Você está na página 1de 16

O DESAFIO DOS BRICs

Georges Blanc
Professor Emeritus HEC - Paris
Professor Associado Fundação Dom Cabral- Belo Horizonte

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
Os BRIC’s e outros emergentes estão transformando a
paisagem econômica e política mundial

BRIC’s( definição da Goldman Sachs) = BRASIL + RUSSIA + INDIA + CHINA

BRIICS’s( definição da OECD) = BRICs + INDONESIA + SOUTH-AFRICA

PRINCIPAIS EMERGENTES =
Os 6 BRIICS
+ MEXICO + ARGENTINA + CHILE
+ THAILANDIA + MALAYSIA
+ TURQUIA + POLONIA + TCHEQUIA + HUNGRIA
+ KOWEIT + EAU

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
Características comuns aos BRICs e outros emergentes
Riscos / Oportunidades

• Taxas de crescimento mais elevadas(em media 4% a mais) do que nas


economias mais avançadas (este diferencial continua com a crise);
• Peso econômico e político dos paises crescendo rapidamente(ex.: G20)

• População com rendas e oportunidades sociais desequilibradas (R/O)


• Capacidades de inovação mais fracas do que nos outros paises (R/O)
• Fraquezas na infra-estrutura e na governança (R/O)

• Hoje, melhor resistência a crise abrindo novas oportunidades.

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
Características próprias dos BRICs

• A Rússia :
1. desenvolvimento na base de matérias primas ( gás, petróleo,
minérios e metais) vendidas principalmente nos paises da ex-Uniao
Soviética e na Europa Ocidental ( 1° cliente : Alemanha);
2. Problemas com a confiabilidade da governança das empresas e do
ambiente de negocio.

• A China:
1. Crescimento muito elevado como necessidade social absoluta;
2. Desenvolvimento na mão do Governo, diretamente e indiretamente;
mas também re-nascença da antiga cultura de empreendedorismo.

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
Características próprias dos BRICs

• A Índia :
1. Grande pobreza e crescimento populacional rápido;
2. Globalização facilitada pela língua inglesa;
3. Grandes famílias empreendedoras, desenvolvendo conglomerados;
4. Sistema e contexto de negocio o mais comparável ao Brasileiro.

• O Brasil :
1. Cresce menos que os outros emergentes;
2. Crescimento e globalização sustentadas pelos recursos naturais;
3. Ainda forte concentração de renda;
4. Empresas nacionais e multinacionais mais maduras, com executivos
mais experimentados do que nos outros BRICS e emergentes.

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
Impactos da internacionalização

• Internacionalização, crescendo rapidamente, das empresas dos paises


emergentes e sobretudo dos BRICs.
( referencias : ranking FDC e 5 Diamonds das maiores multinacionais emergentes
e ranking BCG das 100 primeiras)
• Quando a abertura de um pais aumenta de 10% (= crescimento das
importações-exportações e crescimento dos Investimentos Estrangeiros
Diretos -IEDs), a renda media por pessoa aumenta de 4%.

• Os 3 efeitos da internacionalização nas empresas :


1. As economias de escala, a reprodução das experiências abaixam os custos;
2. A qualidade e a diversidade dos produtos e serviços aumentam;
3. A capacidade de inovação da empresa cresce.
Toda empresa que internacionaliza aumenta sua produtividade e sua diversidade.

Principal desafio para as multinacionais : explorar as vantagens da


globalização junto com as vantagens da diferenciação local
Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc
Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
“O mundo é plano”( Thomas Friedman 2006)
“O mundo não é ainda tão plano : As empresas são mais regionais.”
(Alan Rugman 2008)

• 76% das vendas das 500 primeiras MNCs são intra-regionais


• 78% dos ativos das 500 primeiras MNCs são intra-regionais

Peso das distancias físicas e culturais e dos acordos intra-regionais

IEDs das MNCs Chinesas = 67% na Ásia;


Fortes intercâmbios entre paises asiáticos: Japão , China, Tigres e emergentes;
Economia e empresas Mexicanas muito ligadas com Estados Unidos;
IEDs das MNCs Russas = 89% na Europa;
IEDs das MNCs Brasileiras ainda mais de 50% na América Latina.

IEDs = Investimentos ao estrangeiro direto


MNCs = Empresas Multinacionais

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
Os BRICs (e outros emergentes) são fontes de
oportunidades e mudanças na globalização
1. As oportunidades do baixo da pirâmide
– Ex : microfinança e bancarização das classes mais pobres

2. A de-construção / re-construção das cadeias de valor mundiais


– Ex : os casos da Air-Ties, da Li& Fung, o crescimento da Flextronics...

3. A aceleração dos processos de inovação


– Ex : incorporação sistematizada das tecnologias estrangeiras na China..

4. A procura de talentos
– Ex: as Multinacionais de IT Indianas faltam engenheiros qualificados ;

5. A curto prazo a crise favorece os emergentes


– Ex : industria de carros...

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
“É nos contrastes das
culturas que moram as
grandes oportunidades de
negócios hoje”
B.Celebi-2007

DOS E.E.U.U.
PARA A
FATURAMENTO RUSSIA
via a CHINA
2004 2007 e a TURQUIA
Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc
Agosto 2009 $700Mi HEC$Paris
50Bi - Fundação Dom Cabral
A CHINA SE DESENVOLVE NO EXTERIOR(1)

• Crescimento do PIB (previsão OECD): 2009 : 6.3% ; 2010 : 8.6%

• O Governo Chinês agora concentra seus investimentos sobre as estatais das


atividades básicas (“upstream”) : infra-estrutura de transportes, energia,
minério,aço e metais, química de base...
“stimulus package” 2008-2009 =600 bi US$ para as estatais.

• O Governo estimula a privatização nos outros setores e a criação e


desenvolvimento de PMEs, como complementares ou afiliadas às grandes
empresas, estatais e privadas;

• Com reservas elevadas e grandes excedentes de conta corrente, a China tem


uma alta capacidade de investimentos no exterior, daí a campanha anti-
protecionista do Governo Chinês, frente as duvidas dos outros paises sobre a
lógica comercial das estatais Chinesas, consideradas “braço do Governo”
(as estatais = 90% do IED Chinês)

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
A CHINA SE DESENVOLVE NO EXTERIOR(2)

• Enquanto o IED mundial caiu 20% em 2008 o IED da China dobrou e segue
aumentando em 2009 ( Ex: Chinalco comprando18% de Rio Tinto)

• 67% do IED na Ásia 60% nos setores de serviços


• 21% na América Latina 15% em petróleo e mineração

• Por que a China investe fora ?

– Segurar recursos naturais para alimentar o crescimento interno rápido;


– Empresas chinesas precisam de serviços para exportar (shipping & insurance);
– Empresas chinesas compram marcas globais( Ex : IBM PC, MG Rover...);
– Estatais compensam a perda de monopólio interno com a internacionalização;
– Certas empresas procuram custos mais baixos no Vietnam e na África !!

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
A INDIA INOVA SELETIVAMENTE(1)

• Empresas nacionais e multinacionais estrangeiras juntas desenvolveram na Índia


esses 15 últimos anos atividades intensivas de pesquisa, desenvolvimento e
inovação de produtos e de serviços : no ano 2007, a Índia já representou 25% da
pesquisa instalada no mundo.

• O caso dos serviços de IT:


Começou nos anos 94-96 com processamento de dados para bancos e empresas de
transporte aéreo U K e U S, aproveitando internet e a língua;
Acrescentou-se a partir de 97-99 com Business Process Outsourcing que virou a
oferta chave até hoje (Ex: Tata services com Abn Amro nas Américas)
Continuou no inicio dos anos 2000 com manutenção e finalmente gestão completa
dos sistemas informáticos para qualquer tipo de empresa no mundo;
Desde 2004, a atividade de maior valor agregado é o desenvolvimento de software
Ex: Wipro para British Airways e para Citybank.
Tanto empresas indianas( Infosys, Tata services, Wipro ,..), quanto empresas
multinacionais ( EDS, IBM, Microsoft, Gemini...) instalam seus centros de
pesquisa e de prestação de serviços internacionais nas “cidades eletrônicas” (
como Bengalore, Hyderabad, Pune, etc...), perto dos institutos de engenharia e
dos laboratórios de pesquisa fundamental.
Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc
Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
A INDIA INOVA SELETIVAMENTE (2)

Mesmos movimentos por exemplo na industria farmacêutica

• Ao longo dos anos 80 e 90, empresas indianas farmacêuticas (


Ranbaxy, Cipla, Dr Reddys..) nasceram para desenvolver produtos
genéricos;
• Nos 10 primeiros anos a P&D representava menos de 1% das vendas;

• Hoje a P&D representa entre 9% até 12% das vendas dessas


empresas e elas desenvolvem produtos totalmente novos ( para Aids,
diabetes, malaria...).

• As grandes farmacêuticas multinacionais ( Pfizer, Merck...) instalaram


na Índia, desde o inicio dos anos 2000, laboratórios de pesquisa
próprios, e hoje externalizam também em boa parte suas pesquisas
em laboratórios indianos especializados.

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
A questão critica : Inovar

INVESTIMENTOS INTERNACIONAIS EM PESQUISA-DESENVOLVIMENTO


(Respostas das empresas multinacionais sobre suas intenções, 2009)

1. CHINA 65 %
2. ESTADOS UNIDOS 40 %
3. INDIA 30 %
4. JAPAO 20 %
5. REINO UNIDO 20 %
6. RUSSIA 15 %
7. FRANCA 15%
8. ALEMANHA 10 %
....
BRASIL 2%

Brasil não é considerado como um lugar de investimentos potenciais em P & D

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
O imperativo da inovação

1. O Brasil , entre os grandes países avançados ou emergentes, ficou


o pior em volume acumulado de investimentos em educação nos
últimos 40 anos.
= Fraqueza do “push” dos Governos + Fraqueza do “pull” das empresas
A inovação nas empresas estimula o desenvolvimento da educação e
vice-versa: o caso dos Institutos de IT na Índia(ou Embraer com o ITA).

2 .O Brasil é um pais de commodities, e as empresas de commodities (ou


de produtos standard) inovam pouco (P&D abaixo de 2% das vendas),
e essencialmente em processos que mais e mais se transformam em
commodities(T. Davenport, HBR, 2005);

3 . A inovação de produtos e de serviços exige grandes esforços e


investimentos em desenvolvimento de conhecimentos (P&D acima de
4% das vendas): precisa do pull das empresas, adicionado ao push do
Governo, e precisa de estruturas facilitadoras: incubadoras, start-
up, capital de risco....

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral
O imperativo da inovação

Aumentar a P & D, publica e privada, desenvolver novos produtos e


novos serviços hoje no Brasil, representam um imperativo :

• nas Universidades e Centros de pesquisas,


• nas grandes empresas Brasileiras ( Vale, CSN, Sadia...),
• nas subsidiarias das multinacionais estrangeiras ( elas precisam evoluir
mais para metanacionais, valorizando as competências locais),
• e também nas empresas menores de produção ou serviços atuando
dentro das redes das grandes empresas.

Dar um novo sentido à expressão “Brasil, pais do futuro”...

Encontro de Conselheiros Professor Georges Blanc


Agosto 2009 HEC Paris - Fundação Dom Cabral

Você também pode gostar