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Boletim da Rede de Atendimento Socioeducativo a Crianças e Adolescentes de

6 a 14 anos de Belo Horizonte - 3.a edição - julho de 2010

Para apresentar essa edição que ricos e retrospectivos, a formação de São páginas de uma história escrita
encerra a série de três boletins educadores(as) sociais no âmbito das por muitas pessoas, diferentes cir-
que foram produzidos no biênio iniciativas de socialização infantojuve- cunstâncias, uma construção de sa-
2008/2009 para marcar os dez anos nil na rede conveniada, contribuindo beres, uma inovação nos “fazeres”,
do “TUDOHAVER”, vou me valer para esse processo de construção do uma roda que desde o início embalou
de uma composição musical que Sistema Único de Assistência Social, convicções na direção de uma prática
embala algumas performances do que se consolida a cada dia. social inovadora que ressignifique o
Núcleo de Mobilização Social da Se- cotidiano de crianças e adolescentes,
E o que isso significa de fato?
cretaria Municipal Adjunta de Assis- sujeitos de direitos!
tência Social: — Garantia de direitos, qualidade
Boa leitura... Boas recordAÇÕES...
no atendimento, redes de socializa-
— “...Hoje é o tempo do SUAS, Elizabeth E. M. de Almeida Leitão
ção e convivência, inclusão, proteção
tempo de construção... Pra ninguém social... experimentada no cotidiano
ficar de fora a hora é de inclusão”... Secretária Municipal Adjunta de
socioeducativo junto a crianças e Assistência Social
Nas páginas a seguir, poderemos tes- adolescentes em situação de vulnera-
temunhar, a partir de relatos histó- bilidade social...

Foto à esquerda: TUDOHAVER – encontro da Regional


Leste no Instituto São João Batista.

Foto à direita: TUDOHA-


VER – encontro da Regional
Barreiro na Creche Com.
Pingo de Gente
TUDOHAVER 10 anos TUDOHAVER 10 anos

TUDOHAVER – A (POSSÍVEL) TRANSFORMAÇÃO PELA EDUCAÇÃO sustenta o Projeto TUDOHAVER ao jovens, pais, gestores) do que quan-
longo desses dez anos. do foi idealizado, às vésperas de um
novo milênio, que conserva profundas
A tecitura intersetorial (organizações
contradições, conformadoras do con-
sociais, Prefeitura, iniciativa privada) é
“É incrível a força que as coisas pare- am em contextos muitos diferentes AMEPPE/Fundação Fé e Alegria e na texto em que operam essa rede de
outra marca de identidade que agrega atendimento e os seus aliados.
cem ter quando elas precisam acon- com o objetivo de transformar esses interação com tantas organizações
sentido e sustentabilidade à iniciativa
tecer”. Essa constatação de Goethe contextos – sinto-me provocada a sociais, por meio de seus educado- Sei que os desafios – certamente dife-
que, quando foi desenhada, pretendia,
alinhava minhas percepções e elabo- pensar em algumas perguntas (apren- res, com gestores governamentais, rentes e mais complexos dos que eu
timidamente, construir uma propos-
rações acerca do mundo desde 1992, di com o muito querido Tião Rocha promotores públicos, técnicos, com conheci – continuam a rondar toda
ta educativa que fizesse sentido para
quando, em visita ao Projeto Axé, em que elas são mais importantes e orga- crianças, adolescentes e jovens, me essa gente. Mas minha intuição (e tal-
uma rede de atendimento a crianças
Salvador, me deparei com ela impres- nizadoras do que as respostas): remetem à vitalidade e à resiliência vez também alguma inspiração) teima
e adolescentes de 6 a 14 anos, que
sa numa das paredes do então minús- - que elementos compõem uma de um grupo incansável de pessoas operava em Belo Horizonte com mui- em me informar sobre a capacidade
culo escritório desse grande e exito- proposta educativa eficiente, eficaz que dedicam seus saberes e fazeres à ta precariedade de recursos. dessa gente de inovar, de buscar co-
so projeto educativo. e efetiva no propósito de, por um formação de outras pessoas e à sua nexões com outras agendas, de seguir
própria formação profissional. Não tínhamos a menor noção, há dez transformando, porque essa energia é
Lembrei-me disso porque coinciden- lado, emancipar os sujeitos envolvi-
anos, de quantos recursos foram de- exatamente a força que faz as coisas
temente, quatro anos após deixar a dos no processo educativo e, por ou- A inquietante busca de conteúdos, senvolvidos e/ou criados a partir des- acontecerem, quando elas precisam
coordenação do Projeto TUDOHA- tro, comprometê-los com uma ética metodologias e formas de gestão que sa oportunidade de focalização de um acontecer.
VER, sou gentilmente convidada a da democracia, da equidade, do bem transformem os muitos e grandes tema:
comum, da convivência pacifista com Seguimos em diálogo, pessoas queri-
escrever uma mensagem no contex- desafios em oportunidades de fazer
o que vive no mundo (humanos, ani- • a compreensão desse trabalho das, a quem abraço com muita admi-
to de celebração dos dez anos desse avançar esse projeto ético-político
mais, recursos naturais)? como uma política pública; ração.
também exitoso processo educativo, de educação popular, me parece
ao mesmo tempo em que sou desa- - que indicadores se apresentam ser a ênfase que • o aprofundamento de dimensões Glaucia Barros
fiada pela instituição onde trabalho como medidas de processos e resul- pedagógicas que concretizam a
– a Fundação AVINA – a supervisio- tados educativos? concepção de sujeitos de direitos Psicóloga. Analista de projetos da
nar a sua estratégia de incidência na para os envolvidos; Fundação AVINA. Ex-coordenadora
- que sinergias devem ser busca- do Projeto TUDOHAVER.
América Latina para uma educação de das para esses bons resultados? • a qualificação e a democratização
qualidade. da gestão das organizações;
Revisitar esses temas, buscar as
Por esses dois exercícios – escrever aprendizagens construídas ao • a articulação política dos educa-
esse texto e construir uma proposta longo de mais de 15 anos em vi- dores e gestores.
educativa junto com pessoas que atu- vências profissionais na FEBEM, na
São muitos e intensos logros que
continuam a se consolidar, hoje, muito
mais numa perspectiva de oferta de
Tião Rocha, Mariza B. Esteffanio e Glaucia Barros dignidade aos sujeitos que aprendem
(educadores, crianças, adolescentes,

Expediente Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social

O Boletim é uma publica- Conselho Editorial de Oliveira; Maria de Fátima Ferrei- Tiragem: 1000 exemplares
ção da Secretaria Municipal Josemary Bernardo ra Loureiro; Marly Trindade da Silva; Prefeitura de Belo Hori-
Adjunta de Assistência So- Soares Mariza Brandão Esteffanio. zonte (SMAAS): R. Tupis,
cial (SMAAS), editada pelo Ronald Jansen Campos 149, 13.˚ andar, Centro
Secretaria Municipal Adj. de Assis-
Projeto TUDOHAVER, com Colaborador Telefone: 3277-6920
tência Social
recursos do Fundo Municipal e-mail: gpsob@pbh.gov.br
da Assistência Social, e distri- Mariza B. Esteffanio Produção Editorial
buído gratuitamente aos pro- Secretaria Municipal Adj. de Assis- Virgínia Loureiro Parceiro
fissionais que atuam na rede tência Social Fotos O Consolador: Beco Sar-
de atendimento a crianças e Equipe de supervisão do Arquivo do Projeto Tudohaver/ gento João Beraldo, 25, La-
adolescentes de 6 a 14 anos, Programa de Socialização goinha Foto acima: Encontro de educadores na Associação Projeto Provi-
SMAAS
conveniada com o Programa Infantojuvenil Telefone: 3421-6562 dência Taquaril, Regional Leste
Supervisão Editorial
de Socialização InfantoJuvenil, Andréia Lúcia Avelar Barcelos; Foto à esquerda: Encontro de educadores no CIAME Pindorama,
em Belo Horizonte. É permi- Assessoria de Comunicação Social
Cristiane de Medeiros Nepomuce- Regional Noroeste
tida a reprodução integral ou do Município
no; Maria José Brant (Deka); Fabiana
em partes, desde que citadas Cerqueira; Neyfsom Carlos Fernan- Assessoria de Comunicação So-
a fonte e o(s) autor(es). des Matias; Maria Beatriz Rodrigues cial da SMAAS

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TUDOHAVER 10 anos TUDOHAVER 10 anos

Um ciclo de vida!* NAS TRILHAS DO “TUDOHAVER”


“Caminhante, não há minho começa na roda, onde quem Foram 7 números do jornal que elas
senta é educador, independente da denominaram de CRIA.
toda reflexão sobre a sustentabilidade caminho, o caminho se idade, da profissão, da função na ins-
Muitas sementes foram plantadas e
institucional e de redes sociais, particu- faz ao caminhar”. tituição, do status. A metodologia vai
larmente a questão administrativo-fi- muitos frutos colhidos nesse caminho.
nascendo, a porta está aberta, todos
nanceira e por último, as preocupações Antonio Machado são convidados a sentar na roda. Além das publicações que inovaram,
e demandas de algumas instituições so- Nosso objetivo, lá em 1998, era cons- incorporando educadores na sua pro-
TUDOHAVER....Não pense que esta-
bre a espiritualidade, tema tratado no truir tecnicamente a proposta polí- dução, foi produzido um CD com o
mos cometendo um equívoco grama-
contexto da formação integral de crian- tico-educativa para o Programa de registro de algumas experiências com
tical... essa grafia era para ressignifi-
ças e adolescentes. Socialização e se transformou numa a música, das crianças e adolescentes.
car e apropriar a expressão TUDO A
Neste ciclo de transições e mudan- VER, era tudo a ver e haver: ver com construção coletiva junto à rede con- E, nesse caminho, houve também uma
ças em que os gestores municipais o coração, haver com os olhos e to- veniada de entidades da sociedade premiação... a experiência do “TUDO-
processam o reordenamento com a dos os sentidos e significados. civil. Foi um rico processo em que HAVER” foi classificada com menção
transferência do programa de sociali- íamos afinando conceitos e concep- honrosa no Prêmio Itau/Unicef em
TUDOHAVER, expressão que lem-
zação infanto-juvenil para a Secretaria ções, dando uma identidade ao atendi- 2001, na modalidade formação de
bra a adolescência do fim dos anos
tudohaver – encontro da Regional Oeste – na Comunidade Missionária de Villarégia / Centro Municipal de Educação, no Programa mento, aliando “saberes” e “fazeres”... educadores, e, fruto dessa premiação,
1990, virou marca de uma iniciativa de
de Acolhida Betânia de Escola Integrada, espera-se que o formação da equipe técnica de super- Foram muitas perguntas e muitas as com a quantia recebida, produziu-se o
O êxito do Projeto TUDOHAVER acúmulo construído nestes 10 anos visão da Secretaria Municipal Adjun- contribuições. O que fazemos? Por Vídeo “TUDOHAVER Brincar”.
Ao comemorar 10 anos de contri- está na sua pedagogia de educação de TUDOHAVER possa ser incorpo- ta de Assistência Social com vistas à que fazemos? Onde desejamos chegar? A AMEPPE, parceira nesses dez anos,
buições à educação de crianças e popular que, à luz da sabedoria do rado nesta nova fase. Caberá ao Fó- construção da proposta político-edu- Que criança é essa? Para onde vai a junto com a rede de ONGs conve-
adolescentes em Belo Horizonte, o mestre Paulo Freire, soube diagnosti- rum das Entidades e às Instituições cativa para o atendimento de crian- adolescência? Fomos registrando tudo, niadas, representou e congregou a
Projeto TUDOHAVER completou car a realidade e ousou propor novos buscar espaços de diálogo para garan- ças e adolescentes e, posteriormente, nossas memórias de cada encontro, as “face” sociedade civil nessa caminha-
um ciclo de vida, um tempo de rica conteúdos e novas metodologias para tir e efetivar os avanços na promoção disseminou iniciativas de formação fotos, sons, vídeos, revistas, boletins... da, tornando-se mais que uma insti-
parceria entre a Secretaria Municipal transformá-la. Assim, o levantamento dos direitos de cidadania das crianças dos educadores(as) do Programa de Nascia a Série de publicações TUDO- tuição parceira, tornou-se uma aliada
Adjunta de Assistência Social de Belo das demandas com as crianças e ado- e adolescentes. Socialização Infantojuvenil. HAVER, como resultado desse empe- na tarefa de contribuir para a defesa
Horizonte, a Ameppe, o Consolador lescentes, com os educadores, as famí-
e dezenas de colaboradoras e colabo- lias e as instituições, a prática educa- Aos parceiros, técnicos da Secretaria Se nos perguntam sobre o caminho nho e esforço de autoria de todos os dos direitos das crianças e adolescen-
radores. A dedicação e a competência tiva dos assessores e a interação com e educadores, inclusive para a Ameppe, do Projeto TUDOHAVER, podemos participantes. tes de Belo Horizonte.
têm sido a marca registrada de todos os educadores e gestores, a avaliação neste novo ciclo de vida institucional, contar uma história que nos mobili- Enquanto o processo ampliado de O caminho não tem fim, mas pode ter
os envolvidos neste exitoso projeto e a reflexão permanente da coorde- um novo tempo nos espera. Que ele za nesses 10 anos. A visão da equipe discussão da proposta educativa se muitas curvas, pontes caídas, subidas
de educação popular. nos seja venturoso! técnica do Serviço/ Socialização é que
nação foram elementos estruturantes dava de forma regionalizada e parti- íngremes. Quem trilhou esse percur-
José Donisete Pinheiro Oliveira fizemos um caminho ao caminhar. Ha- so até aqui espera que cada passa-
Quando falo em ciclo de vida, falo que incorporaram nessa experiência, cipativa com todas as entidades con-
via uma intenção, desejos, motivação, gem transforme-se numa história de
em tempo de contribuições humanas, todas as dimensões de uma política Coordenador da Ameppe – Associação mas não havia uma fórmula pronta.
veniadas, que foi publicada em 2.000,
técnicas e políticas que deixam mar- pública a ser efetivamente implemen- Movimento de Educação Popular Integral iniciava-se um processo de formação solidariedade, de esperança num país
cas, que são referências, que orientam tada pelos gestores municipais. Paulo Englert Fazíamos muitas perguntas sobre de educadores que resultou em avan- mais justo, menos desigual.
e iluminam os caminhos dos mais no- Nessa trajetória, destaco a proposta so- como seria construir um processo ços de concepções e metodologias e Equipe técnica do Programa de Socia-
vos e dos que estão por vir. coletivo que tivesse a autoria de mui- rendeu muitas publicações. lização Infantojuvenil
cioeducativa construída coletivamente,
tas mãos, que expressasse a heteroge-As publicações em forma de revistas
neidade da rede sem ser uma “colcha e boletins informativos sistematiza-
de retalhos”, sem que prevalecesse o vam as discussões que aconteciam
autoritarismo que costuma permear nas oficinas e seminários “TUDOHA-
as relações de parceria entre institui-
VER” acerca da “Identidade e Socia-
ções de diferentes naturezas. O que lização”, “Adolescência”, “Construção
nos orientava eram princípios de uma do Conhecimento”, “Cotidiano da
relação dialógica, de uma perspectivaação educativa”, contribuindo para a
“paulofreiriana”, visão compartilhadaintegração e identidade do Programa
também pela assessoria com o educa- de Socialização na Cidade como um
dor e antropólogo Tião Rocha. todo. E, ainda, um jornal para as crian-
Vieram outros parceiros... a AMEEPE, ças e adolescentes, falando do Estatu-
* Esse texto é dedicado à Dona Diva, do Lar
Cristão para Crianças, que nos deixou no Fundação Fé e Alegria, CMDCA, Usi- to da Criança e Adolescente (ECA),
dia 6 de setembro, e Dona Eva, da Creche minas, Grupo O Consolador. incentivando-as a produzir contribui-
Criança Feliz, que perdeu a sua filha Apare- tudohaver – encontro da regional Oeste – na Comunidade Missionária de Villarégia / Centro ções através de desenhos e textos.
cida no dia 28 de setembro de 2009 O caminho foi ficando redondo, o ca-
de Acolhida Betânia
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TUDOHAVER 10 anos TUDOHAVER 10 anos

CAIXOTINHOS AO VENTO...
A cena era a seguinte: Ele empinava um daqueles “caixoti- A rabiola, um pedaço de linha e reta-
nhos”, um desses “papagaios” que ain- lhos de papel.
Mês de maio de 1999, vento forte e o
da habitam céus da nossa cidade.
Sol ainda brilhava em mais um fim de O carretel era um papelão amassa-
tarde. Ao fundo, carros e caminhões Cheguei mais perto ainda e vi que do e a linha que possibilitava alcançar
em alta velocidade trafegavam pela aquele não era qualquer “caixotinho”. breves, mas, arrasantes vôos, era sim-
BR. Mais à esquerda, famílias moran- plesmente um rolo com emendas a
Não resisti, puxei conversa com aquele
do debaixo de um viaduto. Na outra cada 15 cm daqueles fios amarelos de
menino e não pude deixar de reparar
margem da BR, uma das vilas de Belo sacos de laranja.
nos detalhes daquele brinquedo que,
Horizonte. àquela altura, já “pairava no chão”. Mesmo com toda essa rede de im-
À minha frente, no pátio de um Cen- Seus colegas o aguardavam no pas- provisos e complexa capacidade de
tro Infantojuvenil, um menino que seio para irem embora, mas ele teve reciclagem, eu posso garantir que o
aparentava uns 11 anos de idade, tempo de me contar como fazer um “caixotinho” voava...
equilibrava entre os joelhos uma pas- daqueles. Essa é parte de um texto divulgado na
ta de material escolar. Revista n.º 2 , da Série TUDOHAVER.
O papel utilizado era uma folha usada
Cheguei um pouco mais perto... nem de caderno pautado, dos pequenos. Hoje a cena é a seguinte...
por isto ele se desconcentrou na sua
A “barberla” que une as duas laterais, Mês de maio de 2009, vento forte e Os carros continuam apressados, fi-
tarefa que, aos meus olhos, parecia
marcadas em dobra, era um pedaço o Sol ainda brilha em mais um fim de tas cassetes viraram relíquias... não há
difícil.
de fita cassete. tarde. mais famílias morando sob o viaduto
da Pedro II, a Vila São José passa por
um processo de urbanização e o me-
nino cresceu...
Onde estará esse menino, hoje, um
jovem de aproximadamente 21 anos?
Onde estarão voando esses caixoti-
nhos que embalaram a infância dele?
Qual será a lembrança que ele leva no
seu coração dos tempos de Centro
Infantojuvenil? O TUDOHAVER segue embalando o
Onde andarão as educadoras que fi- sonho de, a partir da reflexão-ação
zeram parte da sua jornada comple- e de muita roda, continuar fazendo a
mentar no Programa de Socialização? diferença na vida de tantas crianças e
adolescentes, na vida de tantas edu-
O caixotinho que voava no ar ganhou cadoras.
força e virou símbolo do Programa de
Formação de Educadores conhecido Muitas mudanças e muitas permanên-
como TUDOHAVER. cias, o que dá a essa trilha educativa
um fôlego sempre renovado.
A Secretaria Municipal de Desenvolvi-
mento Social virou Secretaria Munici- Dez anos se passaram e acreditamos
pal Adjunta de Assistência Social. que nossa mensagem de esperança e
cidadania deu frutos.
A AMEPPE, que nesse período se jun-
tou à Fundação Fé y Alegria, hoje re- A gente se encontra em maio de 2019
toma suas trilhas originais. pra continuar essa prosa... Até lá!!

O apelo pela preservação do Planeta Maria José (Deka) Brant


que esse “caixotinho” já anunciava ga- Assistente social e técnica do Programa
nhou alcance planetário. de Socialização
Ilustração: Daniel Sander da Silva Fonseca, educando das Obras Sociais da Paróquia Santo Inácio de Loyola

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A palavra é sua A palavra é sua

tudohaver Entrevista: OLHARES DE QUEM FAZ PARTE DA HISTÓRIA tudohaver Entrevista: formadores
Claúdia Lins Machado Coelho e Adriana denadores, possibilitando o desen- cenário que exige mais atenção em Fizemos uma roda de conversa com alguns formadores para saber o que significou o TUDOHAVER para cada um deles
Neiva Lanza Bagno, coordenadoras do volvimento de uma prática educativa nossa prática cotidiana e nos motiva a em sua vida profissional e pessoal, e o que destacam nestes 10 anos de projeto. Confiram abaixo:
Grupo de Pais dos Educandos - Ciame mais consciente e consistente. colocar os projetos na ordem do dia.
Flamengo As publicações – Série TUDOHAVER e Assim, as ações concretas são imple- Maria Lúcia Santiago e dúvidas, “o que poderia ser”, e, na regional, a gen-
Enquanto representante de o Boletim TUDOHAVER são também mentadas através de projetos peda- te sistematizava. Depois desta formação toda e da
“Quando eu trabalhava no Madre Gertrudes, da Fun-
uma Instituição que participa uma forma de intercâmbio entre as gógicos com mais qualidade, como construção da proposta político-pedagógica a gente
dação Dom Bosco, já sentia que meu fazer pedagó-
do TUDOHAVER desde o início, ONGs, de valorizar as produções e co- também observamos com mais clare- teve segurança e deu o nome de projetos pedagó-
como você avalia estes 10 anos nhecimentos sobre o trabalho, no qual
gico não era muito igual ao de escola. Eu trabalhava
za onde não avançamos e temos de gicos ao trabalho que estávamos desenvolvendo, e
do projeto? os educadores sociais se reconhecem melhorar as nossas ações, reafirman- de forma lúdica com os meninos porque via que eles
tudo entrou neste caminho: as oficinas, oficineiros, os
como membros de um coletivo. do o nosso compromisso junto aos precisavam de alguma coisa mais criativa. E eu inven-
Em todos esses anos participando das voluntários de dança que iam surgindo. Surgiu a arte
educadores,crianças,adolescentes, fa- tava, levava jogos, colocava painéis de pintando o sete.
rodas do TUDOHAVER, contribuindo, A roda continua e as ONGs apro- e terapia (neste período fiz uma parceria com uma
mílias e a comunidade. Hoje me lembro da minha prática e digo que já era
embora aprendendo muito mais, desta- fundam o sentido de suas ações – a escola de formação livre de arte e terapia). Eu traba-
caríamos a importância da construção Socialização, o valor de educar, com Quais são as contribuições do do socialização, já trabalhava esta forma de socializar,
lhava com as educadoras pra elas trabalharem com
da Proposta Educativa, publicada na Sé- o objetivo de desenvolver atitudes TUDOHAVER para a mobiliza- e os meninos começaram a faltar menos.
os meninos, porque entendia que a relação tinha que
rie TUDO HAVER, n.º 4. Esse trabalho construtivas diante dos fatos da vida, ção da rede? Naquela época, fiz um curso de referência pela cultu- ser mais prazerosa. Conquistei uma parada semanal.
foi bastante representativo para a defi- acreditando sempre na possibilidade ra, de biblioteca, e dentro da Fundação Dom Bosco
O TudoHaver recentemente pro- Toda sexta-feira, um pouco de manhã e um pouco à
nição das ações pedagógicas das Organi- de construção de um mundo melhor,
pôs a capacitação – Fórum mais forte, me convidaram pra montar uma biblioteca de uma tarde, a gente parava, avaliava a semana e planejava
zações Não Governamentais, sugerindo insistindo no direito à vida e à justiça.
infância cidadã, uma oportunidade de forma diferente. Eu entendia que a biblioteca tinha a semana seguinte. Eu sentia que o educador estava
a adoção de princípios e critérios de Em que este processo de for-
formação e incentivo à articulação en- quer ser um instrumento lúdico que colaborasse mais satisfeito e mais seguro também porque a gente
atendimento comuns, sendo também mação tem contribuído com as
tre as ONGs que compõem a rede de para que a educação da sala de aula não fosse tão
elaborado a partir da valorização de ações socioeducativas do CIAME ia construindo um caminho juntos. Eu fiz um labo-
socialização, com vistas a contribuir para
experiências, dos saberes e do esforço Flamengo? desgastante, monótona e árida como era. ratório de mim mesma e da equipe e ia buscar esse
o fortalecimento do Fórum - Espaço
coletivo de vários atores sociais. combustível na regional oeste. Então contribuiu mui-
Entendermos o nosso papel, a nossa democrático que propõe dialogar com Então comecei a participar das reuniões da coorde-
O atendimento comunitário a crian- função social, buscarmos a eficiência, o poder público e suas diversas instân- nação na regional (projeto TUDOHAVER) e era ali to para minha vida profissional porque sempre gostei
ças e adolescentes realizado pelas a competência e avançarmos na Pro- cias e a sociedade civil organizada, para que recebia meu combustível, ficava muito feliz em de educação e o TUDOHAVER era uma formação
ONGs é de extrema importância e posta Educativa tornou-se um impera- a garantia dos direitos das crianças e ir àquelas reuniões porque sabia que me dariam su- livre, voltada para pedagogia social, então me atendeu
muitas vezes as próprias ONGs, su- tivo para o Programa CIAME Flamengo. dos adolescentes. Percebemos tam- bem. Dava segurança de trabalho. Era a formação pri-
porte para o que estávamos fazendo, pois eu não sa-
focadas pela rotina de trabalho e pelo A qualificação dos educadores, coor- bém uma articulação mais sistemática mordial pra gente.
isolamento, não faziam uma leitura denadores, através das diversas capa- com a rede de serviços locais, que são
bia se estava fazendo a coisa certa, e essas reuniões
adequada e justa de sua ampla atu- citações do TUDOHAVER, vem ge- aprendizados decorrentes desse diálo- foram me dando segurança e construindo um norte. Isso é um pouco do que tenho pra contar do início.
ação na promoção dos direitos das rando muitas informações, criando um go constante com o TUDO HAVER. Quando veio a proposta de construir o projeto pe- Desde então, começamos a trocar experiências com
crianças e dos adolescentes. dagógico, a gente levava da instituição nossos anseios outras regionais, como formadoras.”
Sendo assim, percebemos que o TU-
DOHAVER vem contribuindo consi-
deravelmente para o fortalecimento
das ONGs, que avançaram do assis-
tencialismo, do imediato, para a revisão
constante de suas práticas pedagó-
gicas. Buscando, cada vez mais, a pro-
fissionalização, perpassando todas as
dimensões: sociopolítica, pedagógica e
administrativo-financeira.
A formação continuada corresponde a
um grande desafio para a realidade
das ONGs, e as capacitações promo-
vidas pelo TUDOHAVER, com refle-
xões coletivas acerca de inúmeros
temas pertinentes, apoiados nas vi-
vências de nosso cotidiano, na realida-
de de nosso trabalho, vêm garantindo
a formação dos educadores e coor- Claudia e Adriana, adolescentes e educadores do CIAME Flamengo. Entrevista com formadores

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A palavra é sua A palavra é sua

Maria Aparecida Duque grupo foi crescendo, se entusiasmando, foram acontecen-


do as reuniões com as técnicas, depois apareceu o Tião
“Eu sempre falo que o TUDOHAVER foi a experiência Rocha, que foi maravilhoso, com aquele entusiasmo, aquela
educativa pedagógica mais rica e completa que durante profundidade, aquele interesse pela educação. Aquilo re-
minha vida de educadora e professora eu tive. Quando vigorava a gente. Depois, surgiram os materiais e a gente
fui convidada a trabalhar no grupo de apoio na Cabana eu tinha muito orgulho de ter participado na elaboração da
não sabia do que se tratava o programa de 6 a 14 anos. proposta político-educativa. Então, começamos a ter uma
Eu tinha sido supervisora pedagógica escolar, e começou a linha de trabalho mais definida e, quando a gente se en-
me incomodar quando cheguei à instituição e percebi que contrava, já tinha ideias mais ou menos semelhantes pra
estava tudo igual à escola. trocar opiniões, para receber mais conceitos, mais ativida-
Na Cabana, havia um professor de capoeira e eu fiz uma des, e, então, ficou maravilhoso trabalhar em instituições
campanha pra levá-lo pra trabalhar com os meninos. De- de 6 a 14 anos.
pois, duas educadoras foram fazer curso de biblioteco- Um destaque, para mim, que era muito perceptível é o
nomia no Centro de Referência, na praça da Liberdade estar junto das crianças e adolescentes nas atividades. Eu
Levindo e, quando elas voltaram, fizeram oficinas e eu fui introdu- não me esqueço de um dos indicadores que é perceber se
zindo também algumas atividades diferentes. Até que, um a criança está alegre. Quando eu percebia que as crianças
dia, nós fomos convidados para uma reunião no Betânia mudavam de atitude, de comportamento, de semblante,
e foi colocada pra nós a idéia do TUDOHAVER, que iria de maneira de ser, de vestir, para mim é um destaque, que
começar conosco, que nós íamos estabelecer objetivos, me emociona. Outro destaque é a gente vencer a barreira
todos aqueles esclarecimentos. Foi muito bonito, porque a dos pais, das famílias, que foi muito grande no início. Na
gente ia às reuniões, tinha as orientações, vinha à institui- entidade em que eu trabalhava houve muita resistência.
Maria Lúcia ção e trabalhava, formulava objetivos, colocava o pessoal A ponto de a diretoria me chamar para conversar, fazer
Rosemary
a par do que estava acontecendo, das mudanças. Então, o reunião com as famílias, e foi um desafio. “

Levindo Diniz Carvalho Então, acho que é um exemplo muito bacana de polí-
tica pública que reconhece esta linguagem da brinca-
“Falando um pouco da minha aproximação com o pro-
deira na infância e a cultura da infância, e a cultura da
jeto, eu já tinha uma experiência com crianças e ado-
cidade que reconhece a especificidade da identidade
lescentes em alguns espaços via Secretaria Municipal
cultural de cada grupo, de cada comunidade e tenta
de Cultura, trabalhando como oficineiro. Ao longo dos
lidar com esta linguagem de uma maneira inteligente.
anos, fui assumindo algumas ações de formação tam-
Pra mim, foi um privilégio poder participar e apren- Rosemary Resende Antunes (Rose) constróem esta roda, e, às vezes, já se leva tudo pronto e
bém. Sou formado em Pedagogia, então, para mim, era
der um pouco mais com o desafio que é pensar uma não se ouve.
muito interessante ver ações educativas acontecendo “Quando vim para o projeto foi para ser brincante, faci-
proposta educativa no contra-turno que seja interes- litadora com os meninos e foi muito bacana porque de- Tive a oportunidade de conhecer o Roquinho, o Levindo,
em espaços que não eram escolares. Acho muito legal
sante pros meninos e que a gente também convença pois eu comecei a brincar com os educadores também. e fui vendo o tanto que eu aprendi. Com o Roquinho, uma
pensar nessa dimensão educativa que este projeto ofe-
as famílias de que esta é uma proposta interessante e O TUDOHAVER me trouxe a possibilidade de uma com- vez só que fizemos uma oficina juntos, eu vi a diferença da
recia. Eu vinha também de uma aproximação com um
não aquela de reproduzir o modelo da escola. preensão maior do que eu faço, por eu estar junto com minha oficina pra dele. Foi bacana esta oportunidade. Eu vi
projeto que aconteceu durante algum tempo, que era o
os meninos e ver a necessidade deles e dos educadores. que cada um tem o seu potencial. Eu sou apaixonada com
Na experiência da brincadeira, é legal contar como
Centro de referência cultural da criança e adolescente,
Quando estou em uma roda, consigo sentir a dificuldade os educadores.
a experiência de infância dos educadores é sempre
que trazia muito a necessidade de pensar a questão do do educador e dos meninos, e fica muito mais fácil falar Para mim, o TUDOHAVER é muito importante e espero
brincar e da linguagem da brincadeira como eixo cen-um eixo que ajuda a perceber a necessidade de uma aos educadores. O TUDOHAVER me trouxe uma pos-
experiência de infância diferente para os meninos. que nesta nova edição eu consiga trazer algo diferente
tral do trabalho com a criança e adolescente. Eu tive sibilidade de crescimento também pessoal. Eu tenho um também. Eu fui fazer alguns cursos para me ajudar a levar
uma formação com este grupo, que me ajudou muito a O projeto sempre tentava trabalhar com a memó- respeito muito grande pelo projeto, acredito no TUDO- algumas coisas. Essa parte do teatro, esta dificuldade de fa-
ria, com as brincadeiras que o grupo conhecia e isso
perceber o lugar que o brincar ocupava na escola, nos HAVER, é como se morasse dentro de mim, é uma coisa zer o educador ser o próprio protagonista da história, ser
ajudava a construir um olhar sensível aos meninos
centros socioeducativos, nesta rede; ou seja, que lugar que sai de dentro pra fora. o artista dele mesmo, e levar estes meninos a se expres-
o brincar ocupa na formação das crianças. dos projetos, com os meninos com os quais eles tra- Antes de participar do TUDOHAVER, eu já brincava, mas sarem mais através do teatro e da arte, porque brincar é
balhavam. Tem até um texto do José Alfredo que fala não percebia o que eu fazia, até chegar no projeto e ver a uma arte.
A escola tem algumas opções, o programa tem outras
“da criança que fui ao educador que sou”. Já somos seriedade do que é o meu trabalho. O tanto que o brincar
e a ideia é de complementar. Não complementar a Para mim, é de uma alegria muito grande perceber que
adultos, mas é a criança que fomos que nos inspira, é coisa séria. O TUDOHAVER me trouxe uma ideia nova
escola, mas a formação dos meninos, para que eles realmente o brincar tem este potencial e é transforma-
nos ajuda a olhar com mais facilidade o grupo com o do que é o brincar, e foi ai que eu fui buscar mais conheci- dor, quando o outro acredita que ele vem junto e que ele
tenham a chance de ter experiências aliadas.
qual trabalhamos. Eu destacaria isso como uma me- mento e, hoje, estudo sobre isso. sabe o porquê da brincadeira, a pessoa senta, participa, e
A questão do brincar é uma opção muito especial e todologia para ajudar a pensar a questão do brincar.” Hoje, o TUDOHAVER é, pra mim, a própria vida. É a roda, acrescenta valores que estou trabalhando numa brincadei-
sensível que todas as instituições acabaram fazendo a dificuldade de fazer essa roda girar, porque não é só sen- ra, que estou resgatando, como a espiritualidade, e isso é
nas suas propostas. tar em roda, tem que ouvir os meninos, porque eles é que muito bacana.”
10 TUDOHAVER julho de 2010 11
A palavra é sua A palavra é sua

Maria Lúcia Parreiras de Carvalho Essa abertura de discutir isso com a escola regular foi um Daí para que a troca de tecnologias e ta, parece-nos duradoura em função nada área tem dos princípios estru-
avanço, um passo muito grande pro programa. ideias entre o TudoHaver e o Arte e de seu acerto. As variações dos forma- turantes de outra. Frequentemente,
“Quando comecei no TUDOHAVER eu era da Regional Cultura acontecesse foi um pulo. E o tos dos encontros e das publicações nos debruçamos sobre questões de
Oeste. Primeiro, a gente foi conhecer as entidades. Gasta- Acho que o mais difícil, talvez, era vencer a barreira da própria
diretoria, porque muitas vezes as educadoras participavam mais importante: aquilo que se troca refletem a vivacidade de um projeto ordem prática e imediata da parceria
mos um tempo pra conhecer como eram as formas de chega cada vez mais rápido na prática que se reconhece incompleto e faz (SMAAS e FMC) que são pensadas
atendimento, como cada entidade trabalhava, qual era o das capacitações, queriam fazer as mudanças mas, quando
chegavam na instituição, encontravam dificuldade para colo- cotidiana com os meninos e meninas. disso força para seu crescimento. de pontos de vista diferentes. Não é
objetivo de cada uma. Foi mais ou menos quando tudo
car em prática o que aprenderam. Então, acho que o avanço simples encontrar uma via que aten-
começou a acontecer, quando o Tião Rocha entrou neste Nos últimos anos, cresceu de manei- Considerando que atualmente a
circuito, ofereceu uma capacitação riquíssima a todos nós, que pude perceber é que em algumas instituições, quando a da satisfatoriamente a ambos. Existe
ra exponencial a necessidade de en- intersetorialidade é uma diretriz
e, então, criamos a proposta político-pedagógica educativa. pessoa que coordena consegue perceber a necessidade da ainda uma urgência de respostas de
contro entre o Arte e Cultura (e seus da política municipal, como vo-
Acho que foi uma riqueza profissional e pessoal para todas mudança, as coisas começam a acontecer e a cara da insti- cada um dos setores da administra-
arte-educadores) e os educadores do cês avaliam, dentro da proposta
aquelas pessoas que estiveram envolvidas no trabalho. Prin- tuição muda. Vi isso acontecendo em algumas instituições e ção pública que torna quase impos-
Programa de Socialização. Percebeu- do TudoHaver, esta participa-
cipalmente na questão do planejamento das atividades, do acho que é um destaque, quando acontece. “ sível a disposição para o encontro e
se, na prática, que o diálogo entre eles, ção das secretarias afins?
processo de trabalho, que foram impulsos para o progresso a discussão intersetorial. É como se a
respeitando-se todas as particularida-
destas instituições. Durante o período em que fiquei, pude A intersetorialidade significa, do ponto urgência não deixasse tempo pra mais
des de suas funções, possibilitava a afi-
perceber como houve mudança nestas instituições, como de vista conceitual, um avanço enorme. nada.
nação de estratégias e métodos; que
contribuiu para o crescimento das crianças e adolescen- Muito antes de se transformar num
por sua vez, possibilitava às crianças O TudoHaver, na medida em que
tes que ali ficavam, e para mim foi um crescimento pessoal foco do projeto da administração mu-
e adolescentes uma vivência cotidiana nomeia a formação de educadores
enorme. Depois disso, a minha própria atuação no projeto nicipal, a Cidade (pensadores, ONG´s,
também cresceu e pude passar às educadoras um pouco do muito mais rica. como sua missão, poderia e deveria
artistas, universidades, etc.) já reco-
conhecimento que adquiri. ter a colaboração dos mais diversos
Surge desse histórico o desejo das equi- nhecia que as demandas e necessida-
setores da administração municipal.
Um ponto que ficou muito marcado para mim em relação pes do TudoHaver e do Arte e Cultura des da população precisavam de res-
Entretanto, isso ainda não acontece
ao projeto foi a possibilidade da discussão com a escola so- de participação e colaboração cada vez postas não de um setor ou outro da
com a atenção merecida.
bre o para casa. A gente sabia da importância dele e de ter mais forte nos processos de formação estrutura pública, mas de ações com-
um tempo pra ele, mas que não podia ficar todo o tempo ali propostos aos educadores do Progra- plementares pensadas à luz do diálogo Por um lado, precisamos reconhecer
só fazendo esta atividade. Foi uma luta essa discussão com ma de Socialização Infantojuvenil. entre as várias tecnologias sociais. os entraves e encontrar maneiras de
as escolas (mas também muito rica), sobre qual realmente driblá-los... Por outro, precisamos de
Nesta trajetória dos 10 anos do Entretanto, o diálogo não se dá facil-
era o papel do para casa para aquela criança e para a família. Maria Aparecida e Maria Lúcia Parreiras vontade política de caminhar no sen-
projeto, tem-se conseguido man- mente. Existem problemas de ordem
tido do diálogo e da ação conjunta.
ter uma continuidade numa mes- estrutural, orçamentários por exem-
Encontrar o outro (pessoa, entidade,
ma metodologia. O que tem con- plo, que inibem de maneira contun-
tudohaver Entrevista: Fundação Municipal de cultura tribuído para essa continuidade? dente ações colaborativas entre as
instituição, grupo) significa, na maioria
das vezes, ter de abrir mão de um sa-
várias equipes temáticas. Para além
Nelson Soares – Projeto Oficinas de do Arte e Cultura (parceria entre a é força essencial para a renovação e Parece que, no fundo, a estratégia elei- ber que se supõe ter.
disso, parece ainda em processo de
Arte e Cultura SMAAS e a FMC) na agenda opera- para o crescimento da qualidade do ta pelo TudoHaver é a do encontro.
maturação o entendimento que uma
cional do TudoHaver. programa. Força que o torna mutável; Entre todos os atores do Programa
Hermany Vasconcelos – Chefe do determi-
capaz de propor alternativas e moti- de Socialização e deles com grupos
Departamento de Fomento e Desen- Entretanto, a colaboração é contínua
var as pessoas nele envolvidas, apesar e pessoas que desenharam
volvimento Cultural – Fundação Mu- desde início do funcionamento de
de todas as dificuldades estruturais histórias bem sucedidas de
nicipal de Cultura ambos os projetos. Na medida em
de sua realização. Por outro, o Arte e educação e de formação de
que os dois se inserem no ambiente
Desde o início do Projeto Tudo- e na prática do Programa de Sociali- Cultura, ao longo dos anos, identifica educadores. A estratégia, que
Haver houve uma preocupação zação Infantojuvenil, a múltipla troca, a necessidade de formar sua equipe nos parece inquestionável, dei-
de congregar/ampliar o processo contaminação, disseminação, releitura, de arte-educadores. Reconhece que xa livres propostas diferentes
com a contribuição de parceiros. etc de ideias, conceitos e metodolo- o encontro entre eles, e deles com as de ação... Se a estrutura é sólida,
Como vocês avaliam a impor- gias acontecem o tempo todo; mes- equipes de coordenação e gestão, é o pode-se brincar com a forma...
tância da Fundação Municipal de mo porque elas não se dão exclusiva- instrumento mais eficiente e vivo de
O boletim é uma imagem disto.
Cultura nesta parceria? não se tornar estanque, repetitivo e
mente entre as equipes técnicas dos Já vimos tanto ele como a revis-
vazio.
A parceria entre a Fundação Munici- projetos; mas também por meio dos ta funcionarem como relato da
pal de Cultura e o Projeto TudoHaver educadores e das próprias crianças e Nesse sentido, os dois projetos se experiência, como porta-voz da
aconteceu até aqui de maneira apenas adolescentes. ligam. Ambos têm a formação dos produção reflexiva dos grupos de
pontual, se considerarmos exclusiva- Outro aspecto fundamental liga de educadores no seu cerne. Trabalhar educadores ou ainda como veículo
mente as oficinas de formação pro- maneira sólida os dois projetos. de maneira inteligente com crianças e de pensamentos que referenciam a
postas pelo projeto Arte e Cultura adolescentes é tarefa demasiadamen- prática do Programa de Socialização
nos encontros do TudoHaver. No ano Por um lado, o Programa de Sociali- te complexa para um só... É neces- Infantojuvenil.
de 2008, apenas, é que se realizou zação entende que o investimento na sário que esse desafio seja pensado
A continuidade da estratégia do en-
uma ação mais organizada da equipe formação e na escuta dos educadores coletivamente.
contro, e por consequência da escu- Vasconcelos
y (Many) A. de
el so n So ares e Herman
12 TUDOHAVER N julho de 2010 13
Oficina de idéias A rede em pauta

Entrevista com sirlei Fernandes Parreiras Silva


Dez anos passam rápido. Parece que educadores comprometidos, outras jetória percorrida pelos educadores, A coordenadora da Creche Comuni- Quais registros você destaca? Na minha vida pessoal, o TUDOHA-
foi ontem. Um grande desafio, aliás, centenas de comunidades envolvidas, comunidades e instituições partici- tária Pingo de Gente, Regional Bar- VER abriu minha visão como mãe,
Destaco a nova visão que o TUDOHA-
uma bela encrenca: construir um pro- milhares de pessoas participando. pantes do TUDOHAVER. reiro, acompanhou o TUDOHAVER como facilitadora, e me proporcio-
VER traz, o seminário com o Tião Ro-
jeto pedagógico que pudesse juntar e desde seu início e possui um caderno nou sonhar. Hoje eu faço faculdade e
Pronto. Entramos em campo: um A roda roda e rola. cha, e as dinâmicas que se encontram
dinamizar uma rede de instituições, na com preciosas informações destes 10 posso dizer que a “injeção de ânimo”
Time, um Jogo e uma Bandeira (cujo neste caderno que são de oficineiros
época 67 ou 76, espalhadas pela Ci- A roda roda e para. anos de projeto. Leia abaixo a entre- para isso foi o TUDOHAVER.
lema foi aprendido em Moçambique): muito capacitados, que o TUDOHA-
dade, não me lembro mais quantas e A roda é o símbolo da parceria. vista com Sirlei Fernandes Parreiras
“para educar uma criança é necessá- VER sempre se preocupou em ofere- Na minha vida profissional, o TUDO-
que atendiam quase ou mais de dez mil Silva para saber mais a respeito do
ria toda a aldeia”. cer. Mas, eu acho que o mais marcante HAVER me proporcionou troca de
crianças denominadas de “6 a 14” anos. É o espaço onde a conversa rola. conteúdo de seu caderno e alguns
é o seminário com o Tião Rocha. função, antes eu era educadora e hoje
As estratégias para este jogo foram destaques do projeto.
Durante seis meses, uma semana por É bom ver o TUDOHAVER se re- eu assumo uma função de coordena-
transformadas num Plano de Trabalho O que você destaca deste semi-
mês, nos reunimos, umas 30 pessoas novando, continuamente, como uma O que há no caderno? ção, tudo isto devido à capacitação do
e Avaliação, o PTA, de difícil constru- nário com o Tião Rocha? TUDOHAVER ao longo desses anos.
estrategicamente convidadas, para, ção, mas elaborados por centenas de roda em permanente movimento em Neste caderno há o registro do iní-
primeiro, desconstruir (e não repro- prol da excelência dos seus resulta- A gente sonhava que as ONGs da O trabalho em si nos proporciona ser
cabeças, mãos e corações. cio do processo do TUDOHAVER, de
duzir) tudo o que não queríamos e, dos. época pudessem ter a nova visão que um ser humano melhor.
todas as oficinas das quais eu partici-
segundo, se tivéssemos competência E, pela primeira vez no Brasil, segundo pei e também das modificações pelas já ouvíamos falar nas reuniões, porém Há mais alguma coisa que você
os experts, surgiu uma política públi- A todos vocês, que fazem o TUDO- o que é novo assusta um pouco, é
e talento, formar um time para jogar quais as instituições foram passando gostaria de destacar?
ca de alto impacto na vida milhares HAVER acontecer diariamente, mi- um desafio. O Tião chegou para dar
um novo jogo: o jogo da vida digna e nhas saudações e profunda estima, ao longo dos anos através da influên-
de crianças e adolescentes, nascidas e esta oficina pra gente como se fôs- Acho importante frisar bastante que
abundante para todas as crianças, sem cia do projeto.
por nascer, construída coletivamente, semos crianças, ele nos tratou como este é um trabalho de equipe, e que
exceção, atendidas pela Rede de As- Tião Rocha
de baixo para cima. Um compromis- O TUDOHAVER veio para modificar crianças e a gente pôde vivenciar um a equipe sempre esteve preocupa-
sistência Social Pública da Prefeitura Educador e Diretor-Presidente do a atuação das entidades, pois, antes da com todas as regionais e todas as
de Belo Horizonte. so ético de Belo Horizonte com suas pouco do trabalho dele. Então tive-
crianças! Um exemplo a ser seguido! CPCD (Centro Popular de Cultura e dele, era feito um trabalho de refor- mos a oportunidade de perceber que instituições e a gente sempre viu no
Daí nasceu o TUDOHAVER: o jogo a Desenvolvimento) ço escolar, e o projeto veio com uma somos capazes, que nós conseguimos andamento desta equipe o amor, o
Eu saí de campo. Fui parar noutras proposta diferente, de trabalho com carinho e a dedicação de buscar o
ser jogado e vencido, por todos! também. Porque não tentar?
paragens, mas pude acompanhar, indi- projetos, mostrando que nós não es- novo e de nos capacitar para o novo.
O time se multiplicou, uma centena de retamente, através do Boletim, a tra- tamos ali pra complementar a escola O que o caderno significa para Então, de certa forma, o desafio que
no sentido de reforço e sim trabalhar você hoje, quando o TUDOHA- nos foi proporcionado em 1998 foi, ao
mais a cidadania. VER completa 10 anos? mesmo tempo, facilitado pela própria
Para mim ele é um baú de informa- equipe na questão da capacitação. Este
A gente tinha encontros todos os me-
ções. Toda vez que tenho dificuldades caderno tem todos os registros dos
ses com as ONGs e a equipe do TU-
ou dúvidas, recorro a ele, porque foi momentos de capacitação de que eu
DOHAVER (Josy, Mariza e Gláucia, na
um processo construído coletiva- pude participar.
época). Então todos estes encontros e
toda esta nova visão que foi construída mente, com toda uma estrutura.
em conjunto, estão registrados aqui. Você recorre a ele com frequên-
Como surgiu a idéia do caderno? cia?
Acho que é importante registrarmos Sim, principalmente para as dinâmi-
tudo aquilo que é proveitoso pra nós cas...
no dia a dia, porque a memória é fra-
O ciclo de rotatividade de funcio-
ca, e com o passar do tempo acaba-
nários é muito grande, então eu re-
mos esquecendo. Então, a partir do
corro a ele para capacitar as edu-
momento em que registramos toda a
cadoras que chegam, para que elas
ação que desenvolvemos em qualquer
possam interagir um pouco com a
setor, temos a possibilidade de voltar
vivência que eu tive a oportunida-
para relembrar e incrementar algo no
de de ter no TUDOHAVER, e as-
dia a dia atual. Às vezes, hoje, quando
4º Seminário TUDOHAVER ano 2000: sim, já se engajarem no trabalho
a gente se depara com alguma dificul-
Tião Rocha (de chapéu), Aidê Cançado e com as crianças tendo uma visão
Glaucia Barros (segunda fila) e equipe téc- dade, eu volto nele, ao início, e vejo
tudo o que foi discutido. Então acho diferenciada da escola.
nica da PBH
muito importante o registro não só Quais as contribuições do
do TUDOHAVER, mas de toda fonte TUDOHAVER para sua
e de toda ação que se faz no dia a dia. vida pessoal e profissional? Sirlei Fernandes P. Silva – coordenadora so-
cioeducativa da Creche Com. Pingo de Gente

14 TUDOHAVER julho de 2010 15


A rede em pauta

Relação dos centros infantojuvenis programa de so-


cialização infantojuvenil/6 a 14 anos
Barreiro Nordeste Leste
Comissão Fé e Esperança da Vila Pinho Fundação Metodista de Ação Social e Congregação São João Batista - Inst
Creche Comunitária da Vila Piratininga Cultural Educ S. J. Batista
Creche Comunitária Maria Floripes Cidade Ozanan Obra Unida da SSV Paulo Grupo de Pais dos Educandos - Ciame
Centro Social Apoio Criança Adoles- Flamengo
Creche Comunitária Pingo de Gente
cente Conj Paulo VI Creche Recanto Comunitário Criança
Creche Lar Cristão das Crianças
Associação Projeto Providência - Feliz
Sicra-Sociedade Irmãos das Crianças Associação Projeto Providência Fa-
Unidade Vila Maria
Movimento Comunitário da Seara zendina
Fundação Oásis
Lar Fabiano de Cristo Associação Projeto Providência Taquaril
Centro de Educação Comunitária Sa-
Conselho Comunitário Social Urbano grado Coração de Jesus Movimento de Promoção Social-Mops
Barreiro Do Bairro S. Geraldo
Educandário e Creche Menino Jesus
Associação Beneficente Caminhar Providência N. Sra Conceição - Pastoral
Conselho Particular N.Sra.Graças-
Providência Nossa Senhora da Con- Negros (Abrigo Granja e Pompéia)
Ssvp / Cantinho da Criança e do
ceição Adolescente Tia Emília Associação Metodista de Promoção
Humana/Amproh
Associação Comunitária da Vila Presi-
Centro Sul dente Vargas Grupo da Fraternidade Irmã Sheilla
Creche Comunitária Infantojuvenil Creche Casa do Sol Associação Shekinah de Assistência Social
Tia Socorro Núcleo de Trabalho e Integração Social
Associação Metodista de Promoção
Creche das Rosinhas - Unidade II Humana / Amproh - Nutris
Centro Educacional Professor Estê- Amas - Associação Municipal de As-
vão Pinto sistência Social / CAC São Paulo Pampulha
Assoc. das Obras Pavonianas Assist. Lar dos Meninos Dom Orione / SEIAS –
Obras Soc. Pe. Agnaldo Obra Social São José Operário
Venda Nova
Conselho de Pais Criança Feliz Gdecom-Grupo Desenvolvimento Co-
Grupo Criança Não é Brinquedo
Creche Dona Quita Tolentino munitário
Escolinha Evangélica de Educação Infantil Providência N. Sra Conceição - Pas-
Obras Sociais Par. Sto. Inácio de Loyola Oeste toral Negros
- Recanto do Menor Inspetoria São João Bosco / Obras
Instituição Beneficente Martim Lutero Sociais Cabana Pai Tomaz Noroeste
Grupo de Amigos da Criança - Gac Associação Dinâmicas Creche Comunitária Lar Infantil Dorcas
Amas/Projeto Menino no Parque Associação Mineira de Proteção à Creche da Ação Social da Paróquia
Associação Querubins Criança Bom Pastor
Centro Educacional Professor Estê- Comunidade Missionária de Villaré- Cen. Educacional Esporte São Francis-
vão Pinto – CEPEP gia/Centro de Acolhida Betânia co (Beneficência Franciscana)
Ação Social Filadélfia da 7ª Igreja Centro de Acolhimento ao Menor San-
Corpo Cidadão
Presbiteriana ta Inêz - Camesi
Norte Obras Sociais Madre Gertrudes Centro Cristão Evangélico Educacional
Assoc. dos Amigos do Centro Social Movimento Familiar Cristão/Cen Ar- Creche Comunitária Eunice Lanza /
Frei José Renato quidiocesano de Belo Horizonte Ciame Pindorama
Abafe - Associação Comunitária do Gabeme-Grupo de Assistência e Be- Ação Social Nossa Senhora Auxiliadora
Bairro Felicidade neficência em Prol do Menor / Asnosa
Obras Educativas Jardim Felicidade Gedam-Grupo de Educação, Desen- Associação Grupo Espírita “O Conso-
Instituto Zilah Spósito Para o Desen- volvimento e Apoio ao Menor lador”
volvimento Humano e Social Grupo de Apoio Criança e Adoles- Associação Assistencial São Tiago
Pequeno Centro de Solidariedade cente Cabana e Região Associação Antônio e Marcos Cavanis
Bettina Associação Comunitária do Bairro (Casa da Criança Stº Antônio)
Oscose - Obras Sociais da Comuni- Nova Gameleira Congregação das Filhas de N. Sra das
dade Santa Efigênia Sociedade Cruz de Malta Neves

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