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Nutricao Funcional em Dor PDF
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Rev Dor, 2009; 10: 3: 276-285 ARTIGO DE REVISÃO
RESUMO
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L-dopa, dopamina, norepinefrina e finalmente epine- dos biliares primários em secundários, irritantes da mu-
frina. O aumento nesta via promove resistência à fadiga, cosa intestinal; destruição da mucosa intestinal gerando
à depressão e à dor. Já o D-isômero sintético aumenta hiperpermeabilidade; produção de substâncias algogêni-
a função analgésica da encefalina pela inibição de sua cas e pró-inflamatórias capazes de atingir a circulação
degradação pela enzima carboxipeptidase A (encefali- sistêmica e ativar o sistema imunológico, seguido de
nase). Animais que respondem mal à analgesia por acu- reações alérgicas e autoimunes de diferentes graus de
puntura podem se tornar bons respondedores mediante intensidade segundo genótipo do paciente.
tratamento com D-fenilalanina21. Na presença destas alterações da microbiota deve-se
Não deve ser esquecido que faz parte na investigação equilibrar o ambiente intestinal pela remoção de patóge-
hormonal nos pacientes com dor musculoesquelética, nos, alérgenos alimentares e xenobióticos; reinoculação
a pesquisa de diagnósticos diferenciais e enfermidades de enzimas digestivas; recolocação de pré e pró-bióticos
associadas como, diabetes melito, hiperparatireoidismo, (simbióticos) e reparo da mucosa intestinal com nu-
insuficiência adrenal, disfunção tireoidiana, além dos trientes essenciais e dieta hipoalergênica.
hormônios sexuais. O consumo de alimentos os quais o indivíduo é hiper-
sensível (alergia ou intolerância alimentar) pode desen-
DIGESTÃO, ABSORÇÃO E INTEGRIDADE DA cadear enxaquecas e outras dores crônicas de cabeça,
BARREIRA INTESTINAL como bem documentado na literatura23,24; mas também,
dores musculoesqueléticas e artrites25-27. Evitar o consu-
O desequilíbrio microbiológico (disbiose gastrointesti- mo desses alimentos pode resultar na melhora e comple-
nal) é frequente na clínica diária do paciente em trata- ta remissão da síndrome dolorosa a um baixo custo e alta
mento de dor musculoesquelética, porém não apenas eficiência. Muitos pacientes podem apresentar enteropa-
devido ao uso constante de analgésicos. O problema da tia ao glúten (doença celíaca) e manifestar dor artrítica e
digestão não começa no estômago, nem na boca, mas sinovite crônica; a dor e inflamação podem regredir com
sim, num meio socioeconômico que priva as pessoas de uma dieta sem glúten28.
preparar refeições saudáveis e consumir esses alimen- Um desequilíbrio de toda microbiota intestinal ou uma
tos relaxadamente, com predomínio da atividade paras- resposta individual há um único tipo de bactéria endó-
simpática. A má dentição, xerostomia, hipocloridria, gena pode levar a uma inflamação sistêmica, artrite,
colestase, colecistectomia, insuficiência pancreática, vasculite e dor musculoesquelética. A erradicação desta
atrofia da mucosa e alteração da motilidade intestinal, infecção oculta ou da colonização da mucosa intestinal,
hipercrescimento bacteriano intestinal são contribuintes geralmente resulta em marcante redução da inflamação
importantes e comuns para má digestão e absorção. Frente sistêmica e suas complicações clínicas, como exemplo
a estes fatores sempre se deve considerar uma aborda- no caso das artrites psoriáticas29.
gem nutricional e odontológica, pois contribuem para Deve-se ressaltar que a disbiose também pode ocorrer
dor e disfunções musculoesqueléticas em consequência em diferentes locais além do trato gastrointestinal, como
a má nutrição de macro e micronutrientes. Indivíduos nasofaringe, seios da face, pulmão, pele e trato geni-
privados de luz solar por longos períodos do dia devem turinário.
contar com dieta rica em vitamina D, geralmente nestes
casos é difícil atingir um nível de prevenção de sua defi- DESTOXIFICAÇÃO E BIOTRANSFORMAÇÃO
ciência; qualquer dificuldade na digestão, emulsificação HEPÁTICA
desta gordura solúvel pode levar a hipovitaminose D e
resultar em consequências musculoesqueléticas como, À medida que nosso ambiente tem se tornado mais po-
osteomalácia e dores constantes muitas vezes esquecidas luído e os pesquisadores têm compreendido melhor os
na prática clinica22. efeitos adversos dos xenobióticos (metais e químicos
A associação entre doenças inflamatórias e disbiose in- tóxicos) os profissionais de saúde terão que cuidar da
testinal é uma situação comum e desfavorável à saúde do capacidade de destoxificação e sobrecarga destas substân-
ser humano. Havendo disbiose, gera-se um desequilíbrio cias nocivas ao organismo, como parte na prevenção e
no organismo pelos seguintes mecanismos viciosos: tratamento das doenças. Atualmente muitos estudos têm
destruição de nutrientes; inativação de enzimas diges- se preocupado na participação de xenobióticos em doen-
tivas; desconjugação de sais biliares comprometendo a ças como Parkinson30,31, diabete mellitus32-35, distúrbios
digestão e absorção de gorduras; desidroxilação de áci- de hiperatividade e déficit de atenção36-38.
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ciona excesso de precursores inflamatórios como os aracni- pressão, isolamento social e estado nutricional. Fatores
donatos e deficiência de fitonutrientes anti-inflamatórios estressantes e depressivos na vida promovem o desen-
como vitamina D, zinco, selênio e inúmeros fitoquímicos volvimento, persistência e exacerbação dos distúrbios
que reduzem nutricionalmente vias inflamatórias43-46. dolorosos e inflamatórios por mecanismos nutricionais,
Os três melhores exemplos de correção nutricional deste hormonais, imunológicos, oxidativos e microbiológicos.
problema são aqueles relacionados com a deficiência de Eventos estressantes e a consequente cascata neurohor-
vitamina D, desequilíbrios de ácidos graxos e hipercon- monal resultam em acelerada utilização metabólica de
sumo de açúcares simples e gorduras saturadas. nutrientes e aumento de sua excreção urinária (p.ex.
A deficiência de vitamina D é um sério problema de saúde triptofano e zinco, magnésio, retinol, respectivamente),
pública que afeta todas as regiões do planeta. Os efeitos que se somam aumentando os desequilíbrios e depleções
adversos incluem inflamação sistêmica47 e dor muscu- nutricionais, particularmente na resposta ao estresse
loesquelética crônica48, ambos podem ser resolvidos agudo ou prolongado54-56.
rapidamente pela correção da deficiência nutricional. A depleção de triptofano (consequentemente serotonina
O excesso no consumo de ácido aracdônico e deficiên- e melatonina) diminui o limiar da dor pela falta de se-
cia dos ácidos alfa-linolênico (ALA), gama-linolênico rotonina antinociceptiva e aumenta a inflamação devido
(GLA), eicosapentaenóico (EPA), docosahexaenóico à deficiência na produção endógena de cortisol antiin-
(DHA) e oléico sutilmente aumentam a tendência nutri- flamatório e liberação adrenal também serotonina-de-
genômica em favor da inflamação sistêmica. A correção pendente11. Estresse grave, inflamação e fármacos imu-
desse desequilíbrio tem sido consistentemente provada nossupressores utilizados para inibir lesões teciduais
como de valor significativo no controle das doenças in- (p.ex: ciclosporina) aumentam a excreção urinária de
flamatórias crônicas49,50. magnésio57. Esta eventual depleção de magnésio mani-
O aumento da inflamação sistêmica e do estresse oxi- festa-se com hiperalgesia, depressão e outros distúrbios
dativo é correlacionado diretamente à carga glicêmica51. psiquiátricos e do sistema nervoso central58,59. Além
O consumo de ácidos graxos saturados, como em sor- disso, dados clínicos experimentais tem mostrado que
vetes52 e fast-foods desencadeiam ativação do NF-kB a deficiência de magnésio acarreta um estado de infla-
pelo aumento na produção de mediadores inflamatórios 53. mação sistêmica associado ao estresse oxidativo e au-
A tríade deficiência de vitamina D, desequilíbrio de áci- mento dos níveis de neurotransmissores nociceptivos e
dos graxos e hiperconsumo de açúcares e gorduras satu- pró-inflamatórios de substância P60.
radas são típicos do padrão da dieta americana e as con- O estresse aumenta a secreção de prolactina, um
sequências clínicas dessas escolhas alimentares é uma hormônio que tem importante ação patogênica na inflama-
evidente epidemia de doenças inflamatórias e metabóli- ção crônica e autoimunidade61,62.
cas, porém pouco lembrada no paciente com dor crônica Estudos verificaram que a ansiedade e o estresse psi-
musculoesquelética. cológico estão relacionados à redução parcial de mag-
nésio. O reequilíbrio corporal após o estresse é realizado
EQUILÍBRIO PSICOLÓGICO E EMOCIONAL – através da ativação do eixo hipotalâmico-hipofisário-
INTERAÇÃO CORPO E MENTE adrenal (HHA), que libera a secreção de catecolaminas
e cortisol.
Estudos têm demonstrado que a depressão pode estimu- A síndrome fibromiálgica é uma miríade de reações fi-
lar a produção de citocinas pró-inflamatórias, que con- siopatológicas que se estendem do hipotálamo às mi-
tribuem para o desenvolvimento de doenças crônicas não tocôndrias, provocando alterações termorregulatórias
transmissíveis, e, consequentemente, para o envelheci- como intolerância ao frio, desordens do apetite, distúr-
mento. Bem como, a disfunção dos sistemas neuroendó- bio do sono74. Adicionalmente, a redução no aporte de
crino e imune pode estar associada ao desenvolvimento glicose para o interior da célula, com redução na forma-
de alergias e doenças autoimunes, obesidade, depressão ção de ATP, favorece o surgimento de sintomas de fadiga
e aterosclerose. O estresse psicoemocional crônico re- e baixa concentração.
duz a imunidade da mucosa intestinal favorecendo sua Diversos estudos clínicos e experimentais têm apontado
permeabilidade, disbiose e reações autoimunes infla- que o estresse psicoemocional crônico reduz a imunidade
matórias e alérgicas anteriormente comentadas54-56. da mucosa intestinal, aumentando sua permeabilidade e
Diversos estudos têm apontado para uma interconexão consequentemente levando a uma hipercolonização bac-
entre dor, inflamação, estresse psicoemocional, de- teriana. Estes microorganismos estimulam resposta imu-
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