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PROFETO HISTORIA: Revista do Programa de Fstudos Pés-Graduados em Histéria e do Departs de Hrs a PUGS oot Univer Ca Paulo) Sdo Paulo, SP - Brasil, 1981. & eae Publicagosemestral apart de 1985 1981-1985,04 1986, 36 1982.7 1992, 89 1993, 10 ISSN 0102-4442 TRADUGOES ENTRE MEMORIA E HISTORIA* ‘A problemitica dos lugares Pierre Norat® Tradugdo: Yara Aun Khoury*** \ 1. fim da histériasmembria FeecleraglDa histria. Para além da metifora, ¢ preciso ter a noglo do que ‘a expressto significa: uma oscilaglo cada vez mais tipida de um passado defnt- ‘vamente moro, a pereepedo global de qualquer coisa como desaparecida - una ruptura de equilrio, OQ arrncar do que ainda sobrou de vivido no calor da tradicfo, ‘bo mutism do costume, na repeuedo do ances, sob o impuso de um seadmento fistrico profund, A ascensfo& consciéscia de si mesmo s0b osigno do tenminado, fo fim de alguma coisa desde sempre comeyada.Falase tanto de meméria porque cla nfo existe mas, "A curiosidade pelos lugares onde a mcuntia se cistaliza © ao refugia eet Tiga a este momento panicilar da nossa histiria. Momento de aticulagto onde a conscineia da ruptura com 0 passado se confunde com o sentimento de uma rmemria esfaclada, mas onde o esfacelamento desperta sinda meméra suficente para que Se posta colocar o problema de sin encamaplo. O sentimento de con- timuidade tora-se residual aos locas. HA loais de meméria pore no hi mais rmeios de meméria, ‘Peasemos nessa mulilagfo sem retome que representouo fim dos camponeses, ‘sta coletividade-meméria por excelénca cyja voga como objeto da stra coincidu com 0 apogeu do crescimento industrial, Esse desmoronamento central de nossa + charted mie Ripa Fa Olina, 94 XVII-XLI Tole toate ‘elo Ber © Eéos Car 4 Diet de td "Ese Has lade Sinn Sie” ‘Departamento de Mina, PUCSP. meméria 56 ¢, no entanto, um exemplo. E © mundo inteiro que eno na danga, pélo fendmeno bem conhecido da mundializaczo, da democratizagto, da massifi- cegdo, da mediatizagdo, Na periferia, a independéncia das novas nagSes condizi para a historicidade ws sociedades jd desperadas de seu sono etnologico pela Vio- lentagfo colonial, E pelo mesmo movimento de descolonizagdo interior, todas as etnias, grupos, familias, com forte bagagem de meméria e fraca bagagem hisérica, ‘Fim das sociedades-meméria, como todas aquelas que asteguravam a conservagdo € a transmissfo dos valores, igreja ou escola, familia ou Estado. Fim das ideolo- { fias-memérias, como todas aquelas que asseguravam a passagem regular do passado 3 > ee amo futuro, ou indicavam o que se devera eer do passado par prepara futuro; quer se trate da regio, do progresso ou mesmo da revolugto, Ainda mais: & 0 modo mesmo da perceprto histérica que, com a ajuda da midis, dilatouse prodigiosament, substivindo uma meméria volada para a heranga de sua prbpria Iiuimidode pela pelicula efemera da auaidade GeelerAGID 0 que o fendmeno acaba de nos revelar bruscamente, & toda a distin? enue HiemeTa VENTE social, intocada, aquela cujas sociedades ditas rimitivas, ou arcicas, epresentaram 0 modelo e guardaram consigo o segredo - © ‘mente $0b 0 signo da hstria nlo conbeceria, afinal, mais do que uma sociedad ‘madcional, lugares onde ancorr sua meméria, Prk Mn, Ste Ps, (10, e198) . ‘ordneos da historia “total”, toda a tradigto hisérica desenvolveu-te como exercicio ‘réulado da memSria ¢ seu aprofundamento espontinea, a reconsttuigdo de um pas- 86 a meméria da naglo. Muito pelo contriro, cles estavam imbuidos do sentimente que seu papel consstiaestabelecer uma meméria mais postiva do que as preceden- tes, mais globalizante ¢ mais explicativa. O arcenal cintifico do qual a histona fo Aotada no século passado s6 serviu para reforgar poderosamente 9 esabelecimento cttico de uma meméria verdadeima. Todos oF grandes remangjamentos histéricos consistiram em alargar o campo da meméria coletva Num pals como a Franca, a histéria da Wistéria nlo pode ser uma operasdo ‘nocente, Ela traduz a subversio interior de uma hstbria-memria por uma histbria, crtica, ¢ todos os historiadores pretenderam denuaciar as mitologias mentirosas de seus predecessores, Mas alguma coisa fundamental se inicia quando a historia ‘omega a fazer sua prbpria histria. O nascimento de uma preocupagdo histo ‘ogrifica, é a histbria que se empenha em emboscar em si mesma © que ndo é ela Prépria, descobrindo-se como vitima da memériae fazendo um exforgo pam ae livrar dela, Num pais que nfo dara &histria um papel dretore formador da consciéncia nacional, & histria da histéria nfo se encarregaria desse conteido polémico. Nos Estados Unides, por exemplo, pals de meméria plural e de contribuigSes milipla, € iconoclasia ¢ ireverente, Ela consiste em tomat para si os objetos melhor consti. {uldos da tradi¢do - uma batalha chave, como Bouvines, um manual canénico, come © Pequeno Lavisse - para demonstrar o mecanismo ¢ reconstituir a0 méximo as vondlqves de sua elaboragio. E introduzir a divida no coragdo, a limina entre a ‘rvore da meméria © a casca da histria, Fazer a historigrafia da Revolugto » Pro, Hii So Psa (10, ec 1938 Franessareeansiuir seus mils ¢ suas-interprelabes, significa que. nis,n8o nos identificamos mais. completamente com sua ‘beranga.Injerrogar uma.tradicgo, por imais-venerivel que ela sea, € nlo, mais se.reconhecer.com seu nico poraaee Or, nko so unicamane 08 objets mals saysads denon tradi national gue $©,prppe uma histéria.da.histria; interrogando-se sobre seus meios matcriais cofegluais, sobre os procedimentas de sua prpriaprodugdo‘e as elapas eociais de sua difust, sobre sua propria consttucdo.em tradigdo, toda a histéra entrou tm Sua idade historiogréfica, consumindo sua desidenificagdo com a memdria, Uma ‘memra que se tomou, ela mesma, objeto de uma histria possivel Houve um tempo em que, através da, histiria e em torno da Nagdo, uma \radigso de memria parecia ter ackado sua citalzago na snes da Il Republica Desde Lettres sur Vhixoire de France, de Augustin Thiemy (1827) alé a Histone stnctre de la nation francaise, de Charles Seignabos, adoiando una larga crovolo, sia, istéria. memeria, Nato mantvera, eno, mais do que uma clteuosso see ‘a: uma circlaridade complementar, uma simbiose em todos os niveis,cieatfice ¢ Peilagégico, tebrico e pritico. A definigdo nacional do Presente chamava impe- rosamente sua jutiaiva pela iluminagdo do passado, Presene fragilizado pelo traumatismo revolucionirio que impunta uma reavalagdo global do passade mond. awic; faglzado também pela deroa de 1870 que so torava mais ugente, con relagdo&ciéncaalemd como a instrutoralem,o verdadeiro vencedor de Sadows, © desenvolvimento de\uina”enudigdo document)e da transmissio escolar da ‘meméris. Nada se equipara so tom de responsabilidad nacional do historiador, meio padre, meio soldado: ee manifestase, por exempo, no ‘tia que a histbria postvista no era cumulativa. Na perspective finalizada de una

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