Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
5 – Novembro 2013
A fisioterapia é uma profissão autónoma, que tem um campo de intervenção vasto, que vai desde a promoção da
saúde à prevenção da doença. A sua contribuição deve portanto ser considerada como um recurso autónomo,
integrado em todos os níveis da prestação de cuidados.
Os cuidados paliativos centram-se na promoção do conforto, da dignidade e da qualidade de vida de pessoas de
qualquer faixa etária em que doenças incuráveis, progressivas e em fase avançada excluem a hipótese de uma
recuperação. Na literatura analisada, ainda existe pouca evidência científica que mencione o papel do fisioterapeuta
nos cuidados paliativos, no entanto, é possível concluir que a participação do fisioterapeuta nesta área contribui de
forma positiva na qualidade de vida, aliviando a dor e promovendo o bem-estar dos utentes.
Em Portugal, não se está ainda a atuar segundo os princípios, pressupostos e conceitos fundamentais desta área,
havendo uma menor percentagem de profissionais de saúde do que a que deveria existir, segundo o que está
estipulado pela Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APF).
Pretende-se, com esta revisão de literatura, analisar o estado da arte da importância da fisioterapia nos cuidados
paliativos.
Physiotherapy is an autonomous profession, which has a wide field of intervention, ranging from health promotion to
disease prevention. Its contribution should be considered as a separate action, integrated at all levels of care.
Palliative care focus on promoting the comfort, dignity and quality of life to people of any age group with diseases
incurable, progressive and in advanced stage that exclude the possibility of recovery. Although there is little scientific
evidence mentioning the role of the physiotherapist in palliative care, it is possible to conclude that the participation of
Fisioterapia nos cuidados paliativos
the physiotherapist in this area contributes positively on quality of life, relieving pain and promoting the welfare of
users.
In Portugal, we are still not acting according to the principles, assumptions and key concepts of this area, with a lower
percentage of health professionals than it should be, according to the recommendations of the Portuguese Association
of Physiotherapists (APF).
It is intended, in this literature review, to analyze the state of the art of the importance of physiotherapy in palliative
care.
Salutis Scientia – Revista de Ciências da Saúde da ESSCVP Vol.5 Novembro 2013 www.salutisscientia.esscvp.eu 35
Fisioterapia nos cuidados paliativos
Geral da Saúde, 2004) que pretendem oferecer um As unidades de cuidados paliativos estão, cada vez
sistema de apoio e de ajuda aos utentes para que mais, a ser reconhecidas como unidades que não só
estes vivam o mais ativamente possível até morrer. promovem suporte a utentes terminais mas também
Para além do cuidado ao utente terminal, pretende-se a reabilitação de outros utentes com doenças
ainda facultar um sistema de apoio à família, para a malignas avançadas (Montagnini, Lodhi, & Born,
ajudar a lidar com a doença e com o seu próprio luto 2003).
(McCoughlan, 2003; Haugen, Nauck & Caraceri, 2011).
A relevância deste estudo prende-se com a tendência
Segundo a classificação AN-SNAP (The Australian atual, no sentido de crescimento das unidades de
National Sub-Acute and Non-Acute Patient cuidados paliativos a nível nacional, pelo que se
Classification), descrevem-se quatro fases paliativas, pressupõe um aumento do número de profissionais
em função do estadio da doença, correspondendo de saúde a trabalhar nesta área, nomeadamente os
cada uma a diferentes níveis de complexidade: a fase fisioterapeutas. Segundo o artigo 20º do Decreto de
Aguda, que diz respeito ao desenvolvimento Lei nº 101/2006, as unidades de cuidados paliativos
inesperado de um problema ou aumento da são geridas por um médico que assegura,
gravidade dos problemas já existentes; a fase em designadamente variadas funções, entre elas os
Deterioração, caracterizada por um desenvolvimento cuidados de fisioterapia (Portugal, 2006). Assim, é de
gradual de problemas, sem que haja necessidade de extrema importância a elaboração de novos estudos
uma alteração súbita na gestão da situação; a fase em Portugal sobre a influência da fisioterapia nas
Terminal, em que a morte está iminente; e, por fim, a unidades de cuidados paliativos, de forma a haver
fase Estável, onde estão incluídos utentes que não referência científica que distinga a intervenção do
estão em nenhuma das fases anteriores (ANCP, 2006). fisioterapeuta da de qualquer outro profissional de
A oferta de cuidados paliativos faz-se com base no saúde.
tipo de necessidades (elevado sofrimento associado a
doença) e não apenas nos diagnósticos (ANCP, 2006). Existe uma crescente necessidade de profissionais de
saúde, com formação específica nas unidades de
A fisioterapia presta cuidados a indivíduos e cuidados paliativos, sendo que o fisioterapeuta,
populações de forma a desenvolver, manter e restituir enquanto especialista no movimento e
o máximo movimento e capacidade funcional ao funcionalidade, ganha cada vez mais importância na
longo do ciclo de vida. Incluindo-se a prestação de intervenção multidisciplinar destes utentes, com
serviços em circunstâncias onde o movimento e a necessidades específicas. É necessário apostar na
função estão comprometidos pelo envelhecimento, formação especializada e diversificada, de forma a ir
lesão, doença ou fatores ambientais (World ao encontro das necessidades dos utentes e a
Confederation for Physical Therapy [WCPT], 2013). promover uma maior qualidade de vida perante a
morte. A significância deste trabalho vai ao encontro
Deste modo a fisioterapia complementa todo o desta necessidade por parte do fisioterapeuta.
tratamento paliativo (Frymark, Hallgren, & Reisberg,
s.d.) desempenhando um papel fundamental na Pretende-se, com esta revisão de literatura, analisar o
medida em que promove o controlo da estado da arte da importância da fisioterapia nos
sintomatologia, maximiza as capacidades funcionais cuidados paliativos.
remanescentes, promove educação e orientação aos
cuidadores, mantém a autonomia dos utentes, bem Fisioterapia nos cuidados paliativos
como o seu senso de identificação no meio que o
rodeia (Júnior & Reis, 2007). Tem ainda um papel Por volta de 1960, a contribuição do fisioterapeuta
importante na identificação pessoal do utente, uma nos cuidados paliativos direcionava-se apenas a
vez que este tem um papel ativo em todo o utentes oncológicos - antes de existirem hospitais
tratamento (Mackey, & Sparlin, 2000). direcionados apenas a este tipo de cuidados - hospice
Salutis Scientia – Revista de Ciências da Saúde da ESSCVP Vol.5 Novembro 2013 www.salutisscientia.esscvp.eu 36
Fisioterapia nos cuidados paliativos
Salutis Scientia – Revista de Ciências da Saúde da ESSCVP Vol.5 Novembro 2013 www.salutisscientia.esscvp.eu 37
Fisioterapia nos cuidados paliativos
Salutis Scientia – Revista de Ciências da Saúde da ESSCVP Vol.5 Novembro 2013 www.salutisscientia.esscvp.eu 38
Fisioterapia nos cuidados paliativos
Salutis Scientia – Revista de Ciências da Saúde da ESSCVP Vol.5 Novembro 2013 www.salutisscientia.esscvp.eu 39
Fisioterapia nos cuidados paliativos
O fisioterapeuta é um profissional independente, Capelas, M. (2009). Cuidados Paliativos: Uma proposta para
capaz de estabelecer uma avaliação global tendo por Portugal. Cadernos de Saúde. 2(1), 51-57
base o modelo biopsicossocial, realizando o seu
Frymark, U., Hallgren, L. & Reisberg, A. (2009). Physiotherapy in
próprio diagnóstico e estipulando objetivos realistas palliative care – A clinical handbook. Stockholms Sjukhem,
de forma a ir ao encontro das necessidades do utente Sweden
e sua família.
Haugen, D.F., Nauck, F. & Caraceni, A. (2010). The core team and
No caso dos cuidados paliativos, esta abordagem the extended team. In Hanks, G., Cherny, N.I., Christakis, N.A.,
Fallon, M., Kaase, S. & Portenoy, R.K. (4ª edição). Oxford Textbook
global é fundamental, uma vez que o utente se of Palliative Medicine. (165-175). New York. Oxford University
encontra num estadio terminal e os objetivos têm em Press Inc
vista a promoção da melhor qualidade de vida
possível, bem como a otimização da funcionalidade Júnior, L. & Reis, P. (2007). Cuidados paliativos no paciente idoso:
O papel do fisioterapeuta no contexto multidisciplinar.
até à morte, para que o utente se sinta mais realizado.
Fisioterapia em Movimento. 20 (2), 127-135
A intervenção da fisioterapia não se deve restringir Kumar, S. & Jim, A. (2010). Physical therapy in palliative care, from
apenas a aplicação de técnicas, importa referir o symptom control to quality of life: a critical review. Indian Journal
contexto e o objetivo com que estas são executadas. of Palliative Care. 16(3), 138-146
Assim, a fisioterapia tem um papel fundamental na Laakson, L. (2006). The role of physiotherapy in palliative care.
equipa multidisciplinar, característica deste tipo de Australian Family Physician. 35(10)
cuidados. Uma equipa especializada e diversificada
que oferece ao utente um tratamento especializado Lasskson, E., McAuliffe, A. & Cantlay, A. (2003). The impact oh
physiotherapy intervention on funcional independence and
tendo por base os seus desejos e ambições. quality of life in palliative patiens. Cancer Forum. 27 (1)
Para a integração dos cuidados paliativos, é necessária Lopes, A. (1994). Desenvolvimento pessoal e profissional dos
uma formação específica para os profissionais de fisioterapeutas. Papel e modalidades de formação contínua.
saúde, pela elevada componente psicológica bem Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação, área de
especialização, pedagogia na saúde - Faculdade de Psicologia e
como pelas necessidades especiais que acarreta cada Ciências da Educação de Lisboa, Portugal
utente em particular, o que torna esta área única.
Lowe, S., Watanable, S. & Courmeya, K. (2009). Physical activity as
Por esta razão sugere-se a realização de mais estudos a supportive care intervention in a palliative cancer patients: A
systematic rewiew. The Journal of Supportive Oncology. 7 (1)
com rigor metodológico onde possam ser levantados
e analisados novos dados, de forma a aprofundar e a Mackey, K. & Sparlin, J. (2000). Experiences of older women with
especificar o impacto da fisioterapia nos cuidados cancer receiving hospice care: Significance for physical therapy.
paliativos. Journal of American Physical Therapy Association. 80, 459-468
Salutis Scientia – Revista de Ciências da Saúde da ESSCVP Vol.5 Novembro 2013 www.salutisscientia.esscvp.eu 40
Fisioterapia nos cuidados paliativos
physical therapy in a palliative care unit. Jornal of Palliative Portugal, Serviço Nacional de Saúde (2010). Estratégias para o
Medicine. 6 (1) Desenvolvimento do Programa Nacional de Cuidados Paliativos,
Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados 2011-2013.
Robinson, D. & English, A. (2010). Physiotherapy in palliative care. [on-line]. Disponível em: http://www.rncci.min-
In Hanks, G., Cherny, N.I., Christakis, N.A., Fallon, M., Kaase, S. & saude.pt/SiteCollectionDocuments/cuidados paliativos_1-1-
Portenoy, R.K. (4ª edição). Oxford Textbook of Palliative Medicine. 2011.pdf
(227-232). New York. Oxford University Press Inc
Tester, C. (2008). Palliative rehabilitation. In Boog, M.K. & Tester,
Rothstein, J.M. (1985). Measurement in physical therapy. New C.Y. Palliative care: A Practical guide for the health professional
York: Churchill Livingstone (45-53). New York. Churchill Livingstone
Portugal, Diário da Republica, Decreto-Lei nº 101/2006. Capitulo II, Twycross, R. (2003). Cuidados paliativos. (2ª edição). Lisboa:
Secção IV, artigo 20º, 2006-06-06. Disponível: Climepsi.
http://dre.pt/pdf1s/2006/06/109A00/38563865.pdf
World Confederation for Physial Therapy, (2007). Policy
Portugal, Diário da Republica, Ministério do Trabalho e da statement: Description of physical therapy [on-line]. Disponível
Solidariedade Social e da Saúde. Despacho nº 3730/2011. Série 2, em: http://www.wcpt.org/policy/ps-descriptionPT
nº40, 2011-02-25. Disponível: http://www.rncci.min-
saude.pt/SiteCollectionDocuments/despacho373022011
IdentificacaounidadesRNCCI.pdf
Apêndice A - Metodologia
Para a realização deste estudo, na tentativa de angariar o máximo de evidência científica que fosse relevante para o
objetivo estipulado, foi realizada uma recolha de material científico via Biblioteca do Conhecimento Online (b-on)
sendo, posteriormente, a pesquisa encaminhada para as bases de dados/editoras Pubmed, Annual Reviews, Elsevier
e Web of Science. Foram também consultadas as bases de dados da Chartered Society of Physiotherapy e a PeDro. A
pesquisa foi realizada tendo como base o cruzamento dos seguintes termos: physiotherapy e palliative care, physical
therapy e palliative care, palliative reabilitation, physical activity e palliative care, fisioterapia e cuidados paliativos.
Dos artigos que potencialmente poderiam integrar o estudo (total de 40 artigos), foi realizada uma seleção de
acordo com os seguintes critérios de exclusão: (1) artigo que não fosse de língua inglesa ou portuguesa, (2) artigos
sem relevância para o tema, (3) documentos que não sejam artigos científicos.
De seguida, realizou-se uma recolha integral dos artigos selecionados, dos quais se retirou informação relativa à
fisioterapia nos cuidados paliativos.
Após uma leitura integral dos artigos encontrados, eliminaram-se 24 artigos, ficando assim 16 artigos que foram
utilizados para a realização deste estudo.
Salutis Scientia – Revista de Ciências da Saúde da ESSCVP Vol.5 Novembro 2013 www.salutisscientia.esscvp.eu 41