Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
',, ., ..
'· I
1 :· · ,
.,
ódio ,e o pavor, obedecia a
gozo, o homem arrancou a
a, seu corpo, sua cabeça·es-
de dor. A noit~ escura não - ;/
'., p1it o Rio de Janeiro, onde passoú num os meses depois, Natalina se
NIM"Uf90 público para o magistério e
ara arrebentar no mundo a
fllllduu l1ttti na UFRJ. #
'~.
nas frinchas de um mom~nto qual uer I • . , , . , , , ,
B!IJO N°' F°'cg
:um Simples piscar de olhos r u q , que s~ reve\ava por ,.
t~de das bordas de um lábi~ / : sorriso ensaiado na me- ' .... '
eu te amo, declaração feita , m' ulll: repetir constante do.' · lhos. Além da ida ao trab~ho, SaUnda não podia sa~ só.
,, .
audível somente para dent
, u1tas vezes em v
f ,
. , ,
oz s11enciosa, Os filhos, sem saber, .tinham sido transformados em vlglas
·f · ro, azendo com q . da _mãe. A viagem .de regresso, que ela fez sozinha, foi con-
ala se expandisse no int . . ue o eco dessa'
, tr~lada desde .o mómento em que deixou a casa da tia. No
. No princípio apren:i~~reme:o do próprio declarante.
principio, logo que começou a ser Vigiada, ç~egou a pen..
mada ao amor ·em · g m e. custé!ra muito. Acostu- ,.
<>vlb.-d · que tudo ou quase tudo pode ser gritado sar que estivesse sofrendo de mania de perseguição. Con-
1 o aos quatro vent S li . , firmou, p~rém, que estav.a sendo seguida, quando, numa
i· ' da ao amor que pede e, os,
, p ª. nda• perdeu o chão., Habitua-
noite, o marido, julgando que ela estivesse dormindo, fala-
f:.. , , ermite testemunhas, inclusive nas
• horas do desamor, viver silent~ tamanha emoção, era como . va alto na sala 'ao lado e sem querer ela ouviu todo o teor da
.,· deglutir a pró · b ·, · · conversa:.. Ele pedia notícias de todos os passos dela; Depois
. _ pna oca, repleta de_fala, desejosa de contar
'• 1 !., . as _glónas amorosas. E por que não gritar, não' pichar pelos a confirmação foi se dando pelas notícias que ele trazia. Ela
r··
muros; não expor em outdoor _a grandeza do sentimentÔ?° - tinha sido vista ·em tal e tal lugar. Salinda entendeu o com-
.• Não, não era a ostentàção que aquele ~mor pedia. o amor portamento do marido. Estava a vigiá-la, mas ao invés de
'--' · pedia o direito de amaf, somente. · · · agir em silêncio, vinha de própria voz alertá-la. Era como se
ele buscasse retardar um encontro com a verdade. ·
-Salinda tentou guardar em si as leÍnoranças e retomar a
Ao's poucos as ameaças feitas pelo martdo, as mais diver-
rotina. Era preciso_vi;er a calma e o ~ésespero como se nada ·,
,.i
.,. - estivesse acontecendo; Havia quase .um ano que a felicidade .
. sificadas e cruéis, foram surgindo. Tomar as crianças, matá-la _
•.{f
. . . \ . , ou suicidar-se deixando uma carta culpando-a. Salinda, por
- lhe era servtda em conta-gotas. Pequenas gotJculas que guar- · ..isso, vinha hã anos adiando um rompimento definitivo com
f ·\j .
. davam a força a parecença dé reservatórios infindos,' de re- eíe. Tinha medo, sentia-se acuada, embora às vezes pensasse
. 'f presas de felicidade inteira. Mesmo estando entupidà de
ale: que elé nunca faria nada, caso ela o deixasse de vez. Apren-
. gna; com uma canção a borbulhar no,peit9, Salinda precisa_va dera, desde então, certas artimanhas, sondava terreno, pro-
·. t . embrutecer o corpo, os olhos, a voz. Estava sendo observada ~rava saídas. Aos poucos foi se fortalecendo, criando defe-
.: ...:.:·
em todos seus movimentos. A vigilância sobre os seus passos
J:
; '
sas, garantindo pelo.menos,o seu espaço íntimo. . , , . . \.
pretendia,·se po~ível, abarcar até seus pensaméntos. FJ-i1; que Tia Vandu, em Chã da Alegria, era única pessoa que adi-
e
,I -~- -, ,., •
.
. até então fora sempre distraída, teve de aprender a pwstar vinhoÜ o sofrimento .cfe Salinda, ·acolheu seu segredo se
. . l- . ·: atenção·a tudo e eÍn todos. A mulher ou homem que estivesse
- tornou çúmplice. Era na casa dà tia que os encontros ac~n- .
!'
· assentado·ao seu lado no ônibus poderia ser o detetive p~r'd- teciam. De noite, depois das crianças, desconhecendo o que
~" J
r ·.. . rular que o seu marido tinha contratado para segui-la. . se passava com a mãe, dormirem, Satlnda, no quarto destt- ;
• ·" "<
_,"'.. -Ao se lembrar do ·m arido, Salinda foi até ao quarto ciesfa- . · nado a ela, podia se dar, receber, se ter e ser para ela mesma ·
'· ··zer à mala, que estava ali aban~onâda desde manhã.,Tinha , . 1 • .··e para mais alguém. Tia Vandu ,êra guardiã do_novo e ·seae-
~ Ido até Chã de Alegria, deixar .às crianças de férlás com a . to amor de Salinda. · . . .,
. tia. .Era 'para ~quela cidade que viajava sempre com os fi-, Salinda desfazia a mala relembrando o seu regresso de
· Chã da Alegria. Voltava p~a casa traz~do lem~ças en-
'
. 52 · -
, .'
•53
.,.: '
: -·
' ' CONCEIÇÃO EVARISTO
. •/
• BEIJO NA FACE
' talhadas na ·· memóri J · ·· · · · ·:
. .. . • . a. ogou al&'1mas roupas no tan ue· - '
- outras, amda um1das do desejo que b·n· q , ,
. ,,,. ..,::.
:i.
-·- ---- .,
... . ,. ." ,'
IJ.r: .'.
. . CONCEIÇÃO EVA,R ISTO
• . I. •
•' 1
-
BEIJO NA FACE -~ ., .
) .
., ,;;-_.-
\.. '
• ' ~ ,., 'i.c ' 1
,. j. · - ... "' 1 r e 57