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INTRODUÇÃO
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Interaccionista), sendo plausível o modo como o sujeito trabalha o mundo, resultando daí a
adaptação a este (Perspectiva Funcional) através da maturação, tanto das estruturas cognitivas
que se observam a nível comportamental (Perspectiva Estrutural), bem como a nível biológico
(Perspectiva Psicobiológica).
Uma grande influência de Piaget foi Alfred Binet, sendo este o psicólogo criador do
1ºteste de inteligência denominado Escala de Inteligência Binet-Simon, que se baseou na
perspectiva inovadora de Idade mental (Binet-Simon, 1908), que consiste no “ nível de
habilidade e de desenvolvimento cognitivo do sujeito (…) agrupado por idades ” (Almeida, L. e col.,
2009, p.12-13) Ao trabalhar no laboratório experimental de Binet, Piaget administrava testes
de raciocínio de Burt e compreendeu que crianças da mesma faixa etária cometiam erros
semelhantes nestes testes, concluindo que o pensamento lógico se desenvolvia
gradativamente. Verificou também que estas tinham modos particulares e diferentes de pensar
e de agir, tanto entre crianças de diversas idades, como entre estas e adultos.
“Ao estudar a génese e evolução do pensamento humano, Piaget veio introduzir mudanças no modo
de encarar o desenvolvimento cognitivo, pondo em evidência os seus aspectos qualitativos que até
então, se considerava que as diferenças de inteligência entre os indivíduos eram diferenças
quantitativas, ou seja, um adulto era mais inteligente que uma criança de 10 anos, e esta mais
inteligente que uma de 5 anos. Piaget vem salientar a importância das diferenças qualitativas: um
adulto pensa de forma diferente numa lógica mais complexa de uma criança de 10 anos, e esta tem
um tipo de inteligência diferente de uma de 5 anos.” (Coimbra, J. e Castro, M., 2003, p.79)
Acerca do assunto, Piaget declara: “observei que embora os testes de Burt tivessem méritos
seguros quanto ao diagnóstico, fundados como eram no número de sucessos e de fracassos, era muito
mais interessante tentar descobrir as razões dos fracassos. Então, travava com meus sujeitos
conversas do tipo dos interrogatórios clínicos, com a finalidade de descobrir alguma coisa sobre os
processos de raciocínio subjacentes às respostas correctas, interessando-me particularmente por
aqueles que escondiam as respostas erradas.” (Simões, M., 1992, p.40)
Piaget utilizava o método de exame clínico que participava tanto da experiencia como
da observação directa. “Na primeira fase da sua obra (1920-1930), Piaget procedeu ao
estudo da lógica infantil. Para tanto, registou as verbalizações espontâneas das crianças,
conversou livremente com elas sobre a representação que faziam do mundo e apresentou-
lhes ainda algumas provas verbais que havia, entretanto adaptado dos testes clássicos de
inteligência. A mentalidade infantil é, assim, caracterizada através de um método puramente
verbal o qual foi precisamente designado por método clínico. Ora, este método, além do
perigo de sugestão que encara, pressupõe da parte dos sujeitos, a capacidade para,
A faixa etária das crianças observadas nesta experiência corresponde ao Período Pré –
impede-a de compreender que, sobre a realidade, há outras perspectivas para além da sua. Por
exemplo, se pedirmos a uma criança a quem se acabou de contar uma história nova, que conte
a história a outra criança, verificamos que ela conta como se a outra já soubesse a história. A
criança tem uma profunda dificuldade em sair do próprio ponto de vista e colocar-se no ponto
de vista de outra pessoa, capacidade que vai ser adquirida no período seguinte. Este aspecto
também é visível aquando das contra-provas que apresentamos, em que a criança afirma que
só ela mesma é que tem razão, como veremos na descrição do experimento.
Na sua obra “O juízo moral da criança” Piaget disserta sobre a entrada da criança
no mundo da moralidade, dos valores, das regras, do certo e do errado e demonstra uma nova
concepção: Assim como a inteligência evolui, a moral também evolui, e ao contrário do que
antes se pensava, a moral que era apenas a interiorização dos valores e das regras que eram
colocadas de fora para dentro através dos pais, dos professores, no processo educativo, passou
a ser nesta perspectiva um processo que advém do papel activo da criança, na construção da
sua própria moral. Ora, este processo obedece a 3 estádios: A anomia, em que a criança está
fora do Universo moral; a Heteronomia, em que a criança entra para o Universo moral (a
moralidade é baseada no respeito pela autoridade e pela obediência) e por fim a Autonomia
em que a legitimação da moralidade se dá pelo contracto, pelo respeito mutuo e pelas relações
de reciprocidade. Por exemplo, se perguntarmos a uma criança quem tem mais culpa, alguém
que partiu 10 copos sem intenção ou quem partiu 1 copo com intenção. Note-se que o que está
aqui em causa é o tamanho do material, 10 copos vs. 1 copo e a intencionalidade. Se
perguntarmos se são as duas pessoas culpadas a criança vai responder que sim, já que houve
dano material. Se perguntarmos quem tem mais culpa, a criança vai responder que é o que
partiu os 10 copos, pois baseia-se no tamanho do dano e não na intencionalidade. Numa
criança que já tivesse entrado para o estádio da Autonomia, a resposta iria que iria ser dada
seria que só tem culpa quem tem intenção.
Um ponto muito importante a referir do presente Período é o Sentimento de
Probabilidade, em que a criança mesmo que tenha aprendido determinada informação sobre
algo, quando alguém lhe apresenta uma opinião oposta, a criança não tem a capacidade de ter
a certeza do que aprendeu, pois não deduz as informações a partir de um raciocínio, ou seja é
facilmente manipulável e influenciável. Esta é uma das características que se observam pela
apresentação da contra-prova, e tende a ser substituído pelo Sentimento de Necessidade,
aquando da passagem para o Período seguinte.
O estudo com crianças de diversas faixas etárias, pressupôs a Piaget a criação de
situações-problema que devem ser resolvidas, onde analisa dois tipos de informação: se as
crianças conseguem resolver o problema e quais as dificuldades que elas apresentam. Estas
situações-problema analisam as noções de conservação ao nível do número, do comprimento,
dos líquidos, da matéria, do peso, da área e do volume.
A nossa experiência aborda apenas quatro destas, passando a citar: a conservação da
substância, do volume, das quantidades contínuas e da correspondência termo-a-termo.
"O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir.
Cria situações-problema".
(Jean Piaget)
Transformou-se uma das bolas 1.Qual destas tem 1.É a (A). 1.Perguntei - lhe porquê.
em salsicha (A), e manteve-se a mais plasticina, ou 2.Porque sim.
bola (B). são iguais?
2.Porquê?
Transformou-se a bola (A) em 1. Qual tem 1.Esta (B). 1.Perguntei – lhe porquê?
bolacha e manteve-se a bola mais plasticina (A) 2.Porque tem mais. 3.Tentei perceber se a criança
(B). ou (B), ou são 3.Sim. estava de facto a pensar nas suas
iguais? respostas ou a responder
2.Porquê? repetidamente do mesmo modo.
3.Então porque tem
mais, é maior?
Dividiu-se a bola (A) em vários 1.Qual tem mais 1.A bola (B) tem 1.Perguntei - lhe porquê.
bocadinhos e manteve-se a bola plasticina, (A) ou mais.
(B). (B), ou são iguais? 2.Porque tem.
2.Porquê?
Nota: Em todas as ocasiões a criança foi incentivada a responder, reforçando sempre o seu
comportamento quando respondia, assegurando - a de que qualquer resposta que a criança
desse seria incentivada pelo simples facto de a ter dado. Demonstrava claramente receio em
falhar ou em dar uma resposta que não fosse algo que eu aprovasse. Demonstrava necessidade
de aprovação e insegurança nos primeiros momentos de resposta.
Transformou-se a bola 1.Se eu puser isto assim 1.Vai subir. 1.Perguntei porquê.
(A) em bolacha. (a bolacha) dentro do 2.Porque pusemos dentro do 2.Não respondia mais do que
copo, a água vai subir copo. isso, por vezes respondia
ou fica igual? sempre de maneira igual
2.Porquê? sempre que percebia que eu
me contentava com a
resposta.
Nota: As respostas da criança neste exercício foram surpreendentes, compreendia que a água
subia ou descia por colocar - mos lá a bola, não conseguia responder por palavras mais
complexas, mas dizia que sempre que púnhamos lá a bola a água subia, e sem bola a água não
subia. A criança demonstrava rapidez e facilidade a compreender e a procurar alternativas ás
situações, estava nesta experiência com mais vontade de participar e muito mais ávida e atenta
ao que eu ao que eu fosse fazer.
Deitou-se a água de A2 em dois 1.Têm os dois o mesmo de 1.Tem o mesmo. 1.Mostrava estar a gostar
recipientes menores e iguais B1 e água ou um tem mais? 2.Porque eu pus. de participar neste jogo e
B2, ficando A1 como 2.Porquê? 3.Sim. interagir com os materiais
testemunha. 3.Porque tu puseste então mais activamente.
estes dois têm tanta água 2.Perguntei porquê?
como o grande? 3.Refiz a pergunta ao
contrário para ver se a
criança estava realmente a
dizer o que pensava ou
apenas reproduzia
continuamente as mesmas
respostas.
Deitou-se a água de B1 em C1 e 1.C1 e C2 têm tanta água 1.Tem o mesmo. 1.Começava a entrar
C2, deixando B2 como como B2? 2.Porque eu pus. numa espécie de
testemunha. 2.Porquê? automatismo e repetição
de respostas.
2.Não perguntei mais para
além do porquê, era
preferível obter uma
resposta compreendendo
porque a criança
respondia daquela
maneira, do que não obter
resposta alguma.
Distribuiu - se a água de B1 e B2 1.Qual é o que tem mais 1.É o grande (A1). 1.Interessante a criança ter
em C1, C2, C3 e C4 e deixou - se água, o grande (A1) ou os 2.Porque eu pus. respondido na anterior que
A1 como testemunha. pequenos (C1, C2,C3 e 3.Não. apesar de existir uma
C4)? 4.É. divisão da água a
2.Porquê? 5.Sim. quantidade era igual, e
3.Mas a mim disseram que agora respondia que era o
não é igual, o que é que tu copo grande.
achas? 5.Naquele momento
4.Então, é igual? colocamos
5.Porque a Maria disse? propositadamente a Maria
ao lado da Francisca para
vermos o quão convicta
das suas respostas estava.
Nota: Evocando o princípio do egocentrismo de Piaget, a criança centrar - se - ia na sua ideia de que a
sua resposta era a que estava correcta, mesmo que lhe fosse dada a ideia contrária á sua. Isto caso
fosse apenas dito pelo experimentador, mas o que aconteceria de facto se colocássemos uma criança
ao seu lado a contrariar a resposta dada? O resultado foi a criança inquirida ter concordado com a
outra criança tinha como propósito criar uma certa disrupção.
Juntamos todas as tampas e 1.Há mais tampas, há 1.Há mais garrafas. 1.Garantiu prontamente
afastamos todas as garrafas. mais garrafas ou é igual? 2.Porque tem mais haver mais garrafas do
2.Porquê? garrafas. que tampas.
3.Achas? 3.Sim. 2.Respondeu assim
porque parecia não ligar a
questões que evolvessem
a contagem do número de
garrafas sendo uma tampa
correspondente a uma
garrafa, mas mais por o
que aparecia
persistentemente no seu
campo visual.
Juntamos todas as garrafas e 1.Há mais tampas, há 1.Há mais tampas. 1.Deu - me uma resposta
afastamos todas as tampas. mais garrafas ou é igual? 2.Porque tem mais. equivalente no exercício
2.Porquê? 3.Sim. anterior mas afirmava o
3.Então aqui tem menos 4.Sim. inverso (o exercício
garrafas e ali mais 5.Agora tem mais. também era uma inversão
tampas? do anterior).
4.Mas no princípio não 2.As duas perguntas
havia as mesmas tampas seguintes foram feitas
e as mesmas garrafas? totalmente para procurar
5.Então, e agora? compreender porque a
criança nos respondia
consoante o que se lhe
deparava mais
predominantemente no
seu campo visual.
3.Pudemos apenas
compreender que
aparentemente a criança
não fazia uma
correspondência número
a número relativamente
ás quantidades
apresentadas, mas sim o
que se apresentasse numa
disposição longitudinal
que se lhe apresentasse
mais no seu campo de
visão - comprimento.
Conclusão
Tendo como ponto de partida estes aspectos essenciais, partimos para a construção das
actividades de observação. Tentamos construir um instrumento, que de certa forma,
contivesse intrinsecamente estes aspectos essenciais para que a nossa observação decorresse
da melhor forma.
No que respeita à aplicação propriamente dita das nossas actividades, de uma forma
geral, podemos afirmar que decorreram conforme o planeado. Conseguimos a aplicação de
todas as actividades em duas crianças com idades entre 4 e 5 anos.
Depois de realizar o trabalho, podemos concluir que de acordo com a bibliografia
referenciada, as crianças apresentam comportamentos normativos de acordo com a sua faixa
etária. No entanto este trabalho teve como objectivo aplicação prática dos conhecimentos da
disciplina de Psicologia de Desenvolvimento, sem fins de avaliação.
O trabalho desenvolvido permitiu a cada elemento do grupo adquirir mais e melhores
conhecimentos sobre o Desenvolvimento da criança, e em particular crianças com idades
entre 4 e 5 anos. Constitui também uma oportunidade para realizar uma comparação essencial,
entre a teoria recolhida inicialmente e os comportamentos observados nas crianças. Assim,
esta comparação permitiu uma melhor integração de conceitos fundamentais da Psicologia do
Desenvolvimento.
BIBLIOGRAFIA
Livros:
Piaget, J.,e Inhelder, B., A Psicologia da criança. 2.ed.Lisboa: Edições Asa, 1995
Internet:
A psicologia de Piaget
http://www.youtube.com/user/INSPETRA#p/c/8C14CAEDB191F201/0/S-QPI3fZue4
GLOSSÁRIO
Semiótica- È a ciência geral dos signos que estuda todos os fenómenos culturais como
sistemas de significação.