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MANUAL DE
P R E C E P TO R I A
MULTIPROFISSIONAL
NA ÁREA DA SAÚDE
UMA ABORDAGEM TEÓRICO-PRÁTICA
Organizadoras
Porto Alegre - RS
2023
2
2023 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição –
Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a
reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
CDU 378:614.252
3
AUTORAS
4
Scheila Mai
Enfermeira, mestra em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Docente da Escola de Saúde da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos), onde desenvolve
atividades na residência multiprofissional em Atenção Básica, nas funções de docente, tutora de
campo e tutora de núcleo de enfermagem. Enfermeira assistencial na Saúde Comunitária do Grupo
Hospitalar Conceição (GHC), onde desenvolve ações assistenciais e de ensino como preceptora de
campo da residência multiprofissional em saúde e ministra aula do componente Curricular II da
residência. Doutoranda em Saúde Coletiva na Unisinos, especialista em Informática na Saúde pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Ativadores no Processo de Formação dos
Profissionais de Saúde no Ensino Superior pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Preceptoria no
Sistema Único de Saúde pelo Hospital Sírio-Libanês, em Estomaterapia pela Unisinos e em Docência
no Ensino Superior e na Educação Profissional pela Faculdades EST/Rede Sinodal. Residência concluída
em Gestão da Informação em Saúde, campo de formação Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande
do Sul, Departamento de Gestão da Tecnologia da Informação. Residência em Saúde Coletiva, ênfase
na Atenção Básica, pela Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (ESP/RS). Especialista em Gestão
em Saúde Pública pela Celer Faculdades. Graduada em Enfermagem pela Universidade do Estado de
Santa Catarina (UDESC), com graduação sanduíche na Universidade do Minho, Portugal, com bolsa do
Programa de Mobilidade Estudantil.
5
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................................................. 8
PERSONAGENS DA CONDUÇÃO DIDÁTICA................................................................................................................. 9
PARTE 1
COMPETÊNCIAS EM PRECEPTORIA, PAPEL DO PRECEPTOR E PROFISSIONALISMO
BOAS-VINDAS!.................................................................................................................................................................. 11
1. COMPETÊNCIAS EM PRECEPTORIA........................................................................................................................ 12
1.1 Compreendendo os objetivos dos programas de residência médica, uniprofissional
e multiprofissional do Ministério da Saúde ....................................................................................................... 12
1.2 Conceito de preceptoria em saúde...................................................................................................................... 18
1.3 Trabalho interprofissional...................................................................................................................................... 21
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................... 61
PARTE 2
FERRAMENTAS DE ENSINO
BOAS-VINDAS!.................................................................................................................................................................. 67
1. O ENSINO NA APRENDIZAGEM DO ADULTO NO CONTEXTO
DA PRECEPTORIA MULTIPROFISSIONAL................................................................................................................... 68
1.1 O ensino em serviço: aprendizagem do adulto ................................................................................................. 68
1.2 O ensino no contexto da preceptoria, nos diferentes níveis de atenção à saúde......................................... 72
1.3 O ensino centrado no residente........................................................................................................................... 78
1.4 Os desafios do ensino para aprendizagem no contexto da preceptoria multiprofissional......................... 84
6
4. DIFERENTES MÉTODOS E FERRAMENTAS DE ENSINO NO CONTEXTO
DA PRECEPTORIA MULTIPROFISSIONAL.................................................................................................................121
4.1 Ensino e formação em serviço no contexto da preceptoria multiprofissional............................................121
4.2 Ações de ensino para uma aprendizagem ativa e significativa......................................................................124
4.2.1 Brainstorming................................................................................................................................................126
4.2.2 Espiral construtivista...................................................................................................................................129
4.2.3 Metodologia da problematização.............................................................................................................132
4.2.4 Árvore de problemas...................................................................................................................................135
4.2.5 Diagrama dos cinco porquês......................................................................................................................137
4.2.6 Preceptoria em um minuto........................................................................................................................139
4.2.7 Metodologia SNAPPS..................................................................................................................................143
4.2.8 Fishbowl.........................................................................................................................................................144
4.2.9 Diálogos sucessivos.....................................................................................................................................146
4.2.10 Brainwriting................................................................................................................................................147
4.2.11 Viagem educacional .................................................................................................................................148
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................................150
PARTE 3
FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO
BOAS-VINDAS!................................................................................................................................................................156
1. AVALIAÇÃO NA FORMAÇÃO EM SERVIÇO NA ÁREA DA SAÚDE..................................................................157
1.1 Avaliação na formação de adultos e no contexto das residências ................................................................157
1.2 Por que e para quem avaliar? .............................................................................................................................161
1.3 O que, para que e quando avaliar? .....................................................................................................................168
3. COMO AVALIAR?........................................................................................................................................................196
3.1 Avaliação de aprendizagem: estratégias e instrumentos................................................................................196
3.2 Estratégias de avaliação: aplicação no contexto das residências...................................................................198
3.3 Instrumentos de avaliação...................................................................................................................................206
3.3.1 Mapa conceitual...........................................................................................................................................208
3.3.2 Avaliação escrita..........................................................................................................................................209
3.3.3 Salto triplo....................................................................................................................................................211
3.3.4 Diário de campo...........................................................................................................................................212
3.3.5 Portfólio reflexivo.......................................................................................................................................214
3.3.6 OSCE..............................................................................................................................................................216
3.3.7 Discussão baseada em casos ou case-based discussion (CBD)..............................................................218
3.3.8 Observação direta de procedimentos (DOPS)........................................................................................220
3.3.9 Atividades profissionais confiabilizadoras (EPAs)...................................................................................221
3.3.10 Mini-CEX/Miniex........................................................................................................................................223
3.4 Feedback avaliativo no contexto das residências..............................................................................................227
3.5 Exemplos de contextos que envolvem avaliação nas residências..................................................................230
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................................................234
CRÉDITOS.........................................................................................................................................................................243
7
APRESENTAÇÃO
Um dos grandes desafios dos profissionais de saúde que trabalham como preceptores nos mais diversos pro-
gramas de residência em nosso país tem sido o desenvolvimento das competências relacionadas aos proces-
sos de ensino e aprendizagem. Muitas vezes, esses profissionais têm vasta experiência assistencial e aceitam
se colocar como referência aos mais jovens; no entanto, referem o desejo e a necessidade de compreende-
rem como ocorrem os processos de aprendizagem em adultos, quais são as metodologias ou ferramentas
que podem apoiar o ensino e, principalmente, como realizar a avaliação da construção do conhecimento.
Tudo isso em um mundo de imersão em tecnologias de comunicação, em que o acesso instantâneo às infor-
mações em saúde atravessa constantemente as relações de trabalho e de aprendizado.
Essa “inquietação pedagógica” (muito bem-vinda) acerca da forma como as atividades educacionais são
pensadas, organizadas e propostas no tempo da residência e nos espaços do ensino em serviço, para além
da repetição herdada da experiência com a educação tradicional, pressupõe uma mudança de concepção
de ensino que exige do preceptor um processo reflexivo e formativo em novos “campos” metodológicos.
Nesse contexto, nasceu a ideia da construção deste manual, que tem dois grandes focos: as competên-
cias de preceptoria e as metodologias de ensino e avaliação, ambos visando à instrumentalização dos
preceptores em seu dia a dia junto aos residentes. Este manual é composto de três partes independen-
tes, por isso algumas metodologias se repetem, embora com exemplos diferentes considerando os
contextos de prática.
Contudo, a elaboração dos conteúdos consegue ir além da abordagem teórica, pois as autoras preocu-
pam-se em apresentar contextualizações por meio de exemplos de situações da prática na Atenção Pri-
mária à Saúde e na atenção especializada ambulatorial e hospitalar. Além disso, nessa abordagem prática,
esforçam-se em contemplar as diversas áreas da saúde, com vistas a possibilitar aos leitores – profissionais
da saúde de diferentes formações – o encontro de situações próximas àquelas vivenciadas na prática. A
riqueza dos contextos apresentados por meio de histórias ilustradas, histórias em quadrinhos e imagens
ilustrativas está, ainda, no cuidado em representar personagens – preceptores, residentes ou usuários,
que contemplem a diversidade humana e social. Tudo isso com o objetivo de promover a reflexão a partir
de situações do cotidiano de prática da preceptoria.
A motivação para a organização e entrega deste manual se encontra na vontade comum da equipe do
projeto de apoio Curso de Especialização em Preceptoria Multiprofissional na Área da Saúde, do Programa
de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) do Hospital Moinhos
de Vento, bem como da Área Técnica da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, do
Ministério da Saúde. O objetivo é entregar aos preceptores e demais profissionais da área da saúde com
interesse em iniciar a preceptoria um material de apoio que contribua na realização de planejamentos e
de ações educacionais efetivas junto aos residentes dos diversos programas de residência, seja médica,
uni ou multiprofissional.
Que a beleza que se faz presente no ato de ensinar e no desejo de aprender permeie as mais diversas
ações educacionais no contexto da preceptoria, pois o que todos almejamos é o desenvolvimento pro-
fissional dos preceptores e residentes e, consequentemente, a qualificação da assistência à população
brasileira por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
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PERSONAGENS DA CONDUÇÃO DIDÁTICA
Para qualificar a condução didática, tem-se três personagens fictícios. O intuito é que façam a intro-
dução e conclusão dos conteúdos ao longo do texto, além de destacar e/ou problematizar pontos
importantes de competência da preceptoria. Conheça-os a seguir!
9
PARTE 1
COMPETÊNCIAS EM
PRECEPTORIA,
PAPEL DO PRECEPTOR E
PROFISSIONALISMO
10
BOAS-VINDAS!
Neste estudo, você irá compreender a importância do preceptor na formação em serviço e saber aplicar
as competências da preceptoria no processo de ensino e aprendizagem.
Bons estudos!
11
1 COMPETÊNCIAS
EM PRECEPTORIA
Para isso, convido você a assistir à videoaula que aborda o objetivo de um programa de residência e
os conceitos de preceptoria e trabalho interprofissional.
Competências em preceptoria
12
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Os programas de residência são fundamentados em uma base pedagógica que se apoia nos princípios
e diretrizes do SUS, relacionando a formação a uma aprendizagem prática baseada nas situações do
trabalho. Ela problematiza o modelo técnico assistencial com foco na integração ensino-serviço, po-
tencializando a reformulação do processo de trabalho no cotidiano dos serviços de saúde.
Diante dessas estruturas didático-pedagógicas, destaca-se que uma das primeiras com-
petências necessárias ao preceptor e a todos os atores envolvidos é a de conhecimento
das redes de atenção e da clínica ampliada, pautada na atenção integral e interprofis-
sional, visando a uma formação onde o residente tem autonomia no processo de apren-
dizagem, pautado na aprendizagem significativa e com foco nas relações da produção
do cuidar (CNRMS, 2012).
Fonte: a autora.
Em relação à residência médica, a COREME, órgão colegiado, é instância auxiliar da Comissão Nacional
de Residência Médica (CNRM) e da Comissão Estadual de Residência Médica (CEREM), sendo constitu-
ída por um coordenador e um vice-coordenador, o supervisor de cada PRM da instituição, um repre-
sentante dos médicos residentes e um médico especialista representante da direção da instituição de
saúde, como você pode observar no fluxograma abaixo.
Fonte: a autora.
Veja a seguir o que as resoluções trazem a respeito de conceito e competências dos preceptores:
Art.13 A função de preceptor caracteriza-se por supervisão direta das atividades práticas realizadas
pelos residentes nos serviços de saúde onde se desenvolve o programa, exercida por profissional vin-
culado à instituição formadora ou executora, com formação mínima de especialista.
14
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
§1º O preceptor deverá, necessariamente, ser da mesma área profissional do residente sob sua super-
visão, estando presente no cenário de prática.
§2º A supervisão de preceptor de mesma área profissional, mencionada no parágrafo 1º, não se
aplica a programas, áreas de concentração ou estágios voltados às atividades que podem ser de-
sempenhadas por quaisquer profissionais da saúde habilitados na área de atuação específica, como
por exemplo: gestão, saúde do trabalhador, vigilância epidemiológica, ambiental ou sanitária, entre
outras.
Além disso, em seu Art. 14°, incisos I a VI e VIII a XI, define as principais competências do preceptor,
como você pode visualizar na tabela a seguir:
I. Exercer a função de orientador de referência para o(s) residente(s) no desempenho das atividades
práticas vivenciadas no cotidiano da atenção e gestão em saúde.
II. Orientar e acompanhar, com suporte do(s) tutor(es), o desenvolvimento do plano de atividades teórico-
práticas e práticas do residente, devendo observar as diretrizes do PP.
III. Elaborar, com suporte do(s) tutor(es) e demais preceptores da área de concentração, as escalas de
plantões e de férias, acompanhando sua execução.
IV. Facilitar a integração do(s) residente(s) com a equipe de saúde, usuários (indivíduos, família e grupos),
residentes de outros programas, bem como com estudantes dos diferentes níveis de formação
profissional na saúde que atuam no campo de prática.
V. Participar, junto com o(s) residente(s) e demais profissionais envolvidos no programa, das atividades
de pesquisa e dos projetos de intervenção voltados à produção de conhecimento e de tecnologias que
integrem ensino e serviço para qualificação do SUS.
VII. Participar da elaboração de relatórios periódicos desenvolvidos pelo(s) residente(s) sob sua supervisão.
VIII. Proceder, em conjunto com tutores, a formalização do processo avaliativo do residente, com
periodicidade máxima bimestral.
IX. Proceder, em conjunto com tutores, a formalização do processo avaliativo do residente, com
periodicidade máxima bimestral.
XI. Orientar e avaliar os trabalhos de conclusão do programa de residência, conforme as regras estabelecidas
no Regimento Interno da COREMU, respeitada a exigência mínima de titulação de mestre.
15
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A Resolução CNRM n° 16, de 30 de setembro de 2022, traz, em seu Art. 1°, os conceitos de pre-
ceptor de programa de residência médica e de preceptoria:
Médico com especialização reconhecida pela CNRM, que atua na orientação direta junto às
atividades teórico-práticas dos médicos residentes, que tem compromisso com a formação do
médico residente, responsável por ensinar, orientar, conduzir, acompanhar e supervisionar o
desenvolvimento da formação integral dos médicos residentes, atuando como mediador no
processo de ensino e aprendizagem, caracterizado por treinamento em serviço e atividades
teórico-complementares nos diversos cenários de prática, baseada na aquisição de competên-
cias, traduzidas como conhecimentos, atitudes e habilidades técnicas relacionadas ao progra-
ma de residência médica de determinada área.
Conjunto de atividades do médico preceptor com especialidade reconhecida pela CNRM que
tem o compromisso da formação do médico residente na referida especialidade, caracteriza-
dos por treinamento em serviço e atividades teórico-complementares, relacionada à sua área
de conhecimento e atuando junto ao médico residente nos cenários de prática assistenciais.
Traz ainda, em seu Art. 28°, incisos 1 a 26, as competências do preceptor do PRM, conforme a tabela
a seguir:
I. Exercer a atividade de orientador de referência para o residente no desempenho das atividades práticas.
IV. Participar, junto com o residente e demais profissionais envolvidos no programa, das atividades
de pesquisa e dos projetos de intervenção voltados à produção de conhecimento e de tecnologias
que integrem ensino e serviço.
VII. Elaborar e supervisionar, a critério do supervisor, com os demais preceptores da área de concentração,
as escalas das atividades teóricas, práticas e teórico-práticas, acompanhando sua execução.
VIII. Dar ciência ao supervisor de qualquer irregularidade que afete o adequado desenvolvimento do
programa de residência.
16
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
X. Participar da reunião, no mínimo bimestral, entre os preceptores com a Supervisão da residência médica.
XI. Proceder, em conjunto com supervisor, à formalização do processo avaliativo do residente, com
periodicidade máxima trimestral, incluindo o plano de recuperação.
XII. Aplicar os instrumentos de avaliação de desempenho estabelecidos pela COREME, de acordo com
as normas da CNRM.
XIII. Preencher os instrumentos e formatos de avaliação dos médicos residentes e do PRM, conforme
estabelecido pela CNRM.
XV. Informar ao supervisor os casos em que o residente apresente conceito insatisfatório na avaliação.
XVI. Atuar nos processos apuratórios de condutas irregulares quando convocado pela coordenação do
programa ou COREME.
XXIII. Estar acessível, conforme escala de serviço, nas atividades assistenciais do programa de residência,
para dirimir dúvidas do residente na execução das atividades, promovendo o aperfeiçoamento de
condutas e procedimentos realizados.
XXIV. Incentivar a participação dos residentes em jornadas e congressos da sua área de concentração
temática.
17
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para iniciar, leia com atenção o artigo indicado a seguir, que abordará as diferenças entre os profissio-
nais envolvidos nos programas de formação profissional e suas principais atribuições.
LEITURA RECOMENDADA
No estudo dos conceitos de preceptoria (BOTTI; REGO, 2008) podemos fazer os seguintes destaques:
Ryan-Nicholls (2004) define como preceptor o profissional que tem o ensino voltado
para práticas clínicas e desenvolvimento de habilidades técnicas para pequenos grupos
de alunos ou residentes no ambiente de trabalho.
Bain (1996) designa o preceptor como sendo o profissional que tem a responsabilidade
de articular a teoria e a prática no ambiente de trabalho, frente ao dinamismo caracte-
rístico dos serviços de saúde.
18
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Observe no quadro a seguir as principais diferenças entre preceptor, supervisor, tutor e mentor.
● Competência clínica e
● Guiar, facilitar o processo
capacidade de ajudar a
de ensino e aprendiza-
aprender a aprender.
gem centrado no aluno. Ambientes
Tutor Sim.
escolares.
● Compreensão da práti-
● Atuar na revisão da práti-
ca profissional em sua
ca profissional.
essência.
● Capacidade de se res-
ponsabilizar, de servir
Guiar, orientar e aconselhar como guia, de oferecer
na realização dos objetivos suporte e de estimular
Fora do ambiente
pessoais, buscando o de- o desenvolvimento do
Mentor imediato de prá- Não.
senvolvimento interpessoal, raciocínio crítico.
tica profissional.
psicossocial, educacional e
profissional. ● Capacidade de ouvir,
questionar e estimular
justificações.
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O papel do tutor difere entre o ensino médico e o ensino das demais categorias profissionais de saúde.
Nos programas de residências uniprofissional e multiprofissional, compete ao tutor (BRASIL, 2012):
Competências do tutor
Implementar estratégias pedagógicas que integrem saberes e práticas, promovendo a articulação ensi-
no-serviço, de modo a proporcionar o desenvolvimento das competências previstas no PP do programa,
realizando encontros periódicos com preceptores e residentes com frequência mínima semanal, contem-
plando todas as áreas envolvidas no programa.
Organizar, em conjunto com os preceptores, reuniões periódicas para implementação e avaliação do PP.
Planejar e implementar, junto aos preceptores, equipe de saúde, docentes e residentes, ações voltadas à
qualificação dos serviços e desenvolvimento de novas tecnologias para atenção e gestão em saúde.
Articular a integração dos preceptores e residentes com os respectivos pares de outros programas, in-
cluindo os da residência médica, bem como com estudantes dos diferentes níveis de formação profissio-
nal na saúde.
A palavra preceptor vem do latim praeceptor, “mestre”, referido no ensino básico à pessoa que instrui
crianças e adolescentes (MICHAELIS, 2022).
Na literatura, encontram-se diferentes definições para preceptor. Contudo, observa-se que essen-
cialmente o preceptor é o profissional de saúde responsável por orientar e ensinar as competências
clínicas, com objetivo de auxiliar na adaptação ao exercício da profissão. O preceptor utiliza diferen-
tes métodos de ensino e aprendizagem, envolvendo situações clínicas reais no ambiente de trabalho,
auxiliando na formação ética dos novos profissionais (BOTTI; REGO, 2008).
Para o aprofundamento sobre o conceito de preceptoria, leia o texto a seguir, página 61. O texto
traz uma abordagem sobre a importância da qualificação docente-assistencial para a formação em
programas de residências em saúde, competências médicas e práticas exitosas de preceptores em
programas de residências multiprofissionais.
SAIBA MAIS
20
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
PODCAST
LEITURA RECOMENDADA
LEITURA RECOMENDADA
21
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Alvarenga et al. (2013 apud ARAÚJO et al., 2017, p. 602) afirmam que “a fragmentação
do cuidado é comum na multiprofissionalidade, a qual seria a justaposição de disci-
plinas distintas, em que os saberes especializados balizarão a atuação de cada pro-
fissional”. “Já a interprofissionalidade vincula-se: à noção do trabalho em equipe de
saúde, marcado pela reflexão sobre os papéis profissionais, a resolução de problemas
e a negociação nos processos decisórios, a partir da construção de conhecimentos, de
forma dialógica e com respeito às singularidades e diferenças dos diversos núcleos de
saberes e práticas profissionais” (BATISTA, 2012 apud ARAÚJO et al., 2017, p. 602).
Para entender de forma contextualizada o trabalho colaborativo e interprofissional, vamos ver a his-
tória ilustrada que apresenta a experiência do residente Mateus com outros profissionais na unidade
de saúde.
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A seguir estão descritas as principais diferenças entre o processo de trabalho das equipes multi e
interprofissionais.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
25
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
ATIVIDADE
Analise as situações 1 e 2 e indique qual setor ou ator do programa de residência está direta-
mente envolvido na resolução.
Situação 1
Qual setor ou ator, entre os listados abaixo, pode auxiliar o preceptor Marcelo?
Feedback
Já o NDAE tem responsabilidades que podem ser consideradas mais amplas e estruturantes
do programa, como:
I. acompanhar a execução do PP, propondo ajustes e mudanças, quando necessários, à
coordenação;
26
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Por fim, cabe à COREME e COREMU instituir as diretrizes gerais para a criação e operaciona-
lização dos PRMs (COREME) e uni e multiprofissional (COREMU).
Situação 2
Qual setor ou ator, entre os listados abaixo, completa a lacuna acima na fala da coordenadora
Andrea?
27
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Feedback
Se você selecionou COREME, está correto! Segundo a Resolução CNRM n° 2, de 3 de julho de 2013:
CAPÍTULO III
DAS ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS DA COREME
Art. 3º São competências da COREME da instituição de saúde que oferece programa de resi-
dência médica (entre outras):
I. planejar a criação de novos programas de residência médica na instituição, manifestando-
-se sobre a conveniência em fazê-lo, o seu conteúdo programático e o número de vagas a
ser oferecidas.
Segundo a Resolução CNRM n° 2, de 3 de julho de 2013, Art. 5°, compete ao coordenador da
COREME:
I. coordenar as atividades da COREME;
II. convocar reuniões e presidi-las;
III. encaminhar à instituição de saúde as decisões da COREME;
IV. coordenar o processo seletivo dos programas de residência médica da instituição;
V. representar a COREME junto à CEREM;
VI. encaminhar trimestralmente à Comissão Estadual de Residência (CEREM) informações
atualizadas sobre os programas de residência médica da instituição.
28
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Situação 3
A situação representada a seguir retrata o dia do acolhimento dos residentes. Nesse momento,
todos os membros do programa se apresentam e explicam sobre a atuação no mesmo.
De acordo com a apresentação de João, assinale qual a função que ele desempenha no progra-
ma de residência.
29
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Feedback
Se você selecionou preceptor do programa, está correto! Segundo a Resolução CNRMS nº 2, de
13 de abril de 2012, Art. 14º, compete ao preceptor, entre outras atribuições:
IV. facilitar a integração do(s) residente(s) com a equipe de saúde, usuários (indivíduos, famí-
lia e grupos), residentes de outros programas, bem como com estudantes dos diferentes
níveis de formação profissional na saúde que atuam no campo de prática;
V. participar, junto com o(s) residente(s) e demais profissionais envolvidos no programa, das
atividades de pesquisa e dos projetos de intervenção voltados à produção de conhecimen-
to e de tecnologias que integrem ensino e serviço para qualificação do SUS.
30
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Situação 4
Analise a situação do paciente Carlos:
Encaminhamento A: Encaminhamento B:
após a consulta, a médica Sandra pres- após a consulta, a médica Sandra prescreveu o tra-
creveu o tratamento e encaminhou tamento e na reunião semanal da equipe apresen-
Carlos para alguns profissionais, pois tou a situação de Carlos. Nessa reunião, foi decidido
entendeu que seriam importantes, agregar ao tratamento inicial outras intervenções,
para continuidade do tratamento, ou- acompanhadas por diferentes profissionais. Foi soli-
tras intervenções e formas de cuidado. citado ao Agente Comunitário de Saúde que Carlos
Encaminhou para o nutricionista, edu- voltasse à USF para apresentarem – e avaliarem, con-
cador físico da academia da saúde e juntamente – o plano de cuidado. No plano, foram
psicólogo. envolvidas as intervenções médicas, do nutricionista,
do educador físico e do psicólogo da rede.
Feedback
Se você selecionou o encaminhamento B, está correto! A equipe interprofissional atua com
profissionais de diversas formações na saúde, dispostos a transitar entre as áreas específicas
de formação e de promover, além do ensino, a atuação interprofissional de forma colaborativa
e objetivo comum (OMS, 2010). Nesta situação, o compartilhamento do caso e a elaboração
do plano de cuidado por meio da discussão do caso caracteriza a perspectiva interprofissional,
fortalecendo o cuidado integral e clínica ampliada.
31
2 ENSINO DO PROFISSIONALISMO
NO CONTEXTO DA PRECEPTORIA
“Moral vem do latim, morus, que significa usos e costumes” (PIMENTEL, 2017, p.30).
Abbagnano (1970 apud PIMENTEL, 2017, p.30) afirma que “a ética é compreendida no
campo da ação, consagrada por normas, costumes, modo de viver e transmitida de pais
a filhos, em razão de um sistema social que estabelece como convenção legal e moral
aquilo que pode e o que não é permitido, de maneira que se preservem os espaços
sociais conquistados”.
Os principais conflitos éticos na saúde são ligados às relações profissional-paciente e entre profis-
sionais. Com base nos conceitos de moral e de ética, leia a história em quadrinhos e reflita sobre as
práticas da preceptoria neste contexto.
Você acha que o preceptor tem responsabilidade de auxiliar na construção ética e moral dos novos
profissionais?
32
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Os principais conflitos éticos na saúde são ligados às relações profissional-paciente e entre profis-
sionais. Com base nos conceitos de moral e de ética, leia a história em quadrinhos e reflita sobre as
práticas da preceptoria neste contexto.
Você acha que o preceptor tem responsabilidade de auxiliar na construção ética e moral dos novos
profissionais?
Durante um atendimento clínico, vivenciamos muitos conflitos éticos, por vezes não percebidos
pelos profissionais. Na leitura da história em quadrinhos, é evidenciada a importância da comuni-
cação e de como apresentar os diagnósticos. Contudo, há outros elementos que devemos consi-
derar. Já pararam para pensar em como orientar os residentes quanto à coleta de dados clínicos
e sociodemográficos? Quais dados são de fato relevantes para o raciocínio clínico e de definição
diagnóstica? Será que podemos dialogar abertamente com pacientes acompanhados?
Essas e outras reflexões nos fazem entender que assistir um paciente vai além de identificar o pro-
blema e definir um plano terapêutico. É considerar o paciente como indivíduo e identificar se está
pronto para receber o diagnóstico e assumir seu papel na terapêutica. Quando os valores éticos
se referem à saúde, são diretamente relacionados às responsabilidades dos profissionais com os
pacientes e com seus pares (PIMENTEL, 2017).
Com isso, o preceptor tem o papel de auxiliar o novo profissional a desenvolver a ética profissional,
que consiste em respeito à dignidade e à condição humana, pautado nas condições sociais, econô-
micas e culturais de seus pacientes, e deve usar da sensatez em relação aos seus direitos e deveres.
34
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Como você pode perceber, um dos papéis do preceptor é contribuir na formação profissional e hu-
mana dos residentes.
Para aprofundar um pouco mais o estudo nessa temática, leia os artigos abaixo, que abordam formas
de avaliar as competências éticas e morais em estudantes de medicina e o profissionalismo na formação
de enfermagem.
LEITURA RECOMENDADA
LEITURA RECOMENDADA
Para Bub (2005), muito mais relevante do que as teorias éticas e/ou modelos de análise teórica da
ética e moral da saúde, é necessário refletir sobre os comportamentos e atitudes durante o exercício
profissional, independentemente do tipo de atividade exercida: assistência, pesquisa ou educação.
Leia o texto indicado abaixo, que aborda as competências do preceptor na construção do profissiona-
lismo, e, em seguida, analise o infográfico que sintetiza as principais características pessoais e profis-
sionais envolvidas na forma como o preceptor pode contribuir nessa construção.
LEITURA RECOMENDADA
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36
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para entender de forma contextualizada o trabalho colaborativo e interprofissional, vamos ver a his-
tória ilustrada que apresenta as reflexões do preceptor Cícero acerca das aprendizagens dos residen-
tes, especialmente em relação ao desenvolvimento do profissionalismo.
37
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
38
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A discussão sobre profissionalismo tem ganhado espaço na literatura do campo da saúde, uma
vez que as necessidades de cuidados das pessoas têm se apresentado em casos cada vez mais
complexos, exigindo dos profissionais, além de conhecimento técnico-científico, também, com-
petências ético-políticas e relacionais, no intuito de ser possível responder a essas demandas de
forma mais resolutiva.
Assim, ser um bom profissional vai além de ter conhecimento, pois depende, também, de como
nos relacionamos com os demais colegas no trabalho, sendo imperativo que desempenhemos
nossas atividades a partir de uma perspectiva que garanta a ética em nossas ações.
Para saber mais, realize as leituras indicadas a seguir. Caso queira, você também pode buscar e revisar
o código de ética de sua categoria profissional. A seguir, disponibilizamos alguns.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
39
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
ATIVIDADE
Ética e profissionalismo são competências necessárias para todos os profissionais. Para realizar
esta atividade, leia cada uma das três situações apresentadas a seguir e depois responda as
duas questões.
Situação 1
40
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Situação 2
Situação 3
Uma equipe interprofissional que assistia um paciente com doença rara decidiu realizar uma
pesquisa baseada nesta situação clínica. Na elaboração do instrumento de coleta, foram soli-
citadas várias informações desnecessárias para aquele objeto de estudo, mas a equipe apro-
veitou o momento da coleta para criar um banco de variáveis, cujas informações poderiam ser
utilizadas em um novo objeto de estudo.
41
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Questão 1
Na situação 1, a reportagem descreve um erro médico (deixar um equipamento na paciente),
que causou um dano físico. O erro não foi reconhecido e o diagnóstico sobre o processo infla-
matório descrito pela paciente foi equivocado. Diante do fato apresentado pelo jornal, você
acha que o erro caracterizou uma falta:
Ética Moral
Feedback
Se você respondeu ética, está correto! A situação caracteriza uma infração ética, pois está diretamen-
te relacionada a uma inabilidade profissional, refere-se a um erro relativo às competências técnicas
profissionais. Conforme descrito no Código de Ética Médica de 2018, no capítulo 3º, Art. 1º, “é vedado
ao médico causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência
ou negligência” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2019). Segundo Pimentel (2007), moral vem do
latim, morus, que significa usos e costumes. Nessa situação específica, a infração está diretamente
relacionada a um erro referente a uma competência profissional e de princípios morais.
Questão 2
Considerando as três situações apresentadas anteriormente, em qual você identifica que fo-
ram atendidos os valores éticos e morais?
Situação 1 - Após a cirurgia, o médico cumpriu os seus deveres e esclareceu à paciente so-
bre sua queixa.
Situação 2 - A médica cumpriu o Código de Ética Médica de 2018, capítulo 5º, Art. 37.
Na situação 1, mesmo que o profissional tenha ouvido a paciente e respondido à sua pergunta,
houve erro na conduta clínica. Conforme o Código de Ética Médica de 2019, no capítulo 3º, Art. 1º:
“É vedado ao médico causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como impe-
rícia, imprudência ou negligência.
Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida” (CON-
SELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2019).
Sobre a situação 3, a Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe so-
bre a ética em pesquisa, no item III, III.1, letra q, diz que se deve “utilizar o material e os dados
obtidos na pesquisa exclusivamente para a finalidade prevista no seu protocolo, ou conforme
o consentimento do participante” (BRASIL, 2012).
42
3
PERFIL DE PRECEPTORIA
COM FOCO NO TRABALHO
EM EQUIPE E NA INTEGRAÇÃO
ENSINO-SERVIÇO
3.1 Perfil de competência do preceptor
Neste capítulo, iremos discutir sobre o papel do preceptor na construção do profissionalismo pauta-
do nas atitudes e comportamentos éticos na prática profissional.
Escute o podcast e entenda um pouco mais sobre como se dará o desenvolvimento deste capítulo.
PODCAST
Algumas considerações sobre o capítulo 3: perfil de
preceptoria com foco no trabalho em equipe e na
integração ensino-serviço
O preceptor, como descrito nos capítulos anteriores, é um profissional de saúde que orienta o estudan-
te ou residente na sua formação profissional. Reconhecido ora como docente, ora como profissional
com experiência clínica, sua competência estratégica é a transversalidade em duplo papel: gestão do
cuidado e apoio no processo de aprendizagem de um novo profissional.
Deste modo, vamos iniciar a apresentação do perfil de preceptoria com a descrição de diferentes com-
petências relacionadas ao conhecimento técnico/assistencial e pedagógico (IZECKSOHN, 2017). Leia o
infográfico e entenda as competências do preceptor em suas diferentes áreas de atuação.
43
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Fonte: a autora.
Para aprofundar o conhecimento sobre o perfil por competências do preceptor, realize a leitura dos
artigos.
LEITURA RECOMENDADA
O Papel do Preceptor da Atenção Primária em Saúde na
Formação da Graduação e Pós-Graduação da Universidade
Federal de Pernambuco – um Termo de Referência
Fonte: Barreto et al., 2011.
LEITURA RECOMENDADA
LEITURA RECOMENDADA
44
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O MS, objetivando fortalecer a integração ensino e serviço no SUS, instituiu diretrizes para a celebração
de Contratos Organizativos de Ação Pública Ensino-Serviço, por meio da Portaria Interministerial n° 1.124,
de 4 de agosto de 2015, além de outros programas interministeriais, a exemplo do Programa de Educação
pelo Trabalho para a Saúde, regulamentado pela Portaria Interministerial nº 421, de 3 de março de 2010,
e de pós-graduação na modalidade de programas de residência e capacitações para preceptores.
Assista ao vídeo abaixo para conhecer um pouco mais sobre as competências na preceptoria na in-
tegração ensino-serviço, e leia o texto para melhor compreender o desenvolvimento das ações de
ensino-serviço na formação profissional.
LEITURA RECOMENDADA
Integração ensino-serviço na formação de residentes
em saúde: perspectiva do docente
Fonte: Mello et al., 2019
45
4
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM NO
ÂMBITO DA PRECEPTORIA
MULTIPROFISSIONAL
4.1 Conceito e aplicação da aprendizagem significativa
A Teoria da Aprendizagem Significativa foi proposta por David Ausubel (1918-2008) em 1963, na obra
The Psychology of Meaningful Verbal Learning (MOREIRA, 2012).
“É importante reiterar que a aprendizagem significativa se caracteriza pela interação entre conhe-
cimentos prévios e conhecimentos novos, e que essa interação é não literal e não arbitrária. Nesse
processo, os novos conhecimentos adquirem significado para o sujeito e os conhecimentos prévios
adquirem novos significados ou maior estabilidade cognitiva” (MOREIRA, 2012, p. 30).
Quando se fala em educação do adulto na saúde, logo pensamos na formação profissional por meio
da pós-graduação, e dos alunos, pela graduação. Porém, educação do adulto na saúde é pensar na for-
mação da graduação, da pós-graduação e dos pacientes, e todo plano terapêutico precisa ser acom-
panhado de orientações e educação em saúde. Veja o esquema a seguir.
Fonte: a autora.
46
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
PODCAST
Competências em preceptoria necessárias nos processos
ensino e aprendizagem
“O termo ‘Andragogia’ deriva das palavras gregas ‘andrós’, que significa homem, e ‘gogia’, que quer
dizer liderar, guiar, conduzir ou levar, ou seja, a Andragogia, em sentido lato, seria a ‘condução ou di-
reção de adultos’” (JANHONEN, 1991 apud DRAGANOV; FRIEDLÄNDER; SANNA, 2011, p.150).
A andragogia é estruturada a partir de seis proposições direcionadoras para o ensino do adulto. Elas
auxiliam na escolha das metodologias ativas que melhor se enquadram no processo de formação
do conhecimento e da avaliação de aquisições das competências e habilidades previstas no PP do
programa de formação profissional. Conheça a seguir as seis proposições (adaptado de DRAGANOV;
FRIEDLÄNDER; SANNA, 2011; KNOWLES; HOLTON III; SWANSON, 2011).
Proposições da Andragogia
2° Proposição Direcionam sua própria vida e seus interesses de aprendizado (autoconceito de aprendiz).
Acumulam experiências que vão subsidiar e fundamentar a sua aprendizagem (experiências pré-
3° Proposição
vias)
4° Proposição Seus interesses se direcionam para o desenvolvimento das habilidades (prontidão para aprender).
Passam a esperar uma imediata aplicação prática do que aprendem (orientação para apren-
5° Proposição
dizagem).
Fonte: adaptado de Draganov, Friedländer e Sanna, 2011; Knowles, Holton III e Swanson, 2011.
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
LEITURA RECOMENDADA
Formação de Preceptores e Tutores em Saúde:
construção de caminhos
Fonte: Pereira et al., 2018.
LEITURA RECOMENDADA
Assim, as metodologias do ensino em serviço foram emergindo e sendo aplicadas na educação médica.
48
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O SNAPPS fornece uma abordagem centrada no aluno e promove raciocínio clínico e pensamento crí-
tico. Para sua implementação, é necessário que preceptor e residente tenham alguma familiaridade
com esse modelo de ensino. Sua aplicação não dura mais do que a apresentação de casos tradicionais.
SNAPPS é o acrônimo de seis etapas específicas que se referem aos passos de planejamento da dis-
cussão de caso:
Sumarizar (summarize)
Numerar (narrow)
Analisar (analyze)
Perguntar (probe)
Planejar (plan)
Selecionar (select)
49
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O preceptor minuto é utilizado para práticas em ambulatório. Ele facilita o ensino clínico eficiente
com o uso de cinco micro-habilidades, que auxiliam o preceptor a conduzir a atividade de ensino:
Veja no quadro a seguir, adaptado de Neumann (2019), de forma mais detalhada, os passos propostos
por esse modelo.
50
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O conhecimento é melhor
Sempre que você vir isto, considere…
transmitido e memorizado
quando são introduzidas re-
As características-chave desta doença
Ensinar regras gras gerais em vez de informa-
são …
gerais ções detalhadas. Inicie com co-
nhecimentos gerais e progrida
A progressão natural desta doença
para os mais complexos. Evite
é…
excesso de detalhes.
Exemplos:
Prover o feedback positivo
é uma forma de aumentar a
Vejo que sua capacidade de síntese
autoconfiança do aprendiz,
melhorou em relação aos casos ante-
Reforçar o que foi estimulando a busca de no-
riormente apresentados.
feito corretamente vos conhecimentos. Enfatize
o que foi feito de correto na
A escolha do tratamento apresentada
apresentação do caso ou na
me parece bastante adequada ao caso
conduta.
em questão.
51
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Agora que conhecemos duas metodologias de ensino, é necessário aprender como realizar o feedback
para o residente. É nessa etapa que se dialoga sobre a confiabilidade das atividades realizadas,
por meio do reforço às ações positivas e a apresentação dos erros com as possíveis correções, sempre
levando o residente a reconhecer seus erros e buscar a solução para correção.
Para realização do feedback, etapa importante na construção do conhecimento, pode-se seguir o ro-
teiro proposto por Kuchenbecker e Gerbase (2019):
2. Reação com o foco no processo interacional da troca de informação entre preceptor e aprendiz;
Para aprender um pouco mais sobre as EPAs, leia o material a seguir, conforme capítulos
indicados:
● EPA 7. Formular perguntas clínicas e obter evidências para promover o cuidado com
o paciente, p. 89-96;
SAIBA MAIS
52
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LEITURA RECOMENDADA
Avaliação de residentes em ambientes da prática clínica
(Work-Based Assessment - WBA)
Fonte: Romão et al., 2020.
Independentemente do método de escolha para a realização da avaliação do residente, essa deve ser
pensada e estruturada com base em competências a serem desenvolvidas, conforme elaboração do
currículo ou PP. As avaliações no contexto da residência buscam atender o ponto mais alto da pirâmi-
de de Miller, conforme você pode visualizar na ilustração a seguir.
Fonte: adaptado de Cruess; Cruess; Steinert, 2016 apud Romão et al., 2020.
53
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Ainda sobre a perspectiva das competências propostas pela pirâmide de Miller, veja alguns exemplos de
processos avaliativos que podem ser utilizados para verificar os processos de aprendizagem dos residentes.
Apresentamos no quadro a seguir alguns métodos de avaliação e suas características, que podem
ser utilizados na preceptoria. Pela sua eficácia e factibilidade, abordaremos mais detalhadamente o
mini-clinical evaluation exercise (mini-CEX).
54
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Como você viu anteriormente, o mini-CEX avalia seis competências nucleares, por meio de uma escala
de classificação de Likert.
O modelo de avaliação mini-CEX tem como vantagens em relação a outros métodos os itens descritos
no box abaixo, com destaque para a fidelidade dos resultados.
Benefícios do mini-CEX:
Veja a seguir uma versão do instrumento mini-CEX, que utiliza uma escala de 6 pontos para a avaliação
de cada competência nuclear e inclui uma última competência chamada “cuidado clínico global”:
MINI-CEX
Local
Ambulatório Visita domiciliar Outro
Foco da avaliação
História Exame físico Manejo Esclarecimento
Complexidade
Baixa Moderada Alta
Breve descrição
MINI-CEX
do caso:
Não
Competências Abaixo das expectativas Borderline
55 Atingiu Acimas das expectativas
avaliado
1. História clínica 1 2 3 4 5 6
Complexidade
Baixa Moderada Alta
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Breve descrição
MINI-CEX
do caso:
Não
Competências Abaixo das expectativas Borderline Atingiu Acimas das expectativas
avaliado
1. História clínica 1 2 3 4 5 6
2. Exame físico 1 2 3 4 5 6
3. Comunicação 1 2 3 4 5 6
4. Raciocínio clínico 1 2 3 4 5 6
5. Profissionalismo 1 2 3 4 5 6
6. Organização/
1 2 3 4 5 6
eficiência
7. Cuidado clínico
1 2 3 4 5 6
global
Plano de ação:
Plano de ação:
Satisfação do aluno 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Satisfação do aluno 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Satisfação do preceptor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Satisfação do preceptor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Nome do preceptor
Nome do preceptor
Assinaturas Data:
Assinaturas Data:
Competências Descritores
Competências Descritores
Cuidado clínico global ● Demonstra julgamento clínico satisfatório, capacidade de síntese, de cuidado e de eficiência.
● Utiliza adequadamente os recursos disponíveis com crítica a respeito de riscos e benefícios.
● Tem consciência de suas próprias limitações/necessidade de estudo.
Fonte: adaptado de Norcini, 2005; Universidade de Coimbra, 2011; Daudt, Pinto e Lopes, 2019.
Fonte: Tratado de Medicina de Família e Comunidade, 2019.
O mini-CEX pode ser aplicado em diversas situações de atendimento em saúde. Veja a seguir duas
situações em que ele foi aplicado na avaliação dos residentes, nos contextos da atenção primária e da
atenção terciária.
57
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A avaliação pelo mini-CEX deve ser feita durante um atendimento real, sob ciência e auto-
rização do paciente e do residente, como exemplificado nestas duas histórias ilustradas.
O desenvolvimento do atendimento pelo residente deve ser observado pelo preceptor, que
realiza um feedback posterior - esse é um momento crucial da avaliação. O feedback deve ser
iniciado pelas considerações do próprio residente, tentando resgatar seus acertos e pontos de
melhorias, como foi feito pelo preceptor Carlos na segunda história. Os aspectos trazidos pelo
residente serão reforçados e complementados pelo preceptor frente aos registros realizados
no momento da observação. O feedback deve ter uma duração média de 5 minutos e, logo
após, seguir com as assinaturas do residente e preceptor.
Para encerrar o estudo deste conteúdo, escute o podcast e realize a leitura dos textos, pois irão auxi-
liar na sua escolha e aplicação de métodos de avaliação.
PODCAST
Encerramento do estudo do objeto de aprendizagem
Competências em preceptoria, papel do preceptor e
profissionalismo
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
60
REFERÊNCIAS
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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effective means of ensuring that students integrate professional theory with clinical practice, but a
growing lack of nurse preceptors may threaten the process. The Canadian Nurse, v. 100, n. 6, p. 18,
2004. Disponível em: https://www.proquest.com/openview/c6f71e753cefeec642f305b6d29f2729/1?
pq-origsite=gscholar&cbl=41610. Acesso em: 20 jun. 2022.
65
PARTE 2
FERRAMENTAS
DE ENSINO
Scheila Mai
BOAS-VINDAS!
Neste estudo, você irá conhecer as principais ferramentas de ensino envolvidas no processo de ensino
e aprendizagem, no âmbito da preceptoria multiprofissional. Será possível compreender a impor-
tância do domínio das ferramentas de ensino na formação em serviço, os sujeitos envolvidos nesse
processo e as diferentes metodologias que podem ser utilizadas na formação de profissionais na área
da saúde, com foco no trabalho em equipe interprofissional.
Esperamos que este estudo possa subsidiar ferramentas de ensino, para que, posteriormente, possa
disparar diferentes processos de ensino e aprendizagem no contexto da preceptoria.
Boas descobertas!
67
1 O ENSINO NA APRENDIZAGEM
DO ADULTO NO CONTEXTO DA
PRECEPTORIA MULTIPROFISSIONAL
“O adulto aprendiz é quem melhor ensinará como ensinar” (CARVALHO et al., 2010, p.83).
68
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
69
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A aprendizagem é considerada
A aprendizagem tem como propósito
Orientação da como um processo de aquisição
a resolução de problemas e tarefas da
aprendizagem de conhecimentos. Lógica centra-
vida cotidiana.
da nos conteúdos.
70
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Leia os exemplos da prática do preceptor Francisco que se relacionam com os pressupostos da peda-
gogia e da andragogia.
Fonte: a autora.
71
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para o desenvolvimento das competências, o processo de ensino e aprendizagem deve ser reali-
zado sempre de modo funcional e significativo, atribuindo sentido ao que se aprende (ZABALA;
ARNAU, 2014).
72
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Fonte: a autora.
Embora presente desde a Constituição Federal de 1988, Artigo 200, Inciso III, que o SUS tem como
competência “ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde”, o cenário da prática pro-
fissional deveria ser o espaço privilegiado para a formação do aluno e para o profissional, pois gera
possibilidades da prática do cuidado e do trabalho em equipe (FONSÊCA et al., 2014). Porém, perma-
nece ainda sendo um grande desafio a formação integrada diante das necessidades das instituições
de ensino, da equipe de profissionais, do preceptor, do supervisor, do controle social, dos pacientes/
usuários, das famílias e comunidade, que podem se caracterizar de forma distinta nos diferentes ní-
veis de atenção à saúde.
É importante considerar que apenas a inserção dos residentes na RAS, nos diferen-
tes serviços de saúde, não garante um processo de ensino e aprendizagem efetivo. A
presença de residentes em ambientes não preparados para o ensino pode trazer re-
sultados negativos não apenas para o aluno e para os profissionais envolvidos, como
também para a população (NORDI et al., 2022).
73
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A presença do preceptor nos espaços de formação é essencial. Eles exigem que esse profissional articule
suas habilidades pedagógicas na mediação entre a teoria e a prática e, assim, contribuam com a formação
dos futuros profissionais de saúde. “Ao considerar a preceptoria uma prática de ensino em saúde, na qual
a aprendizagem permeia o âmbito do trabalho,... fica cada vez mais claro que existem diferenças entre
‘saber o conteúdo’ e ‘saber ensinar o conteúdo’, pois para que a aprendizagem seja concreta, não satisfaz
saber um assunto em toda sua especificidade, mas conhecer estratégias que permitam falar sobre o tema
de modo a ser plenamente compreendido” (RIBEIRO, K. R. B. et al., 2020, p. 2).
Vamos ver, na forma de contextualização por meio de histórias ilustradas, algumas possibilidades de
comunicação dos profissionais em formação com os diferentes dispositivos de saúde que integram a RAS.
74
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
77
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Conforme podemos observar nas histórias ilustradas, o preceptor tem papel importante para
possibilitar que o profissional em formação desenvolva competências gerais, como uma efeti-
va comunicação entre diferentes pontos de cuidado na RAS.
Estratégias utilizadas pelo preceptor devem proporcionar ao residente experiências com dife-
rentes níveis de atenção à saúde e instigar o trabalho integrado para a valorização da produção
em saúde compartilhada.
Como sistematizado na imagem abaixo, o ensino centrado no residente é um processo de construção pes-
soal que deve mobilizar componentes conceituais (conhecimentos – saber), procedimentais (habilidades
– saber fazer) e atitudinais (atitudes – ser) de maneira inter-relacionada (ZABALA; ARNAU, 2014).
Ensino Centrado
no Residente
Fonte: a autora.
78
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para saber mais indicamos a leitura do livro Stewart, M. et al. Medicina centrada na pessoa: trans-
formando o método clínico. 3ª ed. – Porto Alegre: Artmed, 2017.
Essa imagem, adaptada de Stewart et al., 2017, sistematiza os componentes do método de for-
mação centrado no educando. Observe a figura e, a seguir, escute o podcast explicativo de cada
componente.
79
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
PODCAST
1. Avaliando necessidades: explorando as lacunas e metas
PODCAST
2. Entendendo o educando como uma pessoa inteira
PODCAST
3. Elaborando um plano conjunto de manejo para a
aprendizagem
PODCAST
4. Intensificando a relação entre educando e professor
80
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
ATIVIDADE
Para sistematizar suas aprendizagens em relação aos conteúdos estudados, leia as situações-
-problema e identifique quais dos componentes interativos do processo de ensino e aprendiza-
gem estão representados na situação 1 e na situação 2.
Situação 1
Preceptora Mirela e residente Juliana: atendimento à Dona Matilde
Juliana está nos meses iniciais do primeiro ano de residência em psicologia, no Programa de Saúde
da Família, e vem sendo observada com frequência em consultas compartilhadas com sua precep-
tora Mirela.
Dona Matilde, senhora de 66 anos, que Juliana está acompanhando por estado depressivo, tem con-
sulta programada com a residente psicóloga para hoje à tarde. Um pouco antes do horário agendado,
a residente recebeu da agente comunitária de saúde (ACS) a notícia que os vizinhos de Matilde ouvi-
ram gritos durante a madrugada. Parece que o esposo chegou em casa alcoolizado novamente.
A preceptora Mirela estava satisfeita, em geral, com as habilidades clínicas que Juliana estava utilizan-
do na avaliação e manejo da depressão. Entretanto, observou que a residente ficou nervosa com o
que a ACS relatou. Em um momento de conversa individual com a residente, Mirela perguntou para
Juliana se ela já havia realizado abordagens com relação a violência doméstica, e, também, como a
residente se sentia frente a necessidade dessa abordagem. A residente mencionou ter tido pouca
experiência com violências durante sua formação e que não se sentia segura para tal abordagem.
81
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Na orientação antes da consulta, a preceptora Mirela conversa com sua residente: “Juliana,
confio em suas habilidades para lidar com a depressão e ajudar a senhora Matilde diante do
seu sofrimento psíquico. Vou deixar que você me diga se precisa de ajuda para o manejo da
abordagem sobre a violência. Gostaria que me avisasse, para eu estar com você e Dona Matilde
se entrarem nesse assunto, para avaliarmos juntas essa situação”.
Caso adaptado de: Stewart, M. et al. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico.
3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
Feedback
Se você escolheu a opção A, está correto! Refere-se aos componentes interativos “avaliando ne-
cessidades: explorando as lacunas e metas” e “elaborando um plano conjunto de manejo para a
aprendizagem”. Perceba que a preceptora Mirela está atenta e que a residente Juliana conse-
gue identificar suas lacunas diante da abordagem da situação de violência. Ao mesmo tempo, a
preceptora explora a meta da residente em seguir com sua abordagem terapêutica com relação
à depressão no atendimento à Dona Matilde. Entretanto, elaboram um plano de consulta em
conjunto para o manejo da aprendizagem, potencializando as metas (seguir o atendimento com
relação à depressão) e explorando as lacunas (abordagem da violência).
Situação 2
Preceptora Mirela e residente Juliana: mudança de comportamento da residente
A residente de psicologia Juliana expressava sua profunda gratidão e seu sentimento de privi-
légio em ter uma preceptora como Mirela. Havia passado por experiências difíceis nas relações
com os professores durante sua formação na graduação.
Na última semana, Juliana estava pensativa, por vezes perdida em seus pensamentos, o que foi
percebido, algumas vezes, pela preceptora Mirela.
Um pouco confusa com a mudança de comportamento da residente, a preceptora decidiu
investigar, gentilmente, como ela estava lidando com a residência, com as mudanças que fo-
ram necessárias. Afinal, teve que sair da convivência da sua família para fazer a residência em
outro município. Juliana, primeiro, ficou surpresa com a preocupação de sua preceptora em
saber como ela estava. Depois de pensar um pouco, revelou seus sentimentos de confusão.
Explicou que após o atendimento que fez com Dona Matilde – a senhora que sofreu violência
82
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
doméstica – ficava pensando em sua mãe, que tem vivenciado situação parecida, em que seu
pai por vezes bate em sua mãe. Mencionou seu sentimento de conflito por querer ajudar
Dona Matilde, quando não consegue sequer ajudar sua mãe. A preceptora acolheu as an-
gústias da residente, e as duas conversaram sobre essas questões, quando às vezes se torna
difícil saber como se portar.
Feedback
Se você escolheu a opção B, está correto! Trata-se dos componentes interativos “entendendo
o educando como uma pessoa inteira” e “intensificando a relação entre educando e professor”.
Perceba que a preceptora Mirela se preocupa em fazer uma escuta para entender a residente
Juliana como uma pessoa em sua integralidade. A preceptora acolhe o que a residente traz em
relação à sua história de vida, bem como seu desenvolvimento pessoal e cognitivo, no ambien-
te de aprendizagem. Intensifica, dessa forma, a relação entre residente e preceptora, crian-
do um ambiente afetivo, acolhedor para a aprendizagem e desenvolvimento das dificuldades,
sejam elas de cunho intelectual ou pessoal.
83
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Por muito tempo, a cultura dominante, tanto na prestação de serviços de saúde quanto na educação
das profissões de saúde, foi aquela que priorizava a experiência do profissional de saúde e do educa-
dor das profissões de saúde, em que a pessoa/paciente e o residente eram tidos como “consumidores
passivos” do conhecimento.
Contudo, cada vez mais o foco está em reconhecer o papel ativo na experiência e preferência diante
da produção de sua própria saúde e bem-estar (pessoa/paciente) e no seu processo formativo (resi-
dente/aluno) (ENGLANDER et al., 2020). É nessa forma de ensino e cuidado que “apostamos”, pois
favorece a postura dos atores envolvidos e considera os interesses do aluno pela aprendizagem e da
pessoa/paciente pelo autocuidado.
Para saber mais, sugerimos a leitura do artigo indicado abaixo. Nesse texto, os autores argumentam
que os alunos das profissões de saúde não podem ser educados em um modelo tradicional e pater-
nalista e, em seguida, se ter a expectativa de que pratiquem de uma maneira que priorize parcerias
coprodutivas com colegas, pacientes e famílias. Ressaltam, também, a necessidade de adequar o mo-
delo de coprodução dos serviços de saúde à formação das profissões de saúde.
SAIBA MAIS
84
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Veja o diálogo entre a preceptora Maria e o preceptor Francisco sobre os desafios do ensino para se
alcançar a aprendizagem efetiva no contexto da preceptoria.
85
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Veja no infográfico alguns exemplos de desafios do ensino para a aprendizagem efetiva no contexto
da preceptoria.
Fonte: a autora.
Veja a continuidade do diálogo entre a preceptora Maria e o preceptor Francisco. Agora, o ponto
principal é o desafio de se trabalhar com as diferentes necessidades de aprendizagens dos residentes.
86
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Veja na imagem algumas características que demonstram as diferenças pessoais dos residentes.
A seguir, veja o quadro que explica cada uma delas.
Residentes com Podemos identificar residentes que aprendem mais vendo, que apren-
estilos de aprendi- dem mais lendo e escrevendo, que aprendem mais ouvindo e aqueles que
zagem diferentes aprendem mais praticando.
Residentes que Podemos identificar aqueles residentes que geralmente têm receio de se
nunca falam expor e de passar vergonha frente às demais pessoas.
87
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
“No ato mesmo de responder aos desafios que lhe apresenta seu contexto de vida,
o homem se cria, se realiza como sujeito, porque esta resposta exige dele reflexão,
crítica, invenção, eleição, decisão, organização, ação... todas essas coisas pelas quais se
cria a pessoa e que fazem dela um ser não somente ‘adaptado’ à realidade e aos outros,
mas ‘integrado’” (FREIRE, 1979a).
PODCAST
Desafios no ensino de profissionais da área da saúde
88
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O podcast escutado anteriormente tem como objetivo promover a reflexão sobre o ensino dos profis-
sionais de saúde e suas especificidades, bem como a responsabilidade daqueles envolvidos na forma-
ção de profissionais de saúde. Ao articular diferentes cenários de formação, é importante reconhecer
que colocamos o residente diante de diferentes modelos e concepções do processo de saúde e do-
ença, algumas centradas em modelos reducionistas/fragmentados e outros integrados/ampliados.
Nesse sentido, Peixoto, Tavarez e Queiroz (2014) sugerem que a preceptoria deve ser conduzida por
profissionais assistenciais com embasamento teórico e pedagógico suficiente para conduzir a uma
aprendizagem significativa em saúde.
De modo geral, os desafios do ensino para a aprendizagem fazem parte do contexto da preceptoria,
sejam eles relacionados à instituição de ensino, ao campo de prática, à diversidade de residentes e de
estilos de aprendizagem, à equipe de profissionais, ao controle social, aos pacientes/usuários/indiví-
duos, às famílias e/ou à comunidade.
Como vimos, os desafios permeiam o nosso cotidiano da preceptoria. Porém, existem alguns atribu-
tos que, quando desenvolvidos, podem facilitar e auxiliar nossa prática como preceptores. Vamos
conhecer alguns desses atributos na imagem a seguir. Os pontos menores numerados representam
desafios e os pontos maiores representam atributos. Quando conectados, podem dar respostas aos
desafios estudados anteriormente.
Legenda:
1. Processo de aprendizagem do adulto; 5. Motivação e envolvimento da equipe;
2. Formação pedagógica específica; 6. Tempo disponível para assistência e ensino;
3. Prática da avaliação; 7. Valorização profissional;
4. Residentes com diferentes características; 8. Estrutura física dos campos de prática.
89
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Agora que você já fez sua escolha, vamos refletir, a partir de um exemplo,
sobre como podemos aplicar aquelas dicas no cotidiano da preceptoria.
Dica: Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática.
Se escolhermos, entre os itens descritos na imagem da roleta, o item
“Na relação com a equipe”, a reflexão poderia ser: quantas vezes em
campo prático eu, preceptor, “me atravessei”, assumindo a comunicação
com a equipe sobre determinada situação? Essa atitude pode ter dificul-
tado que o residente estabelecesse uma relação com a equipe, pois, no
momento de trocas, eu assumia esse papel.
Viram que reflexão interessante? Caso queira, você pode continuar esse
exercício com outras dicas e outras dimensões/relações contidas na roleta!
Fonte: a autora.
91
2 O PAPEL DO PRECEPTOR NO
PROCESSO DE ENSINO
A construção da identidade do preceptor numa rede escola passa pela valorização da preceptoria e
pela definição de um perfil de competência que articule as dimensões de gestão, atenção/assistência e
educação, traduzindo um conjunto de capacidades necessárias ao exercício da prática da preceptoria.
De acordo com Oliveira et al. (2017), o novo perfil de preceptor deve atingir três dimensões, conforme
apresentadas no quadro abaixo.
Por isso, a formação do preceptor como alguém que faz parte do processo de ensino na RAS
prevê o desenvolvimento de um perfil de competências articuladas nas três dimensões já men-
cionadas: Saúde, Gestão e Educação – que traduzem um conjunto de capacidades necessárias ao
exercício da prática da preceptoria (OLIVEIRA et al., 2017).
92
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Em cada uma dessas três dimensões, pode-se elencar competências articuladas no contexto da pre-
ceptoria, que são:
Educação
● Identificar necessidades de aprendizagem.
● Desenvolver ações educacionais no exercício da preceptoria.
● Avaliar ações e processos educacionais no exercício da preceptoria
● Apoiar a produção de novos conhecimentos.
Gestão
● Promover o desenvolvimento do trabalho e da educação em saúde.
● Favorecer a identificação de obstáculos e oportunidades para a articulação do trabalho e educa-
ção na saúde.
● Promover a articulação do trabalho e da educação no exercício da preceptoria.
● Promover o acompanhamento e avaliação do desenvolvimento articulado das práticas de cuida-
do e de educação em saúde.
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
No campo profissional, a maioria foi formado para atuação das competências do seu núcleo profissio-
nal, alguns com uma formação mais ampliada para o campo da interprofissionalidade. Mas, poucos de
nós tivemos o desenvolvimento de competências para atuação na dualidade do SER PROFISSIONAL
E O SER EDUCADOR. Para Ribeiro e Prado (2014, p.163):
Quantos de nós nos enquadramos naquilo que a literatura revela “preceptores sentem que não con-
seguem atingir as expectativas dos residentes e por vezes acabam realizando a preceptoria por ins-
tinto” (RIBEIRO, K. R. B. et al., 2020, p. 4). Os profissionais de saúde que assumem a preceptoria do-
minam os saberes de sua profissão, mas por vezes não dominam os saberes pedagógicos necessários
para o exercício da formação (RIBEIRO K. R. B. et al., 2020).
Para aprofundar um pouco mais esse estudo, escute a narrativa apresentada no formato de podcast.
PODCAST
Narrativa de uma preceptora enfermeira
Com a narrativa, vimos que não basta saber o conteúdo ou ter habilidades práticas. É preciso que os
conhecimentos de domínio do preceptor não o restrinjam ao ensino puramente técnico, mas que o
direcionem para a compreensão da complexidade que está intrinsecamente relacionada ao processo
de ensino e aprendizagem. E não esqueça: “saber ensinar é um conhecimento que se aprende,
ainda que uns tenham mais facilidade que outros” (RIBEIRO, K. R. B. et al., 2020, p. 7).
Para saber mais, sugerimos a leitura do artigo indicado abaixo, que apresenta os resultados de uma
pesquisa qualitativa, cujo objetivo é compreender como os saberes pedagógicos que integram o co-
nhecimento base para o ensino são percebidos pelos preceptores no processo de ensino e aprendi-
zagem dos residentes.
SAIBA MAIS
100
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Preceptor, você que educa na prática, já se deu conta que o seu ensinar vai para além dos conhe-
cimentos técnicos? Você incide em proporcionar o desenvolvimento de habilidades na medida que
possibilita diferentes experiências para o residente. Mas, consequentemente, você é modelo para
o desenvolvimento atitudinal na formação de profissionais para atuarem sob a lógica humanista,
com postura ética, crítica-reflexiva, adequada a atender às principais necessidades de saúde da popu-
lação (RIBEIRO; P. K. C. et al., 2020).
Freire, em seu livro Educação e Mudança, de 1979, já trazia uma reflexão semelhante à reflexão
de Ribeiro et al., descrita acima, quando ressalta a força da reflexão na e para a prática. Enfatiza
que o ser humano é o único que pode, por meio de sua ação reflexiva, transformar o meio em que
vive. Também descreve que antes da pessoa ser um ser profissional, ela precisa unir seu lado profis-
sional com o compromisso verdadeiro, com a realidade concreta, pois é uma missão a responsabili-
dade de ensinar, ou seja, é uma missão humanizar as pessoas. Porém, antes de humanizar o outro,
se deve humanizar a si mesmo.
101
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Preceptor, o seu papel na preceptoria é visto como um “exemplo”. A literatura descreve que se o
preceptor faz uma coisa, mas diz para o residente fazer outra, o residente tende a lembrar do que
viu ser feito, não o que foi dito. Nesse sentido, a forma como você trabalha, se comunica, interage
com a equipe, influencia na aprendizagem do residente para o agir profissionalmente (LOUGHRAN;
KOHARCHIL, 2019).
É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que,
num dado momento, a tua fala seja a tua prática (FREIRE, 2002).
102
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O texto de Loughran e Koharchik (2019) menciona estudos no qual foram identificadas várias estraté-
gias de ensino, que nos ajudam a problematizar nossa prática de ensinar. Veja na imagem e no texto
a seguir quais são essas estratégias.
Fonte: a autora.
Treinamento - Ao utilizar situações da prática, o preceptor fornece dicas verbais para o residente
durante o desenvolvimento de suas competências.
Leituras direcionadas - Atribuir leituras é útil no processo formativo, especialmente para o residen-
te do primeiro ano. Essas leituras são tipicamente focadas em situações que surgem na prática. O
preceptor deve solicitar ao residente que faça, no dia seguinte, um breve relatório sobre a leitura. As
leituras direcionadas suportam o desenvolvimento de quadros conceituais.
Método de reflexão - O método de reflexão pode ser especialmente útil para iniciantes, no qual
você pode solicitar que o residente forneça respostas reflexivas diante de perguntas feitas e elabore
uma justificativa para suas decisões. O método de pensar em voz alta promove o pensamento crítico
e habilidades de raciocínio clínico.
Observação direta - A observação direta funciona bem quando o que se ensina é novo para um local,
ou no início de uma preceptoria.
103
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O objetivo da preceptoria é que o residente alcance sua independência na prestação de um cuidado com
qualidade e com segurança. Por isso, é importante incentivar a independência. Mas o preceptor deve acom-
panhar e ter cuidado para que não aconteça antes do residente estar preparado (LOUGHRAN; KOHARCHIK,
2019). Nesse sentido, retomamos a importância de conhecer seu residente e identificar o ritmo e estilo de
aprendizagem preferencial do residente.
Preceptor, lembre-se que, na prática de ensino, os residentes são diferentes e, inclusive, nem sempre terão
a mesma preferência de aprendizagem que a sua preferência de ensino. Por isso, é necessário problematizar
se a nossa prática de ensinar corresponde à necessidade de aprendizagem daquele residente. Assim, per-
ceba como é importante considerar o nível de experiência do preceptor na escolha dos métodos de ensino
(LOUGHRAN; KOHARCHIK, 2019).
Para exemplificar, veja o relato de alguns desafios envolvidos na prática de ensino dos preceptores Francisco,
Paula e Maria. Aproveite para refletir se você se identifica com algo parecido com o que trazem em suas falas!
104
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Cada residente, com sua singularidade, pode nos desafiar a problematizar a nossa prática de ensinar.
E isso também nos movimenta, desacomoda, possibilita a (re)invenção e a busca por alternativas pos-
síveis no ato de ensinar. Por isso, estamos aqui para aprender a utilizar essas diferentes ferramentas
pedagógicas, que irão apoiar nossa prática como preceptores para, então, conseguirmos responder
às mais variadas necessidades de ensino e aprendizagem.
Preceptor, não esqueça que ensinar competências significa partir de situações e problemas reais,
utilizando formas de ensino consistentes para responder às necessidades, os problemas da realidade,
em um processo de relação que perpassa da dependência para independência, conforme as caracte-
rísticas diferenciais de cada residente.
“Optar por uma educação por competências representa a busca por estratégias de ensi-
no que respondam, de forma satisfatória, às ‘situações reais’ e, portanto, situações com-
plexas” (ZABALA; ARNAU, 2014, p. 131).
Você já vivenciou alguma experiência na qual você se dedicou, se empenhou, se aplicou, investiu no pla-
nejamento do ensino e, mesmo assim, não obteve o retorno esperado do residente? Se você ainda não
vivenciou isso, seu momento possivelmente chegará! Agora, você que já teve essa experiência, vamos
tentar entender os motivos pelos quais isso pode ter ocorrido? Veja alguns exemplos de questionamentos
que podem ser relacionados com situações de dificuldades no processo de ensino e aprendizagem.
E se... eu insisti no meu método preferencial de ensino, sem conhecer e/ou considerar o método
preferencial de aprendizagem do residente?
E se... eu não possibilitei ao residente vivenciar suas reflexões-ações diante das situações complexas
da realidade?
E se... eu não singularizei, não estive aberto para conhecer a história de vida do residente, seu de-
senvolvimento pessoal e cognitivo?
E se… eu não proporcionei a transição do residente dependente para independente?
Observações
Poderíamos descrever tantos outros mais “E se...”. Mas, Lopes et al. (2009, p.14) descrevem
como sendo um dos pressupostos, ao instrumentalizar a prática da preceptoria, “conceber o
homem como ser humano complexo e autônomo, reconhecendo o outro como legítimo
outro”. É por isso que estamos aqui. Para refletir sobre a incorporação de práticas pedagógi-
cas adequadas ao aprendizado do adulto.
105
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
106
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Tentar vencer uma discussão transformará um desacordo em uma batalha pelo domínio. As táticas de
intimidação podem fazer com que os residentes o desafiem ainda mais e desencoraje a participação deles.
A negociação pode ser uma maneira de resolver um conflito, mas não quando os objetivos de
aprendizagem são subvertidos pelo processo de resolução. Negociar com trocas não é adequado,
pois recompensa o comportamento inaceitável, prejudica a credibilidade e pode ser injusto com os
demais. Certifique-se de que suas respostas às situações de conflito sejam consistentes com os obje-
tivos de aprendizagem e as metodologias de avaliação e, também, equitativas para todos.
Uma solução rápida, para “se livrar” do problema, normalmente não resolve o conflito. A situação de
conflito deve ser encarada com a seriedade necessária, de acordo com o tempo que for preciso para
a resolução do problema.
A comunicação verbal é uma das ferramentas mais eficazes para se manejar conflitos. Observe as
estratégias na imagem e veja como elas podem auxiliar na comunicação verbal eficaz.
Concentre-se no problema, não na pessoa - tente não levar tudo para o âmbito pessoal e, da mes-
ma forma, expresse suas próprias necessidades e opiniões em relação à situação em questão. Pre-
ceptor, lembre-se de resolver problemas em vez de tentar controlar as pessoas. Por exemplo, em
vez de ignorar um residente que rotineiramente faz perguntas inapropriadas, descontextualizadas,
que parece querer chamar a atenção para si, converse com ele em um espaço reservado para isso.
107
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Sinalize que é importante ele se posicionar. Contudo, é preciso que o faça articulando seu po-
sicionamento com o que é apresentado na literatura, e mencione que a forma com que está se
colocando acaba por inibir a participação dos demais colegas.
Tenha empatia - embora as relações profissionais e as relações entre preceptor e residente im-
pliquem alguns limites, é importante demonstrar sensibilidade e realmente se importar com as
pessoas com quem você trabalha e/ou ensina. Se você não se importa com eles, será difícil para
eles se importarem com você, inclusive na relação ensino e aprendizagem.
Seja flexível com os outros - permita a expressão de outros pontos de vista e esteja aberto a
aceitar outras maneiras de fazer as coisas. A diversidade contribui para a criatividade e inovação.
Valorize a si mesmo e suas próprias experiências - seja firme sobre seus próprios direitos e
necessidades diante da função de preceptor. Ao invés de subestimar a sua capacidade diante da
preceptoria, valorize a si mesmo e ao desafio que assumiu de estar exercendo sua função, tanto
na assistência/serviço quanto no ensino.
Use respostas afirmativas - responda aos residentes de maneira que reconheçam suas expe-
riências. Agradeça a eles por suas contribuições. Afirme o direito deles aos seus sentimentos,
mesmo se você discordar. Faça perguntas, expresse sentimentos positivos e forneça feedback
positivo quando puder.
Preceptor, é importante reconhecer que, assim como há residentes que apresentam barreiras à
comunicação verbal eficaz, nós também podemos apresentá-las. Observe as barreiras na ima-
gem e leia as explicações.
Falta de clareza - usar linguagem abstrata e excessivamente formal, coloquialismos e jargões, que
obscurecem sua mensagem mais do que servem para impressionar as pessoas.
Usar estereótipo e generalização - ficar preso ao hábito de usar estereótipos ou fazer generaliza-
ções sobre sistemas ou situações complexas. Outra forma de generalização é a “polarização” ou a
criação de extremos. Tente ser sensível às complexidades das situações.
108
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Tirar conclusão precipitada - confundir fatos com inferências é uma tendência comum. Não
assuma que você conhece as razões por trás das situações. Certifique-se de ter todas as infor-
mações que puder obter e, em seguida, fale claramente sobre os fatos versus os significados ou
interpretações que você atribui a eles.
Respostas inadequadas - ignorar ou não responder a um comentário ou pergunta rapidamente
prejudica a comunicação eficaz. Interromper os outros enquanto eles estão falando também cria
um ambiente ruim para a comunicação.
Falta de confiança - a falta de confiança pode ser uma grande barreira para uma comunicação
eficaz. Timidez, dificuldade em ser assertivo ou baixa autoestima podem prejudicar sua capaci-
dade de tornar conhecidas suas necessidades e opiniões. Além disso, a falta de consciência de
seus próprios direitos e oportunidades em uma determinada situação pode impedir de expres-
sar suas necessidades abertamente.
Fonte: a autora.
109
3 DIFERENTES METODOLOGIAS
DE ENSINO NO CONTEXTO DA
PRECEPTORIA MULTIPROFISSIONAL
Exercício reflexivo
Você lembra de alguém que você considera que foi um modelo no seu percurso
formativo?
Agora, pense na “pessoa-modelo” que foi sua referência, que um dia você pensou
“eu quero ser como esse profissional e/ou essa pessoa”.
110
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Embora Maria tenha razão, pois o surgimento dessa ferramenta foi para identificar for-
ças, oportunidades, fraquezas e ameaças de empresas, ela pode ser usada tanto para
fins pessoais quanto profissionais. Por isso, vamos ver sua aplicação como uma técnica
de autoconhecimento na perspectiva do ensino.
Pare o que você está fazendo, tenho como proposta que você faça
um breve exercício! Pegue um papel e uma caneta para rascunhar
uma matriz SWOT/FOFA e algumas respostas. Em seguida, obser-
ve o quadro e responda às questões sobre seu processo de ensino
e aprendizagem.
111
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Fonte: a autora.
Para saber mais sobre a matriz SWOT e sua aplicabilidade no campo da pesquisa, sugerimos a leitura
do artigo abaixo.
SAIBA MAIS
O tornar-se educador é uma construção, um conhecer, conhecer-se, conhecer o outro, rever, realizar,
mudar. Para isso, não basta o conhecimento livresco, técnico, mas a experiência, a vivência, a intera-
ção. Importa a postura do educador como profissional, como membro de uma equipe, como pessoa
e como docente. O processo de ensino e aprendizagem com base na problematização do cotidiano
apresenta aspectos diferentes daquele efetuado em salas de aula, além da relação preceptor-residen-
te, com as pessoas/pacientes e com a equipe de trabalho.
112
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Os conteúdos não se integram apenas no caráter técnico informativo, mas também às questões for-
mativas éticas, morais, psicológicas, ligadas às relações sociais que se estabelecem no campo prático.
Por isso, a aproximação ao cotidiano trata-se de uma educação significativa (GARCIA, 2001).
Você, preceptor, faz parte dessa construção de uma educação significativa. Queira ou
não, você é um modelo “o tempo todo” para seus residentes.
A educação no século XXI é marcada pelo deslocamento do enfoque individual para o enfoque social,
político e ideológico. A educação ocorre durante a vida inteira, constituindo um processo que não é
neutro, e envolve pilares do aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, e aprender
a ser (PAIVA et al., 2016).
O estudo de Paiva et al. (2016, p. 147) menciona um trecho do livro de Michel Saint-Onge, de 2001,
intitulado O ensino na escola: o que é e como se faz, em que ele descreve que:
“O vínculo entre aprendizagem e ensino não é causal, ou seja, o ensino não causa a
aprendizagem nem desenvolve novas capacidades que podem levar à aprendizagem.
Ensinar e aprender estão vinculados ontologicamente, assim, a significação do ensino
depende do sentido que se dá à aprendizagem e a significação da aprendizagem de-
pende das atividades geradas pelo ensino.”
Paulo Freire (2005) enfatiza que tanto o educador quanto o educando são transformados pela ação
educativa e aprendem ao mesmo tempo em que ensinam. O educador descreve que a educação pro-
blematizadora é indissociável dos contextos e das histórias de vida na formação de sujeitos, que ocor-
re por meio da ação-reflexão-ação, utilizando como ferramentas o estímulo à curiosidade, à postura
ativa e à experimentação do educando, fomentando a análise crítica da realidade durante a formação
(FREIRE, 2005).
A Pirâmide da Aprendizagem, proposta por Dale em 1969, corrobora as evidências de que a aprendi-
zagem ativa proporciona desenvolvimento efetivo de competências para a vida profissional e pessoal.
Além disso, ela contribui com a visão interprofissional, pois coloca o residente como sujeito central da
aprendizagem (CAMARGO; DAROS, 2018).
113
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Pirâmide da Aprendizagem
Observe, na pirâmide de Dale abaixo, como alguns exemplos da prática da preceptoria podem ser
relacionados aos seus níveis.
114
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Como preceptores, podemos apostar no ensino utilizando as metodologias que se relacionam mais
com os níveis próximos do ápice da pirâmide, ou aquelas que se relacionam mais com a base e que
podem engajar o residente nas situações cotidianas dos cenários de prática, problematizando a
realidade.
Preceptor, esperamos que você possa se desafiar a utilizar metodologias de ensino que corres-
pondam a uma educação ativa, problematizadora, e que possa ser um ativador dos processos de
mudança, oportunizando ao residente ensinar, praticar, discutir e demonstrar.
Observe na figura abaixo as principais características da educação ativa em contraste com a educação
tradicional, no contexto da preceptoria.
115
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Atenção, preceptor!
Com a mera instrumentalização com novas “técnicas pedagógicas”, sem a reflexão necessária e incorpora-
ção do ensino problematizador, a metodologia ativa pode ser “vaga” e “superficial” (CHIARELLA et al., 2015).
Você já deve ter ouvido falar na metodologia da problematização (MP) e no problem-based learning
(PBL) ou, em português, aprendizagem baseada em problemas (ABP).
A MP tem inspiração em Paulo Freire, e leva os alunos a exercitarem a cadeia dialética de ação - refle-
xão - ação, no cenário de campo, e a relação prática - teoria - prática, na perspectiva de proporcio-
nar uma visão crítica do mundo (BARBOSA et al., 2022; BERBEL, 1998).
A MP caminha por etapas distintas e encadeadas a partir de um problema detectado pelo aluno sobre a
realidade. “Volta-se para a realização do propósito maior que é preparar o estudante/ser humano para
tomar consciência de seu mundo e atuar intencionalmente para transformá-lo” (BERBEL, 1998, p. 144).
O Arco de Maguerez é uma das ferramentas mais utilizadas no ensino problematizador. No capítulo
a seguir veremos a sua aplicabilidade no cenário da preceptoria.
Já a PBL, em português ABP, “tem como inspiração os princípios da Escola Ativa, do Método Científi-
co, de um Ensino Integrado e Integrador dos conteúdos, dos ciclos de estudo e das diferentes áreas
envolvidas, em que os alunos aprendem a aprender e se preparam para resolver problemas relativos
à sua futura profissão” (BERBEL, 1998, p.152).
Essa metodologia de ensino segue algumas etapas, conforme você pode observar na imagem abaixo.
116
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A MP e a PBL são metodologias específicas, com estrutura e procedimentos próprios, não sendo
sinônimos em termos de metodologia de ensino. Porém, ambas podem contribuir para a formação
ativa do residente, partindo de formulações de problemas baseados em situações reais, facilitando a
aplicação do conhecimento na prática (MELO et al., 2017).
Para saber mais sobre as diferenças entre a metodologia problematizadora e a ABP, sugerimos a lei-
tura do artigo abaixo.
SAIBA MAIS
Você já pensou como as necessidades e os problemas das pessoas estão cada vez mais complexos? Já
pensou também que essas mudanças impõem cada vez mais desafios para o processo de formação
dos profissionais de saúde? E, consequentemente, ensinar diante dessa realidade também se torna
cada vez mais complexo? (COSTA et al., 2018). Por isso, precisamos apostar em novas estratégias,
como é o caso do ensino com foco no trabalho interprofissional.
Leia o artigo indicado abaixo, que proporciona algumas reflexões sobre a importância da atenção
centrada no paciente e nas suas necessidades de saúde. Na medida que a prática interprofissional é
colaborativa na perspectiva da integralidade, ocorre uma mudança no modelo de atenção, com po-
tencial impacto na qualidade do cuidado.
SAIBA MAIS
117
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
É importante entender que o efetivo trabalho em equipe exige muito mais que compartilhar o mes-
mo espaço (REEVES; XYRICHIS; ZWARENSTEIN, 2018). Desenvolver competências capazes de melho-
rar a capacidade para o trabalho em equipe é uma necessidade do ensino no contexto atual (COSTA
et al., 2018).
Como está sua prática interprofissional no contexto da sua atuação como profissional, como alguém
que cuida e ensina? Faça essa reflexão a partir da imagem a seguir.
Fonte: a autora.
118
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
119
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Se a história em quadrinhos refletiu sua realidade, sugerimos que você reveja os objetivos de
aprendizagem junto com o residente. É necessário planejar atividades de ensino e aprendiza-
gem que proporcionem ao residente vivências no âmbito do trabalho interprofissional, pois
para trabalhar juntos é preciso aprender juntos.
120
4 DIFERENTES MÉTODOS E
FERRAMENTAS DE ENSINO NO
CONTEXTO DA PRECEPTORIA
MULTIPROFISSIONAL
4.1 Ensino e formação em serviço no contexto da preceptoria
multiprofissional
Antes de conhecermos alguns métodos e ferramentas de ensino, vamos aprofundar um pouco sobre
o que o preceptor Francisco nos traz.
Maria, eu não estou há muito mais tempo que você, mas tenho me de-
safiado a utilizar diferentes métodos e ferramentas de ensino, e vou te
falar que já tive boas experiências com alguns métodos e ferramentas,
mas também já me frustrei. A mesma metodologia de ensino para al-
guns residentes deu certo, e para outros, não.
121
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para saber sobre estilos de aprendizagem, indicamos a leitura do estudo Precepting 101: Teaching
Strategies and Tips for Success for Preceptors. Você vai encontrar diferentes ferramentas online para
identificação de estilos de aprendizagem, que estão indicados no texto, na Tabela 1 - Avaliações de
Estilos de Ensino e Aprendizagem Online.
SAIBA MAIS
122
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Avançado - Nesta etapa, o residente competente e proficiente está pronto e tão indepen-
dente quanto o ambiente formativo lhe permite. É importante que o preceptor seja capaz de
deixar o residente ter mais independência, tanto no pensamento quanto nas atividades reali-
zadas. O residente deve ser proficiente no desenvolvimento de planos de gerenciamento se-
guros com base em evidências. Mesmo que o plano não seja o que o preceptor pode escolher
fazer, é apropriado que o residente prossiga com o plano se for seguro e razoável. O residente
está ciente de quaisquer limitações e não tem medo de fazer perguntas conforme necessário
para praticar suas competências com segurança.
Preceptor, vamos ver alguns exemplos de situações de ensino que condizem com cada momento do
residente na formação em serviço no contexto da preceptoria multiprofissional.
Fonte: a autora.
123
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Preceptor, você já percebeu que fazer perguntas é essencial para uma aprendizagem e ensino efi-
cazes. Os tipos de perguntas que você faz devem capturar a atenção do residente, despertar sua
curiosidade, reforçar pontos-chave e estimular o aprendizado ativo. Quando estamos no ambiente
de aprendizagem, o preceptor deve ter clareza junto com o residente sobre quais são os objetivos de
aprendizagem. Nesse sentido, cada pergunta pode envolver a aquisição de um novo conhecimento,
do desenvolvimento intelectual, de habilidades e de atitudes. Sendo assim, a Taxonomia de Bloom
pode facilitar na organização de qual é a melhor pergunta a ser feita, considerando os diferentes do-
mínios da aprendizagem cognitiva. Vamos relembrar quais são as categorias da Taxonomia de Bloom.
124
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Aplicar: usar fatos, regras e princípios; demonstrar capacidade de executar um procedimento numa
situação específica, bem como aplicar um conhecimento em uma nova situação.
Avaliar: combinar ideias para formar um novo todo; capacidade de realizar julgamentos baseados em
critérios e padrões qualitativos e quantitativos ou de eficiência e eficácia.
Criar: desenvolver opiniões, julgamentos ou decisões; capacidade de criar uma visão, uma nova
solução, estrutura ou modelo, utilizando conhecimentos e habilidades previamente desenvolvidos.
Observe na imagem a seguir alguns tipos de questionamentos que podem ser incorporados na prática
da preceptoria e que estão relacionados às categorias do domínio cognitivo da Taxonomia de Bloom.
125
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4.2.1 Brainstorming
Você já ouviu falar de brainstorming, também conhecido como tempestade ou chuva de ideias?
“É uma técnica utilizada quando se deseja encorajar uma ampla e criativa exposição de ideias sobre um
tema ou problema”(LOPES; LOPES, 2019). Baseia-se na exposição espontânea de ideias, sem julgamen-
to ou críticas. É, talvez, a estratégia de geração de ideias mais conhecida (CAMARGO; DAROS, 2018).
Veja abaixo o passo a passo de aplicação do brainstorming. Em seguida, acompanhe na história ilustra-
da como o brainstorming pode ocorrer na prática da preceptoria.
126
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
127
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Como você pode ter percebido na etapa inicial da exposição de ideias, não há julgamentos e
nem críticas, acolhe-se o que virá. Depois, é realizada a análise e selecionado aquilo que esti-
mula e incentiva a criatividade para gerar novas questões e/ou soluções (CAMARGO; DAROS,
2018). O brainstorming pode preceder diversas outras ferramentas de ensino, quando o propó-
sito inicial é compreender o que os residentes sabem sobre determinado tema ou problema.
Ainda, é uma estratégia aplicável para os objetivos de aprendizagem, considerando o domínio
cognitivo da Taxonomia de Bloom, correspondendo à etapa inicial “lembrar”.
E sobre o método espiral construtivista, você já ouviu falar? Vamos ver como aplicá-lo no contexto
da preceptoria.
128
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Identificando o problema - A identificação de problemas deve promover que cada residente explicite
suas ideias, percepções, sentimentos e valores prévios, trazendo à tona os fenômenos que já conhece.
Formulando explicações - As explicações iniciais e a formulação de hipóteses permitem explorar as
fronteiras de aprendizagem em relação a uma dada situação, possibilitando identificar as capacidades
presentes e as necessidades de aprendizagem.
Elaborando questões - As questões formuladas representam as necessidades de aprendizagem e
orientam a busca de novas informações. A seleção e pactuação das questões consideradas mais poten-
tes e significativas, para o atendimento dessas necessidades e ampliação das capacidades de enfrenta-
mento dos problemas identificados, trazem objetividade e foco para o estudo dos residentes.
Buscando novas informações - A busca por novas informações deve ser realizada, individualmente,
pelos residentes. O acesso às bases remotas de dados deve ser estimulado, por meio de capacitações
para a busca e análise crítica de informações. A análise da estratégia de busca utilizada pelos residen-
tes e o grau de confiabilidade das fontes e informações fazem parte do processo de ampliação da
capacidade de aprender ao longo da vida.
Construindo novos significados - A construção de novos significados deve ser um produto do con-
fronto entre os saberes prévios e as novas informações trazidas pelas pesquisas realizadas. A constru-
ção de novos sentidos não se restringe ao movimento de compartilhamento de novas informações. Ela
ocorre durante todo o momento no qual uma interação produz uma descoberta ou revela uma pers-
pectiva diferente das ideias que utilizamos com mais frequência. Todos os conteúdos compartilhados
devem receber um tratamento de análise e crítica, devendo-se considerar as evidências apresentadas.
Avaliando o processo - Outro movimento valorizado na espiral é a avaliação. A avaliação formativa
deve ser realizada, verbalmente, ao final de cada atividade, e assume um papel fundamental na me-
lhoria do processo. Todos devem fazer a autoavaliação, incluindo seu processo individual de aprendiza-
gem (metacognição). Também devem avaliar a atuação de seus pares e dos preceptores nas interações
e produções de novos significados nesse processo. Para além do processo, os grupos devem analisar
os produtos alcançados e decidir se há ou não necessidade de aprofundar a produção de saberes.
129
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
130
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
131
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Se você tiver interesse em uma imersão maior no método espiral construtivista, sugerimos a leitura
do artigo indicado abaixo, que aborda essa metodologia ativa de ensino e aprendizagem a partir da
teoria sociointeracionista.
SAIBA MAIS
A exemplo da preceptora Paula, que tal você se desafiar e aplicar esse método em seu cenário de
prática?
132
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O senhor José de Amaral, 64 anos, vai até a unidade de saúde de referência buscar atendimento após alta
hospitalar por acidente vascular encefálico. A residente de enfermagem, Maria Clara, que está realizando
o acolhimento, vai até a sala de espera e chama por José. No local havia duas pessoas com o nome de José.
Se direciona até o paciente José, de 44 anos, que foi mais ágil ao se levantar.
Na escuta inicial, José menciona que teve exposição sexual de risco há mais de 30 dias e gostaria de rea-
lizar os testes rápidos para infecção sexualmente transmissível (IST). O mesmo é orientado a aguardar na
sala de espera, pois será incluído na agenda do profissional enfermeiro para realização do teste rápido.
Passados cerca de 40 minutos desde o atendimento ao José de 44 anos, o enfermeiro Marcelo, que estava
realizando um procedimento ambulatorial, verifica em sua agenda que a próxima pessoa a ser chamada é
Seu José, para realização do teste rápido de ISTs. No corredor se depara com a residente Maria Clara, que
está realizando o acolhimento, e menciona:
- Preciso ir ao banheiro, podes aproveitar e chamar o senhor José e encaminhar ele até a sala de
procedimentos, é o único espaço que tenho neste momento para atendê-lo.
Maria Clara vai até a sala de espera e novamente chama por José. O José de 44 anos já havia sido aten-
dido por ela e orientado a aguardar o enfermeiro, por isso ficou sentado. O José de 64 anos levantou-
-se, e a residente direcionou-o até a sala de procedimentos para aguardar a chegada do enfermeiro.
O mesmo responde:
- Bom dia.
133
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Marcelo segue o atendimento fazendo uma abordagem direcionada ao pré-aconselhamento das ISTs.
Realiza os testes rápidos, em seguida conversa sobre o resultado e libera Seu José. Enquanto isso,
José de 44 anos segue aguardando na sala de espera.
Quando Maria Clara vai chamar seu último atendimento do acolhimento, lhe chama a atenção que o
José que atendeu no início do turno ainda estava na sala de espera, e pergunta a ele:
O senhor já foi atendido?
Ele responde:
- Ainda não! Estou aguardando aqui há quase três horas.
A residente responde:
- Hum, deixa eu ver com o enfermeiro se tem alguma previsão.
Marcelo responde:
- Mas, eu já o chamei e já realizei o teste, inclusive você direcionou ele até a sala de procedimen-
to, enquanto fui até o banheiro, lembra?
134
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para saber mais sobre a MP no ensino em saúde, leia o capítulo “A metodologia da problematização
no ensino em saúde: suas etapas e possibilidades”, do e-book de Villardi, Cyrino e Berbel, A problema-
tização em educação em saúde: percepções dos professores tutores e alunos.
SAIBA MAIS
135
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
136
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Essa eu não conheço Paula, como funciona esse diagrama dos cinco porquês?
Fonte: a autora.
Você pode estar se perguntando: por que tem o nome de diagrama? Observe a imagem a seguir, com
o exemplo que irá contribuir para essa compreensão.
Fonte: a autora.
137
E veja a aplicação prática do diagrama dos cinco porquês na mesma situação da segurança do paciente na Atenção Primária à Saúde que estamos utilizando.
Fonte: a autora.
Nossa, Paula, adorei essa metodologia do Sim, Francisco, a gente usa muito para os
diagrama dos cinco porquês, já estou aqui residentes compreenderem “o que” erra-
imaginando o quanto ela pode instigar os ram e “por que” erraram.
residentes a chegarem na causa dos proble-
mas. Fiquei aqui pensando… o quanto se Nossa, estou adorando essas trocas de vá-
aplica até mesmo quando o residente rea- rias metodologias e ferramentas de ensi-
liza alguma habilidade e/ou abordagem de no. Vou aproveitar e perguntar, vocês co-
forma equivocada, para que ele possa refle- nhecem alguma para discussão de casos
tir o “porquê” ocorreu. clínicos? Conhecem o preceptoria em um
minuto ou one-minute Preceptor? Eu não
tenho experiência com essa metodologia.
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Fonte: adaptado de Neumann et al., 2019; Skare, 2012; Chemello, Manfrói e Machado, 2009.
Assumir um compromisso - Após o residente apresentar o caso, ele geralmente espera do pre-
ceptor algum comentário a respeito do que está acontecendo com a pessoa que está atendendo.
Entender o que o residente interpreta do que está acontecendo é o primeiro passo, e isso é ob-
tido com uma pergunta aberta. Permita que o residente demonstre a sua interpretação acerca
do caso.
Buscar evidências - Questionar o residente sobre os motivos que o leva a definir tal diagnóstico
ou conduta. Assim, permitimos que o residente expresse evidências bem como a aplicação de
seus conhecimentos no caso. Procure perceber qual é o seu raciocínio acerca do processo e qual
o grau de conhecimento acerca do mesmo.
139
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Transmitir regras de ensinamento gerais - Nesta etapa, são discutidas regras gerais relaciona-
das ao caso em questão, em vez de informações detalhadas. O melhor caminho ao bom precep-
tor é iniciar com conhecimentos básicos e progredir com assuntos mais complexos à medida que
as habilidades dos alunos também aumentam. Evite excesso de detalhes.
Enfatizar o que está correto - Prover o feedback positivo é uma forma de mostrar ao residente
o que está correto, aumentando a autoconfiança do aprendiz por meio do estímulo à busca de
novos conhecimentos. Enfatize o que está correto na apresentação do caso e/ou na conduta.
Corrigir o que está incorreto - A correção dos erros é um processo fundamental para o processo
de aprendizado. A correção imediata e apropriada dos erros reduz a repetição dos mesmos. Ob-
viamente, todo esforço deve ser feito para tornar a correção o menos desagradável possível, privi-
legiando a discussão aberta e respeitosa. Preceptor, sugira novas estratégias, possibilite abertura
para a autocrítica bem como sugestões de leituras específicas para discussões posteriores, pois
essas são excelentes maneiras de correção de erros nesse processo.
Um dos erros mais comuns que se observa junto aos preceptores, especialmente os mais jovens e
inexperientes, é que eles buscam transmitir o maior número possível de informações em curto espaço
de tempo. O método preceptoria em um minuto enfatiza exatamente o contrário, ou seja, a trans-
missão limitada de informações, mas sempre de acordo com aquilo que foi apresentado. Isso facilita
o aprendizado dos residentes e os estimula a buscar novas fontes de pesquisas sobre determinado
assunto (CHEMELLO; MANFRÓI; MACHADO, 2009).
Para entender melhor como funciona a metodologia preceptoria em um minuto, acompanhe a histó-
ria ilustrada que irá apresentar um exemplo prático.
140
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
141
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A história ilustrada sobre o método de ensino preceptoria em um minuto demonstra sua apli-
cabilidade na prática clínica. Este método é utilizado na aprendizagem e na avaliação de casos
clínicos, bem como na discussão dos mesmos. É um método de breve aplicação que deve ser
estruturado de acordo com seu passo a passo para uma efetiva resposta quanto ao compromisso
do residente e do preceptor.
Preceptor, você viu que se trata de um método eficaz e ágil nas interações preceptor-residente-paciente e
eficiente para a preceptoria nos casos clínicos? E, também, adaptável para diferentes cenários práticos?
Veja no quadro a seguir as questões norteadoras para cada etapa da metodologia de ensino precep-
toria em um minuto e utilize na sua prática.
Problema/Assunto/Tema/Desafio
142
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O foco dessa técnica está na apresentação do caso e no diagnóstico. As etapas 1 a 3 do processo são
conduzidas pelo residente, a etapa 4 envolve o preceptor e a etapa 5 é colaborativa. A etapa 6 tam-
bém é de responsabilidade do residente (NEUMANN et al., 2019; LAZARUS, 2016).
Escute o podcast que apresenta exemplos de cada uma das fases do SNAPPS.
PODCAST
Metodologia de ensino SNAPPS
Para compreender um pouco mais sobre a utilização da metodologia SNAPPS no contexto da precep-
toria, assista à videoaula que aborda uma prática considerada exitosa no seu uso.
Prática exitosa no uso da metodologia SNAPPS
143
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
4.2.8 Fishbowl
Segundo Araújo et al. (2016), o fishbowl foi criado na Faculdade de Engenharia Civil da Universidade
de Stanford, e é um formato de ensino de discussão em pequenos grupos, que promove o diálogo e
a troca de experiência entre os participantes. Possibilita revisar algum conteúdo, assim como propor-
ciona o aprendizado de forma colaborativa de um tema de comum interesse. Veja a seguir o passo a
passo para a aplicabilidade dessa metodologia.
Passo 1
Preparar o cenário com dois
círculos de cadeiras: um
menor central e um maior
de forma externa. A quan-
tidade de cadeiras depende
da quantidade de partici-
pantes, o importante é que
todos tenham uma cadeira
para sentar. Veja essa orga-
nização no exemplo da ima-
gem ao lado.
Passo 2
O preceptor e/ou facilita-
dor da atividade orienta
que alguns participantes
devem ocupar as cadeiras
centrais do aquário (peixes
da rodada inicial), mas dei-
xando uma cadeira vazia.
Os demais ocupam as ca-
deiras do círculo externo.
Observe na imagem.
144
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Passo 3
O preceptor apresenta o tema a ser de-
batido pelos participantes do aquário, e
a discussão é iniciada.
Passo 4
Após colocar o tema/discussão, deixe que os participantes do círculo de dentro discutam. En-
quanto os “peixes” no círculo de dentro falam e contribuem, os que estão no círculo de fora
precisam escutar ativamente. Se alguém quiser participar da conversa, precisa se dirigir e sentar
na cadeira vazia do círculo menor, e um dos participantes “peixes” deve deixar voluntariamente
o aquário e sentar-se na cadeira que vagou no círculo externo, mantendo sempre uma cadeira
livre para que seja possível que outros participantes externos entrem na discussão.
145
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Vamos ver como pode ser aplicado no cenário prático da preceptoria em saúde, considerando as eta-
pas adaptadas de Bordenave e Pereira (2012):
Passo 1 - Dispor o cenário em dois círculos, com uma quantidade de cadeiras dispostas de forma
igualitária entre o círculo interno e o externo, possibilitando que cada residente fique em frente
ao outro para proporcionar o diálogo.
Passo 2 - O preceptor orienta sobre a atividade e dá início à ação. Exemplo: “O residente que
está no círculo externo deve expressar, para o residente à sua frente, sua opinião sobre a utiliza-
ção das práticas integrativas e complementares no tratamento de doenças crônicas, e o residen-
te do círculo interno, após ter escutado a opinião do seu colega, discute com ele durante alguns
minutos” (aproximadamente 3 minutos).
Passo 4 - Por fim, forma-se um único círculo e o preceptor pode orientar que os residentes descre-
vam os argumentos e contra-argumentos apresentados durante os diálogos. Ou o preceptor pode
agrupá-los em grupos menores para que possam refletir sobre os diferentes diálogos que ocorreram.
Essa metodologia possibilita enriquecer as discussões sobre determinado tema, assim como permite
aumentar a flexibilidade quanto às divergências entre os residentes demasiadamente convencidos da
certeza de suas opiniões.
146
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
4.2.10 Brainwriting
Brainwriting é uma ferramenta que consiste na realização de debate, discussão de ideias sobre de-
terminado tema, assunto, desafio ou problema. O objetivo é protagonizar o residente que para que
possa se posicionar com suas ideias e possíveis soluções (CAMARGO; DAROS, 2018).
Duas dicas!
● Aplique essa ferramenta com grupos de residentes de no máximo cinco participantes.
● Tenha o material (folhas) previamente em mãos. Veja o modelo da folha a ser utilizada na
ferramenta de brainwriting na imagem abaixo.
Participante 1
Participante 2
Participante 3
Participante 4
Passo 1 - Distribuir para cada participante uma folha de papel, conforme o modelo visto anterior-
mente.
Passo 2 - O preceptor orienta sobre o tema/assunto/problema ou desafio, e pede para que cada
residente descreva três ideias na folha de papel. Duração de aproximadamente 5 minutos.
Passo 3 - Ao término do tempo, o preceptor pede que a folha seja passada para o participante
sentado à direita (sentido horário).
Passo 4 - Nos próximos 5 minutos, cada residente deverá escrever três novas ideias ou comple-
mentar as ideias já escritas pelo colega anteriormente.
Passo 5 - Repete-se o processo até chegar a folha novamente para o residente que a iniciou.
Passo 6 - O grupo avalia e discute as ideias e escolhe as melhores, desde que sejam aplicáveis.
Última dica!
Sugira aos residentes que evitem julgamentos, não há ideias ruins ou absurdas. Estimule o grupo
para que as ideias correspondam ao tema proposto.
147
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Observe abaixo as etapas da VE, segundo Mattos (2018), bem como algumas dicas de viagem educativa.
Veja no quadro abaixo algumas obras cinematográficas que podem ser usadas como ferramentas para a
reflexão sobre processos pedagógicos.
148
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Poderíamos descrever outras práticas exitosas, porém não daríamos conta de contemplar todas
as metodologias e ferramentas que estão sendo utilizadas no processo de ensino e aprendizagem
na formação de residentes. Dessa forma, se houver interesse em buscar mais algumas práticas
pedagógicas, que também consistem em metodologias ativas, deixamos como sugestões:
● clube de revista;
● seminários;
● simulação/role play;
149
REFERÊNCIAS
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colaborativa. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 20, n. 59, p. 905-916, 2016. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/icse/a/sXhwQWKsZGzrQqT4tDryCXC/?lang=pt#. Acesso em: 21 jul. 2022.
ALONSO, A. The Quiet Profession: Supervisors of Psychotherapy. Toronto, Canadá: Collier Macmillan, 1985.
ANDRADE JÚNIOR, H. Eficácia terapêutica da música: um olhar transdisciplinar de saúde para equipes,
pacientes e acompanhantes. Revista de enfermagem UERJ. Rio de Janeiro, n. 26, 2018. Disponível
em: http://hdl.handle.net/10400.14/33121. Acesso em: 20 jul. 2022.
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em: https://cft.vanderbilt.edu/guides-sub-pages/blooms-taxonomy. Acesso em: 10 nov. 2022.
BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 32ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
150
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
CHEMELLO, D.; MANFRÓI, W. C.; MACHADO, C. L. B. O papel do preceptor no ensino médico e o modelo
preceptoria em um minuto. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 33, n. 4, p. 664-669, 2009.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-55022009000400018. Acesso em: 01 dez. 2022.
COSTA, M.V. et al. Educação interprofissional em saúde. Natal: SEDIS- UFRN. 2018.
CURRY, L. Individual differences in cognitive style, learning style and instructional preference in
medical education. In: NORMAN G.R et al. (eds). International Handbook of Research in Medical
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154
PARTE 3
FERRAMENTAS DE
AVALIAÇÃO
Nesse estudo, você irá conhecer diferentes aspectos relacionados à avaliação do processo de ensino
e aprendizagem no contexto da preceptoria das residências com foco no trabalho interprofissional,
buscando compreendê-la como uma prática pedagógica na formação em serviço na área da saúde.
Será apresentada a concepção mediadora ou dialógica de avaliação e serão discutidos os papéis dos
diferentes sujeitos envolvidos no processo avaliativo, além de diferentes estratégias e instrumentos
que podem ser utilizados, visando promover a compreensão sobre sua aplicabilidade no contexto da
preceptoria em saúde.
Por fim, esperamos que esse estudo ofereça caminhos para que todo preceptor internalize a avalia-
ção como prática pedagógica indispensável no processo de preceptoria. Para isso, vamos precisar
que você se envolva profundamente com seus estudos, para que, posteriormente, utilize a avaliação
como estratégia de ensino e aprendizagem nos programas de residência.
156
1 BOAS VINDAS! NA FORMAÇÃO EM
AVALIAÇÃO
SERVIÇO NA ÁREA DA SAÚDE
A avaliação pode ser compreendida de diferentes formas: como atribuição de valor ou qualidade
positiva ou negativa a algo, como comprovação de alcance de resultados desejados ou associada ao
compromisso de ensinar, tornando-se fonte de aprendizado para quem avalia e, principalmente, para
quem é avaliado (SOUZA, 2021; BICCA JÚNIOR, 2012; OLIVEIRA; ADAMS, 2014).
Lembre-se que, muitas vezes, nossa prática avaliativa sofre influência e será um reflexo de nossa his-
tória de vida como aluno e como professor e de nossa consciência sobre o modelo de educação em
que acreditamos (CAVALCANTI NETO; AQUINO, 2009).
Portanto, tomar consciência a respeito da concepção utilizada em nossa prática é muito importante
para que não perpetuemos, até mesmo sem perceber, práticas avaliativas que não priorizam a apren-
dizagem dos residentes.
157
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A proposta é que a avaliação realizada na preceptoria ultrapasse a concepção punitiva muitas vezes
impressa em nossas práticas, transformando-se em uma ação permanente pela qual o preceptor pode
obter informações sobre dificuldades e avanços de cada residente, singularmente.
Assim, a avaliação pode ser utilizada como subsídio para definição e implantação de ações pedagógi-
cas direcionadas para cada indivíduo, de maneira que contribua para a continuidade e a qualificação
de seu processo formativo e, principalmente, promova sua aprendizagem (CAVALCANTI NETO; AQUI-
NO, 2009).
Reconhecer que os adultos aprendem quando estão prontos para aprender e que as ocasiões de
aprendizado devem captar o senso de prontidão e ansiedade dos adultos, a fim de satisfazer sua
necessidade de competência social.
Reconhecer que a orientação por competência dos adultos resulta em uma nova perspectiva
temporal que valoriza a aplicação imediata, em vez de uma aplicação adiada centrada no sujeito.
158
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para saber mais sobre a avaliação em uma perspectiva andragógica, leia o artigo indicado.
SAIBA MAIS
Na perspectiva andragógica e como recurso de aprendizagem reflexiva, como a avaliação pode impul-
sionar a aprendizagem (PEDROCHI JUNIOR et al., 2021)? Como evitar que, mesmo em programas de
residência com abordagens pedagógicas progressivas, exatamente na avaliação ocorram retrocessos
(SORDI, 2000)?
A depender da forma como realizamos a avaliação, podemos focar no que o aluno deixou de aprender
ou, ao contrário, no que ainda pode aprender e em seu potencial de desenvolvimento (MITRE et al.,
2008; BATISTA; MORAES, 2020). Nesse caso, a avaliação está orientada para a aprendizagem.
Para que seja realizada nesse sentido, é imprescindível que a avaliação permita, sempre, a realização
de um diagnóstico e a tomada de decisão (LUCKESI, 2000; BATISTA; MORAES, 2020). Assim, o diag-
nóstico retroalimenta o processo de ensino, permitindo ao educador decidir se é possível seguir em
frente ou se algo ainda permanece incompreendido (BATISTA; MORAES, 2020). Se não houver deci-
são, não há validade como processo educativo.
Observe na imagem a seguir alguns caminhos que podem contribuir para tornar a avaliação parte do
processo de ensino e aprendizagem.
159
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Além de pensar o processo avaliativo como experiência de aprendizado para os residentes, ressalta-
-se a oportunidade de aprendizado para todos os envolvidos nas residências. Por exemplo, ao avaliar
os estudantes, os preceptores podem obter devolutivas sobre as ações de ensino, compreendendo
se foram capazes de oportunizar a aprendizagem. Dessa forma, podemos refletir sobre nossa própria
ação pedagógica, e a avaliação pode auxiliar na correção de caminhos em diferentes vias, qualificando
de maneira ainda mais ampliada o processo de formação (WITTACZIK, 2007).
“Olho para a educação com olhos de cozinheira e me pergunto: que comidas se pre-
param com os corpos… nesse caldeirão chamado escola? Porque educação é isso: um
processo de transformações alquímicas que acontece pela magia da palavra. Que prato
se pretende servir? Que sabor está sendo preparado? Para que se educa? É isso que
aprendi com as cozinheiras: que é preciso pensar a partir do fim” (1995 apud BATISTA;
GONÇALVES, 2011, p. 885).
160
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Fonte: a autora.
161
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Avaliação tradicional
No modelo avaliativo tradicional, baseado na somatória de pontos obtidos em, por exemplo, testes,
provas e outros instrumentos de coleta de dados, a valoração ou a conceituação final determina o
alcance ou não do aproveitamento exigido, o que supostamente avaliaria o estudante (OLIVEIRA;
ADAMS, 2014). Entretanto, essa prática implica no que Luckesi chama de examinar, ou seja, implan-
ta-se um esquema que, ao invés de promover a aprendizagem, se caracteriza pela classificação dos
alunos (LUCKESI, 2013).
“Frequentemente tais notas e conceitos são utilizados apenas para registro ou, caso o aluno não
tenha alcançado o mínimo exigido para aprovação, para oferta de uma oportunidade de recuperação,
colocando o foco na nota e não na melhoria da aprendizagem propriamente dita” (LUCKESI, 2005,
p. 90 apud GONÇALVES, 2008). Suas consequências são conhecidas, incluindo: superestimação da
importância dos exames; controle e poder sobre os estudantes; propagação da cultura do medo da
avaliação; e utilização da avaliação para promover seletividade (LUCKESI, 2013).
Vejamos um exemplo desse tipo de avaliação. Para isso, considere o seguinte contexto:
Ao iniciar o segundo ano de residência, a preceptora Ana e o residente Marcos definiram os objetivos
pedagógicos que nortearam a relação de ensino e aprendizagem entre ambos no primeiro trimestre
do R2. Algumas dificuldades na comunicação com os usuários haviam sido percebidas no ano anterior,
de modo que esse foi considerado um dos pontos principais a ser desenvolvido no período.
Após a pactuação realizada com o residente, Ana elaborou um instrumento para registro do desem-
penho de Marcos em relação à comunicação com os usuários, e o utilizou nos meses seguintes para
registrar a nota do residente em cada item do instrumento e as observações pertinentes. Ao final do
primeiro trimestre do R2, foi realizada uma avaliação formal em relação às habilidades e atitudes que
deveriam ser desenvolvidas para uma comunicação efetiva, com emissão do juízo de valor sobre o de-
sempenho observado. O resultado da avaliação foi utilizado para definir a continuidade do residente
no trimestre seguinte da residência.
Avaliação Mediadora
• Realização da avaliação do residente por múltiplos sujeitos, inclusive pelo próprio resi-
dente (autoavaliação).
162
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
163
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para aprofundar seu estudo, realize as leituras dos dois textos de Jussara Hoffmann. O primeiro deles
discute a relação entre as concepções educativa e avaliativa que adotamos em nossa prática de ensi-
no, esclarecendo o papel do diálogo e do acompanhamento dos estudantes na avaliação mediadora.
Já o segundo texto nos apresenta com mais detalhes a avaliação mediadora, discutindo o papel dos
avaliadores e dos estudantes e o caráter subjetivo e multidimensional da avaliação.
LEITURA RECOMENDADA
Avaliação mediadora: uma relação dialógica na constru-
ção do conhecimento
Fonte: Hoffmann, 1994.
LEITURA RECOMENDADA
Antes de qualquer questão, a avaliação na residência deve ser processual e formativa e se direcionar
para a identificação de fragilidades e de respostas, prioridades e caminhos para atuar sobre elas, pos-
sibilitando alcançar o desenvolvimento do residente (MITRE et al., 2008).
Na avaliação mediadora, ter em foco o aprender, ou o processo, significa acompanhar a construção do
conhecimento e favorecer a aprendizagem de cada residente, mediando-a através de ofertas peda-
164
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
gógicas (questionamentos, tarefas, leituras, explicações, investigações, vivências etc.) que ampliem o
saber-conhecimento, o saber-ser e o saber-fazer (HOFFMANN, 1994). Implica em uma reflexão cons-
tante por parte do preceptor, inserida em um contexto avaliativo contínuo e cumulativo, identifi-
cando necessidades e abertura do residente para o enfrentamento de novos desafios (HOFFMANN,
1994; BICCA JÚNIOR, 2012).
Dessa forma, a avaliação e seus resultados são direcionados ao estudante, com o objetivo de promo-
ver sua aprendizagem.
Na prática, a avaliação mediadora se caracteriza por três momentos ou tempos avaliativos, conforme
você pode observar na imagem a seguir (HOFFMANN, 2005).
165
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
166
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Pode-se verificar que uma concepção mediadora tem por finalidade promover a aprendizagem
de maneira individual, não comparativa, baseando-se no respeito à diversidade e valorizando o
deslocamento dos alunos no processo de aprendizagem (HOFFMANN, 2005).
A prática avaliativa ancorada nessa concepção de avaliação deve ser sempre acompanhada de uma me-
diação, ou seja, de uma intervenção pedagógica que apoia intelectual ou afetivamente os alunos para a
superação de desafios (HOFFMANN, 2005). É ação provocativa do preceptor que, por meio de questiona-
mentos, desafia o residente a refletir sobre as situações vividas, formular hipóteses e buscar explicações
através do diálogo compartilhado.
Assim, a diferenciação em sua aplicação não está necessariamente relacionada com as metodologias ou
instrumentos adotados, mas na finalidade com que são utilizados: ao invés de registrar os dados para clas-
sificação dos alunos, os registros são utilizados para melhor compreender o processo de aprendizagem
como subsídio para atuar pedagogicamente em seu favor (HOFFMANN, 2005).
167
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Sendo a avaliação uma prática educativa inserida em um projeto político pedagógico, podemos con-
cordar que, se a teoria pedagógica considera que a retenção de conhecimentos é suficiente para o
aprendizado, os atos avaliativos serão implantados no sentido de medi-la (LUCKESI, 2000).
Por outro lado, se compreendemos a educação em uma perspectiva sociointeracionista, que busca
desenvolver a capacidade crítico-reflexiva e formar para transformar a realidade, será preciso que nos
informe o desenvolvimento de capacidades cognitivas, psicomotoras e atitudinais para atuar em um
determinado contexto profissional. Dessa forma, a avaliação passa a oferecer subsídios ao preceptor
para a mediação da aprendizagem, buscando auxiliar o residente em seu processo de aprendizagem
(LIMA, 2005; EGRY; MARQUES; FONSECA, 2006; CHIRELLI; NASSIF, 2019).
Para saber mais, leia a reportagem indicada a seguir, que aborda o impacto da avaliação na aprendi-
zagem dos estudantes. Perceba no texto que o tipo de avaliação que utilizamos pode auxiliar ou, ao
contrário, dificultar a aprendizagem dos residentes, e reflita sobre sua prática na preceptoria!
SAIBA MAIS
No modelo da pirâmide de Miller, os níveis partem do conhecimento teórico para o saber fazer, ou
seja, à experiência no ambiente do trabalho (MARTINS et al., 2015; AUTO; VASCONCELOS; PEIXOTO,
168
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
2021). Na perspectiva da formação profissional, portanto, aos conhecimentos (cognitivo) devem es-
tar integrados os demais domínios de aprendizagem (psicomotor e atitudinal) (SANTOS, 2011).
Fontes: adaptado de Cruess; Cruess; Steinert, 2016 apud Romão et al., 2020.
Domínio cognitivo
Com frequência, utiliza-se a divisão proposta pela Taxonomia de Bloom para apoiar a definição de ob-
jetivos educacionais, o planejamento didático-pedagógico e a escolha dos instrumentos de avaliação
(FERRAZ; BELHOT, 2010). Na taxonomia, o cognitivo está relacionado ao domínio de conhecimentos
organizados em categorias hierarquizadas que apresentam dependência entre elas e complexidade
crescente, ou seja, à medida que o aluno avança na escala, apresenta domínio sobre os níveis anteriores
(ROMÃO, 1998; FERRAZ; BELHOT, 2010).
169
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A proposta de Bloom permite inferir que, nas mesmas condições de aprendizagem, todos aprendem,
mas podem se diferenciar em relação ao conhecimento construído – enquanto, em determinado mo-
mento, alguns podem chegar ao nível de avaliação da taxonomia, outros poderão se localizar no pon-
to de síntese do conhecimento. Esse fato deve ser considerado nos diferentes momentos avaliativos
realizados ao longo da residência (FERRAZ; BELHOT, 2010).
Domínio atitudinal
Diz respeito aos processos de agir (posturas) ou sentir – ou seja, envolve opiniões, atitudes, respeito,
emoções, valores que o aluno desenvolve à medida que vivencia o processo educativo (FERRAZ; BE-
LHOT, 2010; FEIJÓ et al., 2019).
Domínio psicomotor
Diz respeito ao fazer – o aluno deve aprender aquilo que demanda efetuação neuromuscular, que
está relacionado a habilidades físicas específicas, como manusear instrumentos ou realizar o exame
físico durante um atendimento (MEGALE; GONTIJO; MOTTA, 2009; FERRAZ; BELHOT, 2010; FEIJÓ et
al., 2019).
170
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Os modelos de Miller e Bloom permitem alinhar objetivos educacionais ao sistema avaliativo, conside-
rando-se que, a cada nível da pirâmide, por exemplo, os instrumentos de avaliação exigidos se tornam
mais complexos (MARTINS et al., 2015).
No caso da taxonomia, pode ser utilizada nos processos avaliativos para auxiliar a identificar em que
momento de aprendizagem se encontra o estudante em relação aos processos cognitivos e quais as
melhores estratégias educacionais possíveis para seu deslocamento na busca pela competência dese-
jada (ROMÃO, 1998; FERRAZ; BELHOT, 2010).
Para responder à pergunta feita por Francisco, consideramos que o processo educacional deve ser guiado
pela noção de competência, que orienta todo o ciclo ensino e aprendizagem-avaliação (SANTOS, 2011).
Dessa forma, a avaliação por competência deve permitir demonstrar a mobilização e a articulação
desses diferentes elementos para atuar em situações concretas do trabalho (EGRY; MARQUES; FON-
SECA, 2006). Se focar apenas no saber ou na verificação de habilidades e atitudes (o fazer), mantém-
-se inadequada por não permitir averiguar se a competência foi ou não alcançada.
171
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
LEITURA RECOMENDADA
Competência: distintas abordagens e implicações na for-
mação de profissionais de Saúde
Fonte: Lima, 2005.
Currículos orientados por competência organizam seus processos pedagógicos buscando o desen-
volvimento do fazer (tarefas e resultados), do saber (“uma vez que quem sabe ou conhece é capaz
de fazer”) e da prática profissional que combina os atributos ou domínios em diferentes contextos,
segundo padrões socialmente estabelecidos (LIMA, 2005).
Nesse contexto, considera-se que diferentes combinações dos atributos cognitivos, atitudinais e psi-
comotores podem responder aos padrões de excelência que regem uma prática profissional (LIMA,
2005). Essa informação é relevante quando refletimos sobre os processos avaliativos, pois nos per-
mite considerar a inexistência de um único padrão para definir o “como fazer” determinada prática,
ponderando que as pessoas podem desenvolver diferentes modos, adequados e eficazes, para de-
sempenhar suas ações (LIMA, 2005).
A competência não pode ser medida diretamente. Por isso, o alcance dos padrões de excelência de-
sejados deve ser verificado a partir do desempenho do aluno. O desempenho torna-se, portanto, a
“expressão concreta dos recursos que o indivíduo articula e mobiliza no enfrentamento das situações
e acontecimentos próprios de um campo profissional” (EGRY; MARQUES; FONSECA, 2006, p. 238).
Os desempenhos mostram a forma como deve ser realizada a prática por meio de ações e atividades
a serem desenvolvidas e considerando-se o conhecimento técnico-científico válido em determinado
contexto e momento histórico, transformados em critérios avaliativos (LIMA et al., 2014).
172
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Vejamos, a seguir, como podem ser analisados os dados obtidos a partir da avaliação, considerando as
seguintes possibilidades: avaliação norma-referenciada e a avaliação critério-referenciada.
Avaliação norma-referenciada
Na avaliação norma-referenciada, os desempenhos dos alunos são comparados entre si tomando
como base uma norma, como uma média (ROSADO; SILVA, 1999), a partir de uma curva de distribui-
ção normal que considera que a maioria dos estudantes estará distribuída em seu centro. Assim, a
avaliação deve refletir as diferenças entre os alunos, uma vez que a referência é um grupo normativo
e que é orientada por um conjunto de regras comuns (ou seja, o critério – entendido como norma – é
externo ao aluno) (ROSADO; SILVA, 1999).
Entende-se, nesse caso, que o estudante não necessariamente precisará atingir todo o desempenho
esperado, uma vez que se admite a possibilidade de que um percentual poderá não ser atingido (por
exemplo, ao termos uma nota mínima de 7,0, aceita-se que 30% do desempenho poderá não ser al-
cançado pelo residente).
Podemos considerar os testes ou as provas comumente vivenciadas nas escolas como exemplos de
instrumentos para medir o desempenho cognitivo a partir de uma avaliação norma-referenciada.
Avaliação critério-referenciada
A avaliação critério-referenciada busca comparar o estudante com ele mesmo, ou seja, procura iden-
tificar seu deslocamento ao longo do processo de aprendizagem (CHIRELLI; NASSIF, 2019).
O foco desse tipo de avaliação está em compreender a aprendizagem do aluno, identificando se alcançou
as capacidades desejadas a partir de um referencial (critérios ou desempenhos esperados) que norteia o
processo educativo e define onde o estudante deve chegar para alcançar determinada competência.
173
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A utilização do portfólio como estratégia para verificação de desempenho é um exemplo que pode
ser considerado na avaliação critério-referenciada, possibilitando a comparação do residente com ele
próprio em seu deslocamento no processo de aprendizagem.
Para saber mais sobre avaliação critério-referenciada, leia o artigo abaixo. Neste artigo, é apresentada a
avaliação realizada no processo de ensino e aprendizagem de uma Unidade de Prática Profissional em um
currículo baseado em competência. Conhecer essa experiência avaliativa e os pressupostos que embasa-
ram sua implantação poderá contribuir para repensar a avaliação em seu programa de residência!
SAIBA MAIS
É isso mesmo! Apenas identificar o desempenho do residente não é suficiente: é preciso acompanhar
seu desenvolvimento em cada etapa do processo de ensino e aprendizagem, considerando suas sin-
gularidades individuais (conhecimentos e experiências prévias, sentimentos, formas de aprender, e
outras) e colocar em prática estratégias pedagógicas direcionadas às lacunas de aprendizagem iden-
tificadas (FERNANDES et al., 2012).
Sendo, então, um processo contínuo de aprendizagem, a avaliação pode ser realizada em diferentes
momentos. Conheça um pouco mais a seguir sobre os tipos de avaliação que se diferenciam quanto
ao momento em que são realizadas e à função a que se destinam.
Cada um dos tipos de avaliação apresentados tem uma função específica e sua utilidade, consideran-
do o objetivo do processo avaliativo e como serão aproveitados os dados obtidos, destacando-se a
importância de serem utilizados de maneira complementar nos processos avaliativos!
Fontes: a autora.
174
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Avaliação diagnóstica
A avaliação diagnóstica pode ser realizada antes ou durante o processo de ensino e aprendizagem,
pontualmente, com o objetivo de verificar a existência ou a ausência de conhecimentos, habilidades
ou capacidades psicomotoras para, então, ser realizada uma intervenção educacional (FREITAS; COS-
TA; MIRANDA, 2014).
Sua realização exige habilidades de observação e análise por parte do avaliador, de maneira que con-
siga identificar com clareza as dificuldades dos estudantes, quais suas necessidades de deslocamento
em relação aos objetivos educacionais e em quais aspectos poderá atuar (WITTACZIK, 2007).
Assim, esse tipo de avaliação disponibiliza informações para que o preceptor planeje a ação pedagó-
gica construindo mecanismos de aprendizagem adaptados às dificuldades e potencialidades identifi-
cadas previamente (GONÇALVES, 2008).
Avaliação formativa
Realizada durante o processo de ensino e aprendizagem, de maneira contínua, a avaliação formativa
pretende avaliar para ajudar a aprender, ou seja, é orientada por uma lógica educativa (EGRY; MAR-
QUES; FONSECA, 2006). É uma avaliação comprometida com a construção coletiva do aprendizado,
respeitando as diferenças de cada residente (é direcionada a cada estudante) e, por isso, é critério-re-
ferenciada por excelência, permitindo verificar os deslocamentos do residente no processo educativo
(WITTACZIK, 2007). Isso somente é possível se residentes e preceptores tiverem clareza do que será
avaliado.
A avaliação formativa dirige-se a todos os sujeitos envolvidos e serve para redirecionar tanto a apren-
dizagem quanto o próprio ensino, fornecendo subsídios para que os preceptores revejam e reorga-
nizem as práticas educativas para auxiliar os residentes a mobilizar e articular capacidades a fim de
alcançar a competência desejada (SANTOS, 2016). Desse modo, possibilita que as dificuldades sejam
sanadas enquanto ainda se desenvolve o processo de ensino e aprendizagem (WITTACZIK, 2007).
Para isso, o papel do retorno efetivo aos alunos sobre o desempenho verificado nesse tipo de avalia-
ção é muito importante. Mecanismos regulares de feedback (que se refere à informação que será for-
necida ao residente para descrever e avaliar seu desempenho em determinada atividade a partir de
critérios previamente definidos e de reflexões sobre sua prática) são essenciais para que a avaliação
formativa seja realizada (ROCHA, 2018; CHIRELLI; NASSIF, 2019).
A utilização da avaliação formativa no contexto das residências demanda do preceptor um olhar aten-
to e constante ao residente em seu processo de formação, além do desenvolvimento de sua própria
capacidade crítico-reflexiva em relação à prática da preceptoria (SANTOS; KROEFF, 2018). O precep-
tor passa a ter um papel central como observador e questionador no processo educativo, buscando
identificar fragilidades e limitações na formação do residente, além de promover ajustes em relação
às atividades pedagógicas e aos conteúdos que devem ser trabalhados com os residentes, conside-
rando seu deslocamento e suas necessidades de aprendizagem.
Os residentes, por sua vez, passam a ter um papel mais autônomo, devendo também exercitar a capaci-
dade reflexiva para identificar suas lacunas, assim como se colocar na centralidade da busca por estraté-
gias que potencializem sua aprendizagem (SANTOS; KROEFF, 2018). Busca-se o desenvolvimento de sua
autonomia e postura ativa para aprender, seja por autorregulação ou por meio de uma intervenção do
preceptor, como, por exemplo, um feedback recebido, que deve ser compreendido pelo residente para
que, em seguida, busque alternativas para melhorar seu desempenho (SANTOS, 2016).
175
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
É importante lembrar que implantar estratégias formais de avaliação formativa nos programas de re-
sidência não elimina a existência de outras mais informais. Embora apenas as estratégias de avaliação
formativa que possuem algum grau de formalidade possam ser associadas à avaliação somativa, isso
não significa eliminar as interações não formais entre preceptor e residente com o objetivo de realizar
uma avaliação em processo e formativa (SANTOS, 2016). Ou seja, através de feedback regular, as ações
informais devem seguir orientando a definição e a implantação de ações educacionais que busquem a
melhoria contínua da aprendizagem dos residentes.
Para saber mais, leia o artigo abaixo. Neste artigo, os autores aprofundam as diferenças entre ava-
liação somativa e formativa e reforçam a importância do feedback como atividade formativa estru-
turante, incluindo uma discussão sobre como prover feedback efetivo e sobre evidências de seu
funcionamento.
SAIBA MAIS
Avaliação somativa
A avaliação somativa tem como objetivo avaliar para sintetizar a aprendizagem, ou seja, fornecer o
resultado final a respeito do que o aluno aprendeu ou é capaz de fazer em um determinado momento
do processo de ensino e aprendizagem, geralmente quando se encerra um ciclo (SANTOS, 2016).
Tem uma natureza prospectiva, normalmente utilizando critérios referenciados à norma para avalia-
ção (FREITAS; COSTA; MIRANDA, 2014; SANTOS, 2016). Dessa forma, tem uma função certificativa,
classificando os resultados de aprendizagem alcançados para verificar se o aluno atingiu os desempe-
nhos mínimos exigidos para ser aprovado (BORGES et al., 2014).
Apesar de útil para definir a certificação dos residentes, há críticas em relação à utilização exclusiva
desse tipo de avaliação no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que foca mais no resultado
do que no estudante e em sua trajetória de aprendizagem (BORGES et al., 2014). Além disso, perce-
be-se que, em geral, avaliações somativas utilizadas isoladamente consideram que todos os estudan-
tes se encontram em condições igualitárias de aprendizagem, desprezando os diferentes aspectos
envolvidos nesse processo, que resultam em deslocamentos distintos (BORGES et al., 2014). Ou seja,
a avaliação deixa de ser concebida como uma ação que deve ser realizada em processo e, assim, difi-
culta a oferta de oportunidades de melhoria em momentos propícios para a aprendizagem (BORGES
et al., 2014).
Realize a leitura do artigo indicado abaixo, onde são encontrados elementos para realizar uma articu-
lação entre avaliação formativa e somativa, buscando-se estabelecer relações e não simultaneidade
entre esses processos.
LEITURA RECOMENDADA
A articulação entre a avaliação somativa e a formativa, na
prática pedagógica: uma impossibilidade ou um desafio?
Fonte: Santos, 2016.
176
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
ATIVIDADE
Analise as situações contextualizadas a seguir e indique a que tipo de avaliação elas se referem.
Situação 1 - OSCE
Feedback
Se você respondeu avaliação somativa, está correto! A situação se refere a um momento de
avaliação somativa, uma vez que se destina à tomada de decisão a respeito da progressão da
residente para o ano seguinte e ocorre ao final do primeiro ano de residência de maneira pon-
tual (em um momento definido do curso).
177
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Situação 2 - Round
Feedback
Se você escolheu avaliação formativa, está correto! A situação se refere a um momento de
avaliação formativa, uma vez que se destina a auxiliar no aprendizado, é contínua (foi realizada
informalmente durante um momento de interação entre preceptor e residente), dinâmica (per-
mite ajustes durante a residência, corrigindo eventuais obstáculos enfrentados pelo residente)
e considera a individualização do residente no processo de aprendizagem.
A situação não se trata de uma avaliação diagnóstica, pois não disponibiliza informações para
que o preceptor planeje a ação pedagógica, construindo mecanismos de aprendizagem adap-
tados às dificuldades e potencialidades identificadas previamente. A situação também não se
trata de uma avaliação somativa pois não fornece o resultado final a respeito do que o aluno
aprendeu ou tem a capacidade de fazer em um determinado momento do processo de ensino
e aprendizagem, geralmente quando se encerra um ciclo.
178
2 PRECEPTOR E DEMAIS
SUJEITOS ENVOLVIDOS
NO PROCESSO AVALIATIVO
Este capítulo abordará aspectos relacionados aos diferentes sujeitos envolvidos na avaliação nas
residências, possibilitando identificar seu potencial e como integrá-los ao processo avaliativo. Além
disso, colocará em discussão a relação residente-preceptor na avaliação do processo de ensino e
aprendizagem, trazendo elementos importantes para promovê-la como uma oportunidade de cres-
cimento e qualificação de residentes, preceptores, demais sujeitos envolvidos e do próprio progra-
ma de residência.
Bom estudo!
179
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O contexto relatado pela preceptora Maria não é incomum. Sabemos que, ao preceptor, compete
acompanhar cotidianamente os residentes, transformando o dia a dia do trabalho em um cenário rico
em experiências de aprendizagem, problematizando a realidade através de um processo de ação e
reflexão para reconstrução das práticas em saúde (RIBEIRO; PRADO, 2014). Para desempenhar esse
papel, diferentes atributos são exigidos do preceptor, tais como:
ATRIBUTOS DO PRECEPTOR
● Trabalhar em equipe;
● Avaliar criticamente;
Perceba que a avaliação está inserida nesse contexto, sendo considerada uma ação educativa contí-
nua que deve promover o desenvolvimento dos atributos necessários para uma prática profissional
de excelência, demonstrando os resultados atingidos e as fragilidades e potencialidades existentes, e
permitindo o restabelecimento de objetivos e estratégias de aprendizagem (CHIRELLI; NASSIF, 2019;
EVANGELISTA; MENDONÇA; OLIVEIRA, 2020).
Veja no mapa mental a seguir os principais aspectos sobre competência do preceptor no processo de
avaliação com foco formativo.
180
181
Fontes: adaptado de Vianna, 1998; Wittaczik, 2007; Zeferino, Domingues e Amaral, 2007; Botti e Rego, 2008; Mitre et al., 2008;
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Borges et al., 2014; Semim, Souza e Corrêa, 2009; Ribeiro e Prado, 2014; Ceccim et al., 2018; Batista e Moraes, 2020.
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Veja abaixo os diferentes aspectos que devem ser considerados pelo preceptor ao realizar a avaliação
na residência.
Fontes: a autora.
182
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A ação avaliativa pode ocorrer em qualquer situação vivenciada pelo residente, constituin-
do-se ou não em um momento formal de avaliação no programa de residência. É, portanto,
importante que, a partir de critérios já conhecidos, o preceptor esteja atento para as opor-
tunidades de oferecer um retorno ao residente sobre seu desempenho.
Isso significa que a avaliação pode ser realizada no início de determinada etapa da resi-
dência, por exemplo, buscando identificar se o estudante possui pré-requisitos para deter-
minada ação; durante todo o período de sua realização, para verificar o desenvolvimento
dos atributos necessários à prática profissional, identificar problemas e definir caminhos
para sua correção; e, ao final de cada ano de residência, para verificar se o desempenho
esperado correspondeu ao critério ou padrão estabelecido para a formação em sua área de
atuação, caracterizando um momento de avaliação somativa, que busca sintetizar a apren-
dizagem do estudante (VIANNA, 1998; SANTOS, 2016).
Veja, a seguir, algumas características que tornam o feedback mais efetivo (WITTACZIK,
2007; ZEFERINO; DOMINGUES; AMARAL, 2007; BORGES et al., 2014; BATISTA; MORAES,
2020).
183
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Fonte: a autora.
Aproveite o artigo recomendado abaixo para saber um pouco mais sobre feedback e sua utiliza-
ção no ensino médico. O texto poderá contribuir para você desenvolver a habilidade de ofere-
cer feedback aos residentes, melhorando os resultados de sua aprendizagem.
SAIBA MAIS
Tais planos devem estabelecer objetivos que envolvam o residente em sua definição e que
sejam desafiadores a ele de modo que esteja comprometido em buscá-los, mas que também
sejam realistas e atingíveis (SILVA; LOPES, 2016). Assim, é possível que a avaliação se reverta em
um espaço para aprender, permitindo que o processo de ensino e aprendizagem se estabeleça
a partir das necessidades particulares de cada residente, que passa a ter maior consciência e
autonomia para monitorar o próprio progresso (SILVA; LOPES, 2016).
184
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O método de preceptoria em um minuto, proposto para ser utilizado após avaliação de um caso clí-
nico por um estudante ou residente que necessita de auxílio do preceptor para sua resolução, é uma
estratégia de ensino que pode ser utilizada na preceptoria (CHEMELLO; MANFRÓI; MACHADO, 2009).
Na avaliação, a utilização dessa estratégia possibilita a realização de avaliações conectadas às obser-
vações diárias ou cotidianas da prática dos residentes, apresentando eficácia na abordagem das difi-
culdades e correção dos erros verificados (AUTO; VASCONCELOS; PEIXOTO, 2021). Vamos conhecer a
seguir, as cinco etapas desse método?
185
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
186
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
187
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
188
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Você percebeu que, na figura anterior, o residente encontra-se no centro do processo formativo?
Essa configuração não se deu por acaso.
Para Santos (2002, p. 1), regulação da aprendizagem é “todo o ato intencional que,
agindo sobre os mecanismos de aprendizagem, contribua diretamente para a pro-
gressão e/ou redirecionamento dessa aprendizagem”.
Entre as possibilidades citadas por Maria, destaca-se a autoavaliação como o processo de excelência
da regulação, uma vez que possibilita que o residente tome consciência sobre seu próprio processo
de aprendizagem, com maior potencial de significância para o sujeito que aprende (SANTOS, 2002).
Sendo interno ao próprio residente, a autoavaliação permite a apropriação de suas necessidades de
aprendizagem mais facilmente (SANTOS, 2002).
Veja a seguir alguns atributos essenciais ao residente para o desenvolvimento de uma autoavaliação
direcionada para a melhoria da aprendizagem:
189
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Fonte: a autora.
Nesse processo, é importante que também desenvolva a capacidade de avaliar e fornecer feedback
adequado aos demais sujeitos envolvidos com o processo formativo nas residências. Constituindo-se
como uma ação dialogada, os momentos avaliativos vivenciados devem promover o desenvolvimento
de sua criticidade para que, além de refletir sobre seu próprio desempenho, possam avaliar o desem-
penho de preceptores, tutores (se houver), outros residentes e supervisão/coordenação do programa
(CHIRELLI; NASSIF, 2019).
190
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Voltando à avaliação do residente, vamos pensar na importância do feedback para sua formação. No
âmbito das residências, a avaliação não se limita ao processo institucional, mas se consolida nas re-
lações estabelecidas e na interação entre os diferentes sujeitos envolvidos, o que possibilita que o
residente obtenha retornos sobre seu desempenho oriundos de diversas fontes (GARCIA, 2001).
Dessa forma, integrar os sujeitos destacados na figura abaixo (ou outros que possam ser necessários
em sua realidade) deve contribuir para promover o desenvolvimento contínuo do residente.
Lembre-se!
Assim como na avaliação implantada pelo preceptor, os demais sujeitos envolvidos no processo for-
mativo do residente devem realizá-lo considerando os pressupostos de uma avaliação mediadora e
oferecendo feedback com respeito e oportunidade, em um ambiente acolhedor que permita destacar
os pontos positivos e aqueles que precisam ser qualificados. A comunicação deve ser interativa e
descritiva, ao invés de crítica e de sentido único, concentrando-se sobre o processo formativo e seus
resultados e não no indivíduo em si (SANTOS; KROEFF, 2018).
Da mesma forma, é necessário trazer propostas que contribuam para a superação das dificuldades
identificadas (SANTOS; KROEFF, 2018). Dessa forma, cria-se um ambiente de abertura para refletir
sobre os desempenhos observados e sobre como qualificá-los, com maior potencial de promover
mudanças na formação dos residentes (SANTOS; KROEFF, 2018).
191
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
192
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A situação nos mostra que, quando há empatia e quando a relação entre residente e preceptor
é positiva, há maior probabilidade de promover o aprendizado (BELOTTI; FARIA, 2010). Precep-
tores considerados mais efetivos foram aqueles que receberam bem os residentes novos, que
os colocaram em uma posição central em relação ao cuidado dos usuários e que criaram um
ambiente favorável e seguro para a prática de novas habilidades, demonstrando a valorização
de outras questões no exercício da preceptoria para além do domínio técnico da profissão
(SKARE, 2012).
193
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Tanto a objetividade quanto a subjetividade colocadas anteriormente por Maria se fazem necessárias
no processo de avaliação dos residentes. Ou seja, busca-se que as práticas avaliativas se estabeleçam
a partir de critérios claros e objetivos a respeito do desempenho esperado, mas, também, de relações
pautadas no respeito, na confiança, na horizontalidade, na afetividade, na cooperação e no fomento
à capacidade crítica e reflexiva dos sujeitos envolvidos (LIMA, 2005; CAVALCANTI NETO; AQUINO,
2009; RIBEIRO; PRADO, 2014).
Além disso, a afetividade é essencial para o desenvolvimento humano, considerada indissociável da
dimensão cognitiva do aprendizado (DONADON; LEITE, 2012). Apesar de nem sempre ser devida-
mente explorada, tem papel central nas interações sociais estabelecidas e é intrínseca à atividade
educacional e, especialmente, à prática avaliativa, comumente percebida como algo carregado de
negatividade, considerando-se experiências prévias que remetem à avaliação punitiva e classificatória
da aprendizagem.
Vale destacar que considerar outros elementos além da objetividade, incluindo a afetividade, no pro-
cesso avaliativo, não significa ser permissivo e negligenciar o que precisa ser melhorado, mas implica
em uma postura diferenciada em relação à avaliação, que busca permitir a identificação dos erros, sua
discussão e a construção de alternativas de melhoria de maneira colaborativa e empática.
Veja no quadro a seguir alguns elementos que dialogam com essa ideia de considerar a afetividade no
processo avaliativo nas residências.
Fontes: Luckesi, 2000; Cavalcanti Neto e Aquino, 2009; Semim, Souza e Corrêa, 2009;
Donadon e Leite, 2012; Conrad e Openo, 2019; Souza, 2021.
194
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Convém enfatizar que, inserido no processo avaliativo, o feedback para o residente deve ser honesto
e respeitoso. Um feedback mal realizado, ao invés de incentivar o residente a qualificar sua prática,
pode colocá-lo em um posicionamento defensivo e desinteressado (BORGES et al., 2014).
No texto abaixo, é destacada a importância do feedback formativo, especialmente no âmbito das residên-
cias em saúde, com enfoque nos principais entraves encontrados para sua realização na preceptoria, como
falta de preparo pedagógico e dificuldades de reconhecimento de seu papel. Conhecer essas dificuldades
e discuti-las pode auxiliar no processo de sua superação, qualificando a avaliação realizada.
LEITURA RECOMENDADA
É comum verificarmos dificuldade por parte dos residentes em avaliar e oferecer feedback aos demais
sujeitos envolvidos com o processo ensino e aprendizagem, especialmente aos preceptores diretamente
a ele vinculados. Isso pode ocorrer por diferentes motivos, seja por não compreender o papel de cada um
deles na residência, seja pelo receio em destacar os aspectos que devem ser melhorados por medo de
qualquer tipo de reação negativa ou represália por parte dos avaliados. Esse tipo de postura não qualifica
os programas de residência, pois, dessa forma, os aspectos pedagógicos do ensino que poderiam ser me-
lhorados não se tornam visíveis.
Problemas de relacionamento entre residentes e preceptores podem ser explicados, em parte, pelo uso
de métodos avaliativos tradicionais, voltados para a identificação de erros sem o devido suporte para a
melhoria, não favorecendo a cooperação e, ao contrário, incentivando a competitividade nos ambientes
de aprendizagem (LIMA, 2019). Conforme nos traz Sordi (2000, p. 58), “o que torna a avaliação uma prática
altamente desafiadora é sua paradoxal capacidade de gerar encantos e desencantos, dor e prazer, alegria
e tristeza, é sua força avassaladora tanto para construir como para destruir”.
Portanto, atenção! Esteja atento aos elementos que fazem da avaliação uma oportunidade de crescimen-
to e qualificação de residentes, preceptores, demais sujeitos envolvidos e do próprio programa de resi-
dência, ao contrário de utilizá-la como fonte de medo e poder no processo de ensino e aprendizagem.
Diálogo, mediação, postura empática, ambiente de segurança e confiança, avaliação como possibilidade
de aprendizado mútuo na residência: somente assim a avaliação pode ser transformada em oportunidade
de aprendizagem (BORGES et al., 2014).
195
3 COMO AVALIAR?
ATIVIDADE
196
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A partir do diálogo apresentado no diálogo anterior, pense: se você estivesse no lugar dos
preceptores, em qual ordem pensaria em alocar os elementos abaixo para redefinir o sistema
avaliativo do programa de residência?
● Concepção de avaliação que norteia o programa de residência
● Sujeitos envolvidos
● Desempenhos esperados e os critérios de avaliação
● Metodologia, ferramentas e instrumentos de avaliação
● Finalidade da avaliação
Feedback
Se você colocou os elementos nesta ordem, está correto!
1. Concepção de avaliação que norteia o programa de residência
2. Desempenhos esperados e os critérios de avaliação
3. Finalidade da avaliação
4. Sujeitos envolvidos
5. Metodologia, ferramentas e instrumentos de avaliação
A seguir, vamos aprofundar o estudo dos elementos necessários para definir o sistema de avaliação
do programa de residência. Veja abaixo:
● A depender da finalidade, pode ser realizada uma avaliação diagnóstica, formativa ou somativa
ou, de preferência, podem ser empregadas de maneira complementar. Na concepção avaliativa
dialógica, seria incoerente que a avaliação formativa não fosse realizada, uma vez que permite
acompanhar o residente ao longo do processo, analisando seu progresso e definindo estratégias
pedagógicas em tempo oportuno (FERNANDES et al., 2012).
● A definição dos sujeitos envolvidos deve considerar a importância de olhares múltiplos que
reúnem conhecimentos, experiências, percepções e sentimentos diversos e complementares,
o que auxilia na compreensão do desempenho do residente (LIMA, 2019). A autoavaliação tam-
bém pode ser utilizada para desenvolvimento da capacidade reflexiva do residente, de maneira
que desenvolva consciência a respeito de seu próprio processo e de suas necessidades de apren-
dizagem (SANTOS, 2002; WITTACZIK, 2007).
● Dessa forma, a implantação do sistema avaliativo deverá permitir definir e colocar em prática
estratégias pedagógicas adequadas para promover a aprendizagem dos residentes (HOF-
FMANN, 2005).
Ainda nessa temática, leia o texto indicado abaixo e conheça a experiência da implantação de um
sistema de avaliação em um Programa de Residência em Pediatria. Atente para as reflexões dos
autores a respeito das limitações encontradas. Sugerimos, ainda, que você utilize esse referencial
como suporte para refletir sobre o sistema avaliativo implantado no programa de residência a que
você está vinculado.
LEITURA RECOMENDADA
A reflexão trazida por Paula é muito pertinente. Como isso acontece em seu programa de residência?
Fonte: a autora.
AUTOAVALIAÇÃO
O que é autoavaliação?
“É um processo cognitivo complexo pelo qual um indivíduo (aprendiz, professor) faz um julgamento
voluntário e consciente por si mesmo e para si mesmo, com o objetivo de melhor conhecimento pes-
soal, da regulação de sua ação ou de suas condutas, do aperfeiçoamento da eficácia de suas ações, do
desenvolvimento cognitivo” (RÉGNIER, 2002, p. 5). É um meio de metacognição, pelo qual o estudan-
te toma consciência e reflete sobre seu próprio processo de aprendizagem.
Como aplicar?
O sujeito que se autoavalia precisa fazer uma análise crítica do próprio trabalho ou aprendizagem,
compreender suas dificuldades e avanços, comparar os resultados atingidos com os objetivos pre-
viamente definidos e identificar estratégias que possibilitem alcançar os desempenhos esperados
(GRILLO; FREITAS, 2010). Esse processo deve ocorrer de maneira permanente, de modo que a autoa-
valiação não se reduza a um momento ou a um instrumento, e, preferencialmente, associada a outras
estratégias avaliativas, como a avaliação 360º (GRILLO; FREITAS, 2010).
199
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
● utilizar uma abordagem positiva do erro, que passa a ser considerado algo inerente à aprendiza-
gem. No processo de autoavaliação, espera-se que o próprio residente possa identificar o erro e as
condições para corrigi-lo. Ao preceptor, cabe oferecer feedback oportuno, específico e descritivo
a respeito do erro, de preferência através de questionamentos, evitando sozinho identificá-lo e
corrigi-lo;
● realizar questionamentos e incentivar a capacidade do residente para se autoquestionar. Ao con-
trário de emitir juízos de valor que, muitas vezes, pouco contribuem para a aprendizagem, o pre-
ceptor deve utilizar perguntas que busquem favorecer o desenvolvimento da capacidade crítico-
-reflexiva do estudante (por exemplo, “o que levou você a tomar essa conduta?” ou “por que você
pensou dessa maneira?”);
● explicitar/negociar os critérios de avaliação, uma vez que a apropriação dos critérios é condição
indispensável para o desenvolvimento da autorregulação;
● utilizar recursos ou instrumentos de avaliação, como o portfólio reflexivo, onde o residente possa
registrar as reflexões sobre o que fez, o que aprendeu, como progrediu e quais suas necessidades
de formação, selecionando os aspectos mais significativos de sua aprendizagem do ponto de vista
cognitivo, atitudinal ou psicomotor;
● proporcionar momentos de reflexão conjunta com o residente, analisando seu processo de apren-
dizagem e repensando novos caminhos para superar as dificuldades.
Nos artigos recomendados, aprofunde seus conhecimentos sobre os conceitos teóricos que emba-
sam a autorregulação e fortalecem o papel do estudante como agente principal de sua aprendiza-
gem. Além disso, são apresentadas estratégias para desenvolvê-la, que podem contribuir para auxiliar
a promoção da autorregulação dos residentes em seu processo de aprendizagem.
LEITURA RECOMENDADA
A autorregulação da aprendizagem: principais conceitos
e modelos teóricos
Fonte: Ganda e Boruchovitch, 2018.
SAIBA MAIS
200
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Como aplicar?
As avaliações 90º, 180º e 360º diferem, principalmente, em relação aos responsáveis por sua reali-
zação (preceptor, preceptor e residente ou por diversos sujeitos), à diversidade de instrumentos e
aos mecanismos de feedback implantados. Ao utilizar a avaliação 360º, é necessário incluir todas as
pessoas que interagem com o residente, realizar feedbacks simultâneos e estruturados e utilizar ques-
tionários específicos com aspectos avaliativos relevantes, podendo ser adaptados considerando-se o
avaliador em questão (LOPES; VIGARANI; FARIA, 2007 apud MARTINS JÚNIOR, 2018).
Avaliação 360º
Esse tipo de avaliação é útil para verificar aspectos difíceis de quantificar e para mudar o compor-
tamento dos sujeitos avaliados, por permitir identificar pontos fortes e fracos e oportunidades de
melhoria tendo como base o feedback de todos os que interagem com o residente no processo for-
mativo (BASTOS et al., 2019; LIMA, 2019). Nesse sentido, a avaliação 360º é considerada uma das
ferramentas mais adequadas para avaliação de desempenho em currículos baseados em competência
(BASTOS et al., 2019).
Por outro lado, são destacadas como dificuldades em sua operacionalização a demora no processo,
201
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Conheça uma experiência de aplicação da avaliação 360° realizando a leitura do texto recomendado.
SAIBA MAIS
É a avaliação do residente por outros residentes, realizada com base em critérios previamente defini-
dos e compartilhados com os estudantes.
Como aplicar?
Considerando as limitações que podem ocorrer em sua aplicação, é recomendado:
b. definir com consciência quem serão os avaliadores (por exemplo, um residente do primeiro ano
poderá ter maior dificuldade em avaliar um residente do segundo ano, por estarem em momen-
tos diferentes no processo ensino e aprendizagem); e
A avaliação entre pares tem sido uma das estratégias de corregulação da aprendizagem mais aplica-
das atualmente, juntamente com a avaliação 90º (SOUZA; AMANTE, 2021).
Panadero et al. (2019 apud SOUZA; AMANTE, 2021, p. 100-1) colocam que o espaço de corregula-
ção pode ser influenciado por três categorias que atuam na internalização da aprendizagem pelo
avaliado:
b. clareza do feedback sobre a aprendizagem autorregulada (como por exemplo, dizer claramente
como se autorregular, especificando critérios e contextos da avaliação);
c. nível de interação (quanto mais intenso, mais evidente a construção de significado entre avalia-
dor e avaliado).
AVALIAÇÃO EM EQUIPES
Como aplicar?
Pode ser aplicada por meio de diferentes métodos que buscam avaliar o desempenho do residente no
trabalho em equipe, como a autoavaliação, a avaliação entre pares e uma avaliação realizada pelo me-
diador da atividade. Deve-se pactuar o peso de cada uma dessas estratégias para definição da nota,
conceito ou desempenho global observado (KRUG et al., 2016). A avaliação pode ser realizada tendo
como base testes individuais e testes e exercícios realizados em equipe, assim como a contribuição do
estudante no próprio trabalho da equipe (KRUG et al., 2016).
SAIBA MAIS
SIMULAÇÃO
O que é simulação?
É uma estratégia de ensino e aprendizagem que oportuniza ao residente aprender fazendo, consi-
derando o erro uma oportunidade de aprendizagem em um ambiente protegido (sem a presença
de pessoas reais em situação de cuidado) e permitindo que possa refletir sobre eles e identificar
suas próprias lacunas de aprendizagem (VARGA et al., 2009).
Como aplicar?
Na avaliação em ambiente simulado, deve-se assegurar que todos os residentes sejam avaliados
em condições semelhantes, com observação cuidadosa e utilização de instrumento de registro
adequado, como, por exemplo, um checklist (AUTO; VASCONCELOS; PEIXOTO, 2021). A definição
prévia dos critérios de referência para a avaliação é essencial, de maneira a tornar claros os desem-
penhos considerados satisfatórios (VARGA et al., 2009). A avaliação pode ser realizada através de
diversos instrumentos, como o Exame Clínico Estruturado e Objetivo (OSCE).
204
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
SAIBA MAIS
WBA
Como aplicar?
Os instrumentos elaborados são direcionados para ambientes reais de ação e podem ser divididos em
métodos baseados no desempenho observado na prática, como o mini-CEX e a observação direta de
procedimentos (direct observation of procedural skills - DOPS), e métodos baseados em documentos
e registros, a exemplo da discussão baseada em casos (CBD). Para assegurar a validade da avaliação,
é indicada a observação dos casos em várias oportunidades, assim como a ampliação do número de
observadores, incluindo, além dos preceptores, seus pares, outros membros da equipe de saúde e os
pacientes (ROMÃO et al., 2020).
Vamos pensar um pouco: quais características devem ter os instrumentos de avaliação utilizados para
medir as capacidades dos residentes?
Para que possam nos permitir identificar os dados que indicarão a proximidade do desempenho do
residente com o alcance dos objetivos de aprendizagem, diferentes características (como validade,
objetividade e oportunidade, entre outros) precisam ser consideradas na elaboração ou na identifi-
cação dos instrumentos de avaliação a serem aplicados (ROMÃO, 1998; MARTINS et al., 2015). Veja
no quadro a seguir essas características e como elas se relacionam com os instrumentos de avaliação.
Aceitabilidade - O instrumento deve ser acolhido pelos avaliadores e por aqueles que serão avaliados.
Validade - O instrumento deve atender à finalidade proposta (alcançar os resultados esperados) e ser co-
erente com as capacidades (conhecimentos, habilidades e atitudes) expressas nos objetivos educacionais
definidos.
Utilidade - Para ser útil, deve atender à necessidade para a qual foi criado, despendendo de tempo e recur-
sos materiais e humanos em proporções adequadas.
Pertinência - Diz respeito a permitir avaliar o desempenho dos residentes em relação exatamente ao que
se pretende identificar considerando-se os objetivos pedagógicos, sem extrapolar para a verificação de
atitudes, habilidades ou conhecimentos que não estejam envolvidos com tais objetivos.
Oportunidade - Tem a ver com as circunstâncias de aplicação dos instrumentos, devendo ser realizada de
modo e em tempo adequado.
Impacto - Os resultados devem ser utilizados para aprimoramento do processo de ensino e aprendizagem.
Ao conhecer a estrutura da pirâmide de Miller, podemos verificar que os dois níveis de sua base en-
volvem conhecimentos cognitivos, enquanto os níveis superiores estão relacionados com habilidades
técnicas e atitudinais, respectivamente (MARTINS et al., 2015). Tomando-a como base e considerando
206
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para isso, considere que, à medida que se progride ao longo de seus níveis, são exigidos diferentes
instrumentos de avaliação que permitam medir e avaliar tais capacidades ou atributos, em um nível
de complexidade crescente (MARTINS et al., 2015). Por exemplo, no nível do “saber”, podem ser utili-
zados testes de múltipla escolha ou descritivos; no “saber como”, casos clínicos ou resolução de pro-
blemas poderiam ser aplicados; no nível de “demonstrar”, OSCE ou paciente simulado poderiam ser
instrumentos aplicados; e, por fim, em “fazer”, coloca-se a possibilidade de uso do mini-CEX, portfólio
e avaliação 360º, conforme pode ser verificado na figura acima (MARTINS et al., 2015).
Quais desses níveis você valoriza nos momentos de avaliação com os resi-
dentes? Para mim, sendo a residência uma formação em serviço, os momen-
tos avaliativos devem estar direcionados aos aspectos cognitivos, mas não
limitados apenas a eles. Ou seja, sempre procuro articular a avaliação dos
residentes aos aspectos relacionados às habilidades clínicas e psicomotoras
e às atitudes necessárias para a produção do cuidado. Mas vejo que isso não
é uma tarefa simples. Nem sempre nossos instrumentos de avaliação conse-
guem dar conta de toda a complexidade que envolve o trabalho na saúde!
É difícil que apenas um instrumento permita avaliar todos os aspectos envolvidos na formação dos residen-
tes e em relação à sua prática profissional. Assim, procurando reduzir as fragilidades que encontramos em
cada instrumento quando utilizado isoladamente e permitir a identificação de informações mais completas
a respeito do desempenho do residente e sobre a própria prática pedagógica na residência, recomenda-se
a utilização de múltiplos instrumentos (SILVA, 2003; ROCHA, 2018). A existência de diversidade de instru-
mentos possibilita que tenhamos diferentes informações, o que contribui para a compreensão do processo
de ensino e aprendizagem com maior amplitude e permite identificar estratégias mais adequadas para lidar
com as necessidades pedagógicas identificadas (SILVA, 2003).
207
3.3.1 Mapa conceitual
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
O mapa conceitual demonstra uma representação gráfica de conhecimentos e pode ser utilizado como instrumento avaliativo. Conheça um pouco mais sobre esse
instrumento no esquema abaixo.
208
Fontes: adaptado de Correia, Silva e Romano Júnior, 2010; Gregório e Carvalho, 2015.
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Saiba um pouco mais sobre o mapa conceitual, sua relação com a aprendizagem significativa e sua
utilização como instrumento avaliativo ao ler o artigo recomendado.
SAIBA MAIS
As questões de múltipla escolha podem ser uma alternativa para avaliar o do-
mínio cognitivo dos residentes, sendo mais apropriado utilizarmos situações
problema para elaborá-las e termos respostas que possibilitem ao residente
maior reflexão para identificação da mais completa, da que melhor responde à
questão. Veja um exemplo.
209
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
ATIVIDADE
Questões de múltipla escolha também podem ser utilizadas em provas escritas, possibilitando
que o estudante escolha uma resposta correta. Nas residências, qual a melhor forma de elabo-
rá-las buscando alcançar habilidades cognitivas mais complexas?
A. Disponibilizar quatro alternativas plausíveis e adequadas ao comando, elaboradas com
indicações positivas e de maneira que sejam dependentes entre si.
B. Abranger aspectos gerais sobre um tema específico, permitindo mais generalizações e cone-
xões cognitivas sobre um determinado tema a partir do conhecimento prévio do estudante.
C. Construir alternativas com extensões diferentes e evitar dar pistas sobre a resposta corre-
ta, promovendo a ampliação da capacidade de análise para resolução da questão.
D. Elaborar questões a partir de situações-problema, de maneira que os itens sejam contex-
tualizados, o que exige compreensão, interpretação e associação de informações.
Feedback:
A. Incorreta! Recomenda-se disponibilizar quatro alternativas plausíveis e adequadas ao co-
mando, que devem ser independentes entre si e não se sobrepor, evitando-se também
oferecer pistas da resposta correta em sua redação.
B. Incorreta! Recomenda-se evitar tópicos muito específicos e muito gerais na elaboração dos
itens, buscando-se basear as questões em um conteúdo importante e evitando tópicos triviais.
210
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
SALTO TRIPLO
211
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Esse instrumento tem uma grande potência formativa e parte de seu sucesso pode estar centrada
na escolha da situação-problema (ou caso) pelo preceptor e na qualidade da devolutiva realizada aos
residentes, identificando-se pontos fortes e fragilidades e propondo-se alternativas para melhoria do
desempenho (MENDES; GONTIJO, 2015).
Como avaliação somativa, é válido colocar que podem ocorrer limitações em sua utilização, tais como
falta de representatividade do caso a ser avaliado, possibilidade de subjetividades relacionados ao
mediador e tempo dispendido para sua realização (MENDES; GONTIJO, 2015).
Consulte o artigo recomendado e conheça mais sobre essa ferramenta avaliativa, que tem caráter
formativo e pode contribuir para a formação dos estudantes na área da saúde.
SAIBA MAIS
É importante destacar a diferença entre o portfólio reflexivo e o diário de campo, por serem,
muitas vezes, confundidos (FORTE et al., 2012). O portfólio tem sua origem na educação (en-
quanto o diário de campo se originou na antropologia) e permite o resgate da trajetória de
aprendizagem nos cenários de prática pelo estudante, indo além do diário, normalmente mais
restrito à descrição de fatos (FORTE et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2013). Portanto, a maior di-
ferença entre esses instrumentos está em seu conteúdo: enquanto o diário tem como foco a
observação detalhada da prática, o portfólio se direciona mais a registrar as etapas de um pro-
cesso formativo (OLIVEIRA et al., 2013). Conheça mais sobre portfólio a seguir!
Leia o artigo recomendado para saber mais sobre o diário de campo e conhecer uma experiência de
utilização desse instrumento, que forneceu subsídios para avaliação dos residentes como recurso à
reformulação de sua prática.
SAIBA MAIS
213
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Leia o artigo disponibilizado abaixo. Neste artigo, você conhecerá mais sobre as potências e os desa-
fios da utilização do portfólio reflexivo na formação de profissionais de saúde.
LEITURA RECOMENDADA
Ao selecionar o que incluir em seu portfólio, o estudante precisa refletir sobre o que fez, o que apren-
deu, como progrediu e quais suas necessidades para superar as lacunas identificadas (SANTOS, 2002;
WITTACZIK, 2007).
Dessa forma, o portfólio vai além da simples documentação, descrição ou registro de atividades,
exigindo do estudante que, de fato, pratique a autoavaliação e tenha uma postura crítico-reflexiva a
respeito de sua aprendizagem (WITTACZIK, 2007). O esperado é que alcance o nível metacrítico, ques-
tionando-se quanto aos seus desempenhos e tornando-se sujeito de sua própria reflexão, ao passo
que, ao agir, refletir e narrar os fatos e o seu papel no discurso dos mesmos, elabora e (re)elabora o
seu conhecimento prévio (SILVA; SÁ-CHAVES, 2008).
214
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Você pode acompanhar o residente na construção do portfólio, sob a ótica de que cada por-
tfólio será único e influenciado por seus conhecimentos e experiências prévias (SANTOS, 2002;
WITTACZIK, 2007). Assim, é possível manter sua função formativa, exigindo do preceptor também
um feedback individualizado, buscando avaliar o que foi considerado mais significativo para cada um
em seu processo de aprendizagem, assim como verificar a capacidade de autocrítica e reflexiva em
relação ao processo vivenciado (SILVA; SÁ-CHAVES, 2008). Para isso, recomenda-se que, através de
questionamentos que despertem o pensar reflexivo do estudante, o preceptor possa estimulá-lo con-
tinuamente a refletir e se implicar na busca pelas informações necessárias à construção do conheci-
mento (SILVA; SÁ-CHAVES, 2008).
215
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
3.3.6 OSCE
O OSCE permite a avaliação de aspectos práticos por meio de situações simuladas.
216
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
É importante ressaltar que aplicar o OSCE envolve disponibilidade de tempo de planejamento e o trei-
namento de avaliadores e atores envolvidos na simulação. Por isso, por mais que seja uma excelente
ferramenta de avaliação de residentes em um ambiente protegido, em muitos contextos não será
uma escolha possível.
SAIBA MAIS
217
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
218
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Você conseguiu perceber os passos recomendados para a avaliação baseada em casos, a partir
da experiência avaliativa da residente Camila?
Ao iniciar a discussão, deve-se garantir que o residente tenha em mente o caso em questão e
que seus registros estejam presentes a todo momento.
Sugere-se que o preceptor selecione três perguntas para cada caso, que possam contemplar
diferentes objetivos de aprendizagem ou desempenhos esperados, colocados claramente ao
residente desde o início da realização da CBD.
Após a discussão, é necessário pactuar novos rumos para a aprendizagem, definindo um plano
de melhoria com o residente.
Quanto às potências e dificuldades no uso da discussão baseada em casos para a avaliação das
aprendizagens, temos:
● potências - permite explorar, além dos aspectos técnicos da prática clínica, conceitos
como empatia e comunicação, difíceis de serem abordados em outros formatos de ensi-
no e avaliação.
● dificuldades - restrições de tempo e treinamento inadequado do mediador para conduzir
a atividade e oferecer feedback construtivo foram identificadas como limitações de sua
aplicação.
Fontes: adaptado de Brown, Holsgrove e Teeluckdharry, 2011; Mohanaruban, Flanders e Ress, 2017.
219
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
A DOPS é uma variação do mini-CEX e faz parte das avaliações baseadas no local de trabalho (BINDAL
et al., 2013; ROMÃO et al., 2020). Esse tipo de avaliação é proposto para ser integrado à rotina do
trabalho, como no cenário abaixo, buscando facilitar sua implantação (BINDAL et al., 2013).
220
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Ao final da observação, deve ser realizado feedback destacando-se os pontos positivos do desempe-
nho verificado e aqueles que necessitam de melhoria, propondo estratégias para recuperação das
habilidades consideradas insatisfatórias, o que leva em torno de 5 minutos (UNIVERSIDADE FEDERAL
DE UBERLÂNDIA, 2015; ROMÃO et al., 2020).
As EPAs correspondem às atividades ou tarefas que devem ser executadas pelo residente para que
ele esteja autorizado à prática não supervisionada ou com determinado nível de supervisão (ROMÃO,
2021).
A definição das EPAs relativas a cada estágio de formação varia de acordo com cada especialidade e
auxilia a compreensão a respeito das expectativas sobre o desempenho e o acompanhamento do des-
locamento do residente pelo preceptor (SANTOS, 2011). De modo geral, “as EPAs incluem habilidades
de consulta clínica, capacidade de executar um restrito número de procedimentos clínicos básicos,
capacidade de comunicação incluindo orientação de familiares e de pacientes, transição do cuidado
e discussão de caso, trabalho colaborativo com equipe multiprofissional e capacidade para buscar
informações qualificadas” (NEUMANN; GERBASE, 2019, p. 23).
Conheça EPAs definidas para a área de ginecologia e obstetrícia acessando o artigo abaixo.
SAIBA MAIS
221
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Conheça nesse esquema alguns conceitos e estratégias que se aplicam no uso das EPAs como instru-
mento de avaliação dos estudantes.
222
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
3.3.10 Mini-CEX/Miniex
O mini-CEX é outro instrumento que tem sido utilizado para avaliação de habilidades clínicas.
Para assegurar a validade e a confiabilidade da utilização do mini-CEX, assim como para acompanhar
o deslocamento do residente, recomenda-se que seja aplicado, em média, seis vezes a cada ano de
treinamento do residente por diferentes avaliadores, em diferentes tipos de consulta (MENDES; VI-
VEIROS, 2018; ROMÃO et al., 2020).
O preceptor (ou outro avaliador, como residentes em fase final de formação, desde que devidamente
habilitados) deve observar o residente durante o atendimento realizado, verificando habilidades clíni-
cas, psicomotoras, a interação com o paciente o manejo da informação, a capacidade de julgamento,
sínteses e decisão e preservação de atitudes éticas (MEGALE; GONTIJO; MOTTA, 2009; ROCHA, 2018;
ROMÃO et al., 2020).
Em uma ficha padronizada, o avaliador registra as suas anotações sobre o desempenho do residente,
oferecendo feedback logo após a consulta, de maneira a indicar onde foi considerado satisfatório e
em que precisa melhorar (MEGALE; GONTIJO; MOTTA, 2009).
No momento do feedback, sugere-se que, inicialmente, o residente coloque como se sentiu no aten-
dimento realizado e qual sua avaliação a respeito de seu próprio desempenho (MENDES; VIVEIROS,
2018). É importante registrar, ainda, o grau de satisfação com a aplicação do instrumento no formu-
lário (MENDES & VIVEIROS, 2018).
Em seguida, o avaliador coloca as potencialidades e dificuldades observadas, pactuando possibili-
dades para o aperfeiçoamento a ser verificado nas próximas aplicações do instrumento (MENDES;
VIVEIROS, 2018).
Veja a seguir uma versão do instrumento mini-CEX.
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▲VOLTAR AO SUMÁRIO
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Fonte: adaptado de Norcini, 2005; Universidade de Coimbra, 2011; Daudt, Pinto e Lopes, 2019.
225
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Vantagens do mini-CEX
A aplicação do instrumento pode ser realizada várias vezes para o mesmo residente.
Desafios do mini-CEX
Necessidade de que sejam realizadas várias avaliações, a fim de que o resultado seja confiável,
o que pode se tornar difícil diante da alta demanda por atendimentos nos serviços de saúde.
Fonte: a autora.
226
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Consulte o artigo abaixo e conheça uma experiência avaliativa utilizando o mini-CEX (no artigo chama-
do de Miniex) na educação médica.
LEITURA RECOMENDADA
O uso do Miniex como ferramenta de feedback continuado para
residente de medicina de família e comunidade em estágio na
Atenção Primária à Saúde
Fonte: Mendes e Viveiros, 2018.
227
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
É necessário também articular o que foi aprendido, ou seja, explicar ou usar de alguma forma aquilo
que está sendo avaliado (TAYLOR; HAMDY, 2013). Nesse sentido, os avaliadores (preceptores, outros
residentes e demais sujeitos envolvidos) devem estar aptos a apontar os pontos fortes e fracos no
desempenho observado e a fazer mais perguntas, até que se obtenha uma compreensão adequada a
ponto de se construir caminhos para promover a aprendizagem do residente (TAYLOR; HAMDY, 2013).
Por exemplo, em uma discussão de casos em uma Unidade Básica de Saúde ou à beira do leito, ao
ser identificado algo a ser melhorado, é possível realizar um feedback desafiando o residente, sem
oferecer a resposta correta ou dar um retorno depreciativo sobre seu desempenho (TAYLOR; HAM-
DY, 2013). Perguntas podem ser realizadas pelo preceptor e por outros estudantes ou membros da
equipe de saúde até que os esclarecimentos sejam realizados, possibilitando uma construção compar-
tilhada do conhecimento e combinando feedback com discussão (TAYLOR; HAMDY, 2013).
O debriefing é outro exemplo nesse sentido. Considerado uma modalidade particular de feedback,
“é definido (...) como o conhecimento adquirido por meio da reflexão sobre uma experiência de simu-
lação” (KLIPPEL et al., 2020, p. 2). Essa prática se fundamenta, portanto, na discussão sobre o desem-
penho de um indivíduo ou grupo após a simulação de determinada prática, possibilitando o aprendi-
zado gerado pela reflexão individual ou no próprio grupo (BORGES et al., 2014). Nesse contexto, os
estudantes assumem uma postura participativa (estando completamente envolvidos com a avaliação
crítica sobre o próprio aprendizado) e o facilitador se coloca menos como professor e mais como me-
diador do trabalho em equipe, levando em consideração os objetivos pedagógicos da atividade e os
desempenhos esperados (BORGES et al., 2014).
228
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Direcionado para a melhoria da aprendizagem, o feedback deve ampliar a participação dos estudantes
nas atividades, melhorar habilidades de comunicação e aumentar a motivação e a autonomia para o
aprendizado (SILVA; LOPES, 2016; ROCHA, 2018). Dessa forma, é possível minimizar posturas defen-
sivas e desinteresse em relação ao retorno a respeito do desempenho observado, potencializando a
oportunidade de auxiliar o residente a ajustar sua aprendizagem (SILVA; LOPES, 2016; ROCHA, 2018).
229
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Para isso, além de envolver os estudantes na busca pelo alcance dos objetivos de aprendizagem, o
preceptor deve demonstrar habilidade para avaliá-los em determinado cenário de prática, além de
empatia e conhecimento, atitude e postura para ensinar (SILVA; LOPES, 2016; ROCHA, 2018).
Situação 1
Em seu portfólio, Pedro, residente de segundo ano de medicina de famí-
Pedro lia e comunidade, tem refletido sobre as dificuldades que identifica em seu
desempenho na realização de procedimentos ambulatoriais, uma lacuna
de aprendizagem importante considerando os objetivos de formação na
residência. Sua percepção é que, apesar de seu preceptor se esforçar para
lhe oferecer feedbacks oportunos, os instrumentos de avaliação utilizados
não têm sido suficientes para trabalhar essa necessidade de aprendizagem.
O que você, como preceptor, poderia propor a Pedro como estratégia avalia-
tiva integrada à rotina de trabalho e de fácil operacionalização?
230
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Observações da situação 1
Como preceptor, você poderia sugerir a Pedro a realização da DOPS, cujo objetivo é avaliar as
habilidades procedimentais do residente, em ações envolvendo pacientes reais em um único en-
contro, oferecendo feedback de alto valor pedagógico. Para isso, antes da avaliação, devem ser
estabelecidos os objetivos de aprendizagem e o desempenho esperado. Em seguida, o preceptor
deve observar diretamente o residente Pedro realizando um procedimento e avaliar as habilidades
relacionadas. O desempenho do residente é avaliado em uma escala de 6 pontos: 1 e 2 são consi-
derados insatisfatórios, 3 informa desempenho limítrofe, 4 atende às expectativas para o desem-
penho esperado e 5 e 6 estão acima do nível esperado (superior). Ao final da observação, deve ser
realizado feedback destacando-se os pontos positivos do desempenho verificado e aqueles que
necessitam de melhoria, pactuando-se estratégias para recuperação das habilidades consideradas
insatisfatórias. A validade e a confiabilidade da avaliação pela DOPS é, geralmente, obtida realizan-
do-se a avaliação do residente de quatro a oito vezes no ano, preferencialmente sendo observado
por avaliadores diferentes e treinados para sua realização.
Situação 2
Nesse mês, está prevista a avaliação atitudinal dos residentes em um pro-
Camila grama de residência. A avaliação entre pares é uma das estratégias que
será utilizada. Laila, residente de terceiro ano, avaliou Camila, que está no
primeiro ano da residência, e destacou os seguintes pontos em relação
ao desempenho de sua colega: a) contribuição importante na implanta-
ção do grupo de reabilitação para pessoas com AVC. Mesmo sendo a pri-
meira vez em que organizou um grupo, demonstrou pró-atividade e com-
prometimento com a equipe, cumprindo os pactos e entregando os pro-
dutos combinados no prazo. Isso contribuiu para que a equipe conseguisse colocar o grupo
em funcionamento no período determinado; b) dificuldade de relacionamento com a equi-
pe, com pouca tolerância às ideias diferentes das suas e desrespeito às falas dos colegas,
o que causou desmotivação para outros residentes se manterem no projeto. Laila está apreen-
siva em como dar o feedback à Camila. O que você recomendaria a ela, nesse caso?
Observações da situação 2
Laila poderia iniciar o feedback questionando Camila como avalia seu desempenho em relação
aos itens avaliados, relembrando os critérios utilizados na avaliação. Em seguida, poderia des-
tacar os aspectos positivos observados e as diferenças entre o resultado obtido e o desejado,
embasando sua avaliação em fatos observados no desempenho de Camila e questionando-a
sobre por que tomou uma ou outra conduta em sua prática. Em seguida, poderia questionar a
Camila sobre o que pensa que poderia fazer diferente e propor à colega identificar, em conjun-
to, novos caminhos para alcançar o desempenho esperado.
231
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Situação 3
Carlos identificou que a residente Antônia vem apresentando dificuldades
Antônia para se comunicar adequadamente com os usuários do serviço de saúde,
que comumente referem não compreender suas orientações. Por isso,
agendou um horário de discussão para lhe fornecer esse feedback em es-
pecífico, destacando os elementos que precisam ser melhorados e os ca-
minhos para isso. Antônia, entretanto, foi resistente ao retorno e não se
identificou com o desempenho trazido por seu preceptor. O que Carlos
poderia fazer para tentar reduzir a resistência da residente em relação ao
feedback e ajudá-la a desenvolver a capacidade de reflexão e autocrítica?
Observações da situação 3
Situação 4
Ao longo do acompanhamento do residente Bruno, o preceptor Mateus tem
Bruno identificado sua dificuldade em atender pessoas em sofrimento mental,
especialmente em situações mais graves, como no caso de ideação suicida.
Por isso, já utilizou diferentes estratégias para auxiliar o residente a evo-
luir em seu processo de aprendizagem, tendo identificado que existe uma
lacuna de conhecimento cognitivo importante sobre a questão. Dessa for-
ma, Mateus propôs a utilização do ________________, um instrumento ava-
liativo que também pode ser utilizado como um método de ensino e que
permite medir o desenvolvimento cognitivo e as habilidades clínicas de
resolução de problemas, muito pertinente para a necessidade pedagógica
identificada. Qual o nome do instrumento proposto por Mateus e como ele
pode implantá-lo?
232
▲VOLTAR AO SUMÁRIO
Observações da situação 4
Mateus está propondo a utilização do salto triplo, que pode ser implantado em três momentos:
1) ativação de conhecimentos prévios e identificação de lacunas de aprendizagem – após apre-
sentação de um caso clínico (real ou fictício) pelo preceptor, o residente deve avaliá-lo, definindo
os componentes do problema, formular hipóteses e elaborar três questões relevantes para sua
solução; 2) estudo individual autodirigido – após escolher uma das questões elaboradas anterior-
mente, justificando-a, em um tempo previamente estabelecido (normalmente uma hora), o resi-
dente deve buscar sua resposta em fontes que considerar mais adequadas. Assim, pode treinar a
capacidade de resolver problemas, buscando os melhores caminhos; 3) discussão do problema a
partir dos novos conhecimentos – o residente deve apresentar oralmente seus achados e redis-
cutir o problema a partir dos novos conhecimentos adquiridos em um tempo estimado de 5 a 10
minutos, demonstrando capacidade de síntese das informações obtidas.
Ainda que novas estratégias avaliativas venham surgindo, é de conhecimento dos preceptores que reali-
zar a avaliação no sentido do apresentado neste texto não tem sido uma tarefa simples nas residências.
É preciso tornar a avaliação uma atividade inerente ao processo educacional e, por isso, contínua e
sistematizada; reconhecê-la como uma das atividades educacionais mais expressivas do ponto de vista
da mobilização dos aprendizes e, por isso, estratégica; ampliá-la pela análise integradora dos atributos
pessoais em relação aos resultados obtidos e, por isso, orientada à avaliação da prática profissional.
Finalmente, assegurar a coerência entre as avaliações de processo (formativas) e as avaliações que de-
finem a progressão dos estudantes (somativas) e dessas duas com o perfil profissional desejado e os
princípios filosóficos, pedagógicos e ideológicos do programa (LIMA, 2004 apud LIMA, 2005, p. 375-6).
Considerando essas e as demais estratégias descritas ao longo deste texto, esperamos que todo o pre-
ceptor internalize a avaliação como prática pedagógica indispensável no processo de preceptoria.
Por isso, conheça o residente e o tenha como parceiro no processo formativo, aprenda com ele, identi-
fique as suas potencialidades e dificuldades e estabeleça estratégias pedagógicas que contribuam para
o deslocamento no processo formativo. Somente assim a avaliação terá sentido como estratégia de
aprendizagem.
Buscando superar os limites identificados, propõe-se uma ressignificação da avaliação nas residências,
colocando-a como uma ação estruturante para qualificar a formação em conformidade com a constru-
ção de um cuidado de mais qualidade no SUS.
233
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CRÉDITOS
Responsável Técnica
Carmen Vera Giacobbo Daudt
Líder do Projeto
Carmen Vera Giacobbo Daudt
Conteudista
Hebe Janayna Mota Duarte Beserra
Scheila Mai
Thaís Titon de Souza
Apoio Administrativo
Emanuele Mognon
Apoio Pedagógico
Juliana da Silva Vieira
DIAGRAMAÇÃO
NEAD
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