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da terapia
cognitivo-comportamental
para terapeutas de
crianças e adolescentes
G943 Guia prático da terapia cognitivo-comportamental para
terapeutas de crianças e adolescentes / organização de
Juliana Braga Gomes. Autores. — Novo Hamburgo :
Sinopsys Editora, 2023.
768 p. ; 23 cm.
ISBN 978-65-5571-116-5
CDD 615.851
GUIA PRÁTICO
da terapia
cognitivo-comportamental
para terapeutas de
crianças e adolescentes
2023
© Sinopsys Editora e Sistemas Eireli, 2023.
Boa leitura!
Dra. Juliana Braga Gomes
SUMÁRIO
4 Conceitualização de caso..............................................................67
Liseane Carraro Lyszkowski
17 Tiques e Tourette.......................................................................247
Cristiane Flôres Bortoncello e Ygor Arzeno Ferrão
18 Transtornos psicóticos................................................................261
Bruno Mendonça Coêlho e Marcelo da Rocha Carvalho
19 Transtorno bipolar.....................................................................279
Bruno Mendonça Coêlho e Marcelo da Rocha Carvalho
20 Transtorno depressivo................................................................295
Letícia Saldanha de Lima e Paula Cassel
21 Ansiedade de separação..............................................................315
Vanina Cartaxo e Wandersonia Medeiros
22 Fobia específica..........................................................................323
Malu Joyce de A. Macedo, Mariane Bagatin Bermudez e Carolina Blaya Dreher
26 Transtorno obsessivo-compulsivo...............................................373
Juliana Braga Gomes
32 Transtornos da eliminação.........................................................469
Maria Augusta Mansur
34 Transtornos disruptivos..............................................................507
Janaína Thais Barbosa Pacheco
43 Bullying......................................................................................607
Carolina Lisboa, Cristina Lessa Horta e Déborah Brandão
AVALIAÇÃO E
TRATAMENTO
1
TCC PARA CRIANÇAS
E ADOLESCENTES
Juliana Braga Gomes, Maria Augusta Mansur, Juliana Potter
e Cristiane Flôres Bortoncello
1. INTRODUÇÃO
A infância e a adolescência são fases caracterizadas por mudanças signifi-
cativas nas habilidades físicas, sociais, cognitivas, comportamentais e afeti-
vas. Falhas no desenvolvimento dessas habilidades e competências podem
acarretar problemas emocionais e comportamentais no futuro (Reinecke
et al., 2009). Os problemas de saúde mental afetam entre 10 e 20% das
crianças e adolescentes do mundo, e a intervenção precoce poderia evitar a
continuidade desses problemas na fase adulta (Bunge et al., 2015). Portan-
to, crianças com demanda para atendimento psicológico e/ou psiquiátrico
que iniciam um tratamento precocemente têm um acompanhamento que
pode prevenir transtornos psiquiátricos graves na vida adulta, uma vez que,
não havendo uma intervenção precoce eficaz, as taxas de psicopatologia
aumentam com a idade (Carvalho & Souza, 2014).
Nas últimas décadas, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem
demonstrado consistente eficácia no tratamento de um escopo cada vez
mais amplo de transtornos infantis (Bakos & Friedberg, 2017). Um dos
pressupostos fundamentais da TCC consiste na interação entre pensamen-
to, emoção e comportamento: multideterminados por aspectos biológi-
cos, genéticos, interpessoais e ambientais, interagem contribuindo para o
desenvolvimento patológico, não havendo assim uma variável única que
determine a psicopatologia na infância (Bunge et al., 2012).
De acordo com Friedberg e McClure (2019), os sintomas ocorrem em
um contexto interpessoal/ambiental e avaliar as questões do contexto sis-
têmico, interpessoal e cultural é fundamental no atendimento de crianças
e adolescentes. Segundo esses autores, a maneira como os pacientes enten-
34 TCC para crianças e adolescentes
dem suas experiências molda seu funcionamento emocional; por isso, sua
percepção é o foco principal do tratamento.
A TCC atual tende a uma abordagem mais modular e transdiagnósti-
ca, que vai além dos manuais específicos de cada psicopatologia (Friedberg
et al., 2014). A abordagem modular seleciona técnicas e procedimentos
baseados em evidências de diferentes manuais de tratamento e agrupa-os
em módulos (Chorpita et al., 2005; Friedberg et al., 2014), possibilitando
que os profissionais escolham intervenções de acordo com as características
e problemas de cada paciente. Dessa forma, o profissional pode realizar
as intervenções conforme a idade, o nível de desenvolvimento, a gravi-
dade dos sintomas, as demandas específicas e os interesses do paciente.
Os módulos básicos são: psicoeducação, automonitoramento e avaliação,
intervenções comportamentais, reestruturação cognitiva, análise racional e
aquisição de performance/exposição (Friedberg et al., 2014). Ainda que os
módulos sejam os mesmos para todos os pacientes e problemas, os proce-
dimentos, práticas e métodos presentes em cada módulo variam conforme
o caso, gerando uma abordagem de tratamento extremamente individuali-
zada (Bakos & Friedberg, 2017).
Diversos estudos controlados e randomizados (ECRs) comprovaram a
eficácia e a efetividade da TCC em relação a outras abordagens psicoterá-
picas para crianças e adolescentes (Stallard, 2007). A TCC para essa faixa
etária necessita de algumas adaptações em relação à oferecida aos adultos,
mas de maneira geral ambas têm a mesma estrutura e as mesmas caracte-
rísticas. Ela é uma abordagem ativa, estruturada, diretiva, orientada para
o problema, colaborativa e estratégica que tem como base a formulação
cognitivo-comportamental de fatores mantenedores dos problemas do pa-
ciente (Reinecke et al., 2009).
Este capítulo aborda as particularidades da TCC no atendimento de
crianças e adolescentes.
2. AVALIAÇÃO
A avaliação compreende sessões com o paciente e seus responsáveis. As
entrevistas iniciais fornecem informações sobre o paciente, o contexto em
Guia prático da terapia cognitivo-comportamental para terapeutas de crianças e adolescentes 35
3. TRATAMENTO
3.1. Características da psicoterapia
Um ponto importante a ressaltar é que, no caso da terapia com crianças
e adolescentes, ao contrário da terapia com adultos, a decisão de iniciar o
atendimento geralmente é tomada pelos responsáveis dos pacientes, pois
muitas vezes seus sintomas impactam algum sistema em que estão inseri-
dos, como família ou escola (Friedberg & McClure, 2019). Essa questão
reforça a importância da aliança terapêutica, pois a aderência da criança ou
adolescente ao que for proposto será fundamental para o bom andamento
da terapia. É importante que o paciente se sinta ouvido e valorizado no
processo terapêutico e participe da escolha dos objetivos do tratamento.
No que diz respeito aos pais, é importante observar as suas expectati-
vas quanto aos comportamentos dos filhos e aos resultados do tratamento.
Em muitos casos, pode ser necessário o encaminhamento a outros tipos de
acompanhamento, como terapia conjugal, terapia familiar e treinamento
de pais.
Guia prático da terapia cognitivo-comportamental para terapeutas de crianças e adolescentes 37
Quanto menor for a criança, mais frequente tende a ser a presença dos
pais no tratamento; conforme a idade avança, a participação dos pais tende
a diminuir. Contudo, a frequência dos pais será determinada de acordo
com os prejuízos, as comorbidades, a idade e o nível de desenvolvimento
do paciente (Albano & Kendall, 2002). Os pais podem ter consultas se-
manais, quinzenais ou mensais com o terapeuta — a frequência deve ser
ajustada conforme a demanda. Além disso, pode-se solicitar que os pais
participem das consultas dos pacientes nos minutos iniciais e/ou finais da
sessão.
A participação e a aderência dos pais ao tratamento dos filhos são
fundamentais, pois, para que o paciente altere o seu comportamento, os fa-
miliares também precisam mudar. A fim de que isso aconteça, os pais pre-
cisam observar em que situações os comportamentos dos filhos ocorrem e
quais são as suas consequências. Além disso, devem observar seu próprio
comportamento para entender de que forma contribuem para a manu-
tenção do problema (Gurgel et al., 2014). Os pais devem trabalhar em
conjunto com o terapeuta; eles precisam receber orientações sobre como
identificar e manejar situações problemáticas, como auxiliar nas tarefas de
casa e como reforçar aspectos positivos e avanços dos filhos.
No caso de crianças bem pequenas com poucos sintomas e anamnese
positiva (sem grandes pontos traumáticos ou dificuldades na história de
formação de vínculo com os pais), é possível que um trabalho de orien-
tação aos pais seja suficiente e que a criança não precise realizar um tra-
tamento. Outro fator importante para esse cenário é a existência de um
bom relacionamento entre os progenitores, independentemente de serem
casados.3
REFERÊNCIAS
Achenbach, T.M. (1991). Manu- https://www.researchgate.net/pub-
al for the Child Behavior Check- lication/228537975
list/4-18 and 1991 profile. Depart- Bakos, D. S., & Friedberg, R.
ment of Psychiatry, University of (2017). Atualizações em terapia
Vermont, Burlington. cognitivo-comportamental com
Albano, A. M., & Kendall, P. C. crianças e adolescentes. In R. M.
(2002). Cognitive behavioral ther- Caminha, M. G. Caminha & C. A.
apy for children and adolescents Dutra (Orgs.), A prática cognitiva
with anxiety disorders: Clinical re- na infância e na adolescência (pp.
search advances. International Re- 23-44). Sinopsys.
view of Psychiatry, 14(2), 129-134.
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