, 1990
100

100
20

40

60

80

20

40

60

80
0

0
Seattle, WA: IHME, 2013.

e 2010.
ÁSIA – PACÍFICO DE RENDA ALTA ÁSIA – PACÍFICO DE RENDA ALTA

Anos de vida perdidos em decorrência de mortalidade prematura (YLLs)


Anos vividos com invalidez (YLDs)
EUROPA OCIDENTAL EUROPA OCIDENTAL

AUSTRALÁSIA AUSTRALÁSIA

AMÉRICA DO NORTE DE RENDA ALTA AMÉRICA DO NORTE DE RENDA ALTA

EUROPA CENTRAL EUROPA CENTRAL

SUL DA AMÉRICA LATINA SUL DA AMÉRICA LATINA

EUROPA ORIENTAL EUROPA ORIENTAL

LESTE ASIÁTICO LESTE ASIÁTICO

REGIÃO TROPICAL DA AMÉRICA LATINA REGIÃO TROPICAL DA AMÉRICA LATINA

REGIÃO CENTRAL DA AMÉRICA LATINA REGIÃO CENTRAL DA AMÉRICA LATINA

SUDESTE ASIÁTICO SUDESTE ASIÁTICO

ÁSIA CENTRAL ÁSIA CENTRAL

AMÉRICA ANDINA AMÉRICA ANDINA

NORTE DA ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO NORTE DA ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO

CARIBE CARIBE

SUL DA ÁSIA SUL DA ÁSIA

OCEANIA OCEANIA

ÁFRICA SUBSAARIANA MERIODINAL ÁFRICA SUBSAARIANA MERIODINAL

ÁFRICA SUBSAARIANA ORIENTAL ÁFRICA SUBSAARIANA ORIENTAL


ÁFRICA SUBSAARIANA CENTRAL ÁFRICA SUBSAARIANA CENTRAL
2010

1990
ÁFRICA SUBSAARIANA OCIENTAL ÁFRICA SUBSAARIANA OCIENTAL
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Podemos observar no gráfico a mudança na composição do DALY entre


os anos de 1990 e 2010. Naquele ano, as mortes prematuras compunham
a maior parte do indicador em todas as regiões. O padrão se modifica em
2010, sobretudo em países desenvolvidos, cuja maior expectativa de vida
gerou mais anos vividos, porém com aumento da invalidez.
Outra possibilidade gerada pelo GBD é a análise por causas de doenças
(ou grupos delas), onde o GBD permite visualizar o processo de transição
epidemiológica, apontando as principais causas de morte e incapacidade.
Dessa forma, auxilia os gestores na tomada de decisão para a implementação
de políticas de saúde (tabela 2).

Tabela 2 - Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade (DALYs, em milhares): todas as
idades, agregando os 187 países do estudo.

Causas 1990 2010

HIV/Aids 18.117 81.547


Doenças diarreicas 183.538 89.513
Infecções respiratórias do trato inferior 206.460 115.227
Desnutrição proteico-calórica 60.543 34.874
Câncer de mama 8.845 12.018
Câncer de próstata 2.352 3.787
Doenças isquêmicas do coração 100.473 129.820
Mal de Alzheimer e outras demências 5.695 11.349
Esquizofrenia 10.444 14.999
Depressão 46.139 63.179
Diabetes mellitus 27.706 46.823
Dor lombar e cervical 82.111 116.704
Acidente de transporte 56.655 75.482
Violência interpessoal 19.593 25.541

Fonte: Murray et al. (2012) apud Melo e Nogueira (2015).

Você pode verificar no gráfico 13 as características da mudança da carga


de doenças em países em desenvolvimento, fazendo um comparativo do ano
de 1990 até a estimativa para 2020. Fica clara a redução da participação das
doenças transmissíveis, ao passo que as não transmissíveis se consolidarão
como principal componente da carga de doenças. Destaca-se ainda o trauma
(acidentes e violências) com aumento na participação no GBD.

79
Gráfico 13 - Distribuição dos óbitos decorrentes de causas transmissíveis e não
transmissíveis em países em desenvolvimento, 1990 e projeção para
2020.
1990 2020
Grupo III
Grupo III Grupo I
(Traumas)
(Traumas) (Transmissíveis)
11%
13% 18%
Grupo I
(Transmissíveis)
42%
Grupo II (Não
Transmissíveis) Grupo II (Não
47% Transmissíveis)
69%

Fonte: Murray; Lopez, 1996 apud Gordis, 2010.

Para o Brasil, podemos observar o padrão da mudança gerada pela


transição epidemiológica no gráfico 14. São apresentados a carga total de
doenças e os seus componentes “anos de vida perdidos” por morte prematura
(YLL) e “anos vividos com incapacidade” (YLD). Podemos visualizar que o
grupo de causas não transmissíveis é responsável pela maior parte da carga
total de doenças, assim como seus componentes. Importante destacar os
anos de vida perdidos por traumas e doenças transmissíveis, que somados
chegam próximo a 35% do total.

80
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Gráfico 14 - Distribuição de YLL, YLD e DALY, segundo grandes grupos


de causas. Brasil, 2008.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
YLL YLD DALY
Grupo I (Transmissíveis) Grupo II (Não Transmissíveis) Grupo III (Traumas)

DALY: disability-adjusted life years – anos de vida perdidos ajustados por


incapacidade; YLD: years lost due to disability – anos de vida saudáveis
perdidos em virtude da incapacidade; YLL: years of life lost – anos de vida
perdidos em decorrência de morte prematura.
Grandes grupos: I − doenças infecciosas e parasitárias, condições maternas
e perinatais e deficiências nutricionais; II − doenças não transmissíveis; III −
causas externas (traumas).
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Métodos Aplicados aos Estudos de
Carga Global de Doença, Escola Nacional de Saúde Pública
Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz (LEITE et al., 2015).

O gráfico 15 mostra que há diferenças na distribuição das taxas de


DALY e seus componentes entre as regiões brasileiras, apontando que as
regiões Norte e Nordeste apresentam maior carga de doenças do que a
média nacional.

81
Gráfico 15 - Taxas ajustadas (por mil habitantes) de YLL, YLD e DALY, segundo regiões do Brasil,
2008.

250

200

150

100

50

0
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil

YLL YLD DALY

DALY: disability-adjusted life years – anos de vida perdidos ajustados por incapacidade; YLD: years lost due to
disability – anos de vida saudáveis perdidos em virtude da incapacidade; YLL: years of life lost – anos de vida
perdidos em decorrência de morte prematura.
Taxas ajustadas, tendo como padrão a população do Brasil, ambos os sexos, em 2008.

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Métodos Aplicados aos Estudos de Carga Global de Doença,
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz. (LEITE et al.,
2015).

Vemos, portanto, que a carga de doenças pode auxiliar na Asis de


distintas populações, pois permite a comparabilidade entre elas e contribui
para a identificação de populações menos saudáveis, contribuindo também
para a implantação de políticas públicas de saúde.

Mas vamos voltar a discussão do início dessa


seção, quando vimos que as mudanças
no perfil epidemiológico e a ampliação
do conceito de saúde geraram uma maior
demanda por medidas positivas de saúde, em
vez de se limitar às tradicionais medidas de
morbidade e mortalidade. Você acha que o
indicador DALY resolveu essa questão?

82
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Por combinar medidas de mortalidade e morbidade, podemos ver


que o DALY não é necessariamente uma medida positiva de saúde. Essa é
uma crítica que o indicador sofreu, além de ser questionada pelo método
de obtenção dos pesos para o cálculo YLD.
De qualquer forma, reconhece-se que o DALY representa uma importante
tentativa de se avançar a metodologia epidemiológica para superar o conceito
de risco e as medidas similares.

83
4 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES EM
SAÚDE

É por meio dos conceitos de informação e de sistemas de informação


em saúde que começaremos essa jornada no mundo dos dados em saúde,
a qual inclui a identificação dos principais sistemas de informações em
saúde (SIS) utilizados no Brasil. Conheceremos de forma mais aprofundada
o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações
sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan).

4.1 Os sistemas de informação em saúde no Brasil e sua importância para a


construção das Asis

Você já deve ter percebido que atualmente vivemos um momento de


grande produção e difusão de informações dos mais variados tipos, vindos
das mais variadas fontes. A internet contribui bastante para que um grande
volume de informações chegue até nós, seja por consulta aos portais de
notícias web, ou mesmo pelas redes sociais virtuais das quais fazemos parte.
Some-se a isso o conteúdo distribuído pelos meios tradicionais, como rádio,
TV e, os cada vez menos utilizados, jornais e revistas impressos.
Nesse contexto, um desafio que se impõe é conseguir filtrar tantas
informações, identificando as que são realmente relevantes e quais têm
qualidade e confiabilidade para serem utilizadas no nosso cotidiano, afinal,
com o aumento de informações disponíveis também cresceu as falsas
informações e aquelas com baixa qualidade e confiabilidade.

84
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Apesar de fazer parte do nosso cotidiano,


dificilmente paramos para pensar o que
realmente significa a palavra “informação”,
não é mesmo? Como iremos tratar
especificamente sobre SIS neste capítulo,
consideramos importante que você saiba mais
sobre o tema. Afinal, o que seria “informação”
e “sistema de informação em saúde”? É o que
veremos a partir de agora.

A informação pode ser entendida como o conhecimento obtido a partir


dos dados, ou o resultado da análise e combinação de vários dados. Isso
implica, necessariamente, em interpretação por parte do usuário (BRASIL,
2009a). Define-se informação, portanto, como o significado que o homem
atribui a um determinado dado, por meio de convenções e representações
(CARVALHO, 1998).
A informação constitui-se em suporte básico para toda atividade
humana, e todas as nossas atividades do dia a dia são um processo permanente
de informação. Quando sabemos, por meio da previsão do tempo, que a
temperatura será baixa ao longo do dia, temos um dado (normalmente
indicado numericamente e em graus Celsius). Esse dado, quando confrontado
com a nossa experiência prévia, indica que fará frio, o que nos leva a sair de
casa com agasalho. Na situação descrita, o dado (medido em graus Celsius)
virou uma informação (vai fazer frio) e que nos levou a uma ação (de nos
proteger utilizando agasalho).
A informação, portanto, é um instrumento essencial para a tomada de
decisões. No caso de instituições, empresas e organizações de diferentes tipos,
é necessário conhecimento para definir seus problemas, buscar alternativas
para solucioná-los, atingir metas e cumprir objetivos, e isto requer o uso da
informação. Pode-se dizer, então, que “há um consenso de que não é possível
exercer gerência em nenhum setor se não houver um sistema de apoio à
decisão que se sustente na informação” (CARVALHO, 1998).
Por se constituir no fator desencadeador do processo “informação-
decisão-ação”, a informação em saúde deve ser entendida como um instrumento

85
de apoio decisório, por meio do conhecimento da realidade epidemiológica,
socioeconômica, demográfica, bem como para o planejamento, gestão,
organização e avaliação na área da saúde.
E afinal, o que são sistemas de informação em saúde? A melhor forma
de pensarmos o tema talvez seja recorrendo a uma comparação bastante
útil: os sistemas que compõem o corpo humano. O sistema circulatório,
por exemplo, constitui-se de diferentes partes como as artérias, as veias e
o coração. Cada um desses componentes tem seu papel em levar o sangue
oxigenado pelos pulmões a todos os tecidos do corpo, e destes de volta ao
pulmão com sangue venoso, para ser novamente oxigenado.
Um sistema de informação também é formado por partes e, como o
sistema circulatório, que tem a sua finalidade de alimentar as células e tecidos
do corpo humano, também tem um fim comum. Um sistema de informação é
composto por coleta, armazenamento, processamento de dados e difusão de
informações, com a finalidade de, ao final desse processo, transformar dados
em informação (COELI et al., 2009). Tem potencial, portanto, de disponibilizar
o suporte necessário para que o planejamento, as decisões e as ações dos
gestores e profissionais de saúde não sejam baseados em dados subjetivos,
em conhecimentos ultrapassados ou em suposições (BRASIL, 2009a).
Um dos objetivos básicos do Sistema de Informação em Saúde (SIS) é
possibilitar a análise da situação de saúde considerando, necessariamente, as
condições de vida da população na determinação do processo saúde-doença
e, para isso, coleta dados da saúde e outros setores relevantes.
No Brasil, houve um grande esforço para a implantação e melhoria
de sistemas de informação em saúde nas últimas décadas. O Ministério da
Saúde, como coordenador do processo, desenvolveu sistemas nacionais
de informação sobre nascimentos, óbitos, doenças de notificação, atenção
hospitalar, ambulatorial e básica, orçamento público em saúde e outros.
Essa nova fase de desenvolvimento dos sistemas contribuiu para superar a
tradicional fragmentação das informações sobre saúde no Brasil, resultado da
atividade compartimentalizada das diversas instituições que atuam no setor.
No passado, as estatísticas de morbidade provinham principalmente de
serviços e programas verticais, como materno-infantil, saúde escolar, malária,
tuberculose, hanseníase e controle de poliomielite. Vários bancos de dados

86
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

existiam e refletiam o panorama e a tendência de cada evento. A década de


1970, contudo, foi um marco na mudança das estatísticas no Brasil, com a
promulgação da Lei Federal nº 6.015 de 1973, que regulamentou o registro
civil no país e atribuiu ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
a responsabilidade pelas estatísticas do registro civil. E em 1975, iniciou-se
o processo para a criação de um sistema de mortalidade nacional, o Sistema
Nacional sobre Mortalidade (SIM) (MELLO-JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009).
Embora a década de 1970 tenha apresentado uma evolução para
as estatísticas no Brasil, foi a partir dos anos 1990 que os sistemas de
informação se desenvolveram de forma mais intensa. Nesse período foram
criados o Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e o Sistema
de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Vamos conhecer um pouco mais sobre esses importantes sistemas
de informação do Brasil?

AGORA É COM VOCÊ!

No seu local de trabalho, onde há coleta de dados para a alimentação


de um sistema? A coleta é contínua ou esporádica? Faça uma busca
nos setores de um estabelecimento de saúde (pode ser hospital,
Unidade Básica de Saúde, Unidade de Pronto Atendimento, clínica
especializada) ou mesmo na Secretaria de Saúde para identificar os
sistemas que são alimentados com os dados gerados no cotidiano do
trabalho nessa unidade.
Se você trabalha ou já vivenciou o cotidiano de uma UBS, deve ter
visto o preenchimento de alguns formulários por parte de membros
das equipes, com dados do número de consultas, atividades educativas
desenvolvidas, entre outros. Essa coleta de dados faz parte do Sistema
de Informação em Saúde para a Atenção Básica. Outros exemplos podem
ser citados, como a notificação de casos de dengue e o necessário
preenchimento de um formulário ou ficha de notificação, o qual gera
dados para o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

87
4.2 Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)

A mortalidade se constituiu historicamente como um indicador


importante para avaliar a situação de saúde das populações. Na década de
1970, o Brasil deu importantes passos para consolidar o uso desses dados
no planejamento de políticas públicas, primeiramente com a Lei do Registro
Civil de 1973, a qual determina o IBGE como responsável pelos registros de
óbitos e nascimentos.
A função do IBGE, contudo, era de apresentar a contabilidade dos óbitos,
sem uma preocupação com as causas de morte. Essa função, eminentemente
epidemiológica, passou a ser uma preocupação do Ministério da Saúde, o
qual instituiu um grupo de trabalho em 1975 para discutir uma proposta de
um sistema de informação sobre mortalidade que unificasse as propostas
que já existiam em alguns estados.
Àquela altura, havia no país 43 diferentes modelos de atestados de
óbito, com formatos, número de vias, cores e informações diversas, bem
como com fluxos variados até chegar ao órgão de divulgação das estatísticas.
A partir de então, as diretrizes para um sistema de informação sobre a
mortalidade deveriam estabelecer: a) a adoção de um modelo único de
atestado de óbito para todo o Brasil, seguindo o modelo da Organização
Mundial da Saúde; b) a impressão dos formulários ficaria a cargo do nível
central, no Ministério da Saúde; c) o fluxo para a declaração de óbito seria
padronizado; d) o processamento dos dados seria também centralizado. Foi
em 1975 que o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) começou a
ser implantado em todo o país (MELLO-JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009).
A Declaração de Óbito (DO) é, portanto, o documento básico para a
instituição de um sistema sobre mortalidade e é uniforme para todo o país,
possibilitando a inclusão de variáveis por parte dos estados, mas com suas
características básicas padronizadas.

88
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Você pode visualizar o formulário da DO no


documento “Manual de Instruções para o
Preenchimento da Declaração de Óbito”,
produzido pelo Ministério da Saúde. Nele,
você pode observar as variáveis que compõem
o formulário básico distribuído pelo Ministério
da Saúde para os Estados, e destes para os
Municípios.

A DO é composta por nove blocos de informações de preenchimento


obrigatório. Veja no quadro 2 os blocos de preenchimento da DO e suas
características:

Quadro 2 - Blocos de preenchimento da Declaração de Óbito (DO) e suas características.


I – É a parte da DO que se destina a colher informações gerais sobre a identidade
do falecido e dos seus pais.
II – Esse bloco se destina a colher dados sobre a residência do falecido.

III – Ocorrência: visa a colher informações sobre o local onde ocorreu o óbito.

IV – É a parte da DO que coleta informações sobre a mãe e sobre o falecido, em


casos de óbito fetal ou menor de 1 ano.
V – Campos que buscam qualificar as condições e causas que provocaram o óbito.
Contempla o modelo internacional de Atestado de Óbito adotado pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), sendo fonte da Causa Básica do óbito e dos agravos que
para ela contribuíram.
VI – Tem como objetivo colher informações sobre o médico que assina a DO.
VII – Coleta informações sobre o provável tipo de morte de violências. É de
grande importância epidemiológica e se constitui num complemento ao Bloco V –
Condições e Causas do Óbito.
VIII – Visa a colher dados referentes ao Cartório de Registro Civil onde foi efetuado
o registro do óbito, bem como o número e data do registro. A responsabilidade
pelo seu preenchimento é exclusiva do Oficial do Registro Civil (Cartórios).
IX – Deverá ser preenchido no caso de óbito ocorrido em localidade sem médico.
Neste caso, seu preenchimento ficará a cargo do Cartório de Registro Civil.

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento


de Análise de Situação de Saúde. Manual de Instruções para o preenchimento da
Declaração de Óbito. Brasília: Ministério da Saúde, 2011a. 54 p. (Série A. Normas
e Manuais Técnicos). Disponível em: < http://svs.aids.gov.br/download/manuais/
Manual_Instr_Preench_DO_2011_jan.pdf >.

89
A DO é emitida em três vias de cores diferentes e são pré-numeradas.
Seu preenchimento deve ser realizado exclusivamente por médicos, exceto em
locais onde não existam esses profissionais, quando poderá ser preenchida
por oficiais de Cartórios de Registro Civil, sendo também assinada por duas
testemunhas.
Você pode verificar no fluxograma 1 o fluxo da Declaração de Óbito
para as duas situações mencionadas.

Fluxograma 1 - Fluxo da Declaração de Óbito.


Cartório de
Hospital Registro Civil

Preenche o documento Preenche o documento

1ª Via 1ª Via
2ª Via 2ª Via
3ª Via 3ª Via

Encaminha Arquiva
Encaminha Família

Secretaria
Secretaria Cartório de de Saúde
de Saúde Registro Civil

Arquiva

Fonte: BRASIL. Vigilância em Saúde. Para entender a gestão do SUS. Brasília, DF: CONASS, 2007. 278 p.
Coleção Progestores. Disponível em: <http://www.saude.mt.gov.br/arquivo/2926>.

A 1ª via (na cor branca) é encaminhada às secretarias municipais de


saúde e serão implantadas no software do SIM, de onde os dados, agora
informatizados, partem para a secretaria estadual correspondente e ao
Ministério da Saúde. Cabe a este último órgão, no entanto, a divulgação dos
dados referentes ao SIM.
Por se tratar de um sistema de informação de caráter epidemiológico,
o SIM dispõe de informações sobre as características de pessoa, tempo e
lugar, assistência prestada ao paciente, causas básicas e associadas de óbito,
que são extremamente relevantes. A análise dos dados do SIM permite a
construção de importantes indicadores para o delineamento do perfil de
saúde de uma região e, por isso, é muito utilizada no diagnóstico da situação

90
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

de saúde da população (BRASIL, 2009a).


Entre os indicadores que podem ser gerados a partir dos dados do
SIM, destacamos a Mortalidade Proporcional por causas, faixa etária, sexo;
o Coeficiente Geral de Mortalidade (CGM); a Taxa de Mortalidade Infantil;
Razão de Morte Materna; e o DALY. Detalharemos alguns desses indicadores
na próxima seção deste capítulo.
Apesar de muito importante para a Asis, os dados de mortalidade
apresentam problemas de qualidade e abrangência que acompanham o
SIM desde sua criação, mas que vem sendo superados constantemente
pela preocupação do Ministério da Saúde em aprimorar o sistema de forma
contínua. A cobertura do SIM, ou seja, sua abrangência, é heterogênea no
território nacional, sendo as regiões Norte e Nordeste as que apresentam
menor regularidade do envio de informações e a menor contagem de óbitos
em relação às demais regiões do país. Você pode observar a diferença de
cobertura do SIM na figura 19.

Figura 19 - Distribuição dos municípios segundo a cobertura das


informações de óbitos. Brasil, 2008.

Legenda
< 50%
50 - 80%
80 - 90%
90 - 95%
> 95%

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2010: uma análise


da situação de saúde e de evidências selecionadas de
impacto de ações de vigilância em saúde. Brasília: Ministério
da Saúde, 2011b. 372 p. Disponível em: <http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2010.pdf>.

91
Além da cobertura, a qualidade dos dados do SIM também varia, pois
o preenchimento da Declaração de Óbito pode apresentar incorreções e, em
algumas situações, campos ignorados. Esses problemas afetam a qualidade
das informações e, consequentemente, podem influenciar na análise de
situação de saúde de uma população.
É o caso do mau preenchimento da causa dos óbitos, que pode gerar
dificuldade na definição do perfil de mortalidade e, por conseguinte, limitar
ações que visem à redução dos óbitos por uma determinada causa. Trataremos
da qualidade dos dados mais à frente, mas é importante visualizarmos a
importância que os dados têm para a Asis e que a qualidade influencia na
sua construção e, portanto, pode afetar também a tomada de decisão.
O processo para implantação do SIM envolveu algumas etapas importantes
para a sua consolidação, incluindo reuniões temáticas, elaboração de manuais
técnicos e capacitação dos profissionais. Destaca-se a formação de recursos
humanos para a codificação de causas de morte, impulsionada pela criação,
em junho de 1976, do Centro Brasileiro de Classificação de Doenças, que tinha
a responsabilidade, entre outras, de promover a melhoria da qualidade da
informação dos atestados de óbitos e assessorar o Ministério da Saúde na
promoção e revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID).

PARA SABER MAIS!

Para aprofundar mais os estudos sobre a criação do Sistema


de Informações sobre Mortalidade (SIM), consulte o texto
“O Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM:
concepção, implantação e avaliação”.

4.3 Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)

O Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) surgiu na


década de 1990, a partir da necessidade de se obter dados sobre os recém-
nascidos, sobre a gestação, parto, além das características maternas, o que
já era comum em alguns países.

92
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

O IBGE também era o responsável pelos registros de nascimentos desde


que a Lei de Registro Civil de 1973 foi promulgada, o que representou um
avanço nas estatísticas de nascidos vivos, visto que antes dessa data havia
um grande sub-registro de nascimentos, além de falta de regularidade e
homogeneidade das informações. Apesar das melhorias nas estatísticas de
nascimento, o problema do sub-registro ainda persistia, e um dos fatores se
devia à cobrança de taxas pela emissão da certidão de nascimento, que só
foi eliminada em 1997 (ALMEIDA; ALENCAR; SCHOEPS, 2009).
Seguindo o exemplo do SIM, que havia melhorado as informações
sobre mortalidade após a sua implantação, e aproveitando o desenvolvimento
da informática, realizou-se um projeto-piloto para testar a viabilidade de
obtenção de dados sobre nascidos em maternidades do município de Mogi
das Cruzes (SP), em 1980. Com a conclusão de que era possível introduzir um
instrumento para coleta de dados nos hospitais, a fim de se obter informações
mais detalhadas sobre os nascidos vivos, avançou-se na elaboração desse
documento: a Declaração de Nascido Vivo (DN).
Esse formulário foi padronizado para todo o território nacional e
passou a ser o documento base do Sinasc. Seu preenchimento se daria,
principalmente, nos serviços de saúde, uma vez que mais de 90% dos partos
são institucionais. No início da década de 1990, a maioria dos Estados havia
implantado total ou parcialmente o sistema, de forma a possibilitar a obtenção
de indicadores para a avaliação das condições de saúde materno-infantil
(ALMEIDA; ALENCAR; SCHOEPS, 2009).
Da mesma forma que o SIM, o Sinasc contou com algumas etapas
para a sua construção e implantação. Foram reuniões temáticas, projetos-
piloto, elaboração de materiais e capacitações até se tornar um sistema de
informação universal no Brasil. O sistema de informação universal refere-se
a um sistema de informação em saúde que deve ser alimentado em todo o
território nacional, sejam em unidades públicas, conveniadas ou privadas. Outro
ponto fundamental para o correto funcionamento do Sinasc foi a definição
clara do evento que seria notificado, para tanto, define nascido vivo como:

[...] a expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independentemente


da duração da gravidez, de um produto de concepção que, depois

93
da separação, respire ou apresente qualquer outro sinal de vida,
tal como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical ou
movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando
ou não desprendido da placenta. Cada produto de um nascimento que
reúna essas condições se considera como uma criança viva. No caso
de gravidez múltipla, deve ser preenchida uma DN para cada produto
da gestação, ou seja, para cada nascido vivo (BRASIL, 2009c, p. 25).

A partir da implantação do Sinasc, o registro de nascimento só é


efetuado mediante a apresentação da DN ao cartório, diferentemente do
que acontecia no Brasil antes do sistema ser implantado, onde bastava a
informação verbal.
A impressão e distribuição da declaração de nascido vivo, da mesma
forma que ocorre com a DO, é de competência do Ministério da Saúde.
A emissão da DN e o seu posterior registro em cartório são realizados no
município de ocorrência do nascimento. Deve ser preenchida pelos hospitais
e por outras instituições de saúde que realizam parto e nos Cartórios de
Registro Civil quando o nascimento da criança ocorre no domicílio (BRASIL,
2009a). Veja no fluxograma 2 o fluxo da DN nas situações mencionadas.

Fluxograma 2 - Fluxo da Declaração de Nascidos Vivos (DN).


Cartório de
Hospital Registro Civil

DN - 1ª Via Preenche o documento


2ª Via
3ª Via
1ª Via
2ª Via
Família
3ª Via

Cartório Arquiva Encaminha Arquiva

Secretaria Unidade
de Saúde Secretaria
de Saúde de Saúde

Fonte: BRASIL. Vigilância em Saúde. Para entender a gestão do SUS. Brasília, DF: CONASS, 2007. 278 p.
Coleção Progestores. Disponível em: <http://www.saude.mt.gov.br/arquivo/2926>.

94
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

A partir dos dados gerados pela DN, pode-se construir inúmeros


indicadores voltados para avaliação de riscos à saúde do segmento materno-
infantil. Além disso, o número de nascidos vivos é utilizado como denominador
de importantes coeficientes, como o de mortalidade infantil e materna.
O quadro 3 apresenta, em linhas gerais, as variáveis de cada bloco
que compõe o formulário da DN.

Quadro 3 - Blocos de preenchimento da Declaração de Nascido Vivo (DN) e suas


características.

I – É a parte da DN que se destina a colher informações inerentes ao nascido vivo.

II – Identificação do local de ocorrência do nascimento: nome do


estabelcecimento, município e UF de ocorrência.
III – Apresenta as variavéis das características da mãe: nome, idade, estado
civil, escolaridade, ocupação, endereço residencial da mãe e número de filhos
anteriores vivos e mortos.
IV – Visa a colher informações sobre o nome e idade do pai do nascido vivo a que
se refere a DN.
V – Tem com objetivo coletar informações sobre as gestações anteriores, a
gestação atual, o parto e suas intercorrências.
VI – Contempla as informações sobre as anomalias congênitas verificadas pelo
responsavél pelo parto.
VII – As variáveis de identificação do responsável pelo preenchimento: nome,
função, identidade, orgão emissor e data.
VIII – Apresenta dados referentes ao Cartório de Registro Civil onde foi
efetuado o registro do nascimento, bem como o número e a data do registro. A
responsabilidade pelo seu preenchimento é exclusiva do Oficial do Registro Civil
(cartórios).
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento
de Análise de Situação de Saúde. Manual de Instruções para o preenchimento da
Declaração de Nascido Vivo. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011c. p. (Série A.
Normas e Manuais Técnicos).

É bastante frequente o uso dos dados do Sinasc para o cálculo de


importantes indicadores, como a taxa de mortalidade infantil e a razão
de mortalidade materna, nos quais o número de nascidos vivos compõem
os denominadores da fração. Mas o uso dos dados do Sinasc vai além da
composição desses indicadores, pois possibilitam traçar o perfil epidemiológico
dos recém-nascidos do país a partir da avaliação de riscos de óbito infantil e
da qualidade da rede de atenção à gravidez e ao parto. Permite, portanto,

95
obter dados sobre a frequência de baixo peso ao nascer, nascimentos de
prematuros, proporção de partos cesarianos, bem como possibilita avaliar
diferenças e mudanças do perfil reprodutivo das mulheres.
A cobertura do Sinasc e o preenchimento dos campos da DN, assim
como no Sistema de Informações sobre Mortalidade, apresentam variações.
No Brasil, a cobertura do Sinasc é maior do que a do SIM, mas apresenta as
mesmas diferenças regionais, com as regiões Norte e Nordeste apresentando
menor captação desses eventos, como você pode visualizar na figura 20. Com
relação ao preenchimento dos campos da DN, algumas variáveis apresentam
melhor qualidade do que outras, com baixo percentual de campos em branco
ou ignorados.

Figura 20 - Distribuição dos municípios segundo a cobertura das


informações de nascidos vivos. Brasil, 2008.

Legenda
< 50%
50 - 80%
80 - 90%
90 - 95%
> 95%

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2010: uma análise da


situação de saúde e de evidências selecionadas de impacto de
ações de vigilância em saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2011b. 372 p. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/saude_brasil_2010.pdf>.

96
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

PARA SABER MAIS!

Para aprofundar seu conhecimento sobre o Sinasc, sugerimos


a leitura do texto “Sistema de Informações sobre Nascidos
Vivos – Sinasc: Uma Avaliação de sua Trajetória”.

4.4 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)

O Sinan teve sua implantação impulsionada no fim da década de 1990


e se beneficiou do desenvolvimento computacional para a sua consolidação
como um sistema que deveria ser suficientemente ágil para viabilizar análises
de situações de saúde em curtos espaços de tempo.

Você já parou para refletir por que o Sinan


deve ser ágil em gerar informações em saúde?

Primeiramente devemos entender o objetivo desse sistema, que é


padronizar a coleta e o processamento dos dados sobre agravos de notificação
em todo o território nacional, desde o nível local. A análise desses agravos
fornece informações para o desenho do perfil da morbidade da população
contribuindo, dessa forma, para a tomada de decisões.
Mas não estamos falando de quaisquer agravos, mas sim de agravos
que devem obrigatoriamente ser notificados e que fazem parte da Lista de
Doenças e Agravos de Notificação Compulsória. Essa lista é composta por
eventos relacionados à saúde que merecem atenção do sistema de saúde por
serem doenças de alto poder de transmissão, ou de interesse de vigilância
internacional, ou por fazer parte de uma política pública para controle, como
é o caso da violência doméstica.

97
Portanto, se a informação demora a ser
processada e, com isso, não é gerada
em tempo oportuno para os gestores e
profissionais, dificilmente as ações de controle
surtirão o efeito desejado, não é mesmo?

O uso do Sinan foi regulamentado em 1998, sendo um sistema


sob a responsabilidade do Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI) e,
posteriormente, da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério
da Saúde, a qual também coordena o SIM e o Sinasc.
A entrada de dados no Sinan é feita mediante a utilização de alguns
formulários padronizados, sendo um de notificação – Ficha Individual de
Notificação (FIN) e outro de investigação – Ficha Individual de Investigação
(FII) (BRASIL, 2009a).
Veja na figura 21 a descrição da ficha individual de notificação e da
ficha individual de investigação:

Figura 21 - Descrição da ficha individual de notificação e da ficha individual de investigação


(BRASIL, 2009a).

Ficha Individual de Notificação (FIN)

É preenchida para cada paciente quando há suspeita de ocorrência de


problema de saúde de notificação compulsória e encaminhada, pelas
unidades assistenciais, aos serviços responsáveis pela informação e/
ou vigilância epidemiológica. Este mesmo instrumento é utilizado
para notificação negativa.

Ficha Individual de Investigação (FII)

Assemelha-se a um roteiro de investigação, distinto para cada tipo


de agravo. Permite levantar dados que possibilitam a identificação
da fonte de infecção e dos mecanismos de transmissão da doença.

O fluxo dos dados no Sinan segue das unidades notificadoras locais


os níveis municipais, estaduais e federal. Pode-se calcular, a partir desse
sistema, a incidência, prevalência, letalidade e mortalidade das doenças de

98
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

notificação compulsória.
Apesar do grande avanço do Sinan, o sistema ainda enfrenta algumas
dificuldades, notadamente o sub-registro dos agravos e a demora para o
fechamento dos casos durante a investigação.

4.5 Outros sistemas de informações

Além dos sistemas de informações já mencionados, que apresentam


fundamental importância para a Asis, outros sistemas podem auxiliar na
construção de um perfil de saúde capaz de subsidiar as decisões de gestores e
profissionais. Veja no quadro 4 os sistemas de informação em saúde do Brasil:

Quadro 4 - Sistemas de Informações em Saúde do Brasil.


SIA Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS

SIH Sistema de Informações Hospitalares

SIOPS Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos


Sistema de Informação de Beneficiários – Agência Nacional
SIB
de Saúde

SI–PNI Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização

SISAB Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica

SINAVISA Sistema Nacional de Informação em Vigilância Sanitária

CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

CNS Cartão Nacional de Saúde

É importante lembrar que a Asis não se limita ao uso de dados da área


da saúde, pois outras fontes são importantes para montar um cenário que
contribua para a tomada de decisão, como os dados demográficos do IBGE,
dados da assistência social do Cadastro Único, entre outros.

99
4.6 Identificação e seleção de dados fundamentais

Neste momento, convidamos você a


conhecer os principais dados e indicadores de
saúde, de forma que você possa selecionar
criteriosamente aqueles que serão usados na
análise de saúde no seu estado, município, ou
mesmo em um território vinculado à unidade
de saúde.

Entretanto, antes de iniciarmos a discussão deste tema, vale destacar


que os dados de saúde não são os únicos que devem ser utilizados na
elaboração de uma análise adequada da saúde populacional. Os dados
demográficos, dados sobre as características sociais das pessoas e sobre a
oferta de serviços também contribuem para a compreensão do contexto em
que as pessoas vivem e adoecem.
Conhecer as necessidades de saúde da população é fundamental para o
planejamento dos recursos materiais, humanos e financeiros necessários para
o enfrentamento dos problemas e para avaliação de impacto das intervenções
que possam ser tomadas (RIBEIRO; BARATA, 2012). Para compreender essas
necessidades e avaliar as condições de saúde da população, portanto, não
há como utilizar uma só medida.
Uma medida que busca sintetizar uma característica, ou um atributo
buscando retratar o nível de saúde de indivíduos ou de uma população, é
denominada indicador, que deve subsidiar gestores e profissionais de saúde
no processo de tomada de decisões.
A Rede Interagencial de Informação para a Saúde (Ripsa) conceitua
indicador como “medida-síntese que contém informação relevante sobre
determinados atributos e dimensões do estado de saúde, bem como do
desempenho do sistema de saúde” e que “devem refletir a situação sanitária
de uma população e servir para a vigilância das condições de saúde”.
A Ripsa se constituiu como uma articulação de órgãos de governo,
instituições de ensino e pesquisa, associações científicas e de classes, com o
objetivo de aperfeiçoar a produção, análise e disseminação de informações de

100
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

saúde no Brasil. Deixou como legado importantes iniciativas, com destaque a


publicação “Indicadores Básicos para a Saúde no Brasil: conceitos e aplicações”,
a qual recomendamos a consulta (OPAS, 2008).
A Ripsa classifica os indicadores utilizados na construção dos perfis
de saúde em seis categorias:

a) Demográficos b) Socioeconômicos c) Mortalidade

d) Morbidade e e) Recursos f) Cobertura


fatores de risco

Perceba que se trata de uma classificação bem abrangente, com o


intuito de retratar o nível de vida e as condições de saúde das populações.
Outra classificação de indicadores foi proposta por Ribeiro; Barata
(2012), a qual limita em quatro suas categorias:

a) Indicadores de b) Indicadores de
mortalidade morbidade

c) Indicadores d) Indicadores de
de exposição a
estado de saúde
fatores de risco

Essa classificação está contida, de certa forma, na proposta da Ripsa e,


embora os indicadores descritos nessa seção se limitem àqueles relacionados
diretamente à saúde, recomendamos a ampliação, quando possível, do uso
dos indicadores segundo a classificação da Ripsa.
Além das classificações dos indicadores, é importante que você saiba
quais atributos são desejáveis na escolha dos indicadores a serem utilizados
na Asis.

101
Disponibilidade dos dados

Os indicadores devem se basear em dados disponíveis ou que sejam


fáceis de serem obtidos, de preferência que contemplem toda a
população a ser avaliada.

Confiabilidade

Os resultados medidos pelo indicador devem ser semelhantes quando


essa medida for repetida em condições similares, para isso se faz
necessária uma uniformidade na definição e nos procedimentos
utilizados no seu cálculo.

Simplicidade

É importante que o indicador seja de fácil construção e interpretação.

Validade

É a capacidade de medir, sinteticamente, o que se pretende. A validade


depende da sensibilidade, que é a capacidade de o indicador detectar
o fenômeno estudado, e da especificidade, que é a capacidade desse
indicador captar somente o fenômeno em análise.

Relação custo-efetividade

É importante que os resultados justifiquem os recursos e o tempo


utilizados na construção e obtenção dos indicadores.

Relevância

Pode parecer óbvio, mas é importante destacar que o indicador


também deve ter a capacidade de responder às prioridades em saúde.

Além dos atributos mencionados, é importante destacar que os


indicadores costumam ser calculados em medidas relativas, em vez de medidas
absolutas. Estas se caracterizam por ser uma contagem simples de uma doença
ou de óbitos, e são pouco utilizadas por não permitirem comparabilidade
em populações distintas. Para análise de pequenas populações, como é o

102
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

caso de populações de um território vinculado a uma UBS ou um pequeno


município, as medidas absolutas são bastante úteis. Já as medidas relativas
permitem comparar populações distintas, pois utilizam coeficientes (razões)
na sua forma de cálculo.
Você pode verificar na tabela 3 os dados de mortalidade por homicídios
expressos em números absolutos, ao passo que na tabela 3 você pode
visualizar os dados em números relativos à população de cada capital brasileira.
Perceba que os dados absolutos podem confundir, por exemplo, a capital
que apresenta maior risco de morte por homicídios.

Tabela 3 - Número de óbitos por homicídios (CID-10 X85 a Y09)


nas capitais brasileiras, 2012.

Capital Óbitos
Fortaleza 1814
São Paulo 1748
Salvador 1574
Rio de Janeiro 1206
Manaus 1034
Brasília 952
Belo Horizonte 853
Belém 780
Maceió 761
Recife 639
Goiânia 623
Curitiba 573
São Luís 553
Porto Alegre 524
João Pessoa 489
Natal 409
Teresina 300
Aracaju 251
Cuiabá 235
Porto Velho 184
Campo Grande 178
Macapá 156
Vitória 131

103
Rio Branco 101
Boa Vista 82
Florianópolis 62
Palmas 46
Total 16258

Fonte: REDE Interagencial de Informação para a Saúde


Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e
aplicações. 2. ed. Brasília: Organização Pan-Americana
da Saúde, 2008.349 p. Disponível em: <http://tabnet.
datasus.gov.br/tabdata/livroidb/2ed/indicadores.pdf>.

Podemos visualizar na tabela 3 que cidades como São Paulo e Rio


de Janeiro estão entre as cinco capitais com maior número de óbitos por
homicídios (números absolutos).

Tabela 4 - Taxa de mortalidade por homicídios (por 100 mil habitantes) nas
capitais brasileiras, 2012.
Capital Óbitos População Taxa
Maceió 761 953393 79,8
Fortaleza 1814 2500194 72,6
João Pessoa 489 742478 65,9
Salvador 1574 2710968 58,1
Manaus 1034 1861838 55,5
Belém 780 1410430 55,3
São Luís 55,3 1039610 53,2
Natal 409 817590 50,0
Goiânia 623 1333767 46,7
Aracaju 251 587701 42,7
Cuiabá 235 561329 41,9
Porto Velho 184 442701 41,6
Recife 639 1555039 41,1
Vitória 131 333162 39,3
Macapá 156 415554 37,5
Porto Alegre 524 1416714 37,0
Teresina 300 830231 36,1
Brasília 952 2648532 35,9
Belo Horizonte 853 2395785 35,6
Curitiba 573 1776761 32,2

104
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Rio Branco 101 348354 29,0


Boa Vista 82 296959 27,6
Campo Grande 178 805397 22,1
Palmas 46 242070 19,0
Rio de Janeiro 1206 6390290 18,9
São Paulo 1748 11376685 15,4
Florianópolis 62 433158 14,3
Total 16258 46226690 35,2
Fonte: REDE Interagencial de Informação para a Saúde Indicadores básicos
para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2. ed. Brasília:
Organização Pan-Americana da Saúde, 2008.349 p. Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/livroidb/2ed/indicadores.
pdf>.

Na tabela 4, que apresenta os dados de homicídios em números


relativos à população de cada capital, observamos uma alteração na posição
das cidades, uma vez que suas populações foram utilizadas para o cálculo. Com
isso, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro estão entre as três capitais com
menores taxas de mortalidade por homicídios. Assim, por meio das medidas
relativas, podemos comparar populações com distintas características.
Com relação às medidas relativas, elas podem ser do tipo taxa (ou
coeficiente), proporção ou razão.

Taxas ou coeficientes

• São as relações entre o número de eventos reais e os que poderiam


acontecer.
• Exemplo: 60 casos da doença “X” por 100 mil habitantes.

Proporção

• O numerador é subconjunto do denominador, em geral é calculado


em percentual.
• Exemplo: Mortalidade proporcional por doenças isquêmicas do
coração é de 13%.

Razão

• É calculada pela divisão entre duas quantidades ou medidas diferentes.


• Exemplo: Número de leitos hospitalares por mil habitantes.

105
Agora que conhecemos alguns atributos para a construção ou
escolha de indicadores, vamos passar a conhecer alguns deles. A lista de
indicadores em saúde é muito extensa, por isso apresentaremos aqui as mais
importantes e as mais utilizadas na Asis. Iniciaremos com os indicadores de
mortalidade, para em seguida mostrar alguns indicadores de morbidade.
Por fim, apresentaremos outros indicadores utilizados para medir o nível
de saúde das populações.
Mas antes de iniciar a discussão sobre mortalidade, vamos analisar
o caso do município de Sítio Feliz:

Município de Sítio Feliz

Beatriz é secretária de saúde do Município de Sítio Feliz, e juntamente


com sua equipe está realizando o planejamento das ações de saúde para o
próximo ano. Beatriz está finalizando a especialização em saúde coletiva e por
isso sabe da importância de se conhecer os indicadores para o planejamento
das ações em saúde. Na última reunião realizada com a equipe, Beatriz
resolveu focar nos indicadores de mortalidade, visto que um dos objetivos
do planejamento de saúde do município é alcançar as metas propostas pelo
Estado, que incluem a redução da mortalidade infantil e materna. Portanto,
para isso o grupo resolveu acessar os sistemas de informações disponíveis
e a partir daí obtiveram as seguintes informações:
Sítio Feliz é um município de grande porte com uma população total
de 390.771 habitantes, IDH de 0,735 e índice de Gini de 0,568. Em 2016, o
total de óbitos do município foi de 3.980. Ao analisar os óbitos por capítulo do
CID 10, observou-se que entre as cinco doenças com maior número de óbitos
no município estavam as doenças do aparelho circulatório (1.222 óbitos) e
respiratório (463 óbitos), as causas externas (521 óbitos), as neoplasias (642
óbitos) e as doenças infecciosas e parasitárias (303 óbitos).
Em relação ao público infantil, o grupo observou que o número
de nascidos vivos no município em 2016 foi de 5.330 crianças; o número
de óbitos em menores de 1 ano de idade foi de 61 crianças. E por fim, ao
investigar o número de óbitos maternos, o grupo observou que em 2016
foram notificados 2 óbitos.

106
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

De posse desses dados, Beatriz e sua equipe resolveram calcular


todos os coeficientes de mortalidade de Sítio Feliz. Portanto, imagine que
você faz parte da equipe de Beatriz e considere o seguinte questionamento:

Qual a importância de se avaliar os indicadores de mortalidade dessa


população?

4.7 Indicadores de mortalidade

A mortalidade é uma das mais antigas dimensões utilizadas para medir


a situação de saúde das populações, e seu uso ainda é muito importante
nos dias atuais. Vamos conhecer alguns indicadores que utilizam os dados
do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

4.7.1 Mortalidade Proporcional por Causas

Esse indicador mede a proporção de óbitos por uma determinada


causa, ou grupo de causa, em relação ao total de óbitos em um determinado
local e período. Normalmente é expresso em percentual.

Nº de óbitos devidos à causa "x"


MPx = ×100
Nº de óbitos por todas as causas

A mortalidade proporcional indica a importância de uma causa (ou grupo


de causa) de morte em uma população. É por intermédio desse indicador que
pudemos visualizar a mudança no perfil epidemiológico através do tempo,
denominada de transição epidemiológica. O seu cálculo é relativamente
simples e pode ser utilizado na escolha de prioridades na área da saúde.
Você pode visualizar no gráfico 16 uma análise baseada nesse indicador.

107
Gráfico 16 - Proporção de causas de morte em homens, segundo capítulos da CID-10. Brasil e regiões,
2012.

100

80

60

40

20

0
%BR %NO %NE %SE %SU %CO

Cap I Cap II Cap III Cap IV Cap V Cap VI


Cap VII Cap VIII Cap IX Cap X Cap XI Cap XII
Cap XIII Cap XIV Cap XVI Cap XVII Cap XVIII Cap XX

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2013: uma análise da situação de saúde e das
doenças transmissíveis relacionadas à pobreza. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. 384 p.

4.7.2 Taxa de Mortalidade por Causas

Expressa a estimativa do risco de morte por uma determinada causa,


ou por um grupo de causas, ao qual uma população esteve exposta em
determinado período.

Nº de óbitos devidos à causa "x"


TMx = ×100.000
População

Veja no gráfico 17 o risco de morte de motociclistas em cada região


brasileira e sua projeção até 2020, mensurados pela Taxa de Mortalidade
por Causa (nesse caso, acidentes envolvendo motocicletas).

108
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Gráfico 17 - Tendência e previsão da taxa* de mortalidade de motociclistas, segundo regiões. Brasil,


2000 a 2020.
20,0 (Norte)

18,0 (Nordeste)
(Sudeste)
16,0
(Sul)
14,0 (Centro-Oeste)
Taxas por 100 mil hab.

12,0

10,0

8,0

6,0

4,0

2,0

0,0
2000 2005 2010 2015 2020
Ano
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2015/2016: uma análise da situação de saúde e
da epidemia pelo vírus Zika e por outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Brasília,
DF: Ministério da Saúde, 2016a. 386 p.

A análise da taxa de mortalidade permite avaliar a situação de saúde


de determinados grupos, de forma a identificar aqueles mais vulneráveis,
permitindo o direcionamento de ações preventivas e de oferta de serviços
a esses grupos.

4.7.3 Taxa de Mortalidade Infantil

É uma estimativa do risco de morte a que está exposta uma população


de nascidos vivos antes de completar 1 ano de vida. Constitui-se em um
potente indicador das condições de saúde e é afetado pelas condições de
vida, pela qualidade da assistência ao parto, bem como a assistência ao
recém-nascido e aos problemas comuns aos primeiros 12 meses de vida.

Nº de óbitos de crianças menores de 1 ano


TMI = ×1.000
Nº de nascidos vivos

109
A TMI é um indicador em que são utilizados dados do SIM – óbitos
em menores de 1 ano no numerador da equação – e do Sinasc, o qual provê
os dados sobre o número de nascidos vivos.
Veja na figura 22 a redução da TMI no Brasil e em todas as suas
regiões, em 1990 e 2015, segundo o Institute of Health Metrics and Evaluation
(IHME/GBD). O país alcançou a meta de reduzir a mortalidade infantil em
dois terços proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) nas metas
integrantes do programa Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
O Programa Bolsa Família, a expansão da Estratégia de Saúde da Família e
ações como a Vigilância dos Óbitos Infantis e Fetais contribuíram para essa
acentuada redução.

Figura 22 - Taxa de Mortalidade Infantil por mil nascidos vivos, IHME/GBD – unidades da
Federação, 1990 e 2015.

Taxa de Mortalidade Infantil, IHME/GBD


10 a 14 20 a 24 30 a 34 40 e mais
15 a 19 25 a 29 35 a 39

1990 2015

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e
os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2018. 426 p.

110
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

PARA SABER MAIS!

A Taxa de Mortalidade Infantil pode ser analisada segundo


seus componentes neonatal precoce, neonatal tardio
e pós-neonatal. A análise para os períodos específicos
da morte infantil é importante porque cada um deles
representa causas distintas. Por exemplo, a mortalidade
infantil neonatal é causada principalmente pela assistência à
saúde, ou melhor, por sua ausência ou por um cuidado mal
prestado à mãe e ao bebê durante à gestação e no parto.
Já o componente pós-neonatal reflete, principalmente,
as condições de vida do bebê, incluindo alimentação
adequada, acesso à água potável e condições de moradia.
A forma de calcular cada um desses componentes da TMI
está descrita nas equações a seguir.

TMInp: Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal Precoce


Nº de óbitos de 0 a 6 dias de vida
TMInp ×1.000
Nº de nascidos vivos

TMInt: Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal Tardia


Nº de óbitos de 7 a 27 dias de vida
TMInt ×1.000
Nº de nascidos vivos

TMIp: Taxa de Mortalidade Infantil Pós-neonatal


Nº de óbitos de 28 dias até um ano de vida
TMIp ×1.000
Nº de nascidos vivos

4.7.4 Razão de Mortalidade Materna

É considerada um importante indicador de saúde por representar a


saúde materna, mas também da população como um todo. É definida como
a morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42

111
dias após o seu término. Por ser uma morte evitável, a redução da morte
materna é prioridade, e por isso também fez parte das metas dos Objetivos
do Milênio da ONU. Contudo, para esse indicador o Brasil não obteve o
mesmo sucesso da redução da TMI, não conseguindo atingir a meta de
redução em 75%.
Para calcular a Razão de Mortalidade Materna são contabilizados os
óbitos por causa materna no numerador e no denominador são utilizados
os dados do número de nascidos vivos disponíveis no Sinasc.

Nº de óbitos maternos
RMM = ×100.000
Nº de nascidos vivos

Veja no gráfico 18 a redução da razão de mortalidade materna no


Brasil de 2000 a 2015.

Gráfico 18 – Razões de mortalidade materna (RMM), calculadas pelos métodos direto, corrigido pela
vigilância e corrigido pelo estudo GDB-IHME. Brasil, 2000 a 2015.

Brasil
Tend. decrescente RMM Vigilância
RMM Vigilância
RMM Direita
RMM IHME/GBD
150
100
RMM

50
0

2000 2005 2010 2015

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios
para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2018. 426 p.

112
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

RETOMANDO O CASO DE SÍTIO FELIZ

O estudo do perfil da mortalidade de uma população é indispensável


para subsidiar políticas públicas que visem à melhoria das condições de
saúde. O conhecimento das principais causas de morte é um dos aspectos
primordiais para atingir esses objetivos, especialmente quando permitem
identificar desigualdades entre vários segmentos como sexo, faixa etária
etc. (BRASIL, 2016a).
A mortalidade ocupa lugar especial no inventário demográfico das
transformações socioeconômicas, pois se relaciona diretamente com o bem-
estar humano, mostrando-se como indicador relativamente sensível do nível
e da distribuição das condições de vida (CA, 2009).
O nível de mortalidade resulta da interação de um conjunto de fatores
que afetam o bem-estar da população constituindo-se, dessa forma, de
uma medida sumária da qualidade de vida que prevalece em meio a uma
população (CA, 2009).
De posse das informações, Beatriz e sua equipe resolveram calcular
os seguintes indicadores de mortalidade: mortalidade proporcional por
causa das três principais doenças mais prevalentes do município, taxa de
mortalidade infantil e razão de mortalidade materna. Após realizar o cálculo,
eles obtiveram os seguintes resultados:
Tabela 5 - Indicadores do município de Sítio Feliz. 2016.
Mortalidade proporcional por grupos de causas (%)
Mortalidade proporcional por doenças do aparelho
30,7
circulatório
Mortalidade proporcional por neoplasias 16,1
Mortalidade proporcional por causas externas 13,1

Mortalidade infantil por mil nascidos vivos


Taxa de mortalidade infantil 11,4

Mortalidade materna por 100 mil nascidos vivos


Razão de mortalidade materna 37,5

De posse dessas informações, o que Beatriz e sua equipe podem


concluir em relação às condições de vida da população de Sítio Feliz?

113
Após calcular todos os indicadores, Beatriz e seu grupo reuniram-se
para interpretar e comparar os dados às estimativas nacionais, obtendo os
seguintes resultados e ponderações (BRASIL,2014, 2016a; REDE..., 2008;
RELATÓRIOS..., 2014; RIPSA, 2011):

Mortalidade proporcional por grupos de


causas
• A mortalidade proporcional por grupos de causas mede a participação
relativa dos principais grupos de causas de morte no total de óbitos
com causa definida (REDE, 2008).
• De modo geral, é influenciado pela participação de fatores que
contribuem para aumentar ou diminuir determinadas causas, alterando
a distribuição proporcional das demais: condições socioeconômicas,
perfil demográfico, infraestrutura de serviços públicos, acesso e
qualidade dos serviços de saúde (REDE, 2008).
• No Brasil, mais de 60% dos óbitos informados no país, em 2010,
foram devidos a três grupos de causas: doenças do aparelho circulatório
(30,9%), causas externas (13,6%) e neoplasias (16,9%), sendo que as
doenças do aparelho circulatório estavam em primeiro lugar em todas
as regiões (DATASUS, 2017b).
• Seguindo a tendência nacional, somando-se às doenças do aparelho
circulatório, as neoplasias e as causas externas representam mais da
metade das causas de morte do município de Sítio Alegre. Sendo,
portanto, necessárias ações específicas para a prevenção e tratamento
dessas doenças.

Taxa de mortalidade infantil

• A taxa de mortalidade infantil estima o risco de morte dos nascidos


vivos durante o seu primeiro ano de vida, refletindo de maneira geral,
as condições de desenvolvimento socioeconômico e infraestrutura
ambiental, bem como o acesso e a qualidade dos recursos disponíveis
para atenção à saúde materna e da população infantil (REDE, 2008).
• Costuma-se classificar o valor da taxa como alto (50 por mil ou
mais), médio (20 a 49) e baixo (menos de 20), parâmetros esses
que necessitam revisão periódica, em função de mudanças no perfil
epidemiológico (REDE, 2008).
• Valores abaixo de 10 por mil são encontrados em vários países, mas
deve-se considerar que taxas reduzidas podem estar encobrindo más
condições de vida em segmentos sociais específicos (REDE, 2008).
• A taxa de mortalidade infantil no Brasil, em 2014, foi de 14,1
óbitos por mil nascidos vivos (BRASIL, 2016). O município de Sítio
Feliz apresentou um baixa taxa de mortalidade infantil (11,4 por mil
nascidos vivos), sendo inclusive menor que a taxa nacional.

114
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Razão de mortalidade materna

• A razão de mortalidade materna reflete a qualidade da atenção à


saúde da mulher. Portanto, taxas elevadas de mortalidade materna
estão associadas à insatisfatória prestação de serviços de saúde a
esse grupo, desde o planejamento familiar e a assistência pré-natal,
até a assistência ao parto e ao puerpério (REDE, 2008).
• A taxa de mortalidade materna máxima recomendada pela
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) é de 20 casos a cada 100
mil nascidos vivos. Com o estabelecimento dos objetivos do milênio,
a meta estabelecida para o Brasil foi de 35 casos por 100 mil nascidos
vivos (PORTAL ODM).
• A razão de mortalidade materna no Brasil, em 2012, foi de 62
óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos (BRASIL, 2014). Embora o
município de Sítio Feliz apresente uma razão de mortalidade materna
menor que a nacional (37,5 por 100 mil nascidos vivos), a razão de
mortalidade materna ainda é maior que o recomendado pela OPAS
(20 mil óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos).

4.8 Indicadores de morbidade

Para realizar uma análise de situação de saúde também é importante


conhecer as medidas de morbidade. Para isso, devemos conhecer dois
importantes conceitos relacionados ao tema: incidência e prevalência.

4.8.1 Incidência

É a frequência de casos novos de uma doença ou agravo à saúde em


um determinado período de tempo que surgem de uma população sob risco
de adoecer. Para comparar a incidência em populações diferentes, ou uma
mesma população em épocas distintas, usa-se a taxa de incidência. Ela é
utilizada, principalmente, para doenças agudas e de curta duração, como
as doenças transmissíveis.

Nº de casos novos de uma doença


em determinada população
em certo período de tempo
Taxa de incidência = ×10n
Nº de pessoas expostas aos risco de
adoecer no referido período

115
Os gráficos 19 e 20 mostram exemplos das taxas de incidência, por
meio das quais podemos observar a importância desse tipo de medida para o
planejamento de ações de saúde, sobretudo aquelas que visam à promoção
da saúde e à prevenção das doenças.

Gráfico 19 - Coeficiente de incidência de tuberculose. Brasil, 2007-2016*.

40
37,9
38
Incidência (/100 mil hab.)

36

34
32,4
32

30

28
07

08

09

10

11

12

13

14

15

16
20

20

20

20

20

20

20

20

20

20
Ano de diagnóstico

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios
para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2018. 426 p.
*Dados provisórios.

Apesar da redução da taxa de incidência ao longo dos anos, a tuberculose


é uma doença que persiste no Brasil, tornando o país um dos líderes mundiais
em casos novos da doença.

116
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Gráfico 20 - Taxas de detecção de Aids (por 100 mil hab.), de sífilis em gestantes (por mil nascidos
vivos) e taxa de incidência de sífilis congênita (por mil nascidos vivos) em adolescentes,
segundo ano do diagnóstico/notificação. Brasil, 2007 a 2013. *, **, ***

12,0 12,0
Taxa de detecção de aids por 100 mil hab.

Taxa de sífilis por 1.000 nascidos vivos


10,0 10,0

8,0 8,0

6,0 6,0

4,0 4,0

2,0 2,0

0,0 0,0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Ano do diagnóstico/notificação
Aids Sífilis Congênita Sífilis em Gestantes

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2015/2016: uma análise da situação de saúde e da
epidemia pelo vírus Zika e por outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Brasília,
DF: Ministério da Saúde, 2016a. 386 p.
*Casos notificados no Sinan e registrados no Siscel/Siclom, até 30/6/2015, e no SIM, de 2000 a 2014.
**Taxas de 2014 calculadas sobre a população de 2012.
***Dados preliminares para os últimos cinco anos.

O gráfico 20 mostra taxas de detecção, que é uma aproximação da taxa


de incidência em doenças que podem ter diagnósticos tardios, e de incidência
de doenças como HIV/Aids e sífilis. Pode-se perceber um aumento no número
de novos casos, o que deve gerar um alerta para os gestores direcionarem
políticas para o controle dessas doenças.

4.8.2 Prevalência

É definida como a frequência de casos existentes de uma doença e a


sua medida relativa. A taxa de prevalência informa a relação entre o número
de casos conhecidos de uma dada doença e a população. A medida de
prevalência é bastante útil para o planejamento na área da saúde, sobretudo
para ações que visam a estruturar os serviços voltados à população acometida
com uma determinada doença.

117
Nº de casos conhecidos de
uma doença
Taxa de prevalência = ×10n
População

A tabela 6 e o gráfico 21 mostram os dados de prevalência que são


mais utilizados, como você poderá ver, para doenças não transmissíveis ou
mesmo para doenças transmissíveis, mas que possuam longa duração, como
é o caso da hanseníase, tuberculose e Aids.

Tabela 6 - Prevalência (IC95%) e total em número absoluto de indivíduos que


referiram morbidades. Brasil – Pesquisa Nacional de Saúde, 2013.

Prevalência
Total estimado de
Morbidades casos (x 1.000)
% IC95%
Hipertensão arterial 21,4 20,8 22,0 31.315
Diabetes 6,2 5,9 6,6 9.122
Asma 4,4 4,1 4,7 6.438
Depressão 7,6 7,2 8,1 11.179
Outra doença mental 0,9 0,8 1,1 1.347
Doença do coração 4,2 3,9 4,5 6.115
AVC 1,5 1,4 1,7 2.231
Artrite 6,4 6,1 6,7 9.382
Problema na coluna 18,5 17,8 19,1 27.021
DORT 2,4 2,2 2,7 3.568
Câncer 1,8 1,6 2,0 2.681
Insuficiência renal crônica 1,4 1,3 1,6 2.080
Doença do pulmão 1,8 1,6 2,0 2.611

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2014: uma análise da situação
de saúde e das causas externas. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 462
p. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_
brasil_2014_analise_situacao.pdf>.

118
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Gráfico 21 - Taxa de Prevalência da Hanseníase nos estados. Brasil, 2015.


BAIXO MÉDIO ALTO
Rio Grande do Sul 0,1
Santa Catarina 0,16
São Paulo 0,23
Rio de Janeiro 0,41
Minas Gerais 0,42
Rio Grande do Norte 0,5
Distrito Federal 0,52
Paraná 0,57
Alagoas 0,65
Paraíba 0,85
Taxa 10.000 hab.

Amazonas 0,88
Espírito Santo 0,94
Sergipe 0,95
Brasil 1,01
Amapá 1,06
Bahia 1,12
Acre 1,21
Ceará 1,5
Roraima 1,6
Goiás 1,76
Pernambuco 1,84
Piauí 2,08
Pará 2,25
Rondônia 2,32
Mato Grosso do Sul 2,33
Maranhão 3,76
Tocantins 4,2
Mato Grosso 7,75
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Taxa de Prevalência da Hanseníase, estados, Brasil, 2015. 2016b.
Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/julho/07/Taxa-de-Preval--
ncia-da-Hansen--ase--estados--Brasil--2015..pdf>. Acesso em: 7 jul. 2017.

4.9 Outros indicadores de saúde

Devido à complexidade do conceito de saúde, surgiu a necessidade


de se demandar novas formas de medi-la, com tentativas de superar a
medição “negativa” de saúde, visto que os principais indicadores envolvem
dados de morbidade e mortalidade. Dessa forma, propostas de indicadores
positivos de saúde têm surgido nas últimas décadas, como é o caso da saúde
autorreferida e o DALY.
O DALY corresponde à medida dos anos de vida perdidos por incapacidade,
combinando dados de mortalidade com dados que levam em consideração
o grau e o tempo de incapacidade devido a uma patologia. Uma medida
anterior ao DALY, mas com lógica semelhante, é o QALY (Quality-adjusted
life years), que corresponde ao cálculo acumulado dos anos com qualidade
de vida não vividos por motivo de doença, incapacidade ou morte (ALMEIDA
FILHO; ROUQUAYROL, 2006).
A esperança de vida também se constitui em um importante indicador de
saúde, apesar de ser amplamente utilizado e gerado no âmbito da demografia.
Mede o número médio de anos que ainda restam para serem vividos pelos

119
usuários e costuma ser apresentado como esperança de vida ao nascer.
Destacamos aqui a importância dos indicadores de saúde para o uso
rotineiro dos serviços de saúde, seja em nível gerencial ou mesmo para guiar
as ações das equipes assistenciais, em unidades básicas, hospitalares ou de
vigilância em saúde. Além dos atributos e das possibilidades de cálculos
desses indicadores, faz-se necessário também observar a qualidade dos
dados a serem obtidos para a Asis.

4.10 Qualidade das informações

Os Sistemas de Informações em Saúde (SIS) são importantes fontes


de dados, gerados, principalmente, pelo registro contínuo das atividades
de saúde rotineiras. Discutimos, contudo, que os SIS apresentam algumas
falhas que devem ser consideradas ao utilizarmos os dados oriundos de
cada um deles.
Após conhecer um pouco mais sobre os indicadores, podemos discutir
de que forma podemos identificar os problemas relacionados à produção
de dados gerados pelos SIS e, ao mesmo tempo, possibilitar uma melhoria
contínua na qualidade desses dados.
Deixamos para discutir dois desses indicadores nesta seção,
propositadamente, para que pudéssemos analisar a qualidade dos dados dos
sistemas de informações no Brasil. Um deles é a cobertura, que determina
a representatividade dos dados referentes a uma população. O outro é a
completude dos dados, ou seja, se os dados oriundos dos SIS estão completos.
Ao apresentar os principais sistemas de saúde na seção anterior,
discutimos inicialmente essas questões, tratando sobre a qualidade dos
dados no SIM, Sinasc e Sinan. O Sistema de Informações Sobre Mortalidade,
por exemplo, apresenta cobertura diferente entre as regiões brasileiras.
O início da implantação do SIM já apresentava essa diferença no registro
de óbitos, apesar de ter sido criado com a expectativa de contabilizar mais
óbitos do que os registrados pelos cartórios, uma vez que a DO teria seu
preenchimento nas unidades de saúde notificadoras (hospitais, por exemplo).
Uma medida que informava o grau de abrangência do SIM era a comparação
de captação de óbitos em relação ao IBGE (dados de registro civil), como

120
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

você pode verificar na tabela 7 (MELLO-JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009).

Tabela 7 - Número total de óbitos captados pelo Sistema de Registro Civil e pelo
SIM e diferenças absoluta e relativa entre eles. Brasil, 1980/2003.
Diferença Diferença
Ano Registro Civil SIM Absoluta Relativa
1980 815.445 750.727 -64.718 -7,9
1985 815.829 788.231 -27.598 -3,4
1990 859.986 817.284 -42.702 -5,0
1994 925.101 887.594 -37.507 -4,1
1998 951.949 929.023 -22.926 -2,4
2000 943.567 946.686 +3.111 +0,3
2001 950.043 961.492 +11.449 +1,2
2002 978.627 982.807 +4.180 +0,4
2003 993.655 1.002.340 +9.285 +0,9
Fonte: Adaptado de: MELLO - JORGE, M. H. P.; LAURENTI, R.; GOTLIEB, S. L.
D. O sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM: concepção,
Implantação e Avaliação. In: BRASIL. Ministério da Saúde. A experiência
brasileira em sistemas de informação em saúde. Brasília, DF: Ministério
da Saúde, 2009. (Série B. Textos Básicos de Saúde).

A partir da década de 2000, o SIM já captava mais óbitos do que o


Registro Civil, embora este último também apresentasse sub-registro dos
eventos vitais. Por isso, os cálculos de estimativas de mortalidade eram
realizados por meio de técnicas indiretas a partir dos dados do IBGE.
Contudo, os dados ainda mostravam baixa cobertura, o que podia ser
estimado pelo Coeficiente Geral de Mortalidade (CGM), outro indicador que
contribui para a avaliação da cobertura do sistema de captação de óbitos. Isso
porque o coeficiente geral de mortalidade deve estar entre 6 e 12 óbitos por
mil habitantes, independentemente do nível de saúde apresentado por uma
população. Apesar de ser afetado pela estrutura etária da população, variando
se a população é mais jovem ou mais velha, o valor do coeficiente deve se
manter dentro desse intervalo (MELLO-JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009).
A figura 23 retrata a baixa cobertura da captação de óbitos pelo SIM
a partir do CGM, mostrando que existia um grande número de municípios
no Norte e Nordeste com CGM inferior a 2,0 por mil habitantes.

121
Figura 23 - Coeficiente geral de mortalidade padronizado por idade por
municípios. Regiões Norte e Nordeste. Brasil, 1996-1998.

Fonte: FRIAS, Paulo G. de et al. Utilização das informações vitais para a


estimação de indicadores de mortalidade no Brasil: da busca ativa de
eventos ao desenvolvimento de métodos. Cad. Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 33, n. 3, 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2017000305014&lng=en&nr
m=iso>.

Reveja a tabela 1, comparando com a figura 4, e observe que mesmo


que exista uma diferença de uma década entre os estudos, ainda
persistem as diferenças regionais na cobertura do SIM no Brasil.

A partir da década de 2000, o Ministério da Saúde patrocinou iniciativas


para a melhoria da cobertura do SIM e do Sinasc, com destaque para a
pesquisa de busca ativa de óbitos e nascimentos, que pretendia estimar o
sub-registro de óbitos e nascimentos, possibilitando o cálculo de indicadores
mais confiáveis, como a Taxa de Mortalidade Infantil.
A pesquisa por busca ativa tem como objetivo identificar os óbitos e
nascimentos que não foram registrados no SIM e Sinasc, respectivamente,

122
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

fazendo uma busca in loco desses eventos. As fontes de informações adicionais


foram: cartórios; secretarias de ação social (Cadastro Único dos Programas
Sociais do Governo Federal – Bolsa Família; auxílio sepultamento; auxílio
enxoval); hospitais; Unidades Básicas de Saúde; Serviço de Verificação
de Óbitos (SVO) e Instituto Médico Legal (IML); serviços de transporte de
pacientes (ambulâncias, SAMU, corpo de bombeiros); cemitérios oficiais e não
oficiais (locais de sepultamento); funerárias; delegacias de polícia; parteiras
tradicionais; igrejas e farmácias. Foram selecionados municípios de estados
com baixa cobertura do SIM e Sinasc, localizados na Amazônia Legal (estados
da Região Norte e Mato Grosso) e na Região Nordeste (BRASIL, 2011a).
As distintas realidades encontradas no Brasil geram situações que
afetam diretamente a qualidade dos dados em saúde, como é o caso da
cultura presente na zona rural de algumas regiões de sepultar bebês nos
quintais do domicílio, conforme você pode visualizar na figura 24.

Figura 24 - Sepultura em quintal de residência no interior do Nordeste, Brasil,


casos identificados durante a busca ativa de óbitos e nascimentos.

Fonte: FRIAS, Paulo G. de et al. Utilização das informações vitais para a estimação
de indicadores de mortalidade no Brasil: da busca ativa de eventos ao
desenvolvimento de métodos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 33,
n. 3, 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0102-311X2017000305014&lng=en&nrm=iso>.

A partir dos dados coletados nessa pesquisa, foi possível gerar fatores
de correção para os óbitos e nascimentos ocorridos nas regiões Norte e
Nordeste, o que contribuiu para o aumento da confiabilidade dos dados

123
gerados pelo SIM e Sinasc, gerando melhores indicadores de mortalidade,
como a TMI, por exemplo (DATASUS, 2017a).
Outra preocupação com relação à qualidade dos dados é com o
preenchimento dos formulários de cada um dos sistemas. No caso da DO,
chama atenção um indicador de qualidade importante para o planejamento
em saúde, que é o preenchimento da causa de morte, mais especificamente,
a proporção de óbitos por causa mal definida (CMD). Esses óbitos se referem
àqueles cujas causas básicas estão classificadas no Capítulo XVIII da CID-10
e contêm apenas a descrição de sintomas e sinais de doenças. A ocorrência
desses óbitos indica problemas de acesso aos serviços de saúde e reflete a
qualidade da assistência médica prestada à população (CUNHA; TEIXEIRA;
FRANÇA, 2017).
A tabela 8 mostra que a proporção de óbitos com causa mal definida
tem reduzido ao longo dos anos, ao passo que a proporção de óbitos sem
assistência médica tem reduzido no mesmo período.
Tabela 8 - Mortalidade proporcional por causas mal definidas e sem assistência médica. Brasil e
grandes regiões, 1995, 2000, 2005 e 2011.
Proporção de causas mal Proporção de óbitos sem
Região definidas assistência médica
1995 2000 2005 2011 1995 2000 2005 2011
Norte 25,7 24 17,7 11 17,8 15,8 10,8 4,8
Nordeste 34,4 28,4 17,2 7,7 28,1 22,2 11,2 3,9
Sudeste 9,7 9,8 8,1 6,6 3,8 2,8 2,1 1,2
Sul 9,4 6,3 5,8 4,5 7 3,9 2 0,8
Centro-Oeste 13,3 8,5 5,2 4,4 6,8 3 1,2 0,5
Brasil 16,2 14,3 10,4 6,7 10,7 8,3 4,8 2
Fonte: REDE Interagencial de Informação para a Saúde Indicadores básicos para a saúde no Brasil:
conceitos e aplicações. 2. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2008. 349 p.
Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/livroidb/2ed/indicadores.pdf>.

Registrar corretamente a causa do óbito contribui diretamente para


a qualidade da informação sobre o perfil de mortalidade da população. A
partir de uma boa informação, é possível promover ações de prevenção e
promoção, por meio de um planejamento adequado às necessidades de saúde
das pessoas. A falta de completude no preenchimento dos formulários que
dão base aos sistemas de informação também afeta a qualidade do Sinan.

124
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

Campos importantes para identificação do paciente e de seu endereço, que


facilitam o acompanhamento e investigação de casos, podem ter preenchimento
inferior a 10% a depender do campo a ser preenchido. Isso também acontece
com dados que estão relacionados aos fatores de risco para a doença ou
agravo, cujo preenchimento costuma ser inadequado (ALVARES et al., 2015;
MALHAO et al., 2010).
Apesar de um caminho ainda a percorrer em busca da melhoria na
qualidade dos sistemas de informações no Brasil, as iniciativas já implantadas
sugerem que bons resultados podem ser alcançados. Embora haja diferenças
regionais e entre sistemas, a melhoria na qualidade dos dados pode ser
observada. É o caso do preenchimento adequado dos campos da Declaração
de Nascidos Vivos (DN), onde a completude dos campos permite que os
dados sejam utilizados com confiabilidade por gestores e profissionais de
saúde, como você pode verificar na tabela 9.

Tabela 9 - Percentual de completude dos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).
Brasil e Macrorregiões, 2006-2010.

Variável Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil


Tipo de gravidez 99,93 99,88 99,94 99,97 99,87 99,92
Tipo de parto 99,91 99,83 99,88 99,96 99,82 99,87
Semana 99,68 99,31 98,90 99,89 99,52 99,28
gestacional
Sexo 99,98 99,97 99,98 99,99 99,99 99,98
Raça/cor
(recém- 99,31 92,41 93,27 99,80 90,58 94,27
nascido)
Índice de Apgar
ao 1º minuto de 97,82 92,14 97,07 99,25 98,90 96,11
vida
Índice de Apgar
ao 5º minuto de 97,26 91,40 97,13 99,27 98,94 95,85
vida
Peso ao nascer 100,00 99,99 99,64 100,00 100,00 99,86
Detecção
de anomalia 97,99 95,24 95,28 99,59 93,90 96,00
congênita
Percentual de 99,10 96,69 97,90 99,75 97,95 97,90
completude
Fonte: OLIVEIRA, Max M. de et al. Avaliação do Sistema de Informações sobre nascidos vivos. Brasil, 2006 a
2010. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 24, n. 4, p. 629-640, 2015.

125
A qualidade das informações depende, entre outros atributos, do
registro adequado dos eventos captados pelos sistemas de informações em
saúde. Além disso, é necessário o preenchimento cuidadoso e responsável
dos formulários pelos profissionais envolvidos em todo o processo que
constitui um sistema de informação.

AGORA É COM VOCÊ!

Você já ouviu falar na Vigilância do Óbito Materno, Infantil e Fetal? Faça


uma busca no seu município, entrevistando pessoas ou consultando
documentos, para saber como funciona essa vigilância.
Como discutimos anteriormente, os indicadores de morte materna e
mortalidade infantil são importantes marcadores da situação de saúde e
das condições de vida de uma população, não à toa estão inscritos como
metas para sua redução nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
das Nações Unidas. Para conhecer mais sobre esse programa, acesse
o site das nações unidas.
A partir da leitura deste livro, você já pode reconhecer que para uma
ação adequada à melhoria da saúde das pessoas, é necessário ter
informação de qualidade disponível, correto? Portanto, a Vigilância do
Óbito Materno, Infantil e Fetal busca identificar as causas que levaram a
óbito os indivíduos desse grupo, investigando profundamente a cadeia
de eventos que levou à morte. Isso gera informação precisa sobre a
causa do óbito, permitindo a implantação de ações mais efetivas para
que novas mortes sejam evitadas.
Você pode acompanhar os dados de mortalidade infantil e fetal do
seu município/estado acessando o Painel de Monitoramento da
Mortalidade Infantil e Fetal e os dados de morte materna no Painel
de Monitoramento da Mortalidade Materna (BRASIL, 2017a, 2017b).

126
ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos conhecimentos sobre a Análise de Situação de Saúde
(Asis), gestores e profissionais de saúde poderão basear suas decisões em
informações adequadas à resolução dos principais problemas de saúde do
seu território.
Para isso, é de fundamental importância o conhecimento das fontes dos
dados que constituirão a Asis, reconhecendo que os dados epidemiológicos
e demográficos são fundamentais na composição da análise, uma vez que
contribuem para a contextualização das condições de vida dos indivíduos, as
quais, em última análise, determinam o processo saúde-doença dos grupos
populacionais.
Nesta perspectiva, você pôde reconhecer o que são necessidades em
saúde da população, as desigualdades em saúde e a carga de doenças e como
elas são importantes elementos para a Análise de Situação de Saúde. Você
pôde conhecer ainda um pouco mais sobre as informações em saúde e sua
importância para a identificação das necessidades de saúde da população.
Pôde, ainda, se familiarizar com alguns dos principais indicadores utilizados
na Asis, a partir dos dados dos Sistemas de Informações em Saúde (SIS),
e com os atributos que os tornam boas medidas do nível de saúde e das
condições de vida da população.
Assim, esperamos que a partir dos elementos apresentados aqui, você
possa incrementar o processo de tomada de decisões no seu cotidiano com o
uso da Asis, a fim de racionalizar os recursos disponíveis para atender melhor
às necessidades de saúde da população. Essas ações devem ser embasadas
no processo de utilização e produção de dados com qualidade, afinal, o
processo de tomada de decisão deve servir a atender às necessidades de
saúde da população, sendo responsabilidade de todos nós a qualidade de
vida na grande comunidade da qual fazemos parte.

127
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