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SOUZA, Nilson Araújo de. Teoria marxista das crises. São Paulo: Global-UFMS, 1992.

Tema: Teoria marxista das crises.


Texto: Cientifico.
Método: Materialismo histórico.
Tese: A queda da taxa de lucro é o detonante das crises.

1. À guisa de introdução: o método de Marx


2. Possibilidades gerais de crise
3. O papel da “desproporção” intersetorial nas crises
4. Como o subconsumo atua sobre as crises
5. Queda da taxa de lucro detona explosão das contradições
6. Queda da taxa de lucro: objeções sem fundamento
7. A queda da taxa de lucro em economias dependentes
8. Dependência e crise
9. A crise estrutural do capital
10. Crise, luta de classes e Estado

[Teoria do Marx] “Existe a idéia, em certos meios académicos, de que Karl Marx nunca
chegou a formular uma teoria das crises capitalistas. Na realidade, embora nunca tenha
sistematizado uma tal teoria, ele tinha bem elaborada uma concepção geral acerca das crises
capitalistas. Tal concepção se desenvolve ao longo de toda sua obra – não apenas económica,
mas também filosófica-, em lugar de resumir-se, como convém aos investigadores
acomodados, em um determinado capítulo ou parte de determinado livro. Isso é reflexo da
própria concepção metodológica de Marx em sua aplicação ao estudo da sociedade capitalista.
Sem se compreender a essência dessa concepção, jamais se entenderá a teoria marxista das
crises, pois estão nela os elementos gerais, não para a compreensão das crises capitalistas, mas
das crises de qualquer modo de produção”. (p. 10)

[O capitalismo] “Para Marx, o modo de produção de cada época histórica possui leis próprias
e específicas de desenvolvimento. Sua preocupação era estudar seu tempo. Assim, seu estudo
se volta, desde o primeiro momento, para “uma determinada época histórica, por exemplo, da
produção burguesa moderna, que em realidade é nosso tema próprio”. Por conseguinte, o objeto

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de O Capital, sua principal obra, “é investigar o regime capitalista de produção e as relações
de produção e circulação que a ele correspondem”. Mas ainda: “a finalidade última desta obra
é, em efeito, descobrir a lei econômica que preside o movimento da sociedade moderna”. E é
precisamente na descoberta dessa lei económica que, nos marcos do marxismo, está a
compreensão do processo de acumulação e crise da economia capitalista. E a fundamentá-la
está a concepção de Marx acerca da unidade contraditória entre relações de produção e forças
produtivas. Do seu conflito, do rompimento de sua unidade, nascem as crises. A questão, do
ponto de vista de uma teoria das crises capitalistas, é verificar como essa ruptura se manifesta
sob o império das leis do capital”. (p. 12)

[Possibilidade das crises] “[...] Marx mostra como as possibilidades gerais de crise, presentas
na contradição inerente à mercadoria – que se desenvolve na contradição entre a mercadoria e
o dinheiro e na contradição venda-compra -, se reproduzem, na produção capitalista, na
contradição entre o processo de produção e o de circulação; contradição que resulta, ademais,
do fato de que essa produção e o de circulação; contradição que resulta, ademais, do fato de
que essa produção seja espontânea, ou seja, de que se fundamente na divisão social do trabalho
fundada na propriedade privada (“anarquia da produção”). Ou seja, a “anarquia da produção”
cria a possibilidade de ruptura entre produção e circulação, estabelecendo-se, assim, o marco
geral (as possibilidades abstratas) para as crises”. (p. 18)

[Concepção Tugán e Hilferding] “A colocação básica dos autores assinalados, como vimos,
consiste em que desaparece a possibilidade de ruptura entre a produção e o consumo na medida
em que se consiga uma distribuição proporcional da produção. Tugán postula que isso é
possível porque a produção capitalista se cria seu próprio mercado e, dada a restrição do
consumo pessoal que o caracteriza, a expansão do mercado de meios de produção compensa
dita restrição, o que é possível porque a economia capitalista é uma economia orientada à
produção pela própria produção”. (p. 21)

[Concepção Luxemburgo] “[...] na justa tentativa de provar a falsidade da concepção que


postula a unidade completa entre produção e consumo, Luxemburgo terminou por “provar
demasiado”, ou seja, acabou por provar a separação completa entre produção e realização, sem
atentar para o ensinamento de Marx de que ambos os processos estão, ao mesmo tempo, unidos
e separados, formam um todo contraditório, ora prevalecendo um, ora prevalecendo outro polo

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da contradição. A teoria do subconsumo da autora não é uma mera teoria das crises: é uma
teoria da impossibilidade geral do capitalismo. Não de sua impossibilidade tendencial – ou
seja, não que o capitalismo seja um modo de produção transitório – mas de sua impossibilidade
originária, de sua inviabilidade”. (p. 33)

[Queda lucro] “A queda da taxa geral de lucro resulta, assim, do fato de que o capital, em seu
contínuo movimento, demanda valorizar-se cada vez mais, ou seja, busca continuamente uma
massa maior de mais-valia. Esta, por sua vez, só se consegue mediante o desenvolvimento
progressivo das forças produtivas, o qual, contraditoriamente, provoca a queda da taxa geral
de lucro. Portanto, a lei da mais-valia, que expressa a especificidade da lei do valor sob o
capital, tem sua maior expressão, no modo de produção capitalista, na lei da queda tendencial
da taxa geral de lucro. É esta que, de uma parte, regula a reprodução ampliada do capital e, de
outro, sintetiza a contradição desse mesmo movimento [-] [...] O resultado de tudo isso é que a
crescente acumulação de capital está sempre impulsionando a elevação da composição
orgânica do capital e, por essa via, impondo a queda da taxa de lucro”. (p. 45)

[Efeito sobreacumulação] “[...] a queda da taxa de luro faz romper a unidade entre o processo
de produção e o de circulação, provocando superprodução. Mas esta não é uma mera
superprodução de mercadorias; é fundamentalmente superprodução de capital. Isso não só
porque os meios de produção em excesso são formas de manifestar[se o capital, como também
porque a superprodução revela que há demasiado capital para valorizar-se à antiga taxa de
lucro, ou seja, que a taxa de lucro reduzida não é suficiente para valorizar o capital nas
condições estabelecidas”. (p. 47)

[Palavras Marx] “Aqui vemos como a queda da taxa de lucro é o fator detonante da erupção
das contradições da produção burguesa. Esse conjunto de contradições resume, em última
instancia, a contradição fundamental do modo de produção capitalista: “Expressa de uma
maneira totalmente geral, a contradição consiste em que o modo capitalista de produção
implica uma tendência ao desenvolvimento absoluto das forças produtivas, sem levar em
consideração o valor e a mais-valia encerrada nele, e fazendo abstração ademais das relações
sociais dentro das quais se efetua a produção capitalista; enquanto que, por outra parte, tem
com finalidade a conservação do valor do capital existente e sua valorização em medida
extrema (...) Seu carácter específico está orientado para o valor existente de capital enquanto

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meios para a maior valorização possível de dito valor. Os métodos mediante os quais o logra
incluem: diminuição da taxa de lucro, desvalorização do capital já existente e desenvolvimento
das forças produtivas do trabalho às expensas das forças produtivas já produzidas”. (p. 48)

[A libertação] “[...] Essas condições, obviamente, só passam ao terreno das possibilidades para
o da realidade quando as forças sociais portadoras do futuro assumem o destino da sociedade”.
(p. 49)

[Burla Castels] “Eureka! Descobriu-se a pólvora! Porém, Castels se esqueceu de uma coisa:
que o capital constante se define como o valor do trabalho morto, do trabalho já materializado,
que simplesmente se transfere ao valor final do produto, sendo, portanto, um componente do
capital ao interior do processo produtivo: os gastos a que ele se refere, entretanto,
correspondem mais bem a uma subtração ao valor novo que se plasmou no produto final”. (p.
56)

[Superexploração e suntuários] “[...] Em síntese, se a superexploração creia condições para


a expansão acelerada (desproporcionada) do setor III, tal expansão passa a exigir a
superexploração como característica essencial”. (p. 71)

[Imperialismo] “[...] é impossível entender o que está ocorrendo em qualquer país capitalista
quando se elude a questão do imperialismo. Isto porque uma característica essencial do
capitalismo em sua época imperialista é o fato de se haver convertido em um sistema mundial,
que integra em um todo único e contraditório à totalidade dos países capitalistas”. (p. 73)

[Formas espoliação] “[...] A forma principal de internacionalização do capital em cada


momento condiciona a forma como o capital imperialista realizava a espoliação das economias
dependentes. Na sua primeira etapa, o imperialismo realizou a integração mundial a través da
exportação de capital sob a forma de empréstimos públicos para o controle das fontes de
matérias primas e dos mercados. Aí, a espoliação se dava centralmente sob a forma modo
pagamento de juros. Despois da Segunda Guerra Mundial, com a formação dos grandes trustes
internacionais p as transnacionais – ocorre a internacionalização do capital produtivo: essas
empresas instalam seus tentáculos ao interior das economias dependentes e a remessa de lucro
assume papel decisivo na espoliação imperialista. Com a abertura da crise geral em fins dos

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anos sessenta e a formação de enormes excedentes de capital nos países centrais –
particularmente na Europa, sob a forma de eurodólares -, os empréstimos, desta vez privados,
voltam a assumir papel preponderante. Daí em diante, a espoliação pela via financeira passa a
predominar sob as demais formas. Em todos esses momentos, tem ocorrido a espoliação pela
via comercial, mas sempre subordinada à forma central de internacionalização do capital”. (p.
75)

[Contradição marxista] “[...] quando se diz que as crises capitalistas são expressão da
contradição entra relações de produção e forças produtivas, no caso dos países capitalistas
dependentes isso significa que são as relações capitalistas dependentes que, a partir de certo
nível de seu desenvolvimento, tentam impedir o ulterior progresso das forças produtivas. Ou
seja, é a relação de dependência que entra em contradição com o desenvolvimento. Nesse
ponto, ou se destrói a dependência como condição para o país seguir a senda do progresso ou
a dependência como condição para o país seguir a senda do progresso ou a dependência, para
preservar-se, destrói parte do progresso acumulado”. (p. 81)

[Crise dependência] “[...] Em síntese, o mero funcionamento das leis do capital, por mais que
promova profundo efeito devastador, não garante, por si só, a recuperação numa economia
dependente”. (p. 83)

[Estatismo Brasil] “[...] a recuperação aqui passa necessariamente pela retomada e ampliação
do investimento estatal. No caso do Brasil [...] foi assim com Getúlio Vargas nos anos 30 e 50,
com Juscelino nos “50 anos em 5” e nos pós-64. Nos três casos, foi o massivo investimento na
economia. No primeiro caso, sentou as bases para um virtual desenvolvimento independente,
que não se realizou por forca da internacionalização da economia capitalista, mais agressiva no
pós-guerra, e pela derrota das forças sociais portadoras do progresso. Nos dois últimos, criou e
consolidou a base para a internacionalização da economia brasileira. No primeiro caso, criou a
possibilidade de um Capitalismo de Estado sob controle nacional, ante-sala para o socialismo
num pais atrasado. Nos dois últimos, gerou e consolidou o Capitalismo Monopolista de Estado,
sob domínio dos monopólios estrangeiros [...]”. (p. 83)

[Padrão de reprodução] “Entendemos por padrão de reprodução a forma como o capital se


reproduz em um período e em um espaço dados, tanto em termo de seus elementos materiais

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quanto – e sobretudo – em termo de valor; o seja, enquanto relação social, que supõe as
condições sócio-políticas dessa reprodução [...]”. (p. 86)

[Ciclo econômico] “O padrão de reprodução não se confunde com o ciclo econômico. Durante
a vigência de um mesmo padrão de reprodução, podem ocorrer vários ciclos. O ciclo é a forma
clássico como se manifesta a expansão e a crise no capitalismo [...]”. (p. 86)

[Crise e Revolução] “[...] afirmou Lenin: “Agora vamos abordar a questão da crise
revolucionária como base de nossa acao revolucionária. E nisso necessitamos, antes de tudo,
assinalar dois erros muito comuns. De um lado, os economistas burgueses apresentam a crise
como uma simples “moléstia”, segundo a elegante expressão dos ingleses. De outro lado, os
revolucionários procuram demonstrar, às vezes, que a crise não tem absolutamente saída. Isto
é um erro. Situações absolutamente sem saída não existem. A burguesia se comporta como
uma fera insolente que perdeu a cabeça, faz uma tolice atrás da outra, piorando a situação e
acelerando sua morte. Tudo isto é assim. Porém não se pode “demonstrar” que não há
absolutamente possibilidade alguma de que adormeça a verta minoria de explorados com
determinadas concessões, de que aplaste certo movimento ou sublevação de uma parte
determinada de oprimidos e explorados. Tentar “demonstrar” com antecipação a falta
“absoluta” de saída seria vã pedantismo ou jogo de conceitos e palavras. Nesta questão e outras
parecidas a verdadeira “demonstração” pode ser unicamente a prática. O regime burguês
atravessa em todo o mundo uma enorme crise revolucionária. Agora há que “demonstrar” com
a prática dos partidos revolucionários que têm suficiente grau de consciência, organização,
ligação com as massas exploradas, decisão e habilidade a fim de aproveitar esta crise para levar
a cabo com êxito a revolução vitoriosa”. (p. 91-2)

[Classes secundárias] “Nas formações capitalistas concretas, as duas classes fundamentais se


imbricam com uma série de classes ou setores de classes secundários, tais como o campesinato
(com suas várias frações), a pequena burguesia urbana (em suas várias determinações), etc. A
forma como essas classes ou setores de classes se integram na luta de classes está condicionada,
em última instância, por seu modo de inserção no modo de produção capitalista, ou seja,
depende do modo como se relacionam com o capital e sua superestrutura jurídico-política. Por
exemplo, o campesinato em processo de proletarização tende a aproximar-se da classe operário,
enquanto o campesinato rico ou em processo de enriquecimento tende a aproximar-se da

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burguesia. Quanto à pequena burguesia urbana, o seu ramo assalariado tende a aliar-se à classe
operária, ao passo que o ramo proprietário pode aliar-se à burguesia. Com a formação do capital
monopolista-financeiro e sua tendência a expropriar ou espoliar essas camadas “intermedias”,
tendência que se aprofunda durante as crises, todas elas podem ser atraídas para um pacto social
com a classe operária. Nesse sentido, a política que a classe operária realize é decisiva para
moldar o comportamento social e político dessas camadas”. (p. 96)

[Vanguarda] “Uma condição essencial para que a revolução triunfe é, porém, que o
proletariado haja já forjado, para esse momento crucial, sua vanguarda revolucionária, ou seja,
seu partido. Como diz Lenin, o partido é a integração da intelectualidade revolucionária, que
detém o conhecimento da ciência marxista, com os operários de vanguarda, que se destacaram
nos combates travados por sua classe. O partido, além de dirigir unificadamente a luta de classe
operária, cumpre o papel de, partindo de sua realidade objetiva, conscientizá-la dos seus
interesses históricos, materializados numa sociedade livre da exploração. A classe operária,
como dizia Lenin, é instintivamente anticapitalista, mas a consciência socialista, por se basear
no conhecimento científico proporcionado pelo marxismo, há de ser-lhe transmitida “desde
fora” pelo partido de vanguarda”. (p. 97)

[Estado: Ferramenta burguesa] “[...] o Estado é, ao mesmo tempo, o órgão que unifica
politicamente à classe burguesa e, portanto, “é um órgão de dominação de classe, um órgão de
opressão de uma classe por outra”, e o órgão que, por isso mesmo, garante as condições gerais
para a reprodução do capital. A garantia (ou guarda) dessas condições se dá de dupla maneira:
por um lado, pela criação de condições econômicas (obras de infra-estrutura, mercado,
empresas cujos produtos são necessários à reprodução do capital mas que este não pode ou não
está disposto a assumir os riscos inerentes, transferência de mais-valia entre capitais individuais
ou ramos da produção, regulação do salário, etc.) e, por outro, pela criação de condições que
legitimam a dominação burguesa e as relações de produção capitalistas, assim como pela
repressão a classes ou setores de classes que potencialmente ou de fato desafiem ao capital, em
particular a classe operária”. (p. 98)

[Ideologia] “[...] Na etapa do capital monopolista, as lutas econômicas quase que


inevitavelmente se transformam em luta política, o que só favorece a emergência de crises do
regime burguês em seu conjunto. Quando isso ocorre, tudo passa a depender, como desse Marx,

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“das formas ideológicas sob as quais os homens adquirem consciência deste conflito e o
resolvem””. (p. 100)

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