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Steven Pinker-O Instinto Da Linguagem - Como A Mente Cria A Linguagem-Martins Fontes (2002) PDF
Steven Pinker-O Instinto Da Linguagem - Como A Mente Cria A Linguagem-Martins Fontes (2002) PDF
Steven Pinker
O instinto da linguagem
Como a mente cria a linguagem
T rad ução
C l a u d ia B e r l in e r
R e v isã o T é c n ic a
C y n t h ia L e v a r t Z o c c a
M artins Fontes
São Paulo 2004
Esta obra foi publicada originalmente em inglês com o título
THE LANGUAGEINSTINCT.
Copyright © 1994 hy Steven Pinker.
Copyright © 2002, Livraria Martins Fontes Editora Ltda.,
São Paulo, para a presente edição.
Ia edição
abril de 2002
2“ tiragem
junho de 2004
Tradução
CLAUDIA BERUNER
Revisão técnica
Cynthia Levart Zocca
Revisão grãfica
Lilian Jenkino
Maria Luiza Fravet
Produção gráfica
Geraldo Alves
Paginação/Fotolitos
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
02-1528__________________________________________ CDD-400
índices para catálogo sistemático:
1. Linguagem 400
I
Índice
Prefácio • 1
Notas *559
Rferêncías bibliográficas • 577
Glossário • 605
índice remissivo *617
m\
P refácio
1
I O instinto da linguagem I
2
I Prefácio I
3
I O instinto da linguagem
4
Um instinto p a ra
a d q u irir um a arte
5
I O instinto da linguagem I
Ao abrir a porta paraTad, Dixie fica aturdida, pois achava que ele es
tava morto. Bate a porta na cara dele e tenta escapar. Mas quando
Tad diz “Eu a amo”, permite que entre. Tad a conforta e eles se en
tregam um ao outro. Quando Brian chega, interrompendo-os, Dixie
conta a um Tad atordoado que ela e Brian tinham-se casado naquele
mesmo dia. Com muita dificuldade, Dixie informa Brian de que as
coisas não terminaram entre ela eTad. Em seguida, solta a notícia de
que Jamie é filho de Tad. “Meu o quê?”, diz um Tad chocado.
Pense no que estas palavras provocaram. O que fiz não foi sim
plesmente lembrá-lo de polvos; se, porventura, você vir surgir
listras em um deles, agora sabe o que acontecerá em seguida. A
próxima vez que for a um supermercado, talvez procure club so
da entre os milhares de itens disponíveis, e não toque nele até mui
tos meses depois, quando uma substância particular e um obje
to particular acidentalmente se encontrarem. Agora você compar
tilha com milhões de outras pessoas os segredos dos protagonistas
de um mundo criado pela imaginação de um estranho, o folhetim
diário All My Ckildren. È verdade que minhas demonstrações de
penderam de nossa capacidade de ler e escrever, mas isso torna
nossa comunicação ainda mais impressionante, pois transpõe in
tervalos de tempo, espaço e convivência. Mas a escrita é claramen
te um acessório opcional; o verdadeiro motor da comunicação ver
bal é a língua falada que adquirimos quando crianças.
Em qualquer história natural da espécie humana, a linguagem
se distingue como traço preeminente. Um humano solitário é,
decerto, um engenheiro e fantástico solucionador de problemas.
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I Um instinto para adquirir uma arte I
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I O instinto da linguagem I
I. Referencia ao livro de James Lipton, An Exaltation of Larks~Tbe Ultimate Edition, eel. Pcnguin,
que é uma colecânea de coletivos de animais. (N. daT.)
I Um instinto para adquirir uma arte I
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I O instinto da linguagem I
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I Um instinto para adquirir uma arte I
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I O instinto da linguagem I
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I Um instinto para adquirir uma arte I
revestida dessa forma perfeita, feita para ser amada por todo o sem
pre de modo tão palpável e evidente!”
E é isso, provavelmente, que todo animal sente em relação a cer
tas coisas que ele tende a fazer em presença de certos objetos... Para
o leão, é a leoa que foi feita para ser amada; para o urso, a ursa. É
muito provável que a galinha choca considerasse monstruosa a idéia
de que haja alguma criatura no mundo para quem um ninho cheio de
ovos não fosse o objeto mais fascinante, mais precioso de todos e so
bre o qual nunca-é-demais-sentar-em-cima, como é para ela.
Podemos portanto estar certos de que, por mais misteriosos que
alguns dos instintos animais nos pareçam, nossos instintos decerto
não parecem menos misteriosos para eles. E podemos concluir que,
para o animal que a ele obedece, cada impulso e cada etapa de cada
instinto brilha com sua própria luz, e a cada momento parece ser a
única coisa eternamente correta e apropriada a fazer. Que sensação
voluptuosa não deve percorrer a mosca quando ela por fim descobre
aquela folha particular, ou carniça, ou porção de esterco, que entre
todas no mundo estimula seu ovipositor a eliminar os ovos? Nesse
momento, essa eliminação não deve lhe parecer a única coisa a ser
feita? E será que ela precisa se preocupar ou saber algo a respeito da
futura larva e seu alimento?
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I O instinto da linguagem I
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I Um instinto para adquirir uma arte I
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I O instinto da linguagem. I
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I Um instinto para adquirir uma arte I
A história que vou contar neste livro foi sem dúvida profunda
mente influenciada por Chomsky. Mas não é exatamente a histó
ria dele, e não a contarei como ele o faria. Chomsky confundiu
muitos leitores com seu ceticismo quanto à possibilidade da sele
ção natural darwiniana (em contraposição a outros processos evo
lutivos) poder explicar as origens do órgão da linguagem que ele
propõe; a meu ver, é útil considerar a linguagem como uma adap
tação evolutiva, como o olho, cujas principais partes estão desti
nadas a desempenhar importantes funções. Além disso, as teses de
Chomsky sobre a natureza da faculdade da linguagem baseiam-se
em análises técnicas da estrutura das palavras e frases, muitas ve
zes expressas em abstrusos formalismos. Suas discussões sobre fa
lantes de carne e osso são superficiais e muito idealizadas. Em
bora eu concorde com muitas de suas teses, acho que uma conclu
são sobre a mente só é convincente se dados oriundos de muitas
fontes convergirem para ela. Portanto, a história contada neste li
vro é altamente eclética, incluindo desde a maneira como o DNA
constrói cérebros até discursos pontificantes de colunistas de lin
guagem jornalística. Para começar, o melhor é perguntar por que
alguém deveria acreditar que a linguagem humana é parte da bio
logia humana —ou seja, um instinto.
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Tagarelas
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I O instinto da linguagem I
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I Tagarelas I
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I O instinto da linguagem I
* Todos os termos técnicos de linguística, biologia e ciência cognitiva que utilizo neste livro
estão definidos no Glossário nas páginas 605-616.
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I Tagarelas I
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I O instinto da linguagem I
You know, likc some people say if youre good an’ shit, your spirit
goin' t'heaven ... ’n’ if you bad, your spirit goin’ to hell. Well, bulls-
hití Your spirit goin’ to hell anyway, good or bad.
[Why?]
Why? Г11 tell you why. 'Cause, you see, doesn’ nobody really know
that it’s a God, y’know, 'cause I mean I have seen black gods, white
gods, all color gods, and don’t nobody know its really a God. An’
whcn tliey be sayin’ if you good, you goin t’heaven, thas bullshit,
'cause you ain’t goin’ to no heaven, 'cause it aint no heaven for you
to go to.
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I Tagarelas I
2. O conteúdo do diálogo c o seguinte: As pessoas dizem que sc vocc for bom sua alma irá
para o céu e sc for mau, para o inferno. Bobagem/ Sua alma vai para o inferno dc qualquer
maneira, seja ela boa ou má. Porque ninguém sabe sc rcalmentc existe um Deus. Conhecí
deuses negros, brancos, mas ninguém sabe sc existe Deus. E quando dizem que sc vocc for
bom vai para o céu, isso c bobagem porque não existe um céu para ir. Mas, sc existisse um
Deus, ele seria branco. Porque a maioria dos brancos têm tudo c os negros não tem nada.
Portanto, para que isso aconteça não pode haver um Deus negro. (N. daT.)
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I O instinto da linguagem I
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I Tagarelas I
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I O instinto da linguagem I
fosse, mas, por outro lado, a linguagem é mais útil que a Coca-
Cola. E como comer com as mãos e não com os pés, o que tam
bém é universal, mas não temos de invocar um instinto especial
que leva a mão à boca para explicar por quê. O valor da linguagem
é inestimável para todas as atividades da vida diária numa comu
nidade de pessoas: providenciar comida e abrigo, amar, discutir,
negociar, ensinar. Sc a necessidade é a mãe de todas as invenções,
a linguagem poderia ter sido inventada algumas vezes por pessoas
capazes há muito tempo. (Como LilyTomlin disse, talvez o homem
tenha inventado a linguagem para satisfazer sua profunda neces
sidade d c sc queixar.) A Gramática Universal apenas refletiría as
exigências universais da experiência humana e as limitações uni
versais do processamento humano da informação. Todas as línguas
têm palavras para “água” c “alimento” porque todas as pessoas têm
dc se referir a água c comida; nenhuma língua tem uma palavra
com um milhão dc sílabas porque ninguém teria tempo para pro
nunciá-la. Uma vez inventada, a língua se consolidaria dentro dc
uma cultura à medida que os pais ensinassem seus filhos e os filhos
imitassem os pais. A partir das culturas que tivessem uma língua,
ela se espalharia rapidamente para outras culturas mais caladas.
No centro desse processo está a extraordinariamente flexível inte
ligência humana, com suas estratégias de aprendizagem geral que
servem a tantos propósitos.
Portanto, a universalidade da linguagem não implica um ins
tinto de linguagem inato assim como depois do dia vem a noite.
Para convencê-lo de que existe um instinto de linguagem, terei de
desenvolver uma tese que vai da algaravia dos povos modernos aos
supostos genes da gramática. Os elementos essenciais para de
monstrar meu argumento provêm da minha própria especialida
de profissional, o estudo do desenvolvimento da linguagem nas
crianças. O ponto central da tese é que a linguagem complexa é
universal porque as crianças ejetivamente a reinventam, geração após ge
ração —não porque a aprendem, não porque são em geral inteli
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I Tagarelas I
gentes, não porque é útil para elas, mas porque não têm alterna
tiva. Permita-me agora colocá-lo na pista dos indícios que levam
a essa conclusão.
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I O instinto da linguagem I
naquela língua ele é referido como Jeüa belong Mrs. Queen [compa
nheiro pertence Sra. Rainha].)
Mas o lingüista Derek Bickerton demonstrou que em muitos
casos um pidgin pode se converter numa língua complexa plena
de chofre: basta que um grupo de crianças seja exposto ao pidgin
na idade em que adquire a língua materna. Isso acontecia, afirma
Bickerton, quando crianças eram separadas dos pais c ficavam to
das juntas sob a responsabilidade de um trabalhador que falava
com elas cm pidgin. Não satisfeitas em reproduzir as cadeias frag
mentadas dc palavras, as crianças injetavam complexidade grama
tical ali onde ela não existia, resultando numa nova língua, muito
rica em termos expressivos. A língua que surge quando crianças
transformam um pidgin em sua língua nativa sc chama crioulo.
Л principal prova de Bickerton provém de uma única circuns
tância histórica. Embora as plantações cultivadas por escravos que
deram lugar à maioria dos crioulos sejam, felizmcntc, algo de um
passado remoto, um episódio de crioulização ocorreu num passa
do suficientemente recente para que seus principais protagonistas
pudessem ser estudados. Pouco antes do início do século 20, hou
ve uma rápida expansão das plantações de açúcar no Havaí, crian
do uma demanda de trabalho que logo extrapolou os recursos na
tivos. foram trazidos trabalhadores da China, Japão, Coréia, Por
tugal, filipinas c Porto Rico, e rapidamente um pidgin se desen
volveu. Muitos dos trabalhadores imigrantes que primeiro desen
volveram aquele pidgin estavam vivos quando Bickerton os entre
vistou nos anos dc 1970. Eis alguns exemplos típicos de sua fala:
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I Tagarelas I
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I O instinto da linguagem I
Some filipino wok o’hc-ah dcy weri couple ye-ahs in filipin islan’.
Some Filipinos who workcd over here went back to the Philippincs
for a couple of ycars.”
|Alguns filipinos que trabalhavam aqui voltaram para as Filipinas
alguns anos atrás. |
One t ime when wc go home inna night dis ting stay fly up.
“Once when we went home at night this thing was flying about.”
[Certa vez, quando voltávamos para casa à noite aquela coisa estava
voando por aí. |
Não devemos nos enganar com o que parecem ser verbos in
gleses mal empregados, como go, stay e came, ou expressões como
one time. Não são usos acidentais de palavras inglesas mas usos sis
temáticos da gramática do crioulo havaiano: as palavras foram trans
formadas pelos falantes do crioulo em auxiliares, preposições,
marcadores de casos e pronomes relativos. Com efeito, foi provavel
mente assim que muitos dos prefixos e sufixos gramaticais de lín
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I Tagarelas I
Why he is lcaving?
Nobody d.on’t likes mc.
]’m gonna fali Angclas bucket.
Let Daddy hold it hit it,
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I Tagarelas I
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] O instinto da linguagem I
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I Tagarelas I
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I O instinto da linguagem I
tos era uma ASL bem melhor que a deles. Compreendia frases
com sintagmas de tópico deslocados sem qualquer dificuldade, e
quando tinha de descrever complexas cenas gravadas em vídeo,
empregava as flexões de verbo da ASL de maneira quase perfeita,
mesmo em frases que exigiam duas delas numa determinada or
dem. Simon deve ter conseguido de alguma maneira eliminar o
“ruído” agramatical dos pais. Deve ter-se aferrado às flexões que
seus pais usavam de modo inconsistente, reinterpretando-as como
obrigatórias. E deve ter percebido a lógica que, embora nunca efe
tivada, estava implícita no uso que os pais faziam de dois tipos de
flexão ver bal, e reinventado o sistema ASL de adicionar ambos a
um único ver-bo numa determinada ordem. A superioridade de
Simon cm relação aos pais c um exemplo de crioulização realiza
da por uma única criança.
Na verdade, o feito de Simon só se destaca por ele ter sido o
primeiro a mostrá-lo a um psicolingüista. Devem existir milhares
de Simons: noventa ou noventa e cinco por cento de crianças de
ficientes auditivas são filhos de pais ouvintes. Crianças que têm a
sorte de serem expostas à ASL geralmente recebem essa lingua
gem dc pais ouvintes que se dispuseram a aprendê-la, ainda que
de modo incompleto, para sc comunicar com os filhos. Com efei
to, como mostra a transição dc LSN para ISN, as próprias línguas
dc sinais são produtos de crioulização. Em vários momentos da
história, educadores tentaram inventar sistemas de sinais, às vezes
baseados na linguagem falada do meio. Mas esses códigos grossei
ros são sempre impossíveis de aprender, e quando crianças defi
cientes auditivas aprendem algo deles, fazem-no convertendo-os
em línguas naturais bem mais ricas.
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I Tagarelas I
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I O instinto da linguagem I
3. Que coisa maluca c essa? Os brancos escutam os filhos dizerem algo, aí dizem a mesma
coisa, ficam o tempo todo perguntando-lhes coisas, como sc eles tivessem que nascer sa
bendo. (N. daT.)
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I Tagarelas I
Mas por que não se pode deslocar este is! O que não funcionou
nesse procedimento simples? Como Chomsky observou, a respos
ta está no design básico da língua. Embora as sentenças sejam ca
deias de palavras, nossos algoritmos mentais para gramática não
selecionam palavras em função de suas posições lineares, tal como
“primeira palavra”, “segunda palavra” etc. Pelo contrário, os algo
ritmos agrupam palavras em sintagmas, e sintagmas cm sintagmas
ainda maiores, e dão um rótulo mental a cada um, como “sintag
ma nominal sujeito” ou “sintagma verbal”. A verdadeira regra de
formação dc perguntas não procura a primeira ocorrência do auxi
liar quando se percorre a cadeia da esquerda para a direita; procu
ra o auxiliar que vem depois do sintagma rotulado de sujeito. Esse
sintagma, que contém toda a cadeia de palavras a unicorn that is eating
a flower, funciona como uma unidade. O primeiro is encontra-se
profundamente entranhado nele, invisível à regra de formação de
perguntas. O segundo is, que vem logo depois desse sintagma no
minal sujeito, é aquele que tem de ser deslocado:
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I O instinto da linguagem I
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I Tagarelas I
4. Cf. trad. de Sebastião Uchoa Leite, in Aventuras de Alice no País das Maravilhas, cd. Summus,
São Paulo, У. ed. 1980. (N. daT.)
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I Tagarelas I
When my mother hangs clothes, do you let 'em rinse out in rain?
[Quando minha mãe pendura roupas, você as deixa enxaguarem
na chuva?]
Donna teases all the time and Donna has false teeth. [Donna provo
ca o tempo todo e Donna tem dentes postiços.]
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I O instinto da linguagem I
I know what a big chicken looks like. [Eu sei como é ter cara de gali-
nha-morta.]
Anybody knows how to scribble. [Todo mundo sabe rabiscar.]
Hcy, this partgoes where this one is, stupid. [Ei, seu bobo, esta peça
vai aqui, onde está esta outra.]
What comes after “C”? [O que vem depois de “C”?]
It looks like a donkey face. [Parece cara de burro.]
The person takes care of the animais in the barn. [A pessoa cuida
dos animais no celeiro.]
After it dries off then you сап такс the bottom. [Depois que isso se
car, então você pode fazer o fundo.]
Well, someone hurts hissclf and everything. [Bem, alguém se machu
cou e tudo. ]
His tail sticks oul like this. [O rabo dele estica assina.]
What happens il ya press on this hard? [O que acontece sc cc aperta
assim lorle? |
Do you liave a real baby that says googoo gaga? [Você tem una nenê
de verdade que diz gugu-dadá?]
5. As “inovações” de Sara estão nas formas bes (cm vez de is),gots (verbo no passado, não de
veria ter a terminação -s) c dos (em vez de does). (N. da R .T .)
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I Tagarelas I
suspeito (se as crianças são imitadores, por que não imitam o cos
tume que seus pais têm de ficar sentados quietos nos aviões?), mas
frases como as que vimos mostram claramente que a aquisição de
linguagem não pode ser explicada como um tipo de imitação.
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I O instinto da linguagem I
Quando acordei tinha uma forte dor de cabeça e achei que tinha
dormido em cima do braço direito porque eu o sentia formigando e
adormecido e não conseguia que ele fizesse o que eu queria. Saí da
cama mas não conseguia ficar de pé; na verdade, caí no chão porque
minha perna direita estava tão fraca que não agüentava meu peso.
Chamei minha esposa que estava no quarto ao lado e nenhum som
saiu —eu não conseguia falar... Fiquei chocado, horrorizado. Não
acreditei que isso estava acontecendo comigo e comecei a ficar mui
to assustado. Hntcndi dc repente que eu devia ter sofrido um derra
me. Fssc pensamento dc certa forma me aliviou mas não por muito
tempo porque sempre achei que as seqüelas de um derrame eram
permanentes cm todos os casos... Descobri que conseguia falar um
pouco mas até mesmo eu percebia que as palavras pareciam erradas
enão expressavam o que eu queria dizer.
“Fu era um si... não... na... hum, bem... dc novo.” lissas palavras fo
ram emitidas Icntamcntc c com grande esforço. Os sons não eram
claramcntc articulados; cada sílaba era pronunciada estridentemen-
te, cxplosivamcntc, numa voz gutural...
"Deixe-me ajudá-lo”, interrompi-o. “O senhor era um sinal...”
“Um si-na-leiro... certo”, Ford completou minha frase triunfante.
“Trabalhava na guarda costeira?”
“Não, é, sim, sim... navio... Massachu... chusetts... guarda costei
ra... anos”. Levantou as mãos duas vezes, indicando o número “de
zenove”.
“Ah, o senhor trabalhou na guarda costeira durante dezenove
anos.”
“Ah... cara... certo... certo”, ele respondeu.
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mãe foi ao banco para mim. Ela disse “Eles perderam de novo sua
caderneta”. Eu falei “Posso gritar?” e eu disse, ela disse “Pode, vá
em frente”. Então berrei. Mas é chato quando eles fazem coisas des
se tipo. TSB, gerentes não são... uh mesmo a melhor companhia.
Eles não têm jeito.
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I O instinto da linguagem I
Esta é uma história sobre chocolates. Era uma vez uma Princesa
de Chocolate que vivia no Mundo dc Chocolate. Ela era uma prin
cesa encantadora. Ela estava em seu trono dc chocolate quando um
homem de chocolate veio vê-la. E o homem sc curvou diante dela e
disse-lhe as seguintes palavras. O homem lhe disse: “Por favor,
Princesa Chocolate."Quero que você veja como faço meu trabalho.
E lá fora no Mundo de Chocolate está quente, c você poderia derre
ter como manteiga derretida. Mas sc o sol mudar de cor, o Mundo
dc Chocolate —e você —não derreterão. Você poderá ser salva se o
sol mudar de cor. E se ele não mudar de cor, você e o Mundo de
Chocolate estão perdidos.”
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tos. Isso era feito em parte pela invenção de novas palavras, mas so
bretudo pela eliminação de palavras indesejáveis e pela supressão, nas
palavras restantes, dos significados não conformes à doutrina, e, na
medida do possível, de qualquer significado secundário. Um exemplo
simples disso. A palavra livre ainda existia em Novilíngua, mas só po
dia ser empregada em frases como “O caminho está livre” ou “Esse
campo está livre de ervas daninhas”. Não podia ser empregada no an
tigo sentido de “politicamente livre” ou “intelectualmente livre”,
pois a liberdade política e intelectual não existia mais, nem mesmo
sob a forma dc conceitos, e portanto não havia necessidade dc que ti
vessem nomes.
...Uma pessoa educada cm Novilíngua como única língua não
saberia que igual tivera um dia o significado secundário de “politica
mente igual”, ou que livre um dia significara “intelectualmente li
vre”, assim como, por exemplo, uma pessoa que nunca ouviu falar
de xadrez desconhece os significados secundários de rainha e torre,
1 laveria muitos crimes e erros que ela não teria a possibilidade de
cometer, simplesmente porque eles não tinham nome c eram, por
tanto, inimagináveis.
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I Mentalês I
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categorias que a língua deles torna possíveis, e sua versão mais fra
ca, a relatividade lingüística, segundo a qual diferenças entre lín
guas causam diferenças nos pensamentos de seus falantes. Mesmo
aquelas pessoas que não se lembram de muito do que aprenderam
na universidade conseguem papaguear os supostos fatos: as lín
guas que subdividem de modo diferente o espectro visível em pa
lavras designativas de cores, o conceito fundamentalmente diferen
te de tempo dos Hopi, as dezenas de palavras esquimós para neve.
Isso tem graves implicações: as categorias básicas da realidade não
estão “no” mundo mas são impostas pela cultura (e portanto po
dem ser ameaçadas, o que talvez explique a eterna atração que a
hipótese exerce sobre as sensibilidades com pouca formação aca
dêmica).
Mas isso é falso, completamente falso. A idéia dc que o pensa
mento seja a mesma coisa que a linguagem é um exemplo do que
se pode chamar de absurdo convencional: uma afirmação total
mente contrária ao senso comum mas em que todos acreditam
porque têm uma vaga lembrança de tê-la escutado em algum lugar
e porque ela tem tantas implicações. (O “fato” de que usamos
apenas cinco por cento de nosso cérebro, de que os lemingues co
metem suicídio cm massa, de que o Manual do Escoteiro vende
todos os anos mais que todos os outros livros, c que podemos ser
coagidos a comprar por meio dc mensagens subliminares são ou
tros exemplos.) Pense a respeito. Todos tivemos a experiência dc
enunciar ou escrever uma frase, parar c perceber que não era exa
tamente o que queríamos dizer. Para que haja esse sentimento, é
preciso haver um “o que queríamos dizer” diferente do que disse
mos. Nem sempre é fácil encontrar as palavras que expressam ade
quadamente um pensamento. Ao escutar ou ler, geralmente recor
damos o ponto principal, não as palavras exatas, portanto deve
haver algo como um ponto principal que é diferente de uma cole
ção de palavras. E se os pensamentos dependem das palavras,
como poderia uma palavra nova ser forjada? Para começo de con
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I Mentalês I
Esse papagaio não está mais entre nós. Deixou de existir. Expirou e
foi ao encontro de seu criador. É um finado papagaio. È um corpo.
Privado da vida, que descanse em paz. Se você não o tivesse pregado
no poleiro, ele estaria comendo capim pela raiz. Abotoou o paletó e
foi para a cidade dos pés juntos. Ё um ex-papagaio.
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apache, Esta primavera está chuvosa tem de ser expresso “Como água,
ou primaveras, a brancura move-se para baixo”. “Como esse mo
do de pensar é diferente do nosso!” escreveu ele.
No entanto, quanto mais examinamos os argumentos de
W horf, menos sentido eles fazem. Tomemos a história do operá
rio e o tambor “vazio”. O germe do desastre encontra-se suposta
mente na semântica de vazio, que, dizia Whorf, significa tanto “sem
seu conteúdo habitual” como “nulo, vazio, inerte”. O infeliz ope
rário, com sua concepção da realidade moldada por suas catego
rias lingüísticas, não distinguiu entre os significados de “seco” e
“inerte”, e então, um piparotc e... bum! Um momento, por favor.
Vapor de gasolina é invisível. Um tambor contendo apenas vapor
tem exatamente a mesma aparência dc um tambor sem nada den
tro. Essa catástrofe ambulante foi certa mente enganada pelos olhos,
não pela língua inglesa.
O exemplo da brancura que sc move para baixo supostamente
demonstra que a mente apache não secciona os fatos em objetos c
ações distintos. W h o rf apresentou muitos exemplos como esse dc
línguas nativas americanas. O equivalente apache de O barco está em
calhado na praia c “Ele está na praia a pique em conseqüência de um
movimento de canoa”. Ele comida pessoas para umafesta torna-sc “Ele,
ou alguém, vai atrás de comedores dc alimento cozido”. Ele limpa a
arma com uma vareta traduz-se por “Ele dirige um lugar seco e oco
que se move por movimento de ferramenta”. Isso tudo, é claro, c
muito diferente do nosso modo de falar. Mas como sabemos que
é muito diferente de nosso modo de pensar?
Logo que os artigos de W horf apareceram, os psicolingüistas
Eric Lenneberg e Roger Brown apontaram dois non sequiturs na sua
tese. Em primeiro lugar, W h o rf na verdade nunca estudou ne
nhum apache; ninguém sabe se ele algum dia viu algum. Suas as
serções sobre a psicologia apache baseiam-se totalmente na gra
mática apache —o que torna sua argumentação circular. Apaches
falam de maneira diferente, portanto devem pensar de maneira di
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IMentaUs I
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não ficaria muito para trás, comsnow, sleet, slusb, blizzari, avalanche,
hail, hardpack, powder,jlurry, dusting, e a palavra snizzling, cunhada pelo
meteorologista da QTBZ-TV de Boston, Bruce Schwoegler.
Como surgiu esse mito? De ninguém que tenha de fato estuda
do as famílias yupiks e inuit-inupiaqs de línguas polissintéticas
faladas desde a Sibéria até a Groenlândia. A antropóloga Laura
M artin pesquisou e documentou como essa história ganhou di
mensões de lenda urbana, sendo ampliada a cada relato. Em 1911,
Boas mencionou por acaso que os esquimós empregavam quatro
raízes diferentes para neve. W horf abrilhantou o conto com sete,
deixando implícito que havia mais. Seu artigo foi amplamente di
fundido, depois citado em manuais e livros de divulgação sobre
linguagem, o que provocou estimativas cada vez mais inchadas em
outros manuais, artigos c colunas de jornais no estilo de “Você
sabia que...”.
O lingüista Geoffrey Pullum, que divulgou o artigo de M artin
em seu ensaio “A Grande Farsa do Vocabulário Esquimó”, tece
hipóteses de por que a história fugiu tanto ao controle: “A alega
da extravagância léxica dos esquimós combina muito bem com as
muitas outras facetas da perversidade polissintctica deles: esfregar
os narizes; emprestar as esposas para os estrangeiros; comer gor
dura crua de foca; deixar a vovó abandonada para ser comida pe
los ursos polares.” Que irônica deturpação! A relatividade lingüís-
tica é um produto da escola de Boas, como parte de uma campa
nha para mostrar que culturas não letradas eram tão complexas e
sofisticadas como as européias. No entanto, as anedotas suposta
mente destinadas a ampliar as idéias devem seu caráter atraente a
uma sensação de superioridade que leva a tratar a psicologia de
outras culturas como estranhas e exóticas em comparação com a
nossa. Como afirma Pullum:
71
I O instinto da linguagem I
72
I Mentalês I
73
I O instinto da linguagem I
74
I Mentalês I
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I O instinto da linguagem I
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I Mentalês I
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I O instinto da linguagem I
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IMentalês I
79
I O instinto da linguagem I
80
IMentalês I
P X 4 ~n J sX '-L- 4
1 У Ш X/ t ГТ- X
0 +45 +90 +135 180 -135 -90 -45
81
I O instinto da linguagem I
82
IMentalês I
83
I O instinto da linguagem I
84
I Mentalês I
Sócrates
85
I O instinto da linguagem I
Sócrates émortal
86
IMentalês I
que ela significa para nós) e copia outras marcas de tinta, de tal
forma que acaba por imitar a operação da regra lógica. O que a
torna “inteligente” é que a seqüência de identificar, mover e co
piar resulta em imprimir uma representação de uma conclusão
que é verdadeira se e somente se a página contiver representações
de premissas que são verdadeiras. Turing mostrou que se dermos à
máquina todo o papel de que ela necessita, ela pode fazer tudo o
que um computador pode fazer —e talvez, supunha ele, qualquer
coisa que uma mente encarnada num corpo pode fazer.
Bem, esse exemplo usa marcas de tinta em papel como repre
sentação e uma máquina que copia, desloca e identifica como pro
cessador. Mas a representação pode estar em qualquer meio físi
co, desde que os padrões sejam usados de forma consistente. No
cérebro, pode haver três grupos de neurônios, um usado para re
presentar para o indivíduo a que a proposição se refere (Sócrates,
Aristóteles, Rod Stewart etc.), outro para representar as relações
lógicas dentro da proposição (é um, não é, é igual a etc.), e outro
para representar a classe ou tipo em que o indivíduo está sendo
incluído (homens, cães, galinhas etc.). Cada conceito correspon
dería ao disparo de um determinado neurônio; por exemplo, no
primeiro grupo de neurônios, o quinto neurônio poderia disparar
para representar Sócrates e o décimo sétimo, para representar Aris
tóteles; no terceiro grupo, o oitavo neurônio dispararia para re
presentar homens, o décimo segundo neurônio, para representar
cães. O processador poderia ser uma rede de outros neurônios
que alimenta esses grupos, conectando-os de forma a reproduzir
o padrão de disparo de um grupo de neurônios em outro grupo
(por exemplo, se o oitavo neurônio dispara no grupo 3, a rede do
processador ativaria o oitavo neurônio num quarto grupo em al
gum outro lugar do cérebro). Ou isso tudo poderia se dar em
chips de silício. Nos três casos, no entanto, os princípios são os
mesmos. O modo como os elementos do processador estão liga
dos leva-os a identificar e copiar pedaços de uma representação, e
87
I O instinto da linguagem I
88
IMentalês I
89
I O instinto da linguagem I
Ralph é um elefante.
Elefantes vivem na África.
Elefantes têm presas.
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IMentalês I
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I O instinto da linguagem I
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IMentalês I
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I O instinto da linguagem I
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Como a linguagem funciona
95
I O instinto da linguagem I
um sonar; no caso dos salmões, eles seguem pelo faro o rastro de seu
percurso. Que truque existe por trás da capacidade do Homo sapiens
de comunicar que homem morde cachorro?
Na verdade, não há um truque, mas dois, associados ao nome
dc dois estudiosos europeus do século dezenove. O primeiro prin
cípio, estabelecido pelo lingüista suíço Ferdinand de Saussure, é
“a arbitrariedade do signo”, a combinação totalmente convencio
nal dc um som com um significado. A palavra cachorro não sc pare
ce com um cachorro, não anda como um cachorro, nem Iate como
um cachorro, mas mesmo assim significa “cachorro”. Isso aconte
ce porque todo falante dc português passou por um idêntico ato
de aprendizagem mecânica na infância que liga o som ao signifi
cado. Ao preço dessa memorização padronizada, os membros dc
uma comunidade linguística desfrutam dc um enorme benefício:
a possibilidade de transmitir um conceito dc mente para mente dc
modo praticamente instantâneo. As vezes o casamento entre som
e significado é engraçado. Como Richard Lcdercr comenta em
Crazy làglish, wc drive on a parhway mas park in a driveway, não existe
bani |presunto J no hamhurger ou hreaâ [pão] em sweetbreads [timo], c
blueberries são bine [ azuis |mas cmnberríes não são cran [garças], Mas
pense na alternativa “sensata” dc descrever um conceito de modo
que os receptores possam apreender o significado a partir dc sua
íorma. li um processo que desafia de tal forma, a inventividade,
tão comicamcnfe falível, que o transformamos em jogos como
Imagem c Ação c charadas.
O segundo truque existente por trás do instinto da linguagem
pode ser sintetizado numa formulação dc Wilhclm von Hunt-
boldt, que pressagiava Chomsky: a língua “faz um uso infinito dc
meios finitos”. Percebemos a diferença entre o corriqueiro cachorro
morde homem c o inaudito homem morde cachorro devido à ordem em
que cachorro, homem e morde estão combinados. Ou seja, utilizamos
um código para traduzir ordens de palavras em combinações de
idéias e vice-versa. Esse código, ou conjunto de regras, chama-se
96
1 Como a linguagem funciona I
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I O instinto da linguagem I
98
I Como a linguagem funciona I
1. Ainda mais estranho porque [acqucs-I )alcrozc, como todos esses grandes professores, c o
mais perfeito tirano, que sabe o que c certo c que a aula tem de ser e será exatamente
daquela maneira para que seu coração não fique confrangido (não o de outra pessoa,
observe bem), e ainda assim seu ensino c tão fascinante que toda mulher que o vê exclama:
“Oh, por que não mc ensinaram desse jeito!” e senhores dc mais idade, excitados, inscre-
vem-sc como alunos c agitam as aulas das crianças com seus esforços desesperados de
bater dois tempos com uma mão e três com a outra, além de sair andando cm círculos pela
. sala, dando dois passos para trás sempre que M. Dclcroze grita “Upal”. (N. daT.)
2. Referencia a Ulisses de James Joyce, em tradução dc A. Houaiss: “...sempermoventes de
imensuravclmcnte remotos éons a infinitamente remotos futuros em comparação com o
que os anos, três vintenas mais dez, do quinhão da vida humana formavam um parêntese
de infinitésima brevidade”. (N. daT.)
99
I O instinto da linguagem I
Quem se importa com o fato de Pinkcr ter escrito que Faulkner es
creveu “Thcy both bore it as though in deliberate flagellant exal
tation...”?
100
I Como a linguagem funciona I
3. Alguns exemplos dc bichos-papõcs cm português são: não comece uma frase com um pro
nome átono, o certo é “vendem-se casas” c não “vcndc-sc”, não existe plural dc haver exis
tencial... (N. daT.)
101
I O instinto da linguagem l
> PRINT (x + 1
*****SYNTAX ERROR*****
It was a crisp and spicy morning in early October. The lilacs and
labumums, lit with the glory-fires of autumn, hung burning and
flishing in the upper air, a fairy bridge provided by kind Nature for
the wingless wild things that have their homes in the tree-tops and4
4. E fato sabido no mundo inteiro que os Pobbles são mais felizes sem o s dedos dos pés.
(N. daT.)
102
I Como a linguagem funciona I
would visit together; the larch and the pomegranate flung their pur-
ple and yellow flanaes in brilliant broad splashes along the slanting
sweep of the woodland; the sensuous fragrance of innumerable de-
ciduous flowers rose upon the swooning atmosphere; far in the
empty sky a solitary esophagus slept upon motionless wing; every-
where brooded stillness, serenity, and the peace of God.5
5. Era uma fresca e. aromática manhã de princípios dc outubro. Os lilases c íaburnos, aluinia-
dos pelos gloriosos fogos do outono, pendiam queimando e brilhando no ar, uma ponte
encantada oferecida pela gentil Natureza aos selvagens entes desalados que habitam o
cimo das árvores e se visitam; lariços e romãzeiras lançam suas flamas purpúreas e amare
las em amplos jatos brilhantes por toda a extensão oblíqua da mata; a fragrância sensual
de inumeráveis flores decíduas elevava-se por sobre a atmosfera desfaleeente; ao longe, no
ermo céu, um esôfago solitário dormia sobre asas imóveis; por toda parte, uma calmaria
protetora, serenidade e a paz de Deus. (N. daT.)
103
I O instinto da linguagem I
6. I ! ;k(i.h;ào dc Augusto dc Campos, in Aventaras de Alice, cd. Summus, São Paulo, 3:' ed.,
1980. (N .d aT .)
104
I Como a linguagem funciona I
fora enviado para uma ficha em que se lia com total clareza são moti
vo de luto. Hoje, fechou os olhos, retirou casamentos, e foi dirigido para
são motivo de alegria.
Numa seqüência lógica, em seguida veio: O casamento de X e Y,
abrindo-lhe a escolha entre não constitui exceção e é um exemplo. Em am
bos os casos, seguía-se deJato. De fato, fosse qual fosse o evento com
que se começasse, coroações, mortes ou nascimentos —Goldwasser
percebeu com intenso prazer matemático —, encontrava-se esse ele
gante gargalo. Parou em defato, retirando numa rápida sucessão: é uma
ocasião particularmentefeliz, raramcnte, e se viu um jovem casal mais popular.
Da próxima seleção, Goldwasser tirou X conquistou um lugar especial
no coração da nação, o que o forçou a ir para: e é claro que o povo britânico já
se afeiçoou a Y.
Goldwasser ficou surpreso, e um pouco perturbado, ao constatar
que a palavra “adequado” ainda não aparecera. Mas ela saiu na pró
xima ficha —é especialmente adequado que.
O que deu a noiva/o noivo seja, c uma escolha aberta entre: de lão no
bre c ilustre linhagem, uma plebéia/um plebeu nestes tempos democráticos, dc uma
nação com a qual este país há muito tempo mantém relações parlicularmenle próxi
mas e cordiais, c de uma nação com a qual este país nem sempre manteve boas rela
ções no passado.
Sentindo que fizera um bom trabalho com “adequado” da última
vez, Goldwasser deliberadamente seleeionou-o dc novo. Também é ade
quado que, dizia a ficha, rapidamente seguida dc: que lembremos que, с X e
Ynão são apenas símbolos —são um alegre jovem e uma adorável jovem mulher.
Goldwasser fechou os olhos para tirar a próxima ficha. Nela se
lia, nestes dias em que. Ponderou se devia escolher está na moda ridicularizar
a moral tradicional do casamento e da vidafamiliar ou não está mais na moda ri
dicularizar a moral tradicional do casamento e da vida familiar. O último evo
cava mais o autêntico esplendor barroco da formalidade, concluiu.
105
I 0 instinto da linguagem I
106
I Como a linguagem funciona I
O menino sorvete
um homem come -----sanduíche
certo cachorro doces
reúne várias frases, tais como Um menino come sorvete e O cachorro feliz
come doces. Pode reunir uma quantidade infinita por causa do loop
na parte superior que pode fazer com que o mecanismo da lista f e
liz volte sobre si mesmo quantas vezes for necessário: O cachorrofeliz
come sorvete, O cachorrofeliz feliz come sorvete etc.
Quando um engenheiro tem de construir um sistema para
combinar palavras em determinadas ordens, o que primeiro lhe
vem à cabeça é um mecanismo de cadeias de palavras. A voz gra
vada que lhe fornece um número de telefone quando você liga
para o auxílio à lista é um bom exemplo. Grava-se uma voz huma
na emitindo os dez dígitos, cada um em sete padrões musicais di
ferentes (um para a primeira posição em um número de telefone,
outro para a segunda, e assim por diante). Com apenas essas se
tenta gravações, dez milhões de números de telefones podem ser
reunidos; com mais trinta gravações para códigos de área de três
dígitos, são possíveis dez bilhões de números (na prática, muitos
nunca serão usados devido a restrições como a ausência de 0 e I
no começo de um número de telefone). Com efeito, sérios esfor
ços têm sido empreendidos no sentido de modelar a língua ingle
sa como uma enorme cadeia de palavras. Para torná-lo o mais rea
lista possível, as transições de uma lista de palavras para outra po
dem refletir as reais probabilidades de cada tipo de palavra se en
cadear com outra em inglês (por exemplo, é muito mais provável
que a palavra that venha seguida de is do que por indicates). Gigan
107
I O instinto da linguagem I
108
I Como a linguagem funciona I
sentido pode ser gramatical mas também para mostrar que se-
qüências improváveis de palavras podem ser gramaticais. Em tex
tos ingleses, a probabilidade de que a palavra colorless venha segui
da da palavra green é decerto zero. A probabilidade é a mesma de
que green venha seguido de iàeas, iieas de sleep, e sleep dejuriously. Não
obstante, essa seqüência é uma frase em inglês perfeitamente bem
construída. Em contrapartida, quando cadeias de palavras são mon
tadas por meio de tabelas de probabilidade, as seqüências de pala
vras resultantes distam de ser frases bem construídas. Por exem
plo, digamos que você tome estimativas do conjunto de palavras
com maior probabilidade de vir depois de qualquer seqüência de
quatro palavras, c use essas estimativas para aumentar uma sequên
cia palavra por palavra, olhando sempre para as quatro palavras mais
recentes para determinar a próxima. A seqüência lembra estranha-
mente o inglês, mas não c inglês, como House to askfor is to earn our
living by working towards a goaljor his team in olá New- York was a wonder-
fu i place wasn’t it even pleasant to talk about and laugh hard whcn be tclls lies he
should not tell те the reason wby you are is evídent.7
A discrepância entre frases inglesas c cadeias dc palavras que
lembram o inglês nos ensina duas coisas. Quando as pessoas
aprendem uma língua, aprendem como ordenar palavras, mas não
o fazem decorando qual palavra vem depois dc qual palavra. Ea-
zcm-no decorando que categorias lexicais —substantivo, verbo etc.
—vêm depois de que categorias. Ou seja, reconhecemos colorless
green ideas porque tem a mesma ordena dc adjetivos c substantivos
que aprendemos em seqüências mais familiares como straplcss black
dresses [vestidos pretos sem alça]. O segundo ensinamento é que
substantivos, verbos e adjetivos não estão apenas amarrados uns
7. Uma traduçno possível seria: O abrigo que sc pede c ganhar a vida trabalhando por um
objetivo para seu time na velha Nova York cra um lugar maravilhoso não era mesmo agra
dável falar sobre aquilo e rir muito quando cie conta mentiras que ele não deveria mc con
tar o motivo pelo qual vocc está c evidente. (N. daT.)
109
I O instinto da linguagem I
110
I Como a linguagem funciona I
111
I O instinto da linguagem I
112
I Como a linguagem funciona I
sobe lentamente as escadas até o quarto de Júnior para ler uma his
tória para dormir. Júnior avista o livro, faz uma careta e pergunta:
“Daddy, what díd you bring that book that I dont want to be
read to out o f up for?”89No momento em que enunciou read, Jú
nior se obrigou a guardar quatro dependências na memória: to be
read exige to, that book that exige out of, bring exige up, e what exige for.
Um exemplo ainda melhor, extraído da vida real, vem de uma car
ta endereçada ao TV Cuide:
How Ann Salisbury can claim that Pam Dawbers anger at not
receiving ber fair sharc o f acclaim for Mork and Mindy s succcss deri
ves fiom a fragile ego escapes me.'1
8. A tradução literal seria: Papai, por que vocc apanhou c trouxe para cima esse livro que não
quero que seja lido para mim? (N. dcT.)
9. Como Ann Salisbury pode afirmar que a raiva dc Pam Dawbcr por não receber sua par
cela dc aclamação pelo sucesso de Mork and Mindy decorre dc um ego frágil mc escapa.
(N. daT.)
113
I O instinto da linguagem I
114
I Como a linguagem funciona I
NP - » (det) N A*
“Um sintagma nominal é formado de um determinante opcional,
seguido de um substantivo, seguido de qualquer número de ad
jetivos.”
NP
det N A
o menino feliz
S —>NP VP
“Uma frase é formada de um sintagma nominal seguido de um sin
tagma verbal.”
VP —>V NP
“Um sintagma verbal é formado de um verbo seguido de um sintag
ma nominal.”
115
I O instinto da linguagem I
NP VP
det N A V NP
o m en in o feliz come N
sorvete
116
I Como a linguagem funciona I
S —>ou S ou S
“Uma sentença pode estar formada pela palavra ou, seguida de uma
sentença, seguida da palavra ou, seguida de outra sentença.”
S —>se S então S
“Uma sentença pode estar formada pela palavra se, seguida de uma
sentença, seguida da palavra então, seguida de outra sentença.”
117
I O instinto da linguagem I
118
I Como a linguagem funciona I
Yoko Ono irá falar sobre seu marido John Lennon que foi assassina
do numa entrevista com Barbara Walters.
Dois carros foram citados como roubados pela polida de Groveton
ontem.
A taxa de licença para cães castrados com certificado será de $3 e
para animais de cidadãos idosos que não foram castrados a taxa
será de $1,50.
O programa de hoje à noite vai discutir estresse, exercícios, nutrição
e sexo com o fonvard dos Celtic, Scott Wedman, Dra. Ruth
Westheimer e Dick Cavett.
Vendemos gasolina para qualquer um num recipiente de vidro.
Vende-se: Conjunto de vasilhas de batedeira desenhadas para agra
dar o cozinheiro com fundo redondo para bater bem.
119
I O instinto da linguagem I
VP
V NP ^PP^
discutir N P NP
120
I Como a linguagem funciona I
II. C f William Shakespeare, Obra completa, volume III, nova versão anotada de 1:. Carlos de
Almeida, Cunha Medeiros e Oscar Mendes. Rio dc Janeiro: Companhia José Aguilar Edi-
tora, 1969. (N. daT.)
121
I O instinto da linguagem I
122
I Como a linguagem funciona I
❖ ❖
Mas, como em quase tudo que se refere à língua, ela não acer
tou totalmente. Ê verdade que a maioria dos nomes de pessoas,
lugares e coisas são substantivos, mas não é verdade que a maioria
dos substantivos são nomes de pessoas, lugares ou coisas. Existem
substantivos com todo tipo de significado:
123
I O instinto da linguagem I
124
I Como a linguagem funciona I
❖ ❖ ❖
12. The tal in the hat é um conhecido personagem de histórias infantis de autoria do Dr. Scuss.
Recebeu recentemente uma tradução para o português: O gaiola da cartola. (N. daT.)
125
I O instinto da linguagem I
N
N PP
governador da Califórnia
126
I Como a linguagem funciona I
NP
governador da Califórnia
127
I O instinto da linguagem I
128
I Como a linguagem funciona I
VP NP
NP
os guitarristas
129
I O instinto da linguagem I
XP - » (SPEC) X YP*
“Um sintagma é formado por um sujeito opcional, seguido de um
X-barra, seguido por qualquer número dc modificadorcs.”
X - » X ZP*
“Um X-barra é formado por uma palavra núcleo, seguida dc qual
quer número dc protagonistas.”
130
I Como a linguagem funciona I
paração com o inglês, Kenji eat iid?, e não Did Kenji eatP Japonês e
inglês são línguas espelhadas. E tais coerências foram encontradas
em grande número de idiomas: se um idioma tem o verbo antes
do objeto, como em inglês, também terá preposições; se seus ver
bos vêm depois do objeto, como em japonês, terá posposições.
É uma descpberta importante. Significa que as super-regras
dão conta não só de todos os sintagmas em inglês mas de todos
os sintagmas em todas as línguas, com uma única modificação: re
mover a ordem da esquerda para a direita de cada super-regra. As
árvores tornam-se móveis. Uma das regras diría:
X - » {ZP*, X}
“Um X-barra é formado de um núcleo X e qualquer número de
protagonistas, em qualquer ordem.”
131
I O instinto da linguagem I
«{♦ •}» ф
Melvin dcsjcjuou.
^Melvin desjejuou a pizza.
132
I Como a linguagem funciona I
Deve ser culpa do verbo. Alguns verbos, como desjejuar, não po
dem aparecer em companhia de um sintagma nominal objeto di
reto. Outros, como devorar, não podem aparecer sem esse sintag
ma. Isso é verdade mesmo se desjejuar e devorar têm um sentido mui
to parecido, sendo ambos formas de comer. Você deve lembrar va
gamente que nas aulas de gramática verbos como desjejuar eram
chamados “intransitivos” e verbos como devorar eram chamados
“transitivos”. Mas os verbos vêm em muitos sabores, não apenas
esses dois. O verbo colocar não fica satisfeito ate ter um NP objeto
(o carro) e um sintagma preposicional (na garagem). O verbo alegar
exige uma sentença encaixada (que Bill é mentiroso) e nada mais.
Portanto, dentro dc um sintagma, o verbo é um tanto despóti
co, determinando quais posições disponibilizadas pelas super-re
gras devem ser preenchidas. Essas exigências estão armazenadas
nas entradas do verbo do dicionário mental mais ou menos assim:
desjejuar:
verbo
significa “comer pela primeira vez no dia”
comedor = sujeito
devorar:
verbo
significa “comer algo avidamente”
comedor = sujeito
coisa comida = objeto
133
I O instinto da linguagem I
co lo ca r :
verbo
significa “fazer com que algo vá para algum lugar”
colocador = sujeito
coisa colocada = objeto direto
lugar = objeto preposicional
a le g a r :
verbo
significa “declarar sem provar”
declarante = sujeito
declaração = sentença complemento
13. O português tem a peculiaridade dc permitir que sentenças com verbos transitivos sejam
gramaticais mesmo sem o objeto. Por isso, a sentença “Melvin devorou" é possível, o que
não c o caso na grande maioria das línguas. (N. da R. X )
134
I Como a linguagem funciona I
135
I O instinto da linguagem I
136
I Como a linguagem funciona I
“Será que adianta”, pensou Alice, “falar com esse rato? Aqui c tudo
tão fora dos eixos que eu acho bem capaz de ele saber falar: dc qual
quer modo, não custa nada tentar.” —O, Rato —começou ela a di
zer —,você sabe a saída dessa lagoa? Estou cansada dc nadar aqui, ó,
Rato! (Alice pensava que esta devia ser a forma correta de se dirigir
a um rato: nunca tinha tido antes tal experiência, mas lembrava-se dc
ter visto na gramática latina dc seu irmão: “Rato —dc um rata) —para
um rato —um rato —O, rato!”)
137
I O instinto da linguagem I
138
I Como a linguagem funciona I
14. Pinker está simplificando o sistema. Na verdade, desde meados da década de 80, Chomsky
considera a sentença como um CP (compkmentizer phrase, ou sintagma compíementizador).
Portanto, essa versão não é tão atu al assim. ( N . da R.T.)
139
I O instinto da linguagem I
IP
O Red Fox I VP
vencer o Campeonato
Mundial
140
I Como a linguagem funciona I
New Housing for Elderly Not Yet Dead [Novo abrigo para idoso
ainda não enterrado]
New Missouri U. Chancellor Expects Little Sex [Novo reitor da
Universidade de Missouri prevê pouco sexo/espera lazer um
pouco de sexo]
12 on Their Way to Cruise Among Dead in Plane Crash [12 a ca
minho dc cruzeiro entre mortos da queda do avião]
N.J. Judgc to R.ule on Nude Beach [Juiz de N.J. delibera sobre/na
praia dc nudismo]
Chou Remains Crcmatcd [Dcspojos de Chu cremados/Chu conti
nua cremado]
Chincsc Apcman Datcd [Homem-macaco chinês datado/Marcado
encontro com homem-macaco chinês]
Hcrshey Bars Protcst [Hcrshey impede protestos/Chocolates Hcrshcy
protestam]
Rcagan Wins on Budgct, But More Lies Ahead. [Reagan vence orça
mento, mas há mais pela frentc/Rcagan vence orçamento, mas
mais mentiras pela frente]
Dcer Kill 130,000 [Veados mortos, 130.000/Veados matam
130.000]
Complaints About NBA Referees Growing Ugly [Protestos sobre
juizes da NBA cada vez piores]
15. Há aí um jogo entre How old is C.C., quantos anos tem C.G., e How is oid C.G., Como está
o velho C.G., ao que Cary Grant responde: Velho C.G. bem. (N. daT.)
16. Equipe ajuda vítimas de mordidas de cães/Equipe ajuda cão a morder vítima. (N. daT.)
141
I O instinto da linguagem I
DER JA M M IiR W O C H
U i JA SIiRO Q UIi
142
I Como a linguagem funciona I
A TTEN TIO N
4. *j*
143
I O instinto da linguagem I
144
I C om o a lin gu a gem fu n c io n a I
145
I O instinto da linguagem I
146
Como a linguagem funciona I
❖ ❖ ❖
17. Estas orações foram traduzidas ao pc da letra. Em inglês elas são mais fluentes que cm
português. A tradução literal da última seria: Тех é gozado de se gozar. (N. daT.)
147
O instinto da linguagem I
148
I Como a linguagem funciona I
149
I
Palavras, palavras, palavras
151
I O instinto da linguagem I
152
I Palavras, palavras, palavras I
153
I O instinto da linguagem I
• -à: vogal final, que pode indicar modo indicativo versus modo
subjuntivo.
154
I Palavras, palavras, palavras I
155
I O instinto da linguagem I
156
I Palavras, palavras, palavras I
Nradical Nflcxão
cachorro -s
N —>Nradical Nflexão
“Um substantivo pode ser formado do radical de um substantivo
seguido de uma flexão do substantivo.”
157
I O instinto da linguagem I
158
IPalavras, palavras, palavras I
FO R M A TÍPICA FO R M A TÍPICA
DE PASSADO DADA DE PASSADO DADA
VERBO PELAS PESSOAS PO R REDES N EU RA IS
mail mailcd mcmblcd
conflict conflicted conflacted
wink winked wok
quivcr quivcrcd Cjiiess
satisfy satifícd scddcrdcd
sm airf smairfcd spruricc
trilb trilbcd rrcclilt
smccj smccjcd Iccíloag
friig frilgcd frcezlcd
Nradical
Nradical Nradical
Yugoslavia report
159
I O instinto da linguagem I
160
I Palavras, palavras, palavras I
Aradical
Vradical Aradiçalafixo
crunch -ablc
- ável:
afixo de radical de adjetivo
significa “que pode ser X’ado/ido”
ligue-me ao radical de um verbo3
161
I O instinto da linguagem I
162
I Palavras, palavras, palavras I
Nradical Nflexão
Nradical Nradicalafixo -s
Darwin -ian
Nradical
Nraiz Nraizsufixo
electric -ity
Mas será que essas palavras são realmente montadas por meio
de uma regra que gruda uma entrada de dicionário, -ity, na raiz
electric, assim?
163
I O instinto da linguagem I
-ity:
sufixo de raiz de substantivo
significa “estado de ser X”
ligue-me a uma raiz de substantivo
4. Num certo sentido, como cm: He was instrumental infinâing workjor bis bestfriend [Contribuiu
para achar emprego para o seu melhor amigo.] (N. da T.)
5. Não se usa como "intoxicar”, porém como inebriar, embebedar, também em sentido figu
rado: extasiar, arrebatar. (N. daT.)
164
I Palavras, palavras, palavras I
6. Alcni das palavras facilmente reconhecíveis por seu radical latino, temos gallonage. número
ou proporção de galões de alguma substância, e Sbavian: estudioso da obra de G. B. Shaw ou
pertencente a essa obra. (N. daT.)
165
I O instinto da linguagem I
166
I Palavras, palavras, palavras I
167
I O instinto da linguagem I
168
I Palavras, palavras, palavras I
Subdue, subdid, subdone: Nothing could have subdone him the way her
violet eyes subdid him.
Seesaw, sawsaw, seensaw. While the children sawsaw, the old man thought
of long ago when he had seensaw.
Pay, pew, pain: He had pain for not choosing a wife more carefully.
Ensnare, ensnore, ensnorn: In the 60’s e 70s, Sominex ads ensnorc many
who had never been ensnorn by ads before.
Commemoreat, comtnemorale, commemoreaten: At the banquct to comnic-
morcat Herbcrt Hoover, spirits werc high, and by the cnd of the
cvening many other Republicans had been commemoreaten.
12 . Todos esses verbos são regulares, e portanto deveriam ter suas formas de passado com -ed
no final. (N. da R.T.)
13. Há um jogo de palavras entre scrod, filhote de bacalhau, c um suposto partícípio de screw,
forma vulgar paia “fazer sexo”. Portanto, a mulher pergunta sc o motorista pode levá-la a
algum lugar onde pode obter bacalhau e ele entende cjue ela lhe pede para lcvá-la a um lu
gar onde possa ser "comida”. (N. daT.)
169
I O instinto da linguagem I
The pilcher wound up and flang the bali at the batter. The batter
swang and misscd.Thc pitcher flang the bali again and this time the
batter conncctcd. He hit a high fly right to the center fielder. The
conter fielder was all set to catch the bali, but at the last minute his
eyes wcre blound by the sun and he dropped it!16
170
I Palavras, palavras, palavras I
171
I O instinto da linguagem I
—por que um mero mortal nunca, flow n out para o campo de defe
sa? Por que o time de hóquei de Toronto é chamado de Maple Leafs
e não de Maple Leavesl Por que muitas pessoas dizem Walkmans, em
vez de Walkmen, como plural de Walkman? Por que seria estranho
alguém dizer que todos os amigos de sua filha são low-lives \_low~life
= degenerado]?
Consulte-se qualquer manual de estilo ou livro de gramática
aplicada, e sc encontrará uma de duas explicações de por que a for
ma irregular c descartada —ambas equivocadas. Uma c que não
há lugar nos livros para novas palavras irregulares cm inglês; qual
quer nova forma adicionada à língua tem de ser regular. Não é
verdade: sc eu cunhar palavras novas como re-sing ou out-sing, seus
passados serão re-sang c out~sang, c não rc-singed c out~singed. Da mes
ma maneira, li recentemente que há camponeses na China que an
dam pelos campos de petróleo com pequenos galões, recolhendo
petróleo de poços sem vigilância; o artigo chama-os de oil-mice, e
não de oil-mouses. A segunda explicação é que quando uma palavra
adquire um sentido novo, não literal, como o f l y out do beisebol,
esse sentido exige uma forma regular. Os oil-mice são uma refuta
ção clara dessa explicação, como muitas das outras metáforas ba
seadas cm substantivos irregulares, que mantem firmemente sua
irregularidade: sawteelb (não sawlooths), I"reud’s intellectual cbildren (não
childs), snowmen (não snowrnansy7 etc. Da mesma forma, quando o
verbo to blow ganhou na gíria sentidos como to blow him away (assas
sinar) c to blow it off (desconsiderar sem dar importância), as for
mas do passado continuaram sendo irregulares: blew him away e
blew off tbe exam, e não blowed him away e blowed o ff the exam.
O verdadeiro motivo paraflied out e Walkmans provém do algo
ritmo que serve para interpretar palavras complexas a partir dos
significados de palavras simples que lhes dão origem. Lembre-se
17. Dentes de serra, filhos intelectuais de Freud, bonecos de neve. (N. daT.)
172
I Palavras, palavras, palavras I
N N
work mnn
173
I O instinto da linguagem I
18. Sweat = suor, que acharam que fosse homófono de sweet ~ doce. (N. daT.)
174
I Palavras, palavras, palavras I
V
I
N
I
V
fly
175
I O instinto da linguagem I
bo. Pela mesma lógica, dizemos Tbey ringed the cíty with artillery ( “for
maram um anel em torno da cidade”), e não They rang the city with
artillery, e Hegrandstanded to the crowd ( “fez uma jogada espetacular”),
e não He grandstood to the crowd.
Esse é um princípio que funciona sempre. Lembra-se de .Sally
Ride, a astronauta? Foi muito falada por ser a primeira america
na a ir para o espaço. Mas, recentemente, Mae Jemison a supe
rou. Ela não só foi a primeira americana negra a ir para o espaço,
como apareceu na revista People em 1993 na lista das cinqüenta
pessoas mais bonitas do mundo. Numa jogada publicitária, disse
ram que cia “has out-Sally-Rided Sally Ride”14 (e não “has out-
Sally-Ridden Sally Ride”). Por muitos anos a prisão mais abjeta
do Estado de Nova York foi Sing Sing. Mas desde a rebelião no
Attica Corrcctional Eacility cm 1971, Attica tornou-se mais abje
ta: ela “has ouf-Sing-Singcd Sing Sing” (c não “has out-Sing-Sung
Sing Sing”21’).
No que tange aos Maple Leafs, o substantivo que recebe plu
ral não c leaf, a unidade da folhagem, mas um substantivo baseado
no nome próprio Maple Leaf, o símbolo nacional do Canadá. Um
nome não c o mesmo que um substantivo. (Por exemplo, embora
um substantivo possa vir precedido de um artigo definido, cm in
glês o mesmo não acontece com um nome próprio: não se pode
dizer the Donald, a não ser que você seja IvanaTrump, cuja língua
materna c o checo.) Por isso, o substantivo a Maple Leaf (referin-
do-sc, suponhamos, ao goleiro do time) não pode ter núcleo, pois
c um substantivo baseado numa palavra que não c um substanti
vo. E um substantivo cuja substantividade não provém de um de
seus componentes tampouco pode ter um plural irregular prove
niente daquele componente; precisa da forma regular Maple Leafs.
Essa explicação também responde à pergunta que intrigou David1920
19. Jogo dc palavras intraduzívcl com outride, deixar para trás. (N. daT.)
20. Idcm, com outsing. (N. daT.)
176
I Palavras, palavras, palavras I
Não agüento mais lidar com todos os Mickey Mouses dessa adminis
tração. [e não Mickey Micej
Hollywood tem se apoiado em filmes baseados em heróis de histó
rias em quadrinhos e seus sequazes, como os três Supermans e os
dois Batmans. [não Supermen e Batmenj
Por que a segunda metade do século vinte não produziu mais Thomas
Manns! [não Thomas Menn]
Julia Child c o marido vêm para jantar hoje à noite. Sabe, os Childs
são grandes cozinheiros, [não os Children]
177
I O instinto da linguagem I
178
I Palavras, palavras, palavras I
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I O instinto da linguagem I
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I Palavras, palavras, palavras I
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I O instinto da linguagem I
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I Palavras, palavras, palavras I
21. Vela, asa-delta, barco a vela, sem vela, veleiro, tecido de vela. (N. daT.)
183
I O instinto da linguagem I
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I Palavras, palavras, palavras I
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I O instinto da linguagem I
186
I Palavras, palavras, palavras I
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I O instinto da linguagem I
22. Personagem de histórias infantis da escritora inglesa Beatrix Potter, com tradução para o
português pela Editora Verbo, Lisboa (1987). (N. daT.)
188
I Palavras, palavras, palavras I
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I O instinto da linguagem I
23. P e te r R a b b it, personagem de Beatrix Potter (ver nota 24, p. 193) (N. daT.)
190
I Palavras, palavras, palavras I
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I O instinto da linguagem I
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I Palavras, palavras, palavras I
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I O instinto da linguagem I
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Os sons do silêncio
195
I O instinto da linguagem I
196
I Os sons do silêncio I
legendas na sua língua falado numa língua que você conhece mal,
passados alguns minutos você é capaz de sentir que na verdade está
entendendo os diálogos. Em laboratório, pesquisadores conseguem
dublar um som vocal como ga numa imagem de vídeo em close de
uma boca articulando va, ba, tba ou da, em inglês. Os espectadores
literalmente aceitam a consoante que vêem a boca emitindo —uma
impressionante ilusão com o nome engraçado de “efeito M cGurk”,
em homenagem a um de seus descobridores.
N a verdade, não se precisa de truques eletrônicos para criar
uma ilusão de fala. Toda fala é uma ilusão. Escutamos a fala como
um encadeamento de palavras separadas, mas, diferentemente da
árvore que cai na floresta sem que ninguém escute, a separação de
palavras que ninguém escuta não tem som. Na onda sonora dá
fala, uma palavra segue-se a outra sem interrupção; não há peque
nos silêncios entre palavras faladas da maneira como há espaços
em branco entre palavras escritas. Simplesmente alucinamos sepa
rações entre palavras quando atingimos o final de uma seqüência
de sons que combina com uma entrada de nosso dicionário men
tal. Isso fica claro quando escutamos filar numa língua estrangei
ra: é impossível saber onde urna palavra termina c a próxima co
meça. A continuidade da fala também se evidencia em “orôní-
mos”, scqücncias de sons que podem compor palavras dc duas ma
neiras diferentes:1
The good can dccay many ways. [Os bons podem decair de muitos
jeitos.]
The good candy came anyways. [O doce bom veio de todo jeito.]
197
I O instinto da linguagem I
The stuffy nose can lead to problems. [O nariz abafado pode levar
a problemas.]
The stuff he knows can lead to problems. [As coisas que ele sabe
podem levar a problemas.]
Some others I’ve seen. [Alguns outros que eu já vi.]
Some mothers I’ve seen. [Algumas mães que eu já vi.]
J scream,
You scream,
Wc all scream
For ice crearn.
Mairzey doats and dozey doats
And lirtlc Iamscy divey,
A kiddlcy-divcy do,
Wouldrít you?
FYzzy Wuzzy was a bear,
Fuzzy Wuzzy had no hair.
Fuzzy Wuzzy wasnt hvzzy,
Was he?
In fir tar is,
In oak nonc is.
In mud ecl is,
Jn clay none is.
Goats eat ivy.
Mares eat oats.2
2. O grupo infantil Balão Mágico tinha uma canção intitulada “Barato Bom é da Barata”, e
uma parte dela era:
“Eu amo ela, mas dcbalde não dá não
Eu vi o Lino, c'uma mão no violão”. (N. da R. T.)
198
I Os sons do silêncio I
Jose can you see by the donzerly light? [Oh say can you see by the
dawns early light?]
It’s a doggy-dog world, [dog-eat-dog]
Eugene 0 ’Neill won a Pullet Surprise. [Pulitzer Prize]
Mу mother comes from Pencil Vanea. [Pennsylvania]
He was a notor republic. [notary public]
They played the Bohemian Rap City. [Bohemian Rhapsody]
199
O instinto da linguagem I
200
I Os sons do silêncio I
201
4 г
I О instinto da linguagem I
com sentido, outro que combina morfemas com sentido para for
mar palavras, sintagmas e sentenças com sentido —é uma caracte
rística fundamental do design da língua humana, que o lingüista
Charles Hockett denominou “dualidade de padrões”.
Mas o módulo fonológico do instinto da linguagem tem dc
fazer algo mais além de enunciar morfemas. As regras da língua
são sistemas combinatórios discretos: fonemas se juntam forman
do morfemas, morfemas formam palavras, e palavras, sintagmas.
Eles não se misturam ou aglutinam: Cachorro morde homem difere de
Homem morde cachorro, e believing in God [acreditar em Deus] é dife
rente de believing in Dog [acreditar em cachorro]. Mas, para que es
sas estruturas saiam de uma cabeça e entrem em outra, têm de ser
convertidas cm sinais audíveis. Os sinais audíveis que as pessoas
produzem não são uma série de bips agudos como aqueles produ
zidos por um telefone que funciona por tom. A fala é um fluxo de
respiração, submetido a sibilos e gorgorejos pela carne mole da
boca c da garganta. A mãe natureza tem de passar de digital para
analógico quando o falante codifica símbolos discretos num fluxo
contínuo dc sons, e de analógico para digital quando o ouvinte
decodifica a fala contínua transformando-a em símbolos discretos.
Portanto, os sons da língua se articulam seguindo vários pas
sos. Um inventário finito de fonemas c separado e permutado
para definir palavras, e a seqücncia resultante de fonemas é então
rcarranjada para facilitar sua pronúncia e compreensão antes de
ser efetivamente enunciada. Descreverei esses passos e mostrarei
como eles moldam alguns de nossos encontros diários com a fala:
poesia e música, lapsos auditivos, sotaques, máquinas de reconhe
cimento de voz e a grafia maluca do inglês.
* *
202
I Os sons do silêncio I
203
I O instinto da linguagem I
204
I Os sons do silêncio I
205
I O instinto da linguagem I
3. Valores aproximados. Fonte: Maria Helena M ira Mateus em Fonética, Fonologia e Moifologia do
Português (cd. Universidade Aberta, Lisboa, 1990). (N. da R .T .)
206
I Os sons do silêncio I
207
I O instinto da linguagem I
7. Respectivamenfe: rale; mixórdia; conversa fiada; bate-papo; pagar na mesma moeda; quin
quilharia; ziguezaguc; zão-xão; ding dong; King Kong; ziguezaguear, jogo da velha; inde
cisão; gangorra, vaivém; zurro; bascular, circuito fhp-fíop; upa-upa; tique-taque; jogo da
velha; uni-dimi-tc; bricabraque; traque-traque; trecho de uma cançeão infantil; todo o
mundo; bibidi-bobidi-bu (como diz a fada da Cinderela). (N. daT.)
208
I Os sons do silêncio I
8. A vogal de boot parece о и do português, só que mais tensa. A vogal de booh c intermediá
ria entre о и e o do português, pronunciada de forma mais relaxada que a vogal de boot.
(N. da R.T.)
209
I O instinto da linguagem I
tes: a vogal de Sam terá um som nasal, fanhoso. Isso acontece por
que o palato mole ou véu palatino (a porção móvel na parte pos
terior do palato duro) está aberto, permitindo que o ar passe tan
to pelo nariz como pela boca. O nariz é outra caixa de ressonân
cia, e, quando a vibração do ar passa por ele, outro conjunto de
freqüências é amplificado e filtrado. O inglês não diferencia pala
vras em função de suas vogais serem nasais ou não, mas muitas lín
guas, como francês, polonês e português, o fazem. Diz-se que os
falantes de inglês que abrem seu palato mole para pronunciar sat
têm voz “nasal”. Quando você está resfriado e seu nariz está entu
pido, abrir o palato mole não faz diferença, e sua voz é o oposto
de nasal4.
9. Por isso, as consoantes nasais tornam-se orais: dizemos "babae” e “dao” em vez de “ma
mãe” e “não”. (N. da R. X)
210
I Os sons do silêncio I
211
I O instinto da linguagem. I
212
I Os sons do silêncio I
Sonora Surda
(laringe vibra) (laringe não vibra)
Lábios b V
Ponta da língua d t
Dorso da língua g к
I I . O português filiado no Brasil tem em torno dc 30, sem considerar as vogais nasais.
(N. da R.T.)
213
I O instinto da linguagem I
12. Também denominado B r o n x c h eer , ruído alto, cortante e sibilante, feito com lábios e lín
gua para expressar desagrado. (N. daT.)
214
I Os sons do silêncio I
13. Bste c o início dc João e o Pé dc Pcijão (Jack and the Beanstalk) escrito cm "inglês com
sotaque italiano”. Com a ortografia padrão do inglês ficaria:
Oncc upona timewasthis boy. Name isJack. Nice boy. Live withhis mamma. Mindthe cow.
One day, the spaghetti is all run out. Thcy. going to faint from no food. Mamma
say, "Jack, cake the cow and trade her for box spaghetti and some wine.”
By and by comes home Jack. He gotta no food, he gotta no wine. Makes mistake,
and trades the cow for a bunch of bcans.
Jackss!
Emportuguês:
Era uma vez um menino. O nome é João. Bom menino. Mora com sua mamãe. Olha
a vaca.
Um dia, acabou todo o espaguete. Eles vão desmaiar por falta de comida. Mamãe
diz: "João, pega a vaca e troca ela por caixa de espaguete e vinho.”
Depois de um tempo volta para casa João. Ele não tem comida, ele não tem vinho.
Comete erro, e troca a vaca por um punhado de feijões.
Burro! (N. da R. T.)
215
I O instinto da linguagem I
O que define o padrão sonoro de uma língua? Deve ser algo mais
além do inventário de fonemas. Considere as seguintes palavras:
Sílaba
Onset Rima
/ \ / \
c c V c
p r i m
216
I Os sons do silêncio I
14. Pig Latin c uma linguagem usada cspccialmcnte por crianças. Derivada do inglês corren
te, a primeira consoante ou agrupamento de consoante de cada palavra é deslocada para
o fim da palavra acrcsccntando-se cm seguida -ay, como em Eakspay igpay atinlay para “Speak
Pig Latin”. (N. da T.)
15. Inglcs recheado de palavras c expressões em iídiche. (N. daT.)
217
IO in stin to d a lin gu a gem I
Palavra
Pé Pé
fr fo
Sílaba Sílaba
fo fi-
or ga nr
16. Tenho estado muitíssimo ocupada/Tenho estado ocupadíssima transando. (N. daT.)
218
I Os sons d o silên cio I
219
IO in stin to d a lin gu a gem I
vogal de hot para a vogal i; write contém um ditongo que desliza da vo
gal mais alta de hut para i. Mas, independentemente de como se
ja a alteração da vogal, esta segue um padrão coerente: não exis
tem palavras com ai longo/baixo seguido de t, nem com ai cur
to/ alto seguido de d. Usando a mesma lógica que permitiu a Lois
Lane, em seus raros momentos de lucidez, deduzir que Clark Kent
c Super-Homcm eram a mesma pessoa, ou seja, que eles nunca es
tavam no mesmo lugar ao mesmo tempo, podemos inferir que só
existe um ai no dicionário mental, que é alterado por uma regra
antes dc ser emitido, dependendo do fato de aparecer em compa
nhia dc t ou d, Podemos ate mesmo supor que a forma inicial ar
mazenada na memória c como o ai dc ride, e que write c o produto
da regra, c não o contrário. A prova disso 6 que quando não há I
ou d depois dc ai, como cm rye, c portanto nenhuma regra masca-
rando a forma subjacente, o que escutamos c a vogal dc ride.
Agora, pronuncie wrítíng c riding, O t e d se tornaram idênticos
pela regra d c flapping. Mas os dois ais continuam diferentes. Como
é possível? O que causa a diferença entre os dois ais é apenas a di
ferença entre /c d, c esta diferença desapareceu com a regra d c flap
ping, Isso mostra que a regra que altera o ai deve ter sido aplicada
antes do flapping, quando /c d ainda eram distintos. Em outras pa
lavras, ambas as regras se aplicam numa ordem fixa, mudança de
vogal antes dc flapping. Supõe-se que isso seja assim porque, cm
certo sentido, a regra dc flapping existe para tornar mais fácil a ar
ticulação c, portanto, encontra-se mais adiante na cadeia de pro
cessamento que vai do cérebro para a língua.
Observe outra característica importante da regra dc alteração
dc vogal. A vogal ai é alterada na frente de diversas consoantes,
não apenas do t. Compare:
prize price
five fife
jibe Kype
geiger biker
220
I Os sons d o silên cio I
Será que isso quer dizer que existem cinco regras diferentes
que alteram o ai —uma para z versus s, uma para v versus f etc.?
Certamente não. Todas as consoantes disparadoras de mudança —
í, s,j, р е к —diferem da mesma maneira de suas opostas —d, z, v, b
e g: elas são surdas, ao passo que as opostas são sonoras. Portanto,
só precisamos de uma regra: modifique o ai sempre que aparecer
antes de uma consoante surda. A prova de que esta é mesmo a regra
que existe na cabeça das pessoas (e não apenas uma maneira de
economizar tinta substituindo cinco regras por uma) é que se um
falante de inglês conseguir pronunciar o ch alemão em Terceiro Reích,
ele irá pronunciar o ei como em write, e não como em ride. A con
soante ch não consta do inventário inglês, e portanto quem fala in
glês não podcria ter aprendido uma regra que se aplique cspecifi-
camentc a ela. No entanto, c uma consoante surda, e se a regra sc
aplica a qualquer consoante surda um anglofalante sabe exata-
mente o que lazer.
Essa seletividade não funciona só em inglês mas em todos os
idiomas. Regras fonológicas raramente são desencadeadas por um
único íonema; são desencadeadas por uma classe de fonemas que
compartilham um ou mais traços (como sonoridade, modo oclu-
sivo versus fricativo, ou qual c o órgão articulador). Isso sugere que,
numa scqücncia, as regras não “veem” os fonemas mas olham di
retamente para os traços dc que são feitos.
E são traços, não fonemas, que as regras manipulam. Pronun
cie as seguintes formas de passado:
/alkcd joggcd
sobbed
passed fizzed
221
IO in stin to d a lin gu a gem I
222
I Os sons d o silên cio I
Rima Rima
a P d
*■
? P
223
IO in stin to d a lin gu a gem I
Toda língua tem regras fonológicas, mas para que elas servem?
Você deve ter percebido que muitas vezes elas facilitam a articula
ção. Bater um t ou um d entre duas vogais é mais rápido do que
manter a língua parada o tempo suficiente para que a pressão do ar
aumente. Espalhar a ausência de sonoridade do final de uma pala
vra para seu sufixo evita que o falante tenha de desligar sua laringc
enquanto pronuncia o final do radical e depois ligá-la novamente
para o sufixo. A primeira vista, as regras fonológicas parecem ser
um mero sumário de preguiça articulatória c, a partir daí, é um
pulo perceber ajustes fonológicos cm dialetos diferentes do nosso
c concluir que eles são típicos do desmazelo dos falantes. Nenhum
dos lados do Atlântico se salva. Gcorgc Bcrnard Shnw escreveu:
Os ingleses não respeitam sua língua c não vão ensinar seus filhos a
lalá-la. Não conseguem pronunciá-la pois para tanto dispõem ape
nas de um alfabeto estrangeiro do qual apenas as consoantes —e
nem todas elas —têm algum valor verbal aceito. Conseqüentementc
um inglês não consegue abrir a boca sem fazer com que outros in
gleses o desprezem.
224
I Os sons d o silên cio I
20. Pronúncia local dc “Hoyt is hurt”: Hoyt está machucado. (N. daT.)
21. Pronúncia, local dc Park lheir car in Ilarvard Yard: Estacionem seus carros no pátio de I iar-
vard. (N. daT.)
22. Sheila, Linda. (N. daT.)
22 $
IO in stin to d a lin gu a gem I
226
I Os sons do silên cio I
227
IO in stin to d a lin gu a gem I
228
I Os sons d o silên cio I
229
IO in stin to d a lin gu a gem I
23. Gatos selvagens peludos travam batalhas furiosas./Joalheiros respeitáveis fazem avaliações
precisas./Cigarros acesos geram exalações esfumaçadas./Cavalheiros galantes salvam damas
em apuros./Detergentes espumosos dissolvem manchas gordurosas. (N. daT.)
230
I Os sons d o silên cio I
231
IO in stin to d a lin gu a gem I
25, A piada em mglcs é entre jew s e jewclry (judeus e jóias), violence e violins (violência c violi
nos) e racchorses c resources (corridas de cavalo e recursos). (N. daT.)
232
I Os sons d o silên cio I
Ele sempre achou que os versos eram “Thcy havc slain the Earl
of Moray, And Lady Mondcgrecn”. Mondegreens são bastante co
muns (são uma versão extrema dos Pullet Surprises c Pencil Vaneas
mencionados anteriormente); cis alguns outros exemplos:
A girl with colitis goes by. [A girl with kaleidoscopc eycs. Da músi
ca dos Beatles “Lucy in the Sky with Diamonds”.]
Our huhcr wishart in heavcn; Harold bc thcy name ... Lead us not
into Pcnn Station. [Our latlier which art in Heavcn; ballowed be
thy nanic ... Lead us not into temptation. Do Pai Nosso.]
Hc is trampling out thc vintage where the grapes are wrappcd and
stoted. [... grapes of wrath are stored. De “Thc Battle Hymn of
the Rcpublic”.]
Gladly thc cross-eyed bear. [Gladly the cross I’d bear.]
Г11 never be your pizza bumin. [... your beast of burden. Da música
dos Rolling Stones.]
Its a happy enchilada, and you think youre gonna drown. [Its a half
an inch of water ... Da música de John Prine “Thats the Way the
World Goes 'Round '.]
233
I O in stin to d a lin gu a gem I
234
Os sons d o silên cio I
Agora que você sabe como as unidades isoladas de fala são pro
duzidas, como são representadas no dicionário mental e como são
rearranjadas e espalhadas antes de emergirem da boca, você che
gou ao prêmio do final deste capítulo: por que a grafia inglesa não
é tão atrapalhada como parece à primeira vista.
235
IO in stin to d a lin gu a gem I
236
I Os sons d o silên cio I
dará conta que o custo de grafar até mesmo um único som com
duas letras nos custou séculos de trabalho desnecessário. Um novo
alfabeto britânico de 42 letras se pagaria um milhão de vezes, não só
em horas mas em instantes. Quando tiverem entendido isto, todos
os disparates inúteis sobre enougb e cough e laugh e grafia simplificada
cairão por terra, e os economistas e estatísticos irão se pôr a traba
lhar juntos no ortográfico Golconda.
237
IO in stin to d a lin gu a gem I
238
I Os son s d o silên cio I
elcctric-electricity dcclare-declaration
photograph-photography musde-muscular
gradc-gradual condemn-condemnation
history-historical courage-courageous
revisc-rcvision romantic-romanticize
adore-adoration industry-industrial
bomb-bombard fact-factual
nation-national inspire-inspiration
critical-criticizc sign-signature
modc-modular malign-malignant
rcsidcnt-rcsidcntial
239
IO in stin to d a lin gu a gem I
240
Cabeçasfalantes
241
I
E
i
tava apenas programar as tarefas fáceis. Diz uma lenda que, nos
anos de 1970, Marvin Minsky, um dos criadores da IA, propôs a
“visão” como projeto de pesquisa de verão para um aluno de pós-
graduação.
Mas os robôs domésticos ainda se limitam à ficção científica.
A principal lição dos 35 anos de pesquisas em IA é que os proble
mas difíceis são fáceis e os problemas fáceis, difíceis. As habilida
des mentais de uma criança de quatro anos que consideramos natu
rais —reconhecer um rosto, levantar um lápis, atravessar um recin
to andando, responder a perguntas —na verdade resolvem alguns dos
mais difíceis problemas de engenharia já concebidos. Não se deixe
enganar pelos robôs dc linha de montagem dos comerciais da in
dústria automobilística; eles apenas atarraxam c pintam com spray,
tarefas estas que não exigem os desajeitados Mr. Magoo para ver,
segurar ou colocar coisas. E, se você quiser confundir um sistema
dc inteligência artificial, faça-lhe perguntas tais como: O que c
maior, Chicago ou uma caixa de pão? As zebras vestem vestes ínti
mas? O chão pode se abrir e te engolir? Quando Susan vai para a
loja, a cabeça dela vai junto? Muitos dos temores relacionados à
automação são improcedentes. Com o aparecimento da nova ge
ração dc aparelhos inteligentes, quem correrá o risco dc ser subs
tituído por máquinas serão os analistas da bolsa, engenheiros pe
troquímicos c os membros do tribunal dc revisão criminal. Os jar
dineiros, recepcionistas c cozinheiros ainda têm seus empregos ga
rantidos por muitas décadas.
Compreender uma frase é um desses problemas fáceis difíceis.
Para interagir com computadores ainda temos de aprender a lin
guagem deles; eles não são suficientemente inteligentes para apren
der a nossa. Na verdade, tende-se a atribuir aos computadores
mais créditos em termos de compreensão do que eles merecem.
Recentemente, criou-se uma competição anual para escolher o
programa de computador que mais dá a impressão de que se está
conversando com outro ser humano. O Prêmio Loebner preten-
242
I C abeças fa la n tes I
dia implementar uma sugestão feita por Alan Turing num famoso
artigo de 1950. Ele sugeria que a melhor maneira de responder à
questão filosófica “As máquinas pensam?” era por meio de um jogo
de imitação, em que um jurado conversa com uma pessoa num
terminal e com um computador programado para imitar uma
pessoa num outro. Se o jurado não conseguir diferenciar um do
outro, dizia Turing, não havería fundamentos para negar que um
computador consegue pensar. Deixando de lado as questões fi
losóficas, ficou evidente para o comitê encarregado de supervi
sionar a competição que nenhum programa conseguiría ganhar
o prêmio de U S$ 100.000, e portanto criaram uma versão de
US$ 1.500, mais condizente com os últimos avanços tecnológicos.
Cada um dos jurados tinha de se ater a um único tópico de con
versação selecionado pelo programador ou pelo interlocutor hu
mano, fosse ele qual fosse, e o jurado não podia se utilizar de
“truques ou astúcia” como repetir uma pergunta dez vezes ou
perguntar se as zebras vestem vestes íntimas; a conversa tinha de
ser “natural”. Depois dc interagir com vários programas c inter
locutores humanos por cerca de sete minutos cada, os jurados clas
sificaram todos os humanos como mais parecidos com humanos
do que qualquer dos computadores. No entanto, quase metade
dos jurados identificou equivocadamente como humano o pro
grama vencedor.
O feito é menos impressionante do que parece. As regras dei
xaram os jurados de mãos atadas: “truques ou astúcias não natu
rais” é outra maneira de se referir a qualquer tentativa de determi
nar se se está conversando com um ser humano ou com uma
máquina, que é o tema do teste! Além disso, o programador ven
cedor aproveitou de maneira astuta a oportunidade de escolher o
tópico da conversa para seu programa. Ele escolheu “conversa
fantasiosa”, que é um exemplo dúbio de um “tópico”, e que, por
definição, pode estar repleto de descontinuidades:
243
I O instinto da linguagem I
Jurado: Puxa, que dia longo! Acho que agora estou pronto para me
divertir um pouco. O tempo não está muito agradável hoje. Vocc
teria alguma piada para desanuviá-lo?
Computador: Todos falam sobre o tempo mas ninguém parece fazer
nada a respeito. Por que vocc precisa me dizer agora que está
pronto para sc divertir um pouco? Groannnnnn . ..
Jurado: Você está tentando tornar isso difícil para mim, não é? Só
expliquei que estava pronto para me divertir!
Computador: Você preferiría isso sc não fosse verdade que eu estou
tentando tornar isso difícil para vocc, não é? Só expliquei que
eslava pronto para me divertir! Sou, portanto, computo... O que
leva você a pensar que estou tentando tornar isso difícil para
você, não estou?
Jurado: Não tenho certeza dc compreender a pergunta... mas a fan
tasia de um poeta é uma coisa e a fantasia da maioria dc nós é
outra.
Computador: Como você sabe que não tem certeza de compreendei
a pergunta... mas a fantasia dc um poeta é uma coisa c a fantasia
da maioria de nós c outra.
244
I Cabeças falantes I
texto, GNU Emacs. (Nas instruções vem escrito: “Se Emacs se tor
nar muito frustrante e nenhuma das técnicas descritas acima re
solver o problema, Emacs ainda poderá ajudá-lo. Digite ’М -x doctor
RET’.”) Eis um diálogo típico:
245
I O instinto da linguagem I
❖ *
246
I Cabeças falantes I
247
I O instinto da linguagem I
S —» NP VP
'Uma frase pode ser formada dc um sintagma nominal e um sintag
ma verbal.”
NP -> (det) N (PP)
“Um sintagma nominal pode ser formado de um determinante
opcional, um substantivo c um sintagma preposicional opcional.”
VP —>V NP (PP)
“Um sintagma verbal pode ser formado de um verbo, um sintagma
nominal e um sintagma preposicional opcional.”
PP-4PNP
“Um sintagma preposicional pode ser formado dc uma preposição
e um sintagma nominal.”
N —>menino, menina, cão, gato, sorvete, doce, sanduíche
“Os substantivos do dicionário mental incluem menino, menina..’. ’
V —» come, adora, morde
“Os verbos do dicionário mental incluem come, adora, morde.”
P —>com, em, ante
“As preposições incluem com, em, ante”
det —>um, o, certo
“Os determinantes incluem um, o, certo”
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I Cabeças falantes I
det
NP
det N
249
I O instinto da linguagem I
NP VP
det N
o...
NP VP
det N
o cao...
250
I C abeças fa la n tes I
NP VP
det N V NP
o cão adora...
251
I O instinto da linguagem I
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I Cabeçasfalantes I
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I O instinto da linguagem I
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I Cabeçasfalantes I
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I O instinto da linguagem I
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I Cabeças falantes I
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I O instinto da linguagem I
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I Cabeças falantes I
Por que parece que o parser humano perde a conta? Não há lu
gar suficiente na memória de curto prazo para guardar mais de
um ou dois sintagmas soltos ao mesmo tempo? O problema deve
ser mais sutil. Algumas frases cebola de três camadas são um pou
co mais difíceis pela carga de memória exigida mas não são tão
opacas como a frase do tem tem tem:
259
I O instinto da linguagem I
det
I
one
N
I
one
260
I Cabeçasfalantes I
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I O instinto da linguagem I
262
I Cabeças falantes I
4. Jogo de palavras intraduzível: O tempo voa como uma flecha; moscas-da-fruta gostam de
uma banana. (N. daT.)
5. O primeiro verso também poderia ser traduzido por Mary comeu um cordeirinho. (N. daT.)
263
IO in stin to d a lin gu a gem I
Rumor had it tliat, for years, thc government building had bcen pla-
gued with problcms. The man was not surprised when he found
scvcrnl spiders, roaches, and other bugs in the corner of his
roora.1'
6. Correu o boato de que, durante anos, o edifício do governo esteve infestado de problemas.
O homem não se surpreendeu quando encontrou várias aranhas, baratas c outros bichos
no canto da sua sala. (N. daT.)
264
I Cabeçasfalantes I
blick.) Sabe-se que quando uma pessoa escuta uma palavra é mais
fácil reconhecer qualquer palavra relacionada com ela, como se o
dicionário mental estivesse organizado como um tbesaurus, de mo
do tal que, quando uma palavra é encontrada, outras de sentido
semelhante estão mais prontamente disponíveis. Como esperado,
as pessoas apertavam mais rápido o botão quando reconheciam
ant [formiga], que se relaciona com bug, do que quando reconhe
ciam sew [costurar], que não tem relação. Surpreendentemente, as
pessoas estavam igualmente prontas a reconhecer a palavra spy [es
pião], que, é claro, relaciona-se com bug, mas apenas com o signi
ficado que não faz sentido no contexto. Isso sugere que o cérebro,
como num reflexo patelar, ativa ambas as entradas de bug, mesmo
se uma delas pudesse racionalmente ser eliminada de antemão.
O significado irrelevante não fica presente por muito tempo: se
a palavra testada aparecesse na tela três sílabas depois de bugs e
não logo depois dele, somente ant era reconhecido rapidamen
te; spy deixava de ser mais rápido que sew. E provavelmente por
isso que as pessoas negam até mesmo ter pensado no significado
inapropriado.
Os psicolingtiistas Mark Seidenberg e Michael Tanenhaus de
monstraram o mesmo efeito para palavras que são ambíguas en
quanto classes gramaticais, como tires [pneus, cansa], que encon
tramos na manchete terrivelmente ambígua Stud Tires Out1. Inde-
pendentemente de aparecer numa posição de substantivo, como
The tires..., ou de verbo, como He tires..., a palavra criava prontidão
tanto para wbeels [rodas], relacionada com o significado do subs
tantivo, como para fatigue [fadiga], relacionada com o significado
do verbo. Portanto, a pesquisa do dicionário mental é rápida e
meticulosa mas não muito inteligente; encontra entradas destituí
das de sentido que depois têm de ser eliminadas.7
265
I O instinto da linguagem I
8. Traduções possíveis seriam: O cavalo a galope pela cocheira caiu./O homem c]ue caça
patos dc folga nos fins de semana./O algodão das roupas geralmente no M ississippi./
266
I Cabeças falantes I
The horse that was walked past the fence proceeded steadily, but the
horse raced past the barn fell.
The man who fishes goes into work seven days a week, but the man
who hunts ducks out on weekends.
The cotton that sheets are usually made of grows in Egypt, but the
cotton clothing is usually made of grows in Mississippi.
The medíocre are numerous, but the prime number few.
Carbohydrates that people eat are quickly broken down, but fat peo-
ple eat accumulates.
JR Ewing had swindled one tycoon too many into buying useless
proprieties. The tycoon sold the offshore oil tracts for a lot of
money wanted to kill JR.9
Nata pouca./Os gordos que as pessoas comem dííjcuham./A última frase, The tycoon..., con
verte o objeto indireto em sujeito da voz passiva, algo impossível cm português. A tradução
da frase seria: O magnata a c]ucm foram vendidos os campos de petróleo marítimos por um
dinbcirão quis matar J. R. (N. daT.)
9. O cavalo que passou andando pela cerca seguiu adiante, mas o cavalo a galope pela
cocheira caiu./O homem que pesca está a trabalho todos os dias, mas o homem que
caça patos, de folga nos fins de semana./O algodão de que os lençóis costumam ser fei
tos cresce no Egito, mas o algodão das roupas, geralmente no M ississippi./ Populacho
há muito, nata pouca./Os alimentos com fibras que as pessoas comem facilitam a
digestão, os gordos que as pessoas comem dificultam ./j. R . Ewing tinha passado a per
na em muitos magnatas, vendendo-lhes bens inúteis. Com um deles, se deu mal. O mag
nata a quem foram vendidos os campos de petróleo marítimos por um dinheirão quis
matar J. R. (N. daT.)
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I O instinto da linguagem I
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I Cabeças falantes I
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I O instinto da linguagem I
XI. Cf. tradução de К Carlos de Almeida, Cunha Medeiros e Oscar Mendes. William
Sbakespeare, Obra completa, vol. I, R io de Janeiro: Comp. José Aguilar Editora, 1969.
(N. daT .)
12. As frases serão mantidas no inglês original. O réu examinou/examinado pelo advogado
mostrou-se pouco confiável. (N. daT.)
13. As provas examinadas pelo advogado mostraram-se pouco confiáveis. (N. daT.)
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I Cabeças falantes I
The studcnt forgot the solution was in the back of the book.14
14. O estudante esqueceu [que] a solução estava no final do livro. (N. daT.)
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I O in stin to d a lin gu a gem I
The student hoped the solution was in the back of the book.15
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I Cabeças falantes I
17. Flip disse que Squeaky fará o trabalho ontem. (N. daT.)
18. A leitura equivocada seria: A mulher sentada perto das calças de Steven Pinkcr são iguais
às minhas; quando a pessoa quis dizer: As calças da mulher sentada perto de Steven
Pinker são iguais às minhas. (N. da T.)
19. Sherlock Holmes não suspeitava [de/que] a linda condessa fosse uma impostora.
(N. daT.)
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I O instinto da linguagem I
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I Cabeçasfalantes I
275
I O instinto da linguagem I
Falei até agora de árvores, mas uma frase não é apenas uma ár
vore. Até começos dos anos de 1960, quando Chomsky propôs
transformações que convertem estruturas profundas em estrutu
ras dc superfície, os psicólogos utilizavam técnicas de laboratório
para tentar descobrir algum tipo de impressão digital da transfor
mação. Depois dc alguns falsos alarmes a pesquisa foi abandona
da, c durante várias décadas os manuais de psicologia rejeitaram as
transformações por falta de “realidade psicológica”. Mas as técni
cas dc laboratório sc sofisticaram, c a descoberta de algo parecido
com uma operação transformacional na mente e no cérebro das
pessoas é um dos achados recentes mais interessantes da psicolo
gia da linguagem.
Tomemos a frase
276
I Cabeças falantes I
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I O instinto da linguagem I
A menina se perguntava quem John achava que Mary dizia que o bebe
tinha visto (vestígio).
278
I Cabeças falantes I
Reverse the clamp that the stainless Steel hex-head bolt extending
upward from the seatpost voke holds ( y e s tm o ) in place.
Reverse the clamp that ( v e s tid o ) is held in place by the stainless Steel
hex-head bolt extending upward from the seatpost yoke .20
Thats the guy that vou heard the rumor that Mary likes ( y e s t m o ) .
279
I O instinto da linguagem I
te pronome a mais, como em Thats the guy that you heard the rumor
that Mary likes him.
P: A coisa do tribunal do júri tem sua hã, hã, hã —vista disto eles
podem, bã. Suponha que tenhamos um processo no tribunal do
júri. Isso, isso, o que isso faria com a coisa do Ervin? Seguiría em
frente de qualquer forma?
D: Provavelmente.
P: Mas, diante disso, no entanto, temos —deixa eu simplesmente,
hã, imaginar que, que —Você faz isso num tribunal do júri, pode
riamos então ter uma causa muito melhor em termos de dizer:
“Vejam, este é um tribunal do júri, no qual, hã, o promotor pú
blico —” E que tal um promotor público especial? Poderiamos
usar Pctcrsen, ou usar outro. Provavelmente ele está sob suspeita.
Vocc convocaria outro promotor?
D: Gostaria dc ter Pctcrsen do nosso lado, aconselhando-nos [risos]
francamente.
P: Francamente. Bem, Petersen é honesto. Tem alguém que questio
naria ele, tem?
D: Não, não, mas ele vai ser bombardeado quando, hã, essas audiên
cias de Watergatc começarem.
P: È, mas ele pode ir lá e dizer que lhe, que o aconselharam a ir mais
a fundo no Tribunal do Júri e entrar nisso, naquilo e naquilo ou
tro. Chame todos da Casa Branca. Quero que eles venham, quero
que o2', hã, hã, vão ao Tribunal do Júri.23
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I Cabeçasfalantes I
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I O instinto da linguagem I
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I O instinto da linguagem I
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I Cabeças falantes I
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I O instinto da linguagem I
É mais eficiente dizer: “Para sua coisa imediata você não tem
outra escolha com Hunt senão os cento e vinte ou seja lá o que
for.” No entanto, a eficiência depende de os interlocutores com
partilharem uma série de conhecimentos sobre os eventos e sobre
a psicologia do comportamento humano. Eles têm de usar esses
conhecimentos para poder fazer a remissão de nomes, pronomes
e descrições a um único conjunto de personagens, e preencher os
passos lógicos que conectam cada frase com a próxima. Se os pres
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I Cabeças falantes I
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I O instinto da linguagem
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I Cabeçasfalantes I
John Jones
Professor
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I Cabeças falantes I
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A Torre de B abel
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I O instinto da linguagem I
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IA Torre de Babel I
2. Eunice Pontes, em seu livro O tópico no português do Brasil ( 1987, Editora Pontes), mostrou que
o português brasileiro pode ser considerado como tendo proeminência de tópico e sujeito,
sendo que as duas construções existem. A seguir estão alguns exemplos de construções com
tópicos usados por Pontes: Essa bolsa as coisas somem, aqui dentro; Meus óculos, você apa
nhou a capa?; O seu regime entra muito laticínio?; O meu carro furou o pneu!
295
I O instinto da linguagem I
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IA Torre de Babel I
não-nasais) ao significado das palavras (se uma língua tem uma pa
lavra para “roxo”, terá uma palavra para “vermelho”; se uma língua
tem uma palavra para “perna”, terá uma palavra para “braço”).
Se listas de universais mostram que as línguas não variam livre
mente, pode-se concluir que as línguas são limitadas pela estrutu
ra do cérebro? Não diretamente. Primeiro é preciso excluir duas
explicações alternativas.
Uma possibilidade é que as línguas tenham uma única origem,
e que todas as línguas descendam da protolíngua conservando al
gumas de suas características. Essas características seriam semelhan
tes em todas as línguas pela mesma razão que a ordem alfabética é
semelhante nos alfabetos hebraico, grego, romano e cirílico. Não
há nada de especial em relação à ordem alfabética; foi simples
mente a ordem que os semitas inventaram, e todos os alfabetos
ocidentais originaram-se ali. Nenhum hngüista aceita isso como
explicação para os universais lingüísticos. Por um simples motivo:
às vezes ocorrem quebras radicais na transmissão da língua entre
gerações, a mais extremada delas sendo a crioulização, mas os uni
versais valem para todas as línguas, inclusive as crioulas. Além
disso, é uma questão de lógica simples que uma implicação uni
versal, como “Se uma língua tem ordem SVO, então tem preposi
ções, mas, sc tiver ordem SOV terá posposições”, não possa ser
transmitida de pais para filhos da mesma maneira como as pala
vras. Uma implicação, por sua própria lógica, não é um fato re
lacionado com um determinado idioma: as crianças poderíam
aprender que o inglês é SVO e tem preposições, mas nada lhes de
monstraria que, se uma língua é SVO, então ela tem de ter preposi
ções. Uma implicação universal é um fato sobre todas as línguas,
apenas visível do ponto de observação privilegiado de um lingüis-
ta comparando-as. Se uma língua muda de SOV para SVO ao
longo da história e suas posposições viram preposições, deve ha
ver alguma maneira de explicar a sincronia desses dois desenvolvi
mentos.
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3. O português tem os verbos bastante flexionados (canto, cantariam, cantarmos etc.) c lam
bem tem marcação de caso nos pronomes (me, mim, o, a, lhes etc.). Afixos também são
bastante produtivos, como cm anticonstitucionalissimamente. (N. da R. T.)
4. O português também permito variações da ordem de alguns elementos. O p a c o t e f o i m a n d a
d o d c (C h icago a B o sto n p e la M a r ia ; O p a c o t e f o i m a n d a d o p e la M a r ia a B o s t o n d e C h ic a g o etc. Além
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IA Torre de Babel I
6. O português brasileiro era considerado língua com proeminência de sujeito apenas, até Pon
tes (op. cit.') chamai: a atenção para a produtividade dc construções com tópico. (N. da R.T.)
7. No português europeu ainda é bastante produtivo antepor o sujeito ao verbo, obten-
do-se sentenças como O cabrito comeu a Maria, significando que o cabrito foi comido.
(N. da R.T.)
8. Já cm português brasileiro podemos dizer um papel, uma fruta, um vidro, uma madeira,
sem usar classiíicadores. Uma exceção é gado: não existe um gado, mas sim uma cabeça de gado.
(N. da R.T.)
9. Sociedade missionária fundada em 1899, cujo objetivo é distribuir Bíblias nos locais de
circulação como hotéis, prisões, escolas etc. (N. daT.)
305
I O instinto da linguagem I
existe por uma razão: “foi a maneira que a natureza encontrou para
nos fazer evoluir rapidamente”, criando grupos étnicos isolados
em que a evolução biológica e cultural não diluída pode se dar
aceleradamente. Mas o raciocínio evolucionista de Dyson é falho.
Como não podem prever o futuro, as linhagens tentam se aperfei
çoar o melhor que podem, agora; não iniciam mudanças apenas
pela simples vontade de mudar esperando que uma das mudanças
venha a se mostrar proveitosa em algum período glacial dez mil
anos depois. Dyson não foi o primeiro a atribuir um propósito à
diversidade lingüística. Um índio colombiano Bará, membro de
um grupo de tribos cxogâmicas, ao ser indagado por um lingüista
sobre o motivo da existência de tantas línguas, explicou: “Se to
dos falássemos tukano, onde conseguiriamos nossas mulheres?”
Como nativo de Quebec, posso testemunhar que diferenças lin-
giiísticas conduzem a diferenças de identificação étnica, com am
plos efeitos, bons e maus. Mas as sugestões de Dyson e do índio
Bará invertem a ordem dos fatores causais. É verdade que os parâ
metros núcleo inicial e todo o resto são devastadores quando se
trata dc distinguir grupos étnicos, supondo que isso fosse desejá
vel em termos evolutivos. Os humanos têm uma habilidade espe
cial para detectar diferenças ínfimas que lhes permitam decidir
quem deve ser desprezado. Para tanto basta que os americanos eu
ropeus tenham pele clara c os afro-amcricanos, pele escura, que os
hindus insistam em não comer carne dc vaca c os muçulmanos,
cm não comer carne dc porco, ou, na história do Dr. Scuss, que os
Sncetch.es com barrigas estreladas tenham barrigas com estrelas e
os Sneetch.es com barrigas lisas não as tenham10. Sempre c]ue hou
ver mais de uma língua, o etnocentrismo fará o resto; temos de
compreender por que há mais de uma língua.
O próprio Darwin exprimiu a idéia decisiva:
10. Referência a história do Dr. Scuss que trata da discriminação e da tolerância. (N. daT.)
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J
gais era pronunciado de modo sonoro, de tal modo que ofer era
pronunciado “over”, graças a uma regra semelhante à contempo
rânea regra d e flapping. Os ouvintes acabaram analisando o v como
um fonema separado, e não como uma pronunciação d e f de for
ma que agora a palavra é efetivamente over, e v e f existem enquan
to fonemas separados. Por exemplo, agora conseguimos diferenciar
palavras como waver e wafer, mas o rei Etelbuldo não teria con
seguido.
• As regras fonológicas que governam a pronúncia de palavras
podem, por sua vez, ser reanalisadas como regras morfológicas
que governam sua construção. Línguas germânicas como o inglês an
tigo tinham uma regra “umlaut” [apofonia] que transformava uma
vogal posterior em vogal anterior se a sílaba seguinte contivesse
um som vocálico frontal alto. Por exemplo, emfoti, plural de “foot”,
o o posterior foi transformado pela regra num e anterior, harmo
nizando com o i anterior. Posteriormente, o i do fim deixou de ser
pronunciado, e, como nada mais desencadeava a regra fonológica,
os falantes reinterpretaram a mudança o-e como uma relação mor-
fológica indicativa do plural —resultando na forma atual jo o lfeel,
mouse-mice, goose~geese, tooth~teeth c lousedice.
• A reanálise também pode tomar duas variantes de uma pala
vra, uma criada a partir da outra por uma regra de flexão, e rcca-
tcgorizá-las como palavras separadas. Ё possível que os falantes de
antanho tenham percebido que a regra dc flexão oo~ee não se apli
cava a todos os itens mas apenas a alguns: tootb-teeth, mas não boolh-
beeth. Portanto teeth foi interpretada como uma palavra separada,
irregular, relacionada com tooth, e não como produto de uma regra
aplicada a tootb. A mudança de vogal deixa de funcionar como re
g ra —daí o conto engraçado de Lederer “Foxen in the Henhice”11.
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I A Torre d e B a b el I
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thi name, thi kyngdom come to, be thi wille don in erthe es in heuc-
nc, ycuc to us this day oure bread ouir other substancc, & foryeue to
us oure dcttis, as wc forgcucn to oure dettouris, & lede us not in to
tcmptacion: but dclyuer us from yucl, amcn.
I N G L .E S A N T I G O (c. 1000): Faeder ure thu the eart on hcofonum, si
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I A Torre d e B a b el I
12. Ambas as frases significam que “os garotos que invadiram a casa foram apanhados”.
(N. daT.)
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I 0 in stin to d a lin gu a gem I
I returned and saw under the sun, that the race is not to the swift,
nor the battle to the strong, neither yet bread to the wise, nor yet ri-
ches to men of understanding, nor yet favour to men of skill; but
time and chance happeneth to them ali.1'’
Objetive considcration of contcmporary phcnomcna compels thc
conclusion that succcss or failure in compctitivc activities cxhibits
no tendcncy to be commcnsurate with innatc capacity, but that a
considcrablc clcmcnt of thc unpredictablc rnust invariably be taken
into account."
13. Ecl. 9 .1 1: Observei de novo c vi debaixo do sol que a corrida não é para os ágeis, nem a
baralha para os destemidos, nem o pão para os sábios, nem a riqueza para os entendidos,
nem o favor para os inteligentes: todos estão à mercê das circunstâncias e do tempo. (Cf.
Bíblia Sagrada, Ed. Paulinas, 1969.) (N. daT.)
14. A consideração objetiva dos fenômenos contemporâneos leva à conclusão de que o su
cesso ou fracasso cm atividades competitivas não exibe qualquer tendência a ser comcnsura-
do com capacidades inatas, mas que um considerável elemento da ordem do imprevisível
deve invariavelmente ser levado em conta. (N. daT.)
15. E como o primeiro a da palavra Maria pronunciada por um lusitano. (N. da R .T )
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I A Torre d e B a b el I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
O sânscrito, seja qual for sua antiguidade, tem uma estrutura ma
ravilhosa; mais perfeito que o grego, mais copioso que o latim, e
mais primorosamente refinado que ambos, embora mantenha com
eles tamanha afinidade, tanto nas raízes dos verbos como nas for
mas da gramática, que é impossível pensar que isso se deu por aci-
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❖ ❖
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Bebê nasce falan d o —Descreve céu
9 No dia 21 de maio de
1985, um jornal chamado
Sun publicou as seguintes manchetes intrigantes:
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I O in stin to d a lin gu a gem I
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I B eb ê nasce falando —D escreve céu I
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I. Palavras cm inglcs cuja diferença está na tensão e duração da vogal. Bit significa pedacinho,
pouquinho, e beet, beterraba. (N . d a T )
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I Bebê n a sce fa la n d o - Descreve céu I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
2. Significa algo como apertar, virar, puxar, remexer, tudo ao mesmo tempo. (N. daT.)
338
I Bebê nasce falando —Descreve céu I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
V V ❖
3. Eu não quero ir para a sua ami (Miami ~ my amis m y = meu amigo],/Sou hcyoJ (Behave ~ be
heyo, seja hcyo)/Papai, quando você vai fazer xixi é um oito e quando eu vou fazer xixi sou
um oito, cerro? ( urinate = you 're an eight)/Sei que pareço Larry, mas quem é Gitis?/ Papai,
por que o nome de seu personagem é Sam Sozinho?/ As formigas são minhas amigas, cias
estão soprando no vento (answer S ants are). (N. daT.)
4. Delinqücncia juvenil (JD). Estátua. Conservador. Estupro, que faz homofonia com statu-
tory rape, estupro segundo a lei. (N. daT.)
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I Bebê nasce falando —Descreve céu I
341
I O instinto da linguagem I
ordem sujeito, verbo e objeto —olhavam mais para a tela que des
crevia a frase do narrador.
Quando as crianças passam a juntar palavras, estas parecem
deparar com um gargalo na hora de sair. As expressões de duas ou
três palavras das crianças parecem amostras extraídas de frases po
tencialmente mais longas que exprimem uma idéia completa e mais
complicada. Por exemplo, o psicólogo Roger Brown notou que,
embora as crianças por ele estudadas nunca produzissem uma fra
se tão complicada como A mamãe deu almoço para o João na cozinha,
produziam scqüências que continham todos esses componentes, c
na ordem correta:
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I Bebê nasce falando —Descreve céu I
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I O instinto da linguagem I
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I Bebê nasce falando —Descreve céu I
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I O instinto d a lin g u a gem I
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O in stin to d a lin gu a gem I
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I B eb ê n a sce fa la n d o — D escreve céu I
6. Castrar aparece nos dicionários com duas formas de passado: gelt e gelded. (N. daT.)
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I O in stin to d a lin gu a gem I
7. Ao pé da letra: Vai-me ao banheiro antes de você ir para a cam a./0 tigre vai vir e comer
David c então ele será morrido e eu não terei mais irmãozinho./Quero que você me leve
um passeio de camelo nos seus ombros até meu quarto./Seja uma mão até o nariz./Nao
me rií/Bebe que boceja —você pode abrir a boca dela para bebê-la. (N. daT.)
8. A manteiga derreteu —>Sally derreteu a manteiga; A bola pulou —> Hiram fez a bola pu
lar; O cavalo passou correndo pela cocheira —> O jóquei passou correndo a cavalo pela
cocheira. (N. da T )
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I B eb ê n asce fa la n d o - D escreve céu I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
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[ B eb ê n asce fa la n d o — D escreve céu
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I O in stin to d a lin gu a gem I
Há uma boa razão para que, nos últimos tempos, se discuta muito
mais o lado erótico do Homem do que seu apetite por comida. A
razão é a seguinte: enquanto a necessidade de comer é um assunto
que concerne apenas à pessoa faminta (ou, como o alemão diz, der
hungrige MenscJi), a necessidade de sexo envolve, em sua verdadeira
expressão, outro indivíduo. E esse “outro indivíduo” o motivo de
todo o problema.
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I B eb ê n asce fa la n d o — D escreve céu I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
10. Em inglcs as diferenças são mais sutis: Show nu you r rootn, Show me you r sister’s room}Show me
your sisterS old room, Show m eyour old room, Show m eyour new roomJ Show m eyour sisters new room.
( N . d a T .)
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I B eb ê n a sce fa la n d o — D escreve céu I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
I I . Quero outra uma colher, papai./Você quer dizer que você quer A OUTRA CO-
LHER./Sim, eu quero outra uma colher, por favor, papai./Você consegue dizer “a ou
tra coIher”?/Outra... uma... colher./Diga... "outra”./Outra./“CoIher”./CoIher./"Ou-
tra... colher”./Outra... colher. Agora me dá outra uma colher? (N. daT.)
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I B eb ê n asce fa la n d o — D escreve céu I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
give, doggie paper give etc. Em termos lógicos, no entanto, isso seria
coerente com o que elas escutam caso se disponham a aventar a
possibilidade de seus pais não passarem de taciturnos falantes de
coreano, russo ou sueco, em que várias ordens são possíveis. Mas
as crianças que aprendem coreano, russo e sueco às vezes erram por
precaução e usam apenas uma das ordens admitidas pela língua, à
espera de mais evidências.
Além disso, nos casos de crianças que cometem erros e depois
se corrigem, suas gramáticas têm de conter algum dispositivo in
terno de verificação, de modo tal que, ao escutar um tipo de fra
se, possam ir buscar outra, retirada da gramática. Por exemplo, se
o sistema de construção de palavras estiver organizado de modo
tal que uma forma irregular listada no dicionário mental bloqueie
a aplicação da regra correspondente, escutar held vezes suficientes
acabará por cancelar holded.
<•
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I B eb ê n a sce fa la n d o - D escreve céu I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
12. Aquele cachorro me incomoda./0 que ela veste me incomoda./Música muito alta me
incomoda./Saudar muito efusivamente me incom oda./0 garoto com quem ela sai me
incomoda. (N. da T.)
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I B eb ê n asce fa la n d o — D escreve céu I
poder confiar nofeedback parental, não tem como saber disso. Mais
uma vez, as crianças não podem enfrentar a tarefa de aprender a
língua como se fossem um lógico livre de preconceitos; precisam
de orientação.
Essa orientação poderia provir de duas fontes. Primeiro, a
criança poderia partir do pressuposto de que a fala dos pais res
peita a organização básica da estrutura sintagmática humana: sin
tagmas contêm núcleos; protagonistas se agrupam com núcleos
nos minissintagmas denominados X-barras; X-barras se agrupam
com seus modificadores dentro de sintagmas X (sintagma nomi
nal, sintagma verbal etc.); sintagmas X podem ter sujeitos. Em
suma, a teoria X-barra da estrutura sintagmática poderia ser ina
ta. Segundo, já que o significado das frases dos pais costuma po
der ser adivinhado pelo contexto, a criança poderia usar os signifi
cados como ajuda para estabelecer a correta estrutura sintagmática.
Imagine que um pai diga The big dog ate ice cream [O cachorro grande
comeu sorvete]. Se a criança aprendeu anterior mente as palavras
big, dog, ate e ice cream, ela pode adivinhar suas categorias e montar
os primeiros raminhos de uma árvore:
A N V N
the
I I I
big dog ate
I
ice cream
NP VP NP
| I1
det A N V N
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I O in stin to d a lin gu a gem I
det A N N
S —>NP VP
NP —>(det) (A) N
VP —>V (NP)
dog: N
ice cream: N
ate: V; comedor : sujeito, coisa comida —objeto
the: det
big: A
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I O instinto da linguagem. I
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*♦.
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IBebê nasce falando —Descreve céu I
13. As formas corretas seriam: Tbejarmer bought two pig5 e The little boy is speaking to a policeman.
(N. daT.)
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I O instinto da linguagem I
Mike paint,
Applesauce buy store.
Neal come happy; Neal not come sad.
Genie have Momma have baby grow up.
I like elephant eat peanut.1415
Why does the paste come out if one upsets the jar?
What did Miss Mason say when you told her I cleaned my class-
room?
Do you go to Miss Masons school at the university?'s
14. Litcralmentc: Mikc pintar./Purê de maçã compra loja./Neal vir feliz; Neal não vir tris
te./ Genie ter Mamãe ter bebê crescer./Eu gosto elefante comer amendoim. (N. daT.)
15. Por que a pasta sai quando se vira a jarra?/0 que a Srta. Mason disse quando você lhe
disse que eu limpei minha sala de aula?/Você irá para a escola da Srta. Mason na univer
sidade? (N. daT.)
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1O instinto da linguagem !
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Órgãos da linguagem
e genes da gram ática
10 “Capacidade de Aprender
Gramática Atribuída a Ge
ne por Pesquisador.” Essa manchete de 1992 não apareceu num
folheto de supermercado mas numa reportagem da Associated
Press, baseada no relatório do encontro anual da principal asso
ciação científica dos Estados Unidos. O relatório reunira provas
de que o Transtorno Específico da Linguagem ocorre em famílias,
enfocando a família inglesa que conhecemos no Capítulo 2, na
qual o padrão hereditário é partícularmente claro. Os jornalistas
James J. Kilpatrick c Erma Bombeck mostravam-se incrédulos. A
coluna de Kilpatrick começava assim:
M E L H O R E SU A G R A M Á T IC A P O R M E IO D A G E N É T IC A
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I O instinto da linguagem I
Bombcck cscrcvcu:
G R A M Á T IC A R U IM ? S Ã O O S G R N H S
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Órgãos da linguagem e genes da gramática
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I O instinto da linguagem I
❖ *
Por que a linguagem tende tanto mais para um lado que para o
outro? Uma pergunta melhor seria: por que o resto de uma pessoa
c tão simétrico? A simetria é uma organização da matéria ineren-
temente improvável. Se vocc tivesse dc preencher ao acaso os qua
drados de um tabuleiro dc damas dc 8 x 8, a chance é de um cm
um bilhão dc que o padrão seja bilatcralmcntc simétrico. As mo
léculas da vida são assimétricas, assim como a maioria das plantas
e muitos animais. Construir um corpo bilateralmcnte simétrico é
difícil e caro. A simetria custa tanto trabalho que, entre os ani
mais com um desenho simétrico, qualquer doença ou debilidade é
capaz de rompê-la. Por causa disso, os organismos como os inse
tos da ordem Mecoptera, as andorinhas-de-bando e até os seres hu
manos consideram a simetria sexy (indicador de um companheiro
potencialmente adequado) e uma forte assimetria, um sinal de de
formidade. Deve haver algo no estilo de vida de um animal que
torna tão valioso o desenho simétrico. A característica principal é
a mobilidade: as espécies com corpos bilateralmente simétricos
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I Órgãos da linguagem e genes da gramática I
Sim... é... Segunda-feira... é... Pai e Peter Hogan, e Pai... é... hospital...
e é... quarta-feira... quarta-feira nove horas e é quinta... dez horas é
médicos... dois... dois... e médicos e... é... dentes... é... E um médico
e moça... e borracha e eu.
Lower Falis... Maine... Papel. Quatrocentas toneladas um dia!
E é... máquinas enxofre, e é... madeira... Duas semanas e oito horas.
Oito horas... não! Doze horas, quinze horas... trabalhano... trabalha-
no... trabalhano! É, e é... enxofre. Enxofre e... É madeira. Ё... lidan
do! E é doente, quatro anos atrás.
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I 0 instinto da linguagem I
fim primeiro lugar isso está caindo, prestes a, c vai cair c ambos
estão pegando algo para comer... mas o problema é que isso vai sol
tar c os dois vão cair... Não dá pra ver direito mas acho que ou ela
ou vai pegar uma comida que não é para você e cia também tem de
pegar algum para ela... c que você pôs lá porque eles não deveriam
subir ali e pegar isso a não ser que você diga que eles podem pegar,
fi portanto isso está caindo e com certeza tem um que eles vão pe
gar para comida e, e isso não deu certo, o, é, o negócio que é é, para,
não é para você mas isso, mas você adora, um mum mum [lábios in
dicando o gosto de algo bom]... e que então eles... veja que, não dá
pra ver se está lá ou não... Acho que ela está dizendo, quero dois ou
três, quero um, acho, acho isso, e então, então ela vai pegar esse e
com certeza vai cair ali ou sei lá, ela vai pegar aquele lá e, e ali, ele
mesmo vai pegar um ou mais, tudo depende com isso quando eles
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I Órgãos da linguagem e genes da gramática I
caem... e quando isso cai não tem problema, eles só têm de arrumar
de volta e subir de novo e pegar mais alguns.
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DICIONÁRIO O b
™ik OOOO O à ONSET
bit O O O O O i
go OO oo o /
RADICAL
RIMA
SUFIXO
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( O instinto da linguagem I
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Órgãos da linguagem e genes da gramática I
nios sejam inatos. Mas, ali onde desenhei uma seta de um único
neurônio de um grupo para um único neurônio de outro, imagine
um feixe de setas de cada neurônio de um grupo para cada neu
rônio do outro. Isso corresponde à “expectativa” inata da criança
de que haja, digamos, sufixos para pessoas, números, tempos e as
pectos, assim como possíveis palavras irregulares para essas com
binações, sem, no entanto, saber exatamente que combinações, su
fixos ou irregulares existem naquela língua em particular. Apren
dê-los corresponde a reforçar algumas sinapses na ponta da seta
(aquelas que por acaso desenhei) e manter as outras invisíveis. Is
so poderia funcionar assim: imagine que, quando a criança escuta
uma palavra com um z no sufixo, o neurônio z do grupo de sufi
xos no canto direito do diagrama é ativado, e, quando a criança
pensa em terceira pessoa, singular, presente e aspecto habitual
(partes de sua interpretação do evento), os quatro neurônios à es
querda também são ativados. Se a ativação se der para a frente e
para trás, e se uma sinapse for reforçada sempre que seja ativada
junto com seu neurônio de saída já ativo, então todas as sinapses
alinhadas no trajeto entre “3 !”, “singular”, “presente”, “habitual”
numa extremidade, e “z” na outra, serão reforçadas. Repita a ex
periência muitas vezes, e a rede neonata parcialmente especificada
irá se ajustar à do adulto que desenhei.
Aproximemos ainda mais nossas lentes. Que solda primai jun
tou os grupos de neurônios e as potenciais conexões inatas entre
eles? Este é um dos assuntos mais quentes na neurociência con
temporânea, e estamos começando a vislumbrar como vão se esta
belecendo as conexões nos cérebros embrionários. Não as áreas da
linguagem dos humanos, é claro, mas o globo ocular das moscas-
das-frutas, os talamos das doninhas e o córtex visual de gatos e
macacos. Neurônios destinados a determinadas áreas corticais nas
cem em áreas específicas ao longo das paredes dos ventrículos, que
são cavidades repletas de fluido no centro dos hemisférios cere
brais. Dali, eles saem em direção ao crânio até seu lugar definitivo
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I O instinto da linguagem I
5. Sc as pessoas não querem sair para o campo de jogo, ninguém vai impedi-las./Basta olhar
para observar muitas coisas./Em beisebol, não se sabe nada./Ninguém mais vai lá. Está
cheio demais./ísso não acaba até acabar./Nesta época do ano, fica tarde cedo. (N. daT.)
6. E MO é a letra que emprego para escrever Mocas/Que usam pequenas covas, conhecidas
por Micas, como tocas./Esses Mocas têm problemas, e o maior é/O fato de haver mais
Mocas que Micas./Cada Moca numa M ica sabe que algum outro Moca/Gostaria de se
mudar para sua Mica pacas./Então, cada Moca numa M ica tem de cuidar daquela Mica/
Senão um Moca sem Mica vai lá e achaca. (Tradução livre da tradutora)
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I Órgãos da linguagem e genes da gramática I
I have a dream that one day this nation will rise up and live out
the true meaning of its creed: “We hold these truths to be self-evi-
dent, that ali men are created equal.”
I have a dream that one day on the red hills of Geórgia the sons
of former slaves and the sons of former slaveowners will be able to
sit down together at the table of brotherhood.
I have a dream that one day even the State of Mississippi, a State
sweltering with the peoples injustice, sweltering with the heat of op-
pression, will be transformed into an oásis of freedom and justice.
I have a dream that my four litde children will one day live in a
nation where they will not be judged by the color of their skin but
by the content of their character.
—Martin Luther King, Jr.*
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firmament, this majestical roof fretted with golden fire, why, it ap-
pears no other thmg to me than a foul and pestilent congregation of
vapours. What a piece of work is a man! how noble in reason! how
infinite in factdty! in form and moving how express and admirableí
in action how like na angel! in apprehension how like a God! the
beauty of the world! the paragon of animais! And yet, to me, what
is this quintessence of dust?
—William Shakespeare9
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2. Nim comer Nim. comer./Beber comer mim N im./M im goma mim goma./Cócegas mim
Nim brincar./Mim comer mim comer./Mim banana você banana mim você dar./Você
mim banana mim banana você./Banana mim mim mim comer./Dar laranja mim dar co
mer laranja mim comer laranja dar mim comer laranja dar mim você. (N. daT.)
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Amebas
A Teoria Equivocada I
Esponjas
I
Medusas
Platelmintos
Trutas
Sapos
I
Lagartos
Dinossauros
I
Tamanduás
I
Macacos
Chimpanzés
H o m o sa p ien s
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I O instinto da linguagem I
Gorilas
I
Chimpanzés
I
H o m o sa p ien s
H o m o h a b ilis
I
H o m o erectu s
Neanderthal
Gorilas Chimpanzés H om o
sa p ien s
moderno
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I O Big Bang I
que um macaco ancestral que nada mais faz que assobiar e gru
nhir tenha gerado um bebê que pudesse aprender inglês ou kivunjo.
Mas nem teria de fazê-lo; houve uma cadeia de milhões de gerações
de netos em que tais habilidades puderam florescer gradualmente.
Para determinar quando realmente a linguagem começou, temos
de olhar para pessoas, olhar para animais, e perceber o que vemos;
não podemos usar a idéia de continuidade entre espécies para de
cidir sobre a resposta sentados numa poltrona.
A diferença entre touceira e escada também permite colocar
um fim num debate infrutífero e entediante. E o debate sobre o
que seria uma Verdadeira Linguagem. Um dos lados arrola algumas
qualidades que a linguagem humana tem mas que até agora nenhum
animal demonstrou: referência, uso de símbolos situados no tem
po e no espaço em relação a seus referentes, criatividade, percep
ção categorial da fala, ordenação coerente, estrutura hierárquica,
infinidade, rccursividade etc. O outro lado encontra algum con-
tra-cxemplo no reino animal (talvez certos periquitos consigam
discriminar sons de fala, ou golfinhos ou papagaios consigam res
peitar a ordem de palavras ao executar comandos, ou algum pássa
ro canoro consiga improvisar indefinidamente sem se repetir) e
então regozija-se com o fato de que a cidadela da singularidade
humana foi derrubada. O time da Singularidade Humana renun
cia a determinado critério mas enfatiza outros ou acrescenta no
vos à lista, provocando sérias objeções de que eles estão mudando
de lugar as traves do gol. Para percebermos como tudo isso é bobo,
imagine um debate sobre quais platelmintos têm a Verdadeira
Visão ou moscas caseiras têm Verdadeiras Mãos. Será que ter íris
é decisivo? Cílios? Unhas? Que importa? E um debate para lexicó
grafos, não para cientistas. Platão e Diógenes não estavam fazen
do biologia quando Platão definiu o homem como um “bípede
sem penas” e Diógenes refutou com um frango depenado.
A falácia em tudo isso é a idéia de que se possa traçar uma li
nha ao longo da escada, com as espécies dos degraus superiores
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ф ф
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O que será que ele quer dizer? Poderia haver um órgão da lin
guagem que evoluiu segundo um processo diferente daquele que
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Podemos não ter a menor idéia, assim como não sabemos como
as leis físicas se aplicam nas condições especiais de furacões varren
do depósitos de sucata, mas a possibilidade de haver um corolário
ainda desconhecido das leis da física que faz com que cérebros de
tamanho e forma humanos desenvolvam os circuitos próprios da
Gramática Universal parece inverossímil por muitas razões.
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I O Big Bang I
* ❖
Para ser justo, devo dizer que de fato surgem problemas quan
do se procura reconstruir como a faculdade da linguagem evoluiu
por seleção natural, apesar dc o psicólogo Paul Bloom c eu termos
afirmado que todos os problemas são solucionáveis. Como bem
disse P. B. Medawar, a linguagem em seus primórdios não devia
ter a forma que assumiu nas primeiras palavras registradas do pe
queno Lord Macaulay, que, segundo contam, depois de ser escal
dado com chá quente, disse à anfitriã: “Obrigado, madame, a ago
nia cedeu sensivelmente.” Se a linguagem evoluiu gradualmente,
deve ter havido uma seqüência de formas intermediárias, cada uma
delas útil para seu possessor, e isso levanta várias questões.
Primeiro, se a linguagem envolve, para sua verdadeira expres
são, outro indivíduo, com quem o primeiro mutante gramatical
falou? Uma das respostas poderia ser: a pequena porcentagem de
irmãos, irmãs, filhos e filhas que também tinham o novo gene por
herança comum. Mas uma resposta mais geral é que talvez os vi
zinhos entendessem parcialmente o que o mutante estava dizen
do, mesmo que não possuíssem os circuitos recém-criados, fazendo
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I O in stin to d a lin gu a gem I
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Os craques da língua
Imagine-se assistindo a um
documentário sobre a na
tureza. O vídeo mostra as costumeiras cenas deslumbrantes de
animais em seus hábitats naturais. Mas a voz que narra relata al
guns fatos inquietantes. Os golfinhos não executam como deve
ríam seus saltos e mergulhos. Tico-ticos negligentemente adulte
ram seus chamados. Os ninhos dos canários-da-terra são cons
truídos de modo incorreto, pandas seguram bambus com a pata
errada, o canto da baleia jubarte contém vários erros reconhecí
veis, e os gritos dos macacos vêm se degenerando há centenas de
anos. Sua provável reação seria: Que diabos pode significar que o
canto da jubarte contém um “erro”? O canto da baleia jubarte
não é exatamente aquilo que ela decide cantar? Aliás, quem é esse
locutor?
No caso da linguagem humana, no entanto, as pessoas não só
pensam que as mesmas declarações têm sentido como também
que são motivo para se alarmar. Johnny não consegue construir
uma frase gramatical. Com o declínio dos padrões educacionais e
a divulgação pela cultura pop de delírios inarticulados e gírias
ininteligíveis de surfistas, DJs e garotas do sul da Califórnia, esta
mos virando uma nação de iletrados funcionais: o uso errado de
hopefully como modificador de frase em inglês, confundir lie e lay
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I O in stin to d a lin gu a gem I
1. Dangling partiáple: uso controvertido do particípio no começo da frase, dando lugar a ambi-
giiidades quanto a quem ou a que ele se refere. (N. daT.)
2. Ambas são formas corretas do passado de to sneak, agir de forma furtiva. (N. daT.)
3. Equivalente, à gíria "bode”. (N. daT.)
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Os craques d a lín gu a I
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mesmo para uma garota do sul da Califórnia, que não se deve di
zer Maçãs o come menino ou A criança parece dormindo ou Quem você en
controu João e? ou a vasta, vasta maioria dos quatrilhões de combi
nações matematicamente possíveis de palavras. Portanto, quando
um cientista avalia toda maquinaria mental de alta tecnologia ne
cessária para ordenar palavras em frases comuns, as regras prescri
tivas são, na melhor das hipóteses, pequenos adornos sem conse-
qüência. O próprio fato de elas terem de ser exercitadas mostra
que são alheias ao funcionamento natural do sistema da língua.
Pode-se escolher ficar obcecado com as regras prescritivas, mas
elas têm tão pouco a ver com a linguagem humana quanto os cri
térios para avaliar gatos numa exposição de gatos têm a ver com a
biologia dos mamíferos.
Portanto, não há contradição em dizer que toda pessoa nor
mal pode falar gramaticalmente (ou seja, sistematicamente) e agra-
maticalmente (ou seja, fugindo às regras prescritivas), assim como
não há contradição em dizer que um táxi obedece às leis da física
mas transgride as leis de Massachusetts. Mas isso levanta uma
questão. Alguém, em algum lugar, deve estar tomando decisões
sobre o “inglês correto” em nome de todos nós. Quem? Não exis
te Academia da Língua Inglesa, e não faz falta; o objetivo da
Académie Française é divertir jornalistas de outros países com de
cisões resultantes de discussões acerbas que os franceses alegre
mente ignoram. Tampouco existiram Pais Fundadores em alguma
Conferência Constitucional da Língua Inglesa no princípio dos
tempos. Os legisladores do “inglês correto”, na verdade, são uma
rede informal de editores de texto, participantes de mesas-redon
das sobre uso de dicionário, escritores de manuais de estilo e de
compêndios, professores de inglês, ensaístas, colunistas e eruditos.
Segundo eles, sua autoridade no assunto vem do devotamento à
implementação de padrões que tão bem serviram à língua no pas
sado, sobretudo na prosa de seus melhores escritores, e que maxi
mizam sua clareza, lógica, harmonia, concisão, elegância, conti-
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I Os craq u es d a lín gu a I
4. O inglês americano está muito impregnado de formas derivadas do iídiche. Neste caso,
shmaven dá um sentido pejorativo à palavra maven, também derivada do iídiche. Kibbitzers
e nudniks significam, respectivamente, palpiteiros intrometidos e pentelhos. Portanto, o
que o autor diz é: “Que craques, que nadai Metidos e pentelhos seria mais apropriado.”
(N. daT.)
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I O in stin to d a lin gu a gem I
5. No original: O f coursejorcing modem speakers o f English to not -whoops, not to split ati infinitive..., em
que o autor separa o infinitivo e depois se corrige. (N. daT.)
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I Os craques d a lín gu a I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
❖ ❖
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I Os craq u es d a lín gu a I
6. O autor da frase explicita a irregularidade dos tempos passados em inglês, o que se perde
em português. Segue-se apenas a tradução da frase: “Hoje eu falo, mas primeiro falei;
algumas torneiras pingam, mas nunca ‘pangam’. Hoje eu escrevo, mas primeiro escreví;
mordemos a língua, mas nunca ‘merdemos’ ” (N. daT.)
485
fl
I didnt buy any lottery tickets. [Não comprei nenhum bilhete de lo
teria.]
I didnt eat even a single French fry. [Não comi nem mesmo uma
única batata frita.]
I didnt eat fried food at ali today. [Não comi nada frito hoje.]
7. Por mais que eu tente não ficar satisfeito com as desgraças de meus adversários, devo
admitir que não consegui não ficar contente com o fato de não o terem admitido no
emprego. (N. daT.)
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I Os craq u es da lín gu a I
COULDN’T саге I
LE CARE
i ESS. LE
could ESS.
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I O in stin to d a lin gu a gem I
Mary saw everyone before John notíced them. [Mary viu todo mun
do antes de John reparar neles.]
8. Litcralmcnte: Cada um voltou para seus lugares./Quem acha que a raquete Yonex melho
rou seu {deles} jogo, levante tua mão./Se alguém ligar, diga a eles que não posso aten
der./Alguém passou por aqui mas não disseram o que queriam./Ninguém deveria ter de
vender sua {deles} casa para pagar serviços médicos./Ele é um desses caras que está sem
pre se {plural} dando tapinhas nas costas. (N. daT.)
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I Os craq u es d a lín gu a I
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I O in stin to d a lin gu a gem I
9. Advertir; nuançar; dialogar; agir como pais; inserir, aplicar; ter acesso; mostrar, apresen
tar; intrigar; impactar; hospedar, receber; presidir; progredir; contactar. (N. daT.)
10. Refere-se a uma determinada tacada do jogo de hóquei denominada “wrist shot”.
(N. daT .)
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I Os craq u es da lín gu a I
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I O in stin to d a linguagem . I
Hopefully, Larry hurled the bali Coward the basket with one second
left in the game.
Hopefully, Mclvin turned the record over and sat back down on the
couch eleven centimeters closer to Ellen."
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I Os craq u es d a lín gu a I
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I Os craques da língua I
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I O instinto da linguagem I
21 . Em vez de says (d iz), come (vir), womert (mulheres), have to (ter que) e crucial (crucial).
(N. da R .T .)
500
I
I Os craques da língua I
Estas listas servem para dar umas boas risadas, mas há algo que
você deveria saber antes de concluir que as massas são comicamen-
te ineptas para a escrita. Muito provavelmente, a maioria dos dis
parates foram fabricados.
22 . Conforme suas instruções dei à luz gêmeos no envelope anexo./O projeto do meu mari
do foi cancelado duas semanas atrás e desde então não tenho tido alívio./Um carro invi
sível apareceu do nada, bateu no meu carro e desapareceu./O pedestre não sabia para
que lado ir e, portanto, passei por cima dele./Inseminação artificial é quando o fazen
deiro faz na vaca ao invés do boi./A garota despencou pela escada e ficou prostituta no
chão./Moisés subiu no Monte Cianeto para receber os dez mandamentos. Morreu antes
de chegar no Canadá. (N. da T.)
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I O instinto da linguagem I
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I Os craques da língua I
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24. Tá bom, mas quem vimos na outra loja?/Quem vímos quando voltávamos para casa?/
Com quem você brincou lá fora hoje à noite?/Abe, com quem você brincou hoje na
escola?/Você estava parecendo quem? (N. daT.)
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Os craques da língua
Imagine-se assistindo a um
documentário sobre a na
tureza. O vídeo mostra as costumeiras cenas deslumbrantes de
animais em seus hábitats naturais. Mas a voz que narra relata al
guns fatos inquietantes. Os golfinhos não executam como deve
ríam seus saltos e mergulhos. Tico-ticos negligentemente adulte
ram seus chamados. Os ninhos dos canários-da-terra são cons
truídos de modo incorreto, pandas seguram bambus com a pata
errada, o canto da baleia jubarte contém vários erros reconhecí
veis, e os gritos dos macacos vêm se degenerando há centenas de
anos. Sua provável reação seria: Que diabos pode significar que o
canto da jubarte contém um “erro”? O canto da baleia jubarte
não é exatamente aquilo que ela decide cantar? Aliás, quem é esse
locutor?
No caso da linguagem humana, no entanto, as pessoas não só
pensam que as mesmas declarações têm sentido como também
que são motivo para se alarmar. Johnny não consegue construir
uma frase gramatical. Com o declínio dos padrões educacionais e
a divulgação pela cultura pop de delírios inarticulados e gírias
ininteligíveis de surfistas, DJs e garotas do sul da Califórnia, esta
mos virando uma nação de iletrados funcionais: o uso errado de
hopefully como modificador de frase em inglês, confundir lie e lay
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I O instinto da linguagem I
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mesmo para uma garota do sul da Califórnia, que não se deve di
zer Maçãs o come menino ou A criança parece dormindo ou Quem você en
controu João e? ou a vasta, vasta maioria dos quatrilhões de combi
nações matematicamente possíveis de palavras. Portanto, quando
um cientista avalia toda maquinaria mental de alta tecnologia ne
cessária para ordenar palavras em frases comuns, as regras prescri
tivas são, na melhor das hipóteses, pequenos adornos sem conse-
qüência. O próprio fato de elas terem de ser exercitadas mostra
que são alheias ao funcionamento natural do sistema da língua.
Pode-se escolher ficar obcecado com as regras prescritivas, mas
elas têm tão pouco a ver com a linguagem humana quanto os cri
térios para avaliar gatos numa exposição de gatos têm a ver com a
biologia dos mamíferos.
Portanto, não há contradição em dizer que toda pessoa nor
mal pode falar gramaticalmente (ou seja, sistematicamente) e agra-
maticalmente (ou seja, fugindo às regras prescritivas), assim como
não há contradição em dizer que um táxi obedece às leis da física
mas transgride as leis de Massachusetts. Mas isso levanta uma
questão. Alguém, em algum lugar, deve estar tomando decisões
sobre o “inglês correto” em nome de todos nós. Quem? Não exis
te Academia da Língua Inglesa, e não faz falta; o objetivo da
Académie Française é divertir jornalistas de outros países com de
cisões resultantes de discussões acerbas que os franceses alegre
mente ignoram. Tampouco existiram Pais Fundadores em alguma
Conferência Constitucional da Língua Inglesa no princípio dos
tempos. Os legisladores do “inglês correto”, na verdade, são uma
rede informal de editores de texto, participantes de mesas-redon
das sobre uso de dicionário, escritores de manuais de estilo e de
compêndios, professores de inglês, ensaístas, colunistas e eruditos.
Segundo eles, sua autoridade no assunto vem do devotamento à
implementação de padrões que tão bem serviram à língua no pas
sado, sobretudo na prosa de seus melhores escritores, e que maxi
mizam sua clareza, lógica, harmonia, concisão, elegância, conti
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I Os craques da língua I
4. O inglês americano está muito impregnado de formas derivadas do iídiche. Neste caso,
shmaven dá um sentido pejorativo à palavra maven, também derivada do iídiche. Kibbitzers
e nudniks significam, respectivamente, palpiteiros intrometidos e pentelhos. Portanto, o
que o autor diz é: “Que craques, que nada! M etidos e pentelhos seria mais apropriado.”
(N. da T.)
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5. No original: O f course,forcitig modem speakers o f English to not - whoops, not to split an infinitive.,., em
que o autor separa o infinitivo e depois se corrige. (N. daT.)
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♦♦ ♦
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6. O autor da frase explicita a irregularidade dos tempos passados em inglês, o que se perde
em português. Segue-se apenas a tradução da frase: “Hoje eu falo, mas primeiro falei;
algumas torneiras pingam, mas nunca ‘pangarn. Hoje eu escrevo, mas primeiro escreví;
mordemos a língua, mas nunca ‘merdemos’.” (N. daT.)
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I didnt buy any lottery tickets. [Não comprei nenhum bilhete de lo
teria.]
I didnt eat even a single French fry. [Não comi nem mesmo uma
única batata frita.]
I didnt eat fried food at ali today. [Não comi nada frito hoje.]
7. Por mais que eu tente não ficar satisfeito com as desgraças de meus adversários, devo
admitir que não consegui não ficar contente com o fato de não o terem admitido no
emprego. (N. daT.)
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C O U L D N T care I
LE CARE
i ESS. LE
could ESS.
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Mary saw everyone before John noticed them. [Mary viu todo mun
do antes de John reparar neles.]
8. Literalmente: Cada um voltou para seus lugares./Quem acha que a raquete Yonex melho
rou seu {deles} jogo, levante tua mão./Se alguém ligar, diga a eles que nao posso aten
der./Alguém passou por aqui mas não disseram o que queriam./Ninguém deveria ter de
vender sua {deles} casa para pagar serviços médicos./Ele é um desses caras que está sem
pre se {plural} dando tapinhas nas costas. (N. daT.)
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9. Advertir; nuançar; dialogar; agir como pais; inserir, aplicar; ter acesso; mostrar, apresen
tar; intrigar; impactar; hospedar, receber; presidir; progredir; contactar. (N. daT.)
10. Refere-se a uma determinada tacada do jogo de hóquei denominada “wrist shot”.
(N .d a T .)
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rendo, [fo heeT) fazer um cão seguir nos calcanhares, [tofoot] pagar a
conta, [fo toe] manter-se na linha, e vários outros que não posso in
cluir num livro sobre linguagem para toda a família.
Qual o problema? O que parece preocupá-los é o fato de falan
tes meio atrapalhados da cabeça estarem acabando com a distin
ção entre substantivos e verbos. Mais uma vez, no entanto, estão
faltando com o respeito para com o homem da rua. Lembre-se de
um fenômeno que encontramos no Capítulo 5: o passado do ter
mo de beisebol tofly out éflied, e nãoflew ; dizemos, da mesma ma
neira, ringed the city, não rang, e grandstanded, não grandstood. Estes são
verbos que vieram de substantivos (я popfly, я ring around the city, a
grandstand). Falantes são tacitamente sensíveis a essa derivação. O
motivo para evitarem formas irregulares c o m o fle w out é que a en
trada do dicionário mental deles para o verbo do beisebol to fly é
diferente da entrada do dicionário mental deles para o verbo co
mum tofly (o que os pássaros fazem). Um está representado como
um verbo baseado na raiz de um substantivo; o outro, como um
verbo com uma raiz verbal. Somente a raiz verbal pode ter o pas
sado irregular flew , porque apenas no caso de raízes verbais faz
sentido ter alguma forma de passado. Esse fenômeno mostra que
quando as pessoas usam um substantivo como verbo, estão sofis
ticando seus dicionários mentais, e não o contrário —as palavras
não estão perdendo suas identidades de verbos e substantivos; ao
contrário, há verbos, há substantivos, e há verbos baseados em
substantivos, e as pessoas guardam cada um com uma etiqueta
mental diferente.
O aspecto mais notável da condição especial de verbos deriva
dos de substantivos é que todos os respeitam inconscientemen
te. Lembre-se do Capítulo 5: se você cria um novo verbo basea
do num substantivo, como o nome de alguém, ele é sempre regu
lar, mesmo se o novo verbo pareça igual a um verbo existente que
é irregular. (Por exemplo, Mae Jemison, a linda astronauta negra,
out~Sally~Rided Sally Ride, e não out~Sally~Rode Sally Ride.) M inha
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Hopefully, Larry hurled the bali toward the basket with one second
left in the game.
Hopefully, Melvin turned the record over and sat back down on the
couch eleven centimeters closer to Ellen.11
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1 2 . D o balaco b ac o . ( N . d a T .)
1 3 . D a r n o p é. (N . d a T .)
1 4 . ‘‘Q u in tz ” e “ k w irl” são palavras se m s e n tid o e m inglês. ( N . d a T .)
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Não vale a pena refutar esse xenófobo ignorante, porque ele não
está propondo nenhuma discussão honesta. Simon simplesmente
descobriu o truque usado com muito sucesso por alguns comedian
tes, apresentadores de programas de entrevistas e músicos de punk-
rock: pessoas de pouco talento podem chamar a atenção da mídia,
pelo menos por certo tempo, sendo inflexivelmente ofensivas.
O terceiro tipo de craque da língua é o animador, que exibe
sua coleção de palíndromos, trocadilhos, anagramas, rébus, mala-
propismos, goldwynismos15, epônimos, sesquipedais, disparates e
15. Chistes, nem sempre intencionais, feitos de contradições intrínsecas, e consagrados por
Samuel Goldwyn, produtor de filmes. Ele dizia coisas como: Indua- т е fora disso; em duas
palavras: impossível/; contratos verbais não valem o papel em que foram escritos. (N. d a T )
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21. Em vez de says (diz), come (vir), women (mulheres), have to (ter que) e crucial (crucial).
(N. da R .T .)
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Estas listas servem para dar umas boas risadas, mas há algo que
você deveria saber antes de concluir que as massas são comicamen-
te ineptas para a escrita. Muito provavelmente, a maioria dos dis
parates foram fabricados.
22. Conforme suas instruções dei à luz gêmeos no envelope anexo./O projeto do meu mari
do foi cancelado duas semanas atrás e desde então não tenho tido alívio./Um carro invi
sível apareceu do nada, bateu no meu carro e desapareceu./O pedestre não sabia para
que lado ir e, portanto, passei por cima dele./Inseminação artificial é quando o fazen
deiro faz na vaca ao invés do boi./A garota despencou pela escada e ficou prostituta no
chão./Moisés subiu no Monte Cianeto para receber os dez mandamentos. Morreu antes
de chegar no Canadá. (N. daT.)
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.;. « Ф
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24. Tá bom, mas quem vimos na outra loja?/Quem vimos quando voltavamos para casa?/
Com quem você brincou lá fora hoje à noite?/Abe, com quem você brincou hoje na
escola?/Você estava parecendo quem? (N. daT.)
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sição de sujeito —ninguém diria Mim está indo para o shopping —e por
tanto tem de ser Jennifer e eu. As pessoas tendem a lembrar do con
selho de forma equivocada: “Na dúvida, diga ‘fulano e eu’, e não
‘fulano e mim’” e portanto, sem se darem conta, aplicam-no em
demasia —processo este que os lingüistas denominam de hiper-
correção —provocando “erros” como give Al Core anã I a chance e até
o ainda mais desprezado entre você e eu.
Mas, sc o homem da rua é bom em evitar Mc isgoing [M im está
indo] e Give I a break [dá eu um tempo], e, se até os professores da
Ivy Lcaguc e antigos Rhodes Scholars parecem não poder evitar
Me and Jennifer are going e Give Al and I a chance, será que não são os
craques que não entendem a gramática inglesa, c não os falantes?
O caso dos craques sobre os casos baseia-se numa suposição: sc
toda uma locução conjuntiva tem um traço gramatical, como caso
sujeito, cada palavra dentro daquele sintagma também tem dc ter
aquele traço gramatical. Mas isto está simplesmente errado.
Jennifer é singular; você diz Jennifer é, e não Jennifer são. O pro
nome Ela é singular; você diz Ela é, e não Ela são. Mas a conjunção
Ela e Jennifer não é singular, é plural; você diz Ela e Jennifer são, não Ela
e Jennifer é. Portanto, sc uma locução conjuntiva pode ter um número
gramatical diferente dos pronomes que a compõem (Ela e Jennifer
são), por que precisaria ter o mesmo caso gramatical dos pronomes
que a compõem ( Give Al Core and .1 a ckanccf Л resposta é que não
precisa. Uma conjunção é um exemplo dc construção “sem nú
cleo”. Lembre que o núcleo de um sintagma c a palavra que repre
senta todo o sintagma. No sintagma o homem loiro alto com um sapato
preto, o núcleo é a palavra homem, porque todo o sintagma recebe
suas propriedades de homem —o sintagma se refere a um tipo de ho
mem, e é terceira pessoa do singular, porque é isso que o homem
é. Mas uma conjunção não tem núcleo; não é igual a nenhuma de
suas partes. Se João e M arta se encontraram, isso não significa
que João encontrou e que M arta encontrou. Se os eleitores dão
uma chance a Clinton e Gore, não dão a Gore sua própria chance,
506
I Os craques da língua I
somada à chance que dão a Clinton; dão uma chance para a cédu
la inteira. Então, só porque Me and Jennifer é um sujeito que exige
caso sujeito, isso não significa que Me é um sujeito que exige caso
sujeito, e só porque Al Core and I é um objeto que exige caso obje
to, isso não significa que I é um objeto que exige caso objeto. Em
termos gramaticais, o pronome é livre para ter o caso .que quiser.
O lingüista Joseph Emonds analisou o fenômeno Jennifer e mim/Entre
você e eu com grande minúcia técnica. Concluiu que a linguagem
que os craques querem que falemos não só não é inglês, como não
é nenhuma língua humana possível!
Na segunda história de sua coluna, Safire responde a um di
plomata que recebeu um alerta do governo sobre “crimes contra
turistas (sobretudo robberies, muggings e pick~pocketings [furto, assalto e
‘bateção de carteira’] ) ”. Escreve o diplomata:
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I O instinto da linguagem I
b ird -b ra in f o u r-e y c s la z y - b o n e s
b lo rk h c a d g o o l- o lí lo u d m o u th
b o o l - b la c k h a rd -h a l Io w -lifc
b u tlc rfin g c is b o a rl-lliro b n c Y r -d o - w c ll
c u t- th r o a l' b e a v y w c ig h t p ip -s q u e a k
d ead -ey e h ig h - b r o w red n cck
egghead hunchback s c a re c ro w
f a tb c a d k illjo y s c o f f la w
f l n tf o o t k n o w -n o th in g w c tb a c k
508
I Os craques da língua I
Hes very, very intelligent; very, very, sensitive, very evolved; more
than his linear years... He plays like a Zen master. Its very in the
moment.28
28. Ele c muito, muito inteligente; muito, muito, sensível, muito evoluído; mais que sua
idade linear... Ele joga como um mestre Zen. Muito no momento. (N. daT.)
29. No sentido dc pessoa politicamente “engajada”. (N. daT.)
509
I O instinto da linguagem I
30. Litcralmente: Criar o filho envolveu John; John estava envolvido na criação do filho; John
c muito envolvido/engajado. (N. daT.)
3 1. Litcralmente: Muitas experiências evoluíram John; John foi evoluído por muitas experiên
cias (ou) John estava evoluído em muitas experiências; John é muito evoluído. (N. daT.)
32. No original: Take Bill bicycledfrom Lexington. (N. daT.)
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I Os craques da língua I
ADJHTIVOVHRDADIilRO IMPOSTOR
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I O instinto da linguagem I
3 3 . Jogo de palavras inü rad u zív el e n tre o v erb o to sto n e, ap e d re jar, e o ad jetiv o sto n ed , ch a p ad o ,
de p o rre . ( N . d a T .)
512
I Os craques da língua I
Tome essa regra e aplique-a a tennis player who has evolved, e você
terá an evolved player. Tal solução também nos permite compreender
o que Streisand quis dizer. Quando um verbo passa da voz ativa
para a passiva, o sentido do verbo se conserva. Cão morde homem —
Homem é mordido por cão. Mas, quando um verbo é transformado
num adjetivo, o adjetivo pode ganhar nuanças idiossincráticas.
Nem toda mulher que cai é uma mulher desvirginada35, e se al
guém o apedreja você não fica necessariamente chapado. Todos
evoluímos a partir do elo perdido, mas nem todos somos evoluí
dos no sentido de ser espiritualmente mais sofisticados que nos
sos contemporâneos.
Em seguida, Safire censura Streisand por mais que sua idade linear.
Diz ele:
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I Os craques da língua I
37. Respectivamcntc: endinheirado, zarolho, com nariz aquilino (em forma de gancho).
(N. daT.)
38. Ocorre o uso condenado dc fortuitous [fortuito] no sentido de afortunado \Jortunate].
Quanto a parameter, há controvérsias quanto ao uso da palavra fora do âmbito matemáti
co, indicando orientação básica, característica. (N. da T.)
521
I O instinto da linguagem I
agora a temer as expectativas que gerei, e que nem a razão nem a ex
periência justificam. Quando vemos homens envelhecer e num certo
momento morrer, um depois do outro, século após século, rimos do
elixir que promete prolongar a vida por mil anos; e com igual justi
ça deve-se escarnecer do lexicógrafo, que, incapaz de fornecer um
exemplo sequer de uma nação que preservou suas palavras e expres
sões da mutabilidade, imagine que seu dicionário possa embalsamar
sua língua e protegê-la da corrupção e decadência, que tenha o po
der de mudar a natureza terrena e livrar o mundo a um só tempo da
tolice, vaidade e afetação. No entanto, foi com essa esperança que
academias foram fundadas, para guardar as avenidas de suas línguas,
para reter fugitivos e repulsar intrusos; até agora, não obstante, sua
vigilância e atividade foram em vão; os sons são voláteis e sutis de
mais para serem submetidos a coerções legais; acorrentar sílabas c
açoitai' o vento são empresas do orgulho, que desconhece a propor
ção entre seus desejos e suas forças.
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O design da mente
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I O instinto da linguagem I
“Veja bem”, diría você, “por que você se importa tanto com
módulos? Você tem posses; por que não se manda e vai velejar?” E
uma pergunta pertinente, que muitas vezes faço a mim mesmo... De
forma genérica, a idéia de que a cognição satura a percepção está re
lacionada (e, na verdade, está historicamente ligada) com a idéia da
filosofia da ciência de que nossas observações são fortemente deter
minadas por nossas teorias; com a idéia da antropologia de que nos
sos valores são fortemente determinados por nossa cultura; com a
idéia da sociologia de que nossos compromissos cpistemológicos,
entre os quais sobretudo nossa ciência, são fortemente determina
dos por nossas filiações de classe; e com a idéia da lingüística de que
nossa metafísica é fortemente determinada por nossa sintaxe [isto c,
a hipótese whorfiana —S.P.]. Todas essas idéias implicam um tipo dc
holismo relativista: porque a percepção está saturada pela cognição,
a observação pela teoria, os valores pela cultura, a ciência pelas clas
ses sociais e a metafísica pela linguagem, a crítica racional das teo
rias científicas, dos valores éticos, das visões de mundo metafísicas
etc. só pode se dar d en tro da estrutura de pressupostos que —por uma
questão de acidentes geográficos, históricos ou sociológicos —os in
terlocutores por acaso compartilhem. O que é impossível fazer é cri
ticar racionalmente a estrutura.
O problema é que od eio o relativismo. Odeio o relativismo mais
do que qualquer outra coisa, exceto, talvez, lanchas de fibra de vidro.
Para scr mais preciso, acho que o relativismo é muito provavelmente
falso. O que ele desconsidera, para ser breve c direto, é a estrutura
fixa da natureza humana. (Esta não é novidade nenhuma; ao contrá
rio, a m a lea b ilid a d e da natureza humana é uma doutrina que invariavel
mente os rclativistas tendem a enfatizar; veja, por exemplo, John
Dewey...) Bem, em psicologia cognitiva, a afirmação da existência dc
uma estrutura fixa da natureza humana adota tradicionalmente a
forma de uma insistência na heterogeneidade dos mecanismos cog
nitivos c na rigidez da arquitetura cognitiva que produz a encapsula-
ção daqueles. Se existem faculdades e módulos, então nem tudo afe
ta todo o resto; nem tudo é plástico. Seja lá o que for este todo o
resto, pelo menos há mais de um.
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I O design da mente I
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I O instinto da linguagem I
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I O design da mente I
h e r e d ita r ie d a d e ca u sa s
c o m p o r ta m e n to
ambiente ca u sa s
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I O instinto da linguagem I
▼
d e s e n v o lv e e
mecanismos psicológicos
matos, entre os qm is d á a cesso a habilidades,
linvditaneilntli'
mecanismos de < ..........► conhecimento,
aprendizagem valores
causas
▼
comportamento
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I O design da mente I
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I O instinto da linguagem I
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I O design da mente I
531
I O instinto da linguagem I
• Por fim, à cultura o que ela merece, mas não como algum pro
cesso espectral desencarnado ou força fundamental da natureza.
“Cultura” refere-se ao processo contagiante por meio do qual cer
tos tipos de aprendizagem são transmitidos de pessoa para pessoa
numa comunidade, de modo que as mentes passem a compartilhar
padrões, assim como “uma língua” ou “um dialeto” refere-se ao
processo por meio do qual diferentes falantes de uma comunidade
adquirem gramáticas mentais extremamente semelhantes.
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ria da mente universal sem dúvida terá uma relação tão abstrata
com o Povo Universal quanto a teoria X-barra está relacionada
com uma lista de universais da ordem de palavras. Mas parece cer
to que qualquer uma dessas teorias terá de incluir na cabeça hu
mana algo mais que uma tendência generalizada para aprender ou
copiar um arbitrário modelo de conduta.
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fala dos pais para as frases “similares” que definem o resto do in
glês? É óbvio que “Vermelho é mais semelhante a rosa que a azul”,
ou “Círculo é mais semelhante a elipse que a triângulo” não aju
dam nada. Tem de ser algum tipo de computação mental que tor
na John likesjish similar a Mary eats apples, mas não similar a John might
físh; caso contrário, a criança diria John might apples. Deve tornar The
dog seems sleepy semelhante a The men seem happy, mas não semelhante
a The dog seems sleeping, de modo que a criança evite essa falsa con
clusão. Ou seja, a “similaridade” que guia a generalização da crian
ça tem de scr uma análise que decompõe a fala em substantivos,
verbos e sintagmas, computados pela Gramática Universal inseri
da nos mecanismos de aprendizagem. Sem essa computação inata
que define qual frase c similar a quais outras, a criança não teria
como generalizar corrctamcntc —cm certo sentido, qualquer frase
só c “similar” a uma repetição literal dela mesma, c também “si
milar”, em outro sentido, a qualquer rearranjo randômico daque
las palavras, c “similar”, em outro sentido ainda, a todo tipo cie
outras cadeias inapropriadas de palavras. Por isso, não constitui
paradoxo dizer que flexibilidade no comportamento adquirido exige
cocrçõcs inatas na mente. O capítulo sobre aquisição da linguagem
(ver p. 365) é um bom exemplo disso: a capacidade de as crianças
generalizarem para uma quantidade infinita de frases potenciais
depende dc elas analisarem a fala parcntal usando um conjunto
fixo dc categorias mentais.
Portanto, aprender uma gramática a partir de exemplos exige
uma geografia de similaridade especial (definida pela Gramática
Universal). O mesmo se dá com a aprendizagem de significados
de palavras a partir de exemplos, como vimos no problema gavagai
de Quine, no qual um aprendiz de palavras não possui base lógi
ca para saber se gavagai significa “coelho”, “coelho saltitante” ou
“partes não destacáveis de coelho”. O que isso nos diz sobre a
aprendizagem de todo o resto? Eis como Quine expõe, e desmon
ta, o que ele chama de “escândalo da indução”:
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I O design da mente I
Isso nos leva a pensar mais sobre outras induções, em que o que se
busca é uma generalização, não sobre o comportamento verbal de
nosso vizinho, mas sobre o inóspito mundo impessoal. E sensato
pensar que nossa geografia [mental] das propriedades condiz com a
de nosso vizinho, já que somos indivíduos da mesma laia; e portanto
a confiabilidade geral da indução no que se refere à... aprendizagem
de palavras é um jogo de cartas marcadas. Por outro lado, confiar na
indução como modo de atingir as verdades da natureza é quase su
por que nossa geografia das propriedades condiz com a do cosmo...
[Mas] por que nossa geografia subjetiva inata de propriedades se har
moniza tanto com os agrupamentos funcionalmente correlativos da
natureza que nossas induções tendem a mostrar-se corretas? Por que
nossa geografia subjetiva de propriedades deveria ter foro especial so
bre a natureza c uma vinculação em relação ao futuro?
Darwin nos estimula a pensar. Sc a geografia inata de proprieda
des for um traço ligado a um gene, então a geografia que tiver feito
as induções mais eficazes tenderá a predominar por seleção natural.
Criaturas que erram inveteradamente cm suas induções têm uma
tendência patética, ainda que louvável, dc morrer antes de se repro
duzirem.
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2. No original skunk, pequeno mamífero que só existe na América do Norte. (N. daT.)
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❖ ❖ ❖
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como resposta que algumas pessoas têm pulmões melhores que ou
tras, ou indagar como CDs reproduzem o som e receber uma lis
ta dos mais vendidos no lugar de uma explicação sobre amostra
gem digital e lasers.
Mas enfatizar traços comuns não é apenas uma questão de pre
ferência científica. É quase certo que o design de qualquer sistema
biológico adaptativo —a explicação de como ele funciona —é uni
forme para todos os indivíduos de uma espécie que se reproduz
sexualmentc, porque a recombinação sexual inevitavelmente torna
ilegíveis as marcas dc designs qualitativamente diferentes. Existe,
decerto, uma grande diversidade genética entre indivíduos; cada
pessoa é bioquimicamentc única. Mas a seleção natural é um pro
cesso que sc alimenta dessa variação, e (afora as variedades funcio-
nalmcnte equivalentes dc moléculas) quando a seleção natural cria
designs adaptativos, o faz esgotando a variação: os genes variantes
que especificam órgãos menos bem projetados desaparecem quan
do seus donos morrem de fome, são devorados ou morrem soltei
ros. Na medida em que os módulos mentais são produtos com
plexos da seleção natural, a variação genética está limitada a varia
ções quantitativas, não a diferenças no design básico. Diferenças
genéticas entre pessoas, pouco importa quão fascinantes elas se
jam para nós no tocante ao amor, biografia, quadro de funcioná
rios, fofoca e política, são de pouco interesse quando avaliamos o
que, afinal de contas, torna as mentes inteligentes.
De modo similar, o interesse pelo design da mente lança uma
nova luz sobre possíveis diferenças inatas entre sexos (como psi-
colingüista recuso-me a chamá-los “gêneros”) e raças. Com exce
ção do gene determinante da masculinidade no cromossomo Y,
todo gene funcional do corpo de um homem também se encontra
no de uma mulher e vice-versa. O gene da masculinidade é um co-
mutador do desenvolvimento que pode ativar algumas seqüências
de genes e desativar outras, mas o mesmo padrão encontra-se nos
dois tipos de corpos, e o padrão básico [default] é a identidade de
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558
N otas
D i g e s t , 30 dc março dc 1993.
2. Tagarelas
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I O instinto da linguagem I
21. Inexistência de línguas primitivas: Sapir, 1921; Voegelin & Voegelin, 1977.
Platão e guardadores de porcos: Sapir, 1921, p. 219.
2 1 -2 . Sintaxe banto: Bresnan & Moshi, 1988; Bresnan, 1990. Pronomes che-
rokec: Holmes & Smith, 1 9 7 7 .
24-5 Lógica do inglês não-padrão: Labov, 1969.
27. Putnam sobre estratégias gerais de aprendizagem para múltiplos fins: Pia-
telli-Palmarini, 1980; Putnam, 1971; ver também Bates, Thal Sd March-
man, 1991.
30. Crioulos: Holm, 1988; Bickerton, 1981, 1984.
33- 4. Língua dc sinais: Klima & Bcflugi, 1979; Wilbur, 1979.
34- 5. Lcnguajc de Signos Nicaragüensc e Idioma dc Signos Nicaragüense:
Kcgl & Lopez, 1990; Kcgl & Iwata, 1989.
36. Aquisição da ASL por crianças: Pctitto, 1988. Aquisição dc língua (gestual
e filiada) por adultos: Ncwport, 1990.
36-7. Simon: Singleton & Ncwport, 1993. Línguas dc sinais como crioulos:
Woodward, 1978; Fischcr, 1978. Impossibilidade de aprender sistemas ar
tificiais dc sinais: Supalla, 1986.
40. Dona Mac: Hcath, 1983, p. 84.
40. Dependência da estrutura: Chomsky, 1975.
42. Crianças, Chomsky e ]abba: Crain & Nakayama, 1986.
43-4. Auxiliares universais: Steele et a l, 1981. Universais da língua: Grecnbcrg,
1963; Comric, 1981; Shopen, 1985. Falantes fluentes dc trás para a fren
te: Cowan, Bntine & Lcavirt, 1985.
45. Desenvolvimento da língua: Brown, 1973; Pinkcr, 1989; Ingram, 1989.
45- 6. Sara domina concordância: Brown, 1973. Lixempios extraídos dc busca
cm arquivos dc computador da transcrição da fala dc Sara do Child
Languagc Data Exchange System; MacWhinney, 1991.
46- 7. Erros criativos dc crianças (b e’s, gois, doi): Marcus, Pinker, Ullman,
Hollander, Rosen & Xu, 1992.
47- 8. Afásicos curados: Gardner, 1974, p. 402. Afásicos permanentes:
Gardner, 1974, pp. 60-1.
50. Mutantes linguísticos: Gopnik, 1990a, b; Gopnik & Crago, 1991; Gopnik,
1993.
53. Tagarelices: Cromer, 1991.
55. Mais tagarelices: Curtiss, 1989.
55. Síndrome de Williams: Bellugi et a l, 1991, 1992.
560
I Notas I
3. Mentalês
Jackendoff, 1987.
89. Português versus mentalês: Fodor, 1975; McDermott, 1981.
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I Notas I
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6. Os sons do silêncio
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I N otas I
7. Cabeças falantes
241. Inteligência artificial: Winston, 1992; Wallieh, 1991; The E conomíst, 1992.
243. Teste deTuring para verificar se as máquinas pensam: Turing, 1950.
244. ELIZA: Weizenbaum, 1976.
245. Prêmio Loebner: Shíeber, no prelo.
245-6. Compreensão rápida: Garrett, 1990; Marslen-Wilson, 1975.
246. Estilo: Williams, 1990.
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I O instinto da linguagem I
248-91. Parsing: Smith, 1991; Ford, Bresnan & Kaplan, 1982; Wanner &
Maratsos, 1978; Yngve, 1960; Kaplan, 1972; Berwick et a l, 1991;
Wanner, 1988; Joshi, 1991; Gibson, no prelo.
253. Sete mágico: Miller, 1956.
253. Frases soltas: Yngve, 1960; Bever, 1970; Williams, 1990.
254. Carga gramatical e de memória: Bever, 1970; Kuno, 1974; Hawkins, 1988.
255. Encaixes à direita, à esquerda e no centro: Yngve, 1960; Miller & Choms
ky, 1963; Miller, 1967; Kuno, 1974; Chomsky, 1965.
258. Quantidade de regras que crianças têm de aprender: Pinker, 1984.
264. Lastro lexicográfico primeiro pela largura: Swinney, 1979; Seidenberg el
a l , 1982.
266. Assassino condenado à morte duas vezes: Columbia Journalism Review,
1980; Ledcrer, 1987.
267-71. Sentenças com efeito labirinto: Bever, 1970; Ford, Bresnan & Kaplan,
1982; Wanner, 1988; Gibson, no prelo.
268. Várias árvores na memória: MacDonald, Just e Carpenter, 1992; Gibson,
no prelo.
270. Caráter' modular da mente: Fodor, 1983. Debate sobre caráter modular:
Fodor, 1985; Garfield, 1987; Marslcn-Wilson, 1989.
27 í. Bom senso e compreensão de frases: Trueswefl, Tanenhaus e Garnscy, no
prelo.
271. Verbos ajudam na análise, prós e contras: Trueswefl, Tanenhaus & Kcllo,
no prelo; 1’ord et a l, 1982; Frazier, 1989; Ferreira St Hendcrson, 1990.
272. Parsers cm computadores: Joshi, 1991.
273. Fechamento tardio c mínimo de associações, prós c contras: Frazier &
Fodor, 1978; Ford et a l, 1982; Wanner, 1988; Garfield, 1987.
274-6. Linguagem de juizes: Solan, 1993. Linguagem c direito: Tiersma, 1993.
276-7. Prcenchedores e vazios: Wanner & Maratsos, 1978; Bever 8t McElrec,
1988; MacDonald, 1989; Nicol & Swinney, 1989; Garnscy, Tanenhaus
& Chapman, 1989; Kluender & Kutas, 1993; J. D. Fodor, 1989.
278-9. Diminuição de distância entre preenchedor e vazio: Bever, 1970;
Yngve, 1960; Williams, 1990. Restrições à deslocação de sintagmas para
ajudar no parsing: Berwick & Weinberg, 1984.
280-2. Transcrições de Watergate: Comissão de inquérito, Senado dos EUA,
1974; Equipe do New York Times, 1974.
284. M asson v. The New Yorker M agazine: Time, I? de julho de 1991, p. 68; Newsweek,
I? de julho de 1991, p. 67.
285. Discurso, pragmática e inferência: Grice, 1975; Levinson, 1983; Sperber
& Wilson, 1986; Leech, 1983; Clark & Clark, 1977.
566
I N otas
8. A Torre de Babel
293-4. Variação sem limites: Joos, 1957, p. 96. Língua terráquea única:
Chomsky, 1991.
294. Diferenças entre línguas: Crystal, 1987; Comrie, 1990; Departamento de
Lingüística, Universidade do Estado de Ohio.
296-8. Universais linguísticos: Greenberg, 1963; Greenberg, Ferguson & Moravscik,
1978; Comrie, 1981; Hawkins, 1988; Shopen, 1.985; Kccnan, 1976; Bybee,
1985.
298. História versus tipologia: Kiparsky, 1976; Wang, 1976; Aronoff, 1987.
298. SOV, SVO e encaixe no centro: Kuno, 1974.
300. Significado interlingüístico de “sujeito”: Keenan, 1976; Pinker, 1984,
1987.
301. Comunicação humana versus comunicação animal: Hockett, 1960.
305. Evolução desfavorece mudança em prol da mudança: Williams, 1966.
305- 6. Babel acelera evolução: Dyson, 1979; Babel proporciona esposas:
Crystal, 1987, p. 42.
306- 7. Línguas c espécies: Darwin, 1874, p. 106.
308. Evolução do caráter inato e aprendizagem: Williams, 1966; Lewontin,
1966; Hinton & Nowlan, 1987.
309. Por que há aprendizagem da língua: Pinker & Bloorn, 1990.
310. Inovação lingüística como doença contagiosa: Cavalli-Sforza & Feldman,
1981.
310-1. Reanálisc e mudanças na língua: Aitchison, 1991; Samuels, 1972;
Kiparsky, 1976; Pyles & Algeo, 1982; Departamento de Lingüística,
Universidade do Estado de Ohio, 1991.
314. Inglês americano: Cassidy, 1985; Bryson, 1990.
315-7. História da língua inglesa: Jespersen, 1938/1982; Pyles & Algeo,
1982; Aitchison, 1991; Samuels, 1972; Bryson, 1990; Departamento de
Lingüística, Universidade do Estado de Ohio, 1991.
317. Apprehending adolescents e catebing ktds: Williams, 1991.
319-20. A Grande Mudança das Vogais como dialeto de surfista: Burling, 1992.
567
I O instinto da linguagem I
568
I Notas I
348. A U ígatorgoei herplunk Marcus, Pinker, Ullman, Hollander, Rosen & Xu, 1992.
350. D on ’tg ig g le m c Bowerman, 1982; Pinker, 1989.
352-3. Crianças selvagens: Tartter, 1986; Curtiss, 1989; Rymer, 1993.
354. Thurber & White: extraído de “Is Sex Necessary?”. Exemplo de Donald
Symons.
354. Linguagem da televisão: Ervin-Tripp, 1973. Compreender mamanhês a
partir de palavras de conteúdo: Slobin, 1977. Crianças lêem pensamen
tos: Pinker, 1979, 1984.
354-5. Mamanhês: Newport et a l, 1977; Fernald, 1992.
356. Criança muda: Stromswold, 1994.
356-7, Feedback parental inexistente: Brown & Hanlon, 1970; Braine, 1971;
Morgan &Travis, 1989; Marcus, 1993.
359. Aprender a língua sem feedback: Pinker, 1979, 1984, 1989; Wexler &
Culicover, 1980; Osherson, Stob & Weinstein, 1985; Berwick, 1985;
Marcus et a l, 1992.
360-1. Aquisição da linguagem vista de perto: Pinker, 1979, 1984; Wexler &
Culicover, 1980.
367. Períodos de gestação dos humanos e de outros primatas: Corballis, 1991.
368. Crescimento do cérebro e desenvolvimento da linguagem: Bates, Thal &
Janowsky, 1992; Locke, 1992; Huttenlocher, 1990.
368- 9. Linguagem infantil na evolução: Williams, 1966.
369. Desenvolvimento lingüístico e desenvolvimento motor: Lenneberg, 1967.
369- 70. Aprendizagem de língua estrangeira: Hakuta, 1986; Grosjean, 1982;
Bley-Vroman, 1990; Birdsong, 1989.
370. Idades críticas para aquisição de segunda língua: Lieberman, 1984; Bley-
Vroman, 1990; Newport, 1990; Long, 1990.
370- 1. Períodos críticos para aquisição da língua materna. Deficientes auditi
vos: Newport, 1990. Genie: Curtiss, 1989; Rymer, 1992. Isabelle: Tartter,
1986. Chelsea: Curtiss, 1989.
372-3. Recuperação após lesão cerebral: Curtiss, 1989; Lenneberg, 1967.
374. Biologia do ciclo vital: Williams, 1966.
376. Evolução do período crítico: Hurford, 1991.
376-7. Senescência: Williams, 1957; Medawar, 1957.
569
I O instinto da linguagem I
382. Broca: Caplan, 1987. Linguagem à esquerda: Caplan, 1987, 1992; Cor-
ballis, 1991; Geschwind, 1979; Geschwind & Galaburda, 1987; Gazza-
niga, 1983.
382. Linguagem no hemisfério esquerdo e os Salmos: exemplo de Michael
Corballis.
383-4. Linguagem afeta eletrodos colocados no crânio: Neville et a l, 1991;
Kluender & Kutas, 1993.
384. Linguagem ativa cérebro: Wallesch et al, 1985; Peterson et al, 1988, 1990;
Mazoyer et al, 1992; Zatorre et a l, 1992; Poeppel, 1993.
384. Estímulos e respostas parecidos e não parecidos com linguagem, do lado
esquerdo: Gardner, 1974; Etcoff, 1986. Língua de sinais do lado esquer
do, gestos à direita: Poizner, Klima & Bellugi, 1990; Corina, Vaid Sd
Bellugi, 1992.
385-6. Simetria bilateral: Corballis, 1991. Simetria é sexy: Cronin, 1992.
387-8. Cordados torcidos: Kinsbourne, 1978. Anatomia do caracol: Buchsbaum,
1948.
390. Animais assimétricos: Corballis, 1991.
390. Cérebros assimétricos: Corballis, 1991; Kosslyn, 1987; Gazzaniga, 1978,
1989.
390. Canhotos: Corballis, 1991; Coren, 1992. Análise sintática dc parentes dc
canhotos: Bever et al, 1989.
392. Região do córtex adjacente ao sulco lateral como órgão da linguagem:
Caplan, 1987; Gazzaniga, 1989.
392-3. Afasia de Peter Hogan: Goodglass, 1973.
394. Afasia de Broca: Caplan, 1987, 1992; Gardner, 1974; Zurifj 1989.
394. LR P e PI П detectam linguagem na parte anterior esquerda da região que
circunda o sulco lateral: Kluender & Kutas, 1993; Neville et a l, 1991;
Mazoyer et a l, 1992; Wallesch et a l, 1985; Stromswold, Caplan & Alpcrt,
1993.
395. Anatomia da afasia dc Broca: Caplan, 1987; Dronkers et a l, 1992. Par-
kinson e linguagem: Lieberman et a l, 1992. Afásicos de Broca detectam
agramaticalidade: Linebarger, Schwartz & Saffran, 1983; Cornell, From-
kin & Mauner, 1993.
396-7. Afásico deWernicke: Gardner, 1974.
397. Afasia de Wernicke e afasias relacionadas: Gardner, 1974; Geschwind,
1979; Caplan, 1987, 1992.
398. Anomia: Gardner, 1974; Caplan, 1987. O homem sem substantivos: Bay-
nes & Iven, 1991.
399. Palavras e EEG: Neville et a l, 1991. Palavras e PET: Peterson et a l, 1990;
Poeppel, 1993.
570
I Notas I
571
I O instinto da linguagem I
422. Gênios lingüísticos: Yogi Berra, extraído de Safire, 1991; Lederer, 1987.
Dr. Seuss (Theodore Geisel), de O n B eyond Zebra, 1955. Nabokov, de
Lolita, 1958, King, da marcha sobre Washington, 1963. Shakespeare, de
H am let, ato 2, cena 2.
dos macacos: Tcrracc et a l, 1979; Scidenborg & Petitto, 1979; Pctitto &
Seidenberg, 1979; Scidcnberg, 1986; Scidcnbcrg & Petitto, 1987; Pe
titto, 1988; ver Wallman, 1992, para apanhado geral. Ameaçado de pro
cesso judicial: Wallman, 1992, p. 5.
432-3. Deficiente auditivo observa chimpanzés: Neisscr, 1983, pp. 214-6.
434. O mau comportamento dos organismos: Brcland & Breland, 1961.
439. Bates sobre Big Bang: Bates, Thal & Mai chman, 1991, pp. 30, 35.
440. Cadeias, escadas e touceiras na evolução: Mayr, 1982; Dawkins, 1986;
Gould, 1985.
445. Bípede sem penas: exemplo extraído de Wallman, 1992.
448. Impossibilidade lógica do fígado: Lieberman, 1990, p. 741-2.
448-9. Novos módulos na evolução: Mayr, 1982.
449. Área de Broca em macacos: Deacon, 1988, 1989; Galaburda & Pandya,
1982.
450-1. DNA de chimpanzés e de humanos: King &Wilson, 1975; Miyamoto,
Shghtom & Goodman, 1987.
572
ь
I Notas I
481. Sobre craques da língua: Bolinger, 1980; Bryson, 1990; Lakoff, 1990.
481-4. História da gramática prescritiva: Bryson, 1990; Crystal, 1987; Lakoff,
1990; McCrum, Cran & MacNeil, 1986; Nunberg, 1992.
485. Write, w rote; bite, bote: Lederer, 1990, p. 117.
487-8. E veryone and theír, BBS LINGUIST, 9 de outubro de 1991.
573
I O instinto da linguagem I
490. Um quinto dos verbos ingleses eram substantivos: Prasada & Pinker,
1993.
491. Flying out e Sally Ride: Kim, Pinker, Prince & Prasada, 1991; Kim, Marcus,
Pinker, Hoilander & Coppola, no prelo.
492. Bernstein sobre broadcasled: Bernstein, 1977, p. 81.
495. Observadores de palavras: Quine, I987;Thomas, 1990.
495. O Boston Globe sobre get your goat: 23 de dezembro de 1992.
496. Takíng it on the lam: Allen, 1983.
497. Gramática ruim conduz à violência: Bolinger, 1980, pp. 4-6.
497. Gramático virulcnto: Simon, 1980, pp. 97, 165-6.
499. Inglês maluco: Ledcrer, 1990, pp. 15-21.
500. Slurvian: Ledcrer, 1987, pp. 114-7.
501. Disparates: Ledcrer, 1987; Brunvand, 1989.
502. Lendas urbanas c xeroxlorc: Brunvand, 1989.
502-3. Sábios da língua: Bernstein, 1977; Safire, 1991.
504. Iranscriçõcs de linguagem infantil: MacWhinncy, 1991.
505 . fen n ifer e m im / h n tre v o cê c m : Lmonds, 1986.
508. Im v-lifes, cul-lhm ats, ne’er-d o-w ells c outros compostos de má reputação: Quirk
et a i, 1985.
5П . Barzun sobre categorias sintáticas: citado em Bolinger, 1980, p. 169.
512. Adjetivos derivados de particípios: Bresnan, 1982.
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