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Contextos Clínicos, 2(1):59-71, janeiro-junho 2009

© 2009 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2009.21.07

O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na


atualidade: definições, formas de manifestação e
possibilidades de intervenção

Bullying phenomenon today: Definitions, expression


forms and possibilities of intervention

Carolina Lisboa, Luiza de Lima Braga, Guilherme Ebert


Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Av. Unisinos, 950, Bairro Cristo Rei, 93022-000, São Leopoldo, RS,
Brasil. csmacedo@unisinos.br, luiza_lb@uol.com.br, guilherme.ebert@hotmail.com

Resumo. O presente artigo apresenta uma revisão crítica da literatura acerca


do conceito e de estudos realizados sobre o fenômeno bullying ou vitimiza-
ção entre pares na escola. Em primeiro lugar, apresenta-se uma definição do
construto bullying, salientando-se problemas de tradução e outros termos
usados para definir este tipo de violência em outras culturas e na língua por-
tuguesa. Enfatiza-se, nesta primeira parte do artigo, a perspectiva teórica que
se adota para análise do fenômeno. Em seguida, explicam-se e detalham-se
as formas de manifestação do bullying protagonizado ou sofrido por crian-
ças e adolescentes, as diferenças de gênero percebidas e os papéis sociais
na dinâmica do bullying estudados por alguns autores. Apresentam-se, ain-
da, fatores de risco envolvidos no processo de bullying tanto como possíveis
causas ou desencadeadores desse fenômeno, quanto como consequências
dele. Por fim, retomam-se pontos apresentados e focaliza-se a problemática
do bullying e suas proporções no contexto atual. A partir disso, sugerem-se,
para discussão e reflexão, algumas ideias sobre formas de prevenção e inter-
venção desse tipo de comportamento agressivo.

Palavras-chave: bullying, definições, fatores de risco, intervenção.

Abstract. The present paper presents a critical literature revision about the con-
cept and studies toward bullying phenomenon in school contexts. First, it will
be presented a definition of bullying, emphasizing translation problems to this
word as well as other words used to define this type of violence in other cultures
and in Portuguese speaking countries. Moreover, the theoretical perspective of
analysis adopted in this specific work will be emphasized. Following, manifes-
tation expressions of bullying, initiated or suffered by children and adolescents
will be explained, as well as some gender differences and social roles assumed
by the participants in the bullying process, according to some authors. Risk fac-
tors of the bullying process will also be pointed as possible causes to the phe-
nomenon as well as consequences to the participants. Finally, the ideas present-
ed will be reviewed and emphasized the bullying problem and its magnitude
nowadays. Therefore, ideas to prevention and intervention actions of this kind
of aggressive behavior will be open to discussion.

Key words: bullying, definitions, risk factors, intervention.


O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade

O que significa bullying ou Japão, a palavra referida, ijime, relaciona-se à


vitimização entre pares? Definições agressividade relacional, e enfatiza a manipu-
lação social e violência simbólica. Já na Itália,
A agressividade entre jovens, no contex- as palavras prepotenza e violenza apareceram
to das escolas, se constituiu num problema em destaque no discurso dos jovens, enfatizan-
central de discussão e mobilização da mídia, do aspectos mais diretos e físicos da agressão.
das autoridades e dos pesquisadores de di- Os dados de Portugal apontam a palavra abuso
versas culturas (Berger e Lisboa, 2009; Ellis e como um termo para o processo representado
Zins, 2003; Espelage e Swearer, 2003; Miller graficamente nas vinhetas (bullying). Entretan-
e Krauss, 2008; Pellegrini, 1998). Na América to, o termo abuso tem também uma conotação
Latina, casos de violência nas escolas — e de mais ampla na língua portuguesa, pois não
bullying especificamente — são apresentados envolve somente a violência e ataques agres-
diariamente em manchetes de jornais e revis- sivos, mas o abuso de substâncias e de outros
tas e facilmente encontrados em diferentes si- comportamentos. Abuso é também um termo
tes de notícias, blogs ou homepages. Parece exis- utilizado para violência intrafamiliar e assédio
tir quase um consenso de que a percepção e sexual no trabalho. Por último, segundo Smi-
sensação da comunidade em geral e da escola, th et al. (2002), a fala dos jovens portugueses,
em específico, é de um aumento de violência e quando referiram abuso, não compreendeu a
bullying em escolas, assim como uma signifi- percepção do bullying também como um pro-
cativa elevação da gravidade desses processos cesso sobreposto à exclusão social, condição
(McLaughlin e Miller, 2008). É necessário afir- indispensável para o entendimento desse fe-
mar que a ausência de dados ou atenção públi- nômeno. Termos utilizados por pesquisadores
ca anterior não permite concluir se é um fenô- em culturas de língua portuguesa para referir-
meno contemporâneo e novo ou se ele sempre se ao bullying têm sido: maus tratos entre pares
existiu. Entretanto, pesquisas e iniciativas de ou vitimização. A opção por usar o termo no
intervenção e prevenção do bullying e violên- idioma inglês juntamente à sua conceituação
cia na escola podem ser consideradas recentes pode, embora seja um estrangeirismo, abarcar
(Berger e Lisboa, 2009). a complexidade desse processo (Lisboa, 2005;
Controvérsias acerca do conceito de vio- Lisboa e Koller, 2004).
lência, agressividade e violência escolar resul- Bullying é, portanto, o fenômeno pelo qual
tam em diferentes paradigmas teóricos para uma criança ou um adolescente é sistema-
compreensão desses fenômenos ou comporta- ticamente exposta(o) a um conjunto de atos
mentos. A agressividade, por exemplo, foi tra- agressivos (diretos ou indiretos), que ocorrem
dicionalmente entendida a partir de modelos sem motivação aparente, mas de forma in-
psicopatológicos e instintos destrutivos, o que tencional, protagonizados por um(a) ou mais
levou à identificação de características e/ou agressor(es). Essa interação grupal é caracte-
perfis individuais que determinam que certos rizada por desequilíbrio de poder e ausência
jovens sejam agressores ou vítimas (Côté et al., de reciprocidade; nela, a vítima possui pouco
2006; Debarbieux, 2001). ou quase nenhum recurso para evitar a e/ou
O termo bullying não possui tradução literal defender-se da agressão (Almeida et al., 2007;
para o português. Bully é o termo, em inglês, Bronfenbrenner, 1996 [1979]; Olweus, 1993;
para “valentão” e bullying pode ser traduzido Salmivalli et al., 1998). O que basicamente
por “intimidação”, o que reduz a complexi- distingue esse processo de outras formas de
dade do fenômeno a uma das suas múltiplas agressão é o caráter repetitivo e sistemático e a
formas de manifestação, ou seja, a um com- intencionalidade de causar dano ou prejudicar
portamento de ameaças e intimidações. Um alguém que normalmente é percebido como
importante estudo sobre esta discussão foi re- mais frágil e que dificilmente consegue se de-
alizado por Smith et al. (2002). Essa pesquisa fender ou reverter a situação (Samivalli, 1998).
investigou o uso de termos para a definição de Pesquisadores, professores e outros profis-
bullying, referidos por jovens, após apresenta- sionais, como pais e comunidade em geral, atri-
ção de vinhetas (gráficas) sobre esse processo, buíam o bullying a processos naturais, norma-
num universo de quatorze culturas diferentes, tivos que ocorrem nas escolas; pouco se falava
dentre a Europa e o Japão. Os resultados do ou se noticiava sobre episódios e manifestações
estudo mostram uma diversidade de palavras, graves de comportamento agressivo dentro
mas também de enfoques e conotações atri- dessas instituições (Olweus, 1993). Entretanto,
buídas ao bullying a partir desses termos. No paulatinamente, psicólogos clínicos e pesquisa-

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dores começaram a identificar casos de violên- Lisboa, 2005; Neto, 2005). Uma busca no Index-
cia nas escolas e a se preocupar com as possíveis Psi Periódicos (www.bvs-psi.org.br) com o des-
consequências e vulnerabilidades dos envol- critor bullying aponta poucos artigos científicos
vidos (Olweus, 1993; Smith et al., 2004). Den- brasileiros (Antunes e Zuin, 2008; Neto, 2005;
tre os autores que vêm estudando esse tipo de Palácios e Rego; 2006). Estudos empíricos que
relação entre pares, destaca-se o professor Dan investiguem este tipo de relação ainda necessi-
Olweus que iniciou suas pesquisas na década tam ser realizados (Binsfeld e Lisboa, 2008).
de 1970, na Noruega, embora, ainda, não se O bullying é um fator de risco para a violência
identificasse um interesse das instituições sobre institucional e social, bem como para compor-
o assunto. Mesmo que o bullying tenha desper- tamentos antissociais individuais (Lisboa, 2005)
tado interesse de estudo há mais de trinta anos, e pode significar uma forma de afirmação de
o processo vem realmente atraindo atenção nas poder interpessoal por meio da agressão. Não
duas últimas décadas, a partir de estudos que pode ser confundido com brincadeirinhas de
evidenciam sua prevalência e, principalmente, crianças, nem admitido como uma situação
os riscos para o desenvolvimento pessoal e so- corriqueira e natural. A diferença, para obser-
cial de jovens e instituições escolares como um vadores externos ao grupo de pares, entre o
todo. Os resultados do Relatório Internacional bullying e as brincadeiras de crianças, às vezes,
da Saúde Mundial (Craig e Harel, 2004) referem é muito tênue; pode ser sutil ou imperceptível,
que o bullying é um problema mundial que afe- mas não menos grave. No entanto, quando há
ta cerca de um terço de crianças por mês. Para sofrimento, de qualquer um dos envolvidos, não
cerca de 11% de crianças, este tipo de abuso, é mais uma brincadeira entre amigos. É nece­s­
praticado pelos seus companheiros, é severo sário, portanto, que os professores e demais
(várias vezes por mês). profissionais vinculados à instituição escola
Em 1982, na Noruega, três alunos na faixa estejam atentos à situação e busquem a inter-
etária de 14 anos cometeram suicídio, possivel- rupção desse processo.
mente como resultado de problemas de bullying O bullying é definido como um subtipo de
(vitimização). Após, em 1983, uma campanha comportamento agressivo que gera atos vio-
nacional para combater problemas relacionados lentos e, na maioria das vezes, ocorre dentro
à vitimização em escolas foi coordenada pelo das escolas (Olweus, 1993). O comportamento
Ministério da Educação desse país (Olweus, agressivo emerge na interação social e pode
1993). Dessa forma, as autoridades, a mídia e ser definido como todo o comportamento que
profissionais em escolas passaram a dar mais visa a causar danos ou prejudicar alguém (Lo-
importância e a ficar mais atentos a esse tipo eber e Hay, 1997). Neste artigo, o comporta-
de brincadeira. Apesar de o fato ter ocorrido na mento agressivo e o bullying são compreendi-
Noruega, pesquisas transculturais mostram que dos como um processo decorrente da interação
o fenômeno bullying, provavelmente, sempre entre a pessoa e o seu ambiente físico, social e
existiu e é identificado em diversos países do cultural (Bronfenbrenner, 1996 [1979]). Assim,
mundo. Há aspectos comuns nessas manifesta- é possível pensar que uma criança pode estar
ções, os quais sugerem um caráter universal no agressiva e não ser agressiva (Lisboa, 2005).
fenômeno. Estudos científicos e aprofundados Rigby (2004), em uma revisão crítica sobre
sobre o assunto começaram a ser realizados a definições e paradigmas teóricos subjacentes
partir da década de 1990, por diversos pesqui- à compreensão do bullying, aponta cinco mo-
sadores (Almeida e Del Barrio, 2002; Pepler et delos para o entendimento desse fenômeno.
al., 2008; Rigby, 1996; Salmivalli et al., 1998; Smi- Segundo esse autor, o bullying, que pode ser
th et al., 2004). Pode-se supor que houve uma compreendido a partir de vulnerabilidades
mudança na maneira de analisar essas atitudes individuais de agressores e vítimas, também
agressivas – que sempre existiram, mas que até pode ser encarado como um processo de de-
então eram ignoradas e/ou negligenciadas – e senvolvimento filogenético e, ainda, pode ser
pesquisadores passaram a encará-las não mais considerado como um fenômeno sociocultural,
como um fenômeno corriqueiro, normal e ino- decorrente de especificidades das pressões do
fensivo, mas como um processo que merece ser microssistema dos grupos de pares, ou como
cuidadosamente observado e investigado, pois comportamento de retaliação, de vingança
implica graves consequências (emocionais e (motivações individuais).
cognitivas) para os envolvidos. Neste capítulo, o bullying é compreendido
No Brasil, os primeiros estudos começaram a partir de uma perspectiva socioecológica,
a ser realizados a partir de 2000 (Fante, 2005; que considera que o bullying sempre ocorre

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O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade

em determinado contexto, mas relacionado De forma não excludente, as atitudes que


a características das pessoas envolvidas, não constituem um processo de bullying também
menos importantes nesse acontecimento. O podem ser divididas em diretas e indiretas.
bullying como fenômeno dinâmico e grupal é Consideram-se bullying direto as agressões
reforçado ou enfraquecido por uma complexa físicas e as verbais, antes exemplificadas. Já o
rede de interação entre estímulos aos quais es- bullying indireto envolve uma forma mais su-
tão expostos os jovens, as famílias e as escolas, til de vitimização, pois engloba atitudes como
permeados pelo contexto sociocultural. indiferença, isolamento, exclusão, difamação,
Salmivalli et al. (1998) e Salmivalli e Voeten provocações relacionadas a uma deficiência,
(2004) reforçam a ideia de que o bullying é um também de uma forma racista e sexual – que,
processo que ocorre na esfera coletiva, portan- em geral, pode ser muito doloroso para a víti-
to, é um fenômeno social pela sua natureza. ma (Smith et al., 2004), afetando-a indiretamen-
Estudos empíricos que expliquem como se dá te. O bullying considerado indireto, embora
o processo de vitimização entre pares ainda ne- não seja um sinônimo, sobrepõe-se ao conceito
cessitam ser realizados, especialmente no Bra- de bullying e agressividade relacional. Existem
sil, onde há ainda poucas pesquisas científicas, estudos (Crick e Dodge, 2000; Hawley, 2003;
mas já muitos projetos e frequentes discussões Little et al., 2003) que revelam uma associação
em congressos, seminários e outros fóruns de entre os meninos e o bullying do tipo direto,
debates. O processo de bullying, se não identi- enquanto as meninas denotam maior propen-
ficado e evitado, pode produzir sérios danos são a assumir atitudes de bullying indireto.
psicológicos para as crianças envolvidas, tanto Em um estudo realizado por Lisboa (2001),
para as vítimas como para os agressores. observou-se que as meninas empregam mais
O contexto social, que é palco da maior agressões verbais para lidar com um problema
prevalência de bullying, é o ambiente escolar, com seus colegas, enquanto os meninos usam
o que não significa que o fenômeno não ocorra preponderantemente agressões físicas.
em outros contextos. A maioria dos episódios A diferença entre comportamento agres-
de bullying são identificados na escola, talvez sivo verbal e não verbal vem sendo discutida
porque esse é o principal microssistema em por Björkqvist e colaboradores, com base em
que se dão as interações entre pares (Lisboa um estudo por eles realizado na Finlândia
e Koller, 2004). Faz-se conveniente salientar (Björkqvist et al., 1992). Esses pesquisadores
que a vitimização ou bullying não se restringe sugerem e pontuam a existência de uma nova
a um determinado nível socioeconômico, tam- forma de agressão verbal que, em vez de ser
pouco a uma faixa etária específica ou gênero diretamente direcionada para a vítima, utiliza-
(Olweus, 1993). se de terceiros para atingi-la. Um exemplo é o
tornar-se amigo de outra pessoa como uma for-
Formas de manifestação, diferenças ma de vingança. Galen e Underwood (1997), na
de gênero e papéis sociais no mesma linha de pensamento, usam a expres-
bullying são agressão social para definir uma agressão
que pretende ferir a autoestima ou o status so-
O processo de bullying, entendido como cial da outra pessoa. Ainda sobre o estudo de
uma subcategoria do conceito de violência, Björkqvist et al. (1992), outro dado importante
pode se manifestar de diferentes formas. Com- descoberto é que o número de agressões físicas
portamentos físicos agressivos ou violentos evidencia significativa diminuição de frequên-
como chutar, empurrar, bater, entre outros; cia, com a passagem da infância para a ado-
manifestações verbais como gozações e atri- lescência, ao mesmo tempo em que o número
buição de apelidos pejorativos a determinadas de agressões indiretas aumenta. Esse estudo
crianças ou adolescentes podem constituir o também mostra que, a partir dos quinze anos,
processo de bullying. O bullying pode ser de- o número de agressões verbais das meninas se
nominado relacional, quando a agressividade torna maior que o dos meninos. Essa diferen-
se manifesta a partir de ameaças, acusações in- ça entre gêneros foi confirmada em estudos de
justas e indiretas, roubo de dinheiro e perten- Crick e Grotpeter (1995) nos Estados Unidos.
ces, difamações sutis, degradação de imagem As atitudes protagonizadas pelos agres-
social que podem resultar na discriminação sores no bullying envolvem abuso de poder e
ou exclusão de um ou mais jovens do grupo ocorrem sem motivação aparente, ou seja, sem
(Olweus, 1993; Salmivalli et al., 1998; Smith et motivo legítimo. Também não são provocadas
al., 2004). pelas vítimas, por isso não devem ser confun-

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Carolina Lisboa, Luiza de Lima Braga, Guilherme Ebert

didas com episódios de agressão reativa (Crick cia quatro vezes maior do que pelas meninas.
e Dodge, 2000; Dodge, 1991). O desequilíbrio Isso não significa que os meninos são mais
de poder relacionado ao bullying pode ser ex- agressivos do que as meninas – ao contrário
plicado pelas diferenças físicas (estatura, peso, do que poderia supor o senso comum – mas
raça, entre outras) emocionais e sociais perce- que as meninas se utilizam de formas mais su-
bidas entre agressores e vítimas (Neto, 2005; tis de agressão (Björkqvist et al., 1992; Crick e
Salmivalli et al., 1998). Aspectos econômicos e Dodge, 2000). No entanto, os meninos e as me-
culturais, bem como características de perso- ninas, sem diferença significativa, informam
nalidade e temperamento, também constituem se estão sendo vitimizados (Smith et al., 2004).
fatores de risco para a manifestação do bullying A violência física é a forma que mais chama a
e para a escolha das vítimas dos ataques agres- atenção, porque é evidente e explícita e tam-
sivos. Convém salientar que esses são fatos bém porque tem consequências graves e mais
que se observam em estudos e levantamentos imediatas. Este é um dos motivos pelos quais
sobre bullies (agressores) e vítimas e, ainda, se torna difícil identificar episódios de bullying
em estudos que traçam tipologias de vítimas entre as meninas.
(Fante, 2005; Hodges et al., 1997; Salmivalli et Com base nesses esclarecimentos, no bullying,
al., 1998). É importante enfatizar que tais as- portanto, identifica-se claramente um agressor
pectos, mesmo que possam causar o bullying e (líder), um grupo de seguidores (reforçadores),
até explicá-lo, não o legitimam, pois esse pro- testemunhas e uma ou mais vítimas que são
cesso vai contra princípios éticos culturais e excluídas da interação social (Olweus, 1993;
individuais de respeito às diferenças individu- Salmivalli et al., 1998). Samivalli et al. (1998),
ais, solidariedade e normas para convivência que estudou a composição ecológica do gru-
saudável grupal (Lisboa, 2005). po de pares no bullying, também verificou a
A qualidade das relações de amizade e o existência de um grupo de crianças que atuam
desejo de alcançar um status maior na escola tanto como vítimas quanto como agressores.
(popularidade) para se manter no poder de- Denominou-as de bully-victims, agressoras-
monstra a desigualdade de tratamento e a pro- vítimas.
eminência dos indivíduos dentro do grupo. A De acordo com Olweus (1993), as crianças
possibilidade de rejeição faz com que os seus vítimas de bullying podem ser passivas, ou seja,
membros se submetam às normas do grupo, isoladas (excluídas), introvertidas e/ou inibi-
embora essas não sejam formais e explícitas. das; apresentam uma percepção negativa de
Reforçar e não denunciar comportamentos si mesmas e da situação em si, pois não con-
agressivos de algumas crianças para com ou- seguem vislumbrar alternativas para mudar
tras pode aumentar a popularidade individual a situação. Também podem ser provocativas,
– tão almejada em grupos de pares na infân- ao apresentar comportamento agressivo e/ou
cia e adolescência. Os membros do grupo de- ansioso, que pode irritar ou provocar tensão
monstram se importar mais com o seu status no contexto grupal em que estão inseridas. Ge-
do que com a qualidade de suas amizades, o ram, por consequência, a exclusão do grupo de
que pode ser explicado por uma distorção cog- pares (Lisboa, 2005; Olweus, 1993). Alguns es-
nitiva das crianças agressivas (Crick e Dodge, tudos mostram que as vítimas estão mais pro-
2000). Existe uma diferença, entre o que crian- pensas a apresentarem problemas comporta-
ças agressivas contam sobre as suas relações de mentais e afetivos como depressão, ansiedade
amizade e o que realmente pode ser observado. e suicídio (Fante, 2005; Hodges et al., 1999; Sal-
Ainda, observa-se uma valorização de amigos mivalli et al., 1998). Crianças mais novas apre-
agressivos ou agressores, atribuindo-se a esses sentam maior probabilidade de sofrer vitimi-
o papel, inclusive, de protetores contra uma zação e de atuar como agressor em processos
possível experiência de vitimização (Lisboa e de bullying. À medida que as crianças crescem
Koller, 2009; Vaillancourt et al., 2003). e com a entrada na adolescência, isto é, quanto
A maior incidência do bullying ainda é ob- mais desenvolvidas física e emocionalmente
servada em meninos no papel de agressores se tornam, menos chances esses jovens terão
e vítimas (Neto, 2005). Entretanto, cabe dizer de sofrer vitimização por parte de seus pares
que a forma indireta de bullying, tipicamente (Olweus, 1993).
praticada pelas meninas, dificulta o reconhe- Olweus (1993), em estudo realizado na
cimento da agressão. Uma pesquisa realizada Noruega, mostrou que 40% dos estudantes
por Neto (2005) constatou que o bullying direto vitimizados dos anos iniciais e 60% dos estu-
era utilizado pelos meninos com uma frequên­ dantes do Ensino Médio informaram que as

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O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade

professoras intervieram no sentido de comba- de padrão desregulado emocionalmente que


ter a situação “somente uma vez” ou “quase caracteriza as vítimas provocativas pode ser o
nunca”. E 65% dos estudantes da pré-escola resultado de exposição prévia dessas a formas
afirmaram que nunca haviam conversado com variadas de violência (Schwartz et al., 1997),
suas professoras sobre vitimização (Olweus, como abusos em casa (Dodge et al., 1990) ou
1993). Mesmo que esses dados sejam de ou- também agressões de pais punitivos que uti-
tra cultura e também de outra época, permi- lizam estratégias aversivas (Schawrtz et al.,
tem concluir que as professoras fazem rela- 1997). As vítimas agressoras (ou bully-vítimas),
tivamente pouco para prevenir ou combater segundo um estudo específico, na sua maio-
episódios de bullying/vitimização. Tais dados ria, pertencem a níveis socioeconômicos mais
revelam, ainda, a falta de proximidade entre baixos, os quais podem estar expostos a for-
professores e alunos, fato que representa um mas mais explícitas de agressão e violência
fator de risco. Convém salientar que também somadas a outras privações sociais (Rigby e
foi mencionado por Olweus (1993) que os pais Slee, 1993). Esse dado, mesmo não confirmado
dos estudantes vitimizados e, particularmen- em nossa cultura, é importante para reflexões
te, dos que são agentes de vitimização não têm e interpretações. O grupo de vítimas provo-
consciência do problema e, também, raramen- cativas também apresenta um envolvimento
te conversam com seus filhos sobre o assunto deficitário com os pares e pais em relação aos
(Lisboa e Koller, 2004). outros grupos de crianças (no que se refere
A aceitação pelos pares é fundamental para aos papéis no bullying), e apresenta mais sin-
o desenvolvimento social saudável de crianças, tomas depressivos (Kaltiala-Heino et al., 1999),
no entanto, a agressividade de uma criança pode queixas de sintomas físicos e psicológicos, do
ser percebida pelos outros colegas como um fa- que qualquer outro grupo (Rigby e Slee, 1993);
tor de distanciamento, o que dificulta a criação além disso, apresentam um nível de consumo
de laços de amizade. Quanto mais agressiva a de drogas e tabaco mais elevados do que os
criança for, menor será sua aceitação social pelo grupos de vítimas (que não sejam classificadas
grupo de pares (Garcia, 2005). Esse dado pode como provocativas), de agressores, de segui-
ser mais facilmente encontrado nos primeiros dores e de testemunhas (Rigby e Slee, 1993).
anos escolares, nos quais crianças agressivas Entretanto, evidências apontam que o
não são aceitas pelo grupo, o que as torna pouco grupo de crianças considerado como vítimas-
populares (Smith et al., 2004). Entretanto, esses agressoras (Salmivalli et al., 1998) demonstram
dados podem ser contraditórios, pois alguns es- habilidades sociais e são capazes de dominar
tudos confirmam que, na adolescência, o com- no grupo de pares (Vaillancourt et al., 2003). Os
portamento agressivo entre meninos pode estar bully-vítimas têm habilidade de manipular ou-
ligado à competência e à popularidade (Lisboa, tras crianças, ao perceberem pontos de vulne-
2005; Pellegrini e Bartini, 2001; Rodkin et al., rabilidade de vítimas em potencial. Revelam
2000) e a agressividade pode ser vista pelos ou- pouca preocupação com o outro (ausência de
tros alunos como um atrativo, em vista de que capacidade empática) e valem-se do bullying
os agressores, muitas vezes, são populares en- para manter o poder no grupo (Arsenio e Le-
tre os demais colegas e possuem uma opinião merise, 2000; Sutton et al., 1999). Quando os
positiva sobre o seu comportamento agressivo jovens denominados de bully-vítimas não es-
(Olweus, 1993). De igual modo, os agressores tão no papel de agressores, mas no de vítimas
podem ser crianças mais hábeis em manipular num grupo, podem lançar mão de valores mo-
os demais, o que lhes facilita a formação de gru- rais para se autoproteger e evitar os ataques
pos de seguidores (gang) e estimula agressões dos agressores (Arsenio e Lemerise, 2000). No
contra outros colegas. Essa habilidade até pode entanto, quando estão no papel de agressores,
ser utilizada com o fim de evitar identificação e mostram-se indiferentes aos valores morais de
punição por parte dos seus professores e pais que se valeram em outros momentos para se
(Sutton et al., 1999). defender; não se preocupam com a segurança
Há estudos europeus e norte-americanos nem com o bem-estar das vítimas (Arsenio e
que revelam a existência de vítimas provoca- Lemerise, 2000). O grupo de pares pode apon-
tivas, que tentam responder quando são ataca- tar essas crianças como líderes evidentes, mas
das e apresentam diversas reações agressivas também como pessoas que iniciam brigas. Isso
aos ataques. Essas crianças, em geral, repre- ilustra como algumas crianças usam o compor-
sentam 3% das vítimas no processo de bullying tamento agressivo de forma a adquirir maior
(Olweus, 1993; Schwartz et al., 1997). O tipo status no grupo de pares.

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Carolina Lisboa, Luiza de Lima Braga, Guilherme Ebert

Jovens que protagonizam o bullying duran- de cyberbullying; ela vem sendo observada com
te o Ensino Fundamental, mesmo que diminu- significativa frequência em países desenvolvi-
am esse comportamento durante o Ensino Mé- dos e subdesenvolvidos, devido ao aumento
dio, são considerados por pesquisadores como do uso de celulares e internet por crianças e
hábeis socialmente e identificados por estar adolescentes. O cyberbullying, ainda pouco es-
no centro (dominação) do grupo de pares. tudado no Brasil (Faustino et al., 2008; Neto,
Os agressores, por intermédio do bullying, se 2005), envolve o uso da informação e da comu-
mantêm em posição de líderes dentro do gru- nicação tecnológicas para exercer comporta-
po de pares (Farmer et al., 2003; Vaillancourt mentos deliberados, repetidos e hostis por um
et al., 2003; Xie et al., 2005). Essas crianças ou indivíduo ou grupo, com a intenção de preju-
adolescentes, depois de terem estabilizado seu dicar os outros (Belsey, 2005; Cross et al., 2004).
status por meio do bullying, tendem a diminuir Tratam-se de expressões de bullying que ocor-
o comportamento agressivo e usam outras es- rem por meio da internet (e-mails, chats, sites
tratégias (habilidades sociais, por exemplo) de racionamentos, jogos virtuais, orkut, dentre
para fazer amigos (Pellegrini, 2004; Pellegrini outros) e de telefones celulares (torpedos, li-
e Bartini, 2001). gações, fotos digitais). Esse tipo de recurso
Salmivalli et al. (1998) pontua que, além digital pode facilitar ainda mais a ocorrência
dos grupos de vítimas e de agressores e de da vitimização, pois o anonimato que a inter-
agressores-vítimas, há mais três grupos dife- net possibilita pode encorajar os agressores a
rentes: (i) testemunhas (quem apenas observa ameaçar, intimidar e humilhar os outros. O
o bullying), (ii) defensores (quem ajuda as ví- aumento desse tipo específico de bullying está
timas) e (iii) seguidores (reforçam o bullying, relacionado ao crescente desenvolvimento da
e estimulam o comportamento do agressor). tecnologia da informação e da comunicação
O fato de testemunhar o bullying é um grande digital (Belsey, 2005; Cross et al., 2004).
fator de risco para o descontentamento com a No Brasil, Faustino et al. (2008) realizaram
escola, já que pode comprometer o desenvol- uma revisão crítica sobre linguagem e agres-
vimento acadêmico e social (Neto, 2005). são, enfocando o processo de cyberbullying
As testemunhas de bullying não se envol- identificado no Orkut (site de relacionamento).
vem diretamente nas agressões com seus pa- Segundo essas autoras, por um lado, a lingua-
res. Muitas vezes, simpatizam com os colegas gem possibilita a interação saudável entre se-
vitimizados e condenam o comportamento dos res humanos, mas, por outro, pode ser um ve-
jovens que agridem. Entretanto, essas crianças ículo eficaz para a manifestação e o reforço da
ou adolescentes têm medo de se tornarem alvos agressão. É possível considerar o cyberbullying
das agressões e, por essa razão, não intervêm e como uma forma de violência concretizada
esperam que um professor ou algum pai faça pela linguagem praticada nos meios de comu-
isso (Menesini et al., 1997). Muitos desses jovens, nicação virtuais.
ao verem os comportamentos agressivos de seus As autoras Faustino et al. (2008) trazem uma
colegas, começam a imitá-los, para ganhar po- reflexão interessante sobre cyberspace, ou seja,
pularidade e poder, mas, com isso, acabam por o espaço cibernético. Este pode implicar em
se tornar praticantes de bullying, ou agressores, uma espécie de distorção perceptiva nos seus
mediante a aprendizagem vicária (Bandura, usuários. Essa distorção é consensual: o espa-
1986; Fekkes et al., 2005). Evidencia-se que, na ço virtual pode ser concebido, cognitivamente,
maioria das vezes em que uma testemunha de nos mesmos termos do espaço real, além de ser
bullying tenta intervir e parar com as agressões diariamente utilizado e vivenciado por milhões
ao seu colega (vítima), obtém êxito. Assim, é de de operadores no mundo inteiro. O ciberespaço
extrema importância o incentivo dos professores é um espaço mágico, um conjunto de redes de
e outros profissionais para que mais testemu- telecomunicações que não se referem ao espa-
nhas denunciem e tenham comportamentos de ço físico real, mas a um espaço imaginário. O
proteção para com as vítimas e contra o bullying. cyber espaço vai além da internet, já que inclui
É importante a crescente intervenção das crian- comunicações via telefone, diferentes tipos de
ças no sentido de impedir o bullying, pois essa sites, salas de bate-papos virtuais, comunicado-
ação possibilita aos autores de comportamentos res instantâneos, entre outros. Nesse espaço, é
agressivos sentirem a falta de apoio para a conti- possível desenvolver uma série de relaciona-
nuidade dessa atitude (Neto, 2005). mentos semelhantes aos do mundo real, com as
Uma nova forma de manifestação do especificidades, entretanto, do mundo virtual.
bullying contemporaneamente é denominada O bullying que aí ocorre pode ser favorecido (re-

Contextos Clínicos, vol. 2, n. 1, janeiro-junho 2009 65


O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade

forçado) pela cisão entre o mundo real e o vir- indireto e não presencial, implica o fato de o
tual. A agressão que se dá pelo meio virtual é, agressor, já que não tem contato direto com a
na verdade, uma ofensa real; mas as distorções vítima, não ver a dor e o sofrimento dela, e ter
perceptivas e cognitivas e a banalização de jul- significativamente prejudicada sua capacidade
gamento moral podem reforçar o processo de de empatia (Prados e Fernández, 2007). Cada
cyberbullying e implicar riscos importantes para vez mais, o “cyberagressor” obtém satisfação
o desenvolvimento de jovens na contempora- na elaboração do ato violento, na imaginação
neidade (Faustino et al., 2008). do dano causado. Esse hedonismo, se não pu-
Além de todos os fatores de risco do nido – e no cyberbullying a punição é difícil –
bullying em escolas, o cyberbullying ainda pode pode gerar distorções cognitivas importantes e
incluir riscos para a socialização e para o siste- problemas emocionais nesses jovens. Notícias
ma interpretativo dos jovens (sociocognições). na mídia, atualmente, apontam casos de jovens
As diminuições de interações sociais, que en- que veiculam vídeos de agressões na internet,
volvem, além de comportamentos positivos, cautelosamente planejados e provocados, in-
agressões e frustrações, podem levar o jovem clusive com edições das filmagens e legendas.
que protagoniza o cyberbullying, assim como
o que sofre, a um déficit em suas habilidades Bullying e fatores de risco: ciclo
sociais e recursos para aprendizagem de uma dinâmico de causas e consequências
maneira geral.
Faustino et al. (2008) analisaram casos de al- É necessário se estar atento para as dife-
gumas crianças, que, segundo informações no rentes formas de manifestação de bullying,
Orkut – site de relacionamentos, no qual cada diferenças de gênero e papéis sociais, consi-
indivíduo possui seu perfil com suas informa- derando variáveis contextuais e todas as suti-
ções pessoais – apresentavam-se como vítimas lezas envolvidas no processo. O bullying pode
de cyberbullying. Foram analisados recados dei- dificultar o desenvolvimento social e acadêmi-
xados no Orkut nos perfis das vítimas, assim co (Almeida et al., 2001) e os relacionamentos
como comunidades criadas (outro recurso pos- interpessoais positivos, na infância e adoles-
sível neste site) para ataques a vítimas. O conte- cência, geram melhores níveis de aprendiza-
údo dessas mensagens inclui ameaças, calúnia gem, elevam a autoestima e incrementam o
e difamação e, inclusive, indução ao suicídio. repertório de habilidades sociais (Del Prette e
As tecnologias são benéficas para a ativida- Del Prette, 2005; Lisboa e Koller, 2004). As in-
de profissional e social. Entretanto, a rapidez terações no grupo de pares podem favorecer
das mudanças tecnológicas e a demanda cons- a delimitação da identidade e do papel social,
tante de adaptação a elas introduzem um novo proporcionando não somente a aprendizagem
estilo de vida, de uma maneira geral. Com a de conteúdos acadêmicos e formais, como tam-
agressividade, não é diferente (Prados e Fer- bém a aprendizagem de habilidades e compe-
nández, 2007). As ferramentas disponíveis na tências sociais, mediante relações positivas de
internet permitem a propagação de comporta- amizade (Lisboa et al., 2009).
mentos típicos de bullying: maus tratos, amea- Atualmente, os estudos sobre vitimização
ças, chantagens e discriminações, só que, nesse retomam o papel da cultura desse contexto que,
contexto, podem acontecer de forma anônima com suas normas e regras, legitima a existên-
e não restrita à interação direta e social ou a cia desse problema nos grupos de iguais, e atua
determinado espaço de tempo (Belsey, 2005; como um fator de risco. A vitimização entre pa-
Prados e Fernández, 2007; Neto, 2005). res pode estar correlacionada a problemas de
O cyberbullying pode ser uma continuação rendimento acadêmico e a uma visão negativa
do bullying que já ocorre em outros contextos acerca da escola (Almeida et al., 2001).
(escola, recreios) ou iniciar somente median- Pepler et al. (2008) verificaram as evidências
te o uso das tecnologias de comunicação sem de que crianças agredidas e que agridem, se
antecedentes previamente verificados (Prados não forem adequadamente tratadas ou refor-
e Fernández, 2007). Os estudos sobre cyber- çadas em outros comportamentos de interação
bullying ainda são escassos e há desconheci- mais saudáveis, podem tornar-se delinquen-
mento empírico sobre os efeitos e as diferen- tes, assassinos e agressores. Da mesma forma,
ças entre bullying tradicional e o cyberbullying, estudos (Almeida, 2000; Parker e Asher, 1993;
no que se refere aos fatores de risco para o Xie et al., 2005) atestam e concluem que marcas
desenvolvimento dos jovens envolvidos. O psicológicas deixadas pelas vivências em expe-
cyberbullying, por ser uma forma de bullying riências de bullying podem ser determinantes

Contextos Clínicos, vol. 2, n. 1, janeiro-junho 2009 66


Carolina Lisboa, Luiza de Lima Braga, Guilherme Ebert

para o estabelecimento de uma baixa autoefi- autoconceito (Bandura, 1986; Berndt, 2002).
cácia e constituição, em geral, da personalida- Além disso, os maus-tratos dirigidos à outra
de dessas crianças, uma vez que influenciam criança (vítima) podem ser uma atividade
negativa e seriamente o seu desenvolvimento. compartilhada entre amigos do grupo, como
O estudo de Salmivalli et al. (1998) con- outras atividades quaisquer (brincadeiras, jo-
firma os achados de Olweus (1993) de que a gos, esportes, entre outros) (Lisboa, 2005).
vitimização e rejeição têm sido precocemente Hodges et al. (1997) sugerem que, em ca-
identificadas nas relações entre pares e estão sos de bullying, amigos agressivos podem ser,
correlacionadas com o comportamento an- ao contrário do que se pode imaginar, fatores
tissocial, com problemas acadêmicos e com a de proteção para uma criança em situação de
evasão escolar. Os mesmos autores ainda sa- risco. Dados de um estudo de Lisboa e Koller
lientam que a vitimização pelo grupo de iguais (2009) confirmam esse dado. A interpretação
e a não aceitação social provocam, de uma for- dos autores é que, possivelmente, uma crian-
ma geral, problemas de ajustamento durante ça pode hesitar em vitimizar outra que tenha
o desenvolvimento ao longo do ciclo vital e, um amigo que possa revidar agressivamente.
especificamente, problemas de aprendizagem E, ainda, um dos motivos que pode levar uma
e socialização escolar. criança agressiva a possuir um efeito proteti-
Dentre as causas ou motivações para o vo sobre outras é o papel social que ela ocupa
bullying, é possível apontar alguns motivos que no grupo de pares. Crianças que ocupam al-
podem levar uma ou mais crianças a serem ex- tas posições sociais no grupo (líderes) podem
cluídas de seu grupo de pares. Um dos motivos apresentar elevados níveis de agressividade e,
para que isso ocorra pode estar relacionado à assim, devido ao seu papel no grupo, podem
própria dinâmica do grupo. A dinâmica do gru- auxiliar seus amigos mais vulneráveis (Lisboa,
po de pares possui um conjunto de normas e 2005). Da mesma forma, muitas crianças se
regras preestabelecidas, que não são ditas nem unem ao colega agressor para vitimizar um(a)
escritas, mas que são consenso no grupo como outro(a) colega por temerem que, se não o fi-
um todo. Essas regras dizem respeito a atitudes, zerem, poderão correr o risco de ser a próxima
comportamentos, aspectos físicos (vestuário, es- vítima (Lisboa e Koller, 2009).
tatura, peso, cor, cor da pele, etnia), dentre ou- Outra hipótese para tentar entender como
tros. Existe uma exigência de homogeneidade se inicia o processo de vitimização entre pares
que é instituída, a priori, entre os membros de é a de que algumas crianças possuem maior
um grupo. Esses grupos são exclusivos e imper- vulnerabilidade ou propensão do que as ou-
meáveis para com outros que possam descarac- tras, para adaptar-se às características e às nor-
terizar a estrutura grupal (Bukowski e Sippola, mas dos grupos e instituições nos quais estão
2001). Dessa forma, jovens que possuem carac- inseridas. Essa adaptação ou conformidade a
terísticas e comportamentos semelhantes ten- regras grupais está relacionada às característi-
dem a se associar e a formar pequenos grupos. cas individuais de cada criança, mas também à
O grupo de pares possibilita um clima de que quantidade e qualidade de suas interações in-
favorece ou desfavorece características particu- terpessoais (Fante, 2005; Lisboa e Koller, 2004).
lares dos indivíduos e pode fazer com que uma Os acontecimentos do dia a dia e as experiên-
criança seja mais ou menos popular (Chang, cias individuais e grupais são interpretadas e
2004; Hodges et al., 1997). Assim, aumenta ou internalizadas de maneira distinta pelas crian-
diminui as oportunidades de essa criança fazer ças; assim, um mesmo ambiente pode ser agra-
amigos e adaptar-se aos contextos sociais de dável para uma criança e extremamente desa-
forma saudável (Bukowski e Hoza, 1989; Lis- gradável para outra. Essas idéias que remetem
boa e Koller, 2004). a conceitos que sugerem as crenças individuais
À medida que esses pequenos grupos são (sociocognições) das crianças também inter-
estabelecidos, a violência é reforçada e legiti- ferem para que a vitimização ocorra, ou seja,
mada intragrupo (Almeida, 2000). A aprendi- características individuais das vítimas podem
zagem de comportamentos agressivos pode facilitar para que as agressões ocorram.
ocorrer porque as crianças significam e inter- Ao enfatizar uma perspectiva ecológica
nalizam crenças acerca das relações sociais e de análise, é importante salientar que aspec-
modelos por meio da aprendizagem vicária tos individuais em interação com fatores de
(aprendem observando comportamentos dos contexto sociohistórico e macrossistêmico são
outros, pares e adultos) e é a partir desses mo- importantes para o entendimento do proces-
delos que nutrem sua autoestima e formam seu so de bullying. Características individuais das

Contextos Clínicos, vol. 2, n. 1, janeiro-junho 2009 67


O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade

vítimas, seu movimento dentro de grupos de é importante trabalhar com os pais e jovens a
pares e influências familiares, inclusive, po- partir de psicoeducação focal e/ou tratamentos
dem levar crianças a se tornarem agressoras clínicos individuais (Gajardo, 2009). As escolas
ou vítimas (Salmivalli e Voeten, 2004). devem ser capacitadas para realizar encami-
nhamentos adequados de crianças identifica-
Considerações finais das como vítimas e agressoras para clínicas-es-
cola ou consultórios psicológicos particulares.
É quase indiscutível a importância da escola Trabalhos com pais e a comunidade, em ge-
no desenvolvimento das crianças e adolescen- ral, podem focalizar em estímulo e treinamen-
tes. Esta instituição não é somente transmissora to de formas saudáveis de resolução de con-
de conteúdos apenas formais e acadêmicos. A flitos interpessoais. Programas de mediação
escola, que, em seu início, teve função civiliza- entre pares e protagonismo juvenil, partindo
tória (Lisboa e Koller, 2004; Lisboa et al., 2009), da ideia de que os alunos são sujeitos ativos
com as novas configurações da sociedade, é nesse processo de mudança para a convivên-
considerada peça fundamental para a educa- cia pacífica e não violenta, também têm sido
ção de crianças e jovens na atualidade, pois é utilizados (Gajardo, 2009; Horne et al., 2004).
pela educação que as gerações se transformam Sobretudo, é importante fomentar a capa-
e se aperfeiçoam. Assim, quando se pensa em cidade de resiliência desses jovens. A resiliên-
educação, é necessário pensar também na edu- cia, entendida como um processo que só pode
cação de sentimentos ou na expressão e no ma- ser verificado na presença de riscos (bullying),
nejo desses. Devido ao seu poder propagador consiste em desenvolvimento adaptado, po-
e multiplicador, espera-se que escola ensine sitivo e saudável de qualquer indivíduo fren-
às pessoas que ali estudam a lidar com suas te a adversidades em seu desenvolvimento e
emoções e com suas dificuldades, a respeitar pode ser estimulada (Koller e Lisboa, 2007).
as diferenças, a aprender a conviver, a socia- Fatores de risco individuais para o bullying
lizar, a dividir, a compartilhar, a canalizar sua foram apontados em estudos referidos neste
agressividade, enfim, a se relacionar de forma artigo e, assim, o estímulo à capacidade de
saudável, o que não ocorre em episódios de resiliência implica em fortalecer essas crian-
bullying. É preciso que os professores cedam ças em termos de autoestima, dificuldades de
lugar, em suas aulas, à expressão do afeto, à controle dos seus impulsos e de expressão da
educação dos sentimentos e à valorização das agressividade.
relações de amizade (Lisboa et al., 2009). Tam- Distorções cognitivas acerca dos estímulos
bém se faz necessário que esses profissionais agressivos e concepção de status social den-
estejam mais atentos ao que se passa na escola tro de um grupo (popularidade) podem levar
como um todo e não somente na sala de aula. crianças a agredirem ou permitirem serem
Para se alcançar êxito na redução da violência, agredidas (Crick e Dodge, 2000). Do mesmo
especificamente o processo de bullying, é neces- modo, a participação contínua em episódios
sário que se desenvolvam trabalhos nas esco- de bullying gera distorções nas concepções
las (Fante, 2005; Horne et al., 2004). Da mesma de emoções e desenvolvimento moral. Trata-
forma, ressalta-se a importância de um maior mentos clínicos individuais podem auxiliar no
comprometimento e relação mais próxima dos tratamento dessas distorções, ao proporcionar
pais para com a escola, para que esses possam uma ressignificação no sistema interpretativo
se conscientizar da problemática da violência dessas crianças. Trabalhos junto às escolas,
e bullying, atuando como aliados na orientação pais e comunidade também podem debater e
dos seus filhos. evitar a banalização de valores morais impor-
Para prevenir a violência interpessoal, já é tantes à convivência pacífica em grupo.
quase consenso entre profissionais de que agir Este artigo teve por objetivo realizar uma
sobre o problema identificado isoladamente revisão crítica de estudos acerca do fenômeno
pode não ser eficaz, é necessário, além de atuar bullying, suas formas de manifestação, sua di-
nos diferentes níveis (jovem, família e escola), nâmica, especificidades, causas e consequên-
contar com um espectro amplo de possibili- cias, bem como fatores de risco desse proces-
dades de ações, como, por exemplo: satisfazer so e variáveis relacionadas. Novas formas de
necessidades básicas dos alunos, criando am- manifestação desse tipo de violência, como cy-
bientes cooperativos, estimulando relações po- berbullying, necessitam ainda ser investigadas
sitivas (amizades) e oferecendo modelos não empiricamente no Brasil. Pesquisadores inte-
agressivos de resolução de conflitos. Também ressados devem se aliar na busca de metodolo-

Contextos Clínicos, vol. 2, n. 1, janeiro-junho 2009 68


Carolina Lisboa, Luiza de Lima Braga, Guilherme Ebert

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