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Embora eu ainda não atue como professor de artes, já atuei na escola pública como

professor de outras disciplinas, e as questões raciais sempre estiveram presentes no contexto


escolar, embora não de forma explícita. Eu particularmente vivi uma experiência bastante
interessante em minha época de ensino primário. Por ser o mais escuro da minha família
acabei ganhando apelidos como negrinho, escravo Izauro, preto e outros nomes pejorativos.
Acabei associando o fato de ser negro com algo ruim e me sentia muito triste com meu destino.
Depois acabei me conformando. Certo dia a professora da segunda série perguntou na sala de
aula quem conhecia alguma pessoa negra, pois ela queria fazer uma peça teatral na qual fosse
representada a figura do escravo. Eu me ofereci. Então ela disse: mas você “nem” é negro. O
que me deixou com um misto de confusão e felicidade. Pude ir pra casa e dizer aos familiares
que eu não era negro pois a própria professora havia afirmado. Só anos mais tarde entendi o
racismo por trás das palavras da professora. No fim acabei participando da peça, junto com
outro amigo negro que convidei. A professora fez umas correntes de papel e colocou em meus
braços e no dele para representarmos os escravos do Brasil. Hoje em dia, não sinto vergonha
da cor da minha pele, nem de me assumir como negro, se necessário. Mas sei bem o que é o
preconceito e o que ele pode fazer com a cabecinha de uma criança.

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