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As Dinastias do Alto Império/A pequena Cleópatra

1. O ano dos 4 imperadores (jun. 68/dez 69)


• O assassinato de um imperador significava apenas que seria preciso
encontrar outro que agradasse ao exército, e não que o sistema de governo
pudesse mudar.
• A morte de Nero trouxe instabilidade política – instaurou-se a guerra civil
• Caio Júlio Víndice (governador da Gália Lugdunense) iniciou uma
rebelião com o objetivo de substituir Nero por Sérvio Sulpício Galba
 Essa revolta, em termos militares, foi um desastre. As legiões da
Germânia marcharam ao encontro de Víndice (e o confrontaram como
traidor)
• Além dessa revolta, o senado tomou a iniciativa de se livrar de Nero,
declarando-o persona non grata.
• Galba é aclamado imperador por suas legiões.
• Nero se suicidou.

a) Sérvio Sulpício Galba (Lucius Livius Ocella Servius Sulpicius Galba) (jun. 68
– jan. 69)
• Essa virada dos eventos deu às legiões germânicas não a recompensa, mas
sim acusações de terem obstruído a ascensão de Galba ao trono.
• Ao ser nomeado imperador contava com o apoio de Otão
• A perda de confiança na lealdade germânica levou a dispensa da guarda
pretoriana imperial, composta principalmente de batavos.
• Além disso, recusou pagar à Guarda Pretoriana a recompensa prometida
no seu nome.
• Enquanto o resto do império celebrava a morte de Nero, a Germânia
explodia na rebelião.
• No início do ano civil de 69 as legiões da Germânia Inferior se recusaram
a jurar aliança e obediência ao novo imperador. No dia seguinte, as legiões
aclamaram Vitélio, seu governador, como imperador.
• Galba não continuou popular por muito tempo. Na sua marcha para Roma,
ou ele destruía ou tomava multas enormes das cidades que não aceitavam
sua autoridade imediatamente.
• Teve por política assassinar àqueles que lhe eram contrários, sem
julgamento prévio, acusando-os de traição.
• Em Roma, Galba cancelou todas as reformas de Nero, tornando-se
conhecido como avaro e ambicioso, devido às impopulares medidas que
aprovou com o fim de restaurar os fundos estatais.
• As suas políticas, bem como a impunidade com a que permitia agir aos
seus agentes, valeu-lhe o ódio do povo e do exército.
• Ao adotar Lúcio Calpúrnio Pisão Frugi Liciano como seu herdeiro perdeu
o apoio de Otão que travou contato com os descontentes membros da
Guarda Pretoriana, que decidiram nomeá-lo imperador.
• Galba foi assassinado no Fórum Romano

b) Marco Sálvio Otão (jan. 68 – abr. 69)


• Otão foi reconhecido imperador pelo senado nesse mesmo dia.
• Destaque histórico: Otão pertencia ao círculo de amigos de Nero, contudo
a amizade entre os dois foi desfeita quando Nero conheceu a esposa de
Otão, Popeia Sabina. Otão se divorcia de Popeia e, antes do assassinato
desta, o envia para o exílio, ao que lhe foi concedido o governo da
Lusitânia por 10 anos. Como forma de vingança é que Otão apoia Galba.
• Os senadores investiram Otão com o título de augusto, com o poder
tribunício (tribunicia potestas) e com outras honras exclusivas do
imperador.
• No entanto, mesmo após a sua ascensão ao trono imperial,
várias legiões no comando de Vitélio avançavam para a Itália.
• Embora tenha tentado resistir ao avanço de Vitélio, Otão acaba por
suicidar.
c) Aulo Vitélio Germânico (abr. 69 – dez 69)
• Suas primeiras ações como imperador de facto: ordenou o assassinato das
120 pessoas que, com afã de obter o favor de Otão, se declararam culpáveis
do assassinato de Galba e dissolveu as coorte pretórias, que foram então
completadas com homens da sua confiança.
• Ganhou o ódio do povo como consequência dos excessos que permitia à
sua corte.
• Quando alcançou o lugar onde se tinha travado a batalha na que falecera o
seu inimigo, exclamou ante os soldados que se afastavam do fedor dos
cadáveres: “O cadáver de um inimigo sempre cheira bem, e melhor ainda
se for um concidadão”.
• Suetônio afirma na sua "As Vidas dos Doze Césares" que o imperador era
um ser cruel, que gostava de ordenar assassinatos e contemplá-los.
Assassinou todos aqueles que lhe exigiram o dinheiro das suas dívidas, os
seus dois filhos, e os que se expressaram publicamente contra a sua
política. Chegou-se a afirmar até mesmo que deixara falecer a sua mãe.
• Apesar disso, os historiadores Tácito e Dião Cássio recusam certas
asseverações de Suetônio em relação à administração de Vitélio, que
consideram aceitável. O primeiro deles descreve as que considera as suas
duas contribuições mais importantes ao governo do Império:
 Finalizou com a prática dos centuriões de vender isenções fiscais e
militares aos seus homens, mudança que o historiador descreve como
uma política adotada por "todos os bons imperadores".
 Ampliou os cargos da administração para além dos libertos,
convidando assim os equestres a ocuparem cargos no governo
imperial.
• Em julho as legiões romanas da província do Egito proclamaram
Vespasiano imperador. Ao conhecer a notícia, as legiões da Mésia, da
Panônia, e da Dalmácia amotinaram-se e declararam fidelidade a
Vespasiano.
• Pouco a pouco, os aliados de Vitélio desertaram para o bando
de Vespasiano. Vitélio tentou negociar uma paz, sem sucesso.
• Foi capturado, despido, cruelmente executado e lançado ao rio Tibre.
2. Dinastia Flaviana

a) Vespasiano
• Primeira Guerra Judaico-Romana Primum Iudæorum Romani Bellum
(66 – 73 d.C)
 Foi a primeira de três grandes rebeliões da população da província da
Judeia contra a dominação romana.
 Foi motivada a princípio pelas tensões religiosas, evoluindo para
protestos contra o pagamento de tributos e ataques a cidadãos romanos.
 A crescente indignação estourou em franca revolta por volta de 66
d.C., quando, após muitas arbitrariedades, o procurador da Judeia
Géssio Floro requisitou dezessete talentos do tesouro do Templo de
Jerusalém.
 Resultado: Floro entregou aos seus soldados uma parte de Jerusalém,
para que fosse saqueada e crucificou alguns homens importantes da
comunidade judaica
 Berenice se encontrava em Jerusalém quando estourou a revolta, e
tentou pacificar a situação. Chegou a ir pessoalmente a Floro, descalça,
símbolo de humildade, e suplicar para que cessasse o massacre. Como
seu pedido não foi aceito, implorou a Céstio Galo, governador romano
da Síria.
 Os revolucionários chefiados por Eleazar, filho do sumo sacerdote,
ocuparam o templo e a fortaleza Antônia. Os judeus de Jerusalém
sitiaram a única coorte da legião III Gallica.
 Ao mesmo tempo, membros da seita zelota tinham-se encaminhado
para a fortaleza de Masada, no mar Morto, e massacrado a coorte da
Legio III Gallica lá baseada. Outro bando de rebeldes tinha feito o
mesmo na fortaleza de Chipre, que tinha visão panorâmica da cidade
de Jericó.
 Galo marchou com uma força de 28 mil homens para restabelecer o
controle romano na Judeia. Fazendo um progresso vagaroso pela
Galileia, queimando tudo em seu caminho, chegou às muralhas
externas de Jerusalém em novembro, com o inverno prestes a começar
e com os rebeldes determinados a resistir à poderosa Roma.
 Após um cerco superficial de cinco dias, Galo inexplicavelmente
ordenou que suas tropas se retirassem. No vale de Beth-horon,
tentando retraçar seus passos de volta à estrada para Lod e a costa, que
ele tinha percorrido apenas uma semana antes, a coluna do general
Galo foi rendida e quase totalmente dizimada pelos rebeldes.
 O general Vespasiano deixou Antioquia no final da primavera do ano
67 d.C. para se reunir à sua força-tarefa em Ptolemais. Ele sabia, por
meio de informantes que se instaurou uma luta pelo poder entre os
líderes judeus: Jerusalém tinha se dividido em três facções rebeldes
que tinham ocupado partes diferentes da cidade e que estavam
travando uma luta pelo poder.
 Decidiu deixar que os judeus de Jerusalém se cansassem de matar uns
aos outros, antes que ele perdesse tempo, esforço ou sangue legionário
tentando tomar a cidade. Enquanto isso, concentrar-se-ia em subjugar
os campos ao norte de Jerusalém. Respectivamente o cerco a Jotapata,
e na Galileia em: Tiberíades, Gâmala e Gischala.
 Em 68 Vespasiano inicia as operações na Judeia (e nesse período fica
sabendo das conspirações para derrubar Nero). Nesse ínterim que
Vespasiano é eleito imperador e Tito, seu filho, assume o comando das
tropas na Judeia.
• O grande desafio de Vespasiano foi justificar o seu poder ao trono imperial
e, para isso, usou os lucros do saque da Judeia para legitimar seu poder,
construindo grandes obras públicas: como o Coliseu.
• Além disso, A administração do império ficou nas mãos do antigo
governador da Síria e aliado de Vespasiano, Caio Licínio Muciano,
auxiliado pelo filho do imperador, Domiciano. Durante o seu governo,
Muciano iniciou a reforma fiscal que devia restaurar os fundos do império.
• Vespasiano e Muciano ressuscitaram velhos impostos e instituíram outros
novos, aumentaram o tributo das províncias e vigiaram constantemente os
funcionários públicos do tesouro.
• A fim de prevenir o amotinamento, ofereceu presentes aos cidadãos e ao
exército.
• Através dos seus agentes, o imperador encarregou-se de que as histórias a
respeito da sua divindade, nascidas no Egito, circulassem por todo o
império.
• As moedas cunhadas durante o seu reinado proclamavam as suas vitórias
militares e a paz que graças a ele experimentava o império.
• Foi construído no Fórum um templo à paz.
• Foram oferecidas recompensas financeiras aos historiadores antigos. Os
historiadores que viveram durante o seu reinado, tais como Tácito,
Suetônio, Flávio Josefo e Plínio o Velho, falam suspeitosamente bem do
imperador, ao mesmo tempo que criticam os seus predecessores no trono.
• Reestruturou as ordens senatorial e equestre, arrebatando aos seus
inimigos as suas posições de poder e substituindo-os pelos seus aliados.
• Seu principal legado foi a criação de uma nova classe dominante romana:
uma nova elite política que não sairia exclusivamente da antiga classis
aristocrática.
• Vespasiano – tal como Tibério – governou solteiro
 Não havia necessidade de se casar novamente já que ele tinha 2 herdeiros
(Tito e Domiciano)
 Por causa dos dramas e escândalos da política Júlio-claudiana com relação
às suas amantes e esposas
• No entanto há que se destacar a figura de Antônia Caenis
 Quem alertara (por mandato de Antônia) a conspiração de Sejano para
Tibério
 Se torna amante de Vespasiano após a morte de Antônia
 Depois da morte da esposa de Vespasiano ela se muda para sua casa como
concubina (imperatriz sob todos os aspectos, menos no título)
 Conquistou prestígio e fortuna pessoal, e sua proximidade ao imperador
lhe deu oportunidade de ter uma influência política nos bastidores
(recomendando indivíduos para o cargo de governador e general)
• Conforme Annelise, o reinado de Vespasiano foi uma mistura
judiciosamente filtrada de coisas antigas e coisas novas, representando um
rompimento com seus predecessores enquanto, ao mesmo tempo, copiava
suas características mais populares e bem-sucedidas.
• Morre de caganeira

b) Tito
• Assim como Vespasiano, governou sem uma imperatriz ao lado.
Conforme Annelise, tratava-se de uma decisão que em princípio prometia
o fim das acusações que sofreram os imperadores Júlio-claudianos (de
serem governantes com saias.
• Alcançou renome como comandante militar ao servir sob as ordens do seu
pai na Judeia, durante a primeira guerra judaico-romana. E foi neste
contexto de guerras que conheceu Berenice.
• Sob o reinado do seu pai, Tito coletou receios entre os cidadãos de Roma
devido ao seu serviço como prefeito do corpo de guarda-costas do
imperador, conhecido como a guarda pretoriana, bem como devido à sua
intolerável relação com Berenice.
• Tito teve duas esposas, Arrecina Tertulla e Márcia Furnilla (com quem
teve sua única filha, Júlia Flávia)
• Contrariando todos os prognósticos Tito fora um excelente imperador,
conforme Suetônio: Tito, chamado do mesmo jeito que o seu pai, foi
querido por todo o povo romano, coisa muito difícil. Era tão superior que
era um prazer para a raça humana, foram estas características o que lhe
fizeram ganhar o afeto da população.

c) Domiciano
• Segundo Suetónio, cometeu vários abusos enquanto seu pai foi imperador,
entre os quais dois se destacam: arrebatou a legítima esposa de Elius
Lamia, de nome Domícia Longina, para a tornar sua (o que, de facto, veio
a acontecer) e preparou uma expedição militar que a todos pareceu
desnecessária e que lhe valeu uma forte reprimenda de seu pai, que o
castigou, humilhando-o perante o irmão, Tito. Desde então, adopou
habilmente, um ar modesto e demonstrou mesmo uma certa inclinação
para a música e para a declamação, encobrindo, assim, o seu desejo de
poder.
• Quando Vespasiano morre e lhe sucede o filho Tito, começou a conspirar
contra o irmão, ora aberta, ora secretamente, e depois da morte deste não
deixou de ultrajar a sua memória por diversas vezes.
• Segundo Suetônio, o imperador tinha um apetite sexual desmedido e isso
levava-o a considerar todos os atos sexuais como uma forma de fazer
exercício físico. A dissolução, porém, acabou por o tornar responsável pela
morte de Júlia, sua sobrinha.
• Já casado com Domícia Longina, acabou por seduzi-la e amá-la, mas
quando descobriu que se encontrava grávida, mandou-a abortar, fato que
lhe provocou a morte.
• Contudo, estas situações não impediram que a primeira parte do seu
reinado fosse bastante produtiva, já que o Imperador, demonstrando um
sentido de responsabilidade, procurou administrar cuidadosamente o
Império.
• Nesse sentido, deu numerosas provas de generosidade, recusou heranças,
concedeu anistias, fortificou as fronteiras, melhorou a agricultura e
estimulou as artes e as letras, procurando restaurar bibliotecas que tinham
sofrido danos em incêndios (apesar de não ser dado à leitura ou à escrita).
• Dedicou-se também a granjear simpatias junto do exército e do povo,
aumentando consideravelmente os vencimentos dos soldados, por um
lado, e organizando variados jogos de anfiteatro e circo, por outro,
oferecendo presentes em forma de víveres e dinheiro, tanto à plebe, como
às outras classes sociais
• Procurou ainda moralizar os costumes (em contraste com a sua vida
dissoluta), impondo severas penas aos delatores, castigando juízes que se
deixavam subornar e aplicando a pena capital às Vestais que não
cumpriam o dever da castidade.
• Empenhou-se na reconstrução de monumentos (onde fazia gravar o seu
nome sem mencionar o do primitivo fundador), erigiu templos e consagrou
mesmo um santuário à família Flávia. Chegou ainda a proibir que
erigissem estátuas em seu nome no Capitólio que não fossem de ouro ou
prata e que não tivessem um determinado peso.
• Para além disto, tomou a seu cargo a designação de governadores
competentes para as províncias e, “para tal, reduziu a influência do
Senado, e retirou-lhe entre outras coisas a nomeação dos governadores.
Segundo Suetônio, libertos seus e membros da ordem equestre detinham
mesmo alguns dos cargos mais importantes do Estado.
• Este período de governação, equilibrado e diligente, durou até à revolta de
Lúcio António Saturnino, que conseguiu, em finais de 86, que algumas
legiões o proclamassem imperador. Porém, a revolta foi sufocada e
Domiciano continuou no poder.
• A dada altura, porém, o seu comportamento muda e a tradição histórica e
biográfica consolidou uma imagem despótica e tirânica de Domiciano, ao
considerar que, nos últimos anos do seu governo, vieram ao de cima
sentimentos reveladores de um temperamento megalomaníaco, fraco e
orgulhoso que o tornou temido e odiado por muitos.
• Contudo, esta situação deveu-se ao facto de Domiciano, pondo em causa
as bases do poder instituído, ter retirado influência ao Senado e ter
exercido zelosamente a justiça, chegando mesmo a condenar magistrados.
Daí as conspirações urdidas contra a pessoa do imperador, e daí a
repressão domiciana que cai a partir de 92 contra toda a ordem senatorial.
• Independentemente das razões que motivaram tal repressão, o facto é que,
nos anos finais da sua vida e reinado, Domiciano espalhou de tal modo o
terror pelo Império, que a morte e o desterro atingiram a aristocracia e a
própria família imperial, sendo muitos dos visados cidadãos notáveis pelo
seu talento, saber ou riqueza. A repressão não se dirigia apenas a pessoas
de alta estirpe e nem sempre tinha, segundo Suetônio, razões
absolutamente válidas. Dentre os exemplos está o de Dominícia.
• Para além de todas as ordenadas mortes, expulsões e torturas, iniciou
também um período de espoliações e de confisco de bens, sendo
particularmente implacável com as exigências fiscais que fazia aos judeus.
• Todo o clima aterrorizador gerado com estas políticas persecutórias
provocou uma animosidade geral contra o imperador e surgiram
conspirações com o intuito de o retirar do poder. Pressentindo um fim
próximo, Domiciano acautela-se com medidas preventivas contra
qualquer agressão, e resguarda-se, quase obsessivamente, de todos os
perigos. Para isso, recusava audiências, mandou matar alguns suspeitos e
fez revestir as galerias por onde passava de um mármore de tal forma
brilhante que reflectia todo o espaço à sua volta. Contudo, estas medidas
não foram suficientes e foi eliminado, numa conspiração que integrava
alguns dos seus amigos e libertos mais próximos e a própria imperatriz,
Domícia.

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