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Resumo:
Justificativa da pesquisa
Para Lima Jr. (2001), no Brasil, a pressão sobre o Estado, tendo como referência as
possiblidades contidas na noção contemporânea de direitos humanos, vem ocorrendo a partir da
década de 1980. As organizações da sociedade civil vêm desenvolvendo estratégias de
reivindicação dos DESC (direitos econômicos sociais e culturais), através de três mecanismos: a
justiciabilidade – enquanto possibilidade de se exigir direitos face ao Poder Judiciário -, as
políticas públicas e o monitoramento.
A educação, como outros direitos econômicos, sociais e culturais, foi assegurada na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e, mais especificamente, no Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), de 1996.Em relação ao PIDESC, Comparato (2003)
chama a atenção sobre a conjuntura em que ocorreu sua elaboração, sobretudo a invisibilidade
política, importa pela Guerra Fria, de serem garantidos, num único tratado, tanto os DESC
quanto os direitos civis e políticos, previstos no Pacto sobre Direitos Civis e Políticos, também
de 1966.
Os Pactos de 1966 foram criados para atender o Conselho Econômico e Social das Nações
Unidas que, em 1946, determinou a criação da Comissão de Direitos Humanos, que tinha,
entre suas atribuições, a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos, finalizada
em 1948, e, a seguir, a constituição de um documento que conferisse força jurídica ao
primeiro, como “um tratado ou uma convenção internacional” (Ibidem, p.276).
O Brasil ratificou os dois pactos em dezembro de 1991, por meio do Decreto Legislativo nº 226,
o que significa que o País comprometeu-se internacionalmente em cumprir suas
determinações. A própria Constituição Federal, em seu artigo 5º, parágrafo 2º, afirma que os
direitos e garantias nela expressos “não excluem outros decorrentes do regime e princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte”. Na Declaração de 1948, a educação está assegurada no Artigo 26, que determina
ensino elementar obrigatório e gratuito, a generalização da instrução técnico-profissional e a
igualdade de acesso ao Ensino Superior, além de ter como objetivo o pleno desenvolvimento
da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos e liberdades
individuais.
Em 1983, o marido por duas vezes, tentou assassiná-la. Na primeira vez, com arma de fogo,
deixando-a paraplégica, e na segunda, por eletrocussão e afogamento. Após essa tentativa de
homicídio ela tomou coragem, o denunciou, pôde sair de casa devido a uma ordem judicial e
iniciou a batalha para que seu então marido fosse condenado. Entretanto, o caso foi julgado
duas vezes e, devido alegações da defesa de que haveria irregularidades, o processo continuou
em aberto por alguns anos.
Em razão desse fato, o Centro pela Justiça pelo Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê
Latino - Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), juntamente com a
vítima, formalizaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da OEA, ocasião em que o país foi condenado[2] por não dispor de mecanismos
suficientes e eficientes para proibir a prática de violência doméstica contra a mulher,
sendo acusado de negligência, omissão e tolerância.
Assim, o governo brasileiro se viu obrigado a criar aprovar um novo dispositivo legal que
trouxesse maior eficácia na prevenção e punição da violência doméstica e familiar no Brasil.
Segundo a relatora da lei Jandira Feghali:
“ Lei é lei. Da mesma forma que decisão judicial não se discute e se cumpre, essa lei é
para que a gente levante um estandarte dizendo: Cumpra-se! A Lei Maria da Penha é para ser
cumprida. Ela não é uma lei que responde por crimes de menor potencial ofensivo. Não é uma
lei que se restringe a uma agressão física. Ela é muito mais abrangente e por isso, hoje, vemos
que vários tipos de violência são denunciados e as respostas da Justiça têm sido mais ágeis.
”
A lei alterou o Código Penal, como a introdução do parágrafo 9, do Artigo 129, possibilitando
que agressores de mulheres em âmbito doméstico ou familiar sejam presos em flagrante ou
tenham sua prisão preventiva decretada. Estes agressores também não poderão mais ser
punidos com penas alternativas. A legislação aumenta o tempo máximo de detenção previsto
de um para três anos; a lei prevê, ainda, medidas que vão desde a remoção do agressor do
domicílio à proibição de sua aproximação da mulher agredida.
Segundo dados de 2015 do Ipea, a lei Maria da Penha contribuiu para uma
diminuição de cerca de 10% na taxa de homicídios contra mulheres
praticados dentro das residência das vítimas.
A prisão de mulheres no Brasil
No início do século XX, a situação das mulheres encarceradas foi narrada nos relatórios oficiais,
sobretudo por meio dos estudos e projetos de Lemos Brito, advogado e deputado que, em
1923, recebeu do Ministério da Justiça a incumbência de elaborar projeto de reforma
penitenciária. Na obra “As prisões no Brasil”, em que descreve prisões brasileiras,
classificando-as como “galés19 infectas”, afirma que as mulheres ficavam “misturadas em
geral com os criminosos de outro sexo e com os próprios escravos, não demoravam a ser
reduzidas à mais lamentável miséria física e moral”.
Nos relatórios oficiais, também chama a atenção os julgamentos morais que permeiam a
descrição da situação das mulheres presas. De um lado, havia a necessidade de fazer uma
distinção entre as presas comuns e as “vagabundas e as ébrias”22: “Havia um juízo de moral
subjacente no discurso dos que elaboravam esses relatórios, que os levava a discriminar e
proteger as presas comuns condenadas por infanticídio, aborto, furto etc... diferenciando-as
daquelas detidas pela polícia e enquadradas nas contravenções de vadiagem e embriaguez”.
Para Lemos de Brito, as prisões para mulheres, devidamente isoladas dos homens, deveria ter
por objetivo “transformar essas „ninfomaníacas, com odor di femina, portadoras de um fluido
pecaminoso‟ em mulheres dóceis, obedientes às regras da prisão, assexuadas e
trabalhadeiras”.
2. Pode-se cantar, mas não berrar; cantos que não sejam indecorosos;
5. Não deverão isolar-se duas a duas, pelos cantos, ou não tão afastadas que torne difícil ver o
que dizem e fazem;
6. Deverão atender prontamente o sinal para terminar o recreio e porem-se logo em silêncio e
em fila
A incursão de práticas teatrais em presídios tem início, como atividade aprovada pelas
unidades penais, em meados dos anos 70, período em que organizações difusoras de políticas
de direitos humanos e denunciadoras das torturas e abusos do governo militar geraram um
leve abrandamento da rigidez modelar das propostas de encarceramento.
Esse movimento introduziu, ainda que de forma irregular e pouco integrada, algumas
propostas diferenciadas no trato com a população carcerária. Surgem então iniciativas que
atribuem à arte teatral relevância social e artística, defendendo sua presença em prisões
como instrumento capaz de proporcionar a homens e mulheres presos uma experiência
estética propiciadora de uma tomada de consciência oriunda da convivência grupal e do
desafio de criação de um espetáculo.
Ruth Escobar precisou responder processo criminal, acusada de incitar os presos, através do
teatro, a uma rebelião que irrompeu no dia de Natal de 1980, na Penitenciária do Estado,
causada por uma briga durante o jogo de futebol.
Rita Freire Costa, responsável pela criação de cinco espetáculos teatrais com detentas da
Penitenciária Feminina da Capital, é interrompido em 1983, acusado de propiciar a fuga de
duas integrantes, que conseguiram escapar da escolta policial durante o transporte das
detentas a um espaço de apresentação externo ao presídio.
Esse panorama é alterado quando o TIPP Center e a FUNAP implantam o Projeto Drama em
diversas unidades prisionais de todo o Estado de São Paulo. Este projeto começou em 1995,
no Presídio Ataliba Nogueira, em Campinas, como projeto-piloto, e atingiu 34 unidades
prisionais até seu encerramento, em dezembro de 2001. Sua metodologia utilizava técnicas
Jorge Spínola dá início, em 1998, a um processo de ensaios que tem como objetivo a
encenação de O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, dentro do COC – Centro de
Observação Criminológica, ala de segurança máxima do então existente complexo do
Carandiru, onde ficavam detidos presos “jurados de morte”, caso estivessem em contato com
a massa carcerária: estupradores, policiais corruptos e justiceiros.
O espetáculo não só foi apresentado dentro da unidade como obteve também o direito de ser
representado em outros presídios, abrindo um precedente que possibilitou uma série de
apresentações públicas de O Auto da Compadecida, durante o ano de 1999, em espaços como
o Teatro Sérgio Cardoso e o Tuca.
popular da dramaturgia de Suassuna, com a montagem de A Pena e a Lei, que iniciou suas
durante todo aquele ano, o grupo constrói O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, texto
escrito em 1933, mas que só conheceria os palcos em uma montagem histórica realizada
pelo Teatro Oficina em 1967, quando o contexto
político do país renovaria os significados
de um texto que, definitivamente, é um dos
mais instigantes já produzidos pela nossa dramaturgia,
e que conquista cada vez mais atualidade
na medida em que as estruturas políticas,
sociais e econômicas do Brasil parecem pouco
ter mudado ao longo de todos esses anos que
nos separam do autor modernista.