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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTE - ICHCA


HISTÓRIA LICENCIATURA

MARCELO FERREIRA DIAS

ARTIGO: Colonização África/Brasil – Economia, escravidão e resistência

Maceió
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTE - ICHCA
HISTÓRIA LICENCIATURA

MARCELO FERREIRA DIAS

ARTIGO: Colonização África/Brasil – Economia, escravidão e resistência

Trabalho acadêmico apresentado à


disciplina Tópicos especiais da História da
África, ministrada pelo Prof. Flávia
Carvalho , como instrumento avaliativo
deste segundo período do curso de História
Licenciatura.
Maceió
2017
Resumo:
O artigo apresenta de forma lacônica temas centrais acerca da África e do Brasil em seus
períodos coloniais, trazendo questões como a influência lusitana e escravidão como forma de
economia, onde a partir do processo de expansão marítima empreendido pelas nações
europeias e o desenvolvimento do tráfico negreiro, várias dessas culturas foram
profundamente transformadas. No ambiente colonial, diversas das tradições foram
reinterpretadas à luz das demais culturas que conviviam no continente americano. Contudo,
as poucas características aqui levantadas sobre as culturas africanas, demonstram a
existência de todo um modo de vida rico e diverso, estabelecido antes do contato com o
“europeu civilizado”. Abordando também a figura da Poderosa rainha africana, Nzinga
Mbandi e sua resistencia à invasão portuguesa.

Palavras-chave: Escravidão, colonização, processo, resistência, África, Brasil

Introdução:
¹Brasil no Atlântico Sul
A colonização não era um processo já pronto, como indica o autor, mas sim um resultado
de aprendizado dos colonos. Depois, mudando de margem atlântica, a análise vai à África, e
foca nas rotas comerciais das caravanas, e como elas foram vencidas pelas caravelas, a partir
de análises materialistas e de ideologia cristã. A "transmigração" negreira do atlântico-sul
novamente aumenta o coro da impossibilidade de separação das costas atlânticas. Este "miolo
negreiro" tinha como centro a capital de Portugal e Alencastro mostra como se articulava essa
Lisboa com o tráfico de escravos, passando por banqueiros, asientistas e perseguições a novos
cristãos.
A sociedade escravista do Brasil não se ocupava somente do trato negreiro. Para não
negligenciar esse aspecto importante, Alencastro apresenta escravidão indígena na América
portuguesa. O interesse na preservação das sociedades indígenas passava por tantos aspectos,
desde um aliado em potencial ao assédio estrangeiro ao novo mundo, potencializados pela
fraca presença militar fraca, até a opção ideológica de evangelização. Depois, a evangelização
negra é tratada pelo por pelo autor, que traz à tona a teoria de Padre Antônio Vieira: só os
negros cristãos conheceriam o resgate eterno do Paraíso. Os outros, vivendo no paganismo na
África, estavam condenados ao Inferno.
A presença holandesa no nordeste da em Angola e no nordeste da América Portuguesa,
acionou os colonos de modo que provou que sem um lado não existia o outro. Protagonizado
pelos fluminenses, surgindo a figura do paulista como "anti-metropolitano" e "anti-jesuíta",
um semi-vilão na construção desse mundo Atlântico. O movimento brasílico inicia a retomada
de Angola assim como a expulsão holandesa do nordeste.
O que quer dizer com a “Formação do Brasil no Atlântico Sul”? Talvez mostrar que é
preciso abrir os olhos para entender o Brasil como parte integrante de um processo e não
como uma vítima da vontade lusitana. Logicamente, a metrópole teve a chance de exercer seu
papel, e assim o fez, mas, assim como Portugal, Brasil e Angola também foram agentes
históricos. De tal maneira, formou-se um mundo entre essas partes. Desenvolvimento mútuo
que, inegavelmente, foi possível pela mentalidade de governo lusa. e todos os acontecimentos
sucedidos nos três séculos de colonização. Desta forma, fica ainda mais inteligível o processo
da formação do Brasil como "de um império a outro". Essas questões vão além do
entendimento da formação do Brasil, entender as relações humanas de forma conjunta no
tempo e espaço, o que é a base da atual análise historiográfica.
___________________
¹ ALENCASTRO, Luiz Felipe de; O Trato dos Viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul.
São Paulo: Companhia das Letras. 2000. Pág. 183.

¹ África colonial, escravidão e economia

A escravidão sustentou o desenvolvimento de uma economia e explorada pelos


europeus, expandiu e serviu para acelerar o crescimento de outras regiões do mundo, como do
Brasil, cuja história é inseparável da história africana. A escravização do homem teria origem
nos processos e instrumentos de domesticação dos animais, o autor propõe o contrário: a
escravidão do homem veio antes da domesticação dos animais, sem recusar, contudo, que os
dois processos, em algumas culturas, tenham sido simultâneos. Segundo ele, ao domesticar os
animais o homem usou os mesmos instrumentos e processos que usou para controlar os
escravos: cabresto, coleira, chibata, peia e a castração, e o corte na orelha para distinguir a
posse e a marca com ferro quente.
Havia escravidão entre inúmeros grupos de índios americanos que não
domesticavam animais, exceto a lhama. Só a galinha d’Angola era domesticada na
África, outros animais já vieram domesticados do Oriente Médio, pelo
Mediterrâneo. Anterior à criação de animais, a escravidão vem dos primórdios da
humanidade, desde a formação das primeiras comunidades. Quando havia ataque a
uma aldeia, e todos os homens eram mortos, crianças e mulheres, sem ter para onde
ir, acompanhavam os vencedores na condição de escravos. Variava de cultura para
cultura, de região para região e de grupo para grupo, o que nos leva a compreensão
de que a escravidão africana se deu de várias formas.

O escravo de um grupo agrícola era utilizado de modo distinto ao de um grupo


predominantemente pastoril. Aqui, seria tratado como pessoa da família, ou quase, a
comer na mesma gamela que o amo. Ali, com a violência e as humilhações que
merece o inimigo – nu ou com um trapo amarrado à virilha, a alimentar-se de restos
lançados ao chão, sem conhecer descanso entre os empurrões e as bofetadas. Acolá,
com o mesmo cuidado que uma cabra ou uma ovelha, uma vez que tinha como esses
animais, valor de uso e troca. Mais adiante, até com certo mimo [...] porque se
destinava ao sacrifício ritual, e por toda parte com o passar do tempo, o exemplo
externo, o contato nos mercados, os relatos dos peregrinos e dos viajantes, os
casamentos entre membros de aldeias apartadas e as experiências locais foram
alterando rápida ou lentamente, perceptível ou imperceptível aos olhos dos
observadores as idéias que explicavam e justificavam o escravismo e os modos de
aquisição, emprego, reprodução e desgaste desse escravo (SILVA,
2002, p. 81).
A análise estudas por Costa e Silva nos levam a perceber que existia a uma escravidão
doméstica, que consistia em aprisionar alguém para utilizar sua força de trabalho, na
agricultura em escala, familiar. Esse tipo de escravidão servia para aumentar o número de
pessoas empregadas no sustento de um grupo ou família.
A terra não tinha valor sem que se tivesse gente empregada no cultivo dos alimentos.
Escravos eram poucos por unidade familiar, mas a posse desses escravos assegurava poder e
prestígio para seus senhores.
O autor afirma que essa forma de escravidão doméstica, possivelmente, as primeiras
que conheceu a África, tem sido qualificada de branda, quando se compara aos regimes de
escravidão de Roma, Estados Unidos, Brasil... contudo, não deixam de possuir marcas de
sofrimento. Isto porque a escravidão nada mais é do que uma relação de poder e domínio
originado e sustentado pela violência.
O rapto individual, a penhora e a compra eram outras maneiras de se tornar escravo.
Pessoas podiam ser penhoradas como garantia para o pagamento de dívidas. Nesta situação,
caso seus parentes saldassem o débito, acabava o cativeiro. Essas formas de aquisição de
cativos foram mais ou menos comuns em diferentes períodos e lugares da África. Os europeus
encontraram isso na África. Não inventaram o comércio de escravos, mas só se aproveitaram
de um estado de coisas que vinha de tempos remotos. A escravidão existiu desde os tempos
mais remotos e foi se modificando ao longo dos tempos, mudando também de acordo com a
região e a aplicação econômica do escravo. Sempre sendo violenta, sempre uma agressão de
um ser humano contra outro ser humano, mas sempre alternando sua roupagem. É analisada
como um fenômeno econômico que, posteriormente, gerou consequências acerca de
discriminação racial.

___________________
¹ SILVA, Alberto da Costa. A manilha e o Libambo: A África e a Escravidão (1500 – 1700). Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2002
Rainha Nzinga e a resistência
Não foi fácil para Portugal retirar milhares de pessoas da África para servirem como
escravos na América. Longas lutas de resistência foram travadas contra a colonização, que
contava com altos investimentos militares e uma política que combinava opressão, violência e
alianças.
Os portugueses iniciaram a colonização a partir de Luanda sete anos antes, ganhando o
interior com a construção de presídios, fortificações militares no curso do Rio Kwanza, que
abrigavam os comerciantes de escravos e a organização de feiras em que a principal
mercadoria eram as pessoas escravizadas. Criaram também um sistema de avassalamento de
sobas, os chefes locais autônomos que pagavam tributos ao Ngola em troca de proteção
militar e espiritual. Após a invasão portuguesa, eles eram batizados e se declaravam fiéia a
coroa. Se generalizava a guerra, e com ela o clima de instabilidade. Os sobados intensificaram
ataques.

Foi nesse contexto de penetração portuguesa no reino do Ndongo, movido pelo tráfico
negreiro, que Nzinga Mbandi cresceu. O governo de Angola em 1617, Luis Mendes de
Vasconcelos, invade o reino do Ndongo para construir o presídio de Mbaka, a poucas milhas
da Cabaça, a moradia do Ngola. O resultado foi uma guerra intensa, ao fim da qual Ngola,
após ser vencido, refugiou-se na ilha de Kindonga, no Rio Kwanza. Em 1622, João Correia de
Sousa assumiu o governo e decidiu procurar o Ngola para restabelecer a paz, uma vez que o
cenário de guerra paralisara os mercados de escravos. Foi quando Rainha Nzinga entrou em
cena.

Defendeu a manutenção da independência do Ndongo e o não pagamento de qualquer


tributo à Coroa portuguesa, mas era aberta ao comércio. Entendendo que a paz com os
portugueses passava pelo batismo cristão, aceitou o sacramento: recebeu o nome de D. Anna
de Sousa, tendo como padrinho o próprio governador. De sua parte, os portugueses se
comprometeram a efetivar a retirada do presídio de Mbaka.
Após impressionantes demonstrações de astúcia e perspicácia de Nzinga, que não se
deixou intimidar pelos europeus, foi assinado um tratado de paz.
No entanto, os portugueses não cumpriram o acordo, o que deu continuidade aos conflitos.
Com a morte de seu irmão em 1623, Nzinga assumiu a posição de Rainha de Ndongo
passando a liderar as batalhas contra os inimigos. De forma estratégica a Rainha Nzinga
estabeleceu alianças com os holandeses em 1641 para expulsar os portugueses do território.
Pois, uma vez que o comércio escravo havia se tornado a principal fonte de lucro do período e
Angola era um ponto estratégico para a captura de africanos, o governo português não abriria
mão do território conquistado facilmente.
Após anos de guerra, em 1657 a Rainha Nzinga assinou um novo tratado de paz com os
portugueses. Ela faleceu seis anos depois, no ano de 1663. Mas a sua figura e sua luta não
foram esquecidas, Nzinga é cultuada como símbolo da resistência à invasão estrangeira pelos
modernos movimentos nacionalistas de Angola.
A figura de Nzinga é considerada um ícone de resistência não somente em Angola, mas
sua trajetória é valorizada por todos os movimentos sociais negros da diáspora, especialmente
os movimentos de mulheres. Desde o seu translado forçado, a travessia pelo Atlântico, até a
sua chegada a este território, as mulheres africanas e suas descentes, são alvos centrais da
opressão de gênero e raça, que institui uma condição de vulnerabilidade para o grupo.
Apesar da invisibilidade e do silenciamento, que castra muitas vezes as possibilidades de
reação e enfrentamento à violência, as mulheres negras não deixaram de questionar e
combater a opressão sofrida desde a sua chegada às terras brasileiras. A história de mulheres
africanas como a Rainha Nzinga e entre outras africanas de espírito guerreiro, dar evidência
que a resistência das mulheres negras no Brasil possui vínculos profundos com essa luta
ancestral por justiça.

Conclusão:
Em terras brasileiras, a força de trabalho dos negros foi empregada pela lógica do abuso e
da violência. Longas jornadas de trabalho estabeleciam uma condição de vida extrema, capaz
de encurtar radicalmente os anos dos escravos. Ao mesmo tempo, a força das armas e da
violência transformavam os castigos físicos em um elemento eficaz de dominação.

Durante a exploração colonial, a mão de obra negra foi muito utilizada em outras atividades
como na mineração e nas demais atividades agrícolas que ganharam espaço na economia entre
os séculos XVI e XIX. Mesmo destacando tais abusos, também devemos sinalizar a
contrapartida desse contexto exploratório, com a presença de várias formas de resistência à
escravidão tanto no Brasil quanto na África. A influência exercida pela colonização é muito
mais ampla do que se possa perceber, do ponto de vista social, político, econômico, cultural e
antropológico.
Referências:

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul.
São Paulo: Companhia das Letras. 2000.
SILVA, Alberto da Costa. A manilha e o Libambo: A África e a Escravidão (1500 – 1700). Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2002

FONSECA, Mariana Bracks. Nzinga Mbandi e as guerras da resistência em Angola no séc XVII.
São Paulo. 2012

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