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Medicina Legal

“Medicina legal é, segundo Flamínio Fávero, a aplicação dos conhecimentos médico-biológicos na elaboração e execução das leis
que deles carecem; ou, segundo Nerio Rojas, é a aplicação de conhecimentos médicos aos problemas judiciais.”
patológicos que existiam ou possam existir, agravando o processo.
Lesão Corporal
Não seria a sequência natural do ferimento, mas uma situação
- Direito Penal: evitável sem nenhuma dependência ao fato inicial e sua evolução.

- Art. 129: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”. - Deste modo, há concausas preexistentes e concausas
Pena: detenção, de 3 meses a 1 ano. supervenientes. Naquelas, teríamos, para exemplificar, o portador
de um baço gigante que se rompesse com um murro no abdome,
- Lesão: mesmo levemente, o que não aconteceria com o indivíduo normal.
Na concausa superveniente, um ferimento de pequenas
- Medicina: “alteração anatômica ou funcional de um órgão ou proporções, levando à infecção pelo tétano.
tecido”.
- Classificação das concausas preexistentes:
- Medicina Legal: “qualquer alteração ou desordem da
normalidade”. - Anatômicas: anomalias orgânicas, como tais a inversão
visceral ou a malformação congênita de um órgão.
- Assim, por exemplo, um Delegado de Polícia que raspa
arbitrariamente os cabelos de um jovem, sob o aspecto patológico, - Fisiológicas: aquelas provenientes de alterações funcionais
não cometeria nenhuma lesão, porém, sob o ponto de vista da capazes de contribuir negativamente para o agravamento das
Medicina Legal, incorreria em tal, embora, para alguns, isso lesões, como, por exemplo, a fadiga, a convalescença, o
represente tão só constrangimento ilegal, vias de fato ou lesão real. puerpério, a repleção da bexiga ou o estado da gestação.

- Corpo de delito: - Patológicas: aquelas emanadas de uma morbidade existente,


como a tuberculose, o aneurisma da aorta, a hemofilia ou o
- São considerados corpo de delito os ferimentos, lesões ou diabetes.
perturbações no ser humano e nos elementos causadores do dano,
em se tratando dos crimes contra a vida e/ou a saúde, e desde que - Classificação das lesões corporais:
possam contribuir para comprovar a ação delituosa. Considerado
fisicamente, o corpo de delito consta um elenco de elementos - As lesões corporais dividem-se em dolosas e culposas, e somente
materiais, mais ou menos interligados, que lhe constituem um as primeiras têm a subdivisão de leves, graves e gravíssimas.
conjunto de provas ou vestígios da existência do fato criminoso.
- Lesões corporais dolosas:
- Não se deve confundir corpo de delito com corpo da vítima. O
- Leve:
corpo da vítima é tão somente o elemento sobre o qual o exame
pericial buscará os elementos materiais do delito em si mesmo.
- Seu conceito é tido por exclusão, isto é, as lesões leves
não apresentam nenhum requisito estabelecido nos
- O objetivo fundamental do estudo médico-pericial das lesões
parágrafos 1º e 2º do artigo 129 do Código Penal.
corporais é a caracterização de sua extensão, de sua gravidade ou
de sua perenidade, ou seja, de sua quantidade e de sua qualidade.
- Em geral, as lesões leves estão representadas por
pequenos danos superficiais, comprometendo apenas a
- Só o médico legista faz o corpo de delito.
pele, a tela subcutânea e pequenos vasos sanguíneos. São
- O médico assistencialista do paciente não pode ser o mesmo de pouca repercussão orgânica e de recuperação rápida.
médico que fará o exame de corpo de delito.
- Grave:
- Um fato de grande interesse médico-pericial é a distinção entre
- Se resulta:
causa e concausa.

- A causa seria o que leva a resultados imediatos e responsáveis I – incapacidade para as ocupações habituais, por mais
por determinadas lesões, suscitando sempre, por sua vez, uma de 30 (trinta) dias;
relação de causa e efeito. Ex. hemorragia decorrente de lesão de
um vaso calibroso após agressão. II – perigo de vida: conjunto de sinais e sintomas
clinicamente demonstrável de uma condição concreta
- Por concausa, entende-se o conjunto de fatores, preexistentes ou de morte iminente, ou seja, uma ameaça imediata de
supervenientes, suscetíveis de modificar o curso natural do êxito letal.
resultado, fatores esses que o agente desconhecia ou não podia
evitar. É o congresso de fatores anatômicos, fisiológicos ou
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III – debilidade permanente de membro, sentido ou - Considerar o dano;
função;
- Estabelecer a relação de causalidade (nexo causal);
IV – aceleração de parto: No entendimento do
legislador, haveria aceleração do parto quando o feto - Caracterizar a previsibilidade do dano
fosse expulso, com vida, antes do termo normal,
motivada por sua agressão física, ou psíquica à - Materialidade – Art. 77:
parturiente, continuando a viver fora do álveo materno.
- Para oferecimento da denúncia que será elaborada com base no
Pena – reclusão, de 1 a 5 anos. termo de ocorrência (...) com dispensa do exame de corpo de delito,
quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico
- Gravíssima: ou prova equivalente.

- Se resulta: - Exame de corpo de delito indireto:

- incapacidade permanente para o trabalho: situação - Quando realizado por peritos sobre indícios existentes na infração,
definitiva em que o indivíduo fica privado de exercer o processamento técnico é chamado corpo de delito direto. Quando
qualquer atividade lucrativa. não há esses vestígios, chama-se corpo de delito indireto. Nesses
casos, é a informação prestada pela testemunha que preenche a
- enfermidade incurável; lacuna verificada.

- perda ou inutilização do membro, sentido ou função. - Relatório médico:

- deformidade permanente: qualquer cicatriz que esteja - “O paciente JRN foi agredido com o bastão” – não escrever
em local visível (França). assim, escrever paciente relata ter sido agredida com bastão!!!

- aborto: lesão corporal seguida de aborto (aborto - Datar.


preterintencional), quando a gravidez é conhecida ou
manifesta, classifica a ofensa como lesão corporal de - Assinatura, nome legível e CRM.
natureza gravíssima, qualquer que seja a idade do feto.
Pouco importa qual seja a idade do ovo, embrião ou do - Descrever as lesões.
feto prestes ao parto.
- Quesitos oficiais:
- Pena – reclusão, de 2 a 8 anos.
1º - Houve ofensa à integridade corporal ou à saúde do
- Lesão corporal seguida de morte: paciente?

- Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente 2º - Qual o instrumento ou meio que produziu a ofensa?
não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo.
3º - A ofensa foi produzida com emprego de veneno, fogo,
- Pena: reclusão, de 4 a 12 anos. explosivo, asfixia, tortura, ou outro meio insidioso ou cruel, ou
que podia resultar perigo comum?
- Diminuição a pena:
4º - Da ofensa resultou perigo de vida?
- Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante
valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo 5º - Da ofensa resultou incapacidade para as atividades
em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir habituais por mais de 30 dias?
a pena de um sexto a um terço.
6º - Da ofensa resultou debilidade permanente de membro,
- Lesão corporal culposa (médicos respondem por lesão corporal sentido ou função; incapacidade permanente para o trabalho;
culposa no exercício da profissão): enfermidade incurável; perda ou inutilização de membro,
sentido ou função; ou deformidade permanente?
- Diz-se que uma lesão corporal é de natureza culposa quando
o agente lhe deu causa por imprudência, negligência ou Traumatologia
imperícia.
- Estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios,
- Detenção de 2 meses a 1 ano. produzidos por violência sobre o corpo humano, nos seus aspectos
do diagnóstico, do prognóstico e das suas implicações legais e
- Não tem classificação em leve, grave ou gravíssima. socioeconômicas. Trata também do estudo das diversas
modalidades de energias causadoras desses danos.
- Objetivos periciais na elaboração do laudo de uma lesão
corporal culposa:
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- A convivência no meio ambiental pode causar ao homem as mais vezes ficam impressos os dedos do agressor, configura
variadas formas de lesões produzidas por diversos tipos de exemplo dessa tipificação lesional.
energias, que dividem-se em energias de ordem: mecânica, física,
química, físico-química, bioquímica, biodinâmica ou mista. - Escoriação: tem quase sempre como origem a ação
tangencial dos meios contundentes. Define-se, de forma
- Energias de ordem mecânica: mais simples, como o arrancamento da epiderme e o
desnudamento da derme, de onde fluem serosidade e
- Os meios mecânicos causadores do dano vão desde as armas sangue. Quando a derme é atingida, não é mais
propriamente ditas (punhais, revólveres, soqueiras), armas escoriação, e sim uma ferida. A
eventuais (faca, navalha, foice, facão, machado), armas naturais escoriação não cicatriza, não
(punhos, pés, dentes), até os mais diversos meios imagináveis deixa marcas. A regeneração da
(máquinas, animais, veículos, quedas, explosões, precipitações). área lesada é por reepitelização.

- Esses meios atuam por pressão, percussão, tração, torção, Nas escoriações produzidas post mortem, não há formação
compressão, descompressão, explosão, deslizamento e de crosta; a derme é branca e não sugila serosidade nem
contrachoque. sangue de suas papilas. O leito da escoriação produzida
depois da morte é seco, descorado e apergaminhado.
- De conformidade com as características que imprimem às lesões,
os meios mecânicos classificam-se em: perfurantes, cortantes, - Equimose: Trata-se de lesões que se traduzem por
contundentes, perfurocortantes, perfurocontundentes, infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos. Em geral,
cortocontundentes. são superficiais, mas podem surgir nas massas musculares,
nas vísceras e no periósteo.
- Ferimentos por armas brancas: perfurantes, cortantes e
perfurocortantes. - Quando se apresenta em forma de pequenos grãos,
recebe o nome de sugilação e, quando em forma de
- Ferimentos por arma de fogo: perfurocontundente. estrias, toma a denominação de víbice. E petéquias,
pequenas equimoses, quase sempre agrupadas e
- Lesões produzidas por ação contundente: caracterizadas por um pontilhado hemorrágico.

- Entre os agentes mecânicos, os instrumentos contundentes


são os maiores causadores de dano.

- Suas lesões mais comuns se verificam externamente, embora


possam repercutir na profundidade.

- Agem por pressão, explosão, deslizamento, percussão,


compressão, descompressão, distensão, torção, fricção, por Petéquias Víbices
contragolpe ou de forma mista.
- Não é muito raro, nos traumatismos cranioencefálicos
- São meios ou instrumentos geralmente com uma superfície mais graves, surgirem tardiamente equimoses
plana, que pode ser lisa, áspera, anfratuosa ou irregular. palpebrais, subconjuntivas, mastóideas, faríngeas e,
com menos frequência, cervicais.
- A contusão pode ser ativa, passiva ou mista, de conformidade
com o estado de repouso ou de movimento do corpo ou do meio - Às vezes, imprime a marca dos objetos que lhe deram
contundente. É ativa a contusão quando apenas o meio ou o origem (equimoses figuradas) com mais fidelidade do
instrumento se desloca. É passiva quando só o corpo humano que as escoriações.
está em movimento. Nas mistas, o corpo humano e o
instrumento se movimentam com certa violência. - Quando a equimose é produzida por objetos
cilíndricos, como bastões, cassetetes, bengalas, deixa,
- O resultado da ação desses meios ou instrumentos é em vez de uma marca, duas equimoses longas e
conhecido geralmente por contusão. paralelas, conhecidas por víbices, em virtude de o
extravasamento do sangue verificar-se ao lado do
- As lesões produzidas por essa forma de energia mecânica traumatismo e não na sua linha de impacto.
sofrem uma incrível variação. Entre elas, distinguem-se:
- Espectro Equimótico De Legrand Du Saulle: em geral,
- Rubefação: caracteriza-se pela congestão repentina e é vermelha no primeiro dia, violácea no segundo e no
momentânea de uma região do corpo atingida pelo terceiro, azul do quarto ao sexto,
traumatismo, evidenciada por uma mancha avermelhada, esverdeada do sétimo ao 10º,
efêmera e fugaz, que desaparece em alguns minutos, daí amarelada por volta do 12º dia,
sua necessidade de averiguação exigir desaparecendo em torno do 15º
brevidade. A bofetada na face ou nas ao 20º.
nádegas de uma criança, onde muitas
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- Hematoma: ocorre devido ao maior extravasamento de - Classificação:
sangue de um vaso bastante calibroso e a sua não difusão
nas malhas dos tecidos moles. O hematoma, em geral, faz - Quanto à alma do cano (face interna do cano):
relevo na pele, tem delimitação mais ou menos nítida e é de
absorção mais demorada que a equimose. - Lisa: espingarda

- Bossa sanguínea: diferencia-se - Provida de raias: serve para imprimir um movimento de


do hematoma por apresentar-se rotação ao projétil, tornando seu deslocamento através das
sempre sobre um plano ósseo e camadas do ar mais regular e estável.
pela sua saliência bem
pronunciada na superfície - Quanto ao funcionamento:
cutânea. É muito comum nos
traumatismos do couro cabeludo e - Disparo único
é vulgarmente conhecida por “
galo”. - Disparo de repetição

- Feridas contusas: lesões abertas cuja ação contundente foi capaz - Quanto ao porte:
de vencer a resistência e elasticidade
dos planos moles. - Fixas

- Apresentam: forma variada; - Móveis


bordas irregulares, escoriadas ou
equimosadas; fundo irregular; - Semiportáteis
vertentes irregulares; pontos de
tecidos íntegros ligando as vertentes; retração das bordas da - Portáteis
ferida; pouco sangrantes; integridade de vasos, nervos e
- Longas: fuzil, carabina, espingarda.
tendões no fundo da lesão; ângulo tendendo à obtusidade.
- Curtas: revólver, pistola.
- Lesões cortocontundentes:
- Quanto ao calibre – dois sistemas de medida:
- São produzidos por instrumentos que, mesmo sendo
portadores de gume, são influenciados pela ação contundente,
- mm (europeu): 9 mm
quer pelo seu próprio peso, quer pela força ativa de quem os
maneja. - frações de polegadas (americano): 38

- Sua ação tanto se faz pelo deslizamento, pela percussão, - Balística:


como pela pressão. São exemplos desse tipo de instrumento: a
foice, o facão, o machado, a enxada, a guilhotina, a serra - É a parte da mecânica que estuda o movimento dos projéteis e as
elétrica, as rodas de um trem, a tesoura, as unhas e os dentes. forças envolvidas na sua impulsão, a trajetória e os efeitos finais.

Ex. Cair e bater a cabeça na quina de uma mesa. A quina não é - Balística interna: abrange o conhecimento dos propelentes e do
cortante, mas quando associada a ação contundente, se tornam mecanismo das armas.
cortantes.
- Balística externa: estuda a trajetória dos projéteis.
Lesões perfurocontundentes – armas de fogo
- Balística dos efeitos: abrange os efeitos produzidos no alvo pelo
- As feridas perfurocontusas são produzidas por um mecanismo de projétil. Estudada pelo médico legista.
ação que perfura e contunde ao mesmo tempo. Atuam por meio de
uma ponta romba, por pressão, e produzem lesões em forma de - Lesões produzidas por projétil de arma de fogo:
túnel.
- Lesões de entrada:
- Esses ferimentos são produzidos quase sempre por projéteis de
arma de fogo. Incluem também qualquer instrumento formado por - Orla de escoriação ao redor do
qualquer haste que não termine com uma ponta afiada, como orifício de entrada – resultado do
acontece com os perfurantes – vergalhões de construção civil, arrancamento da epiderme pela ação
certas grades e flechas, pedaços de madeira alongados. contundente do projétil.

Arma de fogo - Diâmetro de entrada menor que o calibre do projétil – devido


ao fato da derme ser mais elástica, ela é esticada e só se rompe
- São maquinas construídas com a finalidade de disparar projéteis quando o limite de sua elasticidade é ultrapassado.
por meio da força expansiva dos gases liberados pela queima de
certa quantidade de pólvora.
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- Halo de enxugo – orla que guarnece o orifício, situada - (3) Já os grãos de pólvora em combustão ou ainda não
interiormente com relação a orla de queimados são de maior alcance e podem constituir-se na única
escoriação. É devida à transmissão prova de que o disparo foi à
de impurezas, adquiridas pelo curta distância. Atravessam
projétil ao deslizar pelo cano da a epiderme e se incrustam na
arma, para a derme durante a derme, formando uma orla
penetração. É exclusiva dos de tatuagem, que só pode
orifícios de entrada. ser removida por meio de
cirurgia plástica.
- Forma arredondada ou oval – depende do ângulo de
incidência do projétil. - Nos tiros oblíquos, o cone de dispersão é interceptado num
plano não perpendicular à sua altura. A figura geométrica
- Se ângulo perpendicular – forma arredondada. gerada pela interseção é uma oval. O orifício de entrada fica
excêntrico nessa oval e
- Se ângulo oblíquo – forma oval. é mais próximo do polo
de onde veio o disparo.
- Orla equimótica – provocada pela A concentração dos
infiltração hemorrágica ao redor do componentes das orlas
orifício, devido ao rompimento de é maior desse mesmo
vasos de calibres médio e pequeno, lado, em função de sua
no trajeto pelo tecido subcutâneo. maior proximidade da
Serve para caracterizar a reação vital boca da arma.
na ferida (a pessoa foi atingida viva).
- Diferença do tiro a curta distância e tiro encostado:
- Bordas invertidas
- Quando encosta, todas as alterações estão dentro da pele e há
- Lesão de raspão – o projétil explosão de dentro pra fora.
não mais penetra e causa uma
ferida de bordas irregulares e - Perde as características do orifício de entrada.
escoriadas, sem orifício, em
forma de canaleta. - É chamada de lesão em boca ou buraco de mina.

- Quando o tiro é dado à curta distância, ou à queima-roupa,


somam-se às lesões produzidas pelo projétil as alterações
causadas pelo chamado cone de explosão (cone de dispersão),
que é (1) o conjunto dos gases superaquecidos (chama), (2) dos
grãos de pólvora incombusta e (3) dos resíduos da combustão.
Esse cone tem o vértice na boca a arma e a base voltada para
o alvo.

- O que tem menor alcance é a (1)


chama, que produz a orla ou zona
de queimadura. - O orifício de entrada no osso da calota craniana tem forma circular
e apresenta um orifício com as bordas talhadas em bisel pela face
- (2) Os resíduos da combustão, representados pela fuligem, interior, de modo a formar um vazio em forma de tronco de cone
têm pouca possibilidade de atravessar o ar por serem pouco com a base maior voltada par dentro (sinal de Bonnet). Isso ocorre
densos, mas vão um pouco mais longe que a chama e causam porque o crânio é formado por duas camadas compactas separadas
a orla de esfumaçamento ou de por uma de osso esponjoso – o díploe. O projétil atravessa primeiro
tisnado. Essa orla tem cor a tábua externa, destacando fragmentos que são lançados para
acinzentada mais ou menos dentro do crânio e aumentam o buraco da tábua interna.
escura, conforme a pólvora.
Pode ser removida lavando-se a
pele com água e sabão. É tanto
mais densa quanto mais
próximo o disparo.

- Trajeto:

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- Início: orifício de entrada. Ao longo do trajeto, os tecidos são Instrumentos perfurantes
rompidos de modo semelhante ao que acontece com a pele,
diferindo o resultado lesional de acordo com a sua textura. Forma- - São aqueles que transferem sua energia cinética por meio de uma
se um espaço real de forma aproximadamente tubular preenchido ponta, pressionando e afastando os elementos dos tecidos. São
por sangue e restos de tecido lacerado. formados por uma ponta continuada por uma haste cilíndrica.

- À medida que o projétil entra em contato com os tecidos, confere- - Calibre pequeno: alfinetes, agulhas, espinhos.
lhes um impulso lateral centrífugo que tende a jogá-los para longe
do trajeto. Esse impulso constitui o que se denomina de ONDA DE - Calibre médio: furador de gelo, sovela.
PRESSÃO.
- Os pregos são considerados de calibre pequeno ou médio.
- Lesão de saída:
- Instrumento perfurante de médio calibre:
- Quando o projétil atinge a pele no
local de saída, já vem com menor - As feridas têm forma biconvexa alongada (em botoeira), com
quantidade de energia, por vezes, bordas regulares e simétricas, providas de ângulos muito agudos e
deformado, ou em posição com a mesma direção na mesma região anatômica do corpo.
diferente da com que entrou.
- Aspecto das feridas:
- Por isso, o orifício de saída costuma ser maior e tem forma variada,
podendo ser uma ferida estrelada, uma fenda ou outro padrão - Obedece a 3 princípios:
qualquer. Pode, inclusive, ser circular e escoriada se o projétil
imprensar a pele contra algum anteparo. - Tem aspecto semelhante às produzidas por instrumentos
pérfurocortantes de 2 gumes (lei de semelhança de filhos).
- É comum dizer-se que as bordas do orifício de saída são evertidas,
enquanto as dos de entrada são voltadas para dentro. Mas isso é - Têm sempre a mesma direção numa mesma região do corpo
mais teórico do que real. (lei do paralelismo de filhos).

- Podem ter forma diferente nos pontos de encontro de linhas


de força (LEI DE LANGER).
- Lesão por espingarda:

- Rosa de tiro

- As feridas pelos instrumentos perfurantes de médio calibre podem


ser classificadas em: superficiais, penetrantes e transfixantes.

- Quando atuam em vísceras ocas do tubo digestivo, apresentam


forma de fenda com direção paralela às fibras musculares. Como
essas vísceras têm duas camadas musculares, uma longitudinal
externa, paralela à direção do tubo, e outra subjacente a essa,
interna, de disposição circular, a direção da ferida é longitudinal na
Lesões cortantes – Armas brancas túnica externa e transversal na interna, o que permite firmar o
diagnóstico do tipo de instrumento.
- As armas devem ser classificadas em manuais ou de arremesso,
conforme representem como que um prolongamento do membro Instrumentos cortantes
superior ou ajam a distância, arremessadas sobre o adversário.
- Instrumentos que transferem a energia cinética por deslizamento
- São armas manuais: instrumentos perfurantes, instrumentos e leve pressão através de uma borda aguçada a que se dá o nome
cortantes, instrumentos pérfuro-cortantes, instrumentos corto- de gume ou fio.
contundentes.
- Atua mais por deslizamento do que por pressão.
- Recebem a denominação genérica de armas brancas, talvez em
anteposição às armas de fogo, que são armas de arremesso. - Tipos de lesões:
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- Há predomínio da extensão sobre a profundidade. São feridas, em obliquamente, penetra e abre caminho para a cunha que constitui o
geral, superficiais. instrumento. Como regra geral, atravessam com facilidade as
partes moles do corpo e não se detêm mesmo no plano esquelético.

- A ação dos dentes incisivos pode ser considerada corto-


contundente.

- Tipos de lesões:

- Devido à inércia, incidem violentamente sobre o corpo, o que se


traduz por lesões muito profundas e graves.

- As feridas produzidas por esses instrumentos são, em geral: são


retas, apresentam bordas afastadas, bordas escoriadas, bordas
- Quando agem de modo típico, os instrumentos cortantes regulares, vertentes planas e laceração principalmente nos planos
produzem feridas que apresentam: bordas regulares, vertentes musculares.
planas e ângulos muito agudos.
- A abertura de
- Sua profundidade é maior na porção correspondente ao terço seus lábios
inicial. A partir daí, superficializam-se gradualmente para terminar depende do
em uma escoriação linear que as continua ao longo da epiderme. A grau de
essa escoriação linear que indica a saída do instrumento, dá-se o penetração da
nome de cauda de escoriação. Resulta do afastamento da epiderme cunha.
ao longo do trajeto dérmico por causa da obliquidade do gume.

OBS. Lesões de defesa: mão, parte medial do antebraço e parte


posterior do braço.

- Há um tipo especial de feridas praticadas com instrumentos


cortantes. São as feridas praticadas por médicos em atos cirúrgicos.
Têm maior regularidade, profundidade uniforme e ângulo de saída
não tem cauda de escoriação.

Instrumentos pérfuro-cortantes

- São os que possuem uma ponta e um ou mais gumes. Transferem


sua energia cinética por pressão, através da ponta, e por
deslizamento dos gumes, que seccionam as fibras dos tecidos.

- De um gume: faca, canivete.

- De dois gumes: punhal, espada.


Energias de ordem físico-químicas
- Tipos de lesões:
- Conceito:
- Os instrumentos pérfuro-cortantes produzem lesões que
evidenciam predomínio da profundidade sobre a extensão, de modo - As energias físico-químicas impedem a passagem do ar às vias
semelhante ao que ocorre com os instrumentos perfurantes. respiratórias e alteram a composição bioquímica do sangue,
produzindo um fenômeno chamado asfixia.
- Sua forma varia de acordo com o número de gumes.
- Asfixia, sob o ponto de vista médico-legal, é a síndrome
Instrumentos cortocontundentes caracteriza pelos efeitos da ausência ou baixíssima concentração
de oxigênio no ar respirável por impedimento mecânico; ou a
- São considerados corto-contundentes os instrumentos que, perturbação oriunda da privação, completa ou incompleta, rápida ou
dotados de grande massa, transferem sua energia por meio do lenta, externa ou interna, de oxigênio.
gume.
- Fisiopatologia e sintomatologia:
- Ex: Cutelos, machados, enxada, foices, facões, rodas de trem.
- Na respiração normal, exige-se um ambiente externo que
- Ao contrário dos instrumentos cortantes, que atuam mais por contenha ar respirável, com oxigênio em quantidade aproximada de
deslizamento, os CORTO-CONTUNDENTES agem principalmente 21 por cento, orifícios e vias respiratórias permeáveis, elasticidade
POR PRESSÃO. O gume força os tecidos perpendicular ou do tórax, expansão pulmonar, circulação sanguínea normal, volume
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circulatório em quantidade e qualidade suficientes para transportar - 3ª fase: a fase respiratória, verifica-se a lentidão e superficialidade
oxigênio aos tecidos e pressão atmosférica compatível com a dos movimentos respiratórios e pela insuficiência ventricular direita,
fisiologia respiratória. o que contribui para acelerar o processo de morte (duração de 1 a
2 min).
- Sabe-se que o oxigênio chega aos tecidos através da ventilação
pulmonar, da hemoglobina, da circulação e das trocas gasosas, e - 4ª fase: conhecida como fase cardíaca, caracteriza-se pelo
por sua vez, cada um desses mecanismos dá lugar há um tipo sofrimento do miocárdio – bradicardia, arritmicidade e pulso quase
diferente de anoxia, quais sejam: imperceptível (duração de 3 a 5 min).

- anoxia de ventilação ou anóxica: - Características das asfixias mecânicas em geral:

- verifica-se uma insuficiente oxigenação do sangue nos - Sinais externos:


pulmões.
- Manchas de hipóstase – são precoces, abundantes e de
- Ex: ↓ na concentração de oxigênio do ar ambiente; tonalidade escura, variando essa tonalidade, nas asfixias por
compressão mecânica das vias respiratórias; pneumotórax, monóxido de carbono quando essas manchas assumem uma
derrames pleurais, fratura múltipla de costelas e tonalidade rósea.
comprometimento dos músculos respiratórios por efeitos de São decorrentes
eletricidade, drogas, tétano, epilepsia, crucificação; do depósito de
sangue pela ação
- anoxia anêmica: da gravidade nas
partes mais baixas
- ocorre uma diminuição da capacidade de oxigenação do do corpo de
sangue. acordo com a
posição do cadáver.
Ex: intoxicação pelo CO ou por venenos meta-
hemoglobinizantes; anemias crônicas; grandes - Congestão facial – ocorre
hemorragias. mais frequentemente na
asfixia por compressão
- anoxia de circulação e de estase: torácica, proveniente da
estase mecânica da veia
- devido à transtornos circulatórios que dificultam a chegada cava superior.
de sangue oxigenado aos capilares.
- Protrusão da língua e
- Ex. insuficiência circulatória periférica; embolia das exoftalmia.
artérias pulmonares; coarctação da aorta.

- anoxia tissular ou histotóxica:


- Equimose de pele e de mucosas – na pele, são arredondadas
- mecanismos tóxicos impedem o aproveitamento do e de pequenas dimensões, não ultrapassando as de uma
oxigênio pelos tecidos. lentilha, formando agrupamentos em determinadas regiões,
principalmente na face, no tórax e pescoço, tomando tonalidade
- Ex. intoxicações pelo ácido cianídrico e/ou pelo hidrogênio mais escura nas partes de declive. As equimoses das mucosas
sulfurado. são encontradas mais frequentemente na conjuntiva palpebral
e ocular, nos lábios e, mais raramente, na mucosa nasal. O
Asfixias mecânicas mecanismo de aparecimento dessas equimoses é explicado
através da queda do sangue pela gravidade aos planos mais
- É possível estabelecer um cronograma de suas diversas fases: baixos do corpo e pelo peso da coluna sanguínea que rompe os
capilares, extravasando-se nos tecidos vizinhos.
- 1ª fase: também conhecida como fase cerebral, caracteriza-se
pelo aparecimento de enjoos, vertigens, sensação de angústia e
lipotimias. Ao redor de um minuto e meio, ocorre a perda do
conhecimento de forma brusca e rápida e surge bradipneia
taquisfigmia (duração de 1 a 2 min).

- 2ª fase: também chamada de fase de excitação cortical e medular, Equimose das conjuntivas (asfixia)
notam-se convulsões generalizadas e contrações dos músculos
respiratórios e da face, além de relaxamento dos esfíncteres com
emissão de matéria fecal e urina devido aos movimentos
peristálticos dos intestinos e da bexiga. Há também a presença de
bradicardia e aumento da pressão arterial (duração de 1 a 2 min).

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- Cogumelo de espuma: é formado de uma bola de finas bolhas - Transformação de meio gasoso em meio sólido ou
de espuma que cobre a boca e as narinas e se continua pelas pulverulento (soterramento).
vias respiratórias inferiores. É mais comum nos afogados, mas
pode surgir em outras formas - Asfixias complexas:
de asfixias mecânicas, no
edema agudo do pulmão e - Constrição das vias respiratórias com anoxemia e excesso de
nos casos de morte precedida gás carbônico, interrupção da circulação cerebral e inibição por
de grandes convulsões. compressão dos elementos nervosos do pescoço:

- Fenômenos cadavéricos: - Enforcamento, estrangulamento.


nas asfixias mecânicas, em geral, alguns fenômenos
cadavéricos se processam de forma diferente: os livores de - Asfixias mistas:
decúbito são mais extensos, mais escuros e mais precoces; o
esfriamento do cadáver se verifica em proporção mais lenta; a - Se superpõe os fenômenos circulatórios, respiratórios e
rigidez cadavérica, mesmo sendo mais lenta, mostra-se intensa nervosos: esganadura.
e prolongada; e a putrefação é muito mais precoce e mais
acelerada que nas demais causas de morte. - Asfixia por confinamento:

- Esses fenômenos são bem diferentes na intoxicação por - Permanência de um ou mais indivíduos em um ambiente restrito
monóxido de carbono. ou fechado, sem condições de renovação do ar respirável, sendo
consumido o oxigênio pouco a pouco e o gás carbônico acumulado
- Sinais internos: gradativamente.

- Sangue mais líquido e mais escuro; - Além dos sinais encontrados nas asfixias em geral, podem ser
vistas algumas lesões produzidas em ações desesperadas da
- Equimoses viscerais (Manchas de Tardieu): equimoses vítima, como escoriações do pescoço, ferimentos da face, lesões
diminutas, do tamanho da cabeça de um alfinete, localizando- de defesa, desgastes das unhas e erosão das extremidades dos
se, não raro, sob a pleura visceral, mais notadamente nos dedos.
sulcos interlobares e bordas dos pulmões, no pericárdio e no
pericrânio, e, nas crianças, no timo. São mais comuns na - Asfixia por monóxido de carbono:
infância e na adolescência e, mais raras, no adulto e no velho.
- O monóxido de carbono (CO) fixa-se à hemoglobina e impede o
transporte do oxigênio. Leva a um tipo especial de asfixia por
carboxiemoglobinemia (O2Hb + CO = COHb + O2).

- Nesse tipo de morte, encontram-se vários sinais de grande valor,


tais como rigidez cadavérica mais tardia, pouco intensa e de menor
duração, tonalidade rósea da face (“como de vida”), manchas de
hipóstases claras, pulmões e demais órgãos de tom carmim,
sangue fluido e róseo, putrefação tardia e, finalmente, os
comemorativos da morte.

- Diagnóstico: pesquisa do CO no sangue das cavidades cardíacas


- Congestão polivisceral – principalmente do fígado e do ou de outras vísceras.
mesentério.
- Sufocação:
- Classificação:
- Impedimento da passagem do ar respirável por meio direto ou
- Asfixias puras: indireto de obstrução.

- Manifestadas por anoxemia e hipercapnia: - Sufocação direta:

- Ambientes com gases irrespiráveis (confinamento, - Oclusão da boca e fossas nasais (desproporção de forças
monóxido de carbono). entre a vítima e o agente).

- Obstáculo a penetração do ar nas vias aéreas (sufocação - Oclusão das VAS (por corpos estranhos).
direta – obstrução da boca e das narinas; ou sufocação
indireta – compressão do tórax). - Sinais cadavéricos:

- Transformação de meio gasoso em líquido (afogamento). - Sinais locais: escoriações (quando é homicida); presença
do corpo estranho na arvore respiratória.

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- Sinais de asfixia; - Há, no entanto, casos em que o indivíduo, ao tocar na água,
morre por inibição, constituindo os afogados brancos de Parrot,
- Sinais específicos: encontro do corpo estranho, por ou afogados secos, necessitando, para isso, de uma
exemplo . predisposição constitucional, lesões cardiovasculares
agravadas pela ação térmica ou nos estados tímico-linfáticos.
- Sufocação indireta: Nessa modalidade de afogamento, não se encontra nenhum
sinal de asfixia. A inibição pode ser causada pela queda, por
- A compressão, em grau suficiente, do tórax e abdome impede depressão do SNC, pela água fria ou pela síndrome da imersão
os movimentos respiratórios, levando, em consequência, à (T corporal -5ºC).
asfixia. É sempre acidental ou criminosa.
OBS. Reflexo de inibição – tem uma parada cardíaca antes de
-Sinais cadavéricos: máscara equimótica, pulmões distendidos, ser afogado.
congestos, com sufusões hemorrágicas subpleurais.
- Antes, imaginava-se que a morte por afogamento fosse
- Sufocação posicional: produzida por anoxia. Após as pesquisas de Swann e cols.,
deu-se muito valor às alterações eletrolíticas que a água
- Forma de asfixia mecânica produzida pela posição em que provoca ao penetrar na corrente circulatória, dependendo,
o indivíduo se encontra no momento da morte, capaz de entretanto, da quantidade, do tipo e da osmolaridade do líquido
impedir ou dificultar seriamente a ventilação pulmonar, após aspirado.
a instauração da fadiga e da falência muscular respiratória.
Um dos exemplos desse quadro seria a “crucificação” ou o - Em crianças, principalmente, pode ocorrer uma situação em
posicionamento demorado do indivíduo de “cabeça para que o ritmo cardíaco diminui muito, a pressão arterial baixa
baixo”. sensivelmente, o consumo de oxigênio é diminuído, o
metabolismo é lento, há presença de bradicardia, assistolia e
- Soterramento: fibrilação ventricular e, de forma paradoxal, mantêm-se em
sobrevivência por alguns minutos, podendo, inclusive
- O diagnóstico se faz pelo estudo dos comemorativos e do local, recuperar-se integralmente ou com sequelas. Isso se deve ao
pela presença de substâncias estranhas, sólidas ou semissólidas, chamado “reflexo mamário” que consiste no espasmo da glote,
principalmente pulverulentas, no interior das vias respiratórias, na desenvolvido mais intensamente na vida intrauterina e entre os
boca, no esôfago e estômago e, ainda, pelos sinais gerais de recém nascidos e lactentes, desaparecendo gradualmente na
asfixia. idade infantil.

- Não se deve esquecer que, no soterrado, sempre se encontram - Sinais cadavéricos do afogado:
lesões traumáticas de várias espécies, pelo desabamento ou
desmoronamento; muitas delas capazes de, por si sós, produzir a - Sinais externos:
morte ou contribuir para tanto.
- Temperatura baixa da pele.
- Afogamento:
- Pele anserina – vulgarmente chamada de pele de galinha,
- Tipo de asfixia mecânica, produzido pela penetração de um meio é ocasionada pela contração dos músculos eretores dos
líquido ou semilíquido nas vias respiratórias, impedindo a passagem pêlos.
do ar até os pulmões.
- Retração do mamilo, do saco escrotal e do pênis.
- O afogamento pode ser acidental, suicida ou homicida.
- Maceração da epiderme.
- Fisiopatologia e mecanismo de morte:
- Tonalidade mais clara dos livores cadavéricos.
- A morte por afogamento geralmente passa por três fases ou
períodos: fase de defesa, fase de resistência e fase de - Cogumelo de espuma.
exaustão.
- Erosão dos dedos e presença de corpos estranhos sobre
- A primeira fase tem dois períodos: o de surpresa e o de as unhas.
dispneia.
- Equimoses da face das conjuntivas.
- A segunda fase está representada pela parada dos
movimentos respiratórios como mecanismo de defesa. - Mancha verde da putrefação (no esterno e na parte inferior
do pescoço).
- A terceira fase é na qual termina a resistência pela exaustão e
começa uma inspiração profunda, iniciando-se o processo de - Lesões post mortem produzidas por animais aquáticos.
asfixia com perda de consciência, insensibilidade (às vezes,
convulsões) e morte. - Embebição cadavérica.

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- Dentes e unhas róseos. - Tempo necessário para a morte
no enforcamento: a morte poderá
- Sinais internos: ser rápida, por inibição, ou
demorar cerca de 5 a 10 min,
- Líquido nas vias respiratórias. conforme observações em
enforcamentos judiciais.
- Presença de corpos estranhos no líquido das vias
respiratórias. - Aspecto do cadáver:

- Alterações e lesões dos pulmões. - A posição da cabeça sempre se mostra voltada para o lado
contrário do nó, fletida para diante, com o mento tocando no
- Diluição do sangue. tórax.

- Presença de líquido no sistema digestivo, ouvido médio e - A face pode apresentar-se branca ou arroxeada (variando com
cavidades pleurais. o grau de compressão vascular).

- Aumento do coração; - Assinala-se a presença de líquido ou espuma sanguinolenta


pela boca e narinas.
- Enforcamento:
- A língua é cianótica e sempre está projetada além das arcadas
- Interrupção do ar atmosférico até as vias respiratórias, em dentárias. Olhos protrusos e pavilhão auricular violáceo,
decorrência da constrição do pescoço por um laço fixo, agindo o surgindo ocasionalmente otorragia.
peso do próprio corpo da vítima como força ativa.
- A rigidez cadavérica é mais tardia no enforcamento.
OBS. Só morre se tiver no mínimo 25kg.
- As manchas de hipóstase se apresentam na metade inferior
- É mais comum nos suicídios, podendo, no entanto, ter como do corpo com maior intensidade nas extremidades dos
etiologia o acidente, o homicídio e a execução judicial. membros superiores e inferiores, em forma de luva.

- O laço que aperta o pescoço pode ser de várias naturezas: cordas, - Sinais externos:
cintos, fios de arame, lençóis, punhos de rede, gravatas, correntes,
arames, cortinas e até ramos de árvores. Sua consistência varia - A sua maior importância está no sulco do pescoço, de capital
entre os chamados duros, moles e semirrígidos. Lençóis, cortinas e valor no diagnóstico do enforcamento.
gravatas formam os laços moles; cordões, cordas, fios de arame,
os duros; e cintos de couro, os semirrígidos. - O sulco situa-se na posição superior do pescoço deslizando-
se até o ponto de apoio com a mandíbula, dirigindo-se no
- Chama-se de suspensão típica ou completa aquela em que o sentido do nó, obliquamente, de baixo para cima e de frente
corpo fica totalmente sem tocar em qualquer ponto de apoio: e para trás.
suspensão atípica ou incompleta, se é apoiado pelos pés, joelhos
ou outra parte qualquer do corpo. - Sinais internos:

- Evolução – desenvolve-se o enforcamento em três períodos: - lesões da parte profunda da pele e da tela subcutânea do
pescoço;
- primeiro período: começa quando o corpo, abandonado e sob
a ação do seu próprio peso, leva, pela constrição do pescoço, à - lesões de vasos;
sensação de calor, zumbidos, sensações luminosas na vista e
perda da consciência produzidos pela interrupção da circulação - lesões da coluna vertebral;
cerebral.
- lesões do aparelho laríngeo.
- segundo período: caracteriza-se pelas convulsões e excitação
do corpo provenientes dos fenômenos respiratórios, pela - Mecanismo de morte por enforcamento:
impossibilidade de entrada e saída de ar, diminuindo o oxigênio
(hipoxemia) e aumentando o gás carbônico (hipercapnia). - morte por asfixia mecânica: naturalmente, é-se levado a
Associa-se a esses fenômenos a pressão do feixe pensar que a ação do laço no pescoço interrompe a passagem
vasculonervoso do pescoço, comprimindo o nervo vago. do ar respirável até os pulmões.

- terceiro período: surgem os sinais de morte aparente, até o - morte por obstrução da circulação: a obstrução da passagem
aparecimento da morte real, com cessação da respiração e da do sangue arterial pelas carótidas acarreta perturbações
circulação. cerebrais pela anoxia. Experimentalmente, sabe-se que a
pressão capaz de obter a obliteração dos vasos é em torno de
2 kg para as veias jugulares, de 5 kg para as artérias carótidas
comuns e de 25 kg para as artérias vertebrais.

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- morte por inibição devido à compressão dos elementos - É sempre homicida, sendo impossível a forma suicida ou
nervosos do pescoço: o laço exerce pressão sobre o feixe acidental.
vasculonervoso do pescoço, principalmente no nervo vago.
- Sinais externos: congestão
- Casos atípicos: da face, congestão das
conjuntivas, equimoses
- Asfixia autoerótica: finalidade é se alcançar a excitação sexual punctiformes da face e do
pela privação da oxigenação, sendo na maioria das vezes pescoço, escoriações
promovida pelo enforcamento, e, mais raramente, pelo ungueais, lesões de defesa.
estrangulamento ou pelo uso de bolsas de plástico sobre a
cabeça. Alguns desses casos o indivíduo pode perder o controle - Fisiopatologia: na
e ocorrer a morte. esganadura interferem, principalmente no mecanismo de morte, a
asfixia e os fenômenos decorrentes da compressão nervosa do
- Estrangulamento: pescoço. Tudo indica que na asfixia mecânica do tipo esganadura
o mecanismo de morte é sempre por anoxia anóxica (falta de
- Constrição do pescoço por um laço acionado por uma força oxigênio no sangue que nutre o tecido cerebral), por inibição reflexa
estranha, obstruindo a passagem de ar aos pulmões, (parada do coração por inibição devido à pressão dos seios
interrompendo a circulação do carotidianos) e, em menor escala, por isquemia encefálica (necrose
sangue ao encéfalo e do tecido cerebral, por falta de sangue arterial).
comprimindo os nervos do
pescoço. Nesse tipo de morte, ao Declaração de óbito
contrário do enforcamento, o
corpo da vítima atua - A Declaração de Óbito é o documento-base do Sistema de
passivamente e a força Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS). É
constrictiva do laço age de forma composta de três vias auto-copiativas, pré-numeradas
ativa. sequencialmente, fornecida pelo Ministério da Saúde.

- Normalmente é homicida. Acidente e suicídio: raros. - Via Branca: secretaria de saúde

- Sulco: a direção é diferente do enforcamento, pois se apresenta - Via Amarela: cartório – certidão de óbito
em sentido horizontal, podendo, no entanto, ser ascendente, como
nos casos de homicídio, em que o agente puxa o laço para trás e - Via Rosa: retida no local de preenchimento
para cima. Sua profundidade é uniforme e não há descontinuidade,
podendo verificar-se a superposição do sulco onde a parte do laço - Além da sua função legal, os dados de óbitos são utilizados para
se cruza. Geralmente o sulco está situado por baixo da cartilagem conhecer a situação de saúde da população e gerar ações visando
tireóidea. Não é raro se encontrarem nas proximidades do sulco do à sua melhoria.
estrangulamento rastros ou estrias ungueais.
- O médico tem responsabilidade ética e jurídica pelo
preenchimento e pela assinatura da DO, assim como pelas
informações registradas em todos os campos deste documento.

- Em que situações emitir a DO:

1. Em todos os óbitos (natural ou violento).

2. Quando a criança nascer viva e morrer logo após o nascimento,


independentemente da duração da gestação, do peso do recém-
nascido e do tempo que tenha permanecido vivo.

3. No óbito fetal, se a gestação teve duração igual ou superior a 20


semanas, ou o feto com peso igual ou superior a 500 gramas, ou
estatura igual ou superior a 25 centímetros.

- Em que situações não emitir a DO:


- Esganadura:
1. No óbito fetal, com gestação de menos de 20 semanas, ou peso
- Constrição do pescoço pelas mãos, ao obstruir a passagem do ar menor que 500 gramas, ou estatura menor que 25 centímetros.
atmosférico pelas vias respiratórias até os pulmões.
OBS. Caso a mãe queira enterrar o feto, pode-se fazer a DO.

2. Peças anatômicas amputadas – o médico elaborará um relatório


em papel timbrado do Hospital descrevendo o procedimento
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realizado. Esse documento será levado ao Cemitério, caso o VIII. Causas externas: os campos deverão ser preenchidos sempre
destino da peça venha a ser o sepultamento. que se tratar de morte decorrente de lesões causadas por
homicídios, suicídios, acidentes ou mortes suspeitas.
- Quem deve emitir:
IX. A ser utilizado em localidade onde não exista médico, quando,
- Morte natural (causa básica é uma doença ou estado mórbido) então, o registro oficial do óbito será feito por duas testemunhas.
com assistência médica:
- Como preencher os quesitos relativos à causa da morte:
- O médico que vinha prestando assistência ao paciente,
sempre que possível, em todas as situações. - Para preencher adequadamente a DO, o médico deve declarar a
causa básica do óbito em último lugar (parte I - linha d),
- O médico assistente e, na sua falta, o médico substituto ou estabelecendo uma sequência, de baixo para cima, até a causa
plantonista, para óbitos de pacientes internados sob regime terminal ou imediata (parte I - linha a).
hospitalar
- Na parte II, o médico deve declarar outras condições mórbidas
- O médico designado pela instituição que prestava assistência, pré-existentes e sem relação direta com a morte, que não entraram
para óbitos de pacientes sob regime ambulatorial. na seqüência causal declarada na parte I.

- O médico do Programa de Saúde da Família, Programa de


Internação Domiciliar e outros assemelhados, para óbitos de
pacientes em tratamento sob regime domiciliar.

- Morte natural sem assistência médica:

- O médico do SVO, nas localidades que dispõem deste tipo de


serviço.

- O médico do serviço público de saúde mais próximo do local - Exemplos:


onde ocorreu o evento; e na sua ausência, por qualquer médico,
- Masculino, 65 anos. Há 35 anos, sabia ser hipertenso e não fez
nas localidades sem SVO.
tratamento. Há dois anos, começou a apresentar dispnéia de
- Morte não natural (decorre de lesão provocada por violência esforço. Foi ao médico, que diagnosticou hipertensão arterial e
(homicídio, suicídio, acidente, ou morte suspeita) em localidade cardiopatia hipertensiva, e iniciou o tratamento. Há dois meses,
com IML: insuficiência cardíaca congestiva e, hoje, teve edema agudo de
pulmão, falecendo após 5 horas. Há dois meses, foi diagnosticado
- Médico legista. câncer de próstata.

- Morte não-natural em localidade sem IML:

- Qualquer médico da localidade, investido pela autoridade


judicial ou policial, na função de perito legista eventual (ad hoc).

- Itens que compõem a DO:

- Composta de 9 blocos de informações:


- Falecimento de homem com traumatismo torácico consequente à
I. É a parte da DO preenchida exclusivamente pelo Cartório do perfuração na região precordial, por projétil de arma de fogo.
Registro Civil.

II. Identificação do falecido.

III. Residência: endereço habitual.

IV. Local de ocorrência do óbito.

V. Específico para óbitos fetais e de menores de um ano.

VI. Condições e causas do óbito: destacam-se os diagnósticos que - Preenchimento incorreto da DO em mortes de causa natural:
levaram à morte, ou contribuíram para mesma, ou estiveram
presentes no momento do óbito. - Parada Cardio-respiratória:

VII. Dados do médico que assinou a DO. - Deve-se evitar anotar diagnósticos imprecisos que não
esclarecem sobre a causa básica da morte, como parada
13
cardíaca, parada respiratória ou parada cárdio-respiratória. De - O dano
acordo com o Volume II da CID 10, estes são sintomas e modos
de morrer, e não causas básicas de óbito. - O nexo causal

- Falência múltipla de órgãos. OBS. Somente no âmbito criminal, o processo chega ao legista.

Responsabilidade Profissional - Código de ética médica:

- Obrigação, de ordem civil, penal ou administrativa, a que estão - Princípios fundamentais:


sujeitos os médicos, no exercício profissional, quando de um
resultado lesivo ao paciente, por imprudência, imperícia ou III. Para exercer a medicina com honra e dignidade, o médico
negligência. necessita ter boas condições de trabalho e ser remunerado de
forma justa.
- O médico, no exercício de sua profissão, responde por lesão
corporal culposa. - Direitos médicos:

- Nem todo mau resultado significa erro médico. IV. Recursar-se a exercer a sua profissão em instituições públicas
ou privadas onde as condições de trabalho não sejam dignas ou
- Todavia, se esse erro médico, causador de dano, for de ordem possam prejudicar a própria saúde ou a do paciente, bem como a
pessoal, a responsabilidade pode ser arguida de duas formas: a dos demais profissionais.
moral e a legal. A avaliação da responsabilidade moral é da
competência dos Conselhos Regionais de Medicina. Já a V. Suspender suas atividades, individualmente ou coletivamente,
apreciação da responsabilidade legal é atribuição dos tribunais, quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não
podendo comportar, entre outras, as ações penais, cíveis e oferecer condições adequadas para o exercício profissional ou não
administrativas. o remunerar digna e justamente, ressalvadas as situações de
urgência e emergência.
- Imprudência:
Deveres de conduta médica:
- Imprudente é o médico que age sem a cautela necessária. É
aquele cujo ato ou conduta são caracterizados pela audácia, - Deveres de informação;
intempestividade, precipitação ou inconsideração. A imprudência
tem sempre caráter comissivo. - Deveres de atualização profissional;

Ex. receita por telefone; utilização de uma técnica cirúrgica sem que - Deveres de abstenção de abuso;
haja subsídios suficientes que comprovem sua segurança e
eficácia. - Deveres de vigilância, cuidados e assistência.

- Imperícia: - Infrações penais:

- Resultante da falta de conhecimentos técnicos suficientes para a 1. Exercício ilegal da profissão:


prática profissional.
- médico
- Carência de aptidão.
- leigo
- Negligência:
- outros profissionais
- Decorre de um ato negativo, ou seja, quando o agente tinha o
dever legal ou contratual de agir e assim não o fez, resultando assim 2. Charlatanismo: cura por meio secreto ou infalível.
no resultado danoso.
3. Curandeirismo: prescrever ou ministrar qualquer substância;
Ex. Abandono do paciente; omissão no tratamento; letra do médico usando gestos, palavras ou outro meio; fazendo diagnóstico.
ilegível no prontuário ou na receita (poderá levar o farmacêutico a
erro); esquecimento de corpo estranho no corpo do paciente em 4. Crime de falsidade de atestado médico: Dar o médico, no
cirurgia etc. exercício de sua profissão, atestado falso. Detenção: 1 mês a 1 ano.

- Elementos da responsabilidade: 5. Omissão de notificação de doença de notificação compulsória.

- O agente 6. Violação de segredo profissional: salvo, justa causa (quando a


omissão da doença possa causar danos a terceiros, por exemplo),
- O ato dever legal ou quando autorizado pelo paciente.

- A culpa 7. Prescrição desnecessária de entorpecentes.

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8. Ilícitos penais relacionados à remoção de órgãos ou tecidos. § 1º Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom
relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho
9. Esterilização humana (só pode ser feita se): profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento,
desde que comunique previamente ao paciente ou a seu
- Maior de 25 anos representante legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados
- Mais de 2 filhos vivos e fornecendo todas as informações necessárias ao médico que lhe
- Mínimo de 60 dias após manifestação suceder.
- Saúde da mãe e feto estiverem em risco
- Proibida a realização durante o parto - Perícia do erro médico:
- Autorização do cônjuge
- Dano
- Consentimento informado:
- Nexo da causalidade e concausalidade.
- Informação sobre os riscos
- As circunstâncias do ato médico
- Não minimiza a culpa
- Documentos médicos legais:
- Nexo causal entre o dano e a falta de informação
1. Atestados
OBS. Prometam meios, não prometam resultados!!
- cabeçalho, referência à solicitação do paciente, finalidade, fato
- Responsabilidade do estudante: médico, tempo de afastamento, local e data, assinatura e CRM.

- Supervisão - Não pode se fazer atestado ganancioso, imprudente, falso,


piedoso.
- Culpa
2. Prontuários
- Direitos e deveres
- pertence ao paciente
- Segredo médico
- pode ser fornecido ao perito mediante ordem judicial
- Fatores de risco:
- segredo médico
- O sistema de saúde
3. Relatório
- A falta de compromisso médico
- Descrição do atendimento médico
- A não participação da sociedade
- Relatar o fato, segundo depoimento do paciente.
- A não revisão do aparelho formador
- Descrição das lesões.
- A falta de ensino continuado
- CID
- A precária fiscalização do exercício profissional
- Data e assinatura.
- O desgaste da relação médico-paciente

- A falta de condições de trabalho

- O abuso de poder

- A falsa garantia de resultado

- A falta do consentimento esclarecido

- O preenchimento inadequado do prontuário

- A precária documentação dos procedimentos

- O abandono do paciente

Art.36 – abandonar o paciente sob seus cuidados

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