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EXMO SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DO TRABALHO DA COMARCA


DE MONTES CLAROS – MG

VALDEMIR BARBOSA DA SILVA, brasileiro, solteiro, rurícola,


filho de Eloísio Pereira da Silva e Aurita Barbosa da Silva, portador da Carteira de
Identidade nº MG-12.601.430, inscrito no CPF sob o nº 052.283.626-73, residente e
domiciliado na Chapada do Candial, povoado de Nova Esperança, Município de
Montes Claros – MG, vem perante V. Exa. propor a presente

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

em desfavor de Lourival Pereira da Silva, brasileiro,


fazendeiro, residente e domiciliado em ______, pelos fatos e fundamentos que
passa a expor:

1. Da Gratuidade da Justiça

Esclarece o reclamante, que é pessoa pobre na acepção


jurídica do termo, não estando em condições de demandar, sem sacrifício do
sustento próprio e de seus familiares, motivo pelo qual, pede que a Justiça do
Trabalho lhe conceda os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, nos termos da Lei n.º
1.060/50, juntando para tal fim a declaração de insuficiência de recursos.
2. Dos Direitos Trabalhistas

2.1 - Da Admissão, Da Anotação da CTPS e Da Demissão

O reclamante foi admitido na fazenda do reclamado na data de


09 de agosto de 2001, sem, contudo, ter sido registrada sua CTPS, em flagrante
desacato ao preceito do Art. 29, c/c Art 41 da CLT, para desempenhar o cargo de
empregado rural, tendo como funções a cumprir vigiar, tratar dos animais, das
plantações e dos afazeres domésticos.
Como o reclamante não possuía anotação da CTPS, tampouco
se verificava o recolhimento das verbas referentes ao FGTS.
O reclamado, ainda, não efetuou a inscrição do reclamante
junto ao PIS/PASEP, deixando este de fazer jus ao recebimento do abono salarial e
dos rendimentos anuais.
O reclamante laborou na propriedade rural durante nove anos
ininterruptos, tendo a sua dispensa arbitrária ocorrido em 09 de agosto deste
corrente ano, sem, contudo, ter sido quitado junto ao mesmo as verbas referentes ao
aviso prévio indenizado, uma vez que a saída do reclamante da fazenda se deu na
data da sua dispensa.

2.2 - Do Salário

O reclamante não possuía salário fixo, percebendo apenas


ajuda de custo por parte do reclamado durante todos os anos de labor, ajuda esta
que sempre esteve por volta de meio salário mínimo vigente à época.
Verifica-se mais uma afronta ao que dispõe a legislação.
Segundo o art. 7º da Constituição Federal, nenhum trabalhador, urbano ou rural,
poderá receber salário inferior ao mínimo, atendidas as condições normais de
trabalho.

2.3 - Das Férias, 13º Salário e Descanso Semanal Remunerado

Durante todo período laborado o reclamante nunca gozou de


férias, tampouco do descanso semanal remunerado, trabalhando ininterruptamente
todos os dias da semana, durante todos os meses do ano. As horas em que não
estava laborando, o reclamante quedava a disposição do reclamado, podendo a vir
desenvolver suas atividades a qualquer horário do dia ou da noite, conforme ordens
do empregador. Desta maneira, faz jus, o reclamado, ao que dispõe o art. 9º da Lei
605/49, qual seja o pagamento em dobro dos descansos semanais remunerados,
bem como feriados nacionais e religiosos.
Ademais, o reclamante nunca percebeu 13º salário durante
todo o período.

3. Do Seguro Desemprego

Por inquestionáveis as infrações cometidas pelo reclamado, e,


ainda, face ao não registro do contrato de trabalho, o reclamante ficou
impossibilitado de perceber o seguro desemprego. Afinal, tivesse o reclamado
efetuado o devido registro, preencheria o reclamante todos os requisitos para o
recebimento do benefício, porquanto, por ocasião de seu desligamento, contava com
período de trabalho muito superior a seis meses. Senão, vejamos o entendimento do
TRT:

"Reconhecendo o vínculo de emprego do empregado,


mediante sentença e evidenciado que a rescisão deu-se sem
justa causa, cabível a indenização relativa ao seguro-
desemprego, pois evidente que , não registrado o obreiro, não
poderia o empregador fornecer as guias indispensáveis para
habilitá-lo ao benefício assegurado em lei. Improvado o período
em que o empregado ficou ao desemprego após a despedida,
defere-se a indenização em valor que será apurado em
liquidação de sentença por artigos. (TRT - 9ª R. 3ª T - Ac. n.º
27255/95 - Rel.Juiz Arnaldo Ferreira 0 - DJPR 10.11.95)".

Isto posto, deverá ser a reclamada condenada à indenização


cabível, no montante e número de parcelas previstas na legislação pertinente ao
seguro desemprego, uma vez que o prejuízo causado ao Reclamante, se deu, única
e exclusivamente, por culpa do reclamado.
4. Do Acidente de Trabalho

No dia ___, o reclamante, no cumprimento das suas funções,


acabou por sofrer acidente que o deixou impossibilitado de exercer as suas funções
por completo, lhe reduzindo a capacidade do labor rural.
Quando estava exercendo a vigia da propriedade, ao lado de
uma fogueira, o reclamante passou por um mal súbito, o qual o levou a desmaiar,
prostrando-se ao lado da fogueira, com seu braço esquerdo por sobre a mesma.
O reclamante teve parte da sua mão esquerda queimada, o
que levou a perder parte do movimento dos dedos daquela mão. Verificar se foi
socorrido, levado ao hospital, despesas pagas pelo empregador, quanto tempo ficou
sem trabalhar, se foi pago alguma coisa ao seu favor, se teve alguma despesa com
medicamentos ou algo.
Cumpre ressaltar que, desde o início, o reclamado nunca
cumpriu o que dispõe a Portaria MTB nº 3214/78, especificamente quanto às
Normas Regulamentadoras De Segurança E Saúde No Trabalho (NR).
O item 1.7 da NR-1 estabelece que:

1.7. Cabe ao empregador:

a) cumprir e fazer cumprir as disposições legais e


regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho;

b) elaborar ordens de serviço sobre segurança e


medicina do trabalho, dando ciência aos empregados,
com os seguintes objetivos:

I - prevenir atos inseguros no desempenho do trabalho;


II - divulgar as obrigações e proibições que os
empregados devam conhecer e cumprir;
III - dar conhecimento aos empregados de que serão
passíveis de punição, pelo descumprimento das ordens
de serviço expedidas;
IV - determinar os procedimentos que deverão ser
adotados em caso de acidente do trabalho e doenças
profissionais ou do trabalho;
V - adotar medidas determinadas pelo MTb;
VI - adotar medidas para eliminar ou neutralizar a
insalubridade e as condições inseguras de trabalho.

c) informar aos trabalhadores:


I - os riscos profissionais que possam originar-se nos
locais de trabalho;
II - os meios para prevenir e limitar tais riscos e as
medidas adotadas pela empresa;
III - os resultados dos exames médicos e de exames
complementares de diagnóstico aos quais os próprios
trabalhadores forem submetidos;
IV - os resultados das avaliações ambientais realizadas
nos locais de trabalho.

d) permitir que representantes dos trabalhadores


acompanhem a fiscalização dos preceitos legais e
regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho.

Deste modo, como não foram observadas as normas de


proteção e prevenção do ambiente de trabalho, o reclamado deve ser condenado ao
pagamento de indenização justa ao reclamante, como forma de ressarcimento pelos
danos irreversíveis causados ao mesmo, o que o impossibilita de desenvolver
qualquer atividade manual de forma plena.
[...]
Dos Cálculos

Assim sendo, diante de todo o direito demonstrado, o


reclamante faz jus às seguintes verbas:

Verbas incontroversas:
a) Saldo de salário ultimo mês laborado - 09
dias ........................................... R$ 153,00
b) Aviso prévio
indenizado .............................................................................. R$ 510,00
c) 13º salário proporcional (8/12
avos) ........................................................... R$ 340,00
d) Férias proporcionais (8/12
avos) ................................................................. R$ 453,36
e) FGTS (2005 a R$
2010) ..................................................................................... 2.528,24
f) Multa 40%
FGTS ....................................................................................... R$
.... 1.011,30
R$
Total
4.995,90

Verbas a serem apuradas:


a) Diferença salarial (2005 a R$
2010) ............................................................... 15.300,00
b) Descanso semanal remunerado em dobro (240 domigos
+ 8 feriados nacionais + 4 feriados R$
religiosos) .................................................................. 4.284,00
c) Férias vencidas em dobro (2005 a R$
2010) .................................................. 6.800,00
d) 13º salário (2005 a R$
2010) .......................................................................... 2.550,00
e) Seguro desemprego indenizado (05 R$
parcelas) .......................................... 2.550,00
f) Indenização por acidente de
trabalho ....................................................... XXXX,XX
Dos Pedidos

Face a todo o exposto, passa a requerer:

Seja declarada a existência do vínculo empregatício do reclamante para com o


reclamado, sendo providenciada a devida anotação e baixa da CTPS, na função
de empregado rural, com salário base de R$ 510,00 (quinhentos e dez reais);
Seja julgada totalmente procedente a presente reclamatória, para a devida
condenação do reclamado ao pagamento das verbas demonstradas acima,
corrigidas até o momento do seu efetivo cumprimento;
Seja condenado o reclamado ao pagamento da importância de R$ ___, referente à
indenização por decorrência do acidente de trabalho;
Seja condenado o reclamado ao pagamento das verbas incontroversas no momento
da primeira audiência, sob pena de se aplicar o disposto no art. 467 da CLT;
Expedição de ofícios denunciadores à DRT, CEF, INSS e MTE para aplicação das
medidas punitivas cabíveis diante das irregularidades aqui denunciadas (Lei
8.844/94).
Seja intimado o reclamado, para querendo, contestar a presente, sob pena de
confissão e revelia;
Seja condenado o reclamado ao pagamento dos honorários advocatícios conforme
art.22 da Lei 8.906/94;
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em Direito admitidas,
inclusive prova pericial, documental, testemunhal e depoimento pessoal;

Dá-se a causa o valor de R$ ____.

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