Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
*
Administrador de Empresas, servidor público da Prefeitura Municipal do Salvador. Pós-graduado em
Administração Pública com ênfase em Controladoria – afonsoalonso@salvador.ba.gov.br
**
Administradora com ênfase em Gestão Pública, servidora pública da Prefeitura Municipal do Salvador. Pós-
graduado em Administração Pública com ênfase em Controladoria – crisrobledo@ig.com.br
3
1 Introdução
De acordo com dados oficiais do Ministério das Cidades (2008, p.21), em 2006,
o déficit habitacional quantitativo do país estava em torno de 7,9 milhões de novas
moradias, das quais 6,5 milhões nas áreas urbanas e 1,4 milhões em áreas rurais.
Passaremos também por uma análise histórica e conjuntural das políticas para
habitação adotadas no país, principalmente, a partir da segunda metade do século
passado, enfatizando a questão fundiária.
espaço urbano. O reflexo desse processo é sentido ainda hoje, notadamente nos
centros urbanos das regiões metropolitanas. Contudo, o problema habitacional no
Brasil remonta ao período colonial.
Ainda nesse período, no Brasil, a terra não tinha valor econômico, pois sendo
de domínio português, a sua transferência dependia da anuência lusitana, não
havendo a possibilidade de compra e venda, hipoteca ou qualquer outro tipo de
transação comercial sobre as concessões efetivadas pela Coroa. A outra forma de
apropriação de terras nesse período era através da posse clandestina de lotes de
terras.
Esse quadro só foi alterado com a edição da Lei de Terras (Lei nº 601) em
1850, através da qual, estabelece-se como única forma de aquisição da terra, a
compra e venda.
Outro aspecto que contribuiu para o inchaço populacional dos grandes centros,
além do crescimento vegetativo da população, foi o êxodo rural que levou um
volumoso contingente de pessoas aos grandes centros econômicos da época em
busca de novas oportunidades.
Sob essa nova concepção, os imóveis inseridos nas favelas, por exemplo,
poderiam ser classificados, a depender da situação, como déficit habitacional ou
inadequação habitacional
O estudo da Fundação João Pinheiro que teve o seu primeiro volume lançado
em 1995, refletindo do déficit habitacional no Brasil em 1991, está no seu quinto
volume2, lançado em 2008, sob o horizonte de análise o ano de 2006, perfazendo
mais de uma década de estudos, passou por mudanças para aperfeiçoar o trabalho
aproximando-o da realidade.
2
Brasil. Ministério das Cidades. Déficit Habitacional no Brasil 2006. Brasília, 2008.
9
Tabela - 01
Fonte: Brasil. Ministério das Cidades. Déficit Habitacional no Brasil 2006. Brasília, 2008
Tabela 02
Fonte: Brasil. Ministério das Cidades. Déficit Habitacional no Brasil 2006. Brasília, 2008
GRAFICO - 01
Fonte: Brasil. Ministério das Cidades. Déficit Habitacional no Brasil 2006. Brasília, 2008 p.28
GRÁFICO - 02
Fonte: Brasil. Ministério das Cidades. Déficit Habitacional no Brasil 2006. Brasília, 2008, p.35
A primeira ação que pode ser considerada como o marco do início de uma
política habitacional no Brasil ocorreu em 1946, com a criação da Fundação Casa
Popular (FCP), através do Decreto Lei 9.218 de 01/05/1946, mas que devido à falta
de recursos, mostrou-se impotente para atender a demanda por moradia existente
aquela época.
A sua atuação se estendeu até os anos sessenta, quando foi extinta. Citando
Nabil Bonduki, Angela Gordilho (2000, p. 44) assim assinala a atuação da Fundação
Casa Popular: “O fracasso da FCP atrasou em vinte anos a formulação de uma
política habitacional consistente [...]. Devido a essa incapacidade do Estado de
equacionar o problema da moradia, as soluções acabaram transferidas para os
próprios trabalhadores, através do auto empreendimento”.
Esse processo se estendeu por vários anos e foi se agravando ainda mais na
medida em que o processo de crescimento econômico avançava, levando mais
gente para os grandes centros, principalmente ao sudeste do país, sem que o
Estado mostra-se o seu papel de regulamentador e provedor das ações sociais.
Com o início do regime militar no Brasil, após o golpe de 1964, diante dessa
conjuntura socioespacial degradante, caracterizada por um alto índice de favelização
dos espaços urbano dos grandes centros econômicos, e da permanente e crescente
demanda por moradia, é criado ainda em 1964, o Banco Nacional de Habitação
(BNH)3, inserido no Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
3
O Banco Nacional de Habitação (BNH) foi criado pela Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964.
15
Apesar das inúmeras críticas ao papel desempenhado pelo BNH durante a sua
existência, é inegável a sua importância como delineador de uma verdadeira Política
Nacional de Habitação, na qual se estabeleceu parâmetro claro de financiamento
habitacional no país a partir da criação de uma estrutura institucional que permitiu a
produção de moradias em grande escala, além de ter promovido o estabelecimento
de um sistema de financiamento com recursos específicos (FGTS e Poupança) e
estáveis.
Em 1986, logo após o fim do regime militar, o BNH é extinto, sendo suas
atribuições transferidas para Caixa Econômica Federal vinculada ao Ministério da
Fazenda, enquanto que as ações em habitação eram de atribuição do Ministério do
Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (MDU). Em 1987 o MDU foi transformado
em Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente, que dentre outras
atribuições, passou a incorporar a Caixa Econômica Federal.
Toda essa situação levou a uma situação dramática para quem tinha
financiamento habitacional no Brasil, pois as prestações aumentavam em uma
escala muito maior que a reposição salarial, o que por via de conseqüência elevava
significativamente o saldo devedor dos mutuários, que acabavam por ter um valor
muito superior ao do imóvel financiado, levando a um grande inadimplemento das
prestações.
Entretanto, o reflexo desses novos programas não pôde ser sentido em larga
escala pela população de baixa renda, pois devido à maneira como foram
operacionalizados, incorporando um caráter bancário, boa parte dessa população
continuou excluída do acesso a moradia.
4
Esse Capítulo compreende os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988.
19
A partir de 2003, no governo Lula, sob uma nova conjuntura política é que se
passa a delinear uma nova Política Nacional de Habitação para o Brasil. A proposta
do governo para atuar na questão habitacional no Brasil foi lastreada no Projeto
Moradia, desenvolvido pelo Instituto Cidadania.
Para tanto, foi criado o Ministério das Cidades (Mcidades) que passou a gerir e
formular a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, com as ações do Governo
Federal voltadas ao saneamento básico, a habitação, aos transportes urbanos e a
política de ordenação do solo. Especificamente em relação à questão habitacional,
incumbia ao Mcidades “coordenar a política urbana e habitacional no país,
estruturando e implementando o Sistema Nacional de Habitação, elaborando o
Plano Nacional de Habitação e estabelecendo as regras gerais do financiamento
habitacional” (PREFEITURA DE SANTO ANDRÉ, 2006, p. 16)
questão habitacional com uma política de Estado uma vez que o poder
público é agente indispensável na regulação urbana e do mercado
imobiliário, na provisão da moradia e na regulação de assentamentos
precários, devendo ser, ainda, uma política pactuada com a sociedade e
que extrapole um só governo “.(Id. 2006, p. 30)
5
Órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa criado em 2004, que faz parte da estrutura do
Ministério das Cidades e que tem por finalidade estudar e propor diretrizes para formulação e
estruturação da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano e acompanhar a sua execução. O
ConCidades é composto por 86 membros titulares, sendo 16 do poder público, 9 do poder público
estadual, 12 do poder público municipal, 23 de representantes de entidades dos movimentos
populares, 8 de entidades dos empresários, 8 dos trabalhadores, 6 de entidades profissionais
acadêmicas e de pesquisa, e 5 de organizações não-governamentais. Participam ainda 9
observadores representantes dos governos estaduais que possuem Conselho das Cidades em suas
respectivas unidades da Federação
23
O Sistema Nacional de Habitação foi instituído através da Lei 11.124, que criou
também o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), que de acordo
com o art. 7º, tem a “natureza contábil, com o objetivo de centralizar e gerenciar
recursos orçamentários para programas estruturados no âmbito do SNHIS,
destinados a implementar políticas habitacionais direcionadas à população de menor
renda”, além do Conselho Gestor do Fundo Nacional de Habitação de Interesse
Social (CGFNHIS).
25
6.2. Recursos
A análise dos dados referente às seleções de projetos para o FNHIS nos anos de
2007 e 2008 evidencia uma distribuição que procura atender de forma proporcional
ao déficit habitacional existente no País de acordo com o estudo produzido pela
Fundação João Pinheiro em 1995 e que já passou por algumas atualizações, sendo
o último volume publicado em 2008, referente ao déficit estimado para o ano de
2006.
Fonte: Dados do resultado da seleção do FNHIS 2007 e 2008 e Estudo da Fundação João Pinheiro para o Déficit Habitacional
no Brasil - 2006
Está previsto que só terá acesso aos recursos disponibilizados pelo FNHIS os
municípios e Estados, que, dentro dos prazos estabelecidos, constituam Fundo e
Conselhos locais, elabore Planos locais de Habitação e que anualmente elabore
relatório de gestão a ser aprovado pelo Conselho local.
Essa Lei além de criar esse arranjo institucional em nível do Governo Federal,
estabelece a necessidade de criação de Fundos e Conselhos estaduais e
municipais, sendo que em relação aos Conselhos, estabelece a obrigação dos
mesmos serem constituído de forma paritária entre o Poder Público e Sociedade
Civil, bem como a obrigatoriedade de participação dos movimentos populares da
proporção de 25% dos respectivos Conselhos.
Ainda sobre esse aspecto, qual seja a participação social, o governo federal
no âmbito dos seus programas voltados a habitação e ao saneamento básico,
passou a adotar a obrigatoriedade de ações sociais e participativas em seus
desenvolvimentos. Nesse sentido, município e estado quando recebem repasse
voluntário de recursos estão obrigados a destinar um percentual de recursos ao
desenvolvimento de ações sociais, cujos princípios norteadores – autonomia,
parceria e democratização – levando a população a conhecer, refletir e discutir as
alternativas de soluções sustentáveis para os problemas de cada comunidade
33
7 Conclusão
A questão habitacional no que tange ao seu déficit na atualidade, não é algo recente,
tendo sua semente lançada ainda durante a fase colonial de nossa história, mas que
a partir dos anos 30 do século passado, ganhou notoriedade devido ao processo
acelerado de urbanização dos grandes centros, em função do desenvolvimento
industrial recém chegado ao país, ocasionado um “inchaço” populacional nas
grandes cidades sem qualquer planejamento ou controle.
A coisa se agravou com o fim do regime militar, que tinha na política implementada
pelo BNH um dos alicerces de atuação, mas que com a sua extinção levou a um
longo período de ações isoladas pelos estado e município, sem nenhuma
coordenação por parte do governo Federal, agravando de forma significativa a
questão do déficit habitacional no país.
Nesse sentido, o governo Federal depois de vários anos sem uma atuação ativa
para reduzir o déficit habitacional no país, desde meados dos anos 80, volta a atuar
de forma positiva a partir de 2003, com a criação do Ministério das Cidades e
posteriormente com a sanção da Lei 11.124 de 2005, que criou o Sistema Nacional
de Habitação de Interesse Social - SNHIS e o Fundo Nacional de Habitação de
Interesse Social - FNHIS, sinalizando para uma atuação constante, na medida em
que nesta nova sistemática, a participação de diversos setores da sociedade civil se
tornou uma exigência legal, com a formação dos Conselhos Gestores,
principalmente em relação à participação dos movimentos populares.
Contudo, ainda são necessários ajustes no atual desenho político institucional, pois
apesar da Lei que criou o SNHIS estabelecer que os recursos sejam repassados aos
Fundos Locais, em 2007 e 2008, mesmo para os entes da federação que já haviam
constituído Fundo e Conselhos locais, os recursos foram repassados aos municípios
e estados, através de contratos de repasses, sem passar pelos fundos locais, em
função de modificações introduzidas pela Lei 11.481/2007.
35
REFERÊNCIAS
______. Ministério das Cidades. Déficit Habitacional no Brasil 2006. Brasília, 2008. 97p