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Responsável pelo Conteúdo:

Profa. Ms. Regina Tavare Menezes

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
 As Relações entre Mídia, Poder e Política

Para iniciar a disciplina, que tal falarmos das relações mantidas entre
a política, a mídia e o poder? Desta forma, ficará mais fácil
compreender como a mídia alterou a forma de se fazer política ao
longo da história da humanidade. Afinal, quem nunca formou
opinião sobre um candidato a partir do que viu numa campanha
eleitoral pela TV, hein?!

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.

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“Pra” começo de conversa

Que tal conferirmos na prática como a mídia, no caso a TV, altera o comportamento de
um político?

Explore
É isso mesmo! O CQC (programa de TV Custe o que Custar) sabendo da influência da mídia no
comportamento, na estética e no discurso político; “pregou uma peça” no então deputado José
Genuíno. Depois de assistir ao vídeo, reflita sobre o que mais importa nas relações mantidas entre
política, poder e mídia na atualidade: forma ou conteúdo?

Confira o vídeo no youtube pelo link: http://youtu.be/weufHc5y--Q.

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Em seu livro A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia, o autor John B.
Thompson questiona: “Antes do desenvolvimento da mídia, (...) quantas pessoas puderam,
alguma vez, ver ou ouvir indivíduos que detinham posições de poder político?”
A pergunta é oportuna, afinal, antes do desenvolvimento da mídia poucas pessoas
poderiam ver ou ouvir indivíduos que gozavam de posições de poder político. De fato, poucos
conheciam o rosto de seus governantes.
Desde a Grécia antiga, já havia uma preocupação com a visibilidade do poder.
Entretanto, com a ausência dos meios de comunicação de massa, a população contava
apenas com o contato face a face ou o contato da co-presença. Sendo assim, nem todos
tinham este privilégio. Considerando que apenas homens atenienses, abastados e acima dos
20 anos participavam ativamente da vida política da cidade, podemos constatar que o acesso
aos governantes era extremamente limitado à época.
A ágora grega, espaço destinado à assembleia de discussões políticas e cidadãs, forjava
uma esfera pública democrática. Mas, em verdade, se configurava como espaço legitimador
do status quo, ou seja, da realidade tal qual ela era. Desta forma, quem não detinha
determinadas características estava excluído do debate público.
Com o avanço dos meios de comunicação de massa, os poderosos passaram a adquirir
um novo tipo de visibilidade e, consequentemente, começaram a se preocupar com o
desempenho de suas imagens pessoais durante a conquista de súditos. Notoriamente, tal
visibilidade pública busca atrair e conquistar público. Portanto, deixa-se de lado a politização e
nota-se forte tendência à espetacularização. “O espetáculo não é um conjunto de imagens,
mas uma relação social entre pessoas medida por imagens.” (DEBORD, 1997, p.14)
Para Foucault, o exercício do poder estava ligado à manifestação pública de força e
superioridade do soberano, sendo assim, as sociedades antigas eram sociedades do
espetáculo por excelência.

Grécia antiga
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Hoje, com a evolução da mídia, novas formas de visibilidade cercam a vida dos
políticos. De certa forma, estas novas formas de visibilidade também alteraram a forma de se
fazer política. Sendo assim, o político da contemporaneidade deve desenvolver habilidades e
competências para se adaptar a esta nova realidade. Faz sentido, não é mesmo?! Pare para
pensar: O que seria de um político sem técnicas específicas para se apresentar a grandes
audiências, participar de debates com rivais, conceder entrevistas, fotografar, gravar
campanhas publicitárias etc?
Para explicar como esse novo tipo de visibilidade política se relaciona com o poder, é
necessário discorrer brevemente sobre os conceitos de esfera pública e privada. A esfera
pública diz respeito àquilo que é de "todos ao mesmo tempo e de ninguém em particular".
Podemos exemplificar, nesse caso, o espaço do ônibus, da sala de aula, do museu etc.
Reiteramos que a esfera pública está sob a Lei, que a ordena e organiza.
Já a esfera privada, diferencia-se. Seu ambiente familiar,
sua intimidade, tudo isso se refere à esfera privada; ao
indivíduo. Tal espaço está sob o império das escolhas
pessoais, ou seja, da vontade do ser e de mais ninguém.
A distinção entre público e privado tem uma longa
história no pensamento social e político ocidental, porém,
desde o final do século XIX, as fronteiras entre o público e o
privado se tornaram cada vez mais frágeis. Nesse sentido,
cada vez mais a sociedade civil se vê cumprindo ações antes
destinadas ao Estado. Basta mencionarmos a representativa
atuação das ONGs (Organizações não Governamentais)
desde o início da década de 90. Por outro lado, as
privatizações de determinados serviços públicos tornaram-se
representação maior da confluência entre público e privado.

Thompson define “público” como algo visível ou observável, ou seja, o que é realizado
na frente dos espectadores; enquanto que “privado” é o que se esconde, o que é dito ou feito
em privacidade ou segredo. Thompson se baseia nos conceitos de público e privado,
originados por J. Habermas. Cabe dizer que o conceito de público desperta a noção de
opinião pública, elemento caro para a reputação de qualquer político. Daí a intenção em
distinguir marcadamente o que deve se situar na esfera privada e/ou na esfera pública. Apesar
de constatarmos que a vida privada do político pode implicar, sobremaneira, na visibilidade
pública de sua carreira.

Com os novos canais de comunicação, a política se torna pública e privada,


simultaneamente. Afinal, a população não precisa se deslocar para o espaço público, tal como
na ágora grega, para ter acesso aos políticos. A população pode simplesmente visualizá-los
e/ou escutá-los em horários televisivos eleitorais, telejornais ou propagandas políticas, por
exemplo. Assim, é possível compreender suas orientações ideológicas, seus projetos de
atuação política, entre outros aspectos.
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Outra constatação importante é de que quando a política se torna visível, o poder
também se torna visível à maioria. Os sistemas políticos em muitas sociedades ocidentais
assumiram a forma de democracias livres. Sendo assim, a transparência política é mais
cobrada pela população. Contudo, o exercício da política ainda encontra formas de envolver
o poder em segredo. Quantas sessões secretas não definem situações do cotidiano público?
De certa forma, o voto secreto entre parlamentares também se caracteriza como uma
estratégia de invisibilidade daquilo que é público.

Em outras unidades de nossa disciplina, falaremos como o advento dos meios


eletrônicos de comunicação tem furado o bloqueio da invisibilidade e exposto imagens de
corrupção que se pretendiam invisíveis para o público. Quem não se lembra de políticos
guardando dinheiro na meia ou na cueca?

Apesar de citarmos com exaustão o papel da TV para a visibilidade pública dos políticos,
cabe reiterar que as novas relações de poder e política se devem, inicialmente, ao avanço da
mídia impressa. A TV se destaca como instrumento de visibilidade da política e do poder por
possuir o elemento da visualidade.

Veremos ao longo da disciplina, a vantagem da TV em relação aos demais meios de


comunicação durante a veiculação de uma campanha política. Isso porque todos os sentidos
são despertos e envolvidos pela mídia televisiva. A TV permite aos receptores a visão de
pessoas, ações e eventos, bem como a audição de palavras faladas e de outros sons em uma
larga escala. Para Thompson, o alcance da TV é surpreendente e global.

O desenvolvimento da TV reiterou a importância da visibilidade no sentido estreito de


visão, embora a visibilidade esteja agora separada do compartilhamento do lugar comum, ou
seja, da esfera pública. Afinal, mesmo que todos tenham acesso aos líderes políticos pela
mídia simultaneamente, o diálogo da co-presença não se dá necessariamente.

Outro aspecto das novas formas de visibilidade, que as diferenciam da forma tradicional
de co-presença do passado, são as estratégias desenvolvidas pela imprensa, tal como as
famosas edições que, por vezes, podem deturpar e alienar os espectadores. As informações
podem sofrer sérias alterações dependendo dos objetivos do veículo de comunicação.

Para ilustrar esse caso, vale lembrar a edição do debate


eleitoral entre Collor e Lula, realizado pela Rede Globo em
1989. Segundo especialistas, a edição, que pretendia resumir
o conteúdo do debate eleitoral entre os referidos candidatos,
favoreceu Collor. O material editado privilegiou momentos
do debate, nos quais, Collor aparentava melhor desenvoltura
e confiança, em detrimento, exibia o candidato Lula em
momentos de insegurança e desconforto.

Foto extraída do site da revista Veja: www.veja.abril.com.br.

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Cabe notar que em debates políticos como o mencionado acima, a imagem pessoal do
candidato se sobressai. Podemos aferir, nesse sentido, que um dos impactos mais importantes
da TV é a personalização, e por conta disso, o processo político é apresentado cada vez mais
como uma disputa entre candidatos e não entre programas políticos.

Dificilmente, os eleitores discorrem sobre o programa político de seus candidatos ou


sobre o partido dos mesmos. Contudo, conhecem claramente as características físicas e
psicológicas de seus candidatos.

É aqui que surge o conceito de administração da visibilidade, algo que já ocorria antes
da TV. Basta notar como as moedas antigas traziam como inscrição a melhor imagem de seus
imperadores.

De lá para cá, pouco mudou. Todo político que se preze possui certa preocupação com
a própria imagem pessoal; o que consiste em aparência, vestimenta, comportamento,
indumentária, linguagem etc.

Quem não se lembra de como o publicitário Duda Mendonça transformou a imagem de Lula?

Fonte: Agência Brasil.

Falando em publicitários... Vale dizer que Thompson também se concentrou em dissertar


sobre o papel dos profissionais da administração da visibilidade política, não somente em
circunstâncias de eleição, mas em todo o seu governo. São eles: os publicitários, os assessores
de imprensa, os radialistas, os jornalistas, entre outros. Para exemplificar, citemos o trabalho
das relações públicas como media trainings de candidatos políticos. Eles são capazes de
melhorar a desenvoltura de qualquer um diante dos holofotes da Grande Mídia.

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Apesar da administração, realizada por tais profissionais, a visibilidade oferecida pela
mídia cria fragilidades para os políticos, tais como:

 gafes;
 escândalos;
 acessos explosivos; e
 desempenho de efeito contrário.

Quando um governante desrespeita o protocolo de um jantar, por exemplo, se dá um


tipo de gafe. Durante a divulgação de um esquema de corrupção, cometido por determinados
parlamentares, temos um escândalo de repercussão, por vezes, internacional. Em razão de
humores exaltados, alguns políticos já se excederam e agrediram jornalistas ou até cidadãos
comuns, configurando-se uma situação de acesso explosivo. Por fim, quando um político
toma uma atitude ou assume um posicionamento sobre algo e não é bem interpretado pela
opinião pública, temos um exemplo legítimo de desempenho de efeito contrário.

A ausência de senso crítico por parte da população eleitora pode se tornar uma grande
vilã da democracia na hora de decidir quem deterá o poder. Pois, sem criticidade não é
possível distinguir a legitimidade do discurso político da espetacularização da política.

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CASALI, Caroline. A imagem dos candidatos à Presidência no discurso de Veja.
Monografia de conclusão de curso. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), CCSH,
Curso de Comunicação Social – Jornalismo, 2003.

CÉSAR, Guilherme. Documentário “O espetáculo democrático”. 2003.

FAUSTO NETO, A. O impeachment da televisão: como se cassa um presidente. Rio


de Janeiro: Diadorim, 1995.

GOMES, Wilson – Transformações da política na era da comunicação de massa. São


Paulo: Paulus, 2006.

MIGUEL, Luis Felipe – “Os meios de comunicação e a prática política”. Lua Nova, nº
55-56. São Paulo, 2002, pp. 155-84.

12
ARBEX JUNIOR, J. Showrnalismo: A Notícia Como Espetáculo. 4. ed. Sao Paulo: Casa
Amarela, 2005.

CHAIA, V. Análise do Discurso Político: Abordagens. São Paulo: Edusp/Perspectiva,


1993.

COHN, G. Comunicação e Indústria Cultural. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora


Nacional, 1975.

DEBORD, G. A Sociedade do Espetáculo: Comentários Sobre a Sociedade do


Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2002.

HABERMAS, J. Mudança Estrutural da Esfera Pública: Investigações Quanto a Uma


Categoria. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.

LIMA, V. A. Mídia Crise Política e Poder no Brasil. São Paulo: Perseu Abramo, 2006.

SANTAELA, L. Produção de Linguagem e Ideologia. 2. ed. São Paulo: Imago, 1992.

THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis:


Editora Vozes, 1998.

WEBER, M. H. Comunicação e Espetáculo da Política. 2. ed. Porto Alegre: Ufrgs, 2000.

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